Portaria 83/2018 na conjuntura de
contrarreformas: repercussões para o SUS
e para a Atenção Básica à Saúde
Mariana Lima Nogueira
- Professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio -
Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz)
- Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ)
-Integrante da equipe de Coordenação do Curso de Educação Profissional Técnico
em Agente Comunitário de Saúde – Laboratório de Educação Profissional em
Atenção à Saúde (LABORAT)
O trabalho do ACS como processo histórico
Transformações no SUS, na Atenção Básica e no trabalho do ACS
se dá a partir de processos históricos, mediações e determinações
do mundo do trabalho (análise a partir das totalidades,
particularidade e singularidades)
Trabalho
do ACS
SUS e a PNAB
Contrarreformas no Brasil
Congelamento dos investimentos sociais; contrarreformas
e a Atenção Básica à Saúde
EC-95: modificação dos critérios de destinação das verbas para a saúde e para educação, alterando os mínimos constitucionais (PEC 55 - Teto dos gastos públicos ou PEC da Morte). - simulação: aplicada de 2003-2015 perda de 42,1% dos recursos efetivamente aplicados no
período, correspondendo a uma subtração equivalente a 257 bilhões de reais (IPEA, 2016); - de 2017-2037 (20 anos à frente): perdas entre 654 bilhões e 1 trilhão de reais, dependendo do
comportamento das variáveis PIB e RCL (IPEA, 2016).;
- O congelamento dos “investimentos sociais” da União: afetará políticas estaduais e municipais, reduzindo-as, em função do financiamento conjunto de várias políticas. Abre espaço para a exploração pela iniciativa privada de diversas atividades, como educação, saúde (DIEESE, 2017);
- Risco congelamento da realização de novos concursos públicos e reajustes dos salários dos servidores, criação de novos cargos e a reestruturação de carreira (DIEESE, 2017).
Contrarreforma Trabalhista Contrarreforma da Previdência
Ampliação da terceirização (nas atividades fim)
Revisão dos critérios de estabilidade do servidor público
Deslocamento da centralidade da Estratégia Saúde da Família, de
estratégia para tipo de equipe: focalização;
>Reconfigura equipes (equipes AB, equipes ESF);
> Segmenta o cuidado (padrões Essenciais; padrões Ampliados);
> Apagamento da referencia territorial para planejamento das ações em
saúde, ou esvaziamento da proposta de territorialização
> Inclusão da figura do “gerente” nas equipes – gerencialismo na saúde
(expressão do neoliberalismo e da reestruturação produtiva)
> Diferenciação de vínculos e contratos de trabalho: perda dos direitos
dos trabalhadores, prejudica-se o vínculo e trabalho em equipe.
> Indefinição do número de ACS por equipe, retirada da presença dos
ACS de equipes Ribeirinhas e da ABS.
> Novas atribuições para os ACS e ACE
Nova Política de Atenção Básica à Saúde
(PNAB)
– portaria nº 2.436/17
--- Atribuições comuns ao ACS e ACE
--- Atribuições dos ACE: mantêm sua especificidade.
--- Atribuições dos ACS: ampliação caráter administrativo, de produção
de dados
--- Acréscimo de atividades para os ACS:
ações realizadas por
técnicos de enfermagem;
Nova Política de Atenção Básica à Saúde
(PNAB)
Quais motivos vulnerabilizam, particularmente, os ACS com o avanço do
neoliberalismo e das contrarreformas?
1.
Atuação exclusiva em uma política social: no SUS
2.
Inespecificidade da formação profissional: ausência do Estado de efetivação de uma
política profissionalizante – Curso Técnico em ACS.
3.
Conquistas dos trabalhadores: Piso salarial Nacional, efetivação (vínculo empregatício
direto); insalubridade, aposentadoria especial.
4.
Potencial de mobilização e ação política
5.
Conjuntural: congelamento dos investimentos sociais públicos - aprovação da EC 95/16
Portarias 958 e 959 de maio de 2016
1. Flexibilização da presença dos ACS na equipe mínima da ESF; 2. Substituição por técnicos de enfermagem
Táticas de resistência dos trabalhadores
a) Mobilização Nacional em Brasília dos sindicatos e demais instituições representantes da categoria profissional: pressão nos deputados federais e no Ministério da Saúde
b) Mobilização de instituições acadêmicas da área de saúde coletiva: Notas de repúdio da EPSJV/ENSP; GT de Educação Popular da ABRASCO; Departamento de Saúde
Coletiva da Escola de Enfermagem da UERJ
Inflexões recentes do MS no trabalho do ACS e na
AB
VII Fórum Nacional de Gestão da atenção Básica (18 a 20 de outubro de 2016):
1. Realizado sem ampla participação social e sem a participação dos representantes das categorias profissionais das equipes da ESF. Somente gestores e representantes do CONASS e CONASEMS.
