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Feminicídio: o ciclo de violência doméstica contra a mulher

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Academic year: 2021

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ADRIELLE FIGUEIRÓ BENENOT

FEMINICÍDIO:

O CICLO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Araranguá 2020

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FEMINICÍDIO:

O CICLO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof (a) Nádila da Silva Hassan, Esp.

Araranguá 2020

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FEMINICÍDIO:

O CICLO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Araranguá, (09) de (dezembro) de (2020).

______________________________________________________ Professor e orientador: Nádila da Silva Hassan, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Elisângela Dandollini, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Fátima Hassan Caldeira, Dra.

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tiveram a vida interrompida pela violência de homens.

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Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Catarina Figueiró Benenot e Luiz Gonzaga da Costa Benenot, por todo o apoio ao longo dessa caminhada e pelo amor que me foi dado.

Agradeço em especial a minha mãe, Catarina Figueiró Benenot, por todo o suporte ao longo desses cinco anos, pelo companheirismo e por demostrar o seu amor imensurável. E pelo apoio prestado nos momentos difíceis ao proporcionar uma educação de qualidade.

Agradeço, também, as minhas irmãs, Elizandra Figueiró Benenot e Edilene Figueiró Benenot, por me ensinarem que todas as pessoas merecem respeito, e por terem mostrado o real significado de afeto. E, por torcerem e acreditarem na realização desta conclusão de curso, dando forças para seguir em frente.

Aos amigos, meus companheiros, por me proporcionarem inúmeros momentos de alegria, por cada momento juntos e pela oportunidade de aprender um com o outro. Por todas as contribuições nos trabalhos e principalmente em momentos de tensão no fim de cada semestre.

Aos professores que contribuíram com a minha trajetória acadêmica, de maneira especial a minha orientadora, Nádila da Silva Hassan, pela paciência e atenção prestada. Obrigada pelo auxílio prestado na elaboração desta monografia.

E por fim, agradeço a Deus por iluminar o meu caminho e me amparar nesta etapa.

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Que isto seja ouvido por todos.

Alguns o fazem com um olhar de rancor; Outros, com uma palavra de lisonja; O covarde o faz com um beijo;

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O presente trabalho foi conduzido por meio de pesquisa bibliográfica e documental, com foco no tema feminicídio e a violência doméstica contra a mulher. O questionamento base para o desenvolvimento do estudo foi: Qual a importância da lei de feminicídio para o amparo às mulheres? O objetivo geral deste trabalho foi analisar a lei de feminicídio, que desmembrando-se em objetivos específicos tivemos, visou a verificar a violência contra as mulheres; conjuntamente como o seu histórico, e ainda, analisar a Lei Maria da Penha na proteção da mulher, e por fim, examinar o crime de feminicídio que se caracteriza pela morte de uma mulher pela razão da condição de pertencer ao sexo feminino. O presente trabalho permitiu constatar que a violência contra a mulher ocorre há séculos. Nesse sentido, o presente estudo permitiu examinar que houve avanço na sociedade e na legislação em questão de gênero, conquistado através de séculos de luta, permitindo maior proteção às mulheres e garantia dos seus direitos.

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This present work was conducted through bibliographic research, focusing on the theme of femicide and domestic violence against women. The basic question for the development of the study was: Does the present study enable us to verify the importance of the feminicide law for the protection of women? The general objective of this work was to analyze the feminicide law, while the specific objectives were to verify the violence against women, together with its history, as well as to analyze the Maria da Penha law in the protection of women; examine the crime of femicide that stands out for the death of a woman for the reason of the condition of female sex. The present civil work finds that violence against women has been going on for centuries. In this sense, the present study will eliminate that there has been progress in society and in legislation in terms of gender, conquered through centuries of struggle, allowing greater protection for women and guarantee of their rights

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Gráfico 1- Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, sendo dos três Estados com as maiores taxas no ano de 2017...26 Gráfico 2- Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, sendo dos três Estados com as menores taxas no ano de 2017...26 Gráfico 3-Taxa evolutiva de homicídio de mulheres dentro e fora da residência por arma de fogo dentre os anos 2012 a 2017...27

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1 INTRODUÇÃO...10

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ALUSIVOS Á VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER...12

2.1 A INFERIORIDADE HISTÓRICA DA MULHER...12

2.2 A VIOLÊNCIA E SUAS MÚLTIPLAS FORMAS...16

2.3 O MACHISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA...20

2.4 DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL...23

3 O FEMINICÍDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO...28

3.1 ORIGEM E CONCEITO DO TERMO FEMINICÍDIO...31

3.2 MARCOS NORMATIVOS...32

3.2.1 Marcos normativos no mundo...33

3.2.2 Marcos normativos no Brasil...37

3.3 TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO NO BRASIL E FEMINICÍDIO NOS PAÍSES LATINOS-AMERICANOS...39 3.3.1 Natureza jurídica...41 3.3.2 Sujeitos do crime...42 3.3.3 Elementos caracterizados...43 3.4 TIPOS DE FEMINICÍDIO...44 3.4.1 Feminicídio íntimo...45

3.4.2 Feminicídio não íntimo...46

3.4.3 Feminicídio por conexão...47

3.5 DADOS ESTATÍTICOS...47

4 CONCLUSÃO...49

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1 INTRODUÇÃO

Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino. (ORTEGA, 2016, p. 1).

Este estudo discorre sobre o feminicídio e a violência contra a mulher, pois, ainda hoje, na sociedade, as mulheres são vítimas de violência nas mais variadas formas. Fazendo com que o tema alvejado tenha a relevância e necessidade de ampliar as discussões de violência contra as mulheres.

Esse trabalho tem como foco principal analisar a violência cometida por indivíduos de relação íntima contra a mulher, pela condição feminina, tendo em vista a inserção do inciso VI no artigo 121 do Código Penal Brasileiro, acrescentado ao crime de homicídio à circunstância qualificadora de feminicídio.

O feminicídio inserido como qualificadora ao delito de homicídio, ocorre quando no momento do crime o agente pratica o homicídio em decorrência de violência doméstica ou menosprezo à condição de mulher, assim, caracterizando o homicídio qualificado como circunstância de feminicídio, constituído por meio de violência.

Há importância de se nomear um fenômeno que se produz em um contexto específico, contra vítimas determinadas, já que é um grande problema enfrentado por muitas famílias brasileiras que presenciam suas mulheres terem a vida destruída de forma covarde e cruel por quem a deveria zelar.

A metodologia deste trabalho foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica e por análise documental, como também, a utilização de artigos, relatórios, legislações, doutrinas digitais e jurisprudências para garantir um desenvolvimento com base teórica segura.

Como fora supracitado, este trabalho de conclusão de curso realizou-se por meio de pesquisa bibliográfica, disposta em forma de capítulos. O primeiro capítulo trata de uma retrospectiva histórica sobre a violência contra a mulher e o seu papel na sociedade, demonstrando como ocorreu a construção da dominação de gênero, como o qual por séculos escarneceu de um status de inferioridade para a mulher, será alvo os diversos tipos de violência contra as mulheres, não sendo apenas a violência física, mas a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e a violência moral, como, também, os dados estáticos de violência contra as mulheres.

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O segundo capítulo aborda o tema principal que é o feminicídio, observando a origem e conceituação, onde foram analisados os marcos normativos, incluindo a tipificação de feminicídio na América Latina, sobretudo, evidenciou os tipos de feminicídio; como a violência praticada contra a mulher por indivíduos que mantinham relação de afeto com a vítima.

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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ALUSIVOS Á VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

No presente capítulo, abordamos a forma histórica do papel do sexo feminino no seio familiar, na sociedade e o limite da sua autonomia enquanto mulher, concomitante a isso, o processo de transformação ao longo dos séculos. Ainda neste contexto, visamos esclarecer, o estigma da desigualdade biológica, as várias formas de violência que são submetidas, marcada por uma cultura machista, dando ênfase, portanto, a violência contra a mulher no âmbito doméstico, e conseguinte, o feminicídio no atual cenário.

2.1 A INFERIORIDADE HISTÓRICA DA MULHER

Ao analisarmos a trajetória da mulher no decorrer dos períodos históricos, percebeu-se que, na maior parte do tempo, esta teve uma posição inferior ao homem, como também perante a sociedade e a religião. Revelando-se numa forma secundária o papel da mulher no transcorrer dos séculos, em que elas – mulheres – foram oprimidas, discriminadas e desprezadas de diversas formas, e ainda são até os dias atuais. Este dano trouxe a visão de um ser subalterno, cujas tarefas baseiam-se a espaço privado e limitado. Assim, traçamos uma análise do papel da mulher em todos os momentos da história e procuramos identificá-los.

Nos tempos primórdios havia uma igualdade entre homens e mulheres, pois conviviam com paridade entre si, tendo ambos a mesma influência sobre decisões em grupo. O papel do homem não era mais importante que o da mulher, existia uma harmonia entre eles. Segundo Alambert (2004, p. 27) “Na aurora da humanidade não podemos falar na existência de desigualdades entre o homem e a mulher. Naquele tempo, não existiam povos, nem Estados separados”. Relata-se que existia uma livre liberdade sexual entre ambos, a gravidez era vista como um dom concedido pela natureza, e como comunidade, uns cuidavam dos filhos dos outros. Sendo assim, no começo da formação da humanidade não tínhamos esta concepção de distinção entre o macho e a fêmea.

Consta que essa desigualdade adveio da agricultura, momento em que passou a haver a divisão de terras, a formação de famílias, e a obtenção de recursos. Considera-se que com o invento do arado, veio a exploração da dominação, pois, sendo um trabalho mais pesado e que exige força para com o animal quanto para o movimento de arar a terra, abriu-se a porta para a lei do mais forte, onde este serviço era mais valorizado. Com isso, desfez a primazia de que ambos os sexos podiam ter similaridade. Conforme Dallari (2001, p. 20) preceitua:

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Desde os tempos mais remotos até nossos dias, verificamos que, à medida em que se desenvolve os meios de controle e aproveitamento da natureza, com a descoberta, a invenção e o aperfeiçoamento de instrumentos de trabalho e de defesa, a sociedade simples foi-se tornando cada vez mais complexa. Grupos foram-se constituindo dentro da sociedade, para executar tarefas especificas, chegando a um pluralismo social extremamente complexo.

Vale ressaltar que, naquele tempo, a mulher era vista como um ser sagrado por dar à luz, pois, se presumia que elas geravam a criança sozinha, que tinham um poder divino, mas, com a descoberta de que o homem era necessário para a concepção da nova vida, este passa, então, a ter o “poder” sobre o feminino, visto que se criou o pensamento de ser, o homem, detentor principal para o controle da reprodução humana.

No transcorrer da história, foi havendo mudanças significativas no mundo. O feudalismo e os impérios, a passagem do tempo dos indivíduos para as cidades e as criações de Estados, trazendo a cultura e religião abarcada na questão em torno da vida da mulher. O que se tornava cada dia mais difícil sua vida, impondo mais obrigações e menos direitos. Sempre com o espectro de serem apenas reprodutoras, obrigadas a cuidarem de seus filhos e da casa, mantendo sua fidelidade ao seu proprietário, o homem, já que ele era seu provedor.

Um marco dessa transformação, que respinga até nos dias atuais, foi a era medieval, ou seja, a Idade Média, que trouxe um olhar rigoroso de degradação ao feminino. A igreja Católica, com sua ideologia maçante disseminando discurso de ódio e aversão, trouxe um estereótipo da figura da mulher, sendo inferior tanto fisicamente quanto intelectualmente, sendo vista como um ser maligno, perverso e tentador, diabólico, bruxa, tendo a sensibilidade de atração pelo sobrenatural. (FARINHA, 2010, p. 3; BOFF, 2018, p. 1).

Tal preceito parte de Adão e Eva, em que explica uma das teorias do surgimento da origem do mundo, a qual se conhece como a perda do paraíso causada por Eva, pelo pecado original, pois não resistiu à tentação, levando-os a expulsão. Trazendo dor, sofrimento e a morte para os humanos que habitariam a terra. A bíblia simbolizou como pecado e o mal, caracterizando um ser que seduz e de moral duvidosa, tornando-se submissa, pois nasceu de uma das costelas de Adão. Conforme Richards (1993, p. 37) diz “eram iguais em espírito, mas na carne o homem era superior à esposa, e ela deveria obedecê-lo.”.

Nesse contexto, a igreja teve grande influência, detinha uma autoridade absoluta e controle sobre as pessoas, interferia na vida familiar e na forma de pensar. Isso facilitou para reprimir e oprimir na questão do controle do corpo e na sexualidade das mulheres, mantendo-as pura e cmantendo-asta, sem desejos exteriores, concentrando-se sua vida em Deus. Os seguimentos cristãos pregavam que o objetivo do sexo era a reprodução, o celibato era o ideal, que se caso não fosse para esse fim, era um pecado mortal, não poderia existir prazer nessa relação.

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Também havia a moral ilibada e conservadora que a mulher tinha de manter, a infidelidade era repudiada. Caso uma jovem solteira tivesse sofrido violências sexuais, poderia ser sua ruína, o mesmo não acontecia com os homens, pois acreditava-se que elas tinham mais propensão às luxúrias sexuais.

Deste modo, como se teve essa opressão vinculada as várias formas que foram instituídas, com o seu papel de subordinação no lar e na sociedade, a sua voz foi abafada. Expõe Perrot (2005, p. 9) na seguinte forma:

O silêncio é um mandamento reiterado através dos séculos pelas religiões, pelos sistemas políticos e pelos manuais de comportamento. Silêncio das mulheres na igreja ou templo; maior ainda na sinagoga ou na mesquita, onde elas não podem nem mesmo penetrar na hora das orações. Silêncio nas assembleias politicas povoadas de homens que as tomam de assalto com sua eloquência masculina. Silêncio no espaço público onde sua intervenção coletiva é assimilada à histeria do grito e uma atitude barulhenta demais como a da “vida fácil.” Silêncio até na vida privada.

Foi um período marcado pelo terror, medo e perseguição contra todo àquele que fosse contrário ao conceito da igreja, e seu fim seria sofrer as consequências.

Assim, segundo Angelin (2012, p. 1), vale lembrar da caça às bruxas que foram perseguidas e assassinadas porque supostamente obtinham poderes sobrenaturais. Conhecida como a Inquisição – grupo do sistema jurídico da Igreja Católica Romana – passou a eliminar heresias. A exemplo do curandeirismo que era visto como bruxaria, apontavam como pacto com diabo, envolvendo magia negra e feitiçaria. Por conta desse fato, tanto a população quanto as autoridades, passaram a caçá-las e almejar as suas mortes, pois, tais heresias, desviavam-se das crenças não-cristãs, e descumpriam com os mandamentos de Deus, fazendo a adoração ao satã com práticas obscuras.

A forma de obter uma confissão ou de mostrar seus poderes, começava por torturar, sem roupas, e a preferência se dava nas partes íntimas, onde usavam diferentes instrumentos, e se procurava a marca da besta, que podia ser uma mancha, por exemplo, confirmando estar possuída pelo mal. Podia ter membros arrancados, ser levada ao enforcamento ou queimada viva em praça pública, isso demonstrava que as pecadoras receberiam sua punição por Deus.

Com isso, a igreja associou a mulher a uma figura perigosa e diabólica, sendo a causa do pecado e do mal, simbolizando um ente negativo, demonstrando a repulsa e o menosprezo o qual se atribuiu ao gênero feminino.

Na mudança dessa visão de desvalorização e subjugação, a mulher deu seus curtos passos no renascentismo, ainda que de um modo limitado, restringido-se a comerciantes de

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pequenos produtos para ajudar seu marido na renda de casa e artesãs, pois ficou apontado como um século de conquistas e expansão em diversas áreas. Isso deu uma abertura para descaracterizar a imagem da mulher com o mal. Contudo, os homens ainda possuíam seu domínio, era como se o homem comandasse o mundo, eram feitas suas vontades, seus desejos, o espaço público pertencia a eles, sempre foram instruídos aos estudos, com predominação na filosofia, no comando militar, a política, religião e a ciência. King (1994, p. 193) descreve que:

Um homem pode ser príncipe ou guerreiro, artista ou humanista, mercador ou eclesiástico, sábio ou aventureiro. A mulher só raramente assume seus papeis e, se o faz, não são esses os papeis que a definem, mas outros: é mãe, filha ou viúva, virgem ou prostituta, santa ou bruxa. Maria, Eva ou Amazona. Estas identidades (que deveriam apenas a que pertence) submergem-na totalmente e apagam qualquer outra personalidade a que ela aspire. Durante todo o Renascimento, a mulher luta para se exprimir a si própria. Mas, é uma luta destinada ao fracasso, dado que a partir de finais Renascimento, a fixidez dos papeis sexualmente definidos da mulher foi reafirmado a todos os níveis da sociedade e da cultura e a condição feminina não progrediu, antes se encaminhou para um progressivo declínio.

Como a condição da mulher perpetuava negativa, o seu destino era o matrimônio e a maternidade.

Para tanto, apenas mulheres da alta classe tinham acesso à educação, mas com reserva, o que não abrangeu as demais, que tinham um padrão de vida inferior e mais pesada.

Porém, existiu uma alteração desse panorama no início do século XIX, em que surgiu a Revolução Industrial e o sistema capitalista, no qual as mulheres enxergaram uma oportunidade de largar a vida rural e deixar os trabalhos domésticos. Oportunizando uma invasão de mulheres para as cidades atrás de trabalho nas fábricas. Com isso, começam a sair do estereótipo de serem mais fracas, de serem rebaixadas e passam a demonstrar a mesma capacidade do sexo masculino para serviços fora do que estavam acostumadas. Todavia, os seus problemas agora mudariam, teriam de ter dupla jornada, sair para trabalhar fora e manter seus lares. Para poder ter a sua inserção neste mercado, sua mão de obra teria que ser mais barata, a jornada de trabalho era superior à do homem, podendo ser de 17 horas em condições insalubres e submetidas a humilhações. Aceda Alves e Pitanguy (1985, p. 33-34) afirmam que:

Diga-me, quem te deu o direito soberano de oprimir o meu sexo? (...) Ele quer comandar como déspota sobre meu sexo que recebeu todas as faculdades intelectuais. (...) Esta Revolução só se realizará quando todas as mulheres tiverem consciência do seu destino deplorável e dos direitos que elas perderam na sociedade.

Ainda, que seja uma evolução de grande valia e mudança de cenário, a moral da mulher continuava sendo ligada com a sexualidade, uma mulher descente reprimia seu desejo,

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e se mantinha casada, dona de casa que aguentava tudo calada para poder ser bem vista na sociedade, e não sofrer com julgamentos.

O legado deixado ainda está enraizado no século XXI, por mais que tenhamos conquistado direitos e liberdade, isso com muita luta, deixa claro que há um desequilíbrio visível que permanece. Denota-se a questão da desigualdade entre os gêneros, essa obsessão pelo corpo feminino, o controle da sexualidade feminina, a discriminação, a violência, a diferença salarial, e a ocupação das mulheres em cargos públicos ainda é menor, etc. Além disso, pesa a presença do machismo e o patriarcado que as atormenta. A feminista Beauvoir cita:

Quando duas categorias humanas se acham em presença, cada uma delas quer impor à outra sua soberania, quando ambas estão em estado de sustentar a reivindicação, cria-se entre elas, seja na hostilidade, seja na amizade, sempre na tensão, uma relação de reciprocidade. Se uma das duas é privilegiado, ela domina a outra e tudo faz para mantê-la na opressão. (BEAUVOIR, 1986, p. 81).

A luta para a mulher chegar a este caminho de conquistar a sonhada igualdade será longa e árdua como sempre foi em todos momentos da vida de uma mulher, mas com perseverança os muros podem ser derrubados.

2.2 A VIOLÊNCIA E SUAS MÚLTIPLAS FORMAS

A violência é um fato recorrente no contexto histórico da humanidade, a questão que ainda perpetua é saber se o homem é violento por natureza ou se a desenvolveu para sua sobrevivência. Nota-se que a violência está presente em todos os padrões de sociedade, com suas diversas facetas, e advém principalmente das batalhas, guerras e revoluções travadas entre os homens, para reforçar a sua força, ego e sentir o poder que detinham sobre os oprimidos e fracos. Consta que o homem demostrava sua virilidade e masculinidade com o domínio total, controlando todos e tudo a sua volta. Observa-se que o homem, muitas vezes, se comporta como um animal, e perde seu discernimento e racionalidade, cometendo atos cruéis.

Assim sendo, essa diferença de relações que se mantém ao longo dos anos, originou a hierarquia entre os seres humanos. Causando a predominância de exploração e abuso com quem se tornou o mais fraco dessa relação. Chaui (1985, p. 35) disserta:

[...] A violação ou transgressão de normas, regras e leis, mas sob dois ângulos: a violência, por um lado, é uma conversação de diferenças e relações assimétricas, visando dominar, explorar e oprimir; e, por outro, é uma ação que não considera o ser humano como sujeito, mas como uma coisa ou um objeto.

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O que nos leva a refletir o porquê de ainda haver em nosso país tanta violência e em níveis excessivos.

O Brasil nasceu da violência, quando europeus impuseram sua cultura e religião aos habitantes, estabeleceram o autoritarismo ao processo de formação de colonização. O país passou por vários períodos de modificações e transformações, mas sempre esteve presente a violência, como âncora para construção. Com isso Velho (2000, p. 57) faz a menção:

A sociedade brasileira tradicional, a partir de um complexo equilíbrio de hierarquia e individualismos, desenvolveu, associado a um sistema de trocas, reciprocidade na desigualdade e patronagem, o uso da violência, mais ou menos legitimo, por parte de atores socais bem definidos. Neste cenário social, a manipulação do poder, a corrupção e o uso da força, teve um papel fundamental na estruturação do sistema social da época, o que muitas vezes pode ter conduzido há uma legitimação velada destes atos na constituição da sociedade brasileira.

Ressalva-se, que é inerente na sociedade brasileira a cultura da violência. Sendo as mulheres uma das mais prejudicadas e atingidas nessa estruturação da construção da sociedade, tendo em vista a violência entranhada. Acarretando, em vários momentos de sua vida, a hostilização em âmbitos privados e públicos.

Neste caso, toda essa violência, a qual é submetida, decorre do processo sociocultural que a pôs em uma posição submissa frente ao homem, taxando-a como sexo frágil.

