Doenças Graves
Doenças Graves
Doenças Terminais
Doenças Terminais
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP Universidade Federal de Minas Gerais
José Antonio Ferreira
Definições
Doenças Graves
Doenças Graves
Doenças Terminais
Doenças Terminais
Durante a 2ª metade do século XX, a idade Durante a 2ª metade do século XX, a idade
da ciência, tecnologia e comunicação houve
da ciência, tecnologia e comunicação houve
uma mudança de valores na sociedade
uma mudança de valores na sociedade
ocidental.
ocidental.
Somos uma sociedade que nega a morte:Somos uma sociedade que nega a morte:
c)
c) Valorizamos produtividade, juventude e Valorizamos produtividade, juventude e independência
independência
d)
d) Desvalorizamos idade, família e cuidado Desvalorizamos idade, família e cuidado interdependente
Medicina muda o Foco
Medicina muda o Foco
As novas tecnologias e ciência oferecem As novas tecnologias e ciência oferecemtratamentos que antes eram desconhecidos
tratamentos que antes eram desconhecidos
Antes o médico oferecia conforto numa doença Antes o médico oferecia conforto numa doença
grave e terminal
grave e terminal
Hoje o sistema moderno de “saúde” luta Hoje o sistema moderno de “saúde” luta
agressivamente contra a doença e a morte
agressivamente contra a doença e a morte
Medicina muda o Foco
Medicina muda o Foco
Houve uma melhora significativa na sobrevida Houve uma melhora significativa na sobrevida
com uma longevidade cada ano maior
com uma longevidade cada ano maior
A pletora de novos medicamentos e terapias A pletora de novos medicamentos e terapias
mudou a forma como vemos as doenças
mudou a forma como vemos as doenças
A morte se tornou o inimigo que deve ser A morte se tornou o inimigo que deve ser
combatido a todo custo:
combatido a todo custo:
“
Fim de vida
Fim de vida
A morte não foi conquistada e todos nós A morte não foi conquistada e todos nós vamos morrer
vamos morrer
Enquanto nosso sistema de saúde e a Enquanto nosso sistema de saúde e a Ciência biomédica aprendeu a curar
Ciência biomédica aprendeu a curar
algumas doenças, basicamente resultou
algumas doenças, basicamente resultou
em prolongar a vida com doenças
em prolongar a vida com doenças
crônicas e o processo de morrer
Fim de vida
Fim de vida
A maioria de nós (>90%) morrerá :A maioria de nós (>90%) morrerá :
a) Doença grave com uma fase terminal
a) Doença grave com uma fase terminal
curta ( alguns câncer)
curta ( alguns câncer)
b) Uma deterioração progressiva com
b) Uma deterioração progressiva com
crises periódicas: ICC, enfisema,
crises periódicas: ICC, enfisema,
Alzheimer,..
Sintomas e sofrimento
Sintomas e sofrimento
Os pacientes e seus familiares se Os pacientes e seus familiares se
preocupam que seus sintomas não serão
preocupam que seus sintomas não serão
cuidados adequadamente e que vão
cuidados adequadamente e que vão
perder a função e o controle
perder a função e o controle
Existe a preocupação de quem dará o Existe a preocupação de quem dará o cuidado, quem pagará por isso, como
cuidado, quem pagará por isso, como
será morrer e o que vem depois
Sintomas e sofrimento
Sintomas e sofrimento
Os pacientes apresentam vários Os pacientes apresentam vários sintomas:
sintomas:
dor, náuseas, vômitos, constipação, falta
dor, náuseas, vômitos, constipação, falta
de ar, fraqueza, ansiedade, depressão,
de ar, fraqueza, ansiedade, depressão,
medo, tristeza, falta de esperança,
medo, tristeza, falta de esperança,
culpados por serem um peso para seus
culpados por serem um peso para seus
familiares
Local de morrer
Local de morrer
A morte saiu do domicilio e foi para o A morte saiu do domicilio e foi para o hospital
hospital
A maioria dos pacientes que morrem nos A maioria dos pacientes que morrem nos hospitais morrem de doenças cuja
hospitais morrem de doenças cuja
expectativa ( desfecho ou “outcome”) é a
expectativa ( desfecho ou “outcome”) é a
morte. Poderiam ser cuidados em casa
A morte real e a morte
A morte real e a morte
ideal
ideal
Existe uma diferença muito grande entre Existe uma diferença muito grande entre como as pessoas gostariam de morrer e
como as pessoas gostariam de morrer e
como vão morrer
como vão morrer
Como a morte é o grande inimigo, o Como a morte é o grande inimigo, o
tratamento é agressivo, os sintomas não
tratamento é agressivo, os sintomas não
são controlados e o paciente perde sua
são controlados e o paciente perde sua
autonomia
Sintomas e sofrimento
Sintomas e sofrimento
O sofrimento atinge aspectos diversos do O sofrimento atinge aspectos diversos do ser humano: ser humano: - Psicológico - Psicológico - Social - Social - Espiritual - Espiritual - Biológico - Biológico
Porque acontece este
Porque acontece este
final de vida tão sofrido
final de vida tão sofrido
Alguns motivosAlguns motivos::
a) Ignorância médica de como dar
a) Ignorância médica de como dar
cuidados paliativas
cuidados paliativas
b) preocupações legais de omissão de
b) preocupações legais de omissão de
socorro
socorro
c) preocupação com os eventos adversos
c) preocupação com os eventos adversos
medicamentosos dos analgésicos ,
medicamentosos dos analgésicos ,
sedativos, anti-depressivos,...
