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Caracterização isotópica ( 18 O, D) e hidroquímica das águas da bacia do rio da Prata de São Luís/MA e vizinhança

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Academic year: 2021

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João Filomeno Barros1; João Batista Almeida2; Carla Maria Salgado Vidal Silva3; Josué Mendes Filho4; Bruno Alves de Mesquita5; Maria Marlúcia Freitas Santiago7 e Horst Frischkorn6

1, 2 Instituto Federal do Maranhão, MA, Brasil

rennan.barros@hotmail.com; bvapalmeida@yahoo.com.br

3, 4, 5, 7 Universidade Federal do Ceará – Departamento de Física, CE, Brasil

carla@fisica.ufc.br; josue@fisica.ufc.br; bruno.mesquita@fisica.ufc.br; marlucia@fisica.ufc.br

6 Universidade Federal do Ceará – Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, CE, Brasil

cariri@ufc.br

Recebido: 13/02/14 - Revisado: 16/07/14 - Aceito: 22/12/14

RESUMO

Os isótopos ambientais oxigênio-18 e deutério foram utilizados como ferramenta na identificação de interação água subterrânea/água superficial na Bacia Hidrográfica do Rio da Prata – Maranhão. Foram georreferenciados 19 pontos, 02 na barragem do rio da Prata, 02 nascentes e 14 poços tubulares e uma cacimba, para coleta de amostras no período seco e no período chuvoso e medida da condutividade elétrica e análise isotópica; também foram coletadas e analisadas isotopicamente águas de chuva da bacia hidrográfica. Os resultados mostram que nas nascentes, na barragem e em 07 poços CE < 100 µS/cm, em 04 poços na faixa de 110 a 137 µS/cm e em 04 de 203 a 400 µS/cm. As medidas isotópicas distinguem as águas da barragem que apresentam os maiores valores por efeito da evaporação, com δ18O de -3,55 a -3,01‰ e δD de -16,7 a -15,4‰, que as águas subterrâneas, com faixas de δ18O de -6,90 a -3,45‰ e δD de -39,6 a -17,0‰. Devido o forte “efeito de quantidade” nas chuvas anuais bastante variáveis, a origem da recarga dos aquíferos na bacia e vizinhança pode ser identificada.

Palavras Chave: Rio da Prata - São Luís. Oxigênio-18 e deutério. Recarga de aquífero

ABSTRACT:

Environmental isotopes oxygen -18 and deuterium were used as tools for the identification of groundwater / surface water interaction in the basin of the Rio da Prata watershed - São Luís/ Maranhão . 19 points were georeferenced, 02 in the dam of the Rio da Prata , 02 springs and 14 drilled wells and one dug well for sampling in the dry season and the rainy one and for the measurement of electrical conductivity and isotope analysis; rainfall was also monitored and analyzed isotopically . The springs, the samples from the dam, and 07 wells showed EC < 100μS/cm; 04 wells had EC from 110 to 137μS/cm and 04 from 203 to 400μS/cm . Isotopic measurements distinguish the waters of the dam with the highest values due to the effect of evaporation on δ18O, with -3.55 to -3.01 ‰, and on δD, with -16.7 to -15.4 ‰; groundwaters range from -6.90 to -3.45 ‰ for δ18O and from -39.6 to -17.0 ‰ for δD . Due to the strong isotopic “amount effect” on strongly varying annual rainfall, the origin of groundwater recharge could be identified.

Keywords: Rio da Prata - São Luís. Oxygen -18 and Deuterium. Aquifer Recharge

Caracterização isotópica (

18

O, D) e hidroquímica das águas da bacia do rio da Prata

de São Luís/MA e vizinhança

Isotopic (

18

O, D) and hydrochemical characterization of water of the Prata river basin in São Luis/MA and

surroundings

(2)

405

InTRODUçãO

O abastecimento público de água de São Luís/Maranhão é feito pelo Sistema Sacavém, predominantemente, de água superficial armazenada no Reservatório Batatã, localizado no Parque Estadual do Bacanga, uma represa na Bacia Hidrográfica do Rio Bacanga e de água armazenada em um lago no rio da Prata, afluente do rio Batatã, localizado após a barragem do Batatã. Água subterrânea também contribui para o Sistema de abastecimento através de uma bateria de 14 poços tubulares.

