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RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA (CONVOCADO) - 4ª TURMA RELATÓRIO

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RELATÓRIO

O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal SÉRGIO MURILO WANDERLEY

QUEIROGA (Relator convocado):

Cuida-se de remessa oficial e de apelação interposta pela União em face de sentença que, julgando parcialmente procedente o pedido formulado na petição inicial, declarou a ilegalidade do ato de licenciamento do autor e determinou sua reintegração às Forças Armadas, a fim de que fosse reformado com a percepção de proventos calculados de forma proporcional, como base no soldo integral do posto ou graduação, retroativamente à data do ato que o licenciou.

Condenou, ainda, a União ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados em R$800,00 (oitocentos reais), nos termos do art. 20, §3º e §4º, do CPC.

Em suas razões recursais, a União sustenta, em síntese, que o sinistro sofrido pelo autor não pode ser caracterizado como acidente de serviço, por entender que o fato dele estar conduzindo sem carteira de habilitação configura transgressão disciplinar, de acordo com o n° 82 do Anexo I do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE).

Destaca, ainda, de acordo com as Informações prestadas pelo Ministério da Defesa/Comando do Exército, o postulante, à época em que ocorreu o acidente, percebia auxílio transporte no valor de R$ 418,35 (quatrocentos e dezoito reais e trinta e cinco centavos), conforme ficha financeira anexada aos autos, razão pela qual evidente que o Exército Brasileiro cumpriu com todas as suas obrigações e cuidados, desconfigurando-se o fato como acidente de trabalho.

Defende, a seguir, a legalidade do ato que desincorporou o autor do Exército, ressaltando que o demandante é portador de moléstia sem relação de causa e efeito com o serviço militar e, como tal, poderá ser licenciado pelo término de serviço militar a que se obrigou, sendo garantido apenas o encostamento ao Organização castrense para fins de tratamento na condição de adido. Aduz, ainda, que a incapacidade que acomete o autor é temporária, não sendo comprada a sua incapacidade para todo e qualquer trabalho. Pugna, pois, pelo provimento de sua apelação.

Nos mesmos autos, apela o autor, aduzindo, em suma, que deve ser concedida a sua reforma com proventos integrais - e não proporcionais - do posto que ocupava na ativa, bem como deve ser majorada a verba honorária advocatícia, nos termos do art. 20, §§3º e 4º, do CPC.

Contrarrazões apresentadas pela parte autora. É o relatório.

PROCESSO Nº: 0800050-06.2015.4.05.8402 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE RAFAEL ANTONINO (e outro)

ADVOGADO: FERNANDO AUGUSTO FERNANDES AZEVEDO APELADO: UNIÃO FEDERAL (e outro)

ADVOGADO: FERNANDO AUGUSTO FERNANDES AZEVEDO

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA

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VOTO

O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal SÉRGIO MURILO WANDERLEY

QUEIROGA (Relator convocado):

O cerne da presente demanda reside em saber se o autor, JOSÉ RAFAEL ANTONINO, tem direito a ser reintegrado aos quadros do Exército, até a sua completa recuperação e, caso constatada a sua invalidez seja concedida a sua reforma ex officio, em razão de incapacidade oriunda de acidente de motocicleta.

Da análise do substrato fático-probatório acostado aos autos, especialmente do teor da perícia judicial (id. 4058402.935242) e da sindicância (id 058402.610230 e 4058402.610241), constata-se que a incapacidade do postulante decorreu das lesões sofridas em virtude do acidente ocorrido em 05/07/2012, quando o mesmo retornava de seu posto de serviço em Caicó/RN para a sua residência localizada em Acari/RN.

No entanto, a instituição militar deixou de reconhecer o sinistro como acidente em serviço, por entender que o postulante incorreu em transgressão disciplinar porque, quando sofreu o acidente, estava conduzindo sua motocicleta sem possuir carteira de habilitação para tanto.

Ao se debruçar sobre essa questão - caracterização ou não do acidente como sendo de serviço - a qual se afigura fundamental para a análise dos demais pontos da demanda, o douto juiz a quo, assim se manifestou:

A direção de veículo automotor sem a habilitação legal, posto que conduta ilícita, não causa, por si só, qualquer acidente. O Acidente é fruto de uma causa e a direção sem habilitação não se configura com causa hábil, por si só, a gerar acidentes. Por isso que o dispositivo normativo em comento determina que a causa do acidente seja comprovada em procedimento policial ou disciplinar.

Entrementes, quando da apuração disciplinar, levantou-se apenas o fato da ausência de carteira nacional de habilitação. Nada foi investigado sobre a real causa do acidente, notadamente se foi o autor que a ele deu causa.

Como já dito alhures, a ofensa à legislação de trânsito pode implicar transgressão disciplinar, conforme o art. 14 e o item 82 do Anexo I do Decreto 4. 346/2002. Porém, ocorre que, para descaracterização do acidente de serviço, seria necessário que o infortúnio fosse causado pela transgressão, nos termos do art. §2º, do Decreto 57.272/65 acima destacado.

No caso em testilha, embora havido sindicância no âmbito castrense para apuração dos fatos, não restou comprovada relação entre a inabilitação do militar para conduzir motocicleta e o acidente, o que leva ao reconhecimento do acidente de serviço descrito no art. 1º, "f" do Decreto 57.272/1965 já destacado.

Ainda, o fato do cometimento de infração ou crime de trânsito são punidos em lei específica, qual seja a Lei nº 9.503/97. Assim, conforme determina o § 1º do art. 14 do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) a seguir

PROCESSO Nº: 0800050-06.2015.4.05.8402 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE RAFAEL ANTONINO (e outro)

ADVOGADO: FERNANDO AUGUSTO FERNANDES AZEVEDO APELADO: UNIÃO FEDERAL (e outro)

ADVOGADO: FERNANDO AUGUSTO FERNANDES AZEVEDO

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA

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transcrito, este fato foge a esfera de atribuições da administração militar para sancionar o ocorrido:

"Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à etica, aos deveres e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.

§ 1º Quando a conduta praticada estiver tipificada em lei como crime ou contravenção penal, não se caracterizará transgressão disciplinar."

Dessa forma, face o exposto, restou caracterizado acidente em serviço. [...]"

Irretocável esse entendimento, o qual já adoto como razão de decidir. Com efeito, sendo incontroverso que o acidente de trânsito ocorreu entre a unidade de serviço e a residência do militar e, ainda, que não houve culpa do acidentado ou relação entre a ausência de habilitação e o infortúnio, forçoso reconhecer que o sinistro como sendo acidente de serviço.

Além disso, ressalte-se que a ofensa à legislação de trânsito (condução da motocicleta sem habilitação para isso) pode até implicar transgressão disciplinar, conforme o art. 14 e o item 82 do Anexo I do Decreto 4.346/2002, mas, para a descaracterizar o acidente como sendo acidente de serviço, seria necessário que o infortúnio fosse causado pela transgressão, nos termos do art. 1º, § 2º, do Decreto 57.272/1965, o que não ocorreu no presente caso.

Pois bem. Ultrapassada essa questão, passo a análise do direito do autor de ser reintegrado às fileiras do Exército para fins de atendimento médico ou eventual reforma ex officio. O instituto da reforma do militar está disciplinado na Lei 6.880/80, conhecida como Estatuto dos Militares, na seção III, do capítulo II, prevendo o art. 106, entre uma de suas hipóteses configuradoras, o caso em que o militar for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo das Forças Armadas.

Nessa senda, o art. 108 estatui que a incapacidade definitiva pode sobrevir em consequência de:

I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública;

II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja causa eficiente decorra de uma dessas situações;

III - acidente em serviço;

IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço;

V - tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e

VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço.

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das enfermidades previstas no art. 108, incisos I, II, III, IV e V, acima transcrito, implica a reforma ex officio remunerada com base na remuneração do soldo correspondente ao grau hierárquico imediato quando houver impossibilidade para qualquer trabalho, ou seja, incapacidade para os afazeres da vida castrense e civil.

Mais adiante, o art. 111, incisos I e II, da aludida Lei, determina que, se a incapacidade definitiva para o serviço militar decorrer de acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço ( art. 108, VI), o militar fará jus à reforma com remuneração proporcional ao tempo de serviço, se oficial ou praça com estabilidade assegurada (inciso I, art. 111), ao passo que, se comprovada que tal incapacidade é definitiva e total, para todo e qualquer labor, fará jus à remuneração baseada no soldo integral do posto ou graduação ocupada, independentemente do tempo de serviço, mas nunca à remuneração equivalente ao soldo do grau hierárquico superior (inciso II, art. 111).

Na espécie, mediante os documentos acostados ao feito eletrônico, especialmente o laudo pericial, infere-se que o autor é portador de sequelas de fraturas do membro inferior, do punho e da mão (T93.2 e T92.2), decorrentes do aludido acidente, bem como de dor lombar baixa (M54.5).

No entanto, tais debilidades, apesar de definitivas, somente o tornam incapaz definitivamente para o serviço militar, sendo, portanto, capaz parcialmente para o exercício de atividades civis. É o que se extrai das respostas aos quesitos, a seguir transcritas:

"[...]

2) essa patologia torna o autor incapaz para o serviço militar? Sim.

3) essa patologia torna o autor incapaz para atividades civis?

Sim. De forma parcial e permanente. Para toda e qualquer função que exija o uso simultâneo e ostensivo das mãos, esforços físicos de moderados a intensos, longas caminhadas e permanência em pé por longos períodos.

4) é possível afirmar que tal incapacidade é decorrente exclusivamente do acidente em serviço descrito nos autos ou há repercussão de outros fatores?

As sequelas incapacitantes estão relacionadas, de forma direta e exclusiva, com o acidente de tráfego sofrido.

9) em caso de capacidade para os atos da vida civil, quanto tempo perdurou a incapacidade? Não houve incapacidade para prática de atos da vida civil.

[...]

1) Em razão da patologia do autor, o mesmo necessita do cuidado permanente de terceiros, seja de médicos, enfermeiros ou cuidadores? Especifique.

Não. O periciado tem vida independente. [...]

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É de ver-se, pois, que o demandante, à época de seu licenciamento, mesmo após receber tratamento médico adequado na caserna, ainda se encontrava incapaz definitivamente para o serviço militar, em decorrência das sequelas do acidente em serviço, razão pela qual não poderia ter sido licenciado, mas sim reformado, nos termos do art. 108, inciso II c/c art. 109, da Lei nº 6.880/80.

Nesse sentido, a corroborar o entendimento aqui esposado, trago à colação os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MILITAR. REFORMA DE MILITAR COM PROVENTOS EQUIVALENTES AOS DA GRADUAÇÃO QUE OCUPAVA NA ATIVA. INCAPACIDADE PARA O SERVIÇO MILITAR. VEDADO O REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DA UNIÃO DESPROVIDO.

1. No caso dos autos, no que tange à incapacidade da Autora, o Tribunal de origem, soberano na análise do conjunto fático-probatório, consignou que, embora a doença mental que acometeu a autora (transtorno misto afetivo e ansioso) não a tenha deixado alienada mental, eclodiu durante o período em que prestava serviço à Marinha, causando-lhe expressiva redução em sua capacidade laborativa.

2. Deste modo, o acolhimento das alegações da Agravante, para afastar a relação casual entre a incapacidade e a atividade da militar, exigiria, inevitavelmente, a análise do acervo probatório da causa, o que é vedado, no âmbito do Recurso Especial, pela Súmula 7 desta Corte.

3. Ademais, reconhece-se ao militar o direito à reforma em razão de incapacidade, ainda que inexista qualquer relação de causalidade entre a enfermidade incapacitante e o serviço militar, hipótese em que a reforma deverá ser efetivada na mesma graduação anteriormente ocupada, tal qual determinado no aresto combatido.

4. Por fim, cabe observar que o entendimento manifestado no acórdão recorrido não destoa da jurisprudência desta Corte de que a exigência legal de que o militar seja incapaz, inclusive, para atividades da vida civil diz respeito, tão-somente, à hipótese de pagamento do soldo equivalente ao grau hierárquico imediato ao que possuir na ativa, o que não ocorre no presente caso.

5. Agravo Regimental da UNIÃO desprovido.

(AgRg no AREsp 193.292/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/05/2015, DJe 03/06/2015)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. INCAPACIDADE PARA O SERVIÇO CASTRENSE. LESÃO OCASIONADA DURANTE A ATIVIDADE MILITAR. NEXO DE CAUSALIDADE EXISTENTE. REFORMA. SÚMULA 83/STJ. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES.

1. Com relação à incapacidade do recorrido, o acórdão impugnado encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte Superior, que é firme no sentido de que "em se tratando de reforma de militar não estável, a incapacidade para toda e qualquer atividade laboral na vida civil somente é exigida quando não há comprovação de causa e efeito da enfermidade ou do acidente com a atividade castrense. Caso existente aludido nexo de causalidade, defere-se a reforma, bastando a prova da inaptidão para a vida militar" (AgRg no REsp 1.384.817/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA

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TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 14/10/2014). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no AREsp 608.427/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/11/2014, DJe 25/11/2014)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. ALEGAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF. MILITAR. REFORMA. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A ECLOSÃO DA DOENÇA INCAPACITANTE E O SERVIÇO MILITAR. COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA AS ATIVIDADES MILITARES E CIVIS. NÃO OCORRÊNCIA. PRECEDENTES.

1. A alegação genérica de violação do artigo 535 do Código de Processo Civil, sem explicitar os pontos em que teria sido omisso o acórdão recorrido, atrai a aplicação do disposto na Súmula 284/STF.

2. O Tribunal de origem deixou consignado que a doença incapacitante não decorreu da atividade exercida e inabilitou o militar exclusivamente às atividades castrenses.

3. A incapacidade total e definitiva para qualquer trabalho somente é exigida do temporário quando o acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, não tenha relação de causa e efeito com o serviço (art.

108, VI, da Lei n. 6.880/80), hipótese ocorrida nos autos, em que não foi reconhecido o nexo de causalidade entre o acidente ocorrido e a enfermidade acometida ao militar, com o serviço por ele prestado.

Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1455776/PE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe 14/11/2014)

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. REFORMA. MILITAR. CABIMENTO. INCAPACIDADE PARA ATIVIDADE MILITAR. NEXO DE CAUSALIDADE. EXISTÊNCIA. 1. Esta Corte de Justiça possui entendimento firmado de que, em se tratando de reforma de militar não estável, a incapacidade para toda e qualquer atividade laboral na vida civil somente é exigida quando não há comprovação de causa e efeito da enfermidade ou do acidente com a atividade castrense. Caso existente aludido nexo de causalidade, defere-se a reforma, bastando a prova da inaptidão para a vida militar.

2. Alterar as conclusões da Corte de origem, que reconheceu o nexo causal da incapacidade com o serviço militar, demandaria incursão no acervo fático-probatório dos autos, o que é defeso na via especial, ante o disposto na Súmula 7/STJ.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1384817/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 14/10/2014)

Desta feito, não merece reparo a sentença ao concluir que "o postulante (...) durante o período em que integrou o serviço ativo do Exercito Brasileiro (28/02/2012 a 19/09/2014), fora acometido de problema de saúde, decorrente de acidente em serviço, que o tornou incapaz para

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as atividades castrenses, impõe-se a sua reforma, nos termos da Lei nº 6.880/1980 (Estatuto dos Militares)".

Todavia, no que diz respeito ao valor da remuneração da reforma, objeto do recurso da parte autora, há de ser revista a decisão recorrida. Isso porque, na esteira do entendimento esposado pela Corte Superior em reiterados precedentes, se a incapacidade definitiva for apenas para o serviço castrense, a reforma será calculada com base no mesmo valor do cargo/grau hierárquico ocupado pelo militar na ativa, justamente como ocorre no presente caso.

Observe-se que a situação do autor não se insere em nenhuma das hipóteses previstas no art. 111, incisos I e II, da Lei nº 6.880/80, as quais, como dito linhas atrás, refere-se ao militar julgado incapaz definitivamente por "acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço".

Logo, firme nessas razões, há de ser reconhecido o direito do autor de ser reformado com a remuneração calculada com base no soldo integral do posto ou graduação ao que possuía na ativa, garantindo-lhe, por conseguinte, o direito de receber os atrasados correspondentes ao período em que foi licenciado até o início do efetivo pagamento da reforma.

De igual modo, também merece acolhimento o pedido de majoração dos honorários advocatícios. Sobre esse ponto, o art. 20, § 3º, do CPC, estabelece, como regra geral, a fixação dos honorários advocatícios no limite mínimo de 10% (dez por cento) e máximo de 20% (vinte por cento) do valor da condenação. Como regra específica, determina, em seu § 4º, que, quando for vencida a Fazenda Pública, serão os mesmos definidos de acordo com a apreciação equitativa do magistrado, observados os critérios discriminados nas alíneas do parágrafo anterior, o que não significa dizer, no entanto, que é defeso ao juiz, uma vez feita a sua ponderação, estabelecê-los dentro dos limites previstos no §3º. Quando vencida for a Fazenda Pública, no Diploma Processual Civil não há a fixação de percentuais, deixando-os ao arbitramento do magistrado. Este, no caso vertente, optou pelo valor de R$800,00 (oitocentos reais), o que entendo irrisório por se tratar de questão pouco complexa, formulada em face de pessoa jurídica de direito público, não havendo motivo que justifique, pelo só fato da sucumbência, a imposição de elevado ônus à que restou vencida. Assim sendo, hei por bom aumentar a verba honorária para o valor fixo de R$2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 20, 4º, do CPC.

Ante o exposto, nego provimento à remessa oficial e à apelação da União e dou

provimento à apelação da parte autora, para determinar que o valor da reforma seja calculado

com base no soldo integral do posto ou graduação que o autor ocupava na ativa e para majorar o valor dos honorários advocatícios para R$2.000,00 (dois mil reais).

É como voto.

EMENTA

PROCESSO Nº: 0800050-06.2015.4.05.8402 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE RAFAEL ANTONINO (e outro)

ADVOGADO: FERNANDO AUGUSTO FERNANDES AZEVEDO APELADO: UNIÃO FEDERAL (e outro)

ADVOGADO: FERNANDO AUGUSTO FERNANDES AZEVEDO

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA

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ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. REFORMA. ACIDENTE EM SERVIÇO. CARACTERIZAÇÃO. INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA O SERVIÇO CASTRENSE. COMPROVAÇÃO. PERÍCIA JUDICIAL. DIREITO RECONHECIDO. EXEGESE DO ART. 108, INCISO II C/C ART. 109, DA LEI Nº 6.880/80. HONORÁRIOS. MAJORAÇÃO. REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO DA UNIÃO IMPROVIDAS. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA PROVIDA. 1. A ofensa à legislação de trânsito (condução da motocicleta sem habilitação para isso) implica transgressão disciplinar, conforme o art. 14 e o item 82 do Anexo I do Decreto 4.346/2002. No entanto, para haver a descaracterização do acidente de serviço, tem que restar provado que o infortúnio foi causado justamente pela aludida transgressão, nos termos do art. 1º, § 2º, do Decreto 57.272/1965.

2. No caso, não se comprovou a relação entre a inabilitação do militar para conduzir motocicleta e o acidente, razão pela qual resta caracterizado o sinistro em questão como acidente de serviço. 3. Sendo o militar da ativa, temporário ou não, portador de incapacidade definitiva para o serviço militar, provocada em decorrência de acidente de serviço. legítima a concessão de sua reforma ex officio, nos moldes estatuídos no art. 108, III c/c art. 109, da Lei 6.880/80.

4. Na espécie, restou devidamente provado nos autos, que o postulante, durante o período em que integrou o serviço ativo do Exercito Brasileiro (28/02/2012 a 19/09/2014), fora acometido de problema de saúde, decorrente de acidente em serviço, que o tornou incapaz para as atividades castrenses, razão pela qual não deveria ter sido licenciado, mas sim reformado ex officio, nos termos do Estatuto dos Militares.

5. O valor da reforma deve ser calculado com base no soldo integral do posto ou graduação que possuía na ativa, não sendo aplicadas, ao caso, as hipóteses previstas no art. 111, incisos I e II, da Lei nº 6.880/80, porquanto se referem ao militar julgado incapaz definitivamente por "acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço".

6. Honorários advocatícios majorados para R$2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 20, §4º, do CPC.

7. Remessa oficial e apelação da União improvidas. Apelação da parte autora provida para determinar que o valor da reforma ex officio seja calculado com base no soldo integral do posto ou graduação que o autor ocupava na ativa e para majorar o valor dos honorários advocatícios para R$ 2.000,00 (dois mil reais).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade,

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NEGAR PROVIMENTO À REMESSA OFICIAL E À APELAÇÃO DA UNIÃO e DAR PROVIMENTO À APELAÇAO DA PARTE AUTORA, nos termos do voto do Relator.

Recife (PE), 23 de fevereiro de 2016 (data do julgamento).

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