Porque acontece este
Porque acontece este
final de vida tão sofrido
final de vida tão sofrido
Alguns motivosAlguns motivos::
d) Desconforto em comunicar más notícias, falta
d) Desconforto em comunicar más notícias, falta
de capacidade de ajudar os familiares em
de capacidade de ajudar os familiares em
estabelecer planos terapêuticos mais reais
estabelecer planos terapêuticos mais reais
e) Incapacidade de compreender os direitos dos
e) Incapacidade de compreender os direitos dos
pacientes e seus familiares em suspender ou
pacientes e seus familiares em suspender ou
omitir suporte de vida
omitir suporte de vida
(
Porque acontece este
Porque acontece este
final de vida tão sofrido
final de vida tão sofrido
Alguns motivosAlguns motivos::
f) Medos, fantasias , preocupações e falta
f) Medos, fantasias , preocupações e falta
de confiança pessoais leva muitos
de confiança pessoais leva muitos
médicos a evitar o cuidado de
médicos a evitar o cuidado de
pacientes que estão morrendo
Porque acontece este
Porque acontece este
final de vida tão sofrido
final de vida tão sofrido
Momento de ReflexãoMomento de Reflexão::
Talvez se refletíssemos sobre nossas Talvez se refletíssemos sobre nossas próprias expectativas sobre o fim de
próprias expectativas sobre o fim de
nossas vidas e estudássemos mais
nossas vidas e estudássemos mais
cuidados paliativos, poderíamos ganhar
cuidados paliativos, poderíamos ganhar
“insight” nas expectativas e
“insight” nas expectativas e
necessidades de nossos pacientes e
Cuidado Paliativo
Cuidado Paliativo
Uma Resposta diante da Obstinação Uma Resposta diante da Obstinação Terapêutica
Terapêutica
Cuidado Paliativo é o cuidado ativo total
Cuidado Paliativo é o cuidado ativo total
dos pacientes cuja doença não responde
dos pacientes cuja doença não responde
mais ao tratamento curativo.
Cuidado Paliativo
Cuidado Paliativo
O controle da dor e de outros sintomas ,
O controle da dor e de outros sintomas ,
o cuidado dos problemas de ordem
o cuidado dos problemas de ordem
psicológica, social e espiritual são o mais
psicológica, social e espiritual são o mais
importante.
importante.
O objetivo do cuidado paliativo é
O objetivo do cuidado paliativo é
conseguir a melhor qualidade de vida
conseguir a melhor qualidade de vida
possível para pacientes e suas famílias
Cuidado Paliativo
Cuidado Paliativo
A Medicina paliativa se desenvoleu A Medicina paliativa se desenvoleu como uma reação à medicina moderna
como uma reação à medicina moderna
altamente tecnificada.
altamente tecnificada.
Temos o
Temos o EthosEthos da cura e o da cura e o EthosEthos da da
atenção
Cuidado Paliativo
Cuidado Paliativo
O O EthosEthos da cura inclui virtudes militares da cura inclui virtudes militares
do combate: não se dar por vencido e
do combate: não se dar por vencido e
perseverar , contém necessariamente
perseverar , contém necessariamente
algo de dureza.
algo de dureza.
