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Características Estruturais dos Clusters Industriais na Economia Brasileira

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Projeto de Pesquisa

Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Políticas

de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico

Características Estruturais dos Clusters Industriais na

Economia Brasileira

Jorge Britto

(UFF)

Nota Técnica nº 29/00

(Versão Preliminar)

Rio de Janeiro, Junho de 2000

Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - IE/UFRJ

Patrocínio: Ministério da Ciência e Tecnologia Organização dos Estados Americanos

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

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CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DOS CLUSTERS INDUSTRIAIS NA

ECONOMIA BRASILEIRA

Responsável: Jorge Britto (UFF)

1. Introdução

O projeto desenvolvido tinha como objetivo realizar uma discussão rigorosa sobre o padrão de aglomeração espacial e setorial de atividades industriais na economia brasileira, utilizando um recorte analítico baseado no conceito de clusters industriais, caracterizados pela concentração geográfica de atividades econômicas similares e/ou fortemente interrelacionadas ou interdependentes. Com esse intuito, procurou-se desenvolver e aplicar uma metodologia rigorosa para identificação da distribuição espacial e setorial de clusters industriais na economia brasileira, a partir da utilização de elementos objetivos que permitam um melhor detalhamento da estrutura interna destes arranjos. Especificamente, os seguintes objetivos orientaram a análise realizada: (1) desenvolver uma metodologia rigorosa para identificação destes clusters com base em informações estatísticas disponíveis; (2) caracterizar a estrutura interna destes clusters, em termos do tipo de produto gerado, da complexidade produtiva e tecnológica das atividades realizadas e do padrão de articulação de agentes em seu interior; (3) caracterizar a estrutura industrial desses clusters , em termos do número e tamanho das firmas neles presentes, bem como avaliar a intensidade da interação entre as diversas atividades realizadas e o grau de centralização de seus fluxos internos; (4) captar as trajetórias recentes de desenvolvimento dos

clusters industriais na economia brasileira, visando identificar aqueles com maior dinamismo,

bem como os fatores estruturais e institucionais que explicam este dinamismo.

Uma série de fatores apontam para a pertinência de uma investigação mais cuidadosa sobre o padrão de aglomeração espacial de indústrias na economia brasileira. No plano mais geral, a questão relativa à aglomeração espacial de indústrias vem sendo associada à consolidação de sistemas flexíveis de produção estruturados ao nível local (Piore e Sabel, 1984; Best, 1990), os quais costumam ser caracterizados a partir de desdobramentos da análise de “distritos industriais” originariamente formulada por Marshall (1920). A estruturação de “distritos industriais” em diversas regiões, dentre as quais aquela conhecida como “Terceira Itália” constitui o exemplo mais paradigmático, tem sido recorrentemente mencionada como contraponto empírico deste novo padrão de organização espacial de atividades produtivas. Este tipo de análise ressalta os possíveis ganhos de eficiência proporcionados pela especialização produtiva de firmas localizadas em uma mesma região geográfica, atribuindo particular importância à institucionalidade subjacente às relações entre agentes, indutora de formas de colaboração implícitas e explícitas entre eles. A análise de clusters industriais vem despertando crescente interesse também em função de mudanças observadas na dinâmica concorrencial de mercados crescentemente “globalizados”, nos quais a integração dos agentes a sistemas que impulsionem a eficiência técnico-produtiva e a capacidade inovativa adquire especial importância. De fato, para obter ganhos num processo competitivo cada vez mais acirrado, as empresas vem se tornando crescentemente dependentes em relação a ativos e competências complementares retidas por outros agentes com os quais elas se articulam através de práticas cooperativas. Assim, a sinergia proporcionada pela combinação de competências complementares vem se convertendo em fator crucial para o aumento da competitividade dos agentes. Alguns autores (Dunning, 1997) chegam a conjeturar a possibilidade de evoluir-se na direção de um novo estágio no desenvolvimento dos sistemas econômicos (relacionado ao conceito de “alliance capitalism”) baseados na co-existência de relações de cooperação e competição, as quais são moldadas a partir dos impactos decorrentes dos processos de globalização e liberalização, por um lado, e do crescente número de relações em rede e alianças

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estratégicas estruturadas para permitir um melhor enfrentamento do novo contexto. É possível mencionar também a ênfase atribuída ao componente local da dinâmica inovativa, a partir de análises que ressaltam a importância de mecanismos interativos de aprendizado entre agentes integrados a sistemas nacionais e locais de inovação com uma certa consistência institucional (Camagni, 1991; Antonelli, 1995; Lastres e Cassiolato; 1999), no interior dos quais a presença de

clusters industriais adquire particular importância.

A experiência de diversos clusters industriais bem sucedidos, como os de regiões como o Silicon Valley, na Califórnia, e a Terceira Itália, dentre outros, demonstra que, geralmente, estes clusters tem surgido espontaneamente e que, à medida que os mesmos evoluem e se fortalecem, é comum o surgimento de instituições responsáveis pela estruturação de mecanismos de suporte e pela definição de diretrizes para o desenvolvimento desse conjunto de atividades. Isto, entretanto, não significa que o governo não desempenhe um papel importante na estruturação desses arranjos, atuando como facilitador - sobretudo na infra-estrutura, inclusive a especializada - e catalisador desse processo. Além do impacto da constituição desses arranjos sobre o desenvolvimento regional e a competitividade setorial de diversas indústrias, a constituição dos mesmos gera importantes benefícios sociais, não apenas devido ao surgimento de um conjunto de serviços e fornecedores especializados em escala local, mas também pelo fato de que boa parte desse aparato é composto de pequenas e microempresas que encontram nichos nos reforçam a sua posição competitiva e auxiliam a competitividade do conjunto do cluster.

Transformações recentes ocorridas na economia brasileira também vem aumentando o interesse pelo fenômeno da consolidação de clusters industriais. Evidências coletadas em diversas análises sugerem que o processo de reestruturação produtiva do setor industrial ocorrido na década de 90 tem gerado importantes desdobramentos sobre as articulações entre agentes no interior das cadeias produtivas e sobre o padrão de localização espacial das atividades industriais. Paralelamente, também observa-se uma tendência à elevação do grau de concentração da indústria, visando enfrentar os desafios de uma concorrência mais acirrada e seletiva, o que também gera importantes desdobramentos sobre o perfil de distribuição espacial e a estrutura das cadeias produtivas da indústria. Um outro fator importante refere-se às crescentes pressões pela busca de maiores níveis de eficiência na utilização de fatores produtivos, o que estimula a localização de atividades produtivas em regiões onde a disponibilidade de fatores – mão de obra e recursos naturais, em especial – seja mais favorável, tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo. É possível mencionar também um processo de desconcentração espacial da indústria, com o conseqüente surgimento de novas áreas industriais no Brasil, o qual remonta à década de 70, mas que vem adquirindo uma nova dinâmica no período mais recente. Este processo tem sido estimulado pela possibilidade de estruturação de clusters industriais em regiões não vinculadas diretamente às áreas tradicionais que haviam comandado o processo de localização espacial da indústria brasileira. Além disso, destacam-se estímulos de instrumentos de política econômica, definidos no plano federal, estadual e municipal, à re-localização espacial de indústrias, os quais também tem estimulado a consolidação de novos clusters industriais.

A relevância do tema justifica-se também em função de particularidades da maneira como se estrutura o “sistema nacional de inovação” no caso brasileiro. De fato, para as condições de um país com um sistema de inovação imaturo como o Brasil, é necessário articular a discussão sobre a importância desses clusters, com a contribuição que esses arranjos podem oferecer em termos da atualização tecnológica (catching up) de produtos e processos industriais, possibilitando a redução da distância tecnológica de regiões do país vis-à-vis à fronteira tecnológica internacional. Essa observação é importante para qualificar o que é ser inovativo nessas circunstâncias e para ampliar o espectro de possíveis clusters, pois a existência de um elemento dinâmico - a capacidade de “subir degraus” na escada tecnológica – é o suficiente para identificar a capacidade de implementar inovações à luz de um processo de catching up.

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A realização de uma análise mais rigorosa sobre a presença de clusters industriais na economia brasileira se defronta, porém, com o problema da ausência de bases de dados mais bem estruturadas, que possibilitem a identificação desses arranjos. Nesse sentido, a realização de um mapeamento amplo da distribuição espacial dos clusters industriais na economia brasileira revelou-se uma tarefa mais complicada do que o inicialmente previsto, não apenas devido aos problemas relacionados a uma certa imprecisão conceitual do termo – que muitas vezes tende a ser utilizado de forma excessivamente abrangente, permitindo que qualquer tipo de aglomeração setorial de indústrias seja caracterizada como um cluster – como em razão da falta de dados com o nível de desagregação necessário para uma análise mais rigorosa do fenômeno. De fato, as informações estatísticas disponib ilizadas pelo IBGE revelaram-se insuficientes para permitir uma identificação e caracterização desses clusters com o rigor que se faz necessário. Um problema básico surgiu da dificuldade para obter-se informações com um grau de desagregação setorial suficiente ao nível das diversas microregiões homogêneas (MRH) definidas pelo IBGE, as quais seriam fundamentais para permitir a identificação e análise dos clusters industriais existentes nesses espaços. Por outro lado, a utilização de um instrumental de análise insumo-produto na discussão do objeto de análise também se mostra problemática, não apenas em razão da falta de atualização desses dados, como também em razão da ausência de uma desagregação dessas informações para as diversas regiões do país, que seria crucial para permitir um melhor detalhamento daqueles clusters. Ademais, existem problemas adicionais decorrentes da ausência de informações sistematizadas sobre outras dimensões das articulações entre empresas e setores – como, por exemplo, aquelas relacionadas a fluxos de inovações e conhecimentos – que seriam importantes para um mapeamento mais rigoroso daqueles clusters.

Reconhecendo os problemas decorrentes da ausência de fontes de informações mais bem sistematizadas, pretende-se, na análise a ser realizada, utilizar elementos objetivos que permitam identificar e detalhar características dos clusters industriais existentes na economia brasileira, a partir de uma fonte básica das informações que se mostrou extremamente rica: os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), produzidos pela Secretaria de Políticas de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho e Emprego (MTb). A análise realizada a partir dessa fonte básica de informações procurou, desse modo, suprir a lacuna representada pela ausência de informações sistematizadas sobre o processo de aglomeração espacial de indústrias no caso brasileiro, o que tem feito com que as análises sobre o tema geralmente se circunscrevam à realização de ‘estudos de caso” sobre aglomerações específicas ou à investigação do padrão geral de distribuição espacial da indústria, sem que o conceito de clusters industriais – e as implicações teórico-conceituais dele advindas – seja explicitamente incorporado à análise.

Através da análise realizada, procurou-se associar a classificação de municípios à classificação de atividades industriais (CNAE) no âmbito da RAIS, visando identificar aqueles municípios nos quais é possível perceber um processo mais nítido de especialização setorial da indústria. Desse modo, buscou-se evidências sobre a distribuição regional e setorial destes clusters.. Este esforço de sistematização foi realizado em conjunto com o projeto “Análise da performance produtiva e

tecnológica dos clusters industriais na economia brasileira”, realizado por equipe de

pesquisadores do CEDEPLAR-MG, coordenada pelo Professor Eduardo Albuquerque. A identificação desses clusters baseou-se na construção de um Quociente Locacional, a partir do qual foi possível selecionar regiões de interesse onde há evidências da presença de clusters industriais. Simultaneamente, dois procedimentos metodológicos – de caráter exploratório e tentativo – foram utilizados. A primeira metodologia baseou-se em uma “focalização” das atividades constitutivas do cluster, enquanto a segunda baseia-se na identificação das “superposições” entre atividades que caracterizam tais arranjos. A idéia básica é partir da identificação de aglomerações especializadas para, a partir daí, investigar-se outras características que devem estar presentes no cluster. A segunda metodologia (superposição)

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procura investigar informações ao nível do município, para avaliar a existência, em uma mesma aglomeração espacial, de diversos elementos que, combinados, apontariam para a possível existência de um cluster. Adicionalmente, procurou-se realizar um esforço de caracterização tipológica desses clusters, baseado no grau de sofisticação tecnológica das atividades realizadas. A descrição pormenorizada dessa metodologia encontra-se disponível em Albuquerque (2000).

A partir de informações coletadas com base na metodologia utilizada procurou-se avançar no sentido de uma “análise estrutural” dos clusters identificados. Especificamente, procurou-se caracterizar sinteticamente a estrutura de diferentes clusters industriais existentes na economia brasileira, os quais foram selecionados de maneira a contemplar a diversidade setorial desses arranjos. Essa diversidade setorial, por sua vez, foi “formatada” em função de uma tipologia específica, que considera o grau de sofistic ação tecnológica das atividades realizadas, em consonância com diversos estudos realizados no âmbito da OCDE. Dentre os aspectos extraídos de dados da RAIS com o intuito de viabilizar essa “análise estrutural” é possível mencionar: (i) uma avaliação da importância do cluster no total das atividades industriais das diversas regiões; (ii) a identificação do tamanho das empresas atuantes nos diversos arranjos identificados; (iii) a caracterização do grau de “sofisticação” da divisão de trabalho nesses arranjos, considerando os diferenciais de tamanho existentes entre as firmas e a presença de fornecedores de insumos e equipamentos no mesmo espaço geográfico; (iv) a identificação de evidências acerca da densidade das relações internas ao cluster e sobre o grau de interação entre os agentes a eles integrados; (v) a importância das competências acumuladas ao nível das firmas, relacionada ao grau de qualificação da mão de obra; (vi) a importância da dotação de fatores locais – também possíveis de serem correlacionados ao grau de qualificação geral do recursos humanos – para a consolidação desses arranjos; (vii) a avaliação do nível de remuneração dos recursos humanos contratados pelas empresas integradas ao cluster, o qual fornece evidências sobre o tipo de trajetória de incremento da competitividade que tem sido perseguido por empresas participantes desses arranjos (podendo-se estabelecer uma diferenciação entre estratégias “espúrias” ou “não espúrias” de aumento da competitividade); (viii) a associação existente a dotação de fatores locais e a consolidação de determinados tipos de clusters.

Adicionalmente, dois procedimentos complementares foram utilizados na análise estrutural dos

clusters industriais identificados. O primeiro desses procedimentos está baseado na incorporação

de uma perspectiva dinâmica à análise estrutural realizada. Desse modo, procurou-se incorporar uma dimensão intertemporal a essa análise, visando captar a trajetória recente de evolução da estrutura desses clusters (entre 1994-1997) com base em dados da RAIS.

O segundo procedimento baseou-se na suposição de que, que, a partir da introdução de elementos que permitam uma melhor caracterização da estrutura interna desses arranjos, é possível identificar as especificidades dos mesmos em diversos setores – o que permitiria avançar no sentido de uma caracterização tipológica desses arranjos – bem como as diferenças entre arranjos de um mesmo tipo de atividade presentes em distintas regiões do país, o que forneceria evidências acerca do impacto da dotação de fatores locais na consolidação dos mesmos. Nesse sentido, procurou-se avançar no sentido de uma análise comparativa realizada em dois níveis. Por um lado, considerando os aspectos mencionados, procurou-se captar as diferenças entre clusters industriais relacionados a um mesmo tipo de atividade mas que se encontram localizados em regiões geográficas distintas. Por outro lado, também procurou-se captar as diferenças entre os diversos tipos de clusters com base nos critérios de “análise estrutural” anteriormente mencionados, de maneira a verificar-se se a tipologia proposta é suficientemente elucidativa para captar a diversidade existente entre esses arranjos.

Este relatório final está organizado em três partes. Na primeira parte procura-se avançar no sentido da elaboração de uma marco analítico conceitual que oriente a realização de análises

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empíricas. Em particular, sugere-se que os clusters industriais não devem ser concebidos como mera aglomeração espacial de atividades industriais presentes em determinados setores, mas sim como arranjos produtivos onde predominam relações de complementaridade e interdependência entre diversas atividades localizadas num mesmo espaço geográfico e econômico. Esses clusters são concebidos como ponto de confluência entre a organização de sistemas regionais-locais de inovação no plano institucional e a emergência de “redes de firmas” como forma padrão de conformação empresarial desses sistemas. Mo interior dessas redes destaca-se a existência de uma certa “divisão de trabalho” entre agentes, a qual, por um lado, reforça a interdependência entre os mesmos e, por outro, possibilita a obtenção de uma série de vantagens competitivas em relação a firmas isoladas. Na segunda parte do relatório, procura-se avançar no sentido da discussão do padrão de especialização setorial da indústria em diferentes regiões do país, o qual funciona como uma espécie de marco de referência para a análise mais aprofundada dos clusters industriais a ser realizada em seguida. Procura-se também, para as diversas regiões do país, sistematizar os principais clusters industrias já identificados em análises mais detalhadas de “estudos de caso” disponíveis na literatura recente sobre o fenômeno.

A terceira parte do relatório procura apresentar os principais resultados da “análise estrutural” dos clusters identificados. Inicialmente, são apresentados os principais argumentos que explicam e dão representatividade aos diferentes “casos” de clusters selecionados para realizar essa análise. Em seguida, a “análise estrutural” é referenciada aos diversos exemplos selecionados, sendo desenvolvida com base nos seguintes elementos: (i) descrição da importância do cluster para a economia da região e identificação de fatores relacionados ao contexto local que favorecem a consolidação dos clusters mencionados; (ii) descrição da estrutura empresarial dos

clusters selecionados e do nível de articulação e interação entre agentes existente em seu interior;

(iii) análise do perfil de qualificação e remuneração da mão de obra para os diversos clusters identificados; (iv) análise inter-temporal da estrutura dos clusters no período recente entre 1994-1997; (v) comparação das características estruturais dos diferentes tipos de clusters, visando verificar a relevância da classificação tipológica proposta.

Clusters Industriais: uma discussão conceitual

O conceito de clusters industriais refere-se à emergência de uma concentração geográfica e setorial de empresas, a partir da qual são geradas externalidades produtivas e tecnológicas. Partindo da idéia simples de que as atividades empresariais raramente encontram-se isoladas, o conceito de cluster busca investigar atividades produtivas e inovativas de forma integrada à questão do espaço e das vantagens de proximidade. A literatura especializada sobre o tema geralmente associa este tipo de arranjo a um conjunto de empresas e instituições espacialmente concentradas que estabelecem entre si relações verticais - compreendendo diferentes estágios de determinada cadeia produtiva - e horizontais - envolvendo o intercâmbio de fatores, competências e informações entre agentes genericamente similares. Em termos da sua conformação interna, estes clusters geralmente incluem firmas interdependentes (incluindo fornecedores especializados), agentes produtores do conhecimento(universidades, institutos de pesquisa, empresas de consultoria, etc.), instituições-ponte (consórcios, incubadoras, etc.) e consumidores, os quais se articulam entre si através de uma cadeia produtiva espacial e setorialmente localizada.

Ao se apoiarem mutuamente, os agentes integrados a estes arranjos conferem vantagens competitivas ao nível industrial para uma região particular, permitindo explorar diversas economias de aglomeração e outros tipos de “externalidades” indutoras de um maior nível de eficiência econômica. Apesar da cooperação produtiva e/ou tecnológica não ser um requisito necessário para a consolidação destes clusters, supõe-se que a estruturação dos mesmos estimula um processo de interação local que viabiliza o aumento da eficiência produtiva, criando um

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ambiente propício à elevação da competitividade dos agentes integrados ao arranjo. O recorte analítico baseado no conceito de “clusters” ressalta também os impactos das articulações entre agentes em termos da geração de efeitos de aprendizado e da dinamização do processo inovativo em escala local ou regional.

No plano teórico, a importância dos clusters industriais tem sido enfatizada por análises que se encontram na fronteira entre a literatura de Organização Industrial e os estudos de Economia Regional. A literatura de Organização Industrial aponta a importância de se identificar, com o maior nível de detalhe possível, qual a “estrutura” interna dessas aglomerações, o que envolve uma série de questões importantes, tais como: o padrão de especialização setorial das mesmas; o tamanho relativo de seus membros participantes; as articulações inter-industriais subjacentes; os padrões de concorrência que prevalecem nos mercados respectivos e as vantagens competitivas que podem ser geradas a partir da estruturação desses arranjos. Em comparação com este tipo de recorte analítico, os estudos de Economia Regional costumam atribuir particular importância a determinados “fatores locacionais” que influenciam a instalação de uma indústria em determinada região, procurando explicitar as forças motoras deste processo e os impactos resultantes sobre a dinâmica de reprodução e transformação de regiões geo-econômicas específicas. Dois aspectos específicos podem ser destacadas como pontos de confluência e complementaridade entre essas abordagens. Por um lado, ambas ressaltam a importância da “proximidade” entre os agentes – a qual pode ser referenciada ao plano organizacional, espacial ou a diferentes estágios de determinada cadeia produtiva - como fator de indução de articulações e interações entre os mesmos. Por outro lado, essas análises também ressaltam a importância do contexto social e institucional subjacente como fator de estímulo à consolidação desses arranjos.

A crescente importância atribuída pela literatura econômica à análise dos clusters industriais reflete também o reconhecimento de que a análise setorial tradicional não dá conta de uma série de fenômenos crescentemente importantes na dinâmica industrial. A ênfase nesse tipo de arranjo oferece uma alternativa em relação ao enfoque setorial tradicional, na medida em que incorpora uma série de fatores relacionadas a mudanças nas condições de rivalidade entre firmas e permite captar uma série de elementos estruturais e sistêmicos que afetam a competitividade dos agentes. No plano metodológico, a análise dos clusters industriais integra-se a análises que privilegiam um recorte “meso-econômico” da dinâmica industrial, as quais ressaltam o papel desempenhado por “sub-sistemas” estruturados na modulação daquela dinâmica (Bandt, 1989 e 1990). Em especial, esses sub-sistemas caracterizam-se pela existência de uma autonomia relativa em relação às forças externas, bem como a presença de um certo grau de “auto-organização” e de uma capacidade endógena de transformação, que lhes confere um caráter essencialmente dinâmico.

O conceito de clusters industriais tem sido utilizado tanto por análises estritamente qualitativas-descritivas baseadas em “estudos de caso”, como por análises de cunho mais quantitativo, que procuram definir critérios específicos para identificação, caracterização e comparação desses arranjos. As análises de cunho qualitativo geralmente pressupõem que tais arranjos podem ser associados a uma estrutura relativamente “visualizável”, referenciada a um setor específico ou a uma região geográfica bem delimitada. Neste caso, o que se procura, em geral, é detalhar a conformação institucional desses arranjos, com base em critérios específicos de agregação e classificação dos agentes, e avaliar os resultados gerados em termos da performance produtiva e tecnológica do setor objeto de análise na região em questão. Dentre as análises que optam por este tipo de enfoque, é possível destacar aquelas que abordam a consolidação de “distritos industriais” - investigados a partir de desdobramentos da análise originariamente formulada por Marshall (1920) - no interior dos quais é possível observar um conjunto institucionalizado de

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relações entre diversos agentes1. Este tipo de análise ressalta os possíveis ganhos de eficiência proporcionados pela especialização produtiva de firmas localizadas em uma mesma região geográfica, atribuindo particular importância à institucionalidade subjacente às relações entre agentes, indutora de formas de cola boração implícitas e explícitas entre eles.

A Figura 1 apresenta uma sistematização das relações básicas entre agentes investigadas nos modelos tradicionais de “distritos industriais”. Estes estudos atribuem particular importância à institucionalidade subjacente às relações entre agentes, as quais poderiam ser sistematizadas a partir de três níveis de análise, considerando a posição central ocupada por “produtores principais” na direção dos quais confluem os principais fluxos internos de transação no interior desses arranjos. Um primeiro nível envolve “ligações para trás” destas empresas com fornecedores de matérias-primas, equipamentos ou firmas especializadas em etapas específicas do processo de produção. Um segundo nível de análise refere-se às “ligações horizontais” destas empresas com outras firmas localizadas no mesmo estágio das cadeias produtivas, sejam aquelas que envolvem relações diretas entre agentes, sejam aquelas mediadas por associações empresariais. Finalmente, um terceiro nível de análise contempla “ligações para frente” estabelecidas por estas empresas na cadeia produtiva, envolvendo articulações com agentes responsáveis pela distribuição e comercialização do produto (dealers), compradores diretos (firmas atacadistas e varejistas) e com cons órcios de vendas formados pelos próprios produtores.

Figura 1 - Relações básicas entre agentes dos modelos de “distritos industriais” Ligações

p/Trás

Fornec. de Matérias -primas, Componentes e Serviços Fornecedores de Equipamentos Firmas Especializadas em Etapas do Processo Ligações Horizontais

Outras Firmas Produtoras Produtores Principais Associações Empresariais

Ligações p/Frente

Agentes de Distribuição e Comercialização (dealers)

Compradores Diretos Consórcios de Vendas

Fonte: construído a partir de Rabellotti (1995:86)

As análises que abordam a constituição de clusters industriais a partir do conceito de "distritos industriais" ressaltam três propriedades básicas desses arranjos. Em primeiro lugar, destaca-se o papel crucial desempenhado pela presença de "economias externas" específicas ao espaço territorial onde interagem os agentes, relacionadas à possibilidade de se reproduzirem e difundirem localmente conhecimentos técnicos e qualificações profissionais especializadas que conferem vantagens competitivas para os participantes do arranjo. Em segundo lugar, destaca-se a presença, neste tipo de arranjo, de um balanceamento permanente de princípios de cooperação e competição entre as firmas participantes, o que resulta na consolidação de regras e normas de conduta que permitem uma redução substancial dos custos de transação com os quais se defrontam os agentes. Em terceiro lugar, destaca-se a existência de um balanço entre regras de interação entre agentes estritamente mercantis e regras de "regulação social" estabelecidas ao nível local, que se refletem na criação de instituições especificamente dedicadas à resolução de problemas de "market failure" e ao reforço de valores baseados em princípios de solidariedade social.

1

Para uma sistematização de análises deseenvolvidas com base nesse tipo de reocrte ver, por exemplo, Nadvi e Schmitz (1994), Schmitz e Musyck (1994), Pyke e Sengenberg (1992), Pyke (1994), bem omo o número especial da

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Outro aspecto recorrentemente mencionado como fator de fortalecimento da competitividade de empresas inseridas em clusters industriais refere-se à realização de um elenco de ações conjuntas e coordenadas entre os agentes, as quais resultam numa ampliação dos níveis de "eficiência coletiva" (Schmitz, 1994) proporcionados pelo arranjo. Essa “eficiência coletiva” é geralmente associada a um processo dinâmico que permite a redução dos custos de transação e o aumento das possibilidades de diferenciação de produto ao longo do tempo, em virtude do intercâmbio de informações e do fortalecimento de laços cooperativos entre os agentes. As possibilidades de geração de ganhos competitivos para os membros desses arranjos decorre também da difusão de inovações tecnológicas e organizacionais ao nível local. Estes arranjos estimulam também a circulação de informações e o desenvolvimento de uma capacitação comercial e mercadológica que facilita a antecipação das tendências de comportamento do mercado, viabilizando a rápida introdução de novos produtos em função destas tendências.

Em contraste com análises qualitativas fundamentadas em “estudos de caso” é possível destacar análises quantitativas dos clusters industriais, as quais geralmente são desenvolvidas a partir de dois enfoques distintos. O primeiro enfoque está baseado no conceito de “similaridade”, pressupondo que diferentes atividades econômicas se estruturam em clusters porque necessitam de uma infra-estrutura semelhante para operarem de forma eficiente2. Nesta perspectiva, considera-se que este tipo de agrupamento gera diversos tipos de benefícios (geralmente associados ao conceito de “externalidades em rede”) que não são acessíveis para agentes isolados. Do ponto de vista metodológico-operacional, essas análises incorporam, em termos do instrumental de análise, uma série de contribuições da matemática, relacionadas ao desenvolvimento de técnicas sofisticadas para definição e caracterização de grupos homogêneos de agentes integrados a sistemas complexos3.

Em contraste com enfoques que salientam a “similaridade” entre agentes que conformam os diferentes tipos de clusters industriais, é possível identificar um outro tipo de enfoque que atribui particular importância à “interdependência” dos relacionamentos internos ao cluster. Este enfoque concebe as relações entre setores ou atividades como mola propulsora da dinâmica interna dos clusters industriais. Nesta perspectiva de análise, pressupõe-se que uma característica básica dos clusters é o agrupamento de agentes não similares, mas que apresentam competências complementares, o que reforça a interdependência entre eles e a necessidade de alguma forma de coordenação coletiva ao nível do arranjo. Este enfoque atribui particular importância às relações “verticais” entre cliente-fornecedor e produtor -usuário que conformam uma divisão de trabalho interna ao cluster.

A importância atribuída por esse enfoque às relações “verticais” entre cliente-fornecedor e produtor usuário aproxima este tipo da arranjo do conceito de cadeia produtiva (ou filières), porém com algumas qualificações importantes: (i) a associação existente entre a dimensão estritamente inter-setorial do cluster e outras dimensões igualmente importantes para

caracterização desse tipo de arranjo (em particular a dimensão espacial); (ii) o fortalecimento das relações de interdependência devido à especialização dos agentes e à complementaridade das

2

A identificação e análise dos clusters industriais de um ponto de vista estritamente regional-espacial geralmente baseia-se nesse tipo de enfoque (Krugman, 1991), assim como as análises que concebem estes clusters de um ponto de vista estritamente setorial, associando-os a um padrão de estruturação das atividades industriais que proporciona vantagens competitivas para empresas neles integradas (Porter, 1990).

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Alguns procedimentos de operacionalização dessas análises podem ser ressaltados: (i) a realização de uma “análise fatorial”, visando identificar de diferenciação dos agentes considerados; (ii) a identificação de procedimentos para agrupamento dos agentes, em função dos fatores previamente selecionados; (iii) a realização de uma “análise de correspondência” visando possibilitar a localização dos grupos de agentes num quadro de contingência (geralmente bi-dimensional), construído a partir de associações entre variáveis. Adicionalmente, algumas análises complementam esse enfoque quantitativo com uma análise qualitativa dos diversos grupos identificados e de

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competências no interior do cluster; (iii) a presença de mecanismos de aprendizado por interação que reforçam os fluxos de conhecimento entre os agentes e a capacidade de geração de inovações a partir dos mesmos; (iv) a existência de mecanismos de coordenação (formais e informais) que são próprios ao cluster, e que se refletem numa hierarquização interna particular desse tipo de arranjo; (v) a presença de outras instituições, além das firmas, e de outros tipos de inter-relacionamento, além daqueles estritamente verticais, que dão organicidade aos clusters e geram diversos tipos de benefícios (ou “externalidades”) para empresas integradas àqueles arranjos. Do ponto de vista metodológico-operacional, essas análises geralmente recorrem a dois instrumentos básicos. O primeiro deles baseia-se na utilização de informações sistematizadas sobre relações inter-industriais (como aquelas disponíveis em matrizes insumo-produto tradicionais ou em matrizes de interações inovativas entre setores) para, através de algum tipo de algoritmo, caracterizar a interdependência entre atividades no interior desses arranjos. O segundo instrumental utilizado nessas análises compreende análises de graphos, através da qual se procura identificar cliques e outros tipos de relacionamentos em rede que permitam caracterizar aquela interdependência.

Clusters industriais: proposta de referencial de análise

A realização de qualquer esforço de investigação que se pretenda rigoroso envolve uma caracterização precisa do objeto de análise. Considerando a distinção entre os dois tipos de enfoques mencionada anteriormente (baseados, respectivamente, nos conceitos de “similaridade” e “interdependência” de atividades industriais), é possível caminhar-se no sentido de uma conceituação mais abrangente dos clusters industriais. No entanto, é importante reconhecer que a identificação de um enfoque particular para a análise do fenômeno – baseado em análises estritamente qualitativas ou análises quantitativas que podem privilegiar conceitos de “similaridade” ou de “interdependência” – revela-se uma tarefa árdua e pouco produtiva, se não forem definidas, preliminarmente, as intenções que orientam a anális e e o próprio conceito de “cluster” a ser utilizado como referencial analítico. Neste sentido, considera-se que o conceito de

cluster pode ser elaborado a partir de duas abordagens: (1) de “baixo para cima”, a partir das

firmas e de suas redes de interação; (2) de “cima para baixo”, a partir de recortes regionais ou locais do ambiente institucional no interior do qual interagem os agentes. Definem-se, desse modo, dois processos simultâneos que são fundamentais para uma compreensão mais abrangente do processo de formação de clusters industriais (os quais se encontram sistematizados na Figura 2).

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Figura 2 – Elementos do Referencial Analítico

Características Básicas Elementos Fatores Críticos

Instituições de C&T Sistema Nacional de Inovação Capacitação Tecnológica Geral Heterogeneidade de Instituições Locais Sistemas Regionais/Locais de Inovação Capacitações-Especailizações Locais Interdependência e Interação

Clusters Industriais Eficiência Coletiva e

Inovatividade

Divisão de Tr abalho e Logística Própria

Redes de Firmas Aprendizado por Interação

Competências Críticas Firmas Estratégias Competitivas

Fonte: elaboração própria

O primeiro deles pode ser correlacionado a um processo de “desintegração técnica” observado ao nível das firmas que se defrontam com crescentes pressões competitivas. De fato, para fazer frente a essas pressões, as firmas tendem a caminhar na direção de um maior grau de especialização, concentrando suas atividades naquelas que requerem recursos e competências em relação aos quais a firma demonstra possuir vantagens competitivas mais evidentes em relação a outros agentes. O resultado desse processo é a consolidação de “redes de firmas”, caracterizadas como arranjos institucionais que possibilitam uma organização eficiente de atividades econômicas, através da coordenação de ligações sistemáticas estabelecidas entre firmas inseridas em diferentes estágios das cadeias produtivas. Através de interações com outros agentes inseridos nestas redes, uma firma particular obtém acesso a recursos e competências complementares que reforçam sua competitividade em relação a outras firmas não inseridas no arranjo. Em função da estruturação dessas redes, consolidam-se “sub-sistemas produtivos” nos quais observa-se uma divisão de trabalho estruturada, que reforça o grau de interdependência entre os agentes e faz com que as relações clientes-fornecedores e produtores-usuários se diferenciem das relações estritamente mercantis tradicionais, passando a envolver práticas cooperativas e um esforço de coordenação dos relacionamentos.

O segundo processo compreende estímulos à formação de clusters industriais que dizem respeito ao contexto institucional no qual os mesmos se encontram inseridos. Dentre os aspectos desse contexto institucional, particular ênfase deve ser atribuída às características dos “sistemas nacionais de inovação”, os quais podem ser enfocados numa dimensão espacialmente mais circunscrita – definindo-se, desse modo, sistemas “regionais” ou “locais” de inovação. A importância de tais sistemas refere-se não apenas à provisão de “externalidades” produtivas e tecnológicas que impulsionam o crescimento do cluster, mas também à própria montagem de um arcabouço institucional que estimule a interação (e a cooperação) entre agentes no interior daqueles arranjos.

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Alguns desdobramentos da conceituação proposta para o objeto de análise podem ser ressaltados. Em relação aos dois enfoques mencionados (similaridade x interdependência), a análise desenvolvida opta, explicitamente, por privilegiar o fenômeno da interdependência. Assume -se, portanto, que as relações internas ao cluster são fundamentais para a caracterização desse tipo de arranjo. Supõe-se, ademais, que essas relações, em seu conjunto, são responsáveis pela consolidação de uma divisão de trabalho interna ao cluster, a qual pode ser associada à existência de distintos tipos de agentes no interior do arranjo e à presença de um certo grau de hierarquização dos relacionamentos que o conformam o arranjo. Além disso, mesmo admitindo-se que outros relacionamentos são igualmente importantes para a caracterização do cluster – como os relacionamentos “horizontais” entre agentes similares ou entre os mesmos e outras instituições integradas ao sistema de inovação local ou regional – considera-se que os relacionamentos entre produtores-fornecedores são absolutamente cruciais para a caracterização do cluster, o que implica, do ponto de vista metodológico, a utilização de algum tipo de instrumental de caracterização dos arranjos que incorpore esse aspecto.

Uma vez definido o objeto de análise – as relações internas aos clusters industriais e a maneira como estas influenciam e são influenciadas pela estrutura interna do arranjo - tona-se necessário explicitar a metodologia utilizada para desenvolver essa análise. As fontes básicas de informações utilizadas, relativas aos dados da RAIS para o ano de 1997, referem-se a cerca de 24 milhões de trabalhadores formais registrados em 31 de dezembro de 1997.Os registros do arquivo contêm informações úteis para os objetivos da pesquisa, destacando-se: (1) a localização da atividade industrial (município, micro-região, estado); (2) o setor de atividade ( segundo a classificação IBGE/ CNAE, em diversos níveis de agregação); (3) o tipo e tamanho do estabelecimento; (4) informações adicionais sobre a qualificação dos trabalhadores empregados (grupo de ocupação, segundo a Classificação Brasileira de Ocupações; grau de instrução) e o nível de remuneração respectivo.

A metodologia utilizada para identificação de clusters industriais foi desenvolvida em conjunto com a equipe do projeto “Análise da performance produtiva e tecnológica dos clusters

industriais na economia brasileira”, realizado por pesquisadores do CEDEPLAR-MG e

coordenado pelo Professor Eduardo Albuquerque. Dois procedimentos metodológicos – de caráter exploratório e tentativo – foram utilizados (ver Albuquerque, 2000). A primeira metodologia está baseada em uma “focalização” das atividades constitutivas do cluster, enquanto a segunda baseia-se na identificação das “superposições” entre atividades que caracterizam tais arranjos. A idéia básica é partir da identificação de aglomerações especializadas para, a partir daí, investigar-se a presença de outras características que devem estar presentes no cluster. A segunda metodologia (baseada no conceito de “superposição”) procura investigar informações ao nível do município, para avaliar a existência, em uma mesma aglomeração espacial, de diversos elementos que, combinados, apontariam para a possível existência de um cluster.

A partir do detalhamento dessa metodologia (Albuquerque, 2000), procurou-se utilizar os dados da RAIS-1997 e uma ferramenta tradicional dos estudos de economia regional, visando avaliar a existência de aglomerações especializadas em um certo tipo de atividade previamente selecionado. Para identificar-se uma aglomeração especializada, o critério utilizado foi o cálculo do Quociente Locacional (QL) (Ferreira, 1995), o qual foi utilizado como ferramenta básica para a identificação de clusters “verticais” (nos quais destaca-se a noção de “superposição” de atividades) e clusters “horizontais” (baseados na concentração de diversas atividades relacionadas em um mesmo município). Adicionalmente, procurou-se articular esse tipo de diferenciação a uma classificação de atividades industriais baseada no conteúdo tecnológico da produção (OCDE, 1998), a qual distingue atividade de baixa, média e alta tecnologia.

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base nos critérios acima descritos, procurou-se avançar no sentido de uma “análise estrutural” dos mesmos. Nesse sentido, três procedimentos foram utilizados. O primeiro deles decorre diretamente da metodologia adotada para identificação das aglomerações industriais. De fato, a partir dos critérios utilizados para identificar essas aglomerações, é possível encontrar evidências sobre a existência de alguma divisão de trabalho nos municípios selecionados. No caso de

clusters “verticais”, tomando como referência a divisão (ou categoria) CNAE de elevado QL, é

possível avaliar se existem firmas atuantes em setores industriais que possam ser caracterizados como fornecedores. Já no caso de clusters “horizontais”, a caracterização do arranjo se dá em função da presença, em um mesmo município, de um conjunto de indústrias similares (relacionadas a classes CNAE relativamente próximas), que possivelmente estariam compartilhando algum recurso comum (mão-de-obra qualificada, por exemplo). Adicionalmente, as fontes de uinformação utilizadas permitiram caracterizar mais detalhadamente a “divisão de trabalho” interna ao cluster, inclusive no sentido de identificar as firmas presentes no par município/divisão CNAE. Desse modo, tornou-se possível obter-se informações extremamente importantes para a avaliação da estrutura industrial existente nestes clusters (concentração industrial, número de firmas, estrutura de propriedade -firmas nacionais ou multinacionais-, etc).

O segundo procedimento envolveu uma descrição mais pormenorizada da estrutura interna dos

clusters identificados, tomando como base as informações disponibilizadas pela RAIS e

utilizando os seguintes critérios: (i) a importância do cluster identificado para a economia da região na qual o mesmo está localizado; (ii) número de estabelecimentos; (iii) tamanho médio; (iv) índices de concentração industrial; (v) perfil de qualificação e remuneração da mão de obra. O terceiro tipo de procedimento contempla dois tipos de comparações: (i) comparações intertemporais que captem a trajetória de evolução de determinado cluster ao longo do tempo e a confrontem à evolução de outras aglomerações presentes no mesmo tipo de atividade; (ii) comparações da estrutura e da trajetória evolutiva de diferentes tipos de aglomerações..

Quadro de Referência Geral: Padrões de especialização regional da indústria e a formação de clusters industriais

O mapeamento dos clusters industriais na economia brasileira requer que, preliminarmente, seja avaliado o padrão de especialização regional dessa indústria. Neste sentido, procurou-se, ao nível mais agregado das regiões e unidades da federação, identificar o padrão de especialização setorial em termos de emprego, a partir do qual é possível obter elementos para uma identificação posterior de possíveis clusters industriais que teriam relevância dentro dos espaços econômicos locais ou regionais. De modo a mapear o padrão de “especialização relativa” das diversas regiões do país, um primeiro aspecto importante refere-se à identificação de setores em relação aos quais nível de emprego no estado (ou região) é relativamente elevado, quando comparado ao conjunto do pais.

Em particular, é possível considerar os setores ou atividade industriais em relação aos quais a participação de cada estado ou região se mostra superior à média geral da indústria, e que, portanto, apresentam um padrão de especialização – medido através de um índice definido pela relação entre as duas grandezas - superior à unidade. Considerando a distribuição do emprego entre diversos gêneros da indústria para diferentes regiões do país, é possível encontrar algumas evidências acerca do padrão de especialização setorial da indústria nessas regiões, conforme a apresentada nas Tabela 1 e 2 (em anexo). Evidentemente, essas informações devem ser confrontadas ao próprio “peso” de cada uma das diversas regiões dentro da indústria brasileira e ao próprio grau de sofisticação da estrutura industrial prevalecente em cada região. Levando em conta esses aspectos, algumas te ndências importantes podem ser captadas:

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• São Paulo: apesar de apresentar uma participação extremamente expressiva em todos os gêneros industriais considerados, este estado apresenta índices de especialização mais elevados nos setores de Metalurgia, Mecânica, Material Elétrico e de Comunicações, Material de Transporte e Química.

• Rio Grande do Sul : estrutura industrial também bastante sofisticada, porém com especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores de Mecânica e Calçados.

• Minas Gerais: estrutura industrial diversificada, com especialização relativa mais elevada nos setores de Extrativa Mineral; Minerais Não Metálicos; Metalurgia e Têxtil.

• Rio de Janeiro: estrutura industrial também diversificada, destacando-se a especialização nos setores Extrativo Mineral; Papel, Papelão e Editorial; Química; Metalurgia.

• Santa Catarina: especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores Têxtil; Mecânico e de Minerais Não-Metálicos.

• Paraná: estrutura industrial também bastante diversificada, não observando-se especialização muito nítida, apesar da maior especialização relativa nos setores de Alimentação e Bebidas; Papel e Minerais Não-Metálicos.

• Bahia: especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores Extrativo Mineral; Minerais Não Metálicos; Química; Alimentação e Bebidas.

• Espírito Santo: especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores Extrativo Mineral; Minerais Não Metálicos; Têxtil.

• Nordeste (excluindo Bahia): especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores de Alimentação e Bebidas; Têxtil; e Extrativo Mineral.

• Centro-Oeste: especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores de Alimentação e Bebidas; Extrativo Mineral e Minerais Não Metálicos.

• Norte: especialização relativa elevada, em termos de emprego, nos setores Extrativo Mineral; e de Material Elétrico e de Comunicações.

A obtenção de evidências mais precisas sobre o padrão de especialização setorial da indústria nas diversas regiões do país, de maneira a caminhar-se na direção da identificação de clusters industriais presentes nessas regiões, requer, porém, que a análise anterior seja referenciada a um maior grau de desagregação setorial. Com esse intuito, é possível analisar como se distribui o emprego industrial nas diversas regiões do país, considerando dados da PIA-IBGE (relativos ao ano de 1995) e uma desagregação ao “nível 100” da classificação de atividades industriais. Três informações relevantes podem ser obtidas a partir desses dados. A primeira delas refere-se à discussão da importância dos principais setores em termos do total do emprego industrial em cada região. Nesse sentido, é possível identificar os setores predominantes em cada região, responsáveis pela geração da maior parte do emprego industrial nas mesmas. Um segundo tipo de informação contempla a participação de cada estado ou região no total do emprego naquela atividade no conjunto do país. A terceira informação, por fim, refere-se especificamente ao padrão de “especialização relativa” de cada região em termos do emprego industrial, o qual baseiase na comparação da participação da região no total do emprego em cada atividade visà

-vis sua participação no total do emprego industrial no país.

O Quadro 1 (em anexo) apresenta os critérios que conduziram à seleção de atividades relevantes no caso dos diversos estados/regiões. As atividades selecionadas, por sua vez, encontram-se sistematizadas no Quadro 2 (em anexo). Supõe-se, nesse sentido, que essas atividades constituem, a princípio, em bons candidatos a uma investigação mais cuidadosa – no plano de micro-regiões ou municípios – que possibilite a identificação e a caracterização dos clusters industriais eventualmente existentes. É importante ressaltar, porém, que nem todos os setores identificados como “relevantes” em cada região se prestam à consolidação de clusters industriais. De fato, segundo o referencial analítico descrito anteriormente, a consolidação desses

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localizadas numa mesma região geográfica. Nesse sentido, dentre as atividades “relevantes” segundo os critérios mencionadas, é possível excluir aquelas onde há um predomínio de empresas integradas e/ou que não geram maiores efeitos em termos de encadeamentos inter-industriais (como no caso das indústrias de caráter puramente extrativo, por exemplo).

Considerando os diversos gêneros da indústria, é possível correlacionar o quadro geral de especialização setorial das diversas regiões do país a indicadores de performance tecnológica, definidos a partir do número de pedidos de patentes solicitados por empresas de cada uma daquelas regiões. Em geral, observa-se que as atividades industriais nas quais as diversas regiões encontravam-se relativamente especializadas, em termos de emprego, eram também aquelas nas quais observava-se uma especialização elevada em termos da geração de patentes. As informações apresentadas na Tabela 3 (em anexo) demonstram que São Paulo era responsável por aproximadamente 63% do total de patentes solicitadas no país, considerando as solicitações em que era possível identificar um gênero da indústria associado às mesmas. Em particular, percebe-se que a especialização relativa desse estado em termos da geração de patentes é maior nos setores de Alimentos e Bebidas; Papel, Papelão e Editorial; aterial de Transporte.; Material Elétrico e de Comunicações; Mecânica. No caso do Rio de Grande do Sul, observa-se uma especialização relativa em termos de pedidos de patentes, nos setores de Calçados; Mecânica e Material de Transporte. Em Minas Gerais essa especialização relativa pode ser observada nos setores Extrativo Mineral; Metalurgia e Calçados, enquanto no Rio de Janeiro ela é bastante nítida nos setores Extrativo Mineral e Químico. No Paraná destaca-se a especialização relativa, em termos do processo de patenteamento, nos setores de Minerais Não-Metálicos; Alimentos e Bebidas; e Material de Transporte. Em estados e regiões com uma estrutura industrial menos sofisticada, o padrão de especialização relativa, em termos do processo de patenteamento, costuma ser mais evidente, uma vez que as patentes solicitadas costumam concentrar-se num número limitado de atividades. No caso da Bahia, por exemplo, destaca-se a especialização nos setores Extrativo Mineral e Químico. Em outros estados do Nordeste, destaca-se a especialização no setor Têxtil e de Minerais Não-Metálicos. Na região Centro-Oeste é possível destacar a especialização relativa no setor Extrativo Mineral, enquanto na região Norte a mesma é mais evidente no setor de Minerais Não-Metrálicos.

Uma vez construído esse quadro geral do padrão de especialização setorial da indústria nas diversas regiões do país, torna-se necessário reduzir o foco da análise na direção de dimensões espaciais mais adequadas à caracterização rigorosa dos clusters industriais – microregiões e municípios. Com esse intuito, a análise realizada utiliza os dados da RAIS como fonte básica de informações. No entanto, antes de avançar nessa discussão, cabem alg umas observações gerais sobre a distribuição espacial da indústria brasileira. O Quadro 3 (em anexo) - construída a partir de dados da RAIS levantados por Sabóia (1999) - apresenta a distribuição regional das aglomerações industriais existentes na economia brasileira segundo a faixa de número de empregados na indústria de transformação e extrativa mineral para o ano de 1997. Percebe-se, a partir dos dados apresentados que, de um total de 156 aglomerações industriais com mais de 5000 empregados, 47% localizavam-se na região Sudeste sendo 25% em São Paulo e 15% em Minas Gerais. Existem evidências, portanto, de que um maior número de clusters industriais deve se localizar nessas regiões. Além disso, é possível destacar também a importância da região Sul, com 29% do total das aglomerações industriais com mais de 5000 empregados. Nessa região as evidências demonstram que também existem diversos município e microregiões que merecem uma investigação mais cuidados acerca da presença de clusters industriais. O Quadro 3 também apresenta uma listagem, para cada estado da federação, das aglomerações industriais com mais de 10.000 empregados na indústria. A identificação dessas aglomerações – às quais se poderia agregar aquelas na faixa entre 5000 e 10000 empregados na indústria - constitui um ponto de partida para a discussão da distribuição espacial dos clusters industriais na economia brasileira,

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uma vez que é possível utilizar os dados da RAIS para verificar qual o padrão de especialização setorial dessas aglomerações industriais.

É possível avançar no sentido de um maior detalhamento do padrão de especialização setorial dos clusters industriais na economia brasileira, considerando como se distribui a especialização setorial das aglomerações industriais com mais de 5 mil empregados na indústria existentes no país. Com esse intuito, o Quadro 4 apresenta dados levantados por Sabóia (2000), baseados em informações da RAIS para o ano de 1997, as quais são sistematizadas por diferentes setores de atividade. Neste quadro são listados, para os diferentes setores considerados, as aglomerações (microregiões) que concentravam mais de 15% do emprego industrial naquele tipo de atividade. A princípio, essas microregiões constituem boas candidatas em termos de uma investigação mais cuidadosa sobre a presença de clusters industriais. A partir dos dados apresentados, algumas tendências podem ser captadas:

existem evidências de que a formação de aglomerações (ou clusters) industriais é mais nítida em determinados setores do que em outros. De fato, um número mais elevado dessas aglomerações podem ser encontradas em alguns setores, como nos setores têxtil, de calçados, madeira/mobiliário e metalúrgico.

• em alguns dos setores mencionados, claramente ocorre uma concentração de aglomerações em determinadas regiões do país, como no caso dos setores de calçados (no Rio Grande do Sul, São Paulo e Cerá), material de transporte (São Paulo), extrativo mineral (Minas Gerais), madeira/mobiliário (Paraná e Santa Catarina), metalúrgico (São Paulo e Minas Gerais) e Químico (São Paulo). Essas informações corroboram as tendências de especialização setorial de regiões anteriormente descrita.

• observa-se que em alguns setores (como têxtil, calçados, madeira/mobiliário e metalúrgico) é comum a presença de aglomerações industriais nas quais mais de 60% do emprego industrial concentra-se nos arranjos identificados. A princípio, é possível caracterizar essas atividades como indústrias com tendência à “clusterização”. O fato dessas aglomerações estarem localizadas predominantemente em setores tradicionais deve, porém, ser visto com cuidado, pois a menor importância de clusters industriais em setores de maior conteúdo tecnológico pode, no caso brasileiro, refletir, em parte, a inexistência de uma base industrial mais sólida nesses setores, com capacidade de geração de efeitos dinamizadores sobre as regiões onde as principais empresas estão localizadas.

Por fim, ainda visando fornecer subsídios para uma análise mais cuidadosa dos clusters industriais na economia brasileira, é possível considerar as evidências disponíveis sobre a presença de clusters industriais em diferentes estados da federação, coletadas a partir de “estudos de caso” e de outras fontes de informações. O Quadro 5 ilustra esse aspecto, apresentando, com base nas evidências levantadas pela literatura especializada, uma listagem dos principais clusters já identificados nos estados da região centro-sul do país ( a exceção do estado de São Paulo, onde essa listagem seria por demais extensa, dada a complexidade da base industrial). Considera-se, nesse sentido, que essas evidências devem também ser consideradas num estudo mais abrangente que vise o mapeamento rigoroso da distribuição espacial (ao nível dos diversos municípios) desses clusters a partir de dados fornecidos pela RAIS.

Análise estrutural de clusters industriais

Critérios para identificação dos clusters selecionados

A análise realizada objetiva discutir a distribuição setorial dos clusters industriais na economia brasileira, utilizando um recorte analítico que ressalta a interdependência entre atividades produtivas no interior desses clusters,. Basicamente, procurou-se utilizar uma metodologia

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rigorosa para identificação da distribuição espacial-setorial dos clusters industriais na economia brasileira, utilizando-se os dados da RAIS como principal fonte de informações. Conforme ressaltado por Albuquerque (2000), a identificação desses clusters baseou-se na utilização de critérios específicos (focalização e superposição) que permitiram abordar a questão relativa à formação de clusters industriais com o necessário rigor conceitual e metodológico.

Reconhecendo os problemas decorrentes da ausência de fontes de informações mais bem sistematizadas sobre a estrutura dos clusters industriais existentes na economia brasileira, que extrapole a descrição exaustiva de “estudos de caso”, a análise realizada procurou utilizar elementos objetivos que permitissem identificar e detalhar características desses clusters industriais, a partir da fonte básica das informações utilizadas: os dados da RAIS. Nesse sentido, a análise partiu da identificação prévia de diferentes tipos de clusters industriais existentes na economia brasileira, tomando como base a metodologia proposta. Com esse intuito, foram selecionados “exemplos representativos” de clusters industriais em cada uma das situações descritas naquela metodologia., a saber: calçados (clusters de baixa tecnologia), caminhões e ônibus (clusters de média tecnologia), eletrônica (clusters de alta tecnologia) e cerâmica (incluído ad-hoc). O Quadro 6 sumariza os principais critérios que conduziram à identificação desses clusters. Esse conjunto de atividades é suficiente abrangente, permitindo direcionar a análise para dois objetivos principais: (i) buscar evidências, através da “análise estrutural” realizada, de que a tipologia proposta permite captar diferenças relevantes quanto à diversidade setorial e institucional desses arranjos; (ii) comprovar a relevância da metodologia desenvolvida enquanto instrumento rigoroso de caracterização e descrição desses arranjos.

Quadro 6 – Critérios para seleção de clusters objeto de “análise estrutural”

Atividade Sofisticação Tecnológica Articulações entre atividades Critério de Identificação

1. Calçados Baixa Verticais Superposição

2. Caminhões e ônibus Média Horizontais Superposição

3. Eletrônica Alta Horizontais Superposição

4. Cerâmica Baixa Verticais Focalização

Uma vez identificados os clusters industriais presentes nas atividades selecionadas, com base na metodologia descrita por Albuquerque (2000), procurou-se avançar no sentido da identificação de características estruturais desses arranjos. Dentre os aspectos extraídos de dados da RAIS capazes de auxiliar essa identificação, é possível mencionar: (i) a avaliação da importância do

cluster no total das atividades industriais das diversas regiões (municípios); (ii) a identificação

do número e do tamanho das empresas atuantes nos diversos arranjos identificados; (iii) a caracterização do grau de “sofisticação” da divisão de trabalho nesses arranjos, considerando os diferenciais de tamanho existentes entre as firmas e a presença de fornecedores de insumos e equipamentos no mesmo espaço geográfico; (iv) a importância das competências acumuladas ao nível das firmas, relacionada ao grau de qualificação da mão de obra; (v) a importância da dotação de fatores locais – também possíveis de serem correlacionados ao grau de qualificação geral do recursos humanos – para a consolidação desses arranjos; (vi) a avaliação do nível de remuneração dos recursos humanos contratados pelas empresas integradas ao cluster, o qual fornece evidências sobre o tipo de trajetória de incremento da competitividade que tem sido perseguido por empresas participantes desses arranjos (podendo-se estabelecer uma diferenciação entre estratégias “espúrias” ou “não espúrias” de aumento da competitividade).

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A análise realizada procurou também contemplar três aspectos adicionais. O primeiro aspecto refere-se a comparações intertemporais que captem a trajetória de evolução de determinado

cluster ao longo do tempo. Adicionalmente, procurou-se também comparar a estrutura e o

desempenho comparativo de determinada aglomeração vis-à -vis outra(s) existentes no mesmo setor. Considera-se, nesse sentido, que uma análise comparativa dos clusters industriais de um mesmo tipo de atividade localizados em regiões geográficas distintas pode ser bastante elucidativa. Finalmente, o terceiro aspecto refere-se à identificação das diferenças entre clusters localizados em diferentes setores. O que se pretende, nesse caso, é verificar se essas diferenças são suficientemente fortes, de maneira a permitir que a tipologia proposta seja efetivamente utilizada como critério de diferenciação dos arranjos.

Importância dos clusters identificados para as economias locais

A análise geral realizada anteriormente (ver Quadro 4) evidenciou que a importância do processo aglomeração espacial de indústria varia consideravelmente em função do ramo de atividade considerado. Considerando um nível de agregação setorial bastante elevado, foi possível observar que esse processo era mais perceptível em determinados setores, como têxtil, calçados, madeira/mobiliário e metalúrgico. As informações coletadas para os diversos tipos de clusters investigados também corroboram essa tendência. De fato, as informações levantadas – sistematizadas no Quadro 7 - demonstram que os clusters de calçados são aqueles nos quais se combina uma elevada participação dos clusters no emprego industrial do município (acima de 38%) com uma participação dos mesmos no emprego setorial também elevada (de 22%). Os

clusters produtores de caminhões e ônibus apresentam uma participação no emprego industrial

dos municípios bastante inferior (da ordem de 6%), apesar de possuírem uma participação no emprego setorial bastante elevada (acima de 24%). A mesma tendência é observada no caso dos

clusters produtores de cerâmica, sendo que, nesse caso, a menor participação no emprego

setorial (em torno de 6,6%) se explica em função da fragmentação espacial desse tipo de produção. Os clusters de eletrônica diferenciam-se dos demais por possuírem uma pequena participação no emprego industrial dos municípios (da ordem de 1,2%), combinada a uma participação no emprego setorial bastante elevada (de quase 62%). Isso se explica, por um lado, pela alta intensidade de capital dessas atividades e, por outro, pelo fato de, dentre esses clusters, estarem inclusos grandes pólos industriais que são responsáveis por uma participação expressiva da produção eletrônica (São Paulo, Curitiba, Manaus, São José dos Campos, Campinas, dentre outros).

Quadro 7 – Participação de clusters industriais no total do emprego industrial dos municípios respectivos e no total do emprego setorial

Atividade % no emprego industrial dos

municípios % no total do emprego setorial 1. Calçados 38,3 22,2 2. Caminhões e ônibus 5,7 24,6 3. Eletrônica 1,2 61,9 4. Cerâmica 4,8 6,6

Fonte: elaboração própria a partir de dados da RAIS

É possível identificar diferenças significativas quanto ao grau de importância das diversas aglomerações identificadas em cada tipo de atividade para o total do emprego industrial dos municípios respectivos. O Quadro 8 (em anexo) apresenta essas informações para os quatro ramos de atividades considerados. Essas informações demonstram que, no caso da produção de

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calçados, a importância dos clusters industriais é maior em municípios menores (como Parobé e Sapiranga) em comparação com municípios maiores que contam com uma base industrial mais diversificada (como Franca e Novo Hamburgo). No caso dos clusters de produtos eletrônicos, verifica-se que a participação do emprego nos clusters em relação ao emprego industrial dos municípios é mais expressiva nos casos de Manaus, São José dos Campos e Santa Rita do Sapucaí. Já no caso dos clusters produtores de caminhões e ônibus, essa participação é mais elevada nos casos de São Bernardo do Campo e Caxias do Sul. Finalmente, no caso dos clusters produtores de cerâmica, destaca-se a maior importância relativa, segundo o mesmo critério, dos

clusters de Rio Negrinho, Irati, São Bento do Sul e Criciúma.

Tradicionalmente, a análise baseada no conceito de clusters industriais pressupõe que a presença desses arranjos está fortemente articulada a pré-existência de uma infra-estrutura e de uma dotação de fatores locais que estimule a localização daquelas indústrias na região considerada. Dentre esses aspectos, particular importância costuma ser atribuída ao grau de qualificação formal da mão de obra e à presença de uma infra-estrutura educacional que facilite esse processo de qualificação. O Quadro 9 ilustra esse aspecto, apresentando, para os municípios onde se localizam as diversas aglomerações identificadas, os seguintes indicadores (construídos a partir da “Base de informações Municipais”(BIM) do IBGE para o ano de 1998): (i) média em termos dos anos de estudo da população com mais de 4 anos de idade (indicador 1); (ii) percentagem de analfabetos no total da população (indicador 2); (iii) percentagem de matrículas em estabelecimentos de ensino de 1o e 2o grau e o total de residentes (indicador 3); (iv) percentagem de docentes em relação do total de residentes (indicador 4); (v) número de matriculas por estabelecimento de ensino de 1o e 2o grau (indicador 5); (vi) relação (percentagem) entre o número de estabelecimentos de ensino de 1o e 2o grau e o número de sedes de empresas com CGC no município (indicador 6). Esses indicadores ilustram as diferenças entre os diversos

clusters com relação às condições da infra-estrutura educacional local. Acredita-se que essa

análise pode ser refinada com a incorporação de outros indicadores relacionados às condições locais de infra-estrutura e de dotação de fatores.

Referências

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