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QUANDO O PROFESSOR FAZ A DIFERENÇA

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

QUANDO O PROFESSOR FAZ A DIFERENÇA

Cecília Maria Marafelli – PUC-RJ Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

Este trabalho tem origem na reflexão acerca de uma comparação realizada a partir dos dados quantitativos advindos de questionários aplicados aos professores no survey/2009 pelo SOCED - grupo de pesquisa em Sociologia da Educação - que investigou escolas que estão entre aquelas com os melhores resultados (municipais e privadas) da cidade do Rio de Janeiro. A metodologia utilizada foi a análise dos dados produzidos pelo survey SOCED e que constava de três questionários distintos (pais, alunos e professores) que foram aplicados em dez escolas (quatro públicas e seis privadas) que alcançaram bons resultados nas avaliações oficiais. Estes dados constituíram o material empírico analisado neste artigo. O objetivo do mesmo é cotejar, com base na caracterização sociocultural, formação, experiência profissional, condições de trabalho, percepções sobre os alunos e famílias, os perfis dos profissionais destes dois grupos. Foram investigadas as ações, as práticas pedagógicas, enfim, todo o trabalho do professor que visa ao sucesso do aluno, sem deixar de lado os pequenos detalhes do dia a dia escolar. A análise das respostas possibilita-nos conhecer um pouco mais sobre docentes das duas redes de ensino e traçar um perfil de semelhanças. Este artigo procurou identificar, a partir da concepção trazida por Bressoux (2003), a existência nestas escolas do “efeito-professor”. O presente trabalho traz conclusões iniciais da pesquisa e procura identificar os perfis dos professores das duas redes além de buscar compreender, em cada um dos casos, como os docentes contribuem para o sucesso dessas instituições pesquisadas, pois como nos destaca Bressoux (Ibid.) o “efeito-professor” foi provado e exerce forte impacto na qualidade do ensino.

Palavras-chave: Escolas de sucesso. Perfil docente. Efeito-professor. Introdução

Este trabalho está inserido no contexto do survey SOCED/2009 relativo à pesquisa “Contextos institucionais e a construção da qualidade do ensino na educação básica1”. Tal projeto do grupo de pesquisas buscou aprofundar a influência dos contextos institucionais na

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produção da qualidade do ensino, focalizando em particular os processos organizacionais e pedagógicos que articulam os agentes escolares na produção do sucesso escolar.

Durante o desenvolvimento do survey, foram aplicados três questionários distintos junto aos professores, alunos e pais buscando compreender como instituições com estilos e climas escolares2 diferenciados produzem ambientes favoráveis ao desempenho dos alunos. Essa pesquisa foi realizada em dez escolas selecionadas entre as de melhores resultados nas avaliações oficiais (Prova Brasil e ENEM) na cidade do Rio de Janeiro: quatro escolas públicas municipais e seis escolas da rede privadas.

Diante dos diferentes aspectos envolvendo os atuais estudos sobre o professor e da relevância, já amplamente reconhecida, do corpo docente no panorama educacional de uma sociedade e na produção de um ensino de qualidade, a pesquisa pretendeu analisar os dados provenientes de todos os questionários do survey/SOCED/2009 respondidos pelos professores e separados, para fins de análise, os profissionais da rede pública e os da rede privada. Assim, os dados do survey acerca dos professores e suas características foi o material que deu origem ao presente trabalho e foram obtidos a partir das informações dos questionários que formam a base de dados da pesquisa do SOCED/2009.

É fundamental ressaltar que ao realizar a comparação entre os professores das duas redes, pública e privada, temos clareza de tratar-se de realidades educacionais que guardam grandes e importantes diferenças, desde o nível socioeconômico dos alunos, escolaridade das famílias até as condições materiais de trabalho. Desta forma, a presente análise buscou levantar as características que configuram o bom professor, seja ele de uma ou outra rede de ensino. Além disso, investigamos a existência (ou não) de diferenças nos perfis dos professores dos setores público e privado.

Seriam diferentes os padrões da qualidade docente nos dois subsistemas? Os professores de escolas que apresentam bons resultados nos setores público e privado teriam perfis semelhantes?

As visões acerca das práticas pedagógicas, assim como as expectativas em relação aos seus alunos, também são aspectos que se mostraram relevantes nesta análise.

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Em seu texto, “Singularidades Institucionais”, Brandão (2009) afirma que o clima escolar resulta de uma configuração particular de fatores, nem sempre os mesmos, que se exprimem em um conjunto de modos de funcionamento e de práticas pedagógicas relacionadas ao nível escolar médio e à tonalidade dominante do seu público. Muitas têm sido as estratégias metodológicas empregadas para elaborar constructos de variáveis indicadoras do clima escolar (Duru-Bellat, Van Zanten: 1998, p.115), entretanto a complexidade desta configuração extrapola sempre a simples agregação de fatores.

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A pesquisa, como um todo, investigou a 8ª série/9º ano, mas o grupo de professores que responderam ao questionário englobou aqueles que atuavam no segundo segmento do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Isto ocorreu, porque, além de contarmos dessa forma com um número mais significativo de respondentes, as características de trabalho são muito semelhantes e muitas vezes esses professores se alternam nas diferentes séries/anos e/ou nos dois segmentos.

Uma análise exploratória dos dados empíricos advindos dos questionários dos professores objetivou identificar questões em que diferenças percentuais relevantes apareciam ao se comparar respostas de professores das duas redes de ensino. A partir dessa análise algumas questões foram selecionadas para uma melhor compreensão sobre o papel do professor na produção da qualidade de ensino. É importante salientar que o questionário dos professores foi a principal fonte de dados desta análise articulando-se a ele algumas questões do questionário dos pais e dos alunos.

O perfil dos professores da pesquisa em comparação com o contexto educacional brasileiro

Se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente alguma coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identidade carrega as marcas de sua própria atividade e uma boa parte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional, como também sua trajetória profissional estará marcada pela sua identidade e vida social, ou seja, com o passar do tempo, ela tornou-se – aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros – um professor, com sua cultura, seu éthos, suas ideias, suas funções, seus interesses etc. (Tardif, 2012, p. 56).

O perfil dos professores pesquisados foi traçado, situando-os no contexto brasileiro (UNESCO 2004 e 2009) e levando em conta que os mesmos fazem parte de instituições públicas e privadas que alcançaram resultados acima da média em avaliações oficiais.

Este perfil estruturou-se a partir de dados que incluíam, além da formação escolar e profissional, aspectos de cunho individual e social: sexo; idade; cor/raça, experiência profissional, escolaridade e habilitação profissional.

Para a análise foram utilizados como referências dois estudos realizados pela UNESCO (2004 e 2009) – Fundo das Nações Unidas para a Educação e Cultura – com base em levantamentos gerais das características do docente brasileiro feitos a partir de amostra de escolas das redes pública e privada do país, e também o Estudo exploratório sobre o professor brasileiro - com base nos resultados do Censo Escolar da Educação Básica 2007, (INEP/MEC)

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O quadro 1 (perfil dos professores pesquisados) apresenta, de forma sintética, as principais características de perfil dos professores, separados por rede de ensino.

Em nossa análise, mais uma vez a predominância da feminização do magistério, fenômeno que não é exclusivamente brasileiro, foi constatada. Na rede pública, 72% são do sexo feminino e, na rede privada encontramos 60%.

Quadro 1 – Perfil dos professores pesquisados

Fonte:Survey SOCED/PUC-Rio, 2009

Em relação à idade, a média da faixa etária dos professores que compõem a nossa amostra apresenta-se acima dos 40 anos nas duas redes de ensino. Distanciando-se um pouco da média de idade de professores do Brasil, estando próxima a dos países da OCDE e de alguns países da União Europeia.

Segundo os dados da pesquisa da UNESCO 2004, uma média de idade dos docentes de 37,8 anos, o que, considerado o panorama internacional, coloca os professores brasileiros como relativamente mais jovens. A grande maioria dos docentes dos países pertencentes à

Professores Escolas pesquisadas da rede pública

Escolas pesquisadas da rede privada

Sexo 28% masculino 40% masculino

Idade 74% acima de 40

anos

51% acima de 40 anos

Experiência Profissional 36% mais de 20 anos na profissão

44% mais de 20 anos na profissão

Cor 67% brancos 85% brancos

Renda familiar 36% acima de 10 salários mínimos

84% acima de 10 salários mínimos

Formação 64% possuem algum

tipo de pós-graduação

81% possuem algum tipo de pós-graduação Nº de escolas em que trabalha 28% apenas na escola pesquisada 47% duas escolas 25 % três ou mais escolas 34% apenas na escola pesquisada 40% duas escolas 26 % três ou mais escolas

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Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os de alguns países da União Europeia, por exemplo, têm mais de 40 anos de idade.

Observamos que 74,1% dos professores da rede pública e 65% dos professores das escolas privadas da nossa amostra têm mais de 40 anos de idade. Este dado apresenta uma singularidade do perfil docente das escolas de nossa pesquisa: a permanência na profissão indicando tempo de experiência no magistério, situações que contribuem para a qualidade do trabalho profissional. A permanência pode estar, como outros dados da nossa pesquisa, ligada à satisfação no trabalho; e a maior experiência significa, em princípio, acúmulo de recursos para o desempenho no ofício.

O tempo de permanência nas escolas pesquisadas é relativamente alto nos dois grupos de professores, sendo maior na rede privada, com 42,6% trabalhando na escola há 10 anos ou mais, e 35,1% dos professores da rede pública com o mesmo tempo de trabalho.

Em relação à cor, no questionário do survey SOCED os professores que se declararam brancos também são maioria nas duas redes. Entretanto encontramos, em nossa investigação, um percentual de não-brancos maior entre os professores da rede pública: (30,3% dos professores da rede pública e 15,3% dos professores da rede privada).

O estudo realizado pela UNESCO (2009) aponta a importância da profissão docente para a inserção profissional de pretos e pardos, particularmente por meio da educação infantil e do ensino fundamental, pois 42% dos docentes de cada uma dessas modalidades se classificaram como não-brancos.

Segundo a UNESCO (2004), 66% dos professores brasileiros possuem renda familiar entre dois e cinco salários mínimos e 37% possuem entre cinco e dez. No caso da nossa pesquisa, há uma concentração de professores com renda familiar mais elevada nas escolas privadas.

Ao compararmos a renda familiar dos professores dos conjuntos das escolas das redes pública e privada da pesquisa SOCED, observamos a mesma situação. Verificamos que a maioria dos professores da rede pública pertencia às famílias cuja renda situava-se, à época, na faixa compreendida entre R$ 3.176,00 e R$ 4.083,00. A maioria dos professores do setor privado, por sua vez, pertencia à faixa de renda que ia de R$ 4.537,00 até R$ 9.050,00.

Enquanto 36% dos professores da rede pública tinham, à época da aplicação do questionário, renda familiar acima de R$ 4.537,00 (o que correspondia a mais ou menos nove salários mínimos e meio) o percentual de professores da rede privada nesta mesma faixa salarial era de 84%.

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Os professores investigados pelo SOCED situam-se em níveis mais elevados de renda familiar se comparados com os professores do Brasil, mas entre os professores das duas redes de ensino da nossa amostra há uma diferença percentual de renda maior do que a encontrada entre os subsistemas público e privado no Brasil, em geral.

A pesquisa UNESCO (2004) relata que, a despeito da desvalorização da profissão docente, refletida, de um modo geral, nos baixos salários, a renda familiar dos professores é sensivelmente superior à da média da população brasileira. De acordo com o IBGE, 51% dos brasileiros ocupados ganham até dois salários mínimos. Os dados da pesquisa revelam que 66% dos professores possuem renda familiar entre dois e dez salários mínimos e 37% entre cinco e dez.

Verificamos que os professores investigados pela nossa pesquisa, especialmente os das escolas privadas, encontram-se em uma faixa de renda familiar bem acima da média brasileira. Estes índices situam indiscutivelmente este grupo entre os níveis mais elevados da camada socioeconômica do país.

Todos os docentes da nossa pesquisa possuem nível superior e, além disso, 74,2% de professores da rede privada e 63% da rede pública cursaram algum tipo de pós-graduação (lato sensu ou stricto sensu).

Em relação aos cursos de pós-graduação, encontramos algumas diferenças. A grande maioria dos professores dos dois grupos possui especialização (mínimo de 360 h), mas o percentual de professores do setor privado com mestrado e doutorado (pós-graduação stricto sensu) é o dobro da rede pública.

Quanto ao número de escolas em que trabalha, o survey SOCED indica que somente 30% do corpo docente, incluindo as duas redes de ensino, trabalham apenas na escola pesquisada, mas mesmo auferindo salários elevados nossos dados revelam que 40% dos professores da rede privada trabalham em duas escolas, o mesmo ocorrendo com 47% dos professores das escolas públicas, sendo que muitos dos que atuam na rede privada também o fazem na rede pública. Cabe destacar ainda que encontramos cerca de 20% dos professores dos dois grupos atuando em três escolas e por volta de 6% em quatro ou mais escolas.

Percebemos, ao final dessa análise, que os professores investigados pelo survey, sejam da rede privada ou da rede pública municipal, não apresentam características muito divergentes entre eles. Levantamos a hipótese de que seria possível questionar, ao menos em algumas escolas, a ideia da grande inferioridade do setor público, ideia esta tão difundida na sociedade.

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Comparando as duas melhores

As experiências realizadas mostram que o professor pode mudar algumas de suas práticas e que isto tem repercussão sobre os alunos (Bressoux, 2003 p.27).

É comum ouvirmos dizer que a escola privada, especialmente aquela voltada para classes sociais mais elevadas, é melhor que a pública e essa, dependendo do(s) ângulo(s) sob o qual é feita essa comparação, pode ser uma afirmação nem sempre verdadeira, além de cristalizar preconceitos que em nada auxiliam a conquista da escola democrática e de um ensino de qualidade para todos.

Muitos aspectos devem ser levados em conta ao atribuirmos qualidade à escola. O presente estudo busca mostrar que a qualidade não está necessariamente, como se supõe, no tipo de administração, se é pública ou privada. Esta depende de muitos fatores entre eles o tipo de gestão, especialmente a pedagógica, contexto socioeducativo e compromisso institucional. Nesse cenário, destaca-se a figura do professor, que com uma atuação comprometida e competente pode potencializar o desempenho de estudantes, mesmo em condições materiais, simbólicas e sociais menos favoráveis.

Nesta parte do trabalho foi estabelecida uma comparação mais específica realizada entre duas escolas da pesquisa, uma pública municipal e uma do setor privado e que apresentaram, cada uma dentro da sua dependência administrativa, os melhores rendimentos nas avaliações oficiais utilizadas como parâmetro para a escolha das instituições.

Passamos a chamar a escola pública municipal de Escola da Praia e a escola do setor privado como Escola da Colina.

Após a análise dos dados referentes aos professores das duas escolas em questão, verifica-se grande semelhança entre as respostas dos mesmos, demonstrando haver similaridades entre o trabalho pedagógico desenvolvido em ambas.

Essas escolas destacam-se em muitos aspectos, com respostas que demonstram grande satisfação profissional dos professores - “bem-estar dos professores” (Marchesi, 2008), visão positiva acerca de seus alunos, boa relação com a gestão e com seus pares, iniciativas pedagógicas variadas, desenvolvimento de percentual dos conteúdos previstos para a série maior do que nas outras escolas de sucesso da sua rede de ensino, entre outros.

A comparação entre as escolas de melhores resultados entre os conjuntos pesquisados pelo SOCED foi estabelecida com base em alguns aspectos, foram eles:

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b) O papel da escola

c) Percentuais de conteúdos desenvolvidos ao longo do ano d) Visões e expectativas acerca dos alunos

e) Dificuldades enfrentadas

f) Olhar sobre a prática de sala de aula g) O bem-estar-docente

h) Relacionamento professo-aluno

Analisaremos, no presente texto, o relacionamento entre os profissionais na equipe técnico-pedagógica (tabela 1), percentuais de conteúdos desenvolvidos ao longo do ano, algumas dificuldades enfrentadas, relacionamento professor-aluno e a visão dos alunos acerca dos professores.

Os professores das duas escolas pesquisadas sentem-se respeitados por seus pares, percebem valor atribuído às suas ideias e são de opinião que gozam de autonomia para influenciar o ensino e coordenar conteúdos entre as séries. Apesar dos percentuais serem mais baixos nas respostas dos professores da rede pública, estão sempre acima de 60%.

Diante da afirmativa, presente em uma das questões do questionário, Não há

condições para cumprir todo o conteúdo curricular apenas 2,8% dos professores da Escola

da Colina concordaram. Por sua vez, entre o corpo docente da Escola da Praia, 28,6% responderam afirmativamente. Este percentual chama a atenção quando comparado ao da Escola da Colina, evidenciando desafios diferentes enfrentados pelos professores das duas escolas na tarefa de cumprir o programa da série.

A Escola da Praia apresenta um percentual alto de professores que concordam com a afirmativa quando comparado ao da Escola da Colina, mas pequeno se comparado ao do conjunto das escolas da rede pública de nossa amostra, pois 50,6% dos professores afirmam que não há condições para cumprir todo o conteúdo curricular. É preciso enfatizar que a

Tabela 1 - Percentuais de concordância com aspectos relacionados ao trabalho em equipe

Você concorda com as seguintes afirmativas? Escola da Praia Escola da Colina

Participo das decisões relacionadas com meu trabalho 85,8% 89,2% A equipe leva minhas ideias em consideração 76,2% 94,7% Professores coordenam os conteúdos entre as séries 85% 86,1% Todos na escola colaboram para o seu bom

funcionamento

62% 83,8%

Fonte:SurveySOCED/PUC-Rio, 2009

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pesquisa investigou escolas da rede municipal que alcançaram os melhores desempenhos na avaliação oficial dentro de seu subsistema.

Ao compararmos o percentual de conteúdos efetivamente desenvolvidos pelos professores, ao longo do ano, nas duas escolas, as diferenças ficam evidentes. Enquanto 94% dos professores da Escola da Colina (rede privada) conseguem desenvolver mais de 80% dos conteúdos da série, apenas 57,9% da Escola da Praia (rede pública municipal) conseguem o mesmo.

Apesar de menor, o percentual de conteúdos desenvolvidos pela Escola da Praia, se comparado aos percentuais das escolas estudadas pelo SOCED da mesma rede, é alto. Nas escolas SOCED da rede municipal, apenas 30,2% dos professores afirmam desenvolver mais de 80% dos conteúdos. Mesmo tratando-se das escolas que alcançam resultados satisfatórios, a Escola da Praia em comparação com estas destaca-se positivamente.

A Escola da Colina também apresenta diferenças se comparada às outras de sua dependência administrativa. No grupo de escolas privadas, como um todo, um percentual de 85,1% dos professores diz desenvolver mais de 80% dos conteúdos da série ao longo do ano, em comparação com os 94% da Escola da Colina.

Estes percentuais de respostas nos chamam a atenção para as diferenças existentes entre as duas redes no que se refere à preparação de seus alunos para o ingresso no Ensino Médio. Ao não terem a mesma quantidade de conteúdos escolares trabalhados no decorrer do Ensino Fundamental, estes alunos já chegam ao nível escolar seguinte em desvantagem, perpetuando-se assim uma desigualdade de condições entre escolas privadas de qualidade e escolas públicas, mesmo quando estamos tratando, como é o caso, de escolas públicas municipais que estão entre aquelas que apresentam os melhores resultados da cidade do Rio de Janeiro.

Podemos comparar os percentuais observando os gráficos (gráficos 1 e 2) de conteúdos desenvolvidos nas escolas da Praia e da Colina em relação com suas respectivas redes.

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Fonte: Survey SOCED/PUC-Rio, 2009

Ao analisarmos as dificuldades encontradas pelos professores nas escolas pesquisadas observamos que a quase totalidade dos docentes da escola pública atribui às condições físicas, e à infraestrutura das escolas a responsabilidade por grande parte dos desafios enfrentados, o que não ocorre nas escolas privadas.

Apesar das dificuldades muitas vezes encontradas pelos professores da rede pública municipal – condições físicas da escola, precariedade de material, menor capital cultural dos alunos, condições de trabalho inadequadas – dificultando, entre outras coisas, que consigam cumprir todos os conteúdos programados para a série, o compromisso com a educação pública de qualidade está presente nos horizontes de trabalho desses professores. Esse compromisso faz com que os mesmos comprometam-se com o seu trabalho, revejam suas

práticas pedagógicas e contribuam para que escolas, como a Escola da Praia, alcancem resultados bastante positivos nas avaliações oficiais.

Apesar de os professores reconhecerem a falta de estrutura física e os problemas decorrentes dela, este fato, no entanto, não reduz o nível de participação, empenho e envolvimento dos mesmos. Mesmo diante das dificuldades reconhecidamente enfrentadas e de seu posicionamento crítico diante das mesmas, estes não se constituem fatores impeditivos para que esses professores realizem seu trabalho com todo empenho possível.

Gráfico 1 - Escolas pesquisadas da rede pública e

Escola da Praia

Gráfico 2 - Escolas pesquisadas da rede privada e Escola da

Colina Gráficos 1 e 2: Percentuais de conteúdos desenvolvidos nas escolas pesquisadas

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Na Escola da Praia, a falta de recursos pedagógicos, carência de pessoal administrativo e de apoio pedagógico são consideradas como problemas graves para um terço dos professores. Por sua vez, na Escola da Colina nenhum professor considerou tais aspectos como problemas graves.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelos professores, notadamente os enfrentados pelos docentes da Escola da Praia, percebemos que os mesmos apresentam observações positivas acerca de seus alunos. Verificamos também, que esses professores estão satisfeitos profissionalmente com o trabalho desenvolvido na escola em questão. Nesta escola, 47,% dos professores pretendem continuar lecionando até a aposentadoria e 33,3% (um terço) dizem pretender continuar mesmo após aposentar-se, apenas 19,1% querem parar de lecionar assim que conseguirem outro trabalho. Nas entrevistas realizadas com as gestoras educacionais, esse dado de compromisso foi reforçado e a competência, empenho e motivação desses professores foram destacados.

A visão dos alunos acerca de seus professores é de grande importância para confirmar a qualidade dos mesmos. Para apresentar algumas opiniões dos alunos das escolas investigadas, utilizamos as respostas do questionário aplicado nestas escolas aos estudantes de todas as turmas do 9º ano EF.

Os alunos tiveram também a oportunidade, através das suas respostas, de avaliarem seus professores quanto ao desempenho didático-pedagógico. Esta pergunta está diretamente relacionada ao trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula. Nas duas escolas eles foram avaliados como bons ou muito bons por mais de 90% dos alunos. Percebemos que além de relacionarem-se muito bem com seus mestres, os alunos das duas escolas reconhecem o valor profissional dos mesmos. Observamos os percentuais na tabela da avaliação dos professores segundo os alunos (tabela 2).

Tabela 2 – Avaliação dos professores segundo os alunos Os professores desta escola são?

Escola da Praia Escola da Colina Muito Ruim 0,9% 0,0% Ruim 1,8% 0,0% Razoável 5,5% 5,6% Bom 41,3 25,0% Muito Bom 50,5% 69,4% Total 100% 100% Fonte:SurveySOCED/PUC-Rio, 2009

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Analisamos, ainda, a relação que mantém os professores com os alunos e a avaliação que os educandos fazem do trabalho desenvolvido em sala de aula. Os conteúdos trabalhados pelos educadores são disciplinares, mas só alcançam efeito positivo junto aos alunos quando mediados por uma boa relação professor-aluno.

Os achados da presente pesquisa indicam a qualidade do relacionamento de nossos professores com seus alunos, pois o mesmo é avaliado como bom ou muito bom pela grande maioria dos alunos tanto da Escola da Praia (86 %) como da Escola da Colina (87%)

(tabela 3).

É preponderante a importância do relacionamento entre alunos e professores. Os conteúdos trabalhados pelos educadores são disciplinares, mas só alcançam efeito positivo junto aos alunos quando mediados por uma boa relação professor-aluno. E no caso das duas escolas pesquisadas encontramos um percentual bastante alto que reflete um dos aspectos considerados positivos e contribuintes no sucesso alcançado por essas instituições.

Considerações

A Escola da Praia e a Escola da Colina são exemplos de escolas de sucesso dentro de suas respectivas dependências administrativas. Uma combinação de fatores parece contribuir para esse sucesso, mas a presença de um corpo docente atualizado e comprometido é, sem dúvida, elemento fundamental na obtenção desse resultado.

Um número cada vez mais importante de estudos converge para a conclusão de que a escola, e particularmente o professor, pela gestão da sua turma e do seu ensino, influencia a aprendizagem dos alunos; por conseguinte, melhorando as práticas pedagógicas, pode-se melhorar o rendimento escolar dos educandos. As práticas de ensino, expectativas positivas em relação aos alunos, além de um bom relacionamento aluno-professor possuem, pois, um

Tabela 3– Relacionamento com os professores na visão dos alunos Relacionamento com seus professores

Escola da Praia Escola da Colina Muito Ruim 0,0% 0,0% Ruim 0,0% 0,9% Razoável 12,9% 11,9% Bom 51,2% 43,2% Muito Bom 35,9% 44,0% Total 100% 100% Fonte:Survey SOCED/PUC-Rio, 2009

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poder de influência importante no sucesso escolar dos alunos, particularmente junto daqueles provenientes de estratos socioeconômicos baixos.

A pesquisa nos aponta para o fato de que esses professores investigados têm uma ética de responsabilidade que colabora para a aprendizagem dos alunos. Estão inseridos em contextos em que se torna difícil atuar de modo diferente, todos “vestem a camisa”. Como destacamos anteriormente, eles contam com a figura de gestores que acompanham de perto todo o trabalho desenvolvido, ajudando a superar as dificuldades e deficiências, estimulando e participando do processo.

A pesquisa sinaliza também para a ideia de que o efeito-professor existe especialmente nas condições de contexto em que todos os atores escolares estão envolvidos no processo e colaboram para este fim.

Finalmente, quando pesquisamos escolas públicas como a Escola da Praia, nos deparamos com a possibilidade concreta da conquista da qualidade no ensino público. Estamos falando de um sucesso medido em parâmetros diferentes daqueles alcançados pela escola privada de qualidade, mas todo o empenho e esforço de superação por parte de seus agentes educacionais fazem com que represente uma conquista ainda maior, em termos relativos, do que aquele conquistado por escolas privadas de excelência.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Z. Singularidades institucionais: Reflexões a partir de fragmentos do material de pesquisa. Boletim SOCED, Rio de Janeiro, n. 4, 2007. Disponível em

<http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/soced.php?strSecao=input>. Acesso em 10 NOV. 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam... Pesquisa Nacional UNESCO. São Paulo: Moderna, 2004.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Professores do Brasil: impasses e desafios / Coordenado por Bernadete Angelina Gatti e Elba Siqueira de Sá Barreto. – Brasília: UNESCO, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Estudo exploratório sobre o professor brasileiro com base nos resultados do Censo Escolar da Educação Básica 2007 / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. – Brasília : Inep, 2009.

BRESSOUX, P. As pesquisas sobre o efeito-escola e o efeito-professor (1994). Educ em Rev. Belo Horizonte: n.º 38, dez. 2003.

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MARCHESI, A.O bem-estar dos professores: competências, emoções e valores. Porto Alegre: Artmed, 2008.

TARDIF, M.; RAYMOND D., Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério. Educ. e Soc. v.21 n.73 Campinas, Dez. 2000.

Referências

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