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20/09/2019

Número: 0058621-89.2019.8.17.2001

Classe: OUTROS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA Órgão julgador: 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital

Última distribuição : 17/09/2019 Valor da causa: R$ 1.000,00

Assuntos: Demissão ou Exoneração Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? SIM

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM Tribunal de Justiça de Pernambuco PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

MARCELO FERREIRA DOS SANTOS (AUTOR) RODRIGO DE SA LIBORIO (ADVOGADO) Estado de Pernambuco (RÉU)

Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 51103 537 19/09/2019 15:18 Decisão Decisão

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Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário

5ª Vara da Fazenda Pública da Capital

AV DESEMBARGADOR GUERRA BARRETO, S/N, FORUM RODOLFO AURELIANO, ILHA JOANA BEZERRA, RECIFE - PE - CEP: 50080-800 - F:(81) 31810252

Processo nº 0058621-89.2019.8.17.2001

AUTOR: MARCELO FERREIRA DOS SANTOS RÉU: ESTADO DE PERNAMBUCO

DECISÃO

1. Defiro a gratuidade processual;

2. Cuida-se de AÇÃO ORDINÁRIA C/C TUTELA DE URGÊNCIA promovida por MARCELO

FERREIRA DOS SANTOS contra o ESTADO DE PERNAMBUCO alegando que teve instaurado contra sua pessoa Processo Administrativo Disciplinar no âmbito da Secretaria de Defesa Social, haja vista ser Agente Polícia e, em razão disto teve sua aposentadoria cassada. Relata que se encontrava na Delegacia de Água Fria, no dia “03/0/2016” quando foi chamada para participar de uma diligência que resultara na prisão de uma pessoa identificada como “Chinês”, pela Polícia Militar. Que na loja dessa pessoa foi realizada a apreensão de vários celulares falsificados e que no apartamento do mesmo, também, “havia Diz a inicial que para apurar a responsabilidade do autor neste fato, foi

mais mercadoria falsificada”.

instaurado o PAD nº 2017.13.5.000760, na 5ª Comissão Permanente de Disciplina da Policia Civil que culminou com relatório sugerindo a aplicação da penalidade de demissão e, efetivamente, no dia 11/07/2019 foi publicado o Ato nº 6361, do Governador do Estado, materializando sua demissão.

Pontua que o PAD em questão é eivado de ilegalidades, razão pela qual sua aposentadoria deve ser

restabelecida. Que a penalidade da cassação da aposentadoria é inconstitucional, pois com “o advento de

uma Carta Política comprometida com a solidariedade e justiça distributiva e, por conseguinte, com a instituição do regime previdenciário contributivo, não é mais possível à aplicação dessa penalidade (cassação de aposentadoria como punição administrativa), haja vista que o servidor público paga uma

Em reforço dessa tese

contribuição, que é obrigatória, para garantir o direito à aposentadoria”.

destacou o seguinte julgado, entre outros:

“APOSENTADORIA CASSADA - A existência de perigo na demora está presente. Servidor, sem aposentadoria, corre risco de não sobreviver - A fumaça do bom direito também está presente A

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cassação de aposentadoria restou alterada depois das Emendas Constitucionais de n. 3/93 e 20/98. Isto porque antes as aposentadorias dos servidores se enquadravam como verdadeira benesse do Estado Recurso provido.” (...) (AI 21209208120148260000 SP 2120920-81.2014.8.26.0000, 3ª Câmara de Direito Público, Relator Des. José Luiz Gavião de Almeida, publicação em 12/12/2014, julgamento em 09/12/2014.)

Aponta outras ilegalidades, pois como a a aposentadoria, a mesma tem caráter alimentar a mesma não poderia ser cassada em face da prevalência do princípio da Intangibilidade Salarial previsto no art. 7º, VI, da CF/88. E, também, que não foi observado o prazo legal para conclusão do PAD, violando-se o princípio da legalidade.