2. Flexibilização da composição das equipes mínimas da ESF, diferenciação dos regimes de trabalho, carga horária e vínculo dos trabalhadores da Atenção Básica;
3. Proposta de criação de um NOVO agente que seria a partir FUSÃO dos trabalhos dos ACS e ACE e gestão do trabalho por competências.
4. Defesa de um modelo de atenção médico-centrado, orientado pela lógica curativista, pautada em queixa-conduta.
5. Processos de formação profissional: não houve qualquer menção à necessidade de investimento em uma política de educação profissional para os trabalhadores de nível médio e fundamental da AB, somente ênfase nos processos formativos instrumentais e pragmáticos para o serviço;
6. Fomento do modelo de gestão pautado em uma racionalidade gerencialista e mercantil de minimização de recursos: priorização da produção de indicadores sobre os procedimentos biomédicos-centrados em detrimento dos demais processos de promoção da saúde.
Táticas de resistência dos trabalhadores
a) Atuação institucional da EPSJV/Fiocruz: Seminário “Não há SUS sem Atenção Básica!” realizado em 13 de dezembro. Resumo do evento no site: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/acontece-na-epsjv/que-atencao-basica-para-que-sus
b) c) Mobilização de movimentos sociais: moção de repúdio das assinadas pela Frente Brasil Popular, Frente de Esquerda Socialista, Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde/Fórum de Saúde do Rio de Janeiro, Frente Povo Sem Medo. Disponível em: http://emdefesadosus-rj.blogspot.com.br/2016/10/mocao-de-repudio-revisao-da-politica.html
c) Atuação dos trabalhadores ACS : PL 6437/2016
Política de educação profissional para o ACS
Historicamente formado em serviço, com treinamentos instrumentais
variando em função de problemas locais (baixa remuneração e
desvalorização social).
Investimento federais em cursos de especialização, residência e
mestrado em saúde da família: para médicos e enfermeiros
Disputa em aberto: Leis 11.350 – que dispõe sobre o regime de
contrato dos ACS por CLT – e 12.994, que institui o piso salarial
profissional nacional: leis que indicam a necessidade apenas da
formação inicial e continuada.
Apesar dar publicação do referencial curricular do Curso Técnico em
ACS (CTACS) no ano de 2004 não houve financiamento federal do
curso completo (não pactuação na CIT);
Disputas na formação profissional do ACS
* A formação técnica dos ACS não foi substituída por outra normatização até então. * A oferta integral das 3 etapas formativas do CTACS fortalece a luta pela qualificação profissional desses trabalhadores que tem um papel fundamental na efetivação da principal estratégia de reorganização da ABS no âmbito do SUS.
* A formação não está sendo plenamente realizada, porém a partir de organização e luta dos trabalhadores conseguiu-se realizar a formação completa de técnico em ACS em: Recife,
Tocantins, Acre, Rio de Janeiro, Alto do Rio Negro, Gravataí/RS, municípios maranhenses entre outros. Na Bahia alguns municípios já fizeram a etapa II.
- Não realização das etapas 2 e 3: não-pactuação na tripartite (etapa I financiamento federal, etapa II e III financiamento municipal). Argumentos:
gestores temem demanda por aumento de salário. Lei de responsabilidade fiscal. Argumento que perde força após a conquista do piso salarial nacional dos ACS (sem reajuste há 4 anos – R$1014)
- Não-cumprimento da carga horária da etapa formativa 1: ensino
Portaria 83/2018: organização
Institui o Programa de Formação Técnica para Agentes de Saúde - PROFAGS, para oferta de curso de formação técnica em enfermagem para Agentes Comunitários de Saúde – ACS e Agentes de Combates às Endemias - ACE no âmbito do SUS, para o biênio de 2018-2019;
Reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT)do dia 14/12/17, em que se debateu a
formação técnica em enfermagem para Agentes Comunitários de Saúde -ACS e Agentes de
Combates às Endemias – ACE;
Organizada em 6 capítulos:
I- Disposição geral
II- Da participação dos ACS e ACE
III- Comissão Técnica e composição IV- Financiamento
V- Monitoramento VI- Disposições Finais
Portaria 83/2018: conteúdo
I- Disposição geral
• O Mnistério da Saúde (MS) implementará o financiamento do PROFAGS mediante
chamamento público e credenciamento de instituições de ensino públicas e privadas.
