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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 7ª Câmara de Direito Privado ACÓRDÃO

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Registro: 2017.0000889274

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1002601-72.2016.8.26.0269, da Comarca de Itapetininga, em que é apelante ANA LÚCIA ALEXANDRA PONTES DE PROENÇA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado DOLORES LAURITO PAES MEI.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Privado do

Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao

recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente sem voto), LUIZ ANTONIO COSTA E LUIS MARIO GALBETTI.

São Paulo, 21 de novembro de 2017.

Rômolo Russo Relator

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Voto nº 21.051

Apelação nº 1002601-72.2016.8.26.0269 Comarca: Itapetininga 3ª Vara Cível Ação: Indenização por danos morais

Apelante: Ana Lucia Alexandra Pontes de Proença Apelada: Dolores Laurito Paes MEI

Responsabilidade civil. Danos morais. Autora que alega ter sofrido abalo moral em função de conteúdo veiculado em rede social. Autora que é devedora de quantia em dinheiro para a microempresa-ré. Tratativas mantidas diretamente entre as pessoas físicas, dada a ficção jurídica da sociedade individual. Indenização que necessita de comprovação da ofensa sofrida, ônus que cabia à autora, mesmo sob a égide do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que esse não afasta a obrigação de comprovar os fatos mínimos constitutivos de seu direito (art. 373, I do CPC/15). Ausência de real penetração de conduta ilícita e indevida a personalidade humana. Honradez não atingida. Hipótese de mero aborrecimento, tédio ou desconforto. Danos morais não configurados. Sentença mantida. Recurso desprovido.

Da r. sentença (fls. 76/78) que julga improcedente a ação de danos morais; apela a autora postulando a reforma do julgado.

Em suas razões recursais (fls. 83/91), alega que a ré publicou conteúdo aviltante na rede social Facebook, em conteúdo público, fato que gerou dano moral.

Sustenta que a cobrança referente ao valor do serviço prestado pela ré (elaboração de convites de festa infantil) foi vexatória e expôs a apelante a humilhação. Aduz que pouco importa se a dívida foi paga ou não, ou seja, o mérito não diz respeito ao débito, mas sim a forma a qual foi cobrado, nitidamente contrariando o disposto no art. 42 do CDC. Pede o provimento.

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Recurso isento de preparo e respondido (fls. 94/99).

Não houve oposição ao julgamento virtual (fls. 104).

É o relatório.

Constou dos autos a alegação da autora de que teria sido exposta a situação humilhante em função de cobrança vexatória realizada pela ré na rede social “Facebook”.

A autora relata que, em dezembro de 2015, contratou os serviços da apelada, para elaboração de convites de aniversário de sua filha, ficando ajustado o valor de R$ 104,00.

Por motivo financeiro, aduz que não pode realizar o pagamento, embora os convites estivessem prontos.

Alega que em abril de 2016 a apelada publicou o seguinte conteúdo em seu mural da rede social “Facebook”, fato que veio a afetar sua moral e sua reputação, verbis:

“Ana, não tenho mais como falar com você porque pra você é mais importante pagar os outros do que me pagar, não gostei de saber o que aconteceu ontem, quero saber até quando você vai ficar me enrolando, em novembro quando fiz os convites do aniversario da sua filha você veio bem boazinha, agora em abril quando eu mando receber você mostra as suas garrinhas... tenho seu contrato aqui assinado, não é brincadeira, se você dá o passo maior do que a sua perna não tenho culpa, já cansei de pessoas como você. Quero saber que dia você vem me pagar” (fls. 14)

Pois bem.

De plano, necessário pontuar que a ré é empresa individual (MEI) que, revestida pelo véu da ficção jurídica, leva o nome da Sra. Dolores Laurito Paes, pessoa física responsável

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pela publicação.

Com efeito, cinge-se a apelante na tese de aplicação do art. 42 do CDC à hipótese. Referido texto legal possui a seguinte redação, verbis:

“Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.”

Malgrado o descumprimento de preceito legal enseje, em tese, a responsabilidade civil objetiva, é certo que em situações como a narrada nos autos incabível a indenização moral pretendida se não provado o dano, vez que não se trata de dano in re

ipsa.

Para a ocorrência de dano moral, tal e qual na espécie, seria necessária a comprovação da real repercussão pública vexatória da autora em seu círculo social ou mesmo na própria rede social, ônus no qual não se desincumbiu (art. 373, I do CPC/15).

Não há nos autos qualquer prova de que o conteúdo tenha ganhado repercussão negativa no meio social da autora (art. 42 do CDC).

Na mesma direção, nada induz que tenha a autora passado a ser reconhecida como devedora contumaz entre as pessoas de seu rotineiro convívio, tampouco que a publicação fora realizada com conteúdo ameaçador.

Outrossim, não se verifica nenhuma conduta pública vexatória, humilhante ou depreciativa em face à sua honradez e dignidade humana, tampouco lesão a qualquer das faces dos direitos da personalidade do autor.

Nessa medida, tal mensagem, ainda que publicada no “mural” da apelante, com visibilidade para seus “amigos virtuais”, não alcançou comprovada repercussão negativa, essa sim capaz de gerar o dano extrapatrimonial correspondente.

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Na hipótese, portanto, as manifestações não promoveram a real penetração da conduta ilícita e indevida na esfera da personalidade humana da recorrente, marcando-se, ainda, que a apelada restringe-se à cobrança de contrapartida contratada e não se utiliza de palavras caluniosas ou injuriosas.

É de rigor que se compreenda que a chave funcional do dano moral está no princípio constitucional e fundamental da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da Constituição Federal).

A espécie é de mero aborrecimento, tédio ou desconforto, sendo certo que a banalização do dano moral deve ser evitada, a bem do próprio e tão relevante instituto civil-constitucional.

Nessa linha, ensina o emérito e saudoso Professor ORLANDO GOMES que o dano moral é definido como o

“constrangimento que alguém experimenta em consequência de lesão a direito personalíssimo, ilicitamente produzida por outrem” (Obrigações, 5ª ed. n. 195, p. 22).

O mero incômodo, enfado, aborrecimento, tédio ou o desconforto de algumas circunstâncias que são suportadas pela pessoa humana não são passíveis de indenização por danos morais, sob pena de, ao revés, vulgarizar-se esse tão importante capítulo do direito moderno.

A decisão não destoa dos seguintes

precedentes deste E. Tribunal de Justiça:

“AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C.C. DANOS MORAIS. Sentença que julgou procedente em parte o pedido inicial. Apelação da autora, reiterando a condenação da requerida ao pagamento de indenização pelos danos morais.

Impossibilidade. Ausência de comprovação de

cobrança vexatória. Inexistência de negativação junto aos órgãos de proteção ao crédito. Dano moral inocorrente. Sentença mantida. Recurso não provido.” (TJSP; Apelação 1002935-82.2013.8.26.0020; Relator (a): Marcos Gozzo; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional XII - Nossa Senhora do Ó - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 13/09/2017;

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Data de Registro: 15/09/2017)

“Cobrança vexatória. Indenização por danos morais. Aplicação da legislação consumerista. Impossibilidade de inversão do ônus da prova. Ausência de verossimilhança. Dano moral não comprovado. Autora que não se desincumbiu do ônus do artigo 373, I do CPC. Sentença mantida. Recurso improvido.” (TJSP;

Apelação 1001349-34.2015.8.26.0539; Relator

(a): Walter Cesar Exner; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado; Foro de Santa Cruz do Rio Pardo 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 13/09/2017; Data de Registro: 13/09/2017)

“DANO MORAL. DEMORA ENCERRAMENTO

SERVIÇOS DE TELEFONIA. MÁ-PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. MERO ABORRECIMENTO. 1. Restou incontroverso que a ré demorou quase 03 (três) meses para proceder ao encerramento do contrato celebrado entre as partes. E que nesse tempo procedeu a cobranças reiteradas para pagamento de serviços não disponibilizados. 2. Os propalados danos morais, contudo, não restaram configurados. Por não se tratar de dano in re ipsa, a autora deveria fazer prova do dano causado pela demora no encerramento. As ligações de cobrança não podem ser consideradas

vexatórias. Conclui-se, então, que a autora

experimentou aborrecimento, decepção e frustração das expectativas, mas não a tal ponto de causar abalo psíquico passível de indenização, considerada a suscetibilidade do homem médio. Recurso não

provido.” (TJSP; Apelação

1012759-25.2016.8.26.0161; Relator (a): Melo

Colombi; Órgão Julgador: 14ª Câmara de Direito Privado; Foro de Diadema - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 04/09/2017; Data de Registro: 04/09/2017)

Irretocável, portanto, a r. sentença.

Por esses fundamentos, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.

RÔMOLO RUSSO

Referências

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