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REGENERAÇÃO NATURAL EM ÁREAS DEGRADADAS COM ENFOQUE NA CAPACIDADE DE RESILIÊNCIA DAS ESPÉCIES LENHOSAS DO CERRADO

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Academic year: 2021

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REGENERAÇÃO NATURAL EM ÁREAS DEGRADADAS COM ENFOQUE NA CAPACIDADE DE RESILIÊNCIA DAS ESPÉCIES LENHOSAS DO CERRADO Ayuni Larissa Mendes Sena1, 2, José Roberto Rodrigues Pinto1, 3 (1Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Florestal, CP 04357, CEP 70919-970, Brasília – DF;

2Graduando em Engenharia Florestal, ayunisena@gmail.com; 3Professor, jrrpinto@unb.br)

Termos para indexação: recuperação, áreas degradadas, regeneração, reprodução sexuada/vegetativa

Introdução

Foram necessárias cerca de cinco décadas de ocupação antrópica intensa para que a vegetação nativa do Cerrado fosse reduzida a menos da metade da sua área original (Henriques, 2003). Segundo relatório do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007a) restam, atualmente, 46,74% de áreas naturais preservadas neste bioma. As pressões exercidas sobre a vegetação do Cerrado são grandes. No Distrito Federal, estas pressões ocorrem principalmente devido à urbanização desordenada, a constantes invasões de terras públicas e à conseqüente expansão da malha viária, além da ocupação agrícola e da ocorrência de queimadas ilegais.

De acordo com o MMA (2007b), a recuperação de áreas degradadas é a segunda ação mais recomendada para conservação do Cerrado, sendo que, das 431 áreas prioritárias para conservação, 34% delas necessitam ser recuperadas. Neste contexto, a recuperação de áreas degradadas é de grande importância ambiental e sócio-econômica, sendo necessária devido ao mau uso dos recursos naturais. É preciso que haja mais estudos sobre a dinâmica da regeneração natural visando a entender os processos que envolvem a capacidade de resiliência das espécies lenhosas do Cerrado e assim, aprimorar técnicas empregadas na recuperação de áreas degradadas com o uso de espécies nativas.

Resiliência é a capacidade de um ambiente absorver distúrbios sem que mude qualitativamente seu comportamento, enquanto a condição de equilíbrio é modificada (ACIESP, 1997). Estudos têm demonstrado que o grau de resiliência depende das características de cada espécie, estando, portanto, em função, não do desenvolvimento da comunidade em si, mas das espécies em particular (Halpern, 1988). Assim, a resiliência de

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um ecossistema é avaliada pelo tempo que ele levará para retornar à condição inicial, ou próxima a esta (ACIESP, 1997).

O objetivo deste estudo é avaliar a regeneração natural da vegetação nativa do Cerrado, analisando seu comportamento em áreas sob diferentes tipos de interferência antrópica. A partir do conhecimento dos processos de revegetação espontânea e da identificação das espécies com maior potencial de colonização de sítios alterados, espera-se contribuir para a melhoria das técnicas de recuperação das áreas degradadas neste bioma. Material e Métodos

O estudo foi realizado em áreas de cerrado sentido restrito, localizadas na Área de Proteção Ambiental – (APA) Gama e Cabeça de Veado, Distrito Federal. Foram selecionadas uma área controle (não perturbada) e três áreas com diferentes tipos de distúrbios comuns no DF (fogo, depósito de entulho e empréstimo de subsolo). A área queimada sofreu incêndio no fim da estação seca (setembro/2005). Na área de empréstimo, a camada superficial do solo apresentava alto nível de compactação, assim como a área de deposição de entulho, onde havia invasão por espécies exóticas, principalmente gramíneas, e grande quantidade de lixo e resíduo de construção civil.

Em cada tratamento e na área controle foram amostradas quatro parcelas contíguas de 20 × 50 m, demarcadas aleatoriamente. Nessas unidades amostrais, fez-se o levantamento das espécies lenhosas em regeneração natural, mensurando o diâmetro da base e a altura total dos indivíduos regenerantes com altura ≤ 1,0 m. Para cada área foram calculados o índice de valor de cobertura (densidade e dominância relativas), a riqueza, o índice de diversidade de Shannon (H’) e o de eqüabilidade de Pielou (J’), com auxílio do programa Mata Nativa 2.

A forma de regeneração foi classificada em assexuada (rebrota de raízes) e sexuada (formação de plântulas via germinação de sementes), identificada em campo através de diferenciação morfológica, escavação superficial com pá de jardinagem (até 10 cm) e, principalmente, diâmetro do coleto. De acordo com Hoffman (1998) a regeneração natural por rebrota apresenta, em geral, indivíduos de maior tamanho.

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Resultados e Discussão

Foram amostrados 7.238 indivíduos regenerantes (altura ≤ 1,0 m), distribuídos em 64 espécies. A densidade variou de 8.820 ind.ha-1, na área controle, a 225 ind.ha-1, nas áreas de empréstimo e de deposição de entulho. A área queimada apresentou densidade, riqueza e diversidade de espécies lenhosas semelhantes à área controle. Baixos valores para estes parâmetros foram registrados nos outros dois tratamentos (Tabela 1).

Os baixos valores registrados nas áreas de empréstimo e de deposição de entulho provavelmente estão associados a semelhanças nas condições ambientais locais, sobretudo a alta compactação do solo. Por outro lado, na área queimada, a vegetação recuperou riqueza, diversidade de espécies e número de indivíduos em pouco tempo após a passagem do fogo, cerca de seis meses, fato que pode ser explicado pela alta adaptabilidade da vegetação do Cerrado a este tipo de perturbação (Miranda et al., 2004).

Tabela 1. Características dos regenerantes (altura ≤ 1,0 m) nas áreas controle e tratamentos (fogo, entulho e empréstimo) amostrados em áreas de cerrado sentido restrito (parcelas de 20 × 50 m), APA Gama e Cabeça de Veado, DF. N = número de indivíduos, S = número de espécies, H' = índice de diversidade de Shannon e J' = índice de eqüabilidade de Pielou.

N S H' J'

Controle 3.528 56 3,03 0,75

Fogo 3.530 54 3,04 0,76

Entulho 90 9 1,80 0,82

Empréstimo 90 8 1,02 0,49

Em geral as espécies com maior valor de cobertura (Tabela 2) registradas nas quatro áreas foram semelhantes àquelas descritas por Nunes et al. (2002) para vegetação adulta em áreas de cerrado sentido restrito no Distrito Federal. No entanto, em termos florísticos, estas perturbações causam grande impacto sobre a resiliência da vegetação lenhosa do Cerrado, já que muitas espécies comuns às áreas de cerrado sentido restrito bem preservado (Nunes et al., 2002) ainda não recolonizaram as áreas de empréstimo e de deposição de entulho. Diversos autores têm mencionado como principais empecilhos à regeneração o alto grau de compactação do solo, a retirada da camada superficial rica em matéria orgânica e a invasão por espécies exóticas agressivas, principalmente gramíneas (Pivello et al., 1999; Martins et

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al., 2004). Segundo Haridasan (2000), devido à baixa fertilidade natural do solo, a vegetação nativa do Cerrado é muito dependente da ciclagem de nutrientes em solos bem estruturados.

A reprodução vegetativa foi a principal estratégia de regeneração nas áreas perturbadas, pois 90% das espécies apresentaram mais de 80% dos indivíduos regenerantes a partir de rebrota de raízes (Tabela 2). Nas áreas com histórico de fogo, é comum encontrar maior número de brotações em comparação às áreas preservadas, pois a queima estimula a rebrota de raízes nas plantas do Cerrado (Ramos, 1990), confirmando os resultados encontrados. De acordo com Rizzini (1965), quanto maior o nível de degradação do Cerrado, maior será a ocorrência de reprodução vegetativa. Isto pode justificar o fato de que nos tratamentos deposição de entulho e área de empréstimo, todas as espécies se regeneraram naturalmente apenas por rebrota de raízes. Assim, a reprodução vegetativa parece ser o fator que mais contribui para a resiliência do cerrado sentido restrito, tendo influência significativa no recrutamento das espécies e na manutenção desta vegetação (Hoffman, 1998).

As espécies Casearia sylvestris, Dalbergia miscolobium, Kielmeyera coriacea,

Ouratea hexasperma e Salacia crassifolia foram consideradas as mais resilientes, por

ocorrerem na maioria das condições ambientais avaliadas. Estas espécies podem ser indicadas em projetos de recuperação, face sua alta capacidade de recolonização de áreas perturbadas. Tabela 2. Freqüência do tipo de reprodução (%) e índice de valor de cobertura dos indivíduos regenerantes (altura ≤ 1,0 m) amostrados em parcelas de 20 × 50 m em áreas de cerrado sentido restrito, APA Gama e Cabeça de Veado, DF. As espécies estão em ordem alfabética do nome científico. Veg. = reprodução vegetativa e Sex. = reprodução sexuada.

Tipo de Reprodução (%) Espécie

Veg. Sex.

Controle Fogo Entulho Empréstimo

Acosmium dasycarpum 100 0 10,98 1,60 - 4,44 Aegiphila sellowiana 100 0 - - 13,08 - Agonandra brasiliensis 100 0 0,46 0,10 - - Aspidosperma macrocarpon 98,15 1,85 0,64 2,17 - - Aspidosperma tomentosum 100 0 6,14 7,42 - - Blepharocalyx salicifolius 100 0 0,72 4,16 - 1,35 Bowdichia virgilioides 100 0 - 0,06 - - Brosimum gaudichaudii 100 0 0,80 0,45 - -

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Byrsonima coccolobifolia 100 0 1,98 1,54 - - Byrsonima pachyphylla 100 0 1,29 1,07 - - Byrsonima sp. 100 0 0,36 - - - Byrsonima verbascifolia 100 0 1,60 1,07 - - Caryocar brasiliense 83,68 16,32* 3,10 9,84 - - Casearia sylvestris 99,48 0,52 2,74 4,80 21,91 2,22 Connarus suberosus 100 0,47 8,43 4,15 - 12,97 Dalbergia miscolobium 93,61 6,39* 20,10 17,99 27,58 2,13 Davilla elliptica 100 0 0,38 1,30 - - Dimorphandra mollis 54,54 45,45 0,41 0,12 - - Diospyros burchellii 97,15 2,85 2,55 1,77 - - Enterolobium gummiferum 100 0 0,98 0,81 - - Eremanthus glomerulatus 100 0 0,65 0,25 - - Eriotheca pubescens 100 0 0,84 6,38 - - Erythroxylum deciduum 100 0 3,17 1,55 - - Erythroxylum suberosum 98,88 1,12 5,57 1,76 - - Erythroxylum tortuosum 100 0 2,71 0,87 - - Guapira noxia 100 0 0,25 0,61 4,19 - Hancornia speciosa 100 0 0,20 - - - Heteropterys byrsonimifolia 100 0 - 1,21 - - Himatanthus obovatus 100 0 0,50 0,18 - - Hymenaea stigonocarpa 100 0 0,24 0,61 - - Kielmeyera coriacea 96,27 3,73* 29,90 50,78 31,44 - Kielmeyera speciosa 40,00 60 0,16 - - - Lafoensia pacari 100 0 0,64 0,28 - - Machaerium acutifolium 98,00 2 6,55 0,56 - 1,35 Machaerium opacum 100 0 - 0,04 - - Miconia albicans 80,00 20 0,10 0,07 - - Miconia ferruginata 100 0 - 0,08 - - Miconia ferruginea 100 0 0,43 - - - Miconia pohliana 100 0 0,64 - - - Mimosa claussenii 100 0 1,23 3,10 - - Ouratea hexasperma 100 0,26 11,88 22,55 56,50 121,33 Palicourea rigida 100 0 3,89 1,00 - - Piptocarpha rotundifolia 97,06 2,94 0,27 2,00 - - Plenckia populnea 100 0 1,50 0,14 - - Pouteria ramiflora 100 0 3,33 1,58 - - Pterodon pubescens 100 0 0,68 0,48 - -

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Qualea grandiflora 93,49 3,51 5,12 4,66 - - Qualea multiflora 100 0 2,76 4,51 - - Qualea parviflora 100 0,23 14,75 10,50 - - Qualea sp. 100 0 0,03 - - - Rapanea guianensis 100 0 0,59 - - - Roupala montana 97,27 2,73* 27,76 5,56 4,13 - Salacia crassifolia 100 0 1,37 3,13 29,44 54,22 Schefflera macrocarpa 83,68 16,32 0,35 2,91 - - Sclerolobium paniculatum 100 0 - 0,27 - - Solanum lycocarpum 100 0 - - 11,73 - Strychnos pseudoquina 100 0 0,04 0,63 - - Stryphnodendron adstringens 95,63 4,37 2,72 6,71 - - Styrax ferrugineus 100 0 0,42 2,52 - - Tabebuia ochracea 100 0 3,31 0,32 - - Tocoyena formosa 100 0 1,10 1,46 - - Vatairea macrocarpa 100 0 - 0,30 - - Vochysia elliptica 100 0 0,60 0,04 - - Vochysia thyrsoidea 100 0 0,13 - - -

* Inclui as plântulas encontradas na área queimada capazes de rebrotar após o fogo.

Conclusões

A semelhança florística e estrutural entre as áreas controle e com fogo indica que o cerrado sentido restrito possui alta resiliência a este distúrbio, certamente devido às adaptações das espécies em resposta ao longo histórico de queimadas no bioma. Porém, possuem baixa capacidade de regeneração frente a outros distúrbios mais severos, provavelmente devido à remoção e à compactação do solo. As espécies registradas com freqüência e valor de cobertura altos nas quatro áreas podem ser indicadas para recuperação, devido à sua elevada resiliência. Tais espécies são semelhantes àquelas indicadas por Nunes et al., (2002) para plantios de recuperação, corroborando com os resultados deste estudo. Agradecimentos - Somos gratos ao Sr. Newton Rodrigues pelo acompanhamento e ajuda na identificação botânica, a todos que ajudaram na coleta dos dados no campo, em especial Kennya Mara Oliveira Ramos, e à FINATEC pelo apoio financeiro.

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Referências

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