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AVALIAÇÃO DAS INTOXICAÇÕES POR PARAQUATO EM PORTUGAL NO PERÍODO DE 2004 A 2006

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AVALIAçÃO DAS INTOxICAçõES POR PARAqUATO

EM PORTUGAL NO PERíODO DE 2004 A 2006

Maria Inês Martins Ferreira de Almeida

licenciada em ciências Farmacêuticas Faculdade de ciências da saúde – uFp 1088@ufp.edu.pt

Fátima Rato

Directora do centro de informação Antivenenos fatima.rato@inem.pt

Mário João Dias

Director do serviço de toxicologia Forense

Delegação do sul do instituto nacional de medicina legal, ip mdias@dlinml.mj.pt

Márcia Cláudia Dias de Carvalho

professora Auxiliar

Faculdade de ciências da saúde – uFp mcarv@ufp.edu.pt

trabalho baseado na monografia “intoxicações por paraquato em portugal”, elaborada por maria inês martins Ferreira de Almeida e defendida em 21 de Abril de 2009 para obtenção da licenciatura em ciências Farmacêuticas.

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO: AlmeiDA, maria inês martins Ferreira de [et al.] - Avaliação das intoxicações por paraquato em portugal no período de 2004 a 2006. Revista da Faculdade de Ciências da Saúde. porto : edições universidade Fernando pessoa. issn 1646-0480. 6 (2009) 272-282.

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273

RESUMO

o paraquato (pq) é um herbicida largamente usado na agricultura tendo sido responsável por um número significativo de intoxicações humanas (acidentais e intencionais) no nosso país. esta situação levou à sua retirada do mercado e restrição do seu uso em alguns países, incluindo portugal. este artigo analisa a contribuição do pq no contexto das intoxicações agudas por herbicidas em portugal, com base em casos e óbitos decorrentes de intoxica-ções humanas registadas no centro de informação Antivenenos e na Delegação do sul do instituto nacional de medicina legal, ip, no período de 2004 a 2006. os dados apresentados revelam que a maioria das intoxicações por este herbicida ocorre por via oral associadas a tentativas de suicídio. os indivíduos intoxicados são predominantemente adultos do sexo masculino, que se encontram numa fase activa de trabalho.

PALAVRAS-ChAVE

intoxicação; paraquato; portugal.

ABSTRACT

paraquat (pq) is an effective and widely used herbicide responsible for acute human in-toxications (accidental or voluntary ingestion) in portugal. this situation lead to withdrawal of pq from the marked and restrictions on the use of this herbicide in many countries, in-cluding portugal. this paper analyzes the contribution of pq to overall acute poisonings by herbicides in our country, from cases and deaths secondary to human poisoning recorded by the portuguese poison centre and the south Delegation of the national institute of legal medicine, ip, between 2004 and 2006. our results showed that pq intoxications were subse-quent to voluntary ingestion and observed in active male adults.

KEywORDS

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274

1.

INTRODUçÃO

com o rápido aumento da população mundial, a agricultura sustentável tornou-se essencial para a sobrevivência da espécie humana (bromilow, 2003). na maioria dos países, são utili-zados pesticidas com o objectivo de proteger as suas culturas agrícolas e hortícolas contra diversas pragas (teixeira et al., 2004). uma das pragas mais frequentes é a invasão por ervas daninhas, responsável por sérios prejuízos económicos (bromilow, 2003). Assim, a utilização de herbicidas tornou-se fundamental no desenvolvimento e mecanização da agricultura. o paraquato (pq) é um herbicida amplamente utilizado na agricultura há mais de 40 anos e comercializado em mais de 100 países (roberts et al., 2002). este composto quando utilizado devidamente apresenta uma segurança comprovada, o que o torna uma mais valia no de-senvolvimento da agricultura. o pq é não selectivo, extremamente eficaz e não tem efeito cumulativo no meio ambiente, uma vez que se torna biologicamente inactivo quando em contacto com a terra (paraquat information center, 2008).

