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GORZ, A - Adeus Ao Proletariado

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Academic year: 2021

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(1)

Autor: Gorz, Andre,

1924-a

523038 Ac. IIOOO BCME

(2)

305.562 G69a

ANDRE GORZ

N.Cham. 305.562 0691'

Autor: Gorz, Andre, IAdie

Titulo: Adeus ao proietariado: para at

111111111111

I1I11111I \\11

00523C3 8 Ac 1l!l(lO

ADEUS AO

PROLETARIADO

Para aMm do socialismo

Traduriio de

ANGELA RAMALHQ VIANNA e Sf:RGIQ GOES DE PAULA

FORENSE-UNIVERSIT ARIA

Rio de J anei ro - I _ _ _ I

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(3)

PrlmeirM eLllclio bra.ileirll: 1982 Trudul.ldo de: Adieux au Proletariat COJ'lyriehl @ Editions Galilee, 1980

TruduCilo de: Angela Ramalho Vianna .e Sergio GOes de Paula

Capa de: Leon Algantis

I

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eIP-Brasil.

Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Gorz. Andre.

069a Adeus ao proletariado: para alem do socialismo I Andre

82-0759

Gorz; de Angela Ramalho ViaDna e Sergio G6es de Paula. - Rio de Janeiro: Forense Universitaria. 1982.

de: Adieux au proletariat: au dela du socialisme. Anexos.

1. Proletariado I. l1tul0.

coo -

323.3

COU - 323.33

Reservados os direitos de propriedade desta pela EDiTORA FORENSE-UNIVERSITARJA

Av. Erasmo Braga, 221 - Gr. 309 - Rio de Janeiro

Printed. in Brazil

Impressa no Brasil

A DORINE more than ever

(4)

,

SUMARIO

Prefacio

a

presente edi<;ao, 9 I. Adeus ao proletariado, 23 / 24 J ntrodu,lio, 25

1. 0 proletariado segundo Sao Marx, 27

Da teofania hegeliana

a

religUlo do proletariado, - A cons-ciencia separada, - N as raizes do espirito de ortodoxia. 2. A impossivel apropria<;ao coletiva, 34

Do artesanato ao trabalho geral abstratO, - 0 proletariado ideal em busca de existencia, - Os parenteses dos anarco-sindicalismos, _ 0 Proletariado, potencia separada dos prole-tarios, - Da disciplina da fabrica 11 ideologia militar, -

Apro-ou recusa dos grilhoes d.

3. 0 proletariado como decalque do Capital, 46

A repressao em nome d. classe, - Oa ao ressenti-mento, - A demanda de Estado, - A soeiedade deslocada, - A evanesceneia do sujeito.

Poder open'irio?, 57

Do controle operario da A organiza<;iio palronal do lrabalho, - 0 poder deixa a fabrica, - A experiencia dos conselhos de - 0 universo do nao-poder, - 0 poder

e

0 organograma.

II. Poder pessoal e poder funeional, 67/ 68

o

empresario shumpeleriano, - Do sueesso dos mais capazes 11 predetermina<;iio das fun<;oes, - Todo 0 poder ao aparelho, - 0 bumerata, - 0 FiJhrer liberta do sistema: a tenta,iio

fas-cista, - Do populismo ao Estado total, - Poder e revolu<;iio. Ill. Para al6m do socialismo, 83/84

(5)

I.

2.

3.

Morle e ressurrei,fio do sujeilo hist6rico: a nao-classe dos pro-ICI6rios p6s-industriais, 85

D. do trabalho

a

das classes, - A sub-jelividode liberada: a niio-sociedade.

A revolu,Ao p6s-indusrrial, 94

A primazia do indivfduo, - A sociedade como

ex-lerior, - Uma 0 Plano democnitico,

-Liberar 0 tempo, - p6s-industrial e feminismo.

Por uma soeiedade dualista, 110

II) Imperativo t';cnico e exigencia moral, 110

o

indivfduo irredutfvel, - Regras sem moral, moral sem re-gras, - A moralidade nao

e

possfvel sem autonomia. b) Autonomia e heteronomia pratieas: as duas esferas, 115

o

trabalho heteronomo a da alividade autonoma:

MarK e Illich, - A dualista do

-Da socializa,ao do saber

a

do trabalho. - Limi-les do autogestao, - Pela efieacia, con Ira 0 autarquia,

dioletica das duos es(eras: a alternAncia. 4. A esfera da necessidade: 0 Estado, 126

A exponsao da esfera da necessidade: 0 crescimento dos

apa-relhos, - Falsas da necessidade: a sublima,ilo reli-giosa: 0 Dever de Amor; a Famflia, - A necessidade deli-mitada: 0 Direito, 0 Estado, 0 Plano, - A contradi,iio

per-manente das duas esferas: 0 (vazio) do poUtico.

Posfacio, 142 Anexos, 149/150

I. "Os desgastes do progresso", lSI

II. a) A idade de ouro do desemprego, 158 b) Viver sem trabalhar?, 173

m.

Informatica: qual soeiedade?, 181

IV. Trabalhar menos ... e viver melhor (Michel Rolanl), 190 V. Uma utopia dualista, 196

,.,

..

Nave teses para uma esquerdo futuro

Preflicio

a

presente ediciio

Esle livro

e

urn ensaio no sentido pr6prio do termo. Tenta des-cobrir orienta,6es e temas em torno dos quais poderia renascer uma esquerda portadora de futuro, nao de nostalgia. Nao pretende ter resposta para todas as questiies que levanta.

1. 0 tema central

e

a liberdade do tempo e a aboli,ao do tra-balbo. ,Esse tema

e

tao antigo quanto 0 pr6prio trabalho. No sentido ,1"-" .

em que 0 entendemos atualmente, 0 trabalho nem sempre existiu: apareceu com os e com os prolellirklS. Atualmente desig-na uma atividade que se exerce: 1) por conta de urn terceiro; 2) em troca de urn salllrio; 3) segundo (ormas e honirios fixados por aquele que paga; 4) visando fins que nilo sao escolhidos por quem o executa. 0 trabalhador agricola da horticultura executa urn "traba-lho"; 0 mineiro que cultiva seu alho no quintal realiza uma

ativida-de livre.

"Trabalho" (que, como 50 sabe, vern de IripaJjuml ) hoje em

dia designa praticamente apenas uma atividade assalariada. Os ler-mos "trabalho" e ':cmpreg"," tornaram-se equivalentes: 0 trabalho

1 Apare1ho dotado de trj s est@,cas cujo acionamento torturava 0 operador. 9

(6)

nlio

e

mais alguma coisa que se

taz,

mas algo que se tern. Fala-se "procurar trabalho" e "arranjar trabalho" tanto quanta "procurar emprego" e "arranjar emprego".

Atividade obrigatoria, heterodeterminada, hete<eonoma, 0

tra-balho

e

percebido pela maioria dos que 0 procuram e dos que 0

"tern" como uma venda de tempo cujo objeto pouco importa: tra-balha-se "na Peugeot" ou Hna Boussac" e nao "para

fazer"

autom6-veis ou fazendas. "Tem-se" urn born ou urn mau trabalho antes de

... C'

mais nadllc59nfQrme 0 que se garihe; sO depois

e

que se pensa na

natureza das tarefas e nascondi,oes de sua realiza,lio. Pode-se ter urn "born" trabalho na industria de armamentos e urn "mau" traba-Iho Il\Im centro de tratamento medico.

SOtrabalho nao e a Iiberdade porque, para 0 assalariado como

para 0 patrao, 0 trabalho e apenas urn meio de ganhar dinheiro e

nao uma atividade com lim em si mesma.

:e

claro que todo trabalho, mesmo 0 trabalho em Iinhas de montagem, supoe que os operarios

coloquem algo de seu: se recusam, tudo para. Mas essa liberdade ne-cessaria ao funcionamento da oficina e ao mesmo tempo negada, re-primida pela organiza9ao do trabalho. Essa

e

a razao pela qual a ideia de que

e

preciso que nos Iiberemos no trabalho e nao somente do trabalho, do trabalho e nlio somente no trabalho e tlio antiga quanto 0 proprio regime de assalariamento. Aboli,ao do trabalho _

aboli,ao do assalariamento: duas coisas que, na epoea her6ica do movimento openirio, eram sinonimas ..

2. Entre trabalho assalariado

l,

atividade autodeterminada existe a mesma diferen,a que entre valor de troca e valor de uso: o trabalho

e

leito principal mente visando a urn salario que consa-gra sua utilidade para a sociedade e que da direito a uma quanti-dade de trabalho social equivalente 11 que se fornece. Trabalhar poi' urn salario e, portanto, trabalhar para poder comprar

a

sociedade! em seu conjunto 0 tempo que se Ihe forneceu.

A atividade autodeterminada, em contra partida, nao lem como finalidade principal a troea do meu tempo contra 0 tempo dos

outros: ela e, em si mesma, seu proprio lim quando se Irata de atividades eslelicas (enlre as quais os jogos, inclusive os jogos do amor) ou artisticas; quando se Irata de atividades produtivas, eria

,

.

objetos destinados ao consumo ou

a

utiliza9ao das proprias pessoas que as produzem ou das que lhes sao tao proximas.

A aboli,ao do trabalho sO

e

libera,ao quando permite 0

desen-volvimento das atividades autonomas.

Abolir 0 trabalho nlio signilica, por conseguinte, abolir a

ne-cessidade do eslor,o, 0 desejo de atividade, 0 amor

a

obra, a neces- .

sidade de cooperar com os outros e de se tornar uti! 11 coletivida\le. Ao contrario: a aboli,lio do trabalho e apenas a supressao progres-siva, e que jamais sera total, da necessidade em que estamos, de comprar nosso direito 11 (praticamente sinonimo de direito ao sala-rio) alienando nosso tempo, nossa vida.

Abolir 0 trabalho e liberar 0 lempo - liberar 0 tempo para

que os individuos possam se tornar senhores de seu corpo, do em-prego que fazem de si mesmos, da escolha de suas proprias ativida-des, de seus objetivos, de suas obras - sao exigencias a que 0

"di-reito

a

pregui,a" deu uma tradu,ao inlelizmente reducionista. A exigencia de "trabalhar menos" nao tern por sentido e por finali-dade "descansar mais", mas Hviver mais", 0 que quer dizer: poder realizar por si mesmo muitas coisas que 0 dinheiro nlio pode

com-prar e mesmo uma parle das coisas que ele atualmente compra. Nunca essa exigencia foi tlio atual e isso por urn conjunto de razoes que retroagem umas sobre as outras, refor,am-se e se legi-timam mutuamente.

3. A mais imediatamente perceptivel

e

a seguinle: a aboli,ao do trabalho

e

urn processo em curso e que parece acelerar-se. Para cada urn dos tres principais paises induslrializados da Europa Oci-dental, institutos independentes de prevlsao economica estimaram que a automatiza,lio ira suprimir, no espa,o de dez anos, enlre qua-tro e cinco mi!hoes de empregos, a menos que haja uma revisao prolunda da dura,ao do trabalho, das linalidades da atividade e de sua natureza. Keynes esta morto: no contexto da crise e da revo-IUl'ao tecnologiea atuais,

e

rigorosamente impossivel restabelecer 0

pleno emprego por urn crescimento economico quantitativo (2). A

2 yer, mais adiante. Anexo

(7)

'=""'---alternativa est. entre as duas formas de gerir a do traba-lho: a que leva a uma soeiedade ,do. desempregD, e a que leva a uma sDeiedade do. tempo. liberadD.

-'x::

do. a que vem prQgressivamente se I

instalandQ sob nOSSQS olhQs: de um ladQ; uma massa crescente de permanentes; de Qutro, uma aristocracia de lraba-JiJ_,?tegi<!os; entre 'os dQis, um proletariado de trabalhadQ-que cumprem as tarefas menQS qualificadas e mai. ingratas.

A soeiedade do tempo liberadQ se apenas nos intersti-cios e como contraponto da soeiedade presente: baseia-se no princi-pio do "trabalhar menos para todos trabalharem e ter mais ativida-des PQr conta propria". DitD de outra maneira, 0. trabalho social-mente uti!, distribuido entre todos QS que desejam trabalhar, deixa de ser a exclusiva ou prineipal de cada urn: a

principal pode ser uma atividade QU um cQnjunto de atividades autDdeterminadas, levadas a efeitD nao pDr dinheirD, mas em raziio do do. prazer QU da vantagem que nela se possa encDntrar.

A maneira de gerir a do trabalho e 0 controle sDeial

desse processo serao questaes politicas fundamentais dos proximos deccnios,

4. A gestae social da do trabalhe sup6e que sx' po-nha urn fim

a

cenfusiie que, seb a influeneia de keynesianisme;' ins-taureu-se entre "direite ae trabalhe" e:

I) direite a urn emprege assalariadQ; 2) direitQ a urn rendimente;

3) direite a criar vale res de use;

4) direite de ter acesso aos instrumentes que pessibilitam a de valeres de USQ.

A necessidade de dissQciar 0. "direitQ a um empregQ" do. direi-to a urn rendimendirei-to ja era .nos prim6rdiQs da segunda revo-industrial (a do tayIQrismd). Tal CQmo agera, naquela ePQCa pareeia que a do. tempo de trabalho requeride para a do necessario exigia mecanismos de novos,

independentes das leis do mercado, como, alias, da "lei do valor": jli que era preciso que os produtos fabricados com quantidades mi-nimas de trabalho pude88em ser comprados, seria necessario distri-buir para a meiQs de pagamento , sem CQm 0. pre-de venda pre-de um trabalhQ. Ipre-deias CQmQ as pre-de Jacques Duboin, relativas a uma "moeda de e a rendimentos sociais garantidos por toda a vida, continuam a progredir sob diferentes formas, prineipalmente na Europa do Norte.

A sDcial da em das necessidades

e nao em da demanda selvente foi durante muite tempo uma da. principais exigencias da esquerda. Esta deixando progressiva-mente de s"-Io. Por si mesma, cern efeitD, naD pede levar senaD a que 0. Estado assuma total responsabilidade pelos individuosJ,:::O' direitD ao "rendimente social" (ou "salario soeial") sO abole par. ' . cialmente 0 "trabalho assalariado" em favor de urn

assala-riamentD sem trabalho. Substitui (ou completa, segundo 0 case)

a"

pela assisteneia, perpetuandD a dependencia, a impot"n-cia e a dos individues com ao poder central<=: / '

Essa sO sera supenda se a de valeres c,-,

de uso vier a se tamar uma possibiJidade real para todos. M'

Sera menos cern ae "salario seeial" de que cern rela-ao direito

a

que se fara, no. futuro, a clivagem entre "direita" e "esquerda". 0 direite

a

auteprodu9iio • fundamen-tal mente 0 direite, para cad a cemunidade de base, de produzir ela mesma pelo menes uma parte des bens e des que censeme, .em que, para isso, tenha que vender seu trabalho aos detentores de meies de produ9iio ou de terceires.

o

direito

a

supoe 0 direito de acesse aes ins-(' 'trumentos de trabalhe e a convivencialidade destes". E incempa-, Ilvel cern menopoliDs industriaisincempa-, comereiais eu profissionaisincempa-,

pri-/

' vldes eu publicos. Tem por consequencia fazer a de mer-, cadorias e a venda de trabalho em prDveite d. autonDma,

) Por aos instJUmentos programados, Ivan IIIich chama de c;unvivenciais -os inslrumentos que "favorecem a aptidao de cada urn 8 busear

objctivos segundo Sua maneira propria. inimitavcl ".

(8)

!undada sabre a voluntaria. a troca

d.

ou 8 ati-vidade pessoal' ,

A se desenvolvera em todos 08 domlniol om que

a valor de usa do tempo se revelar superior ao seu valor de troca : isto e, onde 0 que se pode fazer por conta pr6pria num tempo de-terminado valer mais do que 0 que se compraria caso se tivcsse que trabalhar durante esse tempo em troca de urn salario,

S6 quando acompanhada pelas possibilidades efctivas de

auto-a do tempo estimulara a da 16gica

capitalis\a, 0 enfraquecimento do assalariarnento e das rela96es de mercado, Possibilidades efetivas de nilo podem, evi-dentemente, existir para todos sem uma politica de equipamentos coletivos que tenha por finalidade a sua existencia,

4 , a , Atividade autonoma Dao deve ser confundida com 0 "trabalho domestico", Tal como 0 demonstrou Ivan Illich" a n09;;0 de "trabalho domestico" s6 apareceu com urn tipo de divisao sexual do trabalho que e proprio do industrialismo: a civiliza9ao in-dustrialista aprisionou a mulher nas tarefas domesticas nilo direta-mente produtivas para que a homem pudesse dispor de todo 0 seu tempo de vigilia e despender toda a sua energia na fabrica au na mina, A atividade domestica da mulher, por isso, deixava de ser autonoma e autodeterminada : formara-se ao mesmo tempo

condi-e apcondi-endiccondi-e subaltcondi-erno do trabalho assalariado do homcondi-em, 0 qual, por sua vez, passava por essencial.

A ideia de que

e

conveniente "livrar" 0 trabalhador assalariado / das tarefas domesticas e de que estas siio tarefas vis, ao ,passo que o trabalho assalariado seria nobre, e pr6pria da ideologia capitalista, que a leva ate 0 limite do absurdo: leva em nlio 0

objeto, a sentido e a natureza de uma atividade, mas apenas sua remunera980 assalariada, Leva a que se considere como vii a ativi-dade da mulher "do lar" e como nobre essa mesma ativiativi-dade

quan-4 Sobre a importaocia da assocu .. voluntaria no pensamento cornu-nista HberUr1o, ver Claude Berger, Marr. /'ouociotion oUlIiere.

l'ollti·U-niM, Yen I'aboli,ion du sotcuiat. Paris, Payot, J974.

.5 Le travail janlomt . Paris .E:ditions du Seuil. 1981.

, , .;

do realizada para terceiro!' e em troca de salario em uma creche, Dum aviao au numa boite.

A medida que 0 tempo de trabalho diminui em favor do tempo livre, 0 trabalho heterodeterminado tende a se tornar aces-soria e as atividades autonomas tornam-se preponderantes, Uma

dos costumes e uma reviravolta do sistema de valores

ten-dem entao a conferir uma nova nobreza as atividades familiares ou "domesticas" e a abolir a divisao sexual das tarefas, Essa

esta sendo bern encarninhada nos paises protestantes, A da mulher nilo passa pela remunera9ao salarial do "trabalho

domes-ticoa", mas par uma associa¥ao e urna entre iguais no seio da familia ou da familia ampliada. em que todos dividissem

todas as tarefas, tanto dentro como fora de casa e que, se necessaria,

seriam feitos por turnos,

5 , A do trabalho nao

e

nem aceitavel nem desejavel para todos as que se identificam com seu trabalho, fazem dele a centro de sua vida e podem au esperam poder nele se realizar, 0 "sujeito social" da aboli9ao do trabalho nao sera, por conseguinte, a cam ada de trabalhadores profissionais, orgulhosos de seu o((cio, conscientes do poder real au virtual que ele Ihe confere, Para essa cam ada, que sempre foi hegemonica no movimento operario orga-nizado, a apropria9ao do trabalho, dos meios de trabalho e do poder sobre a prodm;ao permanece sendo 0 objetivo estrategico central.

Na medida em que mina 0 poder de classe dos trabalhadores sabre a e a possibilidade de estes se identificarem com 0 seu

tra-balbo (au mesmo de identifica-Io), a

e

percebida pel a camada de trabalhadores que tern urn oficio como urn ataque direto contra sua classe: sua principal

e

repelir esse ataque e nao desviar as meios com as quais a ataque

e

desfechado para finalidades opostas

as

de quem os ataca. A defesa do trabalho e de ,un nao 0 controle do modo de sua sera, por

conscientes do poder real au virtual que ele Ihe confere, Para essa }; por isso mesmo que ele se condena

a

defensiva,

. Que _ apenas levaria

a

da da "dona-de-casa " A,ela ahenacao da domestica, 0 sexual " da esposa pela prostiluiclo .

(9)

A do trabalho. em contra partida,

e

urn ornetivo cen-tral para aqueles que, nao importa 0 que tenham aprendido a fazer

acham que "seu" trabalho jamais podenl constituir para eles fonte de pessoal nem 0 conteudo principal de suas

vi-das - pelo menos enquanto "trabalho" for sinonimo de horarios flXOS, de taretas predeterminadas e de das compete .

de ass'd 'd d d nClas,

I UI a e urante meses e anos, de impossibilidade de ter ao mesmo tempo varias atividades, etc. Esses "al"rgicos ao trabalho" segundo a expressio do doutor Rousselet', nao devem ser co 'd'

rados . . nSI

c-como margmals. Nao constituem uma fran/'a' < " I

. . '" malOna rea

ou vlf!ual dos "ativos" que considera "seu trabalho . como urna ne-cessldade fastidiosa com a qual

e

impossivel envolver-se plenamente.

deve-se, em grande medida,

a

evo-do nivel cultural, por urn laevo-do, e evo-do tipo de qualifi-ea.ao requendo pela maioria dos empregos, por outro: os empre-tendem a "intelectualizar-se" (ou seja, a demandarem opera-.oes mentais do que manuais) sem que, com isso, estimulem ou sallsia,am as possibilidades inteleetuais dos "trabalhadores". Dai a impossibilidade destes se identificarem COm "seu" trabalho e se sentirem pertencer

a

c1asse operaria.

. A eSSa camada que vive 0 trabalho como uma obriga.iio

exte-nor pela qual "perde-s. a vida ganhando-a"; eu chamo de "nao-classe" de seu objetivo nao

e

a

a aboh;:ao do tr8balho e do trabalhador. E

e

por ioso que ola e do futuro: a aboli.iio do trabalho nlio tern outro sujeito socIal passlvel que nlio essa nao-c1asse. Nao infiro dai que ela jli seja capaz de assumir 0 controle do processo de aboli.iio do trabalho e de produzir uma soeiedade do tempo Iiberado. Mas digo que esta

:0.0

pode ser sem ela, nem contra ela, mas apenas por e om ela. A ob/e.ao segundo a qual nao se ve como essa "nao-c1asse" "tomara 0 poder" nao

e

pertinente: sua manifesta incapacidade de tomar 0 poder nao prova nem que a classe opeTliria seja capaz de

e 19;8. Jean Rousselet. L'A.llergje au Ircwail. Paris • .£ditions du S.:: uil. 1914 16

toma-Io (se fosse esse 0 caso, jli se saberia disso;' nem que 0 poder

deva ser lomodo, ao inves de redulo/do e controlado, senao abolido. 6. Considerar a "nao-classe" dos "nao-trabalhadores" como sujeito social potencial da aboli.iio do trabalho nao decorre de uma op.ilo ideol6gica ou etica: a nlio esta entre abolir 0 trabalho ou fazer renascer oficios completos em que cada urn possa se rea-Iizar. A escolha

e

entre a libertadora e socialmente contro-lada do trabalho ou sua aboli.iio opressiva e anti-social.

.e

impossivel, com efeito, inverter a evolu.ao geral (ao mes-mo tempo social, economica e tecnol6gica) de mes-modo a fazer renas-cer por toda a parte e para todos oficios completos, que assegurem

a equipes autonomas de trabalhadores 0 dominio da e do " produto ao mesmo tempo que a realiza.iio e 0 desenvolvimento

pessoal. 0 carater pessoal. do trabalho se perde necessariamente oa . medida em que 0 processo de produ.ao se socializa. Sua

socializa-.0.0

necessariamente engendra uma divislio do trabalho, uma nor-maliza.iio e uma dos instrumentos, dos procedimentos, ,

das tarefas e Mesmo que, seguindo a tendencia atual, unidades de produ.iio relativamente pequenas e descentralizadas substituam os mastodontes industriais do passado; mesmo que as ' tarefas repetitivas e embrutecedoras sejam abolidas ou, quando nlio possam sc-lo, sejam repartidas por toda a popula.ao, 0 trabalho so- -. cialmente necessario nunca sera comparavel

a

atividade dos mestres-artesaos ou dos artistas; uma atividade autodeterminada, de que cada pessoa ou equipe define soberanamente as modalidades e 0

objeto, 0 toque pessoal, inimitavel, que imprime sua marca parti-cular ao produto. A soeializa.ao da exige necessariamente que os microprocess adores, os rolamentos, as chapas ou os combus-liveis sejam intercambiaveis qua\quer que seja 0 lugar em que

te-nham sido produzidos e, portanto, que 0 trabalho, assim como as

maquinas, tenham, em qualquer parte, caracteristicas intercambiaveis. Essa intercambialidade, alias, " uma condi.lio fundamental para a redu.iio da dura.lio do trabalho e para a por toda a do trabalho social necessario. A proposta, tao velha quan-to 0 movimento operario, que pretende obter uma de 20%

na dura.lio do uabalho gra.as

a

admissiio de urn numero

correspon-11

(10)

dente de trabalhadores suplementares supOe implicitaD)ente a inter-cambialidade. dos trabalhadores e de seus trabalbos. Se

e

preciso que

I .000 pessoas trabalbando 32 boras possam fazer 0 trabalbo para

a qual bastariam 800 pessoas trabalhando 40 horas. esse trabalho naa deve exigir daqueles que a realizam qualidades pessoais insubs-tituiveis. Ao contrario. sao os adversarios patronais de uma redu-da do trabalho que a declaram tecnicamente impossivel sob 0 pretexto de nao haver numero suficiente de trabalhadores com

as qualidades exigidas.

A a e a divisilo do trabalba

silo. portanto. 0 que. a urn s6 tempo. permite a da

do trabalho e a torna desejavel; 0 trabalho de cada urn pode ser reduzido porque ha outros que podem realizti-Io em seu lugar. e deve ser reduzido para que se possa ter atividades diferentes, mais pessoais.

Dito de outro modo. a beteronomia do trabalho. conseqiien-cia de sua e de sua produtividade multiplicadas. tambem

e

0 que torna possivel e desejavel a libera\rao do tempo. a expansilo

das atividades aut6nomas. Acreditar que a "autogestao" possa tor-nar 0 trabalho complexo. pessoal e realizador para todos

e

uma

i1u-sao perigosa.

7 . Em toda sociedade complexi. a natureza. as modalidades e 0 objeto do trabalho silo. numa ampla medida. determinados por

necessidades sobre as quais os individuos e as equipes tern urn con-trole apenas fragil. );; verdade que podem conseguir "autogerir" as se\roes de autodeterminar as de trabalbo. code-terminar a das maquinas e a defini\rao das tarefas. Mas essas nlio fieam menos heterodeterminadas no conjunto pelo pro-cesso social de ou seja. pela sociedade. na medida em que ela mesma i uma grande mtiquina . . (abusiva-mente qualificado de "autogestao" operaria) na realidade consiste somente em autodeterminar QS modalidades de beterodetermina\rao;

as trabalhadores dividem-se e definem suas tarefas no contexto de uma divisilo de trabalho preestabelecida na escala da sociedade como urn todo. Nao definem eles pr6prios essa divisao do trabalbo nem as normas de usinagem dos rolamentos. por exemplo. Podem

elimi-inar 0 carater mutilante do trabalho mas nao conferir-Ihe um

cara-tcr de pessoal. Trata-se. ai. de uma inerente nao apenas

as

rela\roes de capitalistas. mas iI socializa\rao do I'r6prio processo de ao funcionamento de uma soeiedade l'omplexa. P9.de.ser· atenuada em seus efeitos. mas "ao pode ser suprimida.

Alias. esta s6 tern conseqUeneias totalmente negativas quando nao se reconbece sua realidade insuperlivel. E reconhecer sua reaUdade quer dizer. antes de mais nada ; reconhecer que nao pode baver coincidencia completa do individuo com seu trabalbo social e que, inversamente, 0 trabalho social nao pade ser sempre ---, uma atividade pessoal em que 0 individua se realiza completamente.

A "moral soeialista·.·. ao exigir que cada individuo se invista mente em seu trabalho e que 0 confunda com seus objetivos

pes-!IOais e opressiva e totalitaria desde a raiz. uma moral da acumu- _ simetrica iI moral burguesa da idade ber6ica do Capital. Iden-tiCica a moralidade com 0 amor pelo traballio. ao mesmo tempo que

dcspersonaliza 0 trabalbo por sua pr6pria industrializa\rao e sua

pr6pria portanto. exige 0 amor 11 ou

Icja. 0 sacrilicio de si. Opoe-se iI pr6pria ideia do "livre

desenvol-vlmento de cada individuo como objetivo e do livre desen-volvimento de todos" (Marx). Va; cQ.n!ra .a moral da do tempo que. originalmente. dominava a movimento operario.

A reconcilia\rao dos individuos com 0 trabalbo passa pelo

reco-IIhceimento que. mesmo submetido ao controle operario. 0 trabalho

ndo

e

e nem deve ser 0 esseneial da vida. Deve ser apenas urn de

•• us p6los. A dos individuos e da soeiedade. assim como • regressao do assalariamento e das rela\roes de mercado. passa pela preponderancia das atividades aut6nomas sobre as beteronomas.

8 . Quando falo da "nao-c1asse" dos "nao-trabalbadores" como Kujeito social (potencial) da do trabalbo. nao pretendo lubstituir a classe operaria de Marx par uma outra c1asse invest ida 110 mesmo tipo de "missao" bistorica e soeial. A classe open\ria. para Marx ou para os marxistas. tinba (ou tern) urn canlter teol6gico pclo fato de que oj urn sujeito que transcende a seus membras: faz

(11)

saibam. £ 0 pensamento-sujeito pelo qual os operarios sao pensados

em sua verdade;

e

impensavel por estes em sua unidade-sujeito, assim como 0 organismo

e

impensavel pelos bilhaes de colulas que

o compCiem, ou como Deus

e

impensavel por suas criaturas. £ por isso que ela pOde ter seus sacerdotes, seus profetas, seus martires, suas igrejas, seus papas e suas guerras religiosas.

A nAo-c1asse dos refratarios 11 sacraliza,ao do trabalho, em contrapartida, nao

e

urn "sujeito social". Nao tern unidade nem missao transcendentes e, portanto, nAo tern de conjunto da historia e da soeiedade. Por assim dizer,

e

sem religiao nem Deus, sem outra realidade alem daquela das pessoas que a compoem: enfim, nao

e

uma classe, mas uma nao-c1asse. E

e

exatamente par isso que ela niio tern nenhuma virtude profHica: nao anuneia uma soeiedade-sujeito por meio da qual as individuos estariam integrados e salvos; ao contrario, remete os individuos 11 necessidade de salvarem-se eles mesmos e de definirem uma sociedade compativel com sua existen-eia aut6noma e seus objetivos.

Essa " a caracteristica pr6pria dos movimentos sociais nascen-tes: como 0 movimento campones, 0 movimento protestante e mais tarde 0 movimento opera rio, 0 movimento das pessoas que se

re-cusam a serem somente trabalhadores tern uma dominante Iiberta-ria:

e

nega,ao da ordem, do poder, do sistema soeial, em nome do direito imprescritivel de cada urn sobre sua propria vida.

9. Esse direito,

c

claro, 56 pode se afirmar se corresponder a urn poder que os individuos obtem nao de sua integra,ao 11 socie-dade, mas de sua existencia propria, ou seja, de sua autonomia. £ a constru,ao desse poder autenomo que define, em sua fase presente, o movimento nascente. Disperso, compOsito,

e,

por sua natureza e por seus objetivos, refratario Ii organiza,ao, Ii programa,iio, Ii dele-ga,iio de fun,oes, 11 integra,ao numa for,a politica constituida. E nisto esta, ao mesmo tempo, sua for,a e sua fraqueza.

Nisto esta sua for,a porque uma sociedade diferente, que com-porte novos espa,os de autonomia, s6 pode nascer se, previamente, os individuos tiverem inventado e posto em pro!tica uma autonomia e rela,oes novas. Toda mudan,a de soeiedade supoe urn trabalho previo extra-institueional da mudsn,a cultural e etica. Nenhuma

Ji-zo

berdade nova pode ser concedida de eima para baixo, pelo poder institucional, que js nAo tenha sido tomada e praticada pelos pro-prios cidadiios. Na fase nascente do movimento, a desconfian,a destes com rela,iio a institui,oes e partidos constituidos reflete es-seneialmente sua recusa de colocar os problemas segundo as formas habituais e de considerar como os unicos decisivos os debates sobre a melhor gestao do Estado pelos partidos e da soeiedade pelo Estado.

Nisto ests sua fraqueza, contudo, porque os de auto-nomia conquistados

a

ordem existente serlio marginalizados, trans for-mados em enclaves ou subordinados

a

raeionalidade dominante a menos que haja uma transforma,lio e uma reconstru,ao da soeiedade, de suas de seu direito. A preponderancia das atividades autenomas sobre 0 trabalho heterenomo

e

inconcebivel numa

socie-dade em que a 16gica da mercadoria, da rentabiliza,ao e da acumula-,ao de capital continue sendo dominante. .

Essa preponderancia

e,

portanto, uma questao nao somente etica e existeneial, mas politiea. Sua supOe que 0 movimento

nao apenas abra. pela pratica das pessoas, espa,os de autonomia novos, mas que a sociedade, suas suas tecnologias e seu direito tornem-se eompativeis com essa expansao da esfera de auto-nomia. A da soeiedade de acordo com os objetivos do

movimento nao sera, de modo algum, um efeito automatico da

ex-pansiio do pr6prio movimento. SupOe um pensamento, uma a,lio e uma vontade especificas, ou seja, politicas. 0 fato de que a sociedade pos-capitalista, pOs-industrial, p6s-soeialista8 que e aqui visada nao

II Na marxists, 0 socialismo

e

a clapa de para 0

comunismo. f?urant: essa 0 desenvolvimento e '8 socializa):ao das

for!r8s produtIV8s sao apcrfel,.:oados, 0 assalariamen ro

c

cons(;fvado e mesmo estendido. A aboliv8o do assalariamento (como forma dominantc do traba.

Iho, . pelo menos) e .das rela!;Oes de mercado

e

supo!r!tamente realizada. a segUlr, com 0 eomunismo.

Nas soc-'edades induslrialmente desenvolvidas. 0 socialismo: eSla hisla· ricamente ultrapassado : tal como ja expresso em 1969, nas de II

Ma-Ilifesto (publicadas em frances pelas &liliohs du Seuil, 1971),

e

0 que eSla para alem do socialismo. ou seja. 0 comunismo, tal como originalmente definido, que corresponde it .tarefa politica atual.

A uliliza!i;80 dessas norrOes tornou-se incomoda em razao da perversao

e da do "socialismo " e do "comunismo " pelos regimes e

(12)

PO'"

oem <lovu lOr inlcgrada, orden ada e programada no mesmo

,rau

do que PI 'Iue a precederam nao dispensa 'Iue se coloque a ques-110 du lundunumento, das bases juridic as e do equilibria dos poderes

diliO lipo de sociedade. Nao integrada, diversa, complex a, pluralista, IIb.rlorin. nao deixa de ser uma sociedade denlre as outras imagina-vel. c roque. ser realizada po. urna' a,lio consciente.

N 30 sei 'Iue forma pode tamar essa a,ao nem que for,a politica

e

Cllplll de conduzi-Ia. Sei apenas que essa for,a politica

e

necessaria

c que suas com 0 movimento serao e deverao ser Hio con· tlituosas e tensas quanto foram as rela,oes entre 0 movimento

sin-<lkul (anarco-sindicalista) e os partidos open\rios. A subordina,ao do primeira aos ultimos sempre foi sold ada pela esteriliza,ao buro-cralica de todos, sobretudo quando as partidos confundiam sua a,ao politica com 0 controle do aparelho de Estado.

Foi deliberadamente que deixei essa questao aberta e como que

em suspenso. Na fase atual,

e

preciso Dusar colocar as questoes para

as quais nao se tem resposta e levanlar problemas cuja solu,ao ainda eSla para ser encontrads.

Dezembro de 1980

pelos partidos que prelendem represcntof-los. A crise do marxismo, que chega

a · atinBir a propria linguagem, nao dcve, no entanlO. fazer com qUI! se

rCOUDele a pensar 0 capitahsmo. 0 socialismQ, sua crise e 0 que poUt tstar aiem. deles. Os instrumentos cODceiluais do marxismo permanecem insubs--tituiveis, e rejeilli·los em bloco decorre de uma atitude tao infantil quanta

0 Capital, apesar de seu volume e de seu carater inacabado. como a Verdadc rcvclada.

"

1:

Adeus

(13)

t

Introducao

o

marxismo ests em crise M uma crise do movimento "perario. Rompeu-se, ao longo dos ultimos vinte anos, 0 fio entre

de-lenvolvimento das produtivas e desenvolvimento das contra-de classe. Niio que as internas do capitalismo nao

Ie lenbam tornado espetaculares: nunca 0 loram tanto. Nunca 0

ca-pltulismo loi tao pouco capaz de resolver os problemas que engendra. Mas essa incapacidade nao Ibe

e

fatal : ele adquiriu a laculdade, pou-co cstudada e mal pou-compreendida, de dominar a de seus problemas; sabe sobreviver a seu mau funcionamento. Cbega mesmo • lirar dele uma nova porque seus problemas nao soluveis 0 •

lAo intrinsecamente.1 E assim permaneceriam mesmo que 0 poder do

Eatado pertencesse aos partidos da classe open\ria. Permanecerao in-loillveis enquanto 0 modo, as e as de nao

Ilverem mudado de natureza.

I

Quem ou 0 que os fara mudar? Essa

e

a questao de fundo que

Ie encontra na origem da presente crise do marxismo. Na verdade.

o marxismo tern como base uma concxao sobre a qual sabemos, atual-menle, que, assim como nao se verificou no passado., nao tern poss;·

bilidades de se veri/icar no futuro. Essa conexao

e

a seguinte: 19) 0 desenvolvimento das produtivas engendra a base lIIaleria/ do socialismo;

29) 0 desenvolvimento das produtivas faz surgir a base

,wcial do socialismo, a saber: uma classe operaria capaz de se

(14)

coletivamente e de gerir a totalidade do. produtlv •• cujo desenvolvimento a fez surgir.

Ora, a realidade

e

bern outra:

1<1) 0 desenvolvimento das produllv •• do capllaU.l1Io

e

funcional apenas com it 16gicR e b ncccnidadl' do cupita-lismo. Esse desenvolvimento nao somente nAo cria a balO ",alerial do socialismo como lhe cria obstiiculos. As produtlv.. de.ellvol-vidas pelo capitalismo trazem a sua marca impresRa alai pontn que nao podem ser geradas. ou colocadas em seaundo Ullla ra-cionalidade socialista. Se ha de haver socialismo ela. predum ser re-fundidas, convertidas. Raciocinar em das produtivas existentes

e

colocar-se na impossibilidade de elaborar ou mesmo de distinguir uma racionalidade socialista.

29) 0 desenvolvimento das produtivas do capitalismo deu-se de maneira tal que elas nlo te prettom a uma

direta por parte do trabalhador coletlvo que as coloca em nem a uma coletiva por Plrll do proletariado'.

Na verdade, 0 desenvolvimeolo do capitalismo produziu uma

elasse operaria que, em sua maior parle, 010 • capaz de se tornar

dona dos meios de e cuj08 Inlerellcs direlamente conscien-tes nao estao de acordo com uma rocionalidade socialista.

'£ esse 0 ponto em que estamos. 0 capitalismo deu nascimento a uma classe operaria (mais amplamente: urn salariado) cujos in-teresses, capacidades e estiio na dependencia de produtivas elas mesmas funcionais apenas com rela9iio II racionali-dade capitalista.

A do capitalismo, sua em nome de uma ra-cionalidade diferente so pode surgir a partir de camadas que repre-sentam ou prefiguram a de todas as classes, inclusive da

c1asse operaria.

I Entendo poe proletariado os trabalhadores que, em rauD. de sua

posir;iio na e na sociedade. 56 podem par tim It sua

e it -;ua impolencia pondC)_ fim coletivtJmelfle. como classe. aD peder e a daml-da dasK burguesa.

Entendo poe claSH burauesa 0 "funcionario ,. coletivo do capital, ou seja, 0 toDjuDto daqueles que acre,m, representaD1: e servem 0 capital e suas. exiaencias.

1.

0 proletariado

segundo Sao Marx

A teoria marxista do proletariado nao se funda em urn estudci empirico dos antagonismos de c1asse nem em uma experiencia mili-lunte da radicalidade proletaria. Nenhuma empirica e oenhuma experiencia militante podem conduzir

a

descoberta da mis-,ilo hist6rica do proleta,;ado, missiio que

e,

segundo Marx, constitu-liva de seu ser de c1asse. Marx insistiu muitas vezes: ' nao

e

a obser-empirica dos prolellirios que permite que se sua missiio de classe. Ao conlrario,

e

0 conhecimento de sua missiio de c1asse

que permite discernir 0 ser dos proletarios em sua verdade. Pouco Importa, por conseguinte, 0 grau de consciencia que os proietarios

de seu ser; e pouco importa 0 que acreditam fazer ou querer:

100porta apenas 0 que sao. Mesmo que, no momento presente, suas condutas sejam mistificadas e os fins que acreditam perseguir sejam contrarios

a

sua missiio historica, cedo ou tarde 0 ser triunfara sobre

DI aparencias, e a Raziio sobrepujani as mistifica,oes. Dito de outro modo, 0 ser do proletariado

e

transcendente aos proletarios;

consti-lui uma garantia transcendental da pelos proletarios, da linha ju,la de classe'.

I Parafraseio a Sagrada FlJmilitl. capitulo IV, '-IV (Proudhon), onde

MllfX escreveu: "Nao se trata de saber 0 que este ou aquele proletario, ou

0 proietariado como um lodo, PIOp5e-se momentaneameme como

(15)

Desde logo coloea-so lImli 'lueoIAo: <luonl • d, !lOllh.l'.r e de dizer 0 que 0 proleloriudo <luum!o UI pr6prlol prol,I'rluo desse ser uma consciencia apenas nublada ou ml,t1floadI7 HI,Wrlcll-mente, a res posta a essa queslao

e:

s6 Marx fol

capa,

d. GOnb.e.r e de dizer 0 que 0 prolelariado e sua mi8'Ao hil16rlci VlrtSad,lrlOncnle

siio. A verdade dessa c1asse e dessa mi.!i8o ellA In.urha nl obru de Marx. Ele

e

0 alIa e 0 omega;

e

0 fundador.

Essa resposta nao e evidentemenle salisful6rla, Com .1,lln: (lor-que e como 0 ser transcendente do proletariado tol le ••• lvil • CllIlS-eleneia de Marx? Essa pergunta exige uma re8polll !IIoa6llol. I'"de-se ficar surpreso diante do fato de que Marx IIAo . . .

nha

lornecido. Compreender-se-e. rapidamente porque ele nio podia tar 1.110,

A teoria marxista do prolelariado

e

uma lurprllndtnl. conden-sincro!tica das tres correntes dominantes do panllmanto odden-ial da epoca da burguesia heroica: 0 cristianismo, 0 h •• allenIIOlo e

o cientificismo. E 0 hegelianismo encerra a pedr. fundamenlal da Para Hegel, com efeito, a Hisloria

e

a proarOitlo dial.!-tica por meio da qual 0 EspirilO, inicialmenle eslranho •• 1 mesmo,

lorna consciencia e posse do mundo - que, na verdad., era n pro-prio Espirito existindo fora e separado de si - retom6-lo com-pletamente em si e unifiear-se com ele. Os avatares delll proare,sao sao elapas que, em razao de sua inlerna, sAo nCCeR,aria-mente levadas a "passar para" a etapa seguinle, ale a da sinlese final que

e

ao mesmo tempo 0 sentido de toda a HII16ria

an-terior e 0 lermino da Hist6ria.

Desse modo, 0 sentido de cada momento s6

e

leglvel

a

luz da sin lese final . Legivel por qu\'m? Nao, evidenlemente, pelos indivlduos particulares que realizam urn momenlO particular sobre 0 qual Binda

nao sabem que deverao ultrapassa-lo por efeito de sua conlradil'ao intern. insustensave!. Mas' legivel apenas pelo filasofo G.W.P. Hegel,

objetivo. Trata-se de saber 0 que 0 proletariado

e

e 0 que deve historica-mente reaUzar de acoedo com seu sec. Seu objetivo e sua hislori,os estiio para ele de maneira tangivel e irrevogavel em sua pr6pria

situ8r;ao de existencia. como em toda a organizacao da sociedade burguesa atual. "

28

que leve a genial da Historia como desenvolvirnento de urn Sentido presente diante si proprio no lermino dos tempos e que leva suas hisloricas alienadas, mistificadas, falhas e mulila-das a se ultrapassarem ate que coincidam com Ele. A filosofia de Hegel

e,

no sentido profundo, a leologia crista que finalmenle se iguaJa a si mesma como teofania : a Hist6ria

e

escatologia,

e

0 reino de Deus que, do final dos lempos, leva ao seu proprio advento pela de hom ens histaricos que ainda nao compreendem 0 sen-lido da obra transcendente que realizam. Mas a consciencia destes importa pouco uma vez que a obra esta garantida por uma dialelica '1ue os transcende".

Reconhece-se ai a matriz da dialelica marxista. Da dial.tica he-. geliana,_ Marx conserva 0 essencial, a saber: a ideia de um sentido

da que dele tern os individuos

e que se realiza, tenham eles ou nao tal consciencia, at raves de suas _ utividades. Mas esse sentido, em lugar de "andar sobre a

como em Hegel, andafa, em Marx, sobre os pes do proletariado: 0 Irabalho do Espirito elevando 0 mundo 11 consciencia de si ate a

uni-final nao era mais que 0 delirio idealist. de urn leologo

par-tidario do racionalismo. Nao e 0 Espirito que !rabalha, mas os

tra-halhadores. A Historia nao • a progressao dialetica do Espirilo que 100na posse do mundo, e a tomada de posse progressiva da Natureza pelo trabalho humano. 0 mundo nao

e

inicialmenle Espirito es!ranho Il si mesmo, e, de inicio, a eXlerioridade de uma Nalureza hoslil 11 vida dos homens e sobre a qual as alividades destas nao tern alcance. Mas, progressivamente, os homens iraa conformar a Natureza segun-do suas necessidades ate 0 momento em que, dominando-a toda, irao 5e reconhecer nela como em sua obra.

o

obstaculo a esse reconhecimenlo e duplo : por urn lado, 0 poder ainda insuficiente dos instrumentos utilizados; e, por outro, a

enlre os individuos e os inslrumenlos, e tambem enlre os

2 Nos Prillcipios do liloso/io do dire;lo, ooladamente, essa frase carac·

Icristka: "Quando se trata da

e.

precisa

pao

partir do ind ividuo, tin consciencia individual de si, m:1S unicamente da essencia da conscien·

eta de si, pois, quer 0 homem 0 saiha ou nao, essa essenCla realiza-se por

'iua propria e os individuos sao apenas os momentos de sua reaH. zlIcao ".

(16)

individuos e os resultados de conjunto de seu trabalho coletivo. Essa (a que dela resulta) s6 podeTlI ter lim com 0 advento de uma c1asse que realiza a integral da Natureza por meio de uma totalidade de instrurnentos que Ihe

e

totalmente

alie-nada e de que, por isso mesmo, devera se reapropriar coletivamente. Ela 0 "devera" e "poder:i", segundo Marx, pela razao de que essa

totalidade de instrumentos nao pode ser apropriada e eoloeada em por nenhum individuo particular, mas apenas por todos agindo

em conjunto visando a urn resultado comum. 0 homem

"reencon-trani" (seria preciso dizer: erianl) sua unidade com a Natureza no momento em que a Natureza se tornar uma obra do bomern e, eonse-qiientemente, quando 0 hornem se tornar seu proprio genitor. 0

eo-munismo, advento do proletariado enquanto classe universal,

e

0

sen-tido da Hist6ria.

Percebe-se 0 0 que tom a 0 lugar do Espirito

e

a

ati-vidade de produzir 0 mundo. De inicio invisivel para si mesma, toma progressivarnente consciencia

a

rnedida que as produtivas se desenvolvern, ate a prometeiea do trabalbador co-letivo como autor, na de todos com todos, do mundo e de si mesmo. 0 motor da Historia nao

e

a do Espirito dian-te de si mesmo no final dos dian-tempos, mas a impossibi/idade que existe, para urn ser que

e

do mundo, de aceitar que essa

Ihe seja roubada e que seus produtos, voltados contra ele, sirvam para sujeilll-io a "finalidades exteriores". Essa impossibilidade

e

ao mesmo tempo de essenda e hist6rica: so se torn. manifesta e ope-rante a partir do momento em que a natureza das tecnicas e d.s

sociais de faz com que 0 mundo, despojado de

seu "veu mistico", aparefa como produto do trabalho social e que os

individuos, despojados de suas "atividades limitadas"

a

socia-do trabalho, apare9am como os produto'res socia-do munsocia-do.

r

0 capitalismo, segundo Marx, satisfaz a essas duas condi,oes: \ sUas produtivas, desenvolvendo-se, fazem surgir, no lugar do \ mundo natural e de seus misterios, 0 universo tecnicizado da fabrica \ automatica, de seu meio-ambiente e de suas riquezas labricados. Esse

I

!lniverso industrial faz surgir, por sua vez, urna classe cujos membros

, nao trabalham em seu mteresse mdlvldual parHcular e nem com melDS individuais particulares: ao contrario, sao despojados de qualquer in-

- --

..•.. .

__ ., . ,-. _. -, .-,- --.. ...

, diyjdualida!!e. colocam em

opera-uma totalidade de capacidadecs_ e de meios t"cnicos imediatamente , loci.is para produzir efeitos desde logo globais.

Assim

e

0 proletariado: com ele, 0 trabalho como

autoprodu-do homem e autoprodu-do munautoprodu-do tern, pela primeira vez, a oportunidade hi,l6rica de igualar-se a si mesmo e de prornover 0 advento do reino de urn universal humano. 0 fato notavel

e

que essa teoria

e

parte

nAo de uma empirica, mas de uma reflexao critica sobre II « sencia do trabalbo, conduzida em contra 0 begelianismo. I'ura ojollem--Milrx, 'nao"' era-a "existencia de 'um proletariado

revolu-donario que justifieava sua .teo,ria; era, ao contnirio,sua teoria que_l-_-II prediZer osurgi.:nento de urn proletariado revoluciomirio e

•• tabelecia sua necessidade. 0 primado perteneia Ii filosolia . A filo-•. w/ia anteeipava-se com ao curso das coisas, estabelecia que I Historia tinba como sentido fazer surgir, com () proletariado, uma closse universal que era a unica capaz de emancipar toda a soeiedade. Era preeiso que essa classe surgisse, e, de fato, a poder observar os sinais de seu advento. Tais sinais erarn perceptiveis ape-nilS para 0 filosofo. Mas 0 fil6sofo, enquanto consciencia separada do proletariado em sua historiea, estava fadado a desapare-ter na medida em que 0 proletariado tomasse conscioncia de seu

\. pr6prio sec e que 0 assumisse em sua pratica. A filosofia, entao,

en-cMrnar-se-ia no proletariado. 0 fil6sofo como consciencia filos6fica

.cparada devia buseaT sua auto-supcessao e, conseqtientemente, a su· pressao da filosofia como atividade separada.

A dial.tica materialista, para a qual a atividade produtiva deve Ie reconstituir como fonte do mundo e do proprio homem de modo a Mbolir finalmente, na unidade da integral, "todos os

poderes exteriores", devera, portanto, fazer-se acompanhar por uma

dioletiea politico-filos6fica por meio da qual 0 proletariado devera

lnteriorizar a de si que, de inicio, s6 existe fora na

"essoa de Karl Marx e, mais tarde, da vanguarda marxista-Ieninista. Estamos nesse ponto. Essa leitura de Marx que proponh03 foi

u que, conscientemente ou nao, fizeram as de militantes re·

voluciomirios de antes e de depois de maio de 1968.

e,

evidentemente,

(17)

uma leitura hist6rica, feita com os meios e com as referencias

inte-lectuais de agora e que nao pretende restituir com lidelidade 0 en-"aminhamento historico do pensamento do proprio Marx. Isso nao a impede de ser verdadeira: ela transpOe e reprodul 0 encaminha-mento marxista para 0 nosso presente sistema de relereneias culturais.

Para os jovens militantes revolucionarios de antes e de depois de maio de 1968, como para Marx, nao se milita no movimento revolu-eiomlrio e nao se vai para a fabrica porque 0 proletariado age, pensa

e sente de maneira revolucionaria, mas porque ele

e

revolucionario

por destino, 0 que quer diler: ele deve se-Io, ele deve "tornar-se 0

que

c".

A partir dessa posi9aO filosofiea apresenta-se a possibilidade de

todos os desvios: vanguardismo, substitucionismo, elitismo, e seus correlatos negativos, espontaneismo, reboquismo, economicismo. A

impossibilidade de toda e qualquer verifica9ao empirica da teoria nunca cessou de pesar sobre 0 marxismo como urn peeado original.

Inversao da dialetiea hegeliana, a filosofia do proletariado nlio pode, com efeito, esperar que sua legitima9ao venha dos proletarios

empiricos nem do curso dos acontecimentos: ao contni.rio, cabe-lhe

legitimli-Ios e expressar seu verdadeiro significado. A matril hegeliana fal, do filosafo, 0 profeta e, da filosofia, a do Sentido do Ser. Os discipulos de Hegel so podiam ser sacerdotes do hegelianismo : foram esquecidos porque tolamente acreditavam ser os funcionarios da Ralao do Estado. Os discipulos de Marx nao foram esquecidos porque 0 proletariado sempre conserva 0 misterio de sua

transeen-den cia : Binda nao se igualou a si mesmo e

a

sua tarefa hist6rica;

ainda nao interiorizou a consciencia de si mesmo que a vanguarda

marxist a (leninist.) Ihe devolve. Essa vanguarda permanece, por-tanto, necessariamente separada em virtude da propria missao his-torica de que, a seus proprios olhos, esta investida. E por permanecer separada, ninguem - muito menos 0 proletariado - esta apto a

diler a ultima palavra nos debates que dividem os marxistas. Na au-sencia da possibilidade de qualquer empirica, suas teses politico-te6ricas divergentes nao podem retirar sua legitimidade senao da fidelidade ao Livro.

o

espirito de ortodoxia, 0 dogmatismo, a religiosidade nao sao, por conseguinte, fenomenos acidentais do marxismo : sao

necessaria-32

IlIcnte inerentes a uma filosofia de estrutura hegeliana (mesmo que .ssa estrutura tenha sido "endireifadada") cujo profelismo nao tern ""tro fundamento que nao a que iluminou 0 espirito do "fUleta. ti inutit busear 0 fundamento da teoria marxista do

prole-' .. riadoprole-'. 0 unico fundamento que seus diferentes defensores podem "Icrecer sao a obra de Marx e a palavra de Unin: ou seja, a auto-lidade dos fundadores. A filosofia do proletariado

e

religiosa. Con-.crva do real apenas os sinais que a confortam: "Sendo dado que 0 I'lOletariada

e

e deve ser revolucionario, vejamas as razoes em que

I r apOia e as abstaculas contra os quais se que bra sua vantade

revo-"

A maneira pela qual 0 problema

e

colocado determina as

ten-IIIIivas de resalve-Io. Essas tentativas e seu resultado sem duvida se-rilllll bern diferentes se eu formulasse 0 problema da seguinte

ma-neira . "Sendo dado que a proletariado nao

e

revolucionario, vejamos Ie ainda

e

possivel que ele se tome revolucionario e 0 motiva pelo

qual acreditou-se, por tanto tempo, que ele ja 0 era."

4 Aquele que indiquei 8ucintamerite aqui resuha em uma teada da do trabalho que 1)Ode (deve-!e recon'hecer) ser encontrada na

.bra de Marx, sob a de que 5e a procure, mas da qual se pode.

i,u nlmente. l'ontestar a legitimidade marxlsta. Ct. A. Gorz, 1.0 mOTa Ie de

I hlxlOlre. Paris . .aditio", du Seuil. J959. capitulo!

n

e In.

(18)

I i

2. A impossivel

apropriac;ao coletiva

A do trabalho individual do artesilo pelo "trabalho geral abstrato" e, na teoria marxista, a chave da necessidade historic a do comunismo. Na medida em que era proprietario de seus

instru-mentos e de seus produtos, 0 artesao conservava uma identidade

indi-vidual, impunha

a

sua sua rna rca particular e vivia seu tra-balho como 0 exercieio imediato de sua autonomia. Com efeito, ape-nas na medida em que seus produtos eram mercadorias, fabricadas com a (mica finalidade de serem vendidas no mercado,

e

que 0 artesao tinha a experiencia de sua nao era senhor do valor de troca de sua este dependia, em grande parte, de movi-mentos comereiais que escapavam ao seu controle e, mais tarde, de

teenicas acessiveis somente as manufaturas. Mas se era alie-nado como proprietario e comereiante de produtos, permanecia so-berano no interior de seu trabalho como criador e produtor, transfor-mando e dando forma 11 materia segundo metodos e ritmos que, denlro de eertos limites, Ihe eram particulares.

Soberano enquanto produtor, alienado como proprietario e co-merciante, 0 artesao tinha, por conseguinte, urn interesse particular

limitado: 0 de assegurar

a

sua urn valor de troca maximo e estavel, 0 que prcssupunha quc obtivesse uma posi,ao de mono-polio ou, quando isso fosse impossivel, que se ligasse a outros

artc-.Ans, obtendo da eidade uma do mlmero destes e uma da dura<;ao do trabalho, das condi<;oes de venda etc.

o

que fazia a soberania do artesao - 0 exercicio autanomo dc UI11 ofkio particular - constituia tamh"m a limita<;ao de seu campo

de snberania: como especiaJista de uma particular, nao tioha

Illteresse nem para exercer sua soberania para alem do cam-1''' de seu oficio. Este Ibe conferia urna identidade e urn lugar pro-prios na soeiedade. Tinba interesse em defender esse lugar, e, se pos-,,!vel, em melhota-Io, mas naQ em coloear em questao radicalmente " sociedade como urn todo e em busear reconstrui-la sabre novas

hllscs.

Pelo proprio fata de possuir "seu" oHeio e "seus" instrumentos,

(\ "rtesao - ou 0 trabalhador livre que produzia domieiliarmente p"ra 0 mercado - permanecia prisioneiro de formas particulares do Irllbalho, de um savoir-faire particular, talvez mesmo individual exer-cldo no decorrer de toda a sua vida, e de interesses profissionais, co-rnerciais e locais particulares. Sua pensava Marx, iria IIhertar sua individualidade limitada de seus limites partieulares: des-",,,,uido de seus instrumentos e de seu oficio, separado de seu pro-duto, a executar uma quanti dade predeterminada de trabalho .. um conhecimento banalizado e socializado que tornava os

prnletarios intercambiaveis, 0 opera rio iria tomar consciencia dele

mesmo como potencia universal e nua do trabalbo geral abstrato: de Ullt trabalho despojado de suas particulares a ponto de nAo ser mais do que a ' propria essen cia do trabalho social, transcen-dente a qualquer interesse individual, a qualquer propriedade pes-luul, a qualquer oecessidade de urn objeto determinado, a qualquer rela,ao com um praduto.

( Dito outro a deveria substituir os

pro-')' parlIculares limit ados pela classe dos produtores em geral, Imcdlatamente conSClente de seu poder sobre 0 mundo ioteira, de seu

I'oder de produzir, de recriar 0 mundo e 0 homem, Para os

proleta-rios, a suprema pobreza da potencia sem objeto devia ter como reverso II virtual onipotencia : porque nao tern mais oficio, 0 ptoletario

e

"lIpaz de todos os trabalhos; porque niio tern mais espe-clfica, possui uma qualifica,iio social universal para adquirir todas; pnrque nao esta Jigado a nenhum trabalho, a nenhum produto

(19)

deter-miMdo, esle. pronto a abarcar a totalidade das produ90es, ou seja, o tistema industrializado de produ9iio do mundo inteiro; porque nilo tem e capaz de querer tudo e de nio se contentar com nada menos do que a apropria9iio da totalidade das

Ao longo de toda sua vida, Marx jamais deixou de vol tar a cssa voca9iio dos proletarios a ser e a poder tudo, nao apenas como c1asse mas tambem cada urn individualmente. E 0 grande problema que

Marx e, depois dele, os marxistas tiveram que resolver foi da en-cama9iio de classe em cada um dos individuos que a Na primeira oportunidade significativa em que tratou dessa questao, 0

problema ficou longe de ser resolvido : nela .Marx afirma que, pelo fato de serem despossuidos de tudo e desprovldos de qualquer huma-nidade, os proletarios, "para assegurar sua existencia", devem (as vezes Marx escreve: "devem e podem") reconquistar 0 ser-homem

em sua totalidade e modificar 0 mundo radicalmente. Mas, dessa

pri-meira encontrada em seus primeirissimos escritos

cos, Marx escorrega, sem qualquer para uma ahrma,ao que todo um outro a\cance:

e

porque nao sao nada que "os

rios do tempo presente eslao aplos" a se tornarem tudo, coletlva-mente mas tamb.m e sobretudo individualcoletlva-mente. Eis a passagem in-tegral:

"No momento presente, as eoisas ebegaram ao ponto em que os individuos devem apropriar-se da totalidade existente das for9as pro-dutivas, nao apenas para poderem manifestar sua atividade pessoal, mas ainda, em suma, para assegurar sua existencia. Essa apropria9i10 tem como raziio primeira 0 objeto a ser apropriado - as for9as

pro-dutivas tornadas uma totalidade existem apenas no contexto de um comercio universal. ( ... ) A dessas for9as niio ., ela mesma, nada mais do que 0 desenvolvimento das capacidades indio

viduais que correspondem aos instrumentos materiais de produ9ao. A' de uma totalidade de instrumentos de produ9iio

e,

por isso mesmo, 0 desenvolvimento de uma totalidade de capacidades nos

pr6prios individuos. Essa apropria9io, alem do mais,

e

condicionada, pelos individuos que se apropriam. S6 os proletarios do tempo pre-sente, totalmente excluidos de toda atividade pessoal, eSlao apIa., a realizar sua atividade pessoal completa e sem Iimita.lIes e que

con-36

.t-IC na apropria9iio de uma totalidade de for,as produtivas e "0 J " •• lIvolvimento conexo de uma totalidade de eapacidadesl,"

Como Marx passa da afirma9i10 de uma neeessidade ohit.liva ("", individuos devem se apropriar da tOlalidade existente das fOf9as I""dutivas de modo a assegurar sua existeneia") para a

d.

ullla possibilidade e"istencial: "sO os proletarios do tempo ,presente

• • "111 aptos a re.liza, sua atividade pessoal coni pi eta ( .. . )' no desen-v"lvimento de uma totalidade de eapacidades"? A pel'gunta

perma-lIe,'c sem resposta.

£

que a capacidade do proletariado tornar-se tudo till cada um de seus membros nilo

e

da mesma ordem que a

necessi-lIu,/., de se apropriar de tudo: a primeira afirmativa

e

de ordem filo-decorre da essencia do proletariado tal como Marx a derivou

d.

Hegel: ele

e

a potencia universal do Trabalho que toma eonsci_n-uta de si como fonte do mundo e da historia. Ao contnirio, a

afirma-ql"

da necessidade de se apropriar de tudo resulta (au pretende reo ,ullar) de uma am \lise do processo hist6rico de proletariza9iio. Na ¥.rdade, essa analise nao consegue dar fundamento ao postulado fi-10lMico.

Olhando-se mais de perto, faz-se a distin,ao sem dificuldades :

Pi," Marx, a convic,iio (filosOfica) primeira

e

que 0 proletariado em

,oral e que cada proletario em particular deve poder se tornar ,.nhor de uma totalidade de for,as produtivas de modo a desenvol-Vir uma totaJidade de capacidades. Isso

e

necessario uma vez que

o

proletariado deve se igualar sua essen cia. A amilise do proeesso ht.t6rico seni feita em fun9ao dessa convic,ao primeira. Marx des-areve a proletariza9ao de maneira a mostrar que ela produz urn pro-Iitariado consciente de seu ser, ou seja, que ela 0 obriga, "para

asse-,urnr sua existeneia", a tornar-se tal qual ele deve ser. A analise his-IlIrka, no emanto,

e

tao pobre que

e

incapaz de fazer derivar do dos fatos a tese que supostamente funda. Marx apenas encon-Ira 1\0 ponto de cbegada 0 que afirmava ter no ponto de partida, sem

que sua analise tenha enriquecido substancialmente sua primeira Ideia.

I L'Jde%gie allemande, lradu;ao rolitor. pp. da A.

Cll .... G dfos meUs.

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