O
O EthosEthos da atenção, pelo contrário, tem da atenção, pelo contrário, tem
como valor central a dignidade humana.
Cuidado Paliativo
Cuidado Paliativo
O O EthosEthos da atenção enfatiza a da atenção enfatiza a
solidariedade entre o paciente e os
solidariedade entre o paciente e os
profissionais da saúde, atitude que
profissionais da saúde, atitude que
resulta numa compaixão efetiva.
resulta numa compaixão efetiva.
No
No EthosEthos da cura o médico é o “general”, da cura o médico é o “general”,
enquanto no da atenção, o paciente é
enquanto no da atenção, o paciente é
“soberano”.
Cuidado Paliativo
Cuidado Paliativo
Não obstante a medicina paliativa ter
Não obstante a medicina paliativa ter
sido descrita como de baixa tecnologia e
sido descrita como de baixa tecnologia e
alto contato humano, ela não se opõe à
alto contato humano, ela não se opõe à
tecnologia médica, mas busca assegurar
tecnologia médica, mas busca assegurar
que seja o amor e não a ciência a força
que seja o amor e não a ciência a força
que sustenta o cuidado do paciente
Princípios éticos da
Princípios éticos da
medicina paliativa
medicina paliativa
1. Veracidade1. Veracidade
2. Proporcionalidade Terapêutica2. Proporcionalidade Terapêutica 3. Duplo Efeito3. Duplo Efeito
4. Prevenção4. Prevenção
1. Veracidade
1. Veracidade
- A veracidade é o fundamento da
- A veracidade é o fundamento da
confiança nas relações interpessoais
confiança nas relações interpessoais
- Comunicar a verdade ao paciente e
- Comunicar a verdade ao paciente e
seus familiares constitui um benefício
seus familiares constitui um benefício
para ambos ( princípio da
para ambos ( princípio da
beneficência),pois possibilita sua
beneficência),pois possibilita sua
participação ativa no processo de
1. Veracidade
1. Veracidade
- A mentira e a evasão são o que mais
- A mentira e a evasão são o que mais
isola os pacientes atrás de um muro de
isola os pacientes atrás de um muro de
palavras ou de silêncio e os impede de
palavras ou de silêncio e os impede de
aceitar o benefício terapêutico de
aceitar o benefício terapêutico de
partilhar os medos, angústias e outras
partilhar os medos, angústias e outras
preocupações
1. Veracidade
1. Veracidade
- Não é possível praticar a medicina
- Não é possível praticar a medicina
paliativa sem um compromisso prévio de
paliativa sem um compromisso prévio de
abertura e honestidade para com a
abertura e honestidade para com a
verdade dos fatos
verdade dos fatos
- A atitude anglo-saxão em relação à
- A atitude anglo-saxão em relação à
comunicação de diagnóstico/prognóstico
comunicação de diagnóstico/prognóstico
vai mais na direção da verdade objetiva
2. Proporcionalidade
2. Proporcionalidade
Terapêutica
Terapêutica
- Existe uma obrigação moral de se
- Existe uma obrigação moral de se
implementar todas as medidas
implementar todas as medidas
terapêuticas que tenham uma relação de
terapêuticas que tenham uma relação de
proporção entre os meios empregados e
proporção entre os meios empregados e
o resultado previsível
2. Proporcionalidade
2. Proporcionalidade
Terapêutica
Terapêutica
- Elementos a serem julgados:
- Elementos a serem julgados:
a) Utilidade ou inutilidade da medida
a) Utilidade ou inutilidade da medida
b) Alternativas da ação, com seus respectivos
b) Alternativas da ação, com seus respectivos
riscos e benefícios
riscos e benefícios
c) Prognóstico com e sem a implementação da
c) Prognóstico com e sem a implementação da
medida
medida
d) Custos sejam de ordem física, psicológica,
d) Custos sejam de ordem física, psicológica,
moral ou econômica impostos ao paciente, à
3. Duplo Efeito
3. Duplo Efeito
É muito freqüente em doentes terminais É muito freqüente em doentes terminais a presença de dor intensa, dificuldade
a presença de dor intensa, dificuldade
para respirar ou sintomas de ansiedade,
para respirar ou sintomas de ansiedade,
agitação e confusão mental
agitação e confusão mental
O uso de drogas como a morfina pode :O uso de drogas como a morfina pode : - Baixar a pressão arterialBaixar a pressão arterial
3. Duplo Efeito
3. Duplo Efeito
Algumas drogas privam o paciente de Algumas drogas privam o paciente de consciência
consciência
Duplo efeito: um bom (analgesia) e um Duplo efeito: um bom (analgesia) e um mau (depressão respiratória)
4. Prevenção
4. Prevenção
Prever as possíveis complicações e/ou Prever as possíveis complicações e/ou sintomas que com maior freqüência se
sintomas que com maior freqüência se
apresentam na evolução de determinada
apresentam na evolução de determinada
condição clínica é parte da
condição clínica é parte da
responsabilidade médica.
4. Prevenção
4. Prevenção
Implementar as medidas necessárias
Implementar as medidas necessárias
para prevenir tais complicações e
para prevenir tais complicações e
aconselhar familiares evita sofrimento
aconselhar familiares evita sofrimento
desnecessário e intervenções desnecessário e intervenções precipitadas em intervenções precipitadas em intervenções desproporcionais desproporcionais
5. Não-abandono e
5. Não-abandono e
Tratamento da Dor
Tratamento da Dor
Temos em geral pouca tolerância para Temos em geral pouca tolerância para enfrentar o sofrimento e a morte
enfrentar o sofrimento e a morte
A impotência de não poder curar não A impotência de não poder curar não deve impedir a solidariedade de poder
deve impedir a solidariedade de poder
cuidar
5. Não-abandono e
5. Não-abandono e
Tratamento da Dor
Tratamento da Dor
O cuidado de pacientes terminais nos O cuidado de pacientes terminais nos lembra o desafio de aceitar a nossa
lembra o desafio de aceitar a nossa
própria finitude humana, o que não é
própria finitude humana, o que não é
nada agradável
nada agradável
3. Critical Care Medicine
3. Critical Care Medicine
Recommendations for end-of-life care in Recommendations for end-of-life care in the Intensive Care Unit: The Ethics
the Intensive Care Unit: The Ethics
Committee of The Society of Critical
Committee of The Society of Critical
Care Medicine
Care Medicine
Critical Care Medicine 29 (12): 2332-Critical Care Medicine 29 (12): 2332-2348,2001
As 10 necessidades
As 10 necessidades
mais importantes das
mais importantes das
famílias de pacientes
famílias de pacientes
gravemente doentes
gravemente doentes
morrendo
morrendo
As 10 necessidades mais
As 10 necessidades mais
importantes
importantes
1. Ficar com a pessoa
1. Ficar com a pessoa
2. Ser útil para a pessoa que está doente
2. Ser útil para a pessoa que está doente
3. Ser informado das mudanças de
3. Ser informado das mudanças de
condição da pessoa que está morrendo
condição da pessoa que está morrendo
4. Entender o que está sendo feito com o
4. Entender o que está sendo feito com o
paciente e o porquê
As 10 necessidades mais
As 10 necessidades mais
importantes
importantes
5. Estar seguro do conforto do paciente
5. Estar seguro do conforto do paciente
6. Ser confortado
6. Ser confortado
7. Poder ventilar as emoções
7. Poder ventilar as emoções
8. Estar seguro que as suas decisões
8. Estar seguro que as suas decisões
estão corretas
As 10 necessidades mais
As 10 necessidades mais
importantes
importantes
9. Encontrar significado na vida do
9. Encontrar significado na vida do
paciente querido
paciente querido
10. Ser alimentado, hidratado e
10. Ser alimentado, hidratado e
descançar
Necessidades da Equipe
Necessidades da Equipe
Cuidar de quem cuida ( “ Burnout Cuidar de quem cuida ( “ Burnout Syndrome”)
Syndrome”)
Tempo para discussões da equipe Tempo para discussões da equipe Evitar sobrecarga de trabalhoEvitar sobrecarga de trabalho
CONCLUSÃO: CONCLUSÃO: 1. Definir paciente terminal
1. Definir paciente terminal
2. Cuidado paliativo sempre
2. Cuidado paliativo sempre
3. Compartilhar as decisões
3. Compartilhar as decisões
4. Cuidar de quem cuida
4. Cuidar de quem cuida
5. Estudar como ajudar pacientes que estão
5. Estudar como ajudar pacientes que estão
morrendo