Outros sistemas de abastecimento já foram desativados nos últimos 40 anos (PEREIRA et al., 2011); o do Rio Maracanã, que captava água para a Barragem do Batatã, o Sistema Olho D´Agua e a antiga Barragem de São Raimundo. A Barragem do Rio da Prata, de onde as águas são bombeadas para a bar-ragem do Batatã, pode ser mais uma fonte a ser desativada se as condições de recarga não forem conhecidas para conduzir a um uso sustentável.

Os isótopos oxigênio-18 e deutério (D) na água sub-terrânea são excelentes traçadores porque conservam a compo-sição em condições de temperatura normal e dificilmente são afetados pela interação água rocha (GAT, 1996; McCARTHY et al., 1992). Em águas superficiais, a evaporação promove o enriquecimento dos isótopos pesados. Entre as aplicações desta propriedade estão os estudos sobre a interação água superficial/ água subterrânea, alguns identificando os percentuais de mistura (CLARK; FRITZ, 1997; KOHFAHL et al., 2008), a determinação da evaporação no estudo da qualidade das águas (LAAR et al., 2011), de recarga de aquíferos (ADOMAKO et al., 2011), a identificação de fontes de recarga (LIU; YAMANAKA, 2012; QIN et al., 2011; VANDERZALM et al., 2011; WASSENAAR; ATHANASOPOULOS; HENDRY 2011). Estes traçadores são aqui utilizados para caracterizar isotopicamente as reservas superficiais e subterrâneas na Bacia do Rio da Prata e vizinhança e identificar origem e a interação entre elas.

A área de estudo (Figura 1), a Bacia Hidrográfica do Rio da Prata, com 1,93 km2 (CAEMA, 2010), está localizada na

porção sudoeste da Ilha de São Luís, inserida na Bacia do Rio Bacanga; suas coordenadas geográficas são a Norte: 02°35’ 40” e 44°16’ 30”; Sul: 02°36’ 56” e 44° 16’ 14”; Leste: 02°36’ 19” e 44°16’ 3” e Oeste: 02°36’ 11”.

O clima da área é tropical quente e úmido, por influência da Zona de Convergência Intertropical, caracterizado por duas estações bem definidas: uma seca e outra chuvosa. A estação chuvosa, de dezembro a junho, tem o mês de abril como o mais chuvoso. A pluviosidade normalmente ultrapassa 2000 mm/ano, o que fragiliza os solos e limita a atividade agrícola, já que as intensas chuvas provocam erosão e forte lixiviação (BRASIL, 2009).

A temperatura média da região é de 26°C, com am-plitude térmica menor que 7°C no ano, e sofre influência da maré; quando está mais ou menos nublado, como durante a preamar, as massas de ar perdem parcialmente sua dinâmica deixando de circular, impedindo que o calor seja dissipado para a atmosfera, ocasionando aumento de temperatura. A temperatura local também é influenciada consideravelmente pela vegetação, principalmente nos brejos que, associados aos recursos hídricos, tornam o local aprazível em muitos dias do ano (FORTES, 2010).

A área em estudo está inserida numa Área de Proteção Ambiental; nela, foi construída uma barragem que forma um lago no Rio da Prata. Várias nascentes contribuem para o rio, algumas delas na área ou sob a influência da antiga Escola Agrí-cola do Maranhão, atualmente Instituto Federal do Maranhão, Campus do Maracanã, em São Luís.

Segundo Feitosa (1996), as estruturas geológicas su-perficiais na Ilha de São Luís, são constituídas por rochas da Formação Itapecuru, que datam do Cretáceo, sobrepostas, em algumas áreas, pela Formação Barreiras, originária do Terciário, e por sedimentos Quaternários da Formação Açui, que são os terrenos recentes. Nos tabuleiros e nas vertentes estão as rochas de idade terciária; os sedimentos Quaternários estão na zona litorânea e nas desembocaduras.

(3)

MATERIAIS E MÉTODOS

Os pontos de amostragem estão indicados na figura 1, sendo N1 e N2 respectivamente Nascente 1 e Nascente 2, L1 e L2, meio do lago (açude) e próximo à parede da barragem, respectivamente. Os 14 poços e 01 cacimba estão indicados como P1 a P14 e C1, sendo P1, P2 e P5 localizados na Bacia do Rio da Prata e os demais na vizinhança.

As coletas de amostras d’água nos poços foram realizadas nos períodos seco e de chuva; as duas primeiras campanhas em outubro e dezembro de 2011 (final do período seco) e as outras, nos meses fevereiro, abril, julho e setembro de 2012, no período chuvoso, e no início de período seco. Águas de chuvas mensais de 2012 foram coletadas de um posto na Vila Esperança, chácara Laurentina, localizada em 02° 36’ 26” de latitude sul e 44° 15’ 54,4” de longitude oeste. No lago e nas nascentes, as amostras foram coletadas em dezembro de 2011, março e junho de 2012.

Em campo, foram medidas as condutividades elétricas e em cada ponto foram coletadas três amostras em frascos plásticos com capacidade para 500 mL e destinadas à análise hidroquímica e uma amostra de 100 mL para análise isotópica.

As determinações de deutério e oxigênio-18 são feitas em espectrômetro de massa com dupla entrada e duplo coletor, onde a amostra e um padrão são medidos alternadamente. As concentrações isotópicas são expressas em δ em relação ao padrão VSMOW (Vienna Standard Mean Ocean Water).

As análises foram realizadas no Laboratório de Isótopos

Estáveis do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Brasília – LAIS/IG/UnB com erro das medidas de ± 1‰ para o hidrogênio e ± 0,2‰ para o oxigênio.

RESULTADOS E DISCUSSãO

A condutividade elétrica (µS/cm), relacionada com a sa-linidade (ppm) por um fator aproximadamente 0,64 (METCALF; EDDY, 1991), em amostras de três coletas de água superficial coletadas no lago, L1 na barragem e L2 no meio, e de águas subterrâneas coletadas nas nascentes N1 e N2, em poços P1 a P14 e em uma cacimba C1, está mostrada nas tabelas 1a, 1b e na figura 2. Nas nascentes, no lago e nos poços P1, P2 P5, P6, P8 e P14, os dois primeiros na Bacia Hidrográfica do Rio da Prata e os outros no seu entorno estão os valores mais baixos, com CE < 60 µS/cm; na faixa de 60 a 200 µS/cm estão águas nos poços P7, P9 e P13 e valores >200 µS/cm são das águas dos poços P3, P10, P11 e P12. As águas na cacimba variaram da faixa de valores menores para a faixa de valores intermediários; ela estava seca nas duas últimas coletas. As mudanças com o tempo indicam o efeito da recarga no período chuvoso, mas elas mantêm as faixas, com exceção das amostras da cacimba.

As medidas de oxigênio-18 e deutério (Tabela 1 e Fi-guras 3a e 3b) apresentam valores mais elevados nas amostras do lago do que nas águas subterrâneas indicando o efeito da evaporação nas águas superficiais. Valores δ18O na faixa logo

abaixo são das águas nas nascentes e nos poços P4, P5, P10 a P14 e os mais baixos que -4,2‰ são das águas dos demais poços. As diferenças entre os valores na coleta de dezembro de 2011 (final do período seco) e junho de 2012 (final do período chuvoso) são pequenas, considerando o erro de medida de 0,2‰ para δ18O, com exceção de P13 e P14.

As medidas isotópicas das águas do lago mostram mais claramente o efeito do processo de evaporação do que as

me-(1) 10 O) O/ ( O) O/ ( O) O/ ( (‰) O δ 3 padrão 16 18 padrão 16 18 amostra 16 18 18 (2) 10 (D/H) (D/H) (D/H) (‰) δD 3 padrão padrão amostra  δD = 7,67 δ18O + 8,86 (3) δD = 7,50 δ18O + 9,98 (4) δD = 7,15 δ18O + 9,44 (5) δD = 8,17 δ18O + 11,17 (6) (1) (2) Mês P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 C1 Condutividade Elétrica (µS/cm) out-2011 55 20 394 98 57 51 120 42 97 358 200 254 132 61 46 dez-2011 64 30 310 101 46 50 101 52 100 400 230 297 117 50 60 fev-2012 67 26 377 105 52 56 137 55 96 278 210 282 86 39 95 abr-2012 59 22 339 102 57 52 96 53 87 288 206 200 130 33 95 jul-2012 57 20 - 101 51 55 93 49 80 260 223 318 130 41 - set-2012 51 21 - 90 16 24 70 13 70 218 203 270 128 30 - Mês δ18O (‰) dez-2011 -4,38 -4,71 -4,40 -3,81 -3,90 -5,54 -4,79 -4,97 -4,57 -4,31 -3,65 -3,77 -4,01 -4,17 -3,66 jul-2012 -4,36 -4,98 - -3,93 -3,45 -5,21 -4,33 -5,09 -4,75 -4,08 -3,83 -3,81 -5,00 -6,90 - Mês δD (‰) dez-2011 -22,1 -24,9 -22,2 -18,2 -19,8 -30,2 -26,7 -28,6 -26,7 -23,7 -18,1 -18,4 -18,4 -19,9 -17,5 jul-2012 -21,3 -25,5 - -18,1 -18,9 -27,7 -23,0 -28,1 -25,8 -19,7 -18,0 -17,0 -25,2 -39.6 -

Tabela 1a- Condutividade elétrica de amostras coletadas em poços em outubro e dezembro de 2011, fevereiro, abril, julho e setembro de 2012 e oxigênio-18 e deutério em dezembro 2011 e julho 2012

,

10 (1) O) O/ ( O) O/ ( O) O/ ( (‰) O δ 3 padrão 16 18 padrão 16 18 amostra 16 18 18 (2) 10 (D/H) (D/H) (D/H) (‰) δD 3 padrão padrão amostra  δD = 7,67 δ18O + 8,86 (3) δD = 7,50 δ18O + 9,98 (4) δD = 7,15 δ18O + 9,44 (5) δD = 8,17 δ18O + 11,17 (6)

,

(4)

407

didas de condutividade elétrica como se observa comparando as figuras 2 e 3.

Para identificar isotopicamente as águas de recarga, foram medidos a pluviosidade mensal, δ18O e δD de janeiro a

junho de 2012 (Tabela 2 e Figura 4 ); os resultados mostram que quanto maior é a quantidade de chuva, mais negativos são os valores de δ18O e δD, o que caracteriza o “Efeito de

Quan-tidade”. A composição isotópica das chuvas é função de fatores

como intensidade, pressão atmosférica e número de ciclos de evaporação e condensação (DANSGAARD, 1964).

O excesso de deutério (Tabela 2) é definido como δD - 8 δ18O (MERLIVANT; JOUZEL, 1979; ele depende das

condições da umidade durante a evaporação (MERLIVAT; JOUZELl, 1979; PFAHL; WERNLI, 2008).

As médias ponderadas com a pluviosidade mensal (Figuras 3a e 3b) de todas as chuvas de 2012 e dos três meses mais chuvosos são δ18O = -3,46‰ e -4,08‰ (Figura 4),

respec-tivamente, e δD = -18,70‰ e -22,33‰, respectivamente. Como na recarga dos aquíferos, águas provenientes de pluviosidade maior são preferidas (enquanto chuvas fracas retornam para a atmosfera por evapotranspiração), consideramos os valores trimestrais como característicos da recarga em 2012. Para 2011 não dispomos de valores isotópicos; podemos, porém usar o

Mês L1 L2 N1 N2 L1 L2 N1 N2 L1 L2 N1 N2

CE (µS/cm) δ18O (‰) δD (‰)

dez/2011 51 56 48 55 -3,38 -3,01 -3,94 -4,03 -16,3 -16,3 -18,1 -18,0

mar/2012 50 50 40 44 - - - -

jun/2012 47 50 43 44 -3,55 -3,22 -3,76 -3,72 -16,7 -15,4 -16,5 -16,6

Tabela 1b – Condutividade elétrica (CE), oxigênio-18 e deutério de amostras de nascentes (n1 e n2) e lago (L1 e L2) coletadas em dezembro de 2011, março e junho de 2012

N1 N2 L1 L2 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 C1 -0 100 200 300 400 500 out-2011 dez-2011 fev-2012 abr-2012 jul-2012 set-2012 Conduti vi dade elétrica (  S/cm) Coletas N1 N2 L1 L2 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 C1 --7 -6 -5 -4 -3 -2 dez-2011 jul-2012  18 O(‰) Coletas -3,46‰ -4,08‰ (a) N1 N2 L1 L2 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 C1 --40 -30 -20 -10 dez-2011 jul-2012  D(‰ ) -18,70‰ -22,33‰ Coletas (b) Mês δ18O (‰) δD (‰) d (‰) P (mm) jan -1,47 -1,8 9,96 100,2 fev -3,27 -19,3 6,86 238,1 mar -4,44 -24,9 10,62 331,7 abr -4,37 -23,1 11,86 249,5 mai -1,32 -0,1 10,46 86,4 jun -1,09 1,0 9,72 50,8 -5 -4 -3 -2 -1 0

jan fev mar abr mai jun 0

50 100 150 200 250 300 350 Pl uvi om etria (mm ) Pluviometria  18 O (‰) 18O (‰) Figura 2 - Condutividade elétrica em nascentes (n1 a n2), lago

(L1 e L2), poços (P1 a P14) e cacimba (C1) em outubro e dezembro de 2011 e fevereiro, abril, julho e setembro de 2012

Figura 3 - (a) δ18O e (b) δD em amostras de nascentes (N1 e N2),

lago (L1 e L2), poços (P1 a P14) e cacimba (C1) coletadas em dezembro de 2011 e julho de 2012

Tabela 2 – Medidas de δ18O, δD, excesso de deutério (d) nas

chuvas e pluviometria no Posto Meteorológico da chácara Laurentina Vila Esperança em São Luís/MA, nos meses de

janeiro a junho /2012

(5)

408 efeito de quantidade para obter valores aproximados para este

ano, que foi, com 2715 mm acumulados, principalmente, nos primeiros 04 meses o mais chuvoso dos últimos dez anos. Assim, com os valores do Efeito de Quantidade indicados na figura 7 e com as pluviosidades para os primeiros quatro meses de 2011, resultam valores estimados de δ18O ≈ -7‰ e de δD ≈ -53,5‰.

Os valores, abaixo de -4,08‰ para 18O e -22,33‰

para D que aparecem em grande parte das amostras, devem ser produzidos por recargas com chuvas mais intensas de 2011; já o ano de 2012 foi de poucas chuvas na área, promovendo recarga fraca e, com isso, imprimindo uma marcação isotópica fraca.

Figura 6 - Histograma de pluviometria no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2012 no posto meteorológico nUGEO-UEMA

Assim, o Efeito de Quantidade explica valores de δ18O

e δD menores que das chuvas de 2012; são águas de recarga de anos anteriores quando a pluviosidade anual foi acima de 2000 mm, especialmente em 2011. Com isso, os menores valores encontrados nos poços, δ18O = -6,9‰ e δD = -39,6‰, podem

ser explicados pela recarga pelas chuvas intensas em 2011. Na figura 8, observa-se que amostras com CE < 150µS/ cm têm δ18O na faixa de -3 a -7‰ e que as águas com CE >

200 µS/cm, mantêm δ18O na faixa de -4,40 a –3,65‰,

carac-terizando dois sistemas aquíferos diferentes.

-25 -20 -15 -10 -5 0 5  D (‰) D (‰)

jan fev mar abr mai jun 0

50 100 150 200 250 300 350 Pl uvi om etria (mm ) Pluviometria

Figura 5 - δD nas chuvas de janeiro a junho/2012 e pluviometria

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

0 200 400 600 Pl uvi om etria (mm ) 2011 2012 500,3 m m 621,5 mm

Figura 7– δD e δ18O nas chuvas de janeiro a junho/2012 versus

pluviometria

Figura 8 – δ18O versus condutividade elétrica em amostras de

poços coletadas em dezembro/2011 e junho/2012

0 100 200 300 400 0 -1 -2 -3 -4 -5 5 0 -5 -10 -15 -20 -25 -30 18 O  18 O (‰) Pluviometria (mm) mm = -1,4‰ Dmm = -10,7‰ D D (‰) 0 100 200 300 400 500 -8 -6 -4 -2 dez-2011 jul-2012    (‰) Condutividade elétrica (S/cm) Coletas - 3,46‰ - 4,08‰ -4,44‰ (1) 10 O) O/ ( O) O/ ( O) O/ ( (‰) O δ 3 padrão 16 18 padrão 16 18 amostra 16 18 18 (2) 10 (D/H) (D/H) (D/H) (‰) δD 3 padrão padrão amostra  δD = 7,67 δ18O + 8,86 (3) δD = 7,50 δ18O + 9,98 (4) δD = 7,15 δ18O + 9,44 (5) (3) -5 -4 -3 -2 -1 0 1 -30 -20 -10 0 10  D (‰) 18O (‰) D = 7,67 18O + 8,86 R2 = 0,98 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 -40 -30 -20 -10 0 10 dez 2011 jun 2012  D(‰ ) 18O(‰) Coletas em poços D = 7,518O + 9,98 dez 2011 D = 7,15 18O + 9,44 jun 2012

Figura 9 - δD versus δ18O das chuvas na Vila Esperança em São

Luís/MA em 2012

Figura 10 - δD versus δ18O em águas subterrâneas coletadas no final

do período seco (dez/2011) e final do período chuvoso (junho/2012)

.

(6)

409

RBRH vol. 20 no.2 Porto Alegre abr./jun. 2015 p. 404 - 410

A relação δD versus δ18O nas águas de chuva em 2012

(Figura 9) a Reta Meteórica Local, é expressa por:

Nas águas subterrâneas, estas relações nas coletas de

dezembro de 2011 e junho de 2012 são respectivamente (Figura 10):

Considerando o erro nas medidas isotópicas, os coe-ficientes angulares das retas, RML e das amostras de dezem-bro/2011 são muito semelhantes e são de águas que sofreram leve processo de evaporação quando comparadas à Reta Meteórica Mundial (ROZANSKI; ARAGUÁS-ARAGUÁS;

GONFIANI-NI, 1993) (Com sua primeira determinação, δD = 8 δ18O + 10,

feita por CRAIG (1961)):

A composição isotópica das chuvas é função da quan-tidade e intensidade, da temperatura da atmosfera e do número

de ciclos de evaporação e condensação, portanto depende da localização (DANSGAARD, 1964).

δ18O (Figura 11) e condutividade elétrica (Figura 12)

em amostras do lago e de duas nascentes junto a ele, coletadas em dezembro/2011, março/2012 e junho/2012, mostram dois efeitos, o da recarga no período chuvoso que empobrece as águas nos isótopos pesados e o da evaporação que as enriquece. Os valores de δ18O no lago são sempre mais elevados do que nas

nascentes e os mais baixos nas nascentes são os de final do perí-odo seco; nesta época a interação lago aquífero era inexpressiva.

A condutividade elétrica esteve mais alta no final do período seco com valores na barragem próximo ao da Nascente 2, que está em conexão hidráulica com o lago; em março as amostras do lago tinham o mesmo valor e em junho os das duas nascentes se aproximaram.

Com a chegada do período chuvoso, os valores de δ18O

e CE no lago diminuíram sob o efeito da renovação pelas chu-vas que têm mais baixos valores isotópicos e de condutividade elétrica. Com o período chuvoso, δ18O aumentou nas nascentes

porque as chuvas que recarregaram o aquífero em 2012 tiveram valores mais elevados do que as do ano anterior pelo Efeito de Quantidade. A condutividade elétrica diminuiu nas nascentes com a recarga aumentando depois por efeito de mistura com as águas residuais, mais salinas.

COnCLUSãO

As concentrações isotópicas de oxigênio e hidrogênio marcam as águas na área estudada; na bacia do Rio da Prata, as amostras nas nascentes, cacimba e em um poço tinham oxi-gênio-18 e deutério com valores da média das chuvas mensais do ano; as amostras do lago tinham os mais altos valores en-contrados resultantes do processo de evaporação. Na maioria dos poços da vizinhança, os valores estavam na faixa entre a média mensal de todas as chuvas e média mensal das chuvas mais intensas; valores mais baixos correspondem às chuvas dos anos anteriores, de maior pluviosidade dos dez últimos anos.

REFERÊnCIAS

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Dez/2011 Mar/2012 Jun/2012

-4,0 -3,6 -3,2 -2,8  18O ‰ ) Nascente N1 Nascente N2 Meio lago L1 Barragem L2

Dez/2011 Mar/2012 Jun/2012

42 48 54 60 Conduti vi dade elétrica (  S/cm) Meio lago L1 Barragem L2 Nascente N1 Nascente N2

Figura 11 – δ18O em amostras de duas nascentes (n1 e n2) e dois

pontos no lago (L1 e L2) coletadas em dezembro/2011, março/2012 e junho/2012

Figura 12 – Condutividade elétrica em amostras de duas nascentes (n1 e n2) e dois pontos no lago (L1 e L2) coletadas

em dezembro/2011, março/2012 e junho/2012

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