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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

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Academic year: 2021

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Registro: 2018.0000160791

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1005825-04.2016.8.26.0597, da Comarca de Sertãozinho, em que é apelante CLEUZA APARECIDA LOVATO CESAR (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada ELAINE CRISTINA COSTA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 31ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores BERETTA DA SILVEIRA (Presidente) e SALLES ROSSI.

São Paulo, 12 de março de 2018.

Rosangela Telles Relatora Assinatura Eletrônica

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VOTO Nº: 10040

APELAÇÃO Nº: 1005825-04.2016.8.26.0597

APELANTE: CLEUZA APARECIDA LOVATO CESAR APELADO: ELAINE CRISTINA COSTA

COMARCA: SERTÃOZINHO

JUIZ: NEMÉRCIO RODRIGUES MARQUES

APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.

INTEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO. Não observada. Início do prazo que se deu com a juntada do aviso de recebimento positivo. DANO MORAL. Ocorrência. Ofensora que não nega os fatos, apenas tenta atribuí-lo a terceira pessoa. Conduta que extrapolou o limite de eventual insatisfação com a apelante. Insinuações relativas à doença enfrentada pela ofendida. Publicação em página do Facebook que se deu na linha do tempo, podendo ser vista por todo o círculo de amizade apelante. Perversidade e intolerância que devem ser punidos.

Quantum indenizatório que deve fixado, levando em

consideração os problemas psiquiátricos enfrentados pela apelada. Sentença reformada, com inversão do ônus sucumbencial RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença a fls. 43/44, cujo relatório é adotado, que julgou improcedente o pedido formulado para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais, em razão de alegada publicação ofensiva em rede social. Custas, despesas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa, a cargo da autora.

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Inconformada, recorre a autora, alegando a revelia da ré, diante da intempestividade da contestação apresentada. Sustenta estar comprovado o dano moral, cuja reparação se requer. Afirma que a apelada espalhou afirmações inverídicas, as quais contaram com diversas “curtidas” dos usuários da rede social Facebook. Busca a reforma do decisum.

Recursos regularmente processados, com apresentação de contrarrazões a fls. 58/61.

É o relatório.

Inicialmente, cumpre ressaltar que a r. decisão guerreada foi proferida sob a égide do Novo Código de Processo Civil. Desse modo, quando da interposição deste recurso, já vigia a Lei nº 13.105/2015, razão pela qual as disposições desta legislação devem ser observadas, quanto ao juízo de admissibilidade recursal.

Cuida-se de ação indenizatória ajuizada pela apelante em face da apelada, em razão de publicações ofensivas realizadas por esta última nas redes sociais. As publicações teriam ensejado a reparação por danos morais, equivalente a quinze salários mínimos, tendo em vista o fato de estar acometida por câncer.

A apelada, por sua vez, nega ter feito tais ofensas e desconfia que terceira pessoa teria se utilizado de sua página na internet para insultar a apelante. Afirma, ainda, sofrer de problemas psiquiátricos relacionados à esquizofrenia, com grave prejuízo cognitivo.

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por entender que a apelante poderia ter apagado as ofensas e evitar que outras pessoas tivessem acesso ao conteúdo.

Exatamente em face desta decisão é que se insurge a apelante.

De proêmio, necessário analisar a tempestividade da contestação apresentada.

Com efeito, o artigo 335 do CPC/2015 prevê o prazo de 15 dias para o réu oferecer defesa. Tal prazo, nos termos do artigo 231, inciso I, do mesmo diploma legal, teria início com “a data de juntada aos autos do aviso de

recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio”.

Desse modo, considerando todas as regras acima transcritas, bem como aquela prevista no art. 219 do CPC/15 (contagem apenas dos dias úteis), tem-se que, juntado o aviso de recebimento aos autos em 31.08.2016, a contagem o prazo de 15 dias teve início em 1º.09.2016 e se findou em 22.09.2016.

A contestação foi protocolada em 22.09.2016, último dia do prazo. Portanto, revela-se tempestiva.

No tocante ao mérito, a controvérsia deve ser solucionada com base na regra de julgamento prevista no artigo 373 do CPC/2015. Isto porque a apelada, em momento algum, negou que as ofensas tenham, de fato, ocorrido; apenas se limitou a afirmar que não seria ela a autora das ofensas, sem apontar especificamente quem poderia ser o verdadeiro ofensor.

Ainda que a apelada tenha o diagnóstico de problemas psiquiátricos (fls. 36), não há notícia de que esteja incapacitada juridicamente para os atos da vida civil. Assim, mesmo que se admitisse como verdadeiro o fato de não ter sido a apelada a ofensora, houve, no mínimo, negligência em não proteger sua conta nas redes sociais e, principalmente, em não diligenciar para buscar o

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verdadeiro culpado.

Portanto, a autora não se desincumbiu de seu ônus probatório, nos termos do artigo 373, inciso II, do CPC/2015.

Da leitura de todas as manifestações, é possível notar que houve exagero por parte da apelada ao mencionar o fato de a apelante estar doente, como se tivesse uma doença contagiosa, e expor sua vida pessoal através de expressões como “chifronesia”, “chifruda”, “maldosa” (fls. 16).

Na lição de Yussef Said Cahali:

“Na realidade, multifacetário o ser anímico, tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los exaustivamente,

evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na tristeza pela

ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na

desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio da

normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento ilegal1”.

Respeitado o entendimento do Juízo a quo, que decidiu pela improcedência do pleito autoral porque a as mensagens poderiam ter sido apagadas pela apelante, é certo que a ofensa efetivamente foi realizada e lhe atingiu. Ainda, não é possível mensurar quantas pessoas tiveram acesso a essas postagens até o momento da exclusão do conteúdo.

In casu, houve descrédito à reputação, pois as postagens na linha

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no Facebook.

A atitude da apelada é de intolerância e impiedosidade. Adentra na page de terceiros para lançar desaforos e desfilar com sua perversidade. À evidência, esse comportamento dever ser coibido e punido.

Dessa forma, comprovados os pressupostos da responsabilidade civil extracontratual, quais sejam, a ilicitude do comportamento, a ocorrência de prejuízo extrapatrimonial e o nexo de causalidade entre o primeiro e o segundo pressuposto, resta caracterizado o dever de indenizar da apelante.

No tocante ao quantum indenizatório, sabe-se que a sanção imposta pelo descumprimento de comando legal tem duplo caráter, qual seja, ressarcitório e punitivo.

Na função ressarcitória, considera-se a pessoa, vítima do ato lesivo, e a gravidade objetiva do dano que ela sofreu2. Na função punitiva, ou de

desestímulo do dano moral, os olhos se voltam para aquele que teria cometido da falta, de sorte que o valor indenizatório represente uma advertência, um sinal de que tal ato não deve tornar a ocorrer.

Vale dizer, o valor a ser arbitrado deve ser de tal ordem que repare o mal causado a quem pede, sem lhe gerar locupletamento indevido, bem como desestimule, de certa forma, o causador desse mal, isto é, o incentive a se preocupar com a urbanidade no trato das relações interpessoais.

Mister ressaltar que tanto a fragilidade da apelante, acometida de câncer, quanto os problemas psiquiátricos enfrentados pela apelada devem ser levados em conta no momento da fixação do quantum indenizatório. Assim, para o caso, entende-se razoável e proporcional a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil

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reais), com juros de mora (1%/mês) desde o evento danoso (súmula 543 do STJ),

por se tratar de ilícito extracontratual, e correção monetária (tabela prática TJSP), a partir da publicação do acórdão.

Diante da procedência do pedido (sumula 326 do STJ), a apelada passa a ser responsável pelas custas, despesas processuais e honorários advocatícios, fixados em 20% do valor atualizado da condenação (sumula 326 do STJ), ressalvada a gratuidade.

Alerto ser desnecessária a interposição de embargados de declaração para fins de prequestionamento, na medida em que toda a matéria questionada está automaticamente prequestionada.

Posto isso, pelo meu voto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso da, nos termos fundamentação.

ROSANGELA TELLES Relatora

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