• Segundo o MS, o PROFAGS possui os seguintes objetivos:
- ampliar e diversificar a educação permanente ao profissional de saúde atuante na
Atenção Básica no SUS;
- contribuir para a adequada capacitação e qualificação dos ACS e ACE para atuação
no SUS;
- estimular a formação de Agentes de Saúde no curso técnico de enfermagem,
- fortalecer as instituições de ensino com foco na formação de profissionais de nível
médio para o SUS; e
- contribuir para a ampliação do escopo de práticas na Atenção Básica, com vistas
ao aumento da resolutividade destes serviços
Portaria 83/2018: conteúdo
Capítulo II- Da participação dos ACS e ACE, alguns requisitos:
• haver concluído o ensino médio;
• apresentar declaração de anuência do gestor local do SUS, conforme modelo do
Anexo I esta Portaria;
• firmar Termo de Compromisso. “O Termo de Compromisso de que trata o inciso
VI do caput conterá a declaração de ciência de que, em caso injustificado de não
conclusão do curso por inassiduidade ou abandono, haverá obrigação de
ressarcimento dos custos arcados pelo Ministério da Saúde” (BRASIL, 2018).
Os ACS e ACE participantes deverão efetuarão escolha da instituição
selecionada ou credenciada situada no município onde está localizado a unidade
de saúde ao qual é vinculado. Caso não exista instituição selecionada ou
credenciada no município, a escolha poderá recair sobre outra instituição
selecionada ou credenciada situada em municípios circunvizinhos, conforme
especificações estabelecidas no edital de chamamento público e credenciamento.
Portaria 83/2018: edital de credenciamento no.01/18
• Contratação de instituições de ensino públicas e privadas, visando
ofertar curso de formação técnica em enfermagem, na modalidade
presencial ou semipresencial, para os Agentes Comunitários de Saúde -
ACS e Agentes de Combate às Endemias – ACE,
• DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO das instituições de ensino: Ofertar o
curso
informando
a
modalidade
presencial
ou
semipresencial,
preferencialmente, no turno noturno.
• Permitir aos representantes do Ministério da Saúde e de qualquer órgão ou
entidade governamental de fiscalização, monitoramento e controle o acesso às
suas instalações, às turmas e aos profissionais, bem como aos documentos
relativos à execução do curso, prestando todo esclarecimento solicitado;
• Campo de prática para a realização de estágio supervisionado obrigatório, em
serviço de saúde, preferencialmente em instituições públicas de saúde
Portaria 83/2018: sobre o processo restrito de
elaboração
Processo de elaboração e pactuação da proposta de formação técnica em Enf. para ACS e ACE:
- Realizado na CIT: Ministério da Saúde, CONASS e CONASEMs: somente gestores. -Não houve amplo debate com instituições de ensino, pesquisa e assistência à saúde com trajetória histórica na formação profissional de trabalhadores agentes e técnicos em saúde como Escolas Técnicas do SUS
-Não houve interlocução com os trabalhadores ACS e ACE, os sindicatos,
controle social, Federação, Confederação, Associações e demais entidades
organizadas não participaram da formulação da proposta
-Não se considera a existência dos Referenciais curriculares Nacionais dos
Cursos Técnicos em ACS (CTACS) em 2004 e Curso Técnico em Vigilância em Saúde em 2011, publicados em articulação Ministério da Educação e Ministério da
Saúde.
- Vetos de TEMER a lei 13595/18:Obrigatoriedade da presença dos ACS na estrutura da Atenção Básica; Oferta do Curso Técnico em ACS e Vigilância em Saúde pelos entes federados; cursos deverão ser ofertados
durante a jornada de trabalho
- O Referencial Curricular do CTACS foi produzido com ampla participação: Escolas Técnicas do SUS, representantes dos trabalhadores ACS (Confederação e Sindicatos), Secretarias do Ministério da Saúde (Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na saúde;Departamento de Atenção Básica à Saúde entre outras).
Portaria 83/2018: questões
Conteúdo da proposta de formação técnica em Enfermagem para ACS e ACE:
Os recursos financeiros para a execução da formação serão oriundos do Orçamento MS, onerarão a Funcional Programática Formação de profissionais técnicos de saúde e fortalecimento das escolas técnicas e centros formadores do SUS. No entanto, não prioriza as Escolas Técnicas e inclui a rede privada
Abre a possibilidade de repasse de orçamento público para a iniciativa privada, sem priorização das Instituições públicas de ensino em saúde e demais instituições públicas (Escolas Técnicas do SUS e Institutos da Rede Federal, ciência e tecnologia – Ifs).
Atualmente, a RET-SUS: aproximadamente 40 escolas técnicas e centros formadores de recursos humanos do SUS distribuídas em todos os estados do Brasil. ET-SUS são instituições públicas, voltadas para a formação e qualificação dos trabalhadores de nível médio do sistema de saúde brasileiro (a maioria é estadual, algumas municipais e uma federal).
A formação técnica em enfermagem possui competências e conteúdos teóricos que priorizam a atuação dos trabalhadores em instituições de saúde que não são predominantemente componentes do nível de atenção primário.
já a formação técnica em ACS volta-se para a formação em atenção básica à saúde e formação técnica em vigilância, inclui conteúdo que articula e integra as áreas da vigilância: ambiental, sanitária e epidemiológica, e temas como manejo de arboviroses que compõem as atribuições dos ACE. A formação técnica em Enfermagem não focaliza seus conteúdos nestas temáticas e atribuições.
Portaria 83/2018
:
preocupações e riscos
Extinção de postos de trabalho ?
Extinção do processo de trabalho do ACS e ACE ? Descaracterização do processo de trabalho
Demissão de trabalhadores ? Acúmulo de função ?
Aumento do risco epidemiológico da população pelo desvio de finalidade do trabalho dos ACS e ACE o que se produzirá a partir da sobreposição de atribuições destes trabalhadores, descaracterizando suas atribuições primordiais?
Perda de direitos assegurados ?
Fragmentação nas categorias profissionais entre àqueles formados pelo PROFAGS e os não formados
Saturação do número de trabalhadores técnicos de enfermagem, se formados 250 mil novos. Diminuição do valor dos salário (exercito de reserva), evasão/migração para a iniciativa privada, interesses empresariais- privatistas hospitalares
Referencial Curricular para a Formação Técnica em ACS
(BRASIL, 2004)
Etapa formativas / Ch mínima Temática Requisito de acesso
Etapa I (formação inicial) / 400h O perfil social do técnico agente comunitário de saúde e seu papel no âmbito da equipe multiprofissional da rede básica do SUS
todos os ACS inseridos no SUS, independentemente da escolarização;
Etapa II / 600h Promoção da Saúde e prevenção de doenças, dirigidas a indivíduos, grupos específicos e doenças prevalentes
concluintes da etapa I, com certificado de conclusão ou atestado de realização concomitante do ensino fundamental
Etapa III / 200h Promoção, prevenção e monitoramento de situações de risco ambiental e
sanitário
concluintes das etapas formativas I e II, com certificado de
conclusão ou atestado de realização concomitante do ensino médio.
O Profags restringe o acesso: condiciona como requisito de ingresso no curso a conclusão do
ensino médio de ACS e ACE, categorias profissionais que não exigem esta escolaridade (e sim o
fundamental até 2018, aprovação da lei 13595)
Currículo CTACS EPSJV/Fiocruz
Etapa I - Construção histórica do trabalho do ACS: políticas públicas, território e educação em saúde
Etapa II - A organização da Atenção Básica e a atuação do ACS: o cuidado e educação em saúde da família
Etapa III - O trabalho do ACS e a participação política: educação e cidadania em saúde
P R A T I C A P R O F. TEMÁTICAS DO ITINERÁRIO FORMATIVO ESTRATÉGIA DE INTEGRAÇÃO CURRICULAR OFICINA DE LEITURA P L A N O D E A Ç Ã O T C C OFICINA DE CULTURA
ESTRATÉGIAS DE ARTICULAÇÃO ENTRE A FORMAÇÃO GERAL E A FORMAÇÃO EM SAÚDE
Eixos / Períodos do curso Carga horária
CTACS 2016-2018
Etapa Formativa I Eixo Estado, sociedade e políticas públicas 52h
Eixo Educação e Saúde 48h
Eixo Investigação e planejamento em saúde 52h
Eixo Território e a saúde 72h
Eixo Trabalho em saúde 64h
Oficina de Leitura 60h
Oficina de Cultura 52h
Eixos / Períodos do curso Carga horária CTACS 2016-2018
Etapa Formativa II
Eixo Estado, sociedade e políticas públicas 48 h
Eixo Educação e Saúde 44 h
Eixo Modelos de Atenção, (Atenção Primária e ESF) 80 h Eixo Promoção, vigilância e cuidado em saúde 264 h
Eixo Informação em saúde 56 h
Oficina de Leitura 68 h
Oficina de Cultura 40 h
Investigacão e Planejamento 56 h
Eixo TCC 56 h
Total carga horária etapa II 712 h
Etapa Formativa III
Eixo Estado, sociedade e políticas públicas 28 h
Eixo Educação e saúde 28 h
Eixo Sistema Municipal de Saúde 36 h
Eixo Investigação e planejamento em saúde 40 h
Eixo TCC 48 h
Oficina de Leitura 24 h
Oficina de Cultura 24h
Total carga horária etapa III 228 h
Características gerais PROFORMAR RIO (EPSJV/FIOCRUZ) –
Formação em Vigilância para ACE/AVS
1- Disciplinas: Microbiologia Parasitologia Fisiologia, Nutrição e Dietética, Psicologia aplicada, ética profissional.
2- Fundamentos de Enfermagem, Enfermagem Médica, Enfermagem Médico Cirúrgica, enfermagem materno-infantil, administração nas unidades de enfermagem,
enfermagem psiquiátrica, enfermagem em saúde pública.
- A saúde coletiva entra como UM dos diversos COMPONENTES das disciplinas
do currículo, não é eixo central organizador da formação técnica como está no CTACS e no Curso Técnico de Vigilância em Saúde.
- A atenção básica não se constitui eixo orientador dos conteúdos curriculares na formação técnica em Enfermagem.
Técnico em Enfermagem: “Realiza curativos, administração de medicamentos e
vacinas, nebulizações, banho de leito, mensuração antropométrica e verificação de sinais vitais. Auxilia a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação no processo saúde-doença. Prepara o paciente para os procedimentos de saúde. Presta assistência de enfermagem a pacientes clínicos e cirúrgicos e gravemente enfermos. Aplica as normas de biossegurança” (BRASIL, 2016, p.20).
- Campo de atuação: Hospitais. Unidades de pronto atendimento. Unidades básicas de saúde. Clínicas. Home care. Centros de diagnóstico por imagem e análises clínicas. Consultórios. Ambulatórios. Atendimento pré hospitalar. Instituições de longa permanência. Organizações militares (BRASIL, 2016, p.20)
Técnico em ACS: “Orienta e acompanha famílias e grupos em seus domicílios.
Identifica e intervém nos múltiplos determinantes e condicionantes do processo saúde e doença, para a promoção da saúde e redução de riscos à saúde da coletividade. Realiza mapeamento e cadastramento de dados sociais, demográficos e de saúde. Desenvolve suas atividades norteadas pelas diretrizes, princípios e estrutura organizacional do
Sistema Único de Saúde. Promove comunicação entre equipe multidisciplinar, unidade de saúde, autoridades e comunidade” (BRASIL, 2016, p.14).
- Campo de atuação: SUS (BRASIL, 2016, P.14) – Unidades Básicas de
Saúde
.
-Pesquisa “Processo de Trabalho dos Técnicos em Saúde na perspectiva dos saberes, práticas e competências”, coordenada por Marise Ramos (EPSJV/Fiocruz), realizada em 20 cidades do país (RAMOS, FRAGA, NOGUEIRA, et.al, 2017):
a) A formação inicial e continuada é compatível como o trabalho real? Quanto à formação inicial:
•a categoria profissional que mais se expressou acerca do problema foi a dos trabalhadores técnicos e auxiliares de enfermagem.;
•destacam a especificidade do trabalho na atenção básica e a superficialidade com que essa temática foi abordada no curso técnico de Enfermagem
- Em linhas gerais, tem-se a seguinte configuração nas equipes:
ACS: responsável pela captação das demandas no território, pela transferência destas demandas à eSF, e pelo retorno das respostas da equipe até a comunidade;
Técnico de enfermagem: responsável pela realização de procedimentos junto aos usuários (aplicação de vacinas, curativos etc.);
ACE : responsáveis pelo controle, identificação e tratamento de focos de zoonoses no território e são supervisionados por profissional específico da área, mas suas atividades não são incorporadas ao cotidiano da eSF.
A formação técnica em Enfermagem não prevê itinerários formativos, a formação
técnica em ACS sim, considerando a escolaridade dos trabalhadores.
Não organiza os conteúdos curriculares a partir do nível de atenção onde se inserem
os ACS e ACE, a Atenção básica
Não contempla a integração das áreas da vigilância em saúde
Não contempla a formação necessária , segundo o quadro sanitário-epidemiológico
brasileiro: avanço das arboviroses. Desloca o ACE de sua formação em vigilância.
Não centra-se nas atribuições precípuas dos ACS e ACE: mobilização social,
educação popular em saúde, promoção da saúde e vigilância em saúde
A formação ser preferencialmente no turno noturno não é adequada a realidade dos
trabalhadores ACS e ACE, nem corresponde a defesa que os ACS e ACE
reivindicam para a formação no horario de trabalho.
Responsabilização individual do trabalhador pela políticapública, incluindo os
gastos que poderá arcar se não conseguir completar a carga horária exigida.
Formação semi-presencial: não considera a especificidade da educação de adultos:
necessidade do acompanhamento próximo aos alunos e do encontro entre os
trabalhadores. Formação técnica em saúde cabe modalidade presencial!
Conteúdos voltados para área da Enfermagem generalista, para procedimentos
biomédicos, secundarizando os aspectos centrais da atuação do ACS: educação
popular e promoção da saúde
Síntese da avaliação dos alunos o CTACS de 2008 a
2014: Formação humana/vida dos alunos
(NOGUEIRA et al,2015)
Em relação à repercussão do curso na vida dos alunos, as respostas foram todas positivas. As mudanças mencionadas com maior frequência foram:
Clareza em relação a seu papel como trabalhador da saúde e sentimento de
valorização no trabalho.
Um novo posicionamento na sociedade e maior capacidade de análise crítica.
Desenvolvimento pessoal tanto em relação à facilidade de expressão, maior vontade
de estudar, capacidade de reivindicar seus direitos.
“Aprendi muito sobre os meus direitos quanto à classe trabalhadora, e sei que através desse conhecimento posso ajudar alguém”.
“Os filmes mostraram a realidade de nossa sociedade que é influenciada por uma minoria, que tem o poder de escravizar financeiramente os direitos, os sonhos e a vida”.
“Nos ajudou a ver e compreender a verdadeira realidade da situação política e econômica do nosso país”.
“Entendi melhor a luta do povo brasileiro”.
“Foram bem explicativos, muitos direitos passei a conhecer, muitas leis, aprendi um pouco mais de política, mais de história, enfim um banho de conhecimento”.
Síntese da avaliação dos alunos CTACS de 2008 a
2014: Formação humana/vida dos alunos
(NOGUEIRA etal, 2015)
Um novo olhar em relação aos outros, com mais paciência e escuta. Maior motivação para o trabalho.
Também foram mencionadas repercussões na vida pessoal como por exemplo, maior
independência em relação às suas funções domésticas, o grande prazer e orgulho em cursar o nível técnico,
Possibilidade de fazer novas amizades.
“No começo questionei pra que serviria essa oficina, com o passar do tempo fiquei impressionada. Quando o professor lia o texto por parte é incrível como a gente consegue entender e até mesmo imaginar as cenas, parecia que as cortinas se abriam”.
“Entrei muito tímida, introvertida e saí segura e extrovertida, sem medo de falar em público e reivindicar os meus direitos”.
“Aprendi a me colocar no lugar do outro e ter mais paciência. Aprendi a ver nas entrelinhas o problema não dito”.
“Me senti obrigado a dedicar mais tempo a leitura e com isso estou falando e lendo melhor”.
“A partir da oficina (de leitura) modifiquei totalmente a minha maneira de ler, até o jornal eu paro para interpretar o que estou lendo”
Síntese da avaliação dos alunos CTACS de 2008 a 2014:
em relação ao trabalho do ACS
(NOGUEIRA et al, 2015) Nas turmas de 2011/2012, 89,5% respondeu que percebeu mudanças na forma de realizar o seu trabalho depois do CTACS. Na turma 2013/2014 todos responderam de forma positiva à pergunta sobre se o curso havia repercutido de alguma maneira em suas vidas, e 80% destes alunos responderam que houve mudanças no relacionamento com sua equipe e com a comunidade em que atua:
Maior segurança no desenvolvimento do trabalho Ampliação do olhar e dos horizontes
Possibilidade de planejar suas ações
Maior escuta e troca de experiência com a comunidade
Construção de um olhar crítico sobre o trabalho e a realidade
Ampliação da concepção de saúde e preocupação com a qualidade de vida da população. Empoderamento e mobilização também aparecem em diferentes questionários
“O curso me deu instrumentos teóricos para que eu pudesse pensar, refletir melhor sobre a realidade da minha comunidade.”
“A EPSJV nos ensina a dialogar, participar, questionar, ao contrário de escolas que são do tipo tudo o que o mestre mandar”.
“Na forma de compreensão dos problemas, deu um novo olhar. Abriu a minha mente para analisar, repensar algumas questões e abordar assuntos favoráveis ao trabalho e ao dia-a-dia.”
Síntese da avaliação dos alunos CTACS de 2008 a 2014:
Estratégias didáticas e relação educador/educando
(NOGUEIRA et al,2015)
As visitas a Museus, outras unidades de saúde, outros municípios com ESF,
foram consideradas de grande valia para o processo de aprendizagem:
“No museu a minha mente se abriu, na visita ao módulo de Campo Grande tive a oportunidade de comparar as diferenças com a vivência do aprendizado do eixo”.“As diferenças do processo de trabalho nos outros municípios facilitaram o entendimento do nosso trabalho aqui”.
De uma maneira geral os alunos elogiaram a forma dialógica dos professores
darem aula, o fato de respeitarem os conhecimentos dos alunos, a liberdade
de expressão e o compartilhamento dos conhecimentos
“Já foi o tempo em que só o professor falava e o aluno ouvia. Hoje o professor é só um mediador, assim o aluno tem a oportunidade de expressar também seus conhecimentos”. “A todo momento eles tentaram nos fazer entender o que era lido e dito”.
“Em nenhum momento eu como aluna me senti inferior que o professor, pelo contrário, podemos aprender e ensinar um com o outro”. “
“Os professores nos deixaram à vontade para discutir sobre o assunto dando liberdade de dizer o que estava bom e ruim no nosso trabalho”.
Síntese da avaliação dos alunos CTACS de 2008 a
2014
(NOGUEIRA et al, 2015)
Enfatizou-se a importância de que a EPSJV prossiga com a oferta de
turmas
“Nunca esqueça que o que somos, acreditamos e lutamos, depende
desta formação. Lutar pela efetivação, piso salarial, é muito importante,
mas o que vale ser efetivo e ter salário, se o saber ainda nos falta?(...)
Que vocês caminhem na contramão das dificuldades que aparecerem
pela frente, mas não deixem de formar, formar e formar, esta categoria
sofrida mas que tem muito amor à profissão.”
Posicionamentos e ações contrárias ao PROFAGS: entidades
sindicais, acadêmicas e movimentos sociais.
1. Entidades sindicais de ACS e ACE, federações, confederação e associações se manifestaram contrárias
2. Moção de repúdio aprovada na Conferencia Nacional de Vigilância em Saúde de 2018. 3. Associação Brasileira de enfermagem repudia o PROFAGS
4. ETSUS Sudeste, ETSUS Blumenau e ETSUS Rondônia também se manifestaram contrárias
5. Conselhos Regionais de Enfermagem (seções como o RJ) e o Sindicato dos Enfermeiros de algumas regiões se posicionaram contrários ao PROFAGS
É necessário que se realize análise crítica da portaria considerando a conjuntura de acelerado desmonte dos direitos dos trabalhadores, de sucateamento e privatização do SUS e o histórico de projetos de leis, portarias e demais ações que apontam para o interesse dos gestores e do Ministério de fundir o trabalho dos agentes e técnicos de enfermagem;
Articulações com instituições acadêmicas, movimentos sociais e sindicais para ampliação do debate e elaboração de ações conjuntas frente a portaria 83/18:
- impugnação do edital e revogação da portaria – via jurídica;
- ações midiáticas e nas redes sociais esclarecendo as repercussões;
- ampliação do debate junto ao controle social (Conselho Nacional de Saúde, municipais e estaduais)
- seminários e ações locais considerando o risco que a mesma causa em relação a extinção de postos de trabalho, demissão de trabalhadores (técnicos e agentes) e a inadequação da proposta de formação em Enfermagem para trabalhadores que já possuem cursos técnicos específicos para os seus perfis profissionais.
• Formação Técnica dos ACS e ACE: Referenciais curriculares dos Cursos Técnicos (ACS – publicado em 2004 (MS e MEC) AVS – publicado em 2011 (MS). Implementação das três etapas do CTACS
• Formação ofertada pelas Redes públicas para formação; Rede de Escolas Técnicas do SUS (ETSUS); Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica; Redes estaduais de educação profissional (escolas técnicas).
Condições necessárias a serem garantidas para a formação profissional técnica dos ACS: • Liberação parcial do trabalho para o Curso Técnico específico ACS e ACE;
• Repactuação das metas de trabalho durante o curso; não garantida na Portaria 83/2018 • Acesso a educação de jovens e adultos, para o cumprimento dos requisitos da formação;
• Definição de prazo para a definição e implementação do processo de elevação de escolaridade; • Oferta de atividades de educação permanente, com a garantia de liberação de carga horária. Sobre a educação à distância:
• As Ferramentas de ensino à distância para cursos de formação profissional em saúde podem ser utilizadas de forma complementar, mas não 100%, modalidade de curso deve ser presencial.
Sobre a elevação de escolaridade
• definição de prazo para a elevação da escolaridade: cinco anos de transição para a exigência do ensino médio para os atuais agentes comunitários de saúde;
• Política pública de elevação de escolaridade, assegurada pelo Estado junto às escolas públicas (como já foi feito no caso do PROFAE, elevação da escolaridade das auxiliares de enfermagem para técnicos de enfermagem
)
Táticas dos movimentos e entidades classistas contrários ao PROFAGS
1. Leitura da portaria e análise crítica do momento em que se propõe formação técnica em enfermagem para os ACS e ACE – multiplicação do debate junto as bases
dos ACS, não restrição do debate somente aos diretores da entidade.
2. As turmas do curso só se formarão se houver inscrição individual de cada trabalhador. O trabalhador não é obrigado a se inscrever. Esvaziamento da demanda.
3. Articulação com instituições acadêmicas e movimentos sociais para ampliação do
debate e elaboração de ações conjuntas em relação à portaria;
4. Planejamento e execução de ações para revogação da portaria:
- jurídicas
- midiáticas, nas redes sociais e presenciais (manifestações locais e em Brasília)
- Formação política das bases
- Revindicação da formação técnica em ACS e de vigilância em saúde para ACE: articulação com as ETSUS locais
“ Quando é que as pessoas estudiosas vão começar a
olhar a educação como qualidade de vida e cultura do
povo? Quando é que qualificação profissional dos
trabalhadores do SUS, inclusive o ACS, será
interpretada como qualidade de vida do brasileiro? ”
Tereza Ramos
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, 2016. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=41271-cnct-3-edicao-pdf&category_slug=maio-2016-pdf&Itemid=30192 Acesso em: 15 de janeiro de 2018.
BRASIL. Lei n.11.350, de 5 de outubro de 2006. Regulamenta o § 5o do art. 198 da Constituição, dispõe sobre o aproveitamento de pessoal amparado pelo parágrafo único do art. 2o da Emenda Constitucional no 51, de 14 de fevereiro de 2006, e dá outras providências. 2006b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11350.htm Acesso em: 10 de julho de 2017. _________. Portarias nº 958 e 959 de 10 de maio de 2016 Altera o Anexo I da Portaria nº 2.488/GM/MS, de 21 de outubro de 2011, para ampliar as possibilidades de composição das Equipes de Atenção Básica. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.poderesaude.com.br/novosite/images/11.05.16_I.pdf>
Acesso em: 15 de mai. de 2016
_________. Projeto de lei nº 6437 de junho de 2016 Altera a Lei nº 11.350, de 5 de outubro de 2006, para dispor sobre a reformulação das atribuições, a jornada e as condições de trabalho, o grau de formação profissional, os cursos de formação técnica e continuada e a indenização de transporte dos profissionais Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=5339127&disposition=inline Acesso em: 30 de setembro de 2017.
_________. Redação final do Projeto de lei da Câmara nº 56 de 13 de setembro de 2017. altera a Lei nº 11.350, de 5 de outubro de 2006, para dispor sobre a reformulação das atribuições, a jornada e as condições de trabalho, o grau de formação profissional, os cursos de formação técnica e continuada e a indenização de transporte dos profissionais Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias. Brasília, DF. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7189009&disposition=inline >
Referências
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persistem. Disponível em: https://www.dieese.org.br/boletimdeconjuntura/2017/boletimConjuntura012.pdf
Acesso em: 15 de fevereiro de 2017.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA E APLICADA – IPEA. Os impactos do novo regime fiscal para o financiamento do Sistema Único de Saúde e para efetivação do direito à saúde no Brasil.
Disponível em:http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160920_nt_28_disoc.pdf Acesso em: 13 de janeiro de 2018.
NOGUEIRA, Mariana Lima. O processo histórico da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários
de Saúde: trabalho, educação e consciência política coletiva [Tese de doutorado]. Rio de janeiro: Programa
de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2017. 541f.
NOGUEIRA, Mariana Lima; BORNSTEIN, Vera Joana; MOREL, Cristina Massadar; LOPES, Márcia Cavalcanti. Relatório síntese sobre as avaliações dos educandos egressos do CTACS da EPSJV/Fiocruz -
turmas 2008 a 2013. Rio de Janeiro, 2015.
RAMOS, Marise; FRAGA, Livia; NOGUEIRA, Mariana Lima et.al. Relatório Final da pesquisa: Processo
de Trabalho dos Técnicos em Saúde na perspectiva dos saberes, práticas e competências. Rio de Janeiro: