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TESES MÉDICAS LIDAS E DEFENDIDAS PELOS DOUTORANDOS DA FACULDADE DE MEDICINA DO PARANÁ, DO FINAL DO SÉCULO XIX AO INÍCIO DOS ANOS 1920

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TESES MÉDICAS LIDAS E DEFENDIDAS PELOS DOUTORANDOS DA FACULDADE DE MEDICINA DO PARANÁ, DO FINAL DO SÉCULO XIX AO

INÍCIO DOS ANOS 1920

Josiane Maria Scharneski Universidade Federal do Paraná

Resumo: A conjugação entre educação e saúde pode ser percebida no mundo ocidental de maneira cada vez mais efetiva a partir do final do século XVIII, quando mudanças nas práticas de cura foram contemporâneas do processo de individualização da criança e da reorganização da escola, como indicam estudos de J. Gélis, O. Faure e A. Viñao Frago; algo que se refletiu na formação dos profissionais da saúde nos anos seguintes, inclusive no Brasil, como mostram estudos de L. M. Bertucci, entre outros. A partir dessa perspectiva e da relevância das teses médicas para os estudos da história da ciência médica, da formação do médico e da relação entre saúde e educação

lato sensu, foi efetuada pesquisa na Biblioteca do Setor de Saúde da

Universidade Federal do Paraná, para localização e seleção de teses médicas defendidas pelos egressos da Faculdade de Medicina do Paraná (hoje parte deste Setor da UFPR) entre 1919, ano da primeira turma de formandos, e 1923, o décimo aniversário da instalação desta instituição de ensino. Paralelamente, também foram localizados estudos de doutoramento de alunos de outras instituições de ensino brasileiras desde o século XIX, estudos cuja leitura pode ter colaborado para a formação dos doutorandos paranaenses do início do século XX. A seleção das teses foi balizada pelas seguintes temáticas: formação do médico; a relação profissional de saúde−educação para a saúde; epidemia e educação; a escola como espaço de educação para a saúde. Palavras-chave: teses médicas; educação para saúde; formação.

Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Bolsista PIBIC

Introdução

No Brasil, a regulamentação das práticas de cura ganhou ênfase com a chegada da família real portuguesa em 1808 e a criação da Fisicatura Mor (PIMENTA, 2003)1. A criação de Academias Médico-Cirúrgicas no país,

1 A partir de 1828, com a extinção da Fisicatura Mor, responsável pela regulamentação e fiscalização das práticas de cura, as Câmaras Municipais assumiram suas funções. Em 1850 foi organizada a Junta Central de Higiene Pública.

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mais tarde transformadas em Faculdades de Medicina, além da Sociedade (depois Academia Imperial) de Medicina no Rio de Janeiro fizeram parte desse processo que ordenava ações relacionadas ao combate às doenças e manutenção da saúde. Como escreveu Bertucci:

Paralelamente ao aspecto legal e institucional que, pouco a pouco, possibilitava a ampliação oficial da atuação dos que praticavam a medicina científica, o processo educacional quanto às doenças e práticas de cura ganhava importantes desdobramentos. A ampla divulgação dos dicionários de medicina doméstica, principalmente a partir da segunda metade do século XIX foi parte importante desse movimento. Traduzindo para linguagem cotidiana termos e ideias elaborados por eruditos, acompanhando e difundindo as teses e inovações do campo médico-científico, os dicionários rapidamente se difundiram pelo Brasil [...] (BERTUCCI, 2007, p.145).

Esse processo teve desdobramentos significativos nas primeiras décadas republicanas, pois os arautos da República, em grande parte positivistas e/ou liberais, divulgavam a necessidade inadiável da formação de uma população sadia e instruída para a construção de uma nação progressista. Em poucos anos, em meio a teses sobre a urgência de sanear o país (um dos resultados foi o Movimento Sanitarista dos anos 1910) e ideias eugênicas, o governo federal em conjunto com os dos estados incentivou politicas de educação em saúde em diferentes unidades da federação, o que incluiu parcerias com a Fundação Rockefeller (HOCHMAN, 1998; MOTA, 2007). Algo que refletiria, também, nos trabalhos elaborados pelos formandos das faculdades de medicina brasileiras, entre eles os doutorandos da Faculdade de Medicina do Paraná.

Educação e (em) saúde

A busca das teses defendidas ou que podem ter sido lidas pelos doutorandos da Faculdade de Medicina do Paraná foi realizada no site do

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Sistema de Bibliotecas da UFPR, utilizado o seguinte caminho: página inicial da UFPR → Serviços → Bibliotecas → Consulta Acervo → Busca Combinada. Foi utilizado o seguinte parâmetro de busca: palavra-chave: Tese inserida no campo Todos os Campos. A delimitação temporal: inicial 1801 e final 1923. No item Bibliotecas foi selecionada: Biblioteca do Setor de Saúde. Os dados gerais das teses selecionadas pelo título foram copiados do tópico Detalhes item Referência, do site, o que possibilitou uma padronização da listagem conforme o registro feito pela Biblioteca.

As teses defendidas pelos doutorandos ou lidas por eles, citadas em seus trabalhos ou mantidas na biblioteca da então Faculdade de Medicina do Paraná são resultados de estudos que, com abordagens teóricas definidas e, por vezes, relatos de casos ou ações médico-sociais que, além de ajudar na formação dos próprios autores, também contribuíam para novos estudos de outros autores que as buscam como referência.

A importância das teses revela-se inclusive nos trabalhos que eram lidos pelos doutorandos paranaenses, pois faziam parte da formação dos médicos, e a partir da leitura destas obras eram formados e reforçados conceitos sobre a saúde da população e a relação a saúde-educação, entre outros tópicos intimamente ligados a prática médica. A partir da análise das teses será possível perceber indícios das ideias que contribuíram para a formação desses profissionais, obras muitas vezes consultadas durante vários anos.

O resultado das investigações realizadas, a partir do levantamento e seleção das teses inaugurais, pretende assim contribuir para ampliar o conhecimento relativo à formação dos médicos em temas relativos a sua atuação social, que era educacional em vários aspectos.

A conjugação entre educação e saúde pode ser percebida no mundo ocidental de maneira cada vez mais efetiva a partir do final do século XVIII, quando mudanças nas práticas de cura foram contemporâneas do processo de individualização da criança e da reorganização da escola, algo que se refletiu na formação dos profissionais da saúde nos anos seguintes, inclusive no Brasil (BERTUCCI; MOTA, 2014).

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Podemos definir educação para a saúde como ação educativa que tem como objetivo conduzir a população a adquirir hábitos que promovam a saúde e evitem doenças, uma prática que ganhou ênfase com o higienismo do século XVIII, embasado na tese da infecção miasmática (MARTINS; MARTINS, 2006). Limpar e arejar resultou então em ações sobre o espaço urbano e, também nas tentativas variadas, que muitas vezes aconteciam fora da escola, de educar a população em práticas que poderiam contribuir para a manutenção da saúde ou para acabar com as doenças. Notadamente a partir da segunda metade do século XIX, período de difusão das descobertas microbiológicas que incorporou ações preconizadas anteriormente pela teoria miasmática, e da medicina experimental (PORTER, 2004), muitos médicos, inclusive os brasileiros, perceberam que a escola, incluindo o ambiente escolar como um todo, era um excelente espaço para repassar à população os cuidados higiênicos e salubres com os corpos, os espaços e as construções, algo que, pouco a pouco e com a parceria dos professores, foi criando novos hábitos. Em São Paulo, por exemplo, em 1918 foi realizado Curso de Higiene Pública destinado aos diretores de escolas, uma parceria entre a Diretoria Geral da Instrução Pública e a Instituto Butantã com o aval do Serviço Sanitário do Estado; esses diretores tinham a missão de repassar os ensinamentos que receberam aos professores de suas escolas e também divulgar nas suas cidades e regiões os conhecimentos aprendidos. (BERTUCCI, 2013). Anos depois, em 1942 a organização do Serviço Especial de Saúde Pública, resultado de um acordo entre os governos brasileiro e norte-americano, com vistas ao saneamento de regiões produtoras de matérias-primas no país (borracha na região amazônica e minério de ferro e mica do Vale do Rio Doce) resultou também em atividades de educação para a saúde em escolas e outros espaços sociais (RENOVATO; BAGNATO, 2010). Paralelamente, durante a primeira metade do século XX, presença de médicos em órgão de comunicação de massa, como o jornal e depois o rádio, transformavam estes profissionais em atuantes educadores não formais, inclusive no Paraná, como apontam os estudos de Sigolo (1998) e Oliveira (2012), entre outros.

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Assim pudemos perceber um movimento que une profissionais da saúde e da educação e que, paralelamente, fez dos médicos também educadores. Processo múltiplo que é possível perceber, pelo menos em parte, através das teses inaugurais dos doutorandos da Faculdade de Medicina do Paraná e de obras que esses médicos poderiam ter tido acesso e que ainda são conservadas na Biblioteca do Setor de Saúde da UFPR.

Conclusão

Durante a realização deste trabalho foram localizadas 1108 teses. Considerando as pistas indicadas pelos títulos dos trabalhos e eventuais informações da ‘ficha cartalográfica’, foram selecionadas 250 teses para posterior analise detalhada do conteúdo e seleção definitiva. A seleção preliminar teve como eixo condutor as seguintes temáticas: formação do médico e de outros profissionais relacionados à área saúde; a relação profissional de saúde e educação para a saúde; epidemia e educação; a escola como espaço de educação para a saúde e o professor como agente da educação para a saúde. Entre estas obras selecionadas estão teses inaugurais de doutoramento defendidas na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, um indício do cruzamento de informações e intercâmbio de conhecimentos paranaenses e paulistas nos primeiros anos do século XX.

No decorrer dos períodos analisados pudemos perceber que enquanto o número total de teses aumentava, os títulos dos trabalhos ficaram mais específicos, mais “técnicos”, o que significou um descarte maior de títulos. Para melhor demonstrar tal ocorrência, organizamos os dados da pesquisa em duas fases e ordenamos os resultados na tabela abaixo:

Seleção de teses

Fase da pesquisa 1ª Fase 2ª Fase Período 1700 a 1905 1905 a 1923

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Trabalhos selecionados 89 101

REFERÊNCIAS

BERTUCCI, L. M. Forjar o povo, construir a nação: ciência médica e saúde pública no Brasil. In: RIBEIRA CARDÓ, E. et al (Coords.) La integración del territorio en una idea de Estado, México y Brasil, 1821-1946. Ciudad de México: IG/UNAM; Instituto Mora, 2007, p.141-161.

BERTUCCI, L. M. Sanear a raça pela educação. Teses da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, início dos anos 1920. In: MOTA, A.; MARINHO, M. G. S. M.C. (Orgs.). Eugenia e história. São Paulo: FFMUSP; UFABC; Casa de Soluções e Editora, 2013.

BERTUCCI, L. M.; MOTA, A. Apresentação. Educar em Revista, Curitiba, nº 54, p.15-18, out.-dez. 2014.

COSTA, I. A. da; LIMA, E. C. (Orgs.) O ensino da medicina na Universidade Federal do Paraná. 2ª ed. Curitiba: Ed. UFPR, 2007

HOCHMAN, G. A era do saneamento. São Paulo: Hucitec,1998, p.149-208. LE GOFF, J. (Apres.). As doenças têm história. Lisboa: Terramar, [s.d].

MARTINS, L. A. C. P.; MARTINS, R. A. Infecção e higiene antes da teoria microbiana: a história dos miasmas. A teoria errada que salvou milhões de vidas. 2006. Disponível em: http://www.ghtc.usp.br/server/PDF/ram-Miasmas-Sci-Am.PDF. Acesso em: 28/07/ 2014.

MOTA, A. Quem é bom já nasce feito. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

OLIVEIRA, M. S. de. Em páginas impressas e nas ondas do rádio: ações educativas para combater a tuberculose. Curitiba, 1937-1952. Dissertação (Mestrado em Educação), Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná, 2012.

PIMENTA, T. S. Entre sangradores e doutores: práticas e formação médica na primeira metade do século XIX. Cadernos CEDES, v.23, nº 59, p.91-102, 2003.

PORTER, R. Das tripas coração. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2004.

RENOVATO, R. D.; BAGNATO, M. H. S. O Serviço Especial de Saúde Pública e suas ações de educação sanitária nas escolas primárias (1942-1960). Educar em Revista. Curitiba, nº especial 2, p.277-290, 2010.

Referências

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