Em sede de tutela de urgência pugna para que seja deferida liminar, pois os fatos configuram um eminente caso de abuso de poder, desproporcionalidade e ilegalidade. Que estão presentes os requisitos da probabilidade e do receio do perigo de dano, postulando a nulidade da cassação de sua aposentadoria.

É o que se tem a relatar.

Neste momento não cabe se discutir o mérito da questão, mas o pedido liminar, dada a

relevância da questão constitucional arguida na inicial. Este juízo fixou o entendimento de que, de fato, o

direito à percepção dos proventos de aposentadoria regular, não pode ser suprimido em decorrência de processo disciplinar ou mesmo ação penal competente. Entendo que a questão vai além do direito adquirido pura e simplesmente. É que, depois das emendas constitucionais de 1998 e 2003, deve-se, de

fato, conferir um novo status jurídico à aposentadoria do servidor público.

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. Aplicação da pena de demissão a bem do serviço público ao impetrante, que no exercício de suas funções de Perito Criminal, teria forjado provas para alterar resultado de laudo em favor de terceiros, mediante o recebimento de valor em moeda. Apuração da existência do ilícito administrativo. Superveniência de aposentadoria do impetrante no curso do PAD. Pena de demissão convolada em pena de cassação da aposentadoria. Inadmissibilidade. Caráter retributivo do sistema

previdenciário do servidor público que não autoriza a aplicação de tal pena, após o advento

. Segurança concedida. (TJSP. MS

das ECs 03/93 e 20/98, que alteraram o artigo 40 da CF/88

2135757-44.2014.8.16.0000. Órgão Especial. Rel. Des. Xavier de Aquino. Publicação em 03/03/2015) (Sem grifo no original).

Aliás, o país está diante de uma nova reforma da previdência que, independentemente da justiça de

suas razões, vai atingir o regime dos servidores públicos, com a finalidade de torná-lo o máximo possível igual aos dos trabalhadores do regime geral, vez que existe um viés de que os servidores são privilegiados. O fato é que, desde 2003, a aposentadoria do servidor público deixou de ser um prêmio, pelo que, a cassação dos proventos de aposentadoria se afigura como inconstitucional ou, no mínimo, desproporcional, já que não se respeita os princípios constitucionais do direito adquirido e da segurança jurídica. E, dado o caráter alimentar dos proventos de aposentadoria, a pena que lhe foi aplicada, indica afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois dificilmente conseguirá o mesmo prover sua própria subsistência sem tais proventos em que pese os anos todos de contribuição.

Começa a se questionar, nesta seara, sobre os efeitos da nova Lei de Introdução às Normas do

Direito Brasileiro no âmbito das reformas previdenciárias. É que alguns afirmam que as leis estaduais que consideram a cassação da aposentadoria, de forma automática, como decorrência de sentença penal condenatória, foram revogadas ou são incompatíveis com as reformas da previdência de que tratam as Emendas Constitucionais a respeito do tema. Os que advogam essa tese chamam a atenção para o fato de que a perda do cargo público por infração apurada em processo administrativo não guarda nexo de causalidade com a dupla sanção de cassação da aposentadoria. A pena de cassação de aposentadoria, de

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certa forma, vai além da pessoa do condenando, dada a natureza alimentar desses proventos e os eventuais benefícios de dependência e pensionamento dela decorrente. O STF, nas poucas vezes que se manifestou sobre o caso, se utilizou de reproduziu argumentos anteriores às reformas da previdência, pelo que podemos considerar, com a devida vênia, como anacrônicos. Daí porque alguns operadores do Direito, afirmam que:

“ (...) a pena de cassação de aposentadoria, nos contornos em que é colocada hoje, toma por conta os conceitos jurídicos existentes nos anos noventa, período em que foram ditados os Estatutos de Servidores, alimentados pelos institutos constantes do ordenamento jurídico constitucional de 1967, onde sempre se pressupôs que a relação jurídica entre Estado-servidor seria perpétua.

Todavia, ainda que persista essa corrente majoritária pela compatibilidade destas leis estaduais com a cassação da aposentadoria, já se observam algumas reações contrárias do próprio STF. O ministro Dias Toffoli no RMS 33937/DF argumenta com forte razão pela impossibilidade de cassação da aposentadoria como efeito automático da sentença condenatória em processo administrativo disciplinar ou penal, e o faz sustentando que:

“...com a atribuição constitucional de caráter contributivo à aposentadoria, essa, indiscutivelmente, perde seu caráter de “prêmio” ao servidor para se tornar uma espécie de seguro. Por essa razão, ganhou força, em âmbito doutrinário, reflexões quanto à inconstitucionalidade da previsão legal de cassação de aposentadoria, especialmente quando considerados seus reflexos pecuniários sobre proventos que resultaram de contribuição financeira ao sistema. Cito Maria Silvia di Pietro, que, em artigo publicado sobre o tema, assim se posicionou: “Sendo de caráter contributivo, é como se o servidor estivesse ‘comprando’ seu direito à aposentadoria; ele paga por ela. Daí a aproximação com o contrato de seguro. Se o servidor paga a contribuição que o garante diante da ocorrência de riscos futuros, o correspondente direito ao benefício previdenciário não pode ser frustrado pela demissão (...)”. [1]

Tendo o legislador constitucional equiparado, cada vez mais, os servidores públicos aos

trabalhadores do regime geral da previdência, decorrência lógica disso é que o direito à aposentadoria, calcada no critério contributivo, desvincule-se do “direito ao exercício do cargo, desde que o servidor , como leciona Maria Sylvia

tenha completado os requisitos constitucionais para obtenção do benefício”

Zanella Di Pietro, referida no já citado artigo publicado no site migalhas, de autoria de Vicente Paula

Santos.[2]

As mudanças promovidas no regime de aposentadoria dos servidores públicos nos últimos anos

reclamam interpretação teleológica, levando-se em consideração os fins a que se destinam essas normas, não sendo razoável se admitir norma de caráter punitivo aplicável somente ao servidor público, no tocante à cassação de sua aposentadoria.

O reconhecimento do caráter retributivo do regime previdenciário dos servidores públicos e a aparente violação dos princípios constitucionais acima citados, por sua vez, reclamam um provimento liminar e não se pode alegar que esteja sendo criada despesa para o erário, no caso.

Assim, além do direito adquirido invocado pelo autor, da segurança jurídica, entendo que a questão deve ser examinada sob essa nova ótica, a da retributividade.

Inegável, portanto, a probabilidade do direito do autor, bem assim como o perigo de dano.

Destarte, tenho que estão presentes os requisitos específicos necessários à tutela provisória de urgência, quais sejam, a probabilidade do direito do autor ser confirmado ao final do processo e do perigo de dano, este representado pelos graves efeitos decorrem da ausência do recebimento dos proventos de aposentadoria para o autor e sua família.

Diante do exposto, defiro a TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA, com fundamento

no art. 300, do CPC, determinando que o ESTADO DE PERNAMBUCO restabeleça a aposentadoria de MARCELO FERREIRA DOS SANTOS (CPF 333.269.834-68, Matrícula 0001586866)

Intime-se o ESTADO DE PERNAMBUCO para cumprimento em 15 (quinze) dias, da presente

[3]

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Cumpra-se!

[1] SANTOS, Vicente Paula. A revogação da pena de cassação de aposentadoria pela incompatibilidade

das leis dos estados que a preveem como efeito automático da sentença condenatória em processo

a d m i n i s t r a t i v o d i s c i p l i n a r .

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI283624,11049-A+revogacao+da+pena+de+cassacao+de+aposentadoria+pela

[ 2 ]

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI283624,11049A+revogacao+da+pena+de+cassacao+de+aposentadoria+pela

[3] Anotação de prazo suficiente para eventual recurso da PGE, para que não se alegue surpresa e ofensa

ao contraditório.

RECIFE, 19 de setembro de 2019.

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