Nesse panorama, é evidente a constatação que nossa sociedade recria e reproduz discursos, ações, comportamentos e modos agressivos, impondo, em prática, toda essa aversão ao feminino, em várias formas, para que a mulher ainda se sinta impotente, reiterando tal opressão de forma mais grave no ambiente doméstico, gerando outros tipos de violências. Por isso, Piovesan elucida:

[...] qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação agressões ou coerção, ocasionado pelo simples fato de a vítima ser mulher, e que cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos e privados. (PIOVESAN, 2002, p. 214).

Com isso, estes tipos de acometimentos não são episódios isolados, acompanham o cotidiano da mulher, sofrendo ataques, não implicando na sua classe, raça, idade ou nível educacional, todas podem ser vítimas, ferindo a dignidade da pessoa humana, uma insensibilidade que gera traumas e inseguranças, levando até a morte.

As principais manifestações de violências às atingem desqualificando como ser humano, violando os seus direitos humanos, afetando sua saúde, bem como a sua integridade.

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A elementar é a violência doméstica que ocorre no lar, praticada por pessoa próxima, de sua convivência, sendo por vínculo familiar, ou de intimidade e coabitação, existindo agressões físicas, psicológicas, verbais, sexuais, morais e patrimoniais.

Com fito nisso Saffioti (2004, p. 85) diz:

A violência doméstica apresenta características específicas. Uma das mais relevantes é a sua rotinização (SAFFIOTI, 1997), o que contribui, tremendamente para o co-dependência e o estabelecimento da relação fixada. Rigorosamente, a relação violenta se constitui em verdadeira prisão. Neste sentido, o próprio gênero acaba dominar a qualquer custo; e a mulher deve suportar agressões de toda ordem, porque seu “destino” assim o determinada.

Consequentemente, a violência doméstica é a mais difícil de reconhecer, por ser de foro íntimo e reservado. Assim, a preocupação com os altos níveis de ocorrências e a dimensão que atinge, vindo à tona quando não pode mais suportar a situação.

Partindo-se do pressuposto que violência intrafamiliar acontece no seio familiar, a vítima vive com o sujeito. Podendo ser membro da família, formado por laços sanguíneo, de parentesco ou um agregado, e as violências incluem agressões de cunho sexual, negligência e abandono, psicológico e físico.

A violência institucional ocorre devido à omissão dos agentes do Estado e as organizações privadas em atendê-las, negando-lhes a proteção necessária, recusando-se a ampará-las quando advinda de outros casos de violência, desacreditando dos fatos descritos, maltratando ou tendo práticas preceituosas envolvendo questões de gênero e étnico-raciais, indo contra seus direitos garantidos por lei, ocasionando danos graves na esfera psicológica e, por vezes, voltando à rotina de degradação. O que, em alguns casos, abstendo-se dessa ajuda, pode incidir no rompimento da vida.

A violência física caracteriza-se por ser habitual e presente no dia-a-dia da pessoa, seja por qualquer conduta que fira a integridade física ou a saúde, como, por exemplo, as lesões corporais, tapas, empurrões e socos, dentre outros modos de agir para machucar, como o uso de objetos cortantes, a privação alimentar, etc. A respeito, Fernandes (2015, p. 60) afirma:

Normalmente, a violência física manifesta-se por tapas, socos, empurrões e agressões com instrumentos, contundentes ou cortantes, que podem provocar marcas físicas e danos à saúde da vítima. Conforme a gravidade do resultado e as circunstâncias do fato, pode ser tipificada como vias de fato, lesão corporal, tortura ou feminicídio.

Caso seja na esfera doméstica, estas ações ao corpo da mulher também podem ocorrer em formas de mutilações, queimaduras e estrangulamentos.

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Tal efeito abrange também a violência psicológica a qual envolve uma dificuldade de a vítima identificar e visualizar, pois são palavras e atos sutis, quase imperceptíveis, que surgem por meio de atitudes para humilhar, menosprezar, xingar, avaliar sua aparência, isolar da família e amigos, trazendo inseguranças, medos, até colocar a mulher sob total controle do indivíduo. Segundo Teles e Melo (2003, p. 15) “o uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar a outra pessoa a fazer algo contra a sua vontade; é impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade.”.

A violência psicológica tem previsão no art.7º inciso II da Lei nº 11.340/06, que aponta:

Art. 7º [...]

II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológico e à autodeterminação. (BRASIL, LMP, 2020).

Nesse sentido, a coíbem por meio de manipulação, influenciando na sanidade mental.

Ainda, incluem-se a violência patrimonial e moral, significando uma conduta onde há uma má intenção de atingir o patrimônio, bem como, manchar a reputação. Elas se distinguem na seguinte maneira; a violência patrimonial consiste em destruição, retenção de bens ou objetos, escondendo ou apreendendo seus documentos, subtraindo, como por exemplo, quebrando o celular, danificando bens matérias. Já a violência moral abarca e viola a imagem da pessoa, estando prevista no Código Penal que faz referência as ações de caluniar, difamar ou injuriar.

Por último, considera-se violência sexual quando há uma ação que submeta ao contato físico ou verbal não respeitando a vontade no momento do ato, empregando a força para obter a satisfação sexual, ameaçando, constrangendo, utilizando-se de mecanismos que invalidem sua vontade pessoal, gerando traumas imensuráveis e originando repulsa de si mesma.

Assim prevê o inciso III, do art. 7º da Lei nº 11.340/06:

Art. 7º [...]

III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, á gravidez, ao aborto ou à prostituição,

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mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. (BRASIL, LMP, 2020).

Deste modo, temos a Convenção Internacional para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência (Lei nº 1.973/96) a mulher que, segundo o art. 2º que dispõe:

Art. 2º Entende-se que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica.

a) Ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo-se, entre outras turmas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual;

b) Ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; e

c) Perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra. (BRASIL, Decreto nº 1973, 2020).

Portanto, a violência implica em ações que resultem de abuso e poder sobre outrem, mediante sofrimento, força, tortura ou morte. As formas de selvagerias hoje têm outros focos, algumas persistem aos dias atuais, já outras, surgiram no decurso do tempo, mas, ainda se perpetuam e desencadeiam diversas maneiras, o que traz Marx (1983, p. 145) “a violência é a parteira de toda a velha sociedade que está grávida de uma nova.”.

2.3 O MACHISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

O machismo arreigado na sociedade brasileira sobrevém do regime patriarcal, tendo como o pai a figura principal, o provedor do lar, desfrutando do domínio da família, mantendo sua autoridade sobre as mulheres e crianças. Assim, o homem exercia a soberania diante da mulher.

[...] como “corpo doméstico”, naturalmente representa desde ponto de vista social, um “zero”, o “segundo sexo”, enquanto os homens, que se sobressaem na vida econômica, política e intelectual, representam um sexo superior. De acordo com esta propaganda patriarcal, as funções maternas da mulher se instrumentalizam para justificar as desigualdades existentes entre os sexos de nossa sociedade e a posição subalterna ocupada pela mulher. (REED, 2008, p. 34).

Apesar de, atualmente, o núcleo familiar ter mudado a estrutura, devido às transformações culturais e sociais, originara-se outros tipos de famílias.

Deste modo, o machismo é uma construção social, fundamentada na ideologia de que os homens são superiores as mulheres. Uma vez que se formou um pensamento vivente de que há uma hierarquia entre ambos, onde o masculino se destaca, aferindo uma posição de superioridade, enquanto o gênero feminino encontra-se em posição inferior. Nessa perspectiva, Reed (2008, p. 29) afirma que:

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Em terceiro lugar, embora nossa sociedade classista seja patriarcal em sua constituição, tendo a família paterna como unidade fundamental [...]. Além disso, a supremacia machista, que se sustenta sobre o mito de que as mulheres representam um sexo inferior, existe somente em nossa sociedade de subordinação e degradante que lhes destinou a sociedade de classes.

Diante disto, o machismo começa na infância, de maneira que a menina será conduzida aos afazeres domésticos, uma vez que, a mesma recebe brinquedos destinados a este fim, como conjuntos de cozinhas, bonecas e objetos que fazem analogia aos cuidados do lar e a ser mãe. Na adolescência, as meninas são ensinadas a se vestir e agir de uma maneira meiga e elegante, usando vestidos, saias, utensílios de beleza. Na vida adulta, a mulher tem que ser recatada, para ser aprovada perante a sociedade e pelo homem, com o intuito de casar-se com um “bom partido” e construir uma família, não casar-sendo instigadas para as diversas áreas em que podem seguir futuramente.

Logo, éconstruída a imagem de que para a mulher se sentir completa precisa de um homem, a realização pessoal virá com a maternidade, possuindo a sua felicidade na conservação e no cuidado de sua família.

Diferente dos homens, que são encaminhados para atividade remunerada, nas mais diversas profissões e altos cargos, tendo estímuloparaviver aventuras, descobertas, ter grandes conquistas, competir e vencer, vistos como os heróis.

Posto isso, torna-se natural a diferença entre os dois gêneros, onde a mulher sempre será vista como um indivíduo fraco e indefeso, como que uma donzela em perigo, esperando para ser salva por seu herói.

A partir disto Bourdieu (2014, p. 18) versa:

A ordem social funciona uma imensa maquina simbólica que tende a ratificação dominação masculina sobre a qual alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades estruídas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de assembleia, ou de mercado, reservado aos homens, e a casa, reservada ás mulheres; ou no interior desta [...].

Com isso, o valor da mulher fica relacionado à conduta moral e sexual, induzindo o pensamento de que alguns comportamentos não são adequados a uma mulher de família, como, por exemplo, usar roupas curtas e caminhar à noite na rua. Enquanto os homens, não precisam se preocupar, pois são incentivados a ser os “pegadores” e conquistadores, a conduta destes não está ligada a vida sexual. Assim, não vêem necessidade de se preocupar com a depreciação de sua reputação e honra.

Além destes padrões enfrentados pela mulher, no cotidiano, escutam-se expressões de conotação maldosa, com intenção de inferiorizar a capacidade feminina,

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referindo-se a xingamentos, como por exemplo, mulher não sabe dirigir; só sabe pilotar fogão; só podia ser mulher; mulher não tem cabeça para essas coisas, reforçando a ideia de insuficiência da mulher.

No tocante a isto Colling (2014, p. 103) afirma que:

A subordinação das mulheres é um fenômeno transgeográfico e transcultural, e que não desaparece nem com o desenvolvimento econômico nem com a legislação sobre igualdade. As leis sobre a igualdade de tratamento não produzem, por si só, resultados iguais e justos, nem no plano individual, nem no coletivo. Por esse motivo, é necessário encontrar uma nova metáfora, que faculte a leitura diferente das relações sociais entre homens e mulheres.

Isto provoca um pré-conceito e produz práticas erradas na relação social frente um ao outro. De acordo com Saffioti (1992, p. 191):

Não se pode generalizar, para todas as mulheres, a mesma forma de opressão a que estão submetidas. É inegável que todas as mulheres sofrem discriminação e opressão de gênero. Essas opressões, no entendo, são vivenciadas de forma diferenciada de acordo com as condições materiais de cada um.

Em vista disso, é importante destacar que as mulheres que desempenham altos cargos ou funções respeitáveis, sofrem de ataques machistas por simplesmente estarem no mercado de trabalho ou então demonstrarem o mesmo comportamento masculino, sendo taxadas como descontroladas e sem capacidade para desempenhar as funções que o mercado de trabalho exige.

Com isso, a mulher se torna alvo de críticas e adjetivos depreciativos, sendo, também, frequentemente retratada de uma maneira desrespeitosa em reportagens pela mídia, pondo em dúvida a qualificação profissional. Utilizando-se de alusão, o pensamento de Silva (1994, p. 78):

O clamor feminino, como já disse antes, tornou-se amplo e sério demais para ser ignorado. Mas os veículos de comunicação ainda são em sua grande maioria manejados pelos homens- e estes continuam ciosos da “ superioridade masculina” e emprenhados em manter os privilégios (supostos ou reais) que ela lhes outorga [...] Desse modo, o bombardeio de mensagens a que nos submetem cada dia tende, por todos os meios, a solapar as reivindicações feministas. Muitas vezes simulando encampá-las, mas de forma a reduzir sua extensão e amesquinhar seu alcance.

A imprensa contribui para a propagação do discurso machista, focando em propagandas publicitárias utilizando o corpo da mulher como uma forma de promover seus produtos, principalmente em campanhas de cervejas, hipersexualizando os corpos femininos, atribuindo uma imagem de objeto sexual, intimamente ligada à função de mero prazer sexual masculino.

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2.4 DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL A violência em que a mulher é submetida não é um episódio recente. Nas últimas décadas, a questão da violência contra a mulher tornou-se um problema social, e com isso, tornou-se um tema recorrente e vem sendo objeto de política nacional e internacional.

Ao longo de seu ciclo vital, a violência pode estar presente em vários âmbitos da vida de uma mulher, podendo se manifestar sob diferentes formas e inúmeras circunstâncias. Uma vez que, afeta não só a mulher, como, também, a sua família, pois deixa sequelas em torno de todos, e as consequências são irreparáveis, caso não seja tratada da devida forma e com auxílio de indivíduos especializados.

Dessa forma, vista como um fenômeno social, fundado na desigualdade de gênero, a brutalidade para com as mulheres demuda com o passar dos séculos. Em virtude do cenário atual, tem-se aumentado o fenômeno de assassinato de mulheres vítimas da violência.

Neste caso, a violência contra a mulher decorre de todo um processo histórico, que a pôs em uma posição submissa frente ao homem, sendo taxada de sexo frágil. Como relata Teles e Melo (2003, p. 11):

O drama da violência contra a mulher faz parte do cotidiano das cidades, do país e do mundo. É pouco comovente porque é por demais banalizados, tratado como algo que faz parte da vida; tão natural que não se pode imaginar a vida sem sua existência. É um fenômeno antigo que foi silenciado ao longo da história e passou a ser desvendado há menos de 20 anos. A mídia busca fatos novos, e quando se fala de violência contra a mulher, nada é novo.

Diante disso, fica evidente a constatação que na sociedade a mulher ainda é reiteradamente oprimida pelo homem, tal opressão ocorre particularmente de forma mais grave no ambiente doméstico, por isso gera outras desigualdades.

Conforme destacam Teles e Melo (2003, p. 18):

Os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim fruto do processo de socialização das pessoas. Ou seja, não é a natureza responsável pelos padrões e limites sociais que determinam comportamentos agressivos aos homens e dóceis e submissos às mulheres. Os costumes, a educação e os meios de comunicação tratam de criar e preservar estereótipos que reforçam a ideia de que o sexo masculino tem o poder controlar os desejos, as opiniões e a liberdade de ir e vir das mulheres.

Denota-se, nos últimos anos, em todo o país, um grande número de casos de violência contra a mulher, que ocorrem principalmente no âmbito familiar, onde ela é menosprezada por ser do sexo feminino. Tais práticas são, também, fruto de uma sociedade patriarcal, que impõe regras, obrigações e sujeições à mesma. A cultura do ódio e do desprezo

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está enraizada no Brasil, submetendo as mulheres a sofrimentos psicológicos, físicos, morais e sexuais. Entre outros fatores, a pressão, o medo, a dependência emocional e, muitas vezes, financeira, deixa as vítimas caladas e oprimidas por longos períodos.

Diante deste cenário, cresce o número de mulheres vítimas de homicídios no país, ficando evidente que, além do contexto histórico, influência da submissão, da discriminação e relação de desigualdade de gênero. Acrescenta-se ainda a existência de indivíduos que pensam como se tivessem a posse e a visão da mulher como objeto, que, em quase todos os casos, convive dentro do próprio lar, em um padrão de comportamento de abuso e dominância sobre a vítima.

Segundo o jornalista Franco (2019, p. 1), não há lugar seguro no Brasil. Nos últimos 12 meses, cerca de 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, ao passo que 22 milhões de mulheres passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Dentre os casos de violência, 42% ocorrem no ambiente doméstico. Após a mulher sofrer a violência, mais da metade das mulheres, 52%, não denunciou o agressor ou buscou ajuda.

Além disso, o país registra um caso de agressão a cada quatro minutos. Cubas (2019, p. 1), diz que, conforme os dados que o Ministério da Saúde registra no Brasil, aproximadamente a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por ao menos um homem e sobrevive. No ano passado, foram registrados mais de 145 mil casos de violência. Correspondentes a violência física, sexual, psicológica e de outros tipos, em que as vítimas sobreviveram. Visto que, cada registro pode incluir mais de um tipo de violência.

Logo, a violência infringe um dos princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o princípio da dignidade da pessoa humana. Assim, os direitos humanos podem ser definidos como os direitos inerentes à pessoa humana, pois são universais, aplicando-se a todos sem distinção.

Consta na Declaração de Viena de 1993, a expressão direitos humanos da mulher, que dispõe em seu art. 18 a seguinte redação:

Os direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e constituem parte integral e indivisível dos direitos humanos universais. A plena participação das mulheres, em condições de igualdade, na vida política, civil, econômica, social e cultural nos níveis nacional, regional e internacional e a erradicação de todas as formas de discriminação, com base no sexo, são objetivos prioritários da comunidade internacional.

A violência e todas as formas de abuso e exploração sexual, incluindo o preconceito cultural e o tráfico internacional de pessoas, são incompatíveis com a dignidade e valor da pessoa humana e devem ser eliminadas. Pode-se conseguir isso por meio de medidas legislativas, ações nacionais e cooperação internacional nas áreas do desenvolvimento econômico e social, da educação, da maternidade segura e

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assistência à saúde e apoio social. (DECLARAÇÃO DO PROGRAMA DE VIENA, 1993).

Além disto, na Constituição Federal de 1988, consta a igualdade de plenos direitos entres homens e mulheres, afirmando não apenas a igualdade, mas a não-discriminação, como também, o apoio e a proteção de garantias especiais.

Assim enfatiza Pierobom (2014, p. 20):

O compromisso do Estado brasileiro de atuar de forma efetiva na proteção dos direitos fundamentais das mulheres vem previsto no art. 226, parágrafo 8º. da CF/88, que estabelece: ‘O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.’.

Contudo, o que acontece na realidade é uma desigualdade entre os gêneros, preponderante pelo sexo feminino, pois a mulher é quem é o objeto da violência.

Assim sendo, no atual cenário, o Brasil exibe um panorama preocupante. O Atlas da violência apresenta um índice do crescimento sobre homicídios femininos no país do ano de 2017, tendo aproximadamente 13 assassinatos por dia. Cerca de 4.936 mulheres foram mortas, esse número registrado é maior que do ano de 2007.

Durante a análise feita nos anos 2007 a 2017, observou-se um número expressivo de 30,7% de homicídios de mulheres no Brasil, como no último ano datado, que registrou aumento de 6,3% em relação ao anterior.

A intensidade do fenômeno de violência contra a mulher tem variações, em termos da taxa de homicídio, por grupo de 100 mil mulheres, permite maior comparabilidade temporal, entre as diferentes unidades federativas.

Dos anos de 2007 a 2017 tiveram um aumento de 20,7% na taxa nacional de homicídios de mulheres, quando a mesma passou de 3,9% para 4,7% mulheres assassinadas por grupo de 100 mil mulheres. O que no período de 2012 a 2017 acarretou no crescimento de 1,7% na taxa nacional, um aumento maior ainda de 5,4% no último ano, período em que se verificam taxas ascendentes em 17 UFs em relação ao ano de 2016.

O Estado do Rio Grande do Norte expôs o maior crescimento, com número de 214,4% dentre 2007 e 2017, depois o Ceará 176,9%, em seguida Sergipe 107,0%. Já o Estado de Roraima, obteve no ano de 2017, a maior taxa com aproximadamente cerca de 10,6 mulheres vítimas de homicídio por grupo de 100 mil mulheres, este índice duas vezes superior à média nacional de 4,7, sendo que no Estado do Acre teve um percentual de 8,3 para cada 100 mil mulheres. (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2019, p. 35).

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Gráfico 1 – Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, sendo dos três Estados com as maiores taxas no ano de 2017.

Fonte: (Atlas da Violência, 2019).

As maiores reduções desses números estão presentes nos Estados de São Paulo entre 33,1% e 22,5%, respondendo pela menor taxa de homicídios femininos de 2,2 por 100 mil mulheres, seguido pelo Distrito Federal de 2,9%, Santa Catarina com 3,1% e o Piauí 3,2%. (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2019, p. 37).

Gráfico 2- Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, sendo dos três Estados com as menores taxas no ano de 2017.

Fonte: (Atlas da Violência, 2019).

Nesta triste realidade do país, nota-se nos últimos anos, o crescimento de casos de mulheres vítimas de homicídios no país, e vem sendo uma das questões mais discutidas, pois os números de vítimas não param de crescer, seguidos de situações cada vez mais alarmantes, visto que o Brasil está no 5º lugar do ranking mundial de violência contra mulher. Esta

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colocação demonstra o altíssimo índice de violência em que as mulheres brasileiras estão expostas, mas, sobretudo expressa na sociedade uma prática velada da misoginia e do patriarcalismo, gerando a objetivação do feminino, que, muitas vezes, resulta no assassinato.

Sendo que, a maioria das mortes violentas, ocorre dentro das residências, praticada por conhecidos ou parceiros íntimos das vítimas. Estes homicídios contra as mulheres são de 29,8% dentro das residências, a sua maioria foi utilizada arma de fogo, se não considerar os assassinatos que ocorreram fora da residência que são 39,3%.

Gráfico 3-Taxa evolutiva de homicídio de mulheres dentro e fora da residência por arma de fogo dentre os anos 2012 a 2017.

Fonte: (Atlas da Violência, 2019).

Dessa forma, a curva ascendente e a permanência da violência contra a mulher, demonstram a necessidade de uma mudança no que diz respeito à cultura, a política e o social, pois há obrigação de controlar esta violência que pode acarretar um ato extremo, o assassinato de uma mulher.

A tendenciosa elevação da violência contra a mulher, permitiu o debate público na sociedade, mas as diversidades para programar políticas públicas, a fim de reduzir este problema, causa tensão quanto a flexibilização da posse de arma de fogo.

Somente no de 2017 houve a procura de delegacias de polícia por 221 mil mulheres, para registrar ocorrências de agressão, lesão corporal dolosa, em decorrência de violência doméstica. Partindo desse fato, este número pode ser muito mais alto, pois as muitas vítimas têm medo ou vergonha de denunciar.

Com esses elevadíssimos índices de violência no país, a probabilidade de que cada vez mais os cidadãos tenham posse de arma de fogo na residência, implica diretamente na vida das mulheres, pois, a vida da mulher ficaria ainda mais suscetível a situação de violência.

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3 O FEMINICÍDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO

O Brasil não possuía uma legislação específica para o homicídio praticado em decorrência da condição do sexo feminino, no entanto, em 09 de março de 2015, o Congresso Nacional aprovou a Lei 13.104/2015, passando alterar o artigo 121 do Código Penal Brasileiro, incluindo o inciso VI, onde o Feminícidio foi tipificado como conduta criminosa, tratando o homicídio, quando cometido contra a mulher, uma circunstância qualificadora do crime de homicídio.

Perante o dispositivo do Código Penal, o Feminicídio é o “assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino”, assim envolve: “violência doméstica e familiar ou menosprezo e a discriminação à condição de mulher”, sendo a pena prevista para o homicídio qualificado de 12 a 30 anos de reclusão. (BRASIL, CP, 2020).

Incluindo o Feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio, o crime foi adicionado ao rol dos crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), como o estupro, o genocídio e o latrocínio, dentre outros.

Fonseca et al. (2018, p. 58), aponta sobre a Lei nº13. 104/15:

A lei 13.104/15, que introduziu o feminicídio como uma das qualificadoras do crime de homicídio, alterou o Código Penal brasileiro, punindo de forma mais rigorosa os agressores que cometerem o homicídio em função da condição do sexo, alterando também o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848/1940 (Código Penal), para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072/1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Desta forma, há mais uma modalidade de homicídio qualificado: o feminicídio, quando o crime for praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

Ainda diante deste exposto, Galvão (2017, p. 9) expõe da seguinte forma:

O assassinato de mulheres em contextos marcados pela desigualdade de gênero recebeu uma designação própria: feminicídio. No Brasil, é também um crime hediondo desde 2015. Nomear e definir o problema é um passo importante, mas para coibir os assassinatos femininos é fundamental conhecer suas características e, assim, implementar ações efetivas de prevenção.

O Feminícidio representa a última etapa de um continuar de violência que leva à morte.

O Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a Violência contra a Mulher (CPMI) do Congresso Nacional, faz a seguinte consideração:

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O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante. (BRASIL, 2013, p. 1003).

O dispositivo do Código Penal, que tornou o Feminicídio uma qualificadora do crime de homicídio, teve como objetivo punir com mais rigor os agressores que cometem o crime em função da condição do sexo feminino.

Em vista disso, para configurar o Feminicídio, não basta que a vítima seja mulher, tem que ocorrer a morte por razões de condição de sexo feminino, e foram elencadas no § 2º-A do artigo 121 do Código Penal, por sua vez, como sendo a violência doméstica e familiar contra a mulher, menosprezo à condição de mulher e discriminação à condição de mulher. Feminicídio

[...]

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

§ 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Aumento de pena [...] § 7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (BRASIL, CP, 2020).

A violência doméstica e familiar está prevista no artigo 5º da Lei Maria da Penha, que assim o define “para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.”. (BRASIL, LMP, 2020).

Assim, a violência no âmbito doméstico envolve uma relação familiar, possuindo o elemento necessário para o Feminicídio, a existência de violência para com a mulher.

Já a morte em razão de menosprezo ou a discriminação à condição de mulher, envolve, por parte do agente, um desdém e desprezo à condição de ser mulher, ocorrendo o crime por ter pouca estima pelo feminino.

Segundo Barros (2015, p. 1):

O feminicídio pode ser definido como uma qualificadora do crime de homicídio motivada pelo ódio contra as mulheres, caracterizado por circunstâncias específicas em que o pertencimento da mulher ao sexo feminino é central na prática do delito. Entre essas circunstâncias estão incluídos: os assassinatos em contexto de violência doméstica/familiar, e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Os crimes que caracterizam a qualificadora do feminicídio reportam, no campo simbólico, à destruição da identidade da vítima e de sua condição de mulher.

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Ainda o advogado criminalista Bittencour (2017, p. 1) completa:

[...] o próprio móvel do crime é o menosprezo ou a discriminação à condição de mulher, mas é, igualmente, a vulnerabilidade da mulher tida, física e psicologicamente, como mais frágil, que encoraja a prática da violência por homens covardes, na presumível certeza de sua dificuldade em oferecer resistência ao agressor machista.

Além disso, a lei identifica três tipos de agravantes; quando o agente praticar o crime, durante a gestação ou até três meses após o parto da vítima; contra menores de 14 anos ou maiores de 60 anos, deficientes ou na presença de filhos ou pai e mãe da vítima.

Vale ressaltar que, o país mantém um cenário que mais preocupa: o do Feminicídio cometido por parceiro íntimo, no ambiente doméstica e familiar, e que geralmente é precedido por outras formas de violência.

Infelizmente, em grande parte esse crime é cometido pelo atual ou ex-companheiro da vítima, que geralmente pode apresentar um histórico de violência contra a própria vítima, e também um padrão de comportamento com sua parceira e com outras mulheres. Assim, define Canal (2019, p. 14) que as “mulheres morrem mais “nas mãos” de seus parceiros e ex-parceiros íntimos, ou seja, por quem mais se espera, convencionalmente, amor, companheirismo e respeito e também, dentro de suas próprias casas, tornando possível concluir que o lar é o local mais perigoso para as mulheres.”.

Feminicídio na grande maioria, sendo tanto o consumado ou tentado, são praticados por companheiros das vítimas no âmbito doméstico, e estes casos ocorrem após o ciclo de violência doméstica, que se inicia com a agressão verbal, posteriormente com agressão física, com o desfecho ceifando a vida da vítima.

Conforme a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RÉU PRONUNCIADO POR HOMICÍDIO COM MOTIVO TORPE. MORTE DE MULHER PELO MARIDO EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. PRETENSÃO ACUSATÓRIA DE INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO. PROCEDÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. 1. Réu pronunciado por infringir o artigo 121 , § 2º, inciso I, do Código Penal, depois de matar a companheira a facadas motivado pelo sentimento egoístico de posse. 2. Os protagonistas da tragédia familiar conviveram sob o mesmo teto, em união estável, mas o varão nutria sentimento egoístico de posse e, impelido por essa torpe motivação, não queria que ela trabalhasse num local frequentado por homens. A inclusão da qualificadora agora prevista no artigo 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, não poderá servir apenas como substitutivo das qualificadoras de motivo torpe ou fútil, que são de natureza subjetiva, sob pena de menosprezar o esforço do legislador. A Lei 13.104 / 2015 veio a lume na esteira da doutrina inspiradora da Lei Maria da Penha, buscando conferir maior proteção à mulher brasileira, vítima de condições culturais atávicas que lhe impuseram a subserviência ao homem. Resgatar a dignidade perdida ao longo da história da dominação masculina foi a ratio essendi da nova lei, e o seu sentido teleológico estaria perdido se fosse simplesmente substituída a torpeza pelo feminicídio. Ambas as qualificadoras podem coexistir perfeitamente,

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porque é diversa a natureza de cada uma: a torpeza continua ligada umbilicalmente à motivação da ação homicida, e o feminicídio ocorrerá toda vez que, objetivamente, haja uma agressão à mulher proveniente de convivência doméstica familiar. 3 Recurso provido. (DISTRITO FEDERAL, TJDF, 2015.)

O crime de homicídio qualificado pelo Feminícidio no Brasil é praticado geralmente por alguém que manteve algum laço afetivo com vítima, ao contrário de outros países da América Latina, em que a violência é praticada frequentemente por desconhecidos e com abuso sexual.

3.1 ORIGEM E CONCEITO DO TERMO FEMINICÍDIO

O conceito inicial surgiu em 1976, quando Diana Russel utilizou a palavra

“femicide”, originalmente formulada em inglês, para determinar o assassinato de mulheres

pelo simples fato de serem mulheres, durante um depoimento perante o Tribunal Internacional de Crimes Contra as Mulheres, realizado em Bruxelas.

A formulação do conceito de “femicídio” (femicide, em inglês) é atribuída a Diana Russel, socióloga e feminista anglo-saxã, que o emprego pela primeira vez para definir o “assassinato de mulheres nas mãos de homens por serem mulheres” (PONCE, 2011, p.108). Nos anos seguintes, Russel e outras autoras teriam aprimorado o conceito que se tornaria paradigmático para as discussões em torno das mortes de mulheres, ressaltando os aspectos de ódio e desprezo que se caracterizam, através da expressão “assassinato misógino de mulheres” (PONCE, 2011, p. 108). Com esse novo conceito, Russel contestou a neutralidade presente na expressão “homicídio” que contribuiria para manter visível a realidade experimentada por mulheres que em todo o mundo são assassinadas por homens pelo fato de serem mulheres. (ONU MULHERES, 2016, p. 19).

Na ocasião, não foi dado um conceito de fato sobre o tema, isto veio ocorrer, posteriormente, no ano de 1990, juntamente com Jane Caputi, quando definiram femicide, como sendo, o assassinato de mulheres realizado por homens motivado por ódio ou um sentido de propriedade sobre as mulheres.

O femicide para Caputi e Russel apresenta a seguinte forma:

Assim como o estupro, muitos assassinatos de mulheres por maridos, amantes, pais, conhecidos e estranhos, não são produtos de algum desvio inexplicável, eles são feminicídios (femicides), a forma mais extrema do terrorismo sexista, motivado pelo ódio, desprezo, prazer, ou um senso de propriedade sobre a mulher. Feminicídio inclui mortes por mutilação, estupro, espancamentos que terminam em morte, imolação como no caso das mulheres consideradas bruxas na Europa ou de viúvas na Ásia, crimes de honra [...] nomeando-os como feminicídio remove-se o véu não engendrado de termos como homicídio e assassinato. (ROMIO 2019, apud caputi; russell, 1992, p. 15).

No ano de 1992, Diana Russell e Jill Radford lançaram o livro “Femicide: the politics of woman killing”, produzido com ajuda de pesquisadoras da área dos direitos

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humanos e ativistas, e incluíram no livro discussões como o racismo e violência sexual, pois era um fenômeno de ocorrências nos Estados Unidos e Índia.

Diante disso, a obra escrita pelas autoras “Femicídio: a política de matar mulheres” inspirou a antropóloga da Universidade Nacional Autónoma do México, Marcela Lagarde y de Los Ríos, a usar pela primeira vez na América Latina o termo “femicide”, mas houve a tradução para o idioma espanhol, passou para o termo “femicídio” ou “feminicídio.”. (ROMIO, 2019, p. 5).

Este termo foi utilizado por Lagarde para retratar os assassinatos de mulheres, na cidade de Ciudad Juárez, em que a vítima tinha o corpo mutilado, sofria com a violência sexual e morria por asfixia, logo em seguida, o corpo era depositado em espaços públicos.

Assim, a pesquisadora eleita deputada federal do México no ano de 2003, instituiu a Comissão Especial do Feminícidio para investigar os crimes contra as mulheres na Ciudad Juárez. Com isso, o termo feminicidio tornou-se conhecido em todo o país, pois Lagarde não tratou como homicídios simples os crimes cometidos contra as mulheres.

Conforme Brandalise (2018, p. 1) faz a seguinte observação:

antropóloga e ex-deputada mexicana Marcela Lagarde a criar uma mobilização contra assassinatos de mulheres no México. Mas Marcela modificou o termo: disse que ao traduzir para o espanhol, a palavra perdia a força e propôs o uso de feminicídio que, segundo ela, o "conjunto de delitos de lesa humanidade que contém os crimes e os desaparecimentos de mulheres". Ela também pontuava a negligência do Estado em permitir que esses crimes acontecessem. O Brasil seguiu Lagarde e adotou essa versão do termo.

Constatou-se, que o crime tinha como característica principal a violência de gênero, assim, Lagarde no ano de 2007, propôs o projeto da Lei de Feminícidio no país.

Com isto, outros países latinos vieram a tipificar o Feminicídio. Atualmente incluem-se os países como a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela, sendo o Brasil o último a sancionar a lei do Feminicidio. Sendo, a legislação mexicana a mais severa, com condenação de 40 a 60 anos e a colombiana de 33 a 50 anos.

3.2 MARCOS NORMATIVOS

Os movimentos femininos tinham como objetivo alcançar a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Assim, se posicionaram contra as desigualdades e injustiças que as mulheres sofreram nas últimas décadas, de tal modo, a criarem grupos para reivindicar direitos coletivos e individuais para as mulheres.

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A partir desses grupos de mulheres houve o enfrentamento da violência como emblema, buscando o igualitarismo de direitos e deveres, como foco principal aos direitos civis e políticos das mulheres, pois supunha que, as diferenças entres homens e mulheres, decorreria de resultados de processos sociais desiguais.

Assim, os objetivos dos movimentos feministas foram para diminuir as opressões sociais que atingiam as mulheres. Logo, as ações para obter a igualdade devem ser distintas e desiguais, pois, mesmo considerando que as distinções entre homens e mulheres sejam estruturais, no entanto, há que se considerar a importância dessas ações, que serviram para denunciar e evidenciar mais ainda a dominação masculina.

Conforme Rodrigues (2016 apud VÍLCHEZ, 2013, p. 9)

Em resposta à situação de violência generalizada e levando-se em conta as demandas das organizações de mulheres de diversos locais, houve a promulgação de uma série de instrumentos legais de caráter internacional e nacional, a fim de que a sociedade e os Estados assumam seu dever ético, político e jurídico de prevenir e erradicar qualquer forma de ameaça e afetação dos direitos humanos das mulheres.

Sendo assim, é possível elencar a partir de uma análise histórica quais foram os principais documentos e marcos legais, que fundamentaram e serviram de orientação para que as mulheres buscassem a equidade.

Dessa forma, os instrumentos internacionais em matéria dos direitos humanos, tornaram-se relevante para combater a violência de gênero, reconhecendo à desigualdade e discriminação para com as mulheres em todas as culturas, assegurando assim, a igualdade através de medidas a serem adotadas pelos países. Com isso, para efetivar as normas constituídas pelas convenções internacionais de caráter vinculativo ao país, o Estado adota as medidas legislativas, se comprometendo junto à comunidade internacional, a combater a violência e garantir os direitos das mulheres.

3.2.1 Marcos normativos no mundo

As reivindicações promovidas por mulheres foram constantes na história da humanidade. Por volta do século XVIII surgem os primeiros registros dessas reivindicações feitas por mulheres, as quais se teve uma defesa maior aos seus direitos, exigindo a igualdade.

Assim, o levantamento histórico realizado a acerca dos marcos legais internacionais, começa especificamente no ano de 1791, com uma mulher chamada Marie Gouze, mas ficou conhecida como Olympe de Gouges, mulher quem escreveu a “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã.”.

Referências

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