no entanto, o pq é extremamente tóxico para os seres humanos. embora apresente toxici-dade em diversos órgãos como pulmões, fígado, cérebro, rins, coração, glândulas adrenais e músculos, o pulmão é o seu principal alvo, culminando em falência respiratória e morte. o índice de mortalidade deste herbicida é superior a 70%, em grande parte devido ao facto de ainda não existir disponível um antídoto eficaz. A utilização de pq já foi banida ou restrin-gida em vários países, sendo adoptadas medidas para prevenção de intoxicações por este composto, como são exemplo a diminuição da sua concentração e adição de substâncias odoríferas, corantes e eméticas às preparações comerciais (schmitt et al., 2006).

em portugal, as intoxicações por pesticidas são ainda a causa encontrada para um número considerável de mortes (teixeira et al, 2004). Até muito recentemente, o pq foi um herbi-cida muito utilizado no nosso país e a sua venda não tinha qualquer restrição, podendo ser adquirido em qualquer drogaria ou cooperativa agrícola (programa Antídoto portugal, 2008). no entanto, a Direcção-geral de Agricultura e Desenvolvimento rural (DgADr), atra-vés da circular emitida em 30 de julho de 2007, determinou que as autorizações de vendas nacionais de produtos fitoterapêuticos com base em pq fossem canceladas. Apesar desta restrição, é ainda possível em muitos locais do nosso país adquirir este herbicida.

este artigo teve por objectivo analisar a contribuição do paraquato no contexto geral das intoxicações agudas no nosso país, no período de 2004 a 2006, com base em casos e óbitos decorrentes de intoxicações humanas por este tóxico registados em instituições nacionais, especificamente o centro de informação Antivenenos-Dra. Arlinda borges (ciAV) e o institu-to nacional de medicina legal (inml).

2.

MATERIAIS E MéTODOS

É um estudo descritivo e de carácter retrospectivo. Após autorização, foi feito um levan-tamento na base de dados do ciAV das consultas realizadas a este centro relativas a into-xicações pelo paraquato, nos anos de 2004, 2005 e 2006. o ciAV é um centro médico de informação sobre toxicologia clínica que presta informações, adaptadas a cada caso clínico, referentes ao diagnóstico, à sintomatologia, à toxidade, à terapêutica e ao prognóstico da exposição a tóxicos e de intoxicações agudas ou crónicas. o seu serviço é essencialmente o

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275

atendimento telefónico realizado por médicos especializados, sendo as consultas oriundas

do público em geral, de médicos principalmente dos hospitais, de outros profissionais de saúde e ainda de outros técnicos. os dados obtidos no ciAV permitem traçar um cenário para as intoxicações por paraquato no nosso país, porém não permitem concluir acerca do número de casos fatais decorrentes destas intoxicações, uma vez que este centro enca-minha as situações mais graves para centros hospitalares de referência. Assim, de modo a estudar as intoxicações agudas fatais por este tóxico, neste estudo foram igualmente anali-sados os dados cedidos pelo serviço de toxicologia Forense da Delegação do sul do inml (localizada em lisboa), referentes ao número de óbitos resultantes de intoxicação por para-quato registados no mesmo período (2004-2006). os resultados apresentados em seguida foram distribuídos segundo o sexo, faixa etária, distribuição geográfica, via de exposição e circunstância da intoxicação.

3.

RESULTADOS

3.1.

CENTRO DE INFORMAçÃO ANTIVENENOS

3.1.1.

