QUÍMICA SUSTENTÁVEL
Criação, manufatura e uso de produtos e processos químicos eficientes e efetivos, que sejam mais ambientalmente benignos.
Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento – OECD (1998) www.oecd.org/
Química Limpa Prevenção da
poluição
Produção limpa
Química ecoeficiente
POLUENTES: NOVA ABORDAGEM
Disperso Poluente Confinado Remediação Ainda inexistente Ação Prevenção Química verdeQUÍMICA VERDE OU GREEN CHEMISTRY
Pode ser definida como a utilização de técnicas químicas e metodologias
que reduzem ou eliminam o uso solventes, reagentes ou a geração de
produtos e sub-produtos que são nocivos à saúde humana ou ao
ambiente.
EVOLUÇÃO DA QUÍMICA VERDE
1991 – a agência ambiental norte americana EPA (Environmental Protection
Agency), lançou seu programa “Rotas sintéticas alternativas para prevenção da poluição”, caracterizando o nascimento da Química Verde.
1993 – na Itália, foi estabelecido o Consórcio Universitário Química para o
Ambiente (INCA), com o intuito de reunir grupos de pesquisa em reações, produtos e processos mais limpos. Anualmente o INCA promove sua Escola Internacional de Verão em Química Verde que tem contado com a participação de jovens químicos de 20 países diferentes.
1995 – o governo dos EUA instituiu o programa de premiação “The Presidential Green Chemistry Challenge” (PGCC) com o objetivo de premiar inovações tecnológicas que possam vir a ser implementadas na indústria para a redução da produção de resíduos na fonte. Anualmente são premiados trabalhos em cinco categorias: acadêmico, pequenos negócios, rotas sintéticas alternativas, condições alternativas de reação e desenho de produtos mais seguros.
1997 – foi criado o “Green Chemistry Institute” (GCI), que desde 2001 atua em parceria com a American Chemistry Society (ACS).
1997 – em setembro a IUPAC (Internation Union for Pure and Applied Chemistry)
organizou sua primeira conferência internacional em “Green Chemistry”, em Veneza.
2001 – em julho a IUPAC aprovou a criação de um sub-comitê interdivisional de
Química Verde e em setembro do mesmo ano foi realizado Workshop sobre Educação em Green Chemistry.
2001 – ocorreu a Conferência CHEMRAWN XIV (The Chemical Research Applied
to World Needs), na Universidade do Colorado, contando com mais de 140 trabalhos relacionados ao tema.
A literatura relativa à Química Verde vem se expandindo através de livros, periódicos e publicações diretas na Internet.
Os produtos ou processos da Química Verde podem ser divididos em três categorias:
•O uso de fontes renováveis ou recicladas de matéria-prima;
•Aumento da eficiência de energia, ou a utilização de menos energia para produzir a mesma ou maior quantidade do produto;
•Evitar o uso de substâncias persistentes, biocumulativas e tóxicas.
Os primeiros trabalhos em Química Verde foram definindo alguns princípios básicos que precisam ser perseguidos quando se pretende implementar esta ação em uma indústria ou instituição de ensino e/ou pesquisa na área de Química.
QUÍMICA VERDE NO BRASIL
Pouco desenvolvida
Universidade
Educação Pesquisa Lattes = ~137 doutoresPerfil industrial
Incentivo ($)
FNMA : R$ 20 milhões/anoLegislação
ambiental
1981: Política Nacional Meio Ambiente 1989: IBAMA e FNMA
1998: Crimes Ambientais R$ 1,2 bilhões em multas não-pagas
COMO DESENVOLVER A QUÍMICA VERDE?
Química verde
Educação
Pesquisa
Química verde
Incentivo
(Academia)
(Governo)
Tecnologia
(Indústria)
EDUCAÇÃO
MUDANÇA NO MODO DE PENSAR
Química Verde
=
Novo modo de pensar
“Filosofia”
Desafios:
•Divulgação / Ensino
•Aceitação
DIVULGAÇÃO E ENSINO
•escolas de verão, mini cursos, etc;
•cursos regulares na graduação e pós-graduação;
•permeação nas demais disciplinas (lab);
ACEITAÇÃO E APLICAÇÃO
•atividades de pesquisa;
•empresas (via aluno egresso);
•pesquisa específica na área.
O QUÍMICO E O MEIO AMBIENTE
Visão tradicional (comando / controle) Química Analítica Físico-Química Noções C. Ambientais Visão verde (prevenção poluição) Química Orgânica Química Orgânica Química Inorgânica Ciência dos MateriaisCiências Ambientais Tecnologia
NO DEPARTAMENTO DE QUÍMICA - UFJF
Disciplinas regulares na graduação (química do meio
ambiente e química ambiental)
Pesquisa na área
Gerenciamento de resíduos
Coleta seletiva
ACADEMIA
Diversos grupos em universidades e centros de pesquisa, atuando em:
Catálise e Biocatálise
Solventes Alternativos
Materiais Renováveis
Processos
O que é a Química Verde?
Como empregá-la?
Como empregá-la?
QUÍMICA VERDE
Redução Materiais Dejetos Energia Toxicidade Fontes não renováveis RiscoPROCESSOS QUÍMICOS
Processo químico Reagentes Materiais de partida Produto Produtos Processo químico Solventes Energia Produtos secundários Produtos concomitantes12 PRINCÍPIOS DA QUÍMICA VERDE
1 – PREVENÇÃO: Evitar a produção do resíduo é melhor do que tratá-lo ou limpá-lo
após sua geração.
♦É sem dúvida a maneira mais eficiente de minimizar o impacto ambiental de uma atividade industrial.
♦Além disso, gasta-se muito dinheiro no tratamento de resíduos sólidos e líquidos, especialmente devido à legislação rigorosa que exige baixos níveis de emissão.
2 – ECONOMIA DE ÁTOMOS: Deve-se procurar desenhar metodologias sintéticas que 2 – ECONOMIA DE ÁTOMOS: Deve-se procurar desenhar metodologias sintéticas que
possam maximizar a incorporação de todos os materiais de partida no produto final. ♦Também chamada de eficiência atômica é calculada dividindo-se o peso molecular do produto desejado pelo obtido da soma de todas as substâncias na(s) equação(ões) estequiométrica(s) envolvida(s) no processo.
♦Constitui um dos pilares de sustentação dos fundamentos da Química Verde e foi introduzido por Trost em 1991, ele foi um dos premiados pelo governo americano (PGCC) , em 1998, categoria acadêmico.
Reação de substituição nucleofílica para preparação do N-bromobutano a partir do n-butanol.
EXEMPLO
Um procedimento típico para esta preparação envolve a dissolução de 30 g de KBr (2) em 50 mL de água, seguida pela adição de 25 mL (46 g) de H2SO4 concentrado. Após filtração para remoção do KHSO4 (que é descartado), o filtrado é transferido para um recipiente onde se adicionam 14 mL de n-butanol (1) e 15 mL (27,6 g) de H2SO4 concentrado (3). Se considerarmos que foram isolados 25,86 g de n-bromobutano podemos aferir que o rendimento em porcentagem foi 81%, um bom rendimento em síntese orgânica.
Entretanto, se olharmos a reação acima, vemos que um total de 120,88 g de reagentes (17,28 g de n-butanol + 30 g de KBr + 73,6 g de H2SO4) foram utilizados e que, na melhor das hipóteses (rendimento de 100%), a reação poderia fornecer apenas 31,93 g do produto desejado (n-bromobutano).
Rend.Porcentagem = (rendimento da reação / rendimento teórico) X 100 = (25,86 g / 31,93 g) X 100 = 81%
%EA = porcentagem de eficiência atômica
%EA teo = (rendimento da teórico / massa de todos os reagentes) X 100 = (31,93 g / 120,88 g) = 26,4%
%EA exp = (rendimento da reação / massa de todos os reagentes) X 100 = (25,86 g / 120,88 g) = 21,4%
Quim. Nova, Vol. 26, No. 1, 123-129, 2003
Isto significa dizer que, do ponto de vista de aproveitamento de reagentes, esta reação é muito ruim, pois a maior parte dos átomos empregados na reação não é incorporada no produto final.
Fator E - é um outro conceito introduzido para descrever a eficiência de uma
reação de maneira semelhante à economia de átomos. Ele é mais utilizado mais em indústrias e considera a quantidade de resíduo gerado para cada quilograma de produto obtido. Por resíduo, aqui, considera-se tudo o que é produzido além do produto desejado ao longo do processo de fabricação.
3 – SÍNTESES COM COMPOSTOS DE MENOR TOXICIDADE: Sempre que
praticável, a síntese de um produto químico deve utilizar e gerar substâncias que possuam pouca ou nenhuma toxicidade à saúde humana e ao ambiente.
4 – DESEMVOLVIMENTO DE COMPOSTOS SEGUROS: Os produtos químicos
devem ser desenhados de tal modo que realizem a função desejada e ao mesmo tempo não sejam tóxicos.
♦Dois exemplos ilustrativos, agraciados com o prêmio “PGCC”, envolvem o ♦Dois exemplos ilustrativos, agraciados com o prêmio “PGCC”, envolvem o desenvolvimento de produtos menos tóxicos mas, possuem a mesma eficácia dos seus análogos no mercado.
♦Inseticida CONFIRMTM e o anti-limo SEA-NINE®, ambos produzidos pela multinacional Rohm and Haas.
CONFIRM™ família das diacil-hidrazinas, controle das lagartas lepdópteras que
afetam diversas lavouras no mundo.
SEA-NINE® um antilimo para emprego na proteção de cascos de navio, que
substitui o óxido de tributilestanho, considerado mutagênico e persistente (meia vida superior a 6 meses na água do mar)
5 – DIMINUIÇÃO DE SOLVENTES E AUXILIARES: O uso de substâncias
auxiliares (solventes, agentes de separação, secantes, etc.) precisa sempre que possível, tornar-se desnecessário e, quando utilizadas, estas substâncias devem ser inócuas.
♦Embora a reação de preparação do n-bromobutano utiliza água como solvente, a extração do produto após destilação do bruto contido no balão reacional irá requerer 15 mL de HCl concentrado, 20 mL de solução de Na2CO3 a 10%, 50 mL requerer 15 mL de HCl concentrado, 20 mL de solução de Na2CO3 a 10%, 50 mL de água e um agente secante anidro (CaCl2, por exemplo).
♦Grande esforço tem sido feito no sentido de substituir solventes orgânicos convencionais por solventes verdes, como fluido supercrítico, líquidos iônicos à temperatura ambiente, água próxima do estado super crítico possui características semelhantes à da acetona, em termos da capacidade de dissolução e solvatação.
6 – BUSCA PELA EFICIÊNCIA DE ENERGIA: A utilização de energia pelos
processos químicos precisa ser reconhecida pelos seus impactos ambientais e econômicos e deve ser minimizada. Se possível, os processos químicos devem ser conduzidos à temperatura e pressão ambientes.
7 – USO DE SUBSTÂNCIAS RECICLADAS: Sempre que técnica é
economicamente viável, a utilização de matérias-primas renováveis deve ser escolhida em detrimento de fontes não renováveis.
escolhida em detrimento de fontes não renováveis.
♦Materiais derivados de plantas e outras fontes biológicas renováveis devem ser utilizados sempre que possível.
♦O recente avanço pelo interesse no biodiesel pode ser considerado como um ganho ao ambiente, pois muitos geradores de energia hoje movidos a óleo derivado de petróleo poderão ser substituídos por este combustível verde.
8 – REDUÇÃO DE DERIVATIVOS: A derivatização desnecessária (uso de grupos
bloqueadores, proteção/desproteção, modificação temporária por métodos físicos e químicos) deve ser minimizada ou, se possível, evitada, porque estas etapas requerem reagentes adicionais e podem gerar resíduos.
♦Idealmente uma síntese deve levar à molécula desejada a partir de materiais de partida de baixo custo, facilmente obtidos, de fonte renovável, em uma única etapa, simples e ambientalmente aceitável, que se processe rapidamente e em rendimento quantitativo. Além disso o produto precisa ser separado da mistura da reação com 100% de pureza.
9 – CATÁLISE: Reagentes catalíticos (tão seletivos quanto possível) são melhores que
reagentes estequiométricos.
♦Na literatura, há muitos exemplos descrevendo as vantagens de substituir as metodologias clássicas de obtenção de fármacos, ou outras matérias-primas para indústria química, por técnicas catalíticas.
♦Em geral reações que utilizam catalisadores heterogêneos são mais limpas, mais seletivas e, como há possibilidade de reciclar ou reutilizar o catalisador por várias vezes, há, invariavelmente, vantagens econômicas.
EXEMPLO
• O ácido adípico é um produto importante, utilizado na fabricação do nylon-6,6, presente em fibras de carpetes, tapeçaria, reforço de pneus, partes de automóveis, etc. a produção mundial gira em torno de 2,2 milhões de toneladas e utiliza em geral, HNO3 como agente oxidante em uma das suas etapas. Estes processos industriais são responsáveis pelo lançamento na atmosfera de 5 a 8% de todo N2O antropogênico.
•Thomas e Noyori – prêmio Nobel 2001 – eliminaram a utilização do HNO3,
utilizaram a catálise heterogênea e ar como agente oxidante, além de empregarem também condições de catálise de transferência de fase e água oxigenada aquosa como agente oxidante. Em ambos os casos, a necessidade de solventes e produção de resíduos tóxicos foi eliminada.
• O único senão para estas sínteses propostas é o fato dos compostos de partida não serem obtidos à partir de fontes renováveis.
HNO3 corrosivo Altas temperaturas Várias etapas Crômio Emissão de poluentes Temperatura moderada Única etapa
Pequena quantidade de catalisador Oxidante menos agressivo
10 – DESENVOLVIMENTO DE COMPOSTOS PARA DEGRADAÇÃO: Os produtos
químicos precisam ser desenhados de tal modo que, ao final de sua função, se fragmentem em produtos de degradação inócuos e não persistam no ambiente.
11 – ANÁLISE EM TEMPO REAL PARA A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO: Será
necessário o desenvolvimento futuro de metodologias analíticas que viabilizem o monitoramento e controle dentro do processo, em tempo real, antes da formação de substâncias nocivas.
de substâncias nocivas.
12 – QUÍMICA SEGURA PARA PREVENÇÃO DE ACIDENTES: As substâncias,
bem como a maneira como pela qual uma substância é utilizada em um processo químico, devem ser escolhidas a fim de minimizar o potencial para acidentes químicos, incluindo vazamentos, explosões e incêndios.
ONDE APRENDER E/OU TRABALHAR
COM QUÍMICA VERDE
•Área de pesquisa que te agradar
•Ensino
•Ensino
-No Brasil o investimento no desenvolvimento e implantação de tecnologias utilizando Química Verde ainda é insipiente.
-Alguma Instituições de ensino e pesquisa já têm programas bem estruturados para gerenciamento de seus resíduos.
-É preciso que se discuta criação de linhas de investimento para
CONCLUSÕES
-É preciso que se discuta criação de linhas de investimento para desenvolvimento de tecnologias limpas e implementação de redução de fontes tanto no segmento industrial como acadêmico.
-Um profissional da química formado dentro dos princípios da Química Verde estará muito mais preparado para o desafio que a indústria e o meio acadêmico passaram a impor nos últimos anos: a busca pela Química Auto-sustentável.
ARