ISSN 2179-4448 on line v. 22, n. 4, p. 609-615, out./dez. 2011
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICO-QUÍMICA DA
POLPA DO NONI (M
ORINDA
CITRIFOLIA
) CULTIVADO NO
ESTADO DO CEARÁ
Antonia Alaís da Silva CORREIA* Maria Leônia da Costa GONZAGA*
Andréa Cardoso de AQUINO** Paulo Henrique Machado de SOUZA* Raimundo Wilane de FIGUEIREDO* Geraldo Arraes MAIA*
* Departamento de Tecnologia de alimentos – Universidade Federal do Ceará – Campus Universitário do Pici – 60021-970 – Fortaleza – CE – Brasil. E-mail: alaisc@yahoo.com.br.
** Departamento de Engenharia química – Universidade Federal do Ceará – Campus Universitário do Pici – 60021-970 – Fortaleza – CE – Brasil.
RESUMO: O presente trabalho teve por objetivo avaliar as características químicas e físico-químicas da polpa do noni cultivado no estado do Ceará. Frutos maduros prove-nientes de um plantio localizado na cidade Horizonte (Cea-rá-Brasil) foram despolpados e a polpa extraída, embalada em sacos de polietileno, selados e armazenados a -20°C para posteriores análises. Foi determinada a composição centesimal: umidade (91,91%); carboidratos (0,63%); li-pídeos totais (0,08%); proteínas (1,06%); cinzas (6,32%); fi bra (1,76%); valor energético (30,25kcal.100g-1) e
análi-ses químicas e físico-químicas: pH (4,25); sólidos solúveis totais (9,2°Brix); acidez total titulável (0,63g.100g-1); SST/
AAT (14,66); vitamina C (122,54mg de AA.100g-1);
açúca-res totais (5,45g.100g-1); açúcares redutores (5,32g.100g-1);
fenólicos totais (216,67mg de EAG.100g-1);
antioxi-dante (6,27μmol. TEAC g-1); atividade de água (0,93);
(AIR) resíduo insolúvel em álcool (2,8g.100g-1), pectina
(1,14g.100g-1), hemicelulose (0,25g.100g-1) e celulose
+lig-nina (0,45g.100g-1). Os resultados mostram que a polpa de
noni possui um baixo teor de proteína e lipídeo, é rica em carboidratos e apresenta uma signifi cativa quantidade de antioxidantes, com destaque para a vitamina C e compos-tos fenólicos.
PALAVRAS-CHAVE: Morinda citrifolia; composição; vitamina C; antioxidantes.
INTRODUÇÃO
Morinda citrifolia Linn, conhecida popularmente
como noni, é uma planta da família Rubiaceae originária do Sudoeste da Ásia que vem sendo utilizada como medica-mento pelos habitantes da Polinésia há mais de 2000 anos.
36 O Gênero Morinda foi derivado de duas palavras em
la-tim, morus, amora e indicus, Índia, devido à semelhança do fruto de noni ao da verdadeira amora (Morus alba). O nome
da espécie indica a semelhança da folhagem da planta para com algumas espécies de citros. 22 O noni é encontrado em
várias partes do mundo, como nas regiões tropicais da Áfri-ca (Centro e Sul), no Caribe, em países como Austrália, China, Malásia, Indonésia, Índia,19 na América Central e
América do Sul. 28
Os frutos da Morinda citrifolia são ovais (3-10cm de comprimento e 3-6cm de largura) e possuem uma super-fície grumosa coberta de secções com formatos poligonais castanhos, variando da cor verde para amarelo ou branco opalescente quando maduros, podendo chegar a pesar 800 gramas. 20, 36 A polpa, creme, carnosa e suculenta, apresenta
sabor e aroma não muito agradáveis, lembrando o sabor de um queijo maturado. 34
Na farmacopeia tradicional alega-se que a fruta pre-vine e cura várias doenças, onde é usada principalmente para estimular o sistema imunológico, portanto, para com-bater bactérias, infecções virais, parasitárias, fúngicas e também para prevenir a formação e a proliferação de tumo-res, incluindo malignos. 7 Baseados nisso, várias
pesqui-sas foram direcionadas para as propriedades terapêuticas do noni com intuito de comprovar o que o conhecimento popular defende. 11, 18, 23, 24, 35 No entanto, são poucas as
in-formações científi cas relacionadas ás características físico-químicas e nutricionais.
Até agora, mais de 100 metabólitos foram identi-fi cados nos frutos noni, com destaque para os compostos fenólicos, ácidos orgânicos e alcaloides. Esses componen-tes ativos são classifi cados como fl avonoides, lignanas, irri-doides, cumarinas, antraquinonas, polissacarídeos, esteróis, terpenoides e ácidos graxos. 11, 24 Os efeitos destes
compo-nentes estão relacionados com os benefícios à saúde por apresentarem propriedades antioxidante, anti-infl amatória e efeito imune.
A fruta contém 90% de água e os principais compo-nentes da matéria seca, parecem ser sólidos solúveis, fi bras alimentares e proteínas. 7 Em quantidade substancial estão
os carboidratos, incluindo proporções variáveis de sacaro-se, frutose e glicose. 14 De acordo com Chunhieng10 o noni
apresenta 11,9g/L de glicose e 8,2g/L de frutose e seus prin-cipais aminoácidos são o ácido aspártico, ácido glutâmico e isoleucina. Elevada porcentagem de minerais, 8,4% da matéria seca, também é verifi cada, e os principais são o potássio, enxofre, cálcio e fósforo. As vitaminas encontra-das em maior quantidade no fruto são o ácido ascórbico, e provitamina A. 7 O noni é uma fruta rica em polifenóis
(51,1mg GAE/100g). Os compostos fenólicos como, a ru-tina (6,06±0,41μg/g) e a escopoleru-tina (27,9±1,7μg/g) e o valor de 8,0±0,4μmol Trolox®/g mostra que o noni tem um importante poder antioxidante. 8
A tentativa de cultivo do noni no Brasil é bastante re-cente, realizado empiricamente por pessoas que trouxeram algumas sementes do Caribe ou da Polinésia e se tornaram vendedores de sementes e mudas pela internet. O fruto foi introduzido como uma matéria-prima de forte apelo comer-cial devido a todas as características benéfi cas a ele atri-buídas e aos benefícios relacionados ao seu consumo. 31 O
cultivo do noni é relatado nos Estados do Acre, São Paulo, Minas Gerais, Pará, Sergipe, Ceará, dentre outros. Contu-do, são poucos os trabalhos de pesquisa desenvolvidos com essa espécie no país. Além disso, a composição química dos frutos pode variar de acordo com fatores ambientais, genéticos, distribuição geográfi ca e estádios de maturação. Assim, torna-se imprescindível estudar a composição do fruto cultivado no Brasil. Desta forma, este trabalho teve por objetivo obter dados sobre as características químicas e físico-químicas da polpa do noni (Morinda citrifolia) culti-vado no Ceará (Brasil).
MATERIAL E MÉTODOS Matéria-Prima
Frutos de noni provenientes de um plantio localiza-do na cidade de Horizonte (Ceará-Brasil) foram colhilocaliza-dos no mês de março de 2009 no estádio maduro. Realizou-se uma pré-seleção descartando os frutos danifi cados e em fase de senescência avançada. Lavaram-se os frutos em água con-tendo 200mg de cloro ativo por litro em imersão durante 20 minutos. Em seguida, os frutos foram despolpados para a remoção da casca e da semente. A polpa extraída de um mix de vários frutos foi embalada em sacos de polietileno e congelada a -20°C em freezer doméstico para análises posteriores.
Análises Químicas e Físico-Químicas
A caracterização da polpa de noni in natura foi re-alizada no Laboratório de Frutas e Hortaliças do Departa-mento de Tecnologia de AliDeparta-mentos da Universidade Fede-ral do Ceará.
O teor de umidade foi determinado em estufa a 105°C até peso constante segundo método descrito por IAL, 13 sendo o resultado expresso em g.100g-1 de polpa.
O teor de cinzas foi determinado pela calcinação da amostra em mufl a a 550°C, segundo o método recomen-dado por IAL. 13 O resultado foi expresso em g.100g-1 de
polpa.
O teor de lipídeos totais foi determinado através da extração em aparelho de Soxhlet utilizando hexano como solvente, durante 6h, segundo IAL. 13 O resultado foi
ex-presso em mg.100g-1 de polpa.
Para a quantifi cação de proteína foi utilizado o mé-todo de Kjeldah tradicional. A concentração de proteína bruta foi obtida pelo produto da quantidade de nitrogênio total, em gramas, pelo fator de conversão 6,25. 1 Os
resul-tados foram expressos em g.100g-1 de polpa.
A análise de fi bra bruta foi realizada submetendo as amostras à digestão ácida, com solução de ácido sulfúrico 1,25%, seguida por digestão alcalina com hidróxido de só-dio 1,25%. 6
O teor de carboidrato, incluindo as fi bras, foi obtido pela diferença entre o valor numérico 100 e o somatório dos teores de umidade, cinzas, lipídeos totais e proteínas.
O valor energético total (kcal.100g-1) foi
estima-do consideranestima-do-se os fatores de conversão de Atawer de 4kcal/g de proteína, 4kcal/g de carboidratos e 9kcal/g de lipídeo, seguido do somatório desses valores. 17
O pH foi determinado em potenciômetro digital, por imersão direta do eletrodo na polpa. 13
O teor de sólidos solúveis totais, expresso em °Brix foi obtido em refratômetro digital (ATAGO PR-101) com escala de 0 a 45 °Brix, através da leitura direta após fi ltração, em pa-pel de fi ltro qualitativo, da amostra diluída 1:1 (p/p). 13
A determinação da acidez total titulável foi realiza-da utilizando 1mL de amostra, segundo a técnica descri-ta pelo IAL, 13 sendo o resultado expresso em g de ácido
cítrico.100mL-1 de amostra.
O conteúdo de vitamina C foi determinado por meio do método titulométrico baseado na redução do indicador 2,6-diclorofenolindofenol pelo ácido ascórbico, 25 sendo
o resultado expresso em mg de ácido ascórbico.100g-1 de
polpa.
As determinações dos açúcares totais e redutores, expressos em g.100g-1 de polpa, foram realizados segundo
Miller, 21 utilizando o ácido 3,5 dinitrossalicílico (DNS).
O conteúdo de Fenólicos totais foi analisado pelo método espectrofotométrico de Folin-Ciocalteau utilizando ácido gálico como padrão de referência, segundo a metodo-logia descrita por Singleton & Rossi, 32 com modifi cações.
Para obtenção do extrato utilizou-se uma diluição polpa: água (1:1), homogeneizou-se durante 1 minuto, centrifu-gou-se (3.000rpm/10min) e fi ltrou-se. Em tubo de ensaio foram pipetados 100μL do extrato e adicionado 900μL de água, adicionados 1mL do reagente Folin-Ciocalteau (1:9), agitado e mantido por 5 minutos para reagir. Adicionou-se 2mL de carbonato de sódio (10%) e 2mL de água, nova-mente, foram agitados e mantidos por 30 minutos para rea-gir, em seguida foi feita a leitura a 765nm. O resultado foi expresso em mg equivalente de ácido gálico (EAG).100g-1
A atividade antioxidante foi avaliada através da ação redutora da amostra frente ao radical ABTS•+, o cátion
do ácido 2,2’-azinobis-3-etil-benzotiazolino-6-sulfônico (ABTS), a partir da metodologia descrita por Re et al., 27
com modifi cações. Para obtenção do extrato, utilizou-se uma diluição polpa: água (1:1), homogeneizou-se durante 1 minuto, centrifugou-se (3.000rpm/10min) e fi ltrou-se. A partir do extrato obtido, foi preparado quatro diluições uti-lizando as alíquotas 6, 4, 2, 1mL em balões de 10mL, em triplicata. Em ambiente escuro, transferiu-se uma alíquota de 30μL de cada diluição do extrato para tubos de ensaio e adicionou-se 3,0mL do radical ABTS·+ e homogenei-zou-se. Após 6 minutos de reação no escuro foi realizada a leitura a 734nm. O resultado foi expressos como Capa-cidade Antioxidante Equivalente ao Trolox (TEAC) em mmol.100g-1 de polpa.
A atividade de água foi determinada através do me-didor digital de Aw (AQUALAB CX-2), com sensibilidade de 0,001 à temperatura de (28°C ± 2°C).
Os resíduos insolúveis em álcool (pectina, hemice-lulose e cehemice-lulose + lignina) foram quantifi cados de acordo com a metodologia de Schieber et al., 29 sendo os resultados
fi nais expressos em g.100g-1 de polpa.
Todas as análises foram realizadas em triplicatas e os dados foram submetidos à análise estatística descri-tiva onde foram calculados a média aritmética e o desvio padrão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores encontrados nas análises de composição centesimal da polpa de noni são mostrados na Tabela 1. As maiores frações encontradas foram para os teores de umi-dade e de carboidrato e menores para lipídeos e proteínas, perfi l nutricional semelhante à maioria das frutas.
O teor de umidade encontrado na polpa de noni do presente estudo, 91,9%, está de acordo com os teores
di-vulgados na literatura, os quais apresentam a água como o maior componente desse fruto, variando entre 90 e 92%. 5, 7, 8, 10, 37 O valor encontrado para Aw (0,93) caracteriza o fruto
como alimento de alta umidade (Aw>0,85), favorecendo a deterioração por micro-organismos.2Diante do exposto,
deve-se ter bastante cuidado com a colheita, o transporte e o processamento do noni, pois elevada umidade e Aw fa-vorece a perecibilidade, afetando assim a estabilidade, a qualidade e a composição do produto.
Em relação aos lipídios encontrados, observa-se uma baixa porcentagem média de 0,08%, porém bastante relevante, haja vista que a maioria dos frutos apresenta nor-malmente baixos teores destes constituintes. Estudos mos-tram que o teor de lipídeos da polpa de noni variaram de 0,016% a 0,30%, 5, 8, 10, 30, 37 estando o valor encontrado no
intervalo de valores divulgados.
O valor médio para o teor de proteína determina-do no atual trabalho, de 1,06%, se mostrou maior determina-do que estudos com frutos provenientes de Pohnpei e da Poliné-sia Francesa, de 0,4 e 0,55%, respectivamente, 30, 37 porém,
inferior aos 2,5% relatados por Chunhieng10 com frutos de
Cambodge. Os diferentes valores encontrados pelos diver-sos autores se devem ao fato de haver variações de clima, solo, ponto de maturação e armazenamento de cada região onde foram colhidos os frutos.
O maior componente da matéria seca são os carboi-dratos, com 6,32% (Tabela 1), resultado este, próximo ao encontrado por West et al., 37 de 7,21%.
O conteúdo de cinzas (Tabela 2) está de acordo com o encontrado por West et al., 37 de 0,54%. As cinzas variam
de 0,4% a 2,1% em frutas frescas e representam os minerais contidos nos alimentos que podem estar em grandes quan-tidades como o K+, Na+ e Ca+ e pequenas, como o ferro,
Mn e Zn. 6
De acordo com Raseira & Antunes26 os frutos cuja
película é consumida conjuntamente, apresentam teores de fi bra bruta em torno de 2%, resultando em possíveis bene-fícios relacionados à sua ingestão como uma possível re-Tabela 1 – Composição Centesimal da polpa de noni (Morinda
citrifolia). Parâmetros Valores(1) Umidade (%) 91,91±0,06 Cinzas (%) 0,63±0,03 Lipídeos Totais (%) 0,08±0,02 Proteína (%) 1,06±0,07 Fibra bruta (%) 1,76±0,02 Carboidratos totais(2) (%) 6,32
Valor energético(3) (kcal.100g-1) 30,25
(1)Valores médios obtidos a partir da análise de 3 amostras em base
úmi-da e desvio padrão; (2)Carboidratos totais = 100 – (Umidade + Lipídeos
Totais + Proteína + Cinzas); (3)Valor Energético = (9* Lipídeos Totais +
gulação do trato intestinal. Em acordo com os autores, os resultados do presente estudo mostram que o valor de fi bra bruta do noni é de 1,76%.
O valor energético do noni foi de 30,25kcal.100g-1
de polpa, com quase totalidade atribuída aos carboidratos, que correspondeu a 83,58% das calorias contidas na polpa, ao passo que, apenas 14,04% equivalem à energia oriunda da proteína e 2,38% aos lipídeos. West et al. 37 encontraram
um valor bem próximo com frutos da Polinésia Francesa, 32,4kcal.100g-1 de polpa.
Na Tabela 2 estão apresentadas concentrações mé-dias das características químicas e físico-químicas da polpa de noni. O pH encontrado foi 4,25, muito próximo ao rela-tado por Canuto et al., 5 Chan-Blanco et al. 8 e Chunhieng10
que obtiveram valores 4,1; 4 e 3,72 respectivamente. Ba-seado na classificação de Baruffaldi & Oliveira3 a polpa de
noni é caracterizada como ácida (pH entre 3,7 e 4,5). O teor de sólidos solúveis é utilizado como uma medida indireta do teor de açúcares, não representa o teor exato dos açúcares porque outras substâncias também se encontram dissolvidas. 9 Tal comportamento pôde ser
ob-servado na polpa de noni estudada, a qual apresentou gran-de quantidagran-de gran-de ácidos, vitamina C, polifenois e pectina (Tabela 2), conferindo um conteúdo de sólidos solúveis totais de 9,2 °Brix, bem maior que o de açúcares totais, 5,45g.100g-1. Frutos com altos teores de sólidos solúveis
são geralmente preferidos para consumo in natura e para
industrialização, por oferecerem maior peso e consequente-mente maior rendimento do produto processado.
Com relação à acidez titulável, o valor médio detec-tado encontra-se próximo aos valores cidetec-tados por Canuto et al. 5 e Silva et al. 31 com 0,32 e 0,39g.100g1,
respectiva-mente.
A relação SST/ATT propicia uma boa avaliação do sabor dos frutos, sendo mais representativa do que a medi-ção isolada de açúcares e de acidez. Canuto et al. 5 e Silva
et al. 31 encontraram valores bem maiores, do que o
apre-sentado na Tabela 2, com uma média de 28,13 e 26,69, res-pectivamente.Para o mercado consumidor de frutas frescas e/ou processadas, a relação SST/ATT elevada é desejável, indicando altos teores de sólidos solúveis e baixa acidez, o que confere sabor mais agradável e torna as frutas mais atrativas.
O conteúdo de vitamina C foi de 122,54mg.100g-1,
valor próximo aos encontrados por Shovic &Whistler,30 de
155mg.100g-1 e West et al.,37 de 113mg.100g-1, porém
supe-rior aos 51,2mg.100g-1 apresentados por Canuto et al.5 com
polpa da região Amazônica e inferior aos 316mg.100g-1
apresentados por Chan-Blanco et al. 8 em estudo com o
noni cultivado na Costa Rica. Silva et al. 31 estudando frutos
em três diferentes estádios de maturação encontrou valores entre 101 a 38mg.100g-1, sendo que os frutos maduros
apre-sentaram menores valores de vitamina C. Tabela 2 – Características químicas e físico-químicas da polpa de noni (Morinda citrifolia).
Parâmetros Valores(1)
pH 4,25±0.01
Sólidos solúveis totais (ºBrix) 9,20± 0,4 Acidez total titulável (g.100g-1) 0,63±0,01
SST/ATT(2) 14,66±0,6
Vitamina C (mg de AA.100g-1) 122,54±1,35
Açúcares Totais (g.100g-1) 5,45±0,3
Açúcares Redutores (g.100g-1) 5,32±0,10
Fenólicos Totais (mg de EAG.100g-1) 216,67±3,77
Antioxidante (µmol. TEAC g-1) 6,27±0,15
Atividade de água- AW 0,93±0,004
AIR(3) (g.100g-1) 2,80±0,02
Pectina* (g.100g-1) 1,14±0,03
Hemicelulose* (g.100g-1) 0,25±0,03
Celulose + Lignina* (g.100g-1) 0,45±0,02
(1)Valores médios obtidos a partir da análise de 3 amostras em base úmida e
desvio padrão; (2)SST/ATT=relação entre sólidos solúveis totais e acidez total
titulável; (3)AIR =Resíduos insolúveis em álcool; * Pectina, Hemicelulose ou
celulose+lignina=(Peso do resíduo seco x Peso do AIR)/(0,8g/Peso da amostra) x100.
Sabendo-se que para adultos a Ingestão Diária Re-comendada (IDR) de vitamina C é de 45mg.dia-1, 12
pode-se obpode-servar que a ingestão de 100g de noni fornece 272% da IDR. De acordo com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação-NEPA, 33 a laranja fornece teor de
vitami-na C equivalente a 57mg.100g-1 que representa 127% da
IDR. Pelos resultados obtidos o noni caracteriza-se como uma excelente fonte de vitamina C, apresentando o dobro do teor presente na laranja que é a fonte mais consumida de vitamina C, um poderoso antioxidante com potencial de oferecer proteção contra algumas doenças e contra os as-pectos degenerativos do envelhecimento.
O noni apresentou alto conteúdo de compostos fe-nólicos totais (216,67mg de EAG.100g-1) quando
compa-rado com algumas frutas como açaí, uva, graviola, goiaba, abacaxi, cupuaçu e maracujá, com exceção da acerola e da manga. 15 Os compostos fenólicos têm participação no
sa-bor, na coloração, na vida de prateleira e na ação do produ-to como alimenprodu-to funcional, notadamente correlacionado com a capacidade antioxidante. 9
Burke et al. 4 sugerem que o consumo de antioxidan-tes pode trazer benefícios a saúde através da proteção con-tra a formação de radicais livres. A atividade antioxidante do noni é de 6,27±0,15μmol. TEAC.g−1, estando este valor
muito próximo dos valores encontrados em uva 7,0±0,3 e açaí 6,9±0,2μmol. TEAC.g−1, segundo Kuskoski et al., 16
destacando-se o elevado potencial antioxidante deste fruto. Chan-Blanco et al. 8 também relata uma capacidade
antio-xidante relativamente alta de, 8±0,4μmol.Trolox® g−1.
O conteúdo de resíduos insolúveis em álcool (AIR – “alcohol insoluble residues”) foi quantifi cado em 2,8g.100g-1, na sua maior parte constituído por
pec-tina; 1,138g.100g-1, uma vez que o conteúdo de
hemice-lulose e cehemice-lulose + lignina, foram 0,252g.100g-1 e 0,453
g.100g-1, respectivamente. Os dados apresentam a
pecti-na como o polissacarídeo presente em maior quantidade na polpa de noni, sendo os carboidratos ricos em polis-sacarídeos pécticos.
CONCLUSÃO
A caracterização da polpa do noni cultivada no es-tado do Ceará mostra que o fruto possui um baixo teor de proteína e lipídeo, sendo composto predominantemente por carboidratos e a pectina é o polissacarídeo presente em maior quantidade.
O noni apresenta um bom conteúdo de vitamina C, onde uma porção de 100g é sufi ciente para suprir o dobro do valor de referência de ingestão diária para um adulto.
Os resultados confi rmam a alta capacidade antioxi-dante, bem como o alto teor de compostos fenólicos e vita-mina C atribuídos a este fruto, os quais contribuem para os efeitos benéfi cos à saúde.
CORREIA, A. A. S.; GONZAGA, M. L. C.; AQUINO, A. C.; SOUZA, P. H. M.; FIGUEIREDO, R. W.; MAIA, G. A. Chemical and physical-chemical pulp noni (Morinda
citrifolia) grown in the state of Ceará. Alim. Nutr.,
Araraquara, v. 22, n. 4, p. 609-615, out./dez. 2011.
ABSTRACT: This study aimed to evaluate the chemical and physical-chemical pulp noni grown in the state of Ceara. Ripe fruit from a plantation located in the city Horizonte (Ceara-Brazil) were pulped and the pulp extracted, packaged in polyethylene bags, sealed and stored at -20°C for further analysis. The centesimal composition was determined: moisture (91.91%); carbohydrates (0.63%); total lipids (0.08%); protein (1.06%); ash (6.32%); fi ber (1.76%); energy value (30,25kcal.100g-1)
and chemical and physical-chemical properties: pH (4.25); total soluble solids (9.2°Brix); acidity (0.63g.100g-1); ratio
(14.66); vitamin C (122.54mg of AA.100g-1); total sugars
(5.45g.100g-1); reducing sugars (5.32g.100g-1); phenolic
content (216.67mg of EAG.100g-1); antioxidant (6.27µmol.
TEAC g-1), water activity (0.93); (AIR) alcohol insoluble in
residue (2.8g.100g-1), pectin (1.14g.100g-1), hemicellulose
(0.25g.100g-1) and cellulose + lignin (0.45g.100g-1). The
results show that the noni pulp has a low content of protein and fat, is rich in carbohydrates and has a signifi cant amount of antioxidants, especially vitamin C and phenolic compounds.
KEYWORDS: Morinda citrifolia; composition; vitamin C; antioxidants.
REFERÊNCIAS
ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALITICAL 1.
CHEMISTS. Offi cial methods of analysis. 11th ed.
Washington, DC, 1992. 1115p. AZEREDO, H. M. C.
2. Fundamentos de estabilidade de alimentos. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical,
2004. 195 p.
BARUFFALDI, R.; OLIVEIRA, M. N.
3. Fundamentos
de tecnologia de alimentos. São Paulo: Atheneu, 1998.
317p.
BURKE, J. D.; CURRAN-CELENTANO, J.; WENZEL, 4.
A. J. Diet and serum carotenoid concentrations affect macular pigment optical density in adults 45 years and older. J. Nutr., v. 135, p. 1208-1214, 2005.
CANUTO, G. A. B. et al. Caracterização físico-química 5.
de polpas de frutos da Amazônia e sua correlação com a atividade anti-radical livre. Rev. Bras. Frutic., v. 32, p. 1196-1205, 2010.
CECCHI, H. M.
6. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. Campinas-SP: Unicamp, 2003.
CHAN-BLANCO, Y. et al. The noni fruit (
7. Morinda
citrifolia L.): a review of agricultural research,
nutritional and therapeutic properties. J. Food Comp. Anal., v. 19, p. 645-654, 2006.
CHAN-BLANCO, Y. et al.
8. The ripening and aging of
noni fruits (Morinda citrifolia L.): microbiological fl ora and antioxidant compounds. J. Sci. Food Agric., v. 87, p. 1710-1716, 2007.
CHITARRA, A. B.; CHITARRA, M. I. F.
9. Pós-colheita
de frutos e hortaliças: fi siologia e manuseio. 2.ed.
Lavras: UFLA, 2005. 783p. CHUNHIENG, T.
10. Développement de nouveaux
neutraceutiques à partir de graines et fruits d’origine tropicale: application a la noix du Brésil Bertholettia
excelsa et au fruit de Cambodge Morinda citrifolia. 2003. 181 f. Thèse (Docteur) – Université de Nancy,
France, 2003.
DENG, S. et al. Lipoxygenase inhibitory constituents 11.
of the fruits of noni (Morinda citrifolia) collected in Tahiti. J. Nat. Prod., v. 70, p. 859–862, 2007.
FOOD AND AGRICULTURAL ORGANIZATION/ 12.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Human
vitamin and mineral requirements. Report of a joint
FAO/WHO Expert Consultation in Bangkok, Thailand. Rome, 2001. p.73-81.
INSTITUTO ADOLFO LUTZ.
13. Métodos
físico-químicos para análises de alimentos. 4.ed. São Paulo,
2005. 1018p.
JENSEN, C. J. et al. A method for freeze concentrating 14.
Morinda citrifolia. 2005. United States Patent,
6.855.354.
KUSKOSKI, E. M. et al. Aplicación de diversos métodos 15.
químicos para determinar actividad antioxidante em pulpa de frutos. Cienc. Tecnol. Aliment., v. 25, p. 726-732, 2005.
KUSKOSKI, E. M. et al. Frutos tropicais silvestres e 16.
polpas de frutas congeladas: atividade antioxidante, polifenois e antocianinas. Ciênc. Rural, v. 36, p. 1283-1287, 2006.
LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. 17.
Princípios de bioquímica. 4.ed. São Paulo: Sarvier,
2006. 1202p.
LIU, Y. et al. Protection of Tahitian noni juice on liver 18.
injury induced by carbon tetrachloride in mice. Tianjing
Pharm., v. 20, p. 6-8, 2008.
LÜBECK, W.; HANNES, H.
19. Noni el valioso tesoro de
los mares del sur. Madrid: EDAF, 2001. 173p.
McCLATHEY, W. From Polynesian healers to health 20.
food stores: changing perspectives of Morinda citrifolia (Rubiaceae). Integ. Cancer Therapies, v. 1, p. 110-120, 2002.
MILLER, G. L. Use of dinitrosalicylic acid reagent for 21.
determination of reducing sugars. Anal. Chem., v. 31, p. 426-428, 1959.
NELSON, S. C.; ELEVITCH, C. R.
22. Noni: the complete
guide for consumers and growers. Holualoa-Hawaii: Permanent Agriculture Resources, 2006.104p.
PALU, A. et al. The effects of
23. Morinda citrifolia L.
(noni) on the immune system: its molecular mechanisms of action. J. Ethnopharmacol., v. 115, p. 502-506, 2008.
PAWLUS, A. D.; KINGHORN, A. D. Review of the 24.
ethnobotany, chemistry, biological activity and safety of the botanical dietary supplement Morinda citrifolia (noni). J. Pharm. Pharmacol., v. 59, p. 1587-1609, 2007.
PEARSON, D.
25. The chemical analysis of food. 6 th ed.
London: J. & A. Churchill, 1976.100p.
RASEIRA, M. C. B.; ANTUNES, L. E. C. (Ed.)
26. A
cultura do Mirtilo (Vaccinium myrtillus). Pelotas:
Embrapa Clima Temperado, 2004. 67p.
RE, R. et al. Antioxidant activity applying an improved 27.
ABTS radical cation decolorization assay. Free Radic.
Biol. Med., v. 26, p. 1231-1237, 1999.
ROSS, I. A.
28. Medical plants of the world: chemical
constituents, traditional and modern medical uses. 2 nd
ed. New Jersey: Humana, 2001. 242p.
SCHIEBER, A. et al. Determination of the fruit 29.
content of strawberry fruit preparations by gravimetric quantifi cation of hemicellulose. Food Chem., v. 91, p. 365-371, 2005.
SHOVIC, A. C.; WHISTLER, W. A. Food sources 30.
of provitamin A and vitamin C in the American Pacifi c. J. Trop. Sci., v.41, p. 199-202, 2001.
SILVA, L. R. D. et al.
31. Caracterização físico-química do fruto de Noni (Morinda citrifolia L.). 2009.
4p. Disponível em: http://sengepb.com.brsitewp-contentuploads 200912t024.pdf. Acesso em: 07 dec. 2009.
SINGLETON, V. L.; ROSSI JR., J. A. Colorimetry of 32.
total phenolics with phosphomolybdic-phosphotungstic acid reagents. Amer. J. Enol. Viticult., v. 16, p. 144-158, 1965.
UNICAMP. Núcleo de Estudos e Pesquisas em 33.
Alimentação. NEPA. Tabela brasileira de composição
de alimentos: TACO, versão 2. Campinas: UNICAMP,
2006. 105p.
VEIGA, R. F. A. et al. Noni: frutífera medicinal em 34.
introdução e aclimatação no Brasil. O Agronômico, v. 57, p. 20-21, 2005.
WANG, M. Y. et al. Hepatic protection by
35. Morinda
citrifolia (noni) fruit juice against CCl4-induced chronic
liver damage in female SD rats. Plant Foods Human
Nutr., v. 63, p. 141–145, 2008.
WANG, M. Y. et al.
36. Morinda citrifolia (Noni): a
literature review and recent advances in Noni research.
Acta Pharmacol. Sin., v. 23, p. 1127-1141, 2002.
WEST, B. J.; DENG, S.; JENSEN, C. J. Nutrient and 37.
phytochemical analyses of processed noni puree. Food
Res. Int., v. 44, p. 2295-2301, 2011.
Recebido em: 24/04/2011 Aprovado em: 10/10/2011