“Onde não há palavra aparece o sintoma” (FREUD, 2000) “Onde não há palavra aparece o sintoma” (FREUD, 2000)
INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO
Este trabalho traz em seu bojo a
Este trabalho traz em seu bojo a histeriahisteria, sua evolução, sua história psicanalítica e os, sua evolução, sua história psicanalítica e os
estudos desenvolvidos por Jean-Martin Charcot e Sigmund Freud sobre o t
estudos desenvolvidos por Jean-Martin Charcot e Sigmund Freud sobre o tema. Temema. Tem como idéia central a sit
como idéia central a situação da histeria no panorama da uação da histeria no panorama da psicopatologpsicopatologia do ia do século XIX,século XIX, articulando à análise à pulsão sexual
articulando à análise à pulsão sexual reprimida, que se manifesta no corpo dasreprimida, que se manifesta no corpo das histéricas.
histéricas.
Dada a importância de se
Dada a importância de se ter um maior ter um maior número possível de informações acerca dosnúmero possível de informações acerca dos sintomas corporais da histérica, o objeto
sintomas corporais da histérica, o objeto deste estudo são os sintomas corporais dadeste estudo são os sintomas corporais da histérica representados na literatura
histérica representados na literatura nacional. Sendo assim surge nacional. Sendo assim surge como problematização:como problematização: Quais são as contribuições dos conceitos de Freud
Quais são as contribuições dos conceitos de Freud e Charcot acerca da histeria quee Charcot acerca da histeria que foram aproveitadas pela literatura brasileira?
foram aproveitadas pela literatura brasileira?
Na mesma linha de pensamento, Serge André (1998)
Na mesma linha de pensamento, Serge André (1998) ressalta que a histeria nosressalta que a histeria nos apresenta a questão de saber como a sexualização afeta o corpo, como, no ser humano, apresenta a questão de saber como a sexualização afeta o corpo, como, no ser humano, se opera a transformação que privilegia o fato de se ter um corpo mais que o
se opera a transformação que privilegia o fato de se ter um corpo mais que o de ser umde ser um organismo. Sendo assim, parte-se da hipótese de que
organismo. Sendo assim, parte-se da hipótese de que se histérica, objeto da clínica,se histérica, objeto da clínica, encerra tais questionamentos, que pode-se dizer da histérica como ficção l
encerra tais questionamentos, que pode-se dizer da histérica como ficção literária? Tem-iterária? Tem-se, assim, como hipótese deste trabalho, a
se, assim, como hipótese deste trabalho, a associação da histeria clínica com aassociação da histeria clínica com a Psicanálise estudada por Charcot e seu seguidor Freud à
Psicanálise estudada por Charcot e seu seguidor Freud à análise da personagem histéricaanálise da personagem histérica do romance
do romance O HomemO Homem de Aluísio de Azevedo.de Aluísio de Azevedo. Considera-se o romance naturalista
Considera-se o romance naturalista O HomemO Homem de Aluísio de Azevedo como umde Aluísio de Azevedo como um capítulo da exposição do trauma da sexualidade no âmbito
capítulo da exposição do trauma da sexualidade no âmbito feminino. Neste sentido, elefeminino. Neste sentido, ele se afina com a psicanálise como i
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
caminhos tortuosos aos quais o desejo encaminha (ou desencaminha) aqueles que caminhos tortuosos aos quais o desejo encaminha (ou desencaminha) aqueles que desejam.
desejam.
O objetivo geral deste estudo é contextualizar a histeria partindo de Charcot e Freud, O objetivo geral deste estudo é contextualizar a histeria partindo de Charcot e Freud, até à literatura, onde
até à literatura, onde será analisada a personagem histérica e seus sintomas corporais, noserá analisada a personagem histérica e seus sintomas corporais, no romance
romance O HomemO Homem de Aluísio Azevedo. Sendo assim nomeiam-se como objetivosde Aluísio Azevedo. Sendo assim nomeiam-se como objetivos específicos analisar a histeria sob o ponto
específicos analisar a histeria sob o ponto de vista de de vista de Freud e Charcot. Estendendo estesFreud e Charcot. Estendendo estes objetivos busca-se, ainda, mapear as crises histéricas da personagem Magdá do romance objetivos busca-se, ainda, mapear as crises histéricas da personagem Magdá do romance de Aluizio de Azevedo –
de Aluizio de Azevedo – O Homem.O Homem.
Veremos em nossa pesquisa que o romance
Veremos em nossa pesquisa que o romance Homem Homem de Aluísio de Azevedo ratificade Aluísio de Azevedo ratifica os estudos sobre a histeria
os estudos sobre a histeria conforme Freud, que conseguiu associá-la ao sexo. Aluísioconforme Freud, que conseguiu associá-la ao sexo. Aluísio em seu romance já apresenta questões ligadas à
em seu romance já apresenta questões ligadas à histeria freudiana que deixou de ser umahisteria freudiana que deixou de ser uma doença nervosa e hereditária para reafirmar-se como uma doença psíquica de
doença nervosa e hereditária para reafirmar-se como uma doença psíquica de etiologiaetiologia sexual. É como se Magdá, personagem de Aluísio,
sexual. É como se Magdá, personagem de Aluísio, fosse uma das pacientes de Freudfosse uma das pacientes de Freud (2000, p. 66) e que este ao vê-la diria:
(2000, p. 66) e que este ao vê-la diria: “A histérica é alguém que deseja; o desejo é o“A histérica é alguém que deseja; o desejo é o principal traço da histeria, e a anestesia o seu principal sintoma.”
principal traço da histeria, e a anestesia o seu principal sintoma.” A opção pelo tema deu-se em
A opção pelo tema deu-se em função do interesse da autora deste artifunção do interesse da autora deste artigo emgo em aprofundar conhecime
aprofundar conhecimentos a respeito da ntos a respeito da insatisfação sexual que pode levar aoinsatisfação sexual que pode levar ao desenvolvime
desenvolvimento de comportamentos histéricos. O nto de comportamentos histéricos. O trabalho não guarda em si trabalho não guarda em si a propostaa proposta de trazer respostas absolutas, mas antes estimular
de trazer respostas absolutas, mas antes estimular uma reflexão sobre os motivos queuma reflexão sobre os motivos que levam estas mulheres insatisfeitas a produzirem estes sintomas corporais.
levam estas mulheres insatisfeitas a produzirem estes sintomas corporais.
Abre-se este artigo com os conceitos de Charcot e Freud sobre a temática histeria. A Abre-se este artigo com os conceitos de Charcot e Freud sobre a temática histeria. A partir de então elabora-se um
partir de então elabora-se um mapeamento das manifestaçmapeamento das manifestações da histeria tendo ões da histeria tendo comocomo base a literatura brasileira,
base a literatura brasileira, adotando-se como modelo a obraadotando-se como modelo a obra O HomemO Homem de Aluizio dede Aluizio de Azevedo. O romance do defensor do Naturalismo foi
Azevedo. O romance do defensor do Naturalismo foi analisado sob a óticaanalisado sob a ótica psicanalítica.
psicanalítica.
DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO
Segundo Franco (1979) em seu Dicionário de Psicanálise, o t
Segundo Franco (1979) em seu Dicionário de Psicanálise, o termo histeria origina-seermo histeria origina-se do grego
do grego hysterahystera que significa útero. Uma antiga teoria sugeria que o útero vagava peloque significa útero. Uma antiga teoria sugeria que o útero vagava pelo corpo e a histeria
corpo e a histeria era considerada uma moléstia especificamente feminina, atribuída aera considerada uma moléstia especificamente feminina, atribuída a uma disfunção uterina. Sua apreensão era feita com base em
uma disfunção uterina. Sua apreensão era feita com base em sinais negativos (de doençasinais negativos (de doença orgânica) e em diversos preconceitos (a imaginada irritação
orgânica) e em diversos preconceitos (a imaginada irritação da genitália, a supostada genitália, a suposta inespecificida
inespecificidade dos sintomas e de dos sintomas e a exagerada importância atribuída à simulação).a exagerada importância atribuída à simulação).
Jean Marie Charcot, médico francês, fundador da mais famosa escola de neurologia, Jean Marie Charcot, médico francês, fundador da mais famosa escola de neurologia, a partir de 1878, dedicou-se ao estudo da histeria e do hipnotismo. Suas aulas e
a partir de 1878, dedicou-se ao estudo da histeria e do hipnotismo. Suas aulas e apresentaçõe
apresentações de doentes atraíram s de doentes atraíram alunos de todo o mundo, dos alunos de todo o mundo, dos quais o mais iquais o mais importantemportante foi Freud. O nome histeri
foi Freud. O nome histeria relacionado ao útero dificulta seus estudos neurológicos.a relacionado ao útero dificulta seus estudos neurológicos. Mas para separar a histeri
Mas para separar a histeria do útero, ele a do útero, ele a separa da sexualidade como causa,a separa da sexualidade como causa, mapeando-a como uma doença mental, que afeta tanto as
mapeando-a como uma doença mental, que afeta tanto as mulheres quanto aos homens.mulheres quanto aos homens. Fazendo da histeria uma doença mental –
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
De acordo com Antonio Quinet (2008),
De acordo com Antonio Quinet (2008), na apresentação da obrana apresentação da obra Grande HisteriaGrande Histeria,, Charcot não era um teórico, mas sim, como ele próprio se designava, um
Charcot não era um teórico, mas sim, como ele próprio se designava, um visual visual queque aprofundava o estudo da
aprofundava o estudo da nosografia (classificaçãnosografia (classificação e o e definição das doenças), com odefinição das doenças), com o intuito de arrancar a
intuito de arrancar a histeria da confusão de espasmos, paralisias, anestesias ehisteria da confusão de espasmos, paralisias, anestesias e convulsões. Sua pesquisa trouxe autenticidade e
convulsões. Sua pesquisa trouxe autenticidade e objetividade aos fenômenos histéricosobjetividade aos fenômenos histéricos contra os preconceitos e a
contra os preconceitos e a suposição de que eram apenas uma simulação dos doentes.suposição de que eram apenas uma simulação dos doentes. Seu esforço em sistematizar e ordenar as
Seu esforço em sistematizar e ordenar as manifestaçõemanifestações da excessiva e surpreendentes da excessiva e surpreendente teatralidade do corpo histérico trouxe novas contribuições sobre a
teatralidade do corpo histérico trouxe novas contribuições sobre a histeria, até entãohisteria, até então considerada como variação de ataques epilépticos ou simples simulações que não considerada como variação de ataques epilépticos ou simples simulações que não faziam jus às
faziam jus às considerações médicas da época.considerações médicas da época.
Charcot, ao empregar a hipnose como tratamento
Charcot, ao empregar a hipnose como tratamento para os histéricos, demonstrou quepara os histéricos, demonstrou que as idéias mórbidas podiam produzir manifestações físicas. Tentou livrar seus pacientes as idéias mórbidas podiam produzir manifestações físicas. Tentou livrar seus pacientes de pensamentos indesejáveis, através da sugestão hipnótica. Foi graças aos estudos de de pensamentos indesejáveis, através da sugestão hipnótica. Foi graças aos estudos de Charcot, particularmente sobre as paralisias traumáticas e as sugestões
Charcot, particularmente sobre as paralisias traumáticas e as sugestões pós-hipnóticas, que o papel da reminiscência foi
hipnóticas, que o papel da reminiscência foi reconhecido. A verdade é que Freud atribuireconhecido. A verdade é que Freud atribui a Charcot o mérito das descobertas que lhe conferem o lugar eterno de ter sido o
a Charcot o mérito das descobertas que lhe conferem o lugar eterno de ter sido o primeiro a elucidar a
primeiro a elucidar a questão da histeria, como uma doença do questão da histeria, como uma doença do sistema nervoso.sistema nervoso. (FREUD, 2000)
(FREUD, 2000)
Charcot considerou a histeria uma neurose, recusando-se a levar oficialmente em Charcot considerou a histeria uma neurose, recusando-se a levar oficialmente em conta a etiologia sexual, libertando as histéricas
conta a etiologia sexual, libertando as histéricas da suspeita de simulação. Ele ficouda suspeita de simulação. Ele ficou conhecido como o
conhecido como o teorizador das neurosesteorizador das neuroses. Fez vários relatos de casos clínicos,. Fez vários relatos de casos clínicos, das
das entidades mórbidasentidades mórbidas, dos, dos tipostipos, organizando a sintomatologia em, organizando a sintomatologia em ataquesataques convulsivos
convulsivos,, zonas heterógenas zonas heterógenas,,distúrbios da sensibilidadedistúrbios da sensibilidade,, paralisias paralisias, contraturas e, contraturas e características gerais. Esses sintomas decorriam de
características gerais. Esses sintomas decorriam de modificações fisiológicas do sistemamodificações fisiológicas do sistema nervoso
nervoso, alterando as, alterando as condições de excitabilidade nas suas diferentes partescondições de excitabilidade nas suas diferentes partes , sendo de, sendo de grande importância o estudo destas neuroses. (ALONSO, 2004)
grande importância o estudo destas neuroses. (ALONSO, 2004)22 O efeito hipnótico presente no arsenal t
O efeito hipnótico presente no arsenal terapêutico fez com que o médico dispusesseerapêutico fez com que o médico dispusesse inteiramente do corpo do
inteiramente do corpo do paciente. Esse domínio, segundo Sílvia Leonor Alonso (2004,paciente. Esse domínio, segundo Sílvia Leonor Alonso (2004, p. 33-4), permitiu t
p. 33-4), permitiu tanto a supressão temporária dos sintomas quanto comportamentosanto a supressão temporária dos sintomas quanto comportamentos mais dóceis. A autora conta em seu livro que nas suas aulas, Charcot chama a histérica, mais dóceis. A autora conta em seu livro que nas suas aulas, Charcot chama a histérica, aperta nela um ponto histerógeno e
aperta nela um ponto histerógeno e ela começa a manifestar as crises. Os ela começa a manifestar as crises. Os movimentosmovimentos epileptiformes clônicos e tônicos sucedem-se às contraturas e ao arco cir
epileptiformes clônicos e tônicos sucedem-se às contraturas e ao arco circular; depoiscular; depois disso é o momento das paixões, com as expressões de alegria ou de horror que
disso é o momento das paixões, com as expressões de alegria ou de horror que
acompanham a alucinação. Charcot usava a hipnose para demonstrar a solidez de suas acompanham a alucinação. Charcot usava a hipnose para demonstrar a solidez de suas hipóteses. Hipnotizando, fabricava sintomas histéricos e os suprimia de imediato, hipóteses. Hipnotizando, fabricava sintomas histéricos e os suprimia de imediato, demonstrando o caráter neurótico da doença.
demonstrando o caráter neurótico da doença.
Segundo Alonso (2004) as histéricas oferecem seus corpos para confirmar o
Segundo Alonso (2004) as histéricas oferecem seus corpos para confirmar o saber saber médico. Charcot porém não escuta o sofrimento das
médico. Charcot porém não escuta o sofrimento das histéricas e as convida a fixar-se nahistéricas e as convida a fixar-se na cena, a repetir a
cena, a repetir a fala da louca fala da louca, a se mostrarem num exibicionismo que se ajusta à, a se mostrarem num exibicionismo que se ajusta à fantasia do mestre. Temos o
fantasia do mestre. Temos o exemplo de Augustine, jovem mulher que fora estupradaexemplo de Augustine, jovem mulher que fora estuprada pelo amante da mãe aos 13 anos e que, alguns dias depois, apresentou ataques
pelo amante da mãe aos 13 anos e que, alguns dias depois, apresentou ataques convulsivos que repetia a pedido de Charcot n
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
‘_ Você diz que me curaria, não era isso?’ ‘_ Você diz que me curaria, não era isso?’
Sumindo o interesse dos médicos por ela, disfarçada de homem, foge do Sumindo o interesse dos médicos por ela, disfarçada de homem, foge do hospital. (ALONSO, 2004, p. 34-5)
hospital. (ALONSO, 2004, p. 34-5)
Para os médicos do naturalismo, a
Para os médicos do naturalismo, a histeria produzia crises, chamava a atenção,histeria produzia crises, chamava a atenção, mostrava-se e os médicos olhavam-na e se
mostrava-se e os médicos olhavam-na e se interessavam pelos sintomas manifestos,interessavam pelos sintomas manifestos, com os quais construíam uma
com os quais construíam uma figura figura. A histérica precisa ser histriônica, pois o campo. A histérica precisa ser histriônica, pois o campo do conhecimento que a estuda precisa dela desta maneira. (
do conhecimento que a estuda precisa dela desta maneira. (NASIO, 2007)NASIO, 2007) É por isso que se pode afirmar que as histéricas participaram da
É por isso que se pode afirmar que as histéricas participaram da invenção dainvenção da histeria
histeria por Charcot. O saber por Charcot. O saber visual visual construído por ele foi construído por ele foi produzido valendo-se do queproduzido valendo-se do que as histéricas lhe provocaram. Charcot não conseguia tirar
as histéricas lhe provocaram. Charcot não conseguia tirar os olhos delas. Fotografava osos olhos delas. Fotografava os movimentos, detalhava os gestos, decifrava os espasmos, media milimetricamente o movimentos, detalhava os gestos, decifrava os espasmos, media milimetricamente o corpo. O espetáculo, porém, não chegou a lhe permitir imaginar um teatro privado, corpo. O espetáculo, porém, não chegou a lhe permitir imaginar um teatro privado, como dizia Anna O
como dizia Anna O (paciente histérica do médico Josef Breuer, que foi (paciente histérica do médico Josef Breuer, que foi professor deprofessor de Freud) de seus sonhos, e menos ainda uma
Freud) de seus sonhos, e menos ainda uma outra cena, além da outra cena, além da dança dos corpos.dança dos corpos. (ALONSO, 2004)
(ALONSO, 2004)
Charcot abre em 1882 um serviço de neurologia no hospital Selpêtrière, em Paris, o Charcot abre em 1882 um serviço de neurologia no hospital Selpêtrière, em Paris, o maior hospital da Europa. Nesse hospital, com mais de seis mil pacientes, o médico maior hospital da Europa. Nesse hospital, com mais de seis mil pacientes, o médico francês fazia as apresentações dos doentes no seu seminário semanal, assistidas por francês fazia as apresentações dos doentes no seu seminário semanal, assistidas por médicos vindos de toda a
médicos vindos de toda a Europa. Verifica-se a histeria sendo transformada emEuropa. Verifica-se a histeria sendo transformada em espetáculo. A histérica, respondendo a pedido do
espetáculo. A histérica, respondendo a pedido do mestremestre para que se mostre, repetindopara que se mostre, repetindo incansavelme
incansavelmente a nte a mesma cena – torna-se objeto de mesma cena – torna-se objeto de verificação:verificação:
As epiléticas contavam vívidos pesadelos, histórias de
As epiléticas contavam vívidos pesadelos, histórias de membros mutilados, demembros mutilados, de mulheres devoradas por uma espécie de
mulheres devoradas por uma espécie de crustáceo com cabeça de pássaro; tudocrustáceo com cabeça de pássaro; tudo parecia surgir das trevas da Idade Média; as histéricas cuidavam de suas
parecia surgir das trevas da Idade Média; as histéricas cuidavam de suas companheiras, simulando maravilhosamente todas essas doenças. Possuídas companheiras, simulando maravilhosamente todas essas doenças. Possuídas pela mania especular de mimetizar
pela mania especular de mimetizar o sofrimento dos outros, assemelhavam-seo sofrimento dos outros, assemelhavam-se com acrobatas, bufões molhados, vibrantes e
com acrobatas, bufões molhados, vibrantes e esfarrapados, ensinando a loucuraesfarrapados, ensinando a loucura do mundo e a miséria do povo. (ROUDINESCO, 2000, p. 17)
do mundo e a miséria do povo. (ROUDINESCO, 2000, p. 17)
A palavra histriônico significa teatralidade; o
A palavra histriônico significa teatralidade; o histrionismo do histérico é representadohistrionismo do histérico é representado por seu caráter afetado, exagerado, exuberante como se estivesse fingindo. É um
por seu caráter afetado, exagerado, exuberante como se estivesse fingindo. É um
comportamento caracterizado por um colorido dramático, extrovertido e eloqüente, com comportamento caracterizado por um colorido dramático, extrovertido e eloqüente, com notável tendência a buscar contínua atenção. Trata-se dos únicos distúrbios de
notável tendência a buscar contínua atenção. Trata-se dos únicos distúrbios de personalidade mais freqüentes no sexo
personalidade mais freqüentes no sexo feminino. Tendendo a exagerar seusfeminino. Tendendo a exagerar seus pensamentos e sentimentos, o histérico, por ser
pensamentos e sentimentos, o histérico, por ser muito sugestionável, idealiza sintomasmuito sugestionável, idealiza sintomas de acordo com aquilo que
de acordo com aquilo que representa de verdadeiro. Isso poderia significar que a doençarepresenta de verdadeiro. Isso poderia significar que a doença é intencional e involuntária ao
é intencional e involuntária ao mesmo tempo; há algum planejamento (inconsciente),mesmo tempo; há algum planejamento (inconsciente), mas a pessoa não co
mas a pessoa não consegue libertar-se dele volunnsegue libertar-se dele voluntariamente. tariamente. (NASIO, 2007)(NASIO, 2007) Charcot (2008, p. 25)
Charcot (2008, p. 25) defende que a histeria, da mesma forma que outdefende que a histeria, da mesma forma que outros estadosros estados mórbidos (as patologias neurológicas), tem regras e
mórbidos (as patologias neurológicas), tem regras e leis que podem ser depreendidasleis que podem ser depreendidas por uma observação atenta. Diz ele que “é importante que se saiba que a histeria tem por uma observação atenta. Diz ele que “é importante que se saiba que a histeria tem
suas leis, seu determinismo, exatamente como uma afecção nervosa com lesão suas leis, seu determinismo, exatamente como uma afecção nervosa com lesão
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
regras e leis depreendidas pelo método charcotiano não só
regras e leis depreendidas pelo método charcotiano não só dão à histeria credibilidade edão à histeria credibilidade e veracidade, como também retiram os histéricos do rótulo de
veracidade, como também retiram os histéricos do rótulo de doentes detestáveisdoentes detestáveis.. (ROUDINESCO, 2000)
(ROUDINESCO, 2000)
Contudo, Charcot (2008, p. 28) não
Contudo, Charcot (2008, p. 28) não se dedicou a buscar a se dedicou a buscar a suposta causa orgânica dasuposta causa orgânica da histeria. Seu interesse não era propriamente
histeria. Seu interesse não era propriamente etiológico, ou mesmo terapêutico, mas simetiológico, ou mesmo terapêutico, mas sim descritivo e nosológico. Mas a concepção empregada por Charcot na investigação da descritivo e nosológico. Mas a concepção empregada por Charcot na investigação da histeria rompe a
histeria rompe a dicotomia “fenômenos neurológicos inconscientes x fenômenosdicotomia “fenômenos neurológicos inconscientes x fenômenos psicológicos conscien
psicológicos conscientes e mais tes e mais ou menos simulados”. Ao propor que histeria ou menos simulados”. Ao propor que histeria apresentaapresenta fenômenos psicológicos sem a consciência do doente,
fenômenos psicológicos sem a consciência do doente, ele consegue demonstrar oele consegue demonstrar o aspecto de falta de sinceridade dos doentes, isolar a
aspecto de falta de sinceridade dos doentes, isolar a histeria traumática, classificar oshisteria traumática, classificar os sintomas positivos das manifestações histéricas e desfazer a correspondência entre a sintomas positivos das manifestações histéricas e desfazer a correspondência entre a histeria e o
histeria e o órgão genital feminino. Além disso, abre caminho para órgão genital feminino. Além disso, abre caminho para a hipótese freudianaa hipótese freudiana de fenômenos e mecanismos totalmente clivados da consciência, e, mesmo assim,
de fenômenos e mecanismos totalmente clivados da consciência, e, mesmo assim, extremamente ativos.
extremamente ativos.
Freud, que freqüenta Salpêtrière durante dezessete semanas, sente-se logo Freud, que freqüenta Salpêtrière durante dezessete semanas, sente-se logo impressionado pelo professor Charcot. No seu papel de professor, o
impressionado pelo professor Charcot. No seu papel de professor, o médico eramédico era absolutamente sedutor. Freud dizia que Charcot soubera impor um
absolutamente sedutor. Freud dizia que Charcot soubera impor um estilo pessoal, umaestilo pessoal, uma maneira de abordar o doente com um interesse caloroso e vivo, muito diferente da maneira de abordar o doente com um interesse caloroso e vivo, muito diferente da superficialidade serena a que os
superficialidade serena a que os médicos vienenses tinham habituado Freud. (médicos vienenses tinham habituado Freud. (FREUD,FREUD, 2000)
2000)
Embora Freud (2000) tenha relatado que ouviu
Embora Freud (2000) tenha relatado que ouviu de Charcot a afirmação, feitade Charcot a afirmação, feita informalmente a um colega, de que na histeria
informalmente a um colega, de que na histeria c`est toujours la chose génitalec`est toujours la chose génitale , seria, seria necessário esperar que o próprio Freud, ao teorizar a etiologia sexual da histeria e necessário esperar que o próprio Freud, ao teorizar a etiologia sexual da histeria e fundar a psicanálise, pudesse comprová-la. Freud detectou no ataque histérico uma fundar a psicanálise, pudesse comprová-la. Freud detectou no ataque histérico uma fantasia encenada em que o sujeito é
fantasia encenada em que o sujeito é objeto sexual em um cenário fantasioso: objeto sexual em um cenário fantasioso: o ataqueo ataque histeroepilético é, segundo ele, a encenação de um ato
histeroepilético é, segundo ele, a encenação de um ato sexual. Efetivamente, mesmosexual. Efetivamente, mesmo hoje não se pode deixar
hoje não se pode deixar de ver a erogeneização do corpo durante o de ver a erogeneização do corpo durante o ataque histéricoataque histérico epileptiforme.
epileptiforme.
De acordo com Antonio Quinet (2008),
De acordo com Antonio Quinet (2008), ataques histeroepiléticos, catalépticos,ataques histeroepiléticos, catalépticos, letárgicos, paralisias, nevralgias, afonias, cegueiras histéricas são
letárgicos, paralisias, nevralgias, afonias, cegueiras histéricas são todos sintomas quetodos sintomas que representam o sujeito para o
representam o sujeito para o outro, que está fundamentalmente implicado no desejo dooutro, que está fundamentalmente implicado no desejo do histérico, assim como os pacientes de Charcot r
histérico, assim como os pacientes de Charcot respondiam a seu desejo de se espondiam a seu desejo de se mostrar.mostrar. Essa constatação não exclui a veracidade de seu sintoma, que sempre t
Essa constatação não exclui a veracidade de seu sintoma, que sempre traz consigo algoraz consigo algo da facticidade própria da linguagem do desejo.
da facticidade própria da linguagem do desejo. A idéia de que
A idéia de que os sintomas histéricos são causados por lesões orgânicas é descartadoos sintomas histéricos são causados por lesões orgânicas é descartado por Charcot. É seu mérito ter defendido a idéia de que não há uma
por Charcot. É seu mérito ter defendido a idéia de que não há uma correlação entre a dor correlação entre a dor psíquica e um órgão supostamente lesionado. No entanto, afirma que
psíquica e um órgão supostamente lesionado. No entanto, afirma que a histéricaa histérica apresenta a sintomatologia definida por regras precisas para escapar da idéia apresenta a sintomatologia definida por regras precisas para escapar da idéia dede simulação. Teorizador da neurose, Charcot carece de instrumentos para curá-la. simulação. Teorizador da neurose, Charcot carece de instrumentos para curá-la. (ALONSO, 2004)
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
sintomas histéricos ocorriam quando um processo mental caracterizado por intensa sintomas histéricos ocorriam quando um processo mental caracterizado por intensa carga de afeto ficava bloqueado, impossibilitado de expressão através da via normal carga de afeto ficava bloqueado, impossibilitado de expressão através da via normal dada consciência e dos movimentos. Esse afeto
consciência e dos movimentos. Esse afeto estranguladoestrangulado percorria vias inadequadas epercorria vias inadequadas e derramava-se sobre a inervação somática
derramava-se sobre a inervação somática (conversão).(conversão).
Freud (2000) afirmou que esses sintomas, substitutos de processos mentais normais, Freud (2000) afirmou que esses sintomas, substitutos de processos mentais normais, tinham sentido e
tinham sentido e significado, sendo causados por desejos inconscientes e lsignificado, sendo causados por desejos inconscientes e lembrançasembranças soterradas. Dado que essas idéias patogênicas, descritas como traumas psíquicos, eram soterradas. Dado que essas idéias patogênicas, descritas como traumas psíquicos, eram oriundas de um passado remoto, as histéricas sofriam d
oriundas de um passado remoto, as histéricas sofriam de reminiscências que não tinhame reminiscências que não tinham sido elaboradas.
sido elaboradas.
Diante da fragilidade do diagnóstico da histeria por
Diante da fragilidade do diagnóstico da histeria por lesão cerebral, essa histeria,lesão cerebral, essa histeria, separada do sexo por Charcot, volta a
separada do sexo por Charcot, volta a juntar-se ao sexo na juntar-se ao sexo na conceituaçãconceituação de Freud noo de Freud no século XX. Em
século XX. Em Psicoterapia da Histeria Psicoterapia da Histeria, Freud relata que quando começou a analisar a, Freud relata que quando começou a analisar a paciente, a Sra. Emmy Von
paciente, a Sra. Emmy Von N, a concepção de que a N, a concepção de que a histeria fosse uma neurose sexualhisteria fosse uma neurose sexual ainda estava um pouco distante para Freud, pois
ainda estava um pouco distante para Freud, pois ele acabara de sair da ele acabara de sair da escola deescola de Charcot. Posteriormente, ao estabelecer a histeria com o
Charcot. Posteriormente, ao estabelecer a histeria com o tema da sexualidade, comentoutema da sexualidade, comentou sobre o caso da paciente Emmy Von N: “Quando examino minhas notas sobre esse caso sobre o caso da paciente Emmy Von N: “Quando examino minhas notas sobre esse caso hoje em dia, parece-me não haver nenhuma dúvida de que ele deve ser visto como um hoje em dia, parece-me não haver nenhuma dúvida de que ele deve ser visto como um caso grave de neurose de angústia que se
caso grave de neurose de angústia que se originara da abstinência sexual e se originara da abstinência sexual e se combinaracombinara com a histeria.” (FREUD, 2000, p. 65)
com a histeria.” (FREUD, 2000, p. 65) De acordo com Silvia
De acordo com Silvia Alonso (2004), a suposta lesão nervosa proposta por CharcotAlonso (2004), a suposta lesão nervosa proposta por Charcot não encontrou apoio nas pesquisas e foi abandonada por Freud, que preferiu
não encontrou apoio nas pesquisas e foi abandonada por Freud, que preferiu acreditar acreditar nas “feridas psíquicas”, nos traços mnêmicos (procedimento capaz de ajudar a memória nas “feridas psíquicas”, nos traços mnêmicos (procedimento capaz de ajudar a memória por associações mentais) deixados pelas experiências infantis,
por associações mentais) deixados pelas experiências infantis, pelas fixações pulsionais,pelas fixações pulsionais, pelos excessos das intensidades traumáticas ao longo da história da erogenização do pelos excessos das intensidades traumáticas ao longo da história da erogenização do
corpo. corpo.
Freud (2000) passou a considerar os casos de neurose de
Freud (2000) passou a considerar os casos de neurose de angústia como incluídos noangústia como incluídos no diagnóstico da histeria, sustentando que esses casos decorrem de um acúmulo de
diagnóstico da histeria, sustentando que esses casos decorrem de um acúmulo de tensãotensão física seguida de reminiscências, que para ele, já
física seguida de reminiscências, que para ele, já representa uma origem sexual. Freudrepresenta uma origem sexual. Freud comenta sobre um caso de uma
comenta sobre um caso de uma paciente histérica cujos sintomas são de naturezapaciente histérica cujos sintomas são de natureza sexual:
sexual:
A doença da irmã causara nela essa impressão tão profunda porque as duas A doença da irmã causara nela essa impressão tão profunda porque as duas partilhavam um segredo; dormiam no mesmo quarto e, uma noite, ambas partilhavam um segredo; dormiam no mesmo quarto e, uma noite, ambas
sofreram as investidas sexuais de certo
sofreram as investidas sexuais de certo homem. A menção desse trauma sexualhomem. A menção desse trauma sexual na infância da paciente revelou não só apenas a origem de suas primeiras na infância da paciente revelou não só apenas a origem de suas primeiras obsessões como também o trauma que em seguida produziu os efeitos obsessões como também o trauma que em seguida produziu os efeitos patogênicos. (FREUD, 2000, p. 81)
patogênicos. (FREUD, 2000, p. 81)
A histeria com
A histeria com Freud (2000) deixa de ser uma Freud (2000) deixa de ser uma doença nervosa para reafirmar-sedoença nervosa para reafirmar-se como uma doença psíquica de etiologia sexual. Guiado pelas próprias
como uma doença psíquica de etiologia sexual. Guiado pelas próprias analisandas queanalisandas que lhe solicitam que as deixem falar, contando os seus sonhos e resistindo a cair no sono lhe solicitam que as deixem falar, contando os seus sonhos e resistindo a cair no sono hipnótico, vai transformando sua forma de trabalho em
hipnótico, vai transformando sua forma de trabalho em cada atendimento, abrindo passocada atendimento, abrindo passo ao método psicanalítico, esclarecendo a forma de erotismo presente na
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Start Free Trial
Cancel Anytime.
Se Charcot as chamava a exibir-se e, com isso, fixava-as numa figura que Se Charcot as chamava a exibir-se e, com isso, fixava-as numa figura que respondia à demanda do médico, Freud escutou-as no seu sofrimento, respondia à demanda do médico, Freud escutou-as no seu sofrimento,
descobriu com elas a transferência, inventou a psicanálise e deparou-se com os descobriu com elas a transferência, inventou a psicanálise e deparou-se com os limites do analisável. (ALONSO, 2004, p. 50)
limites do analisável. (ALONSO, 2004, p. 50)
Um dos textos famosos de Freud,
Um dos textos famosos de Freud, Estudos sobre Histeria Estudos sobre Histeria , reúne as construções, reúne as construções teóricas desenvolvidas à época e alguns dos relatos clínicos de
teóricas desenvolvidas à época e alguns dos relatos clínicos de seus atendimentos.seus atendimentos. Elizabeth von R, paciente de Freud, é uma moça que sofre de dores nas pernas e tem Elizabeth von R, paciente de Freud, é uma moça que sofre de dores nas pernas e tem dificuldade para andar. Freud relata o
dificuldade para andar. Freud relata o atendimento que deu a Elizabeth:atendimento que deu a Elizabeth:
Quando eu beliscava ou oprimia a pele e a musculatura hiperálgica da perna da Quando eu beliscava ou oprimia a pele e a musculatura hiperálgica da perna da senhorita von R, o seu rosto refletia uma peculiar expressão, mais de prazer do senhorita von R, o seu rosto refletia uma peculiar expressão, mais de prazer do que de dor. Ela lançava uns gritinhos que eu podia interpretar como a raiz de que de dor. Ela lançava uns gritinhos que eu podia interpretar como a raiz de erotizadas cócegas. Seu rosto ficava vermelho,
erotizadas cócegas. Seu rosto ficava vermelho, fechava os olhos, e se jogavafechava os olhos, e se jogava para trás. Tais reações não se harmonizavam com a dor que, supostamente, para trás. Tais reações não se harmonizavam com a dor que, supostamente,
sentia após meus estímulos. Provavelmente, combinavam melhor com o sentia após meus estímulos. Provavelmente, combinavam melhor com o conteúdo dos pensamentos escondidos atrás dessa dor
conteúdo dos pensamentos escondidos atrás dessa dor e que eram despertadose que eram despertados ao se estimular uma parte do corpo. (FREUD, 2000, Estudos sobre a Histeria, ao se estimular uma parte do corpo. (FREUD, 2000, Estudos sobre a Histeria, p. 153)
p. 153)
Entre a expressão prazerosa no rosto e a queixa de dor de Elizabeth, há algum Entre a expressão prazerosa no rosto e a queixa de dor de Elizabeth, há algum
desencontro que conduzirá a paciente a pensamentos não conscientes e que levou Freud desencontro que conduzirá a paciente a pensamentos não conscientes e que levou Freud a considerar a existência de um
a considerar a existência de um conflito, como também a existência sexual e conflito, como também a existência sexual e da defesada defesa contra ela. (FREUD, 2000)
contra ela. (FREUD, 2000)
A zona que Freud estimulava na
A zona que Freud estimulava na perna de Elizabeth é uma perna de Elizabeth é uma zona histerógena, conceitozona histerógena, conceito que não é novo, pois
que não é novo, pois já aparecia em Charcot. Contudo, para o já aparecia em Charcot. Contudo, para o médico francês essasmédico francês essas zonas faziam parte de uma topografia geral que,
zonas faziam parte de uma topografia geral que, ao serem estimuladas, poderiamao serem estimuladas, poderiam produzir uma crise. Já para
produzir uma crise. Já para Freud (2000), essas zonas histerógenas eram zonasFreud (2000), essas zonas histerógenas eram zonas erógenas, capaze
erógenas, capazes de desprender uma excitação, que falam de s de desprender uma excitação, que falam de um erotismo e um erotismo e de umade uma topografia individual e histórica. Seu corpo
topografia individual e histórica. Seu corpo expressa algo que não coincide com oexpressa algo que não coincide com o pensamento conscien
pensamento consciente, algo que vem te, algo que vem dede outro lugar outro lugar ..
Conforme defende Alonso (2004), a sexualidade infantil, o desejo inconsciente Conforme defende Alonso (2004), a sexualidade infantil, o desejo inconsciente recalcado e o sonho como retorno
recalcado e o sonho como retorno do inconsciente são três eixos que do inconsciente são três eixos que constroem aconstroem a perspectiva de Freud sobre a histeria
perspectiva de Freud sobre a histeria e seus sintomas, quando analisae seus sintomas, quando analisa la petitela petite hysterie
hysterie de sua paciente Dora, que foi de sua paciente Dora, que foi beijada e agarrada pelos braços pelo Sr.K. beijada e agarrada pelos braços pelo Sr.K. DoraDora sentiu asco, correu na direção da rua
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Start Free Trial
Cancel Anytime.
A inversão do afeto –
A inversão do afeto – onde deveria haver prazer, há repugnância – é onde deveria haver prazer, há repugnância – é produto doproduto do recalque, e segundo Freud, caracteriza a histeria. Dora
recalque, e segundo Freud, caracteriza a histeria. Dora evita encontrar com casais deevita encontrar com casais de namorados, pois assim evitaria reencontrar-se com a
namorados, pois assim evitaria reencontrar-se com a excitação, sentida por ela noexcitação, sentida por ela no abraço. Por algum tempo, depois do
abraço. Por algum tempo, depois do episódio que desencadeoepisódio que desencadeou o sintoma u o sintoma histérico dehistérico de Dora (a cena do beijo), ela evitou ficar a sós com o
Dora (a cena do beijo), ela evitou ficar a sós com o senhor K, recusando-se asenhor K, recusando-se a
acompanhá-lo com sua esposa, sem dar nenhuma razão. Verifica-se que na conversão, o acompanhá-lo com sua esposa, sem dar nenhuma razão. Verifica-se que na conversão, o afeto se suprime e depois
afeto se suprime e depois se desloca, anulando-se mediante o deslocamento para umase desloca, anulando-se mediante o deslocamento para uma parte do corpo que não
parte do corpo que não é aleatória, mas naquela que é aleatória, mas naquela que guarda uma relação simbólica comguarda uma relação simbólica com o conflito que motivou o
o conflito que motivou o deslocamendeslocamento. (FREUD, 2000)to. (FREUD, 2000)
Para Freud, o comportamento de Dora, menina de 14 anos, já era total e Para Freud, o comportamento de Dora, menina de 14 anos, já era total e completamente histérico
completamente histérico. . Da sensação de Da sensação de desprazer e de repugnândesprazer e de repugnância de Dora diante dacia de Dora diante da cena do beijo, Freud tomaria
cena do beijo, Freud tomaria por histérica “Qualquer pessoa em quem umapor histérica “Qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual lhe
oportunidade de excitação sexual lhe despertasse sentimentos prepondedespertasse sentimentos preponderante ourante ou exclusivamente desprazeros
exclusivamente desprazerosos, fosse ela ou os, fosse ela ou não capaz de produzir não capaz de produzir sintomas somáticos.”sintomas somáticos.” (FREUD, 2000, O Caso Dora, p. 34)
(FREUD, 2000, O Caso Dora, p. 34)
Freud começou a estudar a forma como uma
Freud começou a estudar a forma como uma pessoa se torna histérica e pessoa se torna histérica e quais são asquais são as manifestações aprese
manifestações apresentadas posteriormente por elas. Freud acreditava que o ntadas posteriormente por elas. Freud acreditava que o gerador degerador de uma neurose histérica seria quando a criança
uma neurose histérica seria quando a criança é vítima de uma é vítima de uma sedução sexualsedução sexual involuntária por um
involuntária por um adulto. Consequentemente, essa criança apresentaria sintomas,adulto. Consequentemente, essa criança apresentaria sintomas, ficaria sem voz, paralisada, aparecendo a angústia na tomada de
ficaria sem voz, paralisada, aparecendo a angústia na tomada de consciência de um fatoconsciência de um fato brutal, caracterizando um trauma. No momento do
brutal, caracterizando um trauma. No momento do trauma, o impacto de tal trauma, o impacto de tal seduçãosedução destaca justamente a parte corporal que entrou
destaca justamente a parte corporal que entrou em jogo, proveniente do fato tem jogo, proveniente do fato traumático.raumático. A imagem de um corpo sedutor adulto ou ainda do corpo da criança seduzida formam o A imagem de um corpo sedutor adulto ou ainda do corpo da criança seduzida formam o conteúdo imaginário da representação inscrita no inconsciente, onde o excesso de afeto conteúdo imaginário da representação inscrita no inconsciente, onde o excesso de afeto sexual se firma. Pode-se dizer que
sexual se firma. Pode-se dizer que a partir daí, a partir daí, surge o sintoma histérico, considerandosurge o sintoma histérico, considerando assim que a violência que se infiltrou no eu e a i
assim que a violência que se infiltrou no eu e a impressão dessa imagem altamenmpressão dessa imagem altamentete investida de afeto é muito forte para o eu e, portanto, considerada a fonte de tal sintoma. investida de afeto é muito forte para o eu e, portanto, considerada a fonte de tal sintoma. (FREUD, 2000)
(FREUD, 2000)
Portanto, Freud quando começou a tratar as
Portanto, Freud quando começou a tratar as primeiras histéricas, estavaprimeiras histéricas, estava fundamentalme
fundamentalmente preocupado com a questão do tnte preocupado com a questão do trauma. Ele constatou que orauma. Ele constatou que o traumático não era a sedução em
traumático não era a sedução em si, mas a si, mas a recordação da cena. Isso levou-o a deduzir recordação da cena. Isso levou-o a deduzir que o que acaba tornando alguém histérico não é o trauma, mas sim, o fato de t
que o que acaba tornando alguém histérico não é o trauma, mas sim, o fato de talal vestígio pressionado pelo recalcamento ser
vestígio pressionado pelo recalcamento ser sobrecarregado de afeto exacerbado,sobrecarregado de afeto exacerbado, gerando assim, um conflito que é o impulso essencial da histeria, que é o fato de uma gerando assim, um conflito que é o impulso essencial da histeria, que é o fato de uma
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Start Free Trial
Cancel Anytime.
atenção – solidariedade, por assim dizer, intensificada até o
atenção – solidariedade, por assim dizer, intensificada até o ponto da reprodução.”ponto da reprodução.” (FREUD, 2000, p. 183)
(FREUD, 2000, p. 183)
Freud dirá que os sintomas são
Freud dirá que os sintomas são figurações convertidafigurações convertidas de fantasias que se s de fantasias que se originamoriginam nas zonas erógenas. A histérica para ele
nas zonas erógenas. A histérica para ele é alguém que deseja: “O desejo é é alguém que deseja: “O desejo é o principalo principal traço da histeria, e a anestesia o seu principal sintoma” (FREUD, 2000, p. 309). traço da histeria, e a anestesia o seu principal sintoma” (FREUD, 2000, p. 309). Protegida está Dora do seu
Protegida está Dora do seu próprio desejo pelo recalque; protegida da tentação de próprio desejo pelo recalque; protegida da tentação de cair cair nos braços do Sr. K, de entregar-se sexualmente. Então, o que a ameaça é o desejo e, nos braços do Sr. K, de entregar-se sexualmente. Então, o que a ameaça é o desejo e, por intermédio dele, a
por intermédio dele, a sua condição moral.sua condição moral. A importância da fantasia na vida
A importância da fantasia na vida sexual dos histéricos aparece de forma marcante nosexual dos histéricos aparece de forma marcante no texto de Freud sobre o
texto de Freud sobre o caso Dora. Freud (2000) afirma que caso Dora. Freud (2000) afirma que os histéricos afastam-se doos histéricos afastam-se do caminho da satisfação buscado na realidade e refugiam-se na atividade fantasística, num caminho da satisfação buscado na realidade e refugiam-se na atividade fantasística, num processo de introversão da libido. Cada histérico t
processo de introversão da libido. Cada histérico tem seu próprio teatro priem seu próprio teatro privado, sendovado, sendo que os fantasmas histéricos estão, no dizer de
que os fantasmas histéricos estão, no dizer de Freud, sempre dirigidos ao outro.Freud, sempre dirigidos ao outro. Enquanto para Charcot, o palco cênico em
Enquanto para Charcot, o palco cênico em que se produzia o discurso sobre aque se produzia o discurso sobre a histeria, e onde aparecia em cena o corpo da histérica que era observado, escrito e histeria, e onde aparecia em cena o corpo da histérica que era observado, escrito e fotografado
fotografado, para Freud, é o campo da escuta e não , para Freud, é o campo da escuta e não da mirada que permitirá incluir oda mirada que permitirá incluir o espaço psíquico como dimensão fundamen
espaço psíquico como dimensão fundamental para uma tal para uma nova concepção de histeria e danova concepção de histeria e da corporeidade que lhe concerne. O reconhecimento da presença de um
corporeidade que lhe concerne. O reconhecimento da presença de um saber não saber não sabido
sabido do qual as histéricas são portadoras, no qual é um invisível o que ressoa na fala,do qual as histéricas são portadoras, no qual é um invisível o que ressoa na fala, e que se acede pela
e que se acede pela escuta do analista, caminha como uma mudança de lugar escuta do analista, caminha como uma mudança de lugar do corpodo corpo histérico, como bem afirma Silvia
histérico, como bem afirma Silvia Alonso:Alonso:
A opção pelo relato, em vez do exame semiológico, somada à idéia de um A opção pelo relato, em vez do exame semiológico, somada à idéia de um saber inconsciente presente no paciente e
saber inconsciente presente no paciente e à transferência como instrumentoà transferência como instrumento fundamental da cura, permitem reconhecer o corpo histérico como lugar em fundamental da cura, permitem reconhecer o corpo histérico como lugar em que se expressa o que vem de outro espaço, a outra cena, cena inconsciente, que se expressa o que vem de outro espaço, a outra cena, cena inconsciente, lugar do fantasma. (ALONSO, 2004, p. 88)
lugar do fantasma. (ALONSO, 2004, p. 88)
Freud notou que, na maioria dos seus pacientes, o
Freud notou que, na maioria dos seus pacientes, o material mais frequentementematerial mais frequentemente reprimido estava relacionado às idéias perturbadoras referentes à sexualidade. Em 1887, reprimido estava relacionado às idéias perturbadoras referentes à sexualidade. Em 1887, percebeu que, ao invés de serem lembranças de acontecimentos reais, esses eventos percebeu que, ao invés de serem lembranças de acontecimentos reais, esses eventos
eram resíduos de impulsos e
eram resíduos de impulsos e desejos infantis (fantasias). E concluiu que a ansiedade eradesejos infantis (fantasias). E concluiu que a ansiedade era conseqüên
conseqüência da cia da libido reprimida, que libido reprimida, que encontrava expressão em vários sintomas.encontrava expressão em vários sintomas. (KEHL, 2008)
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Start Free Trial
Cancel Anytime.
A histérica sofreria, segundo Freud (2000), de
A histérica sofreria, segundo Freud (2000), de reminiscências e o sintoma é ureminiscências e o sintoma é umama forma de rememoração. As dores da paciente Elizabeth nos
forma de rememoração. As dores da paciente Elizabeth nos pontos de apoio das pernaspontos de apoio das pernas inchadas do pai doente representam a lembrança dolorosa e enlutada deste
inchadas do pai doente representam a lembrança dolorosa e enlutada deste período deperíodo de sua vida e dos conflitos
sua vida e dos conflitos afetivos que a atravessavam. É possível afirmar que essesafetivos que a atravessavam. É possível afirmar que esses sintomas são marcas deixadas no corpo por fragmentos de
sintomas são marcas deixadas no corpo por fragmentos de um passado parcialmenteum passado parcialmente esquecido, signos de uma história escrita pela metade.
esquecido, signos de uma história escrita pela metade. Para Freud (2000), a histérica i
Para Freud (2000), a histérica insere-se nas situações por meio do corpo nsere-se nas situações por meio do corpo e é afetadae é afetada pelo próprio corpo. Nesse histórico clínico,
pelo próprio corpo. Nesse histórico clínico, Freud mantém, inicialmente, as conclusõesFreud mantém, inicialmente, as conclusões extraídas do caso Elizabeth, explicitando a necessidade de participação do corpo na extraídas do caso Elizabeth, explicitando a necessidade de participação do corpo na produção do sintoma histérico:
produção do sintoma histérico:
Até onde alcanço vê-lo, todo sintoma histérico requer a contribuição de duas Até onde alcanço vê-lo, todo sintoma histérico requer a contribuição de duas partes. Não pode produzir-se sem certa situação somática, outorgada por um partes. Não pode produzir-se sem certa situação somática, outorgada por um processo normal ou psicológico acontecendo no interior de órgão do corpo, ou processo normal ou psicológico acontecendo no interior de órgão do corpo, ou
relativo a esse órgão. Mas não se produz mais de uma vez só – e está no relativo a esse órgão. Mas não se produz mais de uma vez só – e está no caráter do sintoma histérico a capacidade de repetir-se – se não possui um caráter do sintoma histérico a capacidade de repetir-se – se não possui um significado psíquico, um sentido. (FREUD, 2000, p. 37)
significado psíquico, um sentido. (FREUD, 2000, p. 37)
Freud aproximou-se das paralisias das histéricas com um olhar
Freud aproximou-se das paralisias das histéricas com um olhar crítico que outros nãocrítico que outros não atingiram. Percebeu que as paralisias não acompanhavam o trajeto dos ner
atingiram. Percebeu que as paralisias não acompanhavam o trajeto dos nervos, sendo aovos, sendo ao contrário, a expressão no corpo de u
contrário, a expressão no corpo de uma problemática psíquica (a distinçãoma problemática psíquica (a distinção corpo/psiquismo que foi apropriada por Freud); a
corpo/psiquismo que foi apropriada por Freud); a conversão de energia psíquica emconversão de energia psíquica em somática e não uma degeneração ou fraqueza dos nervos. (ALONSO, 2004)
somática e não uma degeneração ou fraqueza dos nervos. (ALONSO, 2004) Tanto Nasio (2007) quanto Alonso (2004) consideram que
Tanto Nasio (2007) quanto Alonso (2004) consideram que Freud foi o precursor deFreud foi o precursor de uma forma
uma forma de pensar com o corpode pensar com o corpo, afetivamente, dando expressão conceitual às, afetivamente, dando expressão conceitual às tensões, às quais ele mesmo estava exposto, iniciando seu percurso pensando o corpo tensões, às quais ele mesmo estava exposto, iniciando seu percurso pensando o corpo das histéricas.
das histéricas.
Dando vazão à descoberta do inconsciente e à descoberta do corpo
Dando vazão à descoberta do inconsciente e à descoberta do corpo erógeno pelo viéserógeno pelo viés da crise histérica, Freud conceberá o psiquismo humano como um
da crise histérica, Freud conceberá o psiquismo humano como um aparelho deaparelho de processame
processamento de prazer, nto de prazer, desprazer e angústia, em contraponto a uma concepção dodesprazer e angústia, em contraponto a uma concepção do psiquismo como um aparelho neurológico, orgânico. O ataque histérico para
psiquismo como um aparelho neurológico, orgânico. O ataque histérico para Freud seFreud se configura como uma atualização do erotismo com o
configura como uma atualização do erotismo com o próprio corpo: “Um ataquepróprio corpo: “Um ataque histérico não se constitui
histérico não se constitui somente como uma descarga, mas como uma ação quesomente como uma descarga, mas como uma ação que conserva a característica inerente de toda a ação: ser um modo de se obter prazer.” conserva a característica inerente de toda a ação: ser um modo de se obter prazer.” (FREUD, 2000, carta 52)
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Start Free Trial
Cancel Anytime.
Encontramos no livro
Encontramos no livro A Lógica da Sensação A Lógica da Sensação, o capítulo, o capítulo Histeria Histeria, onde Deleuze, onde Deleuze retoma a idéia de
retoma a idéia de Artaud, poeta francês surrealista, do corpo sem Artaud, poeta francês surrealista, do corpo sem órgãos. Deleuzeórgãos. Deleuze propõe contra a hierarquia que unifica
propõe contra a hierarquia que unifica as sensações do corpo orgânico, outro corpo, queas sensações do corpo orgânico, outro corpo, que suporte intensidades extremas. A hipótese da onda nervosa requer um corpo
suporte intensidades extremas. A hipótese da onda nervosa requer um corpo que nãoque não desmorone quando submetido a tais intensidades, invisíveis pelo organismo. Corpo da desmorone quando submetido a tais intensidades, invisíveis pelo organismo. Corpo da representação, o orgânico desorganiza-se quando atingido por sensaçõe
representação, o orgânico desorganiza-se quando atingido por sensações, no qual s, no qual oo excesso de diferenças intensivas misturadas constitui o caos, ou como escreve excesso de diferenças intensivas misturadas constitui o caos, ou como escreve Deleuze,
Deleuze, as potências da noiteas potências da noite. Nesse sentido, o orgânico não passa de um atributo do. Nesse sentido, o orgânico não passa de um atributo do corpo, pois é acidente: é
corpo, pois é acidente: é o filtro que faz to filtro que faz tudo chegar ao corpo atenuadamente pelaudo chegar ao corpo atenuadamente pela representação organizad
representação organizadora. Desprovido do atributo da ora. Desprovido do atributo da organizaçãoorganização, o , o corpo sem órgãoscorpo sem órgãos é o de
é o de órgãos desorganizadosórgãos desorganizados. Desorganizada e excessiva no que concerne ao corpo. Desorganizada e excessiva no que concerne ao corpo orgânico, sensação não representada
orgânico, sensação não representada, a presença é , a presença é associada por Deleuze à histeria.associada por Deleuze à histeria. (DELEUZE, 20000)
(DELEUZE, 20000)
De acordo com Ruth Brandão (2008),
De acordo com Ruth Brandão (2008), a convulsão histérica ou epilética sãoa convulsão histérica ou epilética são fenômenos ameaçado
fenômenos ameaçadores, pois res, pois apresentam um corpo indomado. Essa dapresentam um corpo indomado. Essa desordem corporalesordem corporal estaria intimamente ligada a um corpo submetido a leis ou regras que o comandam, estaria intimamente ligada a um corpo submetido a leis ou regras que o comandam, podendo ele tornar-se presa de um
podendo ele tornar-se presa de um excesso, de um arrebatamento vital, comoexcesso, de um arrebatamento vital, como verificamos na passagem abaixo em que Magda do romance
verificamos na passagem abaixo em que Magda do romance O HomemO Homem de Aluísio dede Aluísio de Azevedo começa a manifestar um ataque histérico:
Azevedo começa a manifestar um ataque histérico:
O pai quis contê-la. Magda fugiu-lhe, correndo pelo cemitério, saltando das O pai quis contê-la. Magda fugiu-lhe, correndo pelo cemitério, saltando das sepulturas, tropeçando aqui e ali, tão depressa
sepulturas, tropeçando aqui e ali, tão depressa caindo caindo como se levantando , acomo se levantando , a soltar gritos que pareciam uivos de fera esfaimada. Afinal, já sem forças, e soltar gritos que pareciam uivos de fera esfaimada. Afinal, já sem forças, e com as roupas em frangalhos, abateu por terra, ofegante, mas escabujando com as roupas em frangalhos, abateu por terra, ofegante, mas escabujando ainda num rosnar convulsivo, até perder os sentidos. (AZEVEDO, 2000, p. ainda num rosnar convulsivo, até perder os sentidos. (AZEVEDO, 2000, p. 50)
50)
A manifestação da sexualidade feminina apresenta-se como al
A manifestação da sexualidade feminina apresenta-se como algo ameaçador,go ameaçador, perturbador do equilíbrio, como uma alteração do
perturbador do equilíbrio, como uma alteração do caráter, uma irritabilidade excessiva,caráter, uma irritabilidade excessiva, que Deleuze chamará de o excesso da histérica na
que Deleuze chamará de o excesso da histérica na desorganizaçdesorganização corporal. O corpoão corporal. O corpo sem órgãos para Deleuze (2000, p. 34)
sem órgãos para Deleuze (2000, p. 34) se define por um órgão se define por um órgão indeterminado, enquantoindeterminado, enquanto o organismo se define por ór
o organismo se define por órgãos determinados: “Há muitas aproximações ambíguas nagãos determinados: “Há muitas aproximações ambíguas na vida, do corpo sem órgãos, o álcool, a droga, a esquizofrenia [...] mas a realidade viva vida, do corpo sem órgãos, o álcool, a droga, a esquizofrenia [...] mas a realidade viva deste corpo podemos nomeá-la de histeria e
deste corpo podemos nomeá-la de histeria e em que sentido?”.em que sentido?”.
Deleuze (2000, p. 236) reporta ao quadro da histeria que se forma no século XIX – as Deleuze (2000, p. 236) reporta ao quadro da histeria que se forma no século XIX – as
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
paralisias como se a
paralisias como se a anatomia não existisse ou como se anatomia não existisse ou como se ela a desconhecesseela a desconhecesse [...]. O sintoma histérico remete a uma outra realidade do corpo, expressando [...]. O sintoma histérico remete a uma outra realidade do corpo, expressando uma realidade intensiva: o braço paralisado não remete a uma lesão funcional, uma realidade intensiva: o braço paralisado não remete a uma lesão funcional, sendo expressão de um valor afetivo que lhe é conferido. (FREUD, 2000, p. 55 sendo expressão de um valor afetivo que lhe é conferido. (FREUD, 2000, p. 55 e 57)
e 57)
Também para Deleuze (2000, p. 5), a
Também para Deleuze (2000, p. 5), a sensação de um órgão afetado num ataquesensação de um órgão afetado num ataque histérico não é passivo de representação, uma vez
histérico não é passivo de representação, uma vez que os órgãos intensivamenteque os órgãos intensivamente determinados não se qualificam, petrificando-se numa função fixada. Para o autor “O determinados não se qualificam, petrificando-se numa função fixada. Para o autor “O corpo é o corpo. Ele é único, e não necessita de órgãos. O corpo não é jamais um corpo é o corpo. Ele é único, e não necessita de órgãos. O corpo não é jamais um organismo. Os organismos são inimigos do corpo.”
organismo. Os organismos são inimigos do corpo.” Segundo Brandão (2008) no romance
Segundo Brandão (2008) no romance O HomemO Homem, a , a personagem Magda, revestindo-sepersonagem Magda, revestindo-se dos trajes da feminilidade, vai
dos trajes da feminilidade, vai perdendo também o controle do seu corpo, perdendo também o controle do seu corpo, cada vez maiscada vez mais presa a dores e
presa a dores e convulsões que demonstram sua fragilidade. Seu corpo torna-se cada vezconvulsões que demonstram sua fragilidade. Seu corpo torna-se cada vez menos humano, fazendo com que ela se assemelhe aos animais, por seus gestos
menos humano, fazendo com que ela se assemelhe aos animais, por seus gestos descontrolados
descontrolados. O narrador . O narrador de O Homem refere-se a de O Homem refere-se a Magda como fera, com seus uivosMagda como fera, com seus uivos e seu rosnar convulsivo. Todo esse mundo animal
e seu rosnar convulsivo. Todo esse mundo animal repelente é a contrapartida darepelente é a contrapartida da sexualidade recalcada de Magda, impossível de ser vivenciada, a não ser
sexualidade recalcada de Magda, impossível de ser vivenciada, a não ser através dosatravés dos ataques de sua doença. Essa doença, segundo o médico da família,
ataques de sua doença. Essa doença, segundo o médico da família, é também de origemé também de origem animal, referindo-se à teoria platônica, segundo o qual o útero é uma fera que deve ser animal, referindo-se à teoria platônica, segundo o qual o útero é uma fera que deve ser satisfeito em suas necessidades instintivas.
satisfeito em suas necessidades instintivas. Isso mostra o quanto o
Isso mostra o quanto o discurso médico mantinha-se preso aos preconceitos ediscurso médico mantinha-se preso aos preconceitos e consideraçõe
considerações morais. Apesar de descrever minuciosamente os sintomas da s morais. Apesar de descrever minuciosamente os sintomas da histeria – ashisteria – as tosses nervosas, as convulsõe
tosses nervosas, as convulsões, a irritabilidade, o tédio, os vômitos e a s, a irritabilidade, o tédio, os vômitos e a febre –, Aluísiofebre –, Aluísio de Azevedo não deixou de criticar o médico e sua medicina tirânica, pois uma outra de Azevedo não deixou de criticar o médico e sua medicina tirânica, pois uma outra visão da histeria já
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
penetrava no calor vivificante que vinha dele;
penetrava no calor vivificante que vinha dele; Aquele calor de carne sã eraAquele calor de carne sã era uma esmola atirada à fome do seu miserável sangue. (AZEVEDO, 2000, p. 71) uma esmola atirada à fome do seu miserável sangue. (AZEVEDO, 2000, p. 71)
A encenação de um desejo alucinado pode ser analisada no
A encenação de um desejo alucinado pode ser analisada no romanceromance Homem Homem. Se os. Se os sonhos de Magda representam o duplo de sua vida rotineira, a ela também se opõe e sonhos de Magda representam o duplo de sua vida rotineira, a ela também se opõe e denunciam seu caráter absurdo e opressor, na medida em que
denunciam seu caráter absurdo e opressor, na medida em que refletem uma sociedaderefletem uma sociedade também absurda e repressora. Se Freud destaca o
também absurda e repressora. Se Freud destaca o valor da verdade psíquica dos sonhosvalor da verdade psíquica dos sonhos e sua função de realizar os
e sua função de realizar os desejos, no romance de Aluísio de Azevedo, elas aparecemdesejos, no romance de Aluísio de Azevedo, elas aparecem no sentido de um desejo
no sentido de um desejo que não pode se manifestar socialmente. (BRANDÃO, 2008)que não pode se manifestar socialmente. (BRANDÃO, 2008) Torna-se possível para Magda ser desejada e amada na atmosfera psíquica do
Torna-se possível para Magda ser desejada e amada na atmosfera psíquica do sonho.sonho. Seus sonhos são produtos de um imaginário
Seus sonhos são produtos de um imaginário criador de fantasias relacionadas com umacriador de fantasias relacionadas com uma sexualidade que se direciona na busca de sensações e desejos não realizados.
sexualidade que se direciona na busca de sensações e desejos não realizados. (BRANDÃO, 2008)
(BRANDÃO, 2008) Se na vida real
Se na vida real de Magda, tudo é de Magda, tudo é perda, no sonho a perda é perda, no sonho a perda é reparada pela recuperaçãoreparada pela recuperação do objeto amado. O que
do objeto amado. O que era ferida e doença cura-se e cicatriza-se, através era ferida e doença cura-se e cicatriza-se, através do remédio dodo remédio do amor, vivido no sonho. É pela via do discurso onírico de Magda que o romance de
amor, vivido no sonho. É pela via do discurso onírico de Magda que o romance de Aluísio de Azevedo faz emergir a
Aluísio de Azevedo faz emergir a fala feminina, amordaçada por uma sociedadefala feminina, amordaçada por uma sociedade
patriarcal que não dá à mulher outro lugar de expressão do que os sintomas da histeria. patriarcal que não dá à mulher outro lugar de expressão do que os sintomas da histeria. Na medida em que o autor zomba de uma sociedade que produz a histeria feminina, ele Na medida em que o autor zomba de uma sociedade que produz a histeria feminina, ele
denuncia a loucura de suas normas ou códigos. Se a mulher é privada daquilo que se denuncia a loucura de suas normas ou códigos. Se a mulher é privada daquilo que se entende por sua feminilidade, ao mesmo tempo, esti
entende por sua feminilidade, ao mesmo tempo, estigmatiza-se o poder médico quegmatiza-se o poder médico que pode se revelar como metáfora da
pode se revelar como metáfora da sociedade patriarcal. (BRANDÃO, 2008)sociedade patriarcal. (BRANDÃO, 2008) CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo mapeou superficialmente as manifestaçõe
Start Free Trial
Cancel Anytime.
The world’s largest digital library
Try Scribd FREE for 30 days to access over 125 million titles without ads or interruptions!
Start Free Trial
Cancel Anytime.
AZEVEDO, Aluísio. O Homem. São Paulo: Martin Claret, 2000. AZEVEDO, Aluísio. O Homem. São Paulo: Martin Claret, 2000. BRANDÃO, Ruth Silviano.
BRANDÃO, Ruth Silviano. Mulher ao Pé da LetraMulher ao Pé da Letra. Minas Gerais: UFMG, 2008.. Minas Gerais: UFMG, 2008. CHARCOT, Jean-Martin.
CHARCOT, Jean-Martin. Grande HisteriaGrande Histeria. Rio de Janeiro: Contra-Capa, 2008.. Rio de Janeiro: Contra-Capa, 2008. Clement, Catherine.
Clement, Catherine. O feminino e o sagradoO feminino e o sagrado. Rio de . Rio de Janeiro: Rocco, 2008.Janeiro: Rocco, 2008. DELEUZE, Gilles.
DELEUZE, Gilles. Lógica das SensaçõesLógica das Sensações. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. FRANCO, Geminiano.
FRANCO, Geminiano. Dicionário de Psicologia Moderna Dicionário de Psicologia Moderna. Lisboa: Editora . Lisboa: Editora Lisboa,Lisboa, 1979.
1979.
FREUD, Sigmund.
FREUD, Sigmund. A Psicoterapia da Histeria A Psicoterapia da Histeria. Rio de Janeiro: Imago, 2000.. Rio de Janeiro: Imago, 2000. ______.
______. Fragmento da Análise de um Caso de Histeria (O Caso Dora). Fragmento da Análise de um Caso de Histeria (O Caso Dora). Rio de Janeiro:Rio de Janeiro: Imago, 2000.
Imago, 2000. ______.
______. Histeria Histeria. Primeiros Artigos. Rio de Janeiro: Imago, 2000.. Primeiros Artigos. Rio de Janeiro: Imago, 2000. KEHL, Maria Rita.
KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do Feminino Deslocamentos do Feminino. Rio de Janeiro: Imago, 2008.. Rio de Janeiro: Imago, 2008. NASIO, J. D.
NASIO, J. D. A Histeria A Histeria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. QUINET, Antonio.
QUINET, Antonio. Apresentação do livro “Histeria” de Jean-Martin Charcot Apresentação do livro “Histeria” de Jean-Martin Charcot .. In In:: CHARCOT, Jean-Martin.
CHARCOT, Jean-Martin. Grande HisteriaGrande Histeria. Rio de Janeiro: Contra-Capa, 2008.. Rio de Janeiro: Contra-Capa, 2008. ROUDINESCO, Elizabeth.