PREVALêNCIA DA INTOxICAçÃO POR PARAqUATO

na tabela 1 é apresentado o número de consultas realizadas ao ciAV nos anos de 2004, 2005 e 2006 relativas ao paraquato, assim como o número total de consultas realizadas nes-ses anos. no ano de 2004, o ciAV atendeu 28.807 chamadas, decorrentes de intoxicações humanas. Através da análise destas chamadas, podemos verificar que foram reportados ao ciAV 90 casos de intoxicações por pq, o que constitui 0,31% do total de consultas ao ciAV nesse ano. em 2005, o número total de consultas efectuadas foi de 28.177. relativamente às intoxicações pelo herbicida, em 2005 foram registados 70 casos, representando 0,25% do total de chamadas. em 2006, foram reportados ao ciAV 77 casos de intoxicações por este tóxico, o que constitui 0,27% das 27.620 consultas efectuadas nesse ano.

Tabela 1. número de consultas referentes ao paraquato e número total de consultas registadas pelo ciAV nos anos

de 2004, 2005 e 2006.

2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Nº de consultas referentes ao paraquato 90 0,31 % 70 0,25 % 77 0,27 % Nº total de consultas ao CIAV 28.807 100,00 % 28.177 100,00 % 27.620 100,00 %

3.1.2.

DISTRIBUIçÃO POR SExO

na tabela 2, podemos observar que no período de tempo em estudo (2004 a 2006), o sexo masculino apresentou uma maior incidência, constituindo 55,56%, 67,14% e 66,23% do total de intoxicações por paraquato respectivamente.

(5)

276

Tabela 2. Distribuição dos casos de intoxicações por paraquato reportados ao ciAV, segundo o sexo, nos anos de

2004, 2005 e 2006.

Sexo 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Feminino 40 44,44 % 23 32,86 % 19 24,68 %

Masculino 50 55,56 % 47 67,14 % 51 66,23 %

Desconhecido 0 0,00 % 0 0,00 % 7 9,09 %

Total 90 100,00 % 70 100,00 % 77 100,00 %

3.1.3.

DISTRIBUIçÃO POR FAIxA ETáRIA

na análise da distribuição das intoxicações segundo a faixa etária (tabela 3), é possível veri-ficar que no ano de 2004, o intervalo de idades entre os 40 e os 59 anos foi o que obteve a maior percentagem (33,33%). o mesmo se verificou no ano de 2006, onde a percentagem para estas idades foi de 32,47%. já em 2005, o intervalo de idades onde ocorreu um maior número de intoxicações por paraquato está compreendido entre os 20 e os 39 anos, com uma percentagem de 34,29%.

Tabela 3. Distribuição dos casos de intoxicações por paraquato reportados ao ciAV, segundo a faixa etária, nos anos

de 2004, 2005 e 2006.

Idade 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

< 5 4 4,44 % 1 1,43 % 3 3,90 % 5 – 9 0 0,00 % 2 2,86 % 1 1,30 % 10 -14 2 2,22 % 0 0,00 % 1 1,30 % 15 -19 2 2,22% 2 2,86 % 0 0,00 % 20 – 39 21 23,33% 24 34,29 % 19 24,68 % 40 – 59 30 33,33 % 18 25,71 % 25 32,47 % 60 – 79 27 30,00 % 21 30,00 % 20 25,97 % ≥ 80 2 2,22 % 1 1,43 % 1 1,30 % Desconhecida 2 2,22% 1 1,43 % 7 9,09 % Total 90 100,00% 70 100,00 % 77 100,00 %

3.1.4.

DISTRIBUIçÃO GEOGRáFICA

na tabela 4, os casos reportados ao ciAV estão distribuídos geograficamente de acordo com as regiões do país para os anos em estudo. em todos os anos, a região sul foi a região com maior incidência de casos de intoxicação por paraquato, seguindo-se as regiões centro e norte.

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Tabela 4. Distribuição, dos casos de intoxicações por paraquato reportados ao ciAV, por regiões do país, nos anos de

2004, 2005 e 2006.

região 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Norte 13 14,44 % 9 12,86 % 15 19,48 %

Centro 30 33,33 % 18 25,71 % 24 31,17 %

Sul 39 43,33 % 29 41,42 % 32 41,58 %

Região Autónoma dos Açores 2 2,22 % 3 4,29 % 3 3,89 %

Região Autónoma da Madeira 2 2,22 % 5 7,14 % 1 1,30 %

Desconhecida 4 4,44 % 6 8,57 % 2 2,60 %

Total 90 100,00 % 70 100,00% 77 100,00 %

3.1.5.

DISTRIBUIçÃO POR VIA DE ExPOSIçÃO

na tabela 5 é apresentada a distribuição dos casos de intoxicação por paraquato reportados ao ciAV segundo a via de exposição. como se pode verificar, em todos os anos analisados, a via de exposição predominante é a via oral, com resultados que rondam os 70% das intoxi-cações, tendo as restantes vias muito menor expressão. É importante salientar que em mais de 10% dos casos, a intoxicação sucede por mais do que uma via em simultâneo.

Tabela 5. Distribuição dos casos de intoxicações por paraquato reportados ao ciAV, segundo a via de exposição, nos

anos de 2004, 2005 e 2006.

Via de exposição 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Inalatória 11 12,22 % 6 8,57 % 8 10,39 % Oral 58 64,44 % 49 70,00 % 52 67,53 % Ocular 3 3,33 % 1 1,43 % 3 3,90 % Cutânea 8 8,89 % 6 8,57 % 3 3,90 % Intra-venosa 1 1,11 % 0 0,00 % 1 1,30 % Múltipla 8 8,89 % 8 11,42 % 10 12,99 % Desconhecida 1 1,11 % 0 0,00 % 0 0,00 % Total 90 100,00 % 70 100,00 % 77 100,00 %

3.1.6.

DISTRIBUIçÃO POR CIRCUNSTâNCIA DA INTOxICAçÃO

A tabela 6 apresenta a distribuição dos casos de intoxicações por paraquato reportados ao ciAV, segundo a circunstância da intoxicação, nos anos de 2004, 2005 e 2006. podemos constatar que as intoxicações voluntárias foram predominantes relativamente às intoxica-ções acidentais em todos os anos analisados. Foram registados nos anos de 2004, 2005 e 2006 respectivamente 56,67%, 68,57% e 57,14% de intoxicações voluntárias.

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Tabela 6. Distribuição dos casos de intoxicações por paraquato reportados ao ciAV, segundo a circunstância da

into-xicação, nos anos de 2004, 2005 e 2006.

Circunstância 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Acidental 32 35,56 % 22 31,43 % 33 42,86 %

Voluntária 51 56,67 % 48 68,57 % 44 57,14 %

Desconhecida 7 7,78 % 0 0,00 % 0 0,00 %

Total 90 100,00 % 70 100,00 % 77 100,00 %

3.2.

INSTITUTO NACIONAL DE MEDICINA LEGAL - DELEGAçÃO DO SUL

3.2.1.

PREVALêNCIA DA INTOxICAçÃO POR PARAqUATO

na tabela 7 são apresentados os casos fatais registados pelo serviço de toxicologia Forense da Delegação do sul do inml, nos anos de 2004, 2005 e 2006, decorrentes de intoxica-ções por pesticidas e, em particular, pelo paraquato. no ano de 2004 foram registadas por esta delegação do inml 10 mortes relativas a intoxicações pelo paraquato, o que constitui 37,04% das mortes resultantes de intoxicações por pesticidas. no ano de 2005, o número registado de mortes por este tóxico na delegação do sul foi de 14 mortes o que representa 30,43% do total de mortes causadas por intoxicações por pesticidas. em 2006 este número aumentou, tendo-se verificado 16 mortes devido a este herbicida, representando 33,33% das mortes por pesticidas.

Tabela 7. número de mortes resultantes de intoxicações fatais por paraquato e número de mortes resultantes de

intoxicações por pesticidas registadas pela Delegação do sul do inml nos anos de 2004, 2005 e 2006.

2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Nº de mortes resultantes de intoxicações por PQ 10 37,04 % 14 30,43 % 16 33,33 % Nº de mortes resultantes de intoxicações por pesticidas 27 100,00 % 46 100,00 % 48 100,00 %

3.2.2.

DISTRIBUIçÃO POR SExO

A tabela 8 apresenta a distribuição segundo o sexo dos casos de intoxicação fatal por para-quato registados pela Delegação do sul do inml nos anos de 2004, 2005 e 2006. É possível verificar que em todos os anos analisados, há um predomínio de mortes devido ao paraqua-to no sexo masculino, constituindo este percentagens de 60%, 64,25% e 81,25%, nos anos de 2004, 2005 e 2006, respectivamente.

Tabela 8. Distribuição dos casos de intoxicações fatais por paraquato registados pela Delegação do sul do inml,

segundo o sexo, nos anos de 2004, 2005 e 2006.

Sexo 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Feminino 3 30,00 % 4 28,57 % 3 18,75 %

Masculino 6 60,00 % 9 64,29 % 13 81,25 %

Desconhecido 1 10,00 % 1 7,14 % 0 0,00 %

(8)

279

3.2.3.

DISTRIBUIçÃO POR CIRCUNSTâNCIA DA INTOxICAçÃO

Através da análise dos dados registados pela Delegação de lisboa do inml relativos à cir-cunstância da morte decorrente da intoxicação por paraquato (tabela 9), é possível verificar que em todos os anos analisados o suicídio foi a situação mais comum.

Tabela 9. Distribuição dos casos de intoxicações fatais por paraquato registados pela Delegação do sul do inml,

segundo a circunstância da intoxicação, nos anos de 2004, 2005 e 2006.

Circunstância 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

Suicídio 7 70,00 % 5 35,75 % 8 50,00 %

Homicídio 1 10,00 % 0 0,00 % 0 0,00 %

Acidente 0 0,00 % 0 0,00 % 0 0,00 %

Desconhecida 2 20,00% 9 64,29 % 8 50,00 %

Total 10 100,00 % 14 100,00 % 16 100,00 %

3.2.4.

DISTRIBUIçÃO POR FAIxA ETáRIA

os dados referentes à distribuição de intoxicações por pq segundo a faixa etária, são apre-sentadas na tabela 10. Verifica-se que em 2004 e 2006, o grupo de idades onde ocorreu maior número de mortes devido ao pq foi dos 60 aos 79 anos, tendo sido registadas percen-tagens de 40% e 37,50% respectivamente. já em 2005, a faixa etária com maior incidência de mortes por este herbicida está situada entre os 40 e os 59 anos representando 42,86% das mortes.

Tabela 10. Distribuição dos casos de intoxicações fatais por paraquato registados pela Delegação do sul do inml,

segundo a faixa etária, nos anos de 2004, 2005 e 2006.

Idade 2004 2005 2006

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem

0 – 19 0 0,00 % 0 0,00 % 0 0,00 % 20 – 39 0 0,00 % 1 7,14 % 1 6,25 % 40 – 59 2 20,00 % 6 42,86 % 3 18,75 % 60 – 79 4 40,00 % 4 28,57 % 6 37,50 % ≥ 80 2 20,00 % 0 0,00 % 1 6,25 % Desconhecida 2 20,00 % 3 21,43 % 5 31,25 % Total 10 100,00% 14 100,00 % 16 100,00 %

4.

DISCUSSÃO

As intoxicações por pesticidas representam um sério problema de saúde pública que a todos deve preocupar, uma vez que constituem uma importante causa de morbilidade e mortalidade a nível mundial. o paraquato é actualmente, a seguir ao glifosato, o herbicida mais vendido em todo o mundo e merece especial destaque dentro da classe dos pestici-das devido ao alto índice de intoxicações e fatalidades que lhe são atribuípestici-das. em algumas partes do mundo, sobretudo nos países subdesenvolvidos da América central, os pesticidas provocam mais mortes que as doenças infecciosas (eddleston et al., 2002).

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280

Apesar de interessante e muito aliciante, a abordagem ao tema das intoxicações agudas por paraquato no nosso país torna-se difícil, uma vez que os dados epidemiológicos válidos sobre a morbilidade e mortalidade resultantes destas intoxicações são escassos. De facto, o levantamento dos casos de intoxicação por paraquato em portugal não se revelou uma tarefa fácil. É importante neste ponto realçar que o obstáculo encontrado no levantamento destes dados não foi devido à falta de simpatia e prontidão das fontes de informação envol-vidas, mas sim à inexistência de dados actuais inseridos em sistemas informatizados. perante tal facto, apenas as informações recolhidas no ciAV e no serviço de toxicologia Forense da Delegação do sul do inml, relativas ao período de 2004 a 2006, foram tratadas de forma a clarificar o perfil das intoxicações por este herbicida no nosso país. os centros de controlo de intoxicações são os principais serviços e/ou instituições governamentais que compilam e tratam informação e estatísticas acerca da incidência das intoxicações agudas. no entanto, embora os dados obtidos no ciAV sejam de máxima relevância para este estudo, há que ter em conta que não retratarão a realidade existente, uma vez que uma parte considerável das notificações registadas por este centro são espontâneas das vítimas ou seus familiares, ocorrendo, na maior parte das vezes, com o objectivo de obter informação sobre como pro-ceder e onde procurar atendimento. na maioria dos casos de intoxicação, o atendimento é procurado directamente em unidades hospitalares, o que leva a que muitos dos casos de intoxicação nunca cheguem a ser registados por este centro. Acresce que, em geral, tanto nas consultas dos médicos, como nas do público em geral, o centro não é ulteriormente in-formado da evolução clínica: cura, sequelas ou morte. no entanto, apesar destas limitações, a estatística do ciAV é um dos melhores indicadores do panorama das intoxicações e expo-sição a tóxicos em portugal e permite ter uma visão da morbilidade, risco e epidemiologia das intoxicações no país (Ferreira et al, 2008).

os resultados deste estudo revelaram que a prevalência das consultas ao ciAV devidas ao paraquato foi de 0,31%, 0,25% e 0,27% do total das consultas realizadas em 2004, 2005 e 2006, respectivamente. com base nos dados do ciAV foi também observada a prevalência do sexo masculino nas intoxicações por paraquato em todos os anos analisados. uma pos-sível explicação é o facto de haver um maior número de indivíduos do sexo masculino a trabalhar na agricultura e consequentemente com maior contacto com este tóxico. Atendendo à distribuição das notificações ao ciAV segundo a faixa etária, verificou-se que em 2004 e 2006, a maioria dos indivíduos intoxicados apresentavam idades compreendidas entre os 40 e os 59 anos e que em 2005 se situavam entre os 20 e os 39 anos.

Ao observar a distribuição geográfica das intoxicações por paraquato é possível verificar que a região sul apresenta o maior número de casos reportados nos três anos analisados. na distribuição dos dados segundo a via de exposição ao paraquato constatou-se que a via oral está presente em mais de metade dos casos de intoxicação registados no ciAV para o período em análise. embora alguns casos registados sejam relativos a intoxicações aciden-tais, é de realçar que a grande maioria dos casos de intoxicações por via oral estão associa-das a tentativas de suicídio. numa análise mais detalhada dos dados recolhidos, podemos verificar que as intoxicações voluntárias por paraquato representaram 56,67%, 68,57% e 57,14% do total de casos registados nos anos de 2004, 2005 e 2006, respectivamente. As vias cutânea e inalatória também são encontradas num número considerável de casos de intoxicação, o que pode dever-se a uma má utilização do produto, na sequência do incum-primento das normas de aplicação do mesmo.

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Analisando agora as mortes em consequência de intoxicação por paraquato, os dados

re-gistados pelo serviço de toxicologia Forense da Delegação do sul do inml revelam que o paraquato apresenta um lugar de destaque no total de mortes resultantes de intoxicações por pesticidas. este agente tóxico foi identificado em 37,04%, 30,43% e 33,33% do total de óbitos resultantes de intoxicações por herbicidas nos anos de 2004, 2005 e 2006, respectiva-mente. constatou-se igualmente que, tal como seria de esperar atendendo aos resultados obtidos no ciAV, o sexo masculino apresentou um maior número de mortes resultantes da exposição ao herbicida para o período em análise.

relativamente à distribuição segundo a faixa etária, para os anos de 2004 e 2006 verificou-se uma maior incidência de intoxicações fatais em indivíduos entre os 60 e os 79 anos, repre-sentando 40% e 37,5% dos casos, respectivamente. já para o ano de 2005, a faixa etária com maior percentagem de mortes situava-se entre os 40 e os 59 anos com uma percentagem relativa de 42,4%.

no nosso estudo, foi impossível determinar a circunstância da morte em 64,3% e 50% dos casos de intoxicações fatais por paraquato nos anos de 2005 e 2006, respectivamente. po-rém, nos indivíduos em que esta é conhecida, os casos de suicídio são predominantes. es-tes resultados estão em consonância com vários estudos que indicam que as intoxicações voluntárias com pesticidas têm-se tornado num dos métodos de auto-lesão (suicídio) mais comuns a nível mundial, particularmente nos países subdesenvolvidos, com estimativas de 300.000 mortes por ano para a região ásia-pacífico, contribuindo para cerca de um terço dos suicídios globais (gunnell, 2007; wilks et al, 2008; eddleston et al, 2005; eddleston e phillips, 2004). estes estudos citam igualmente uma taxa de mortalidade por suicídio com pesticidas muito superior à da intoxicação acidental e com uma incidência superior no sexo masculi-no. É, no entanto, importante referir que em nenhum dos anos analisados foram registados casos de intoxicações acidentais por paraquato que tenham resultado em morte, embora como se pode ver através da análise dos dados do ciAV, exista um número considerável de exposições acidentais a este herbicida. uma explicação para este facto poderá ser a maior exposição ao tóxico, decorrente da dose ingerida e da via de contacto com o produto, nos casos de auto-lesão, resultando em quadros mais severos e fatais.

5.

CONCLUSõES

poucos anos após a introdução do paraquato no mercado, tornou-se claro que o uso in-devido deste herbicida pode causar sérios danos à saúde humana. embora o paraquato apresente uma segurança comprovada, sempre que respeitadas as normas de segurança, quando ingerido este tóxico apresenta elevada toxicidade, o que levou à restrição do seu uso em vários países.

também em portugal, a política de redução dos riscos dos pesticidas levou ao cancelamento das autorizações de vendas nacionais de produtos fitoterapêuticos com base em paraquato. perante a elevada toxicidade do paraquato, principalmente a nível pulmonar, vários estudos têm sido realizados de modo a tentar encontrar um antídoto eficaz. o salicilato de sódio po-derá ser a resposta há tanto tempo aguardada; no entanto, este potencial antídoto ainda se encontra em fase de ensaios clínicos (Dinis-oliveira et al., 2007). Assim, em virtude do elevado interesse económico em torno do paraquato, a sua restrição poderá ser apenas temporária se se vier a comprovar a eficácia deste antídoto em casos clínicos de intoxicação por paraquato.

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os resultados deste estudo revelam que no nosso país, considerando as intoxicações agu-das por pesticiagu-das, o paraquato representa uma importante causa de mortalidade. embora alguns casos de intoxicações sejam acidentais, predominam as intoxicações com intenção suicida. Deste modo, fica a certeza de que a restrição do uso deste herbicida no nosso país evitará um número considerável de intoxicações, muitas das quais fatais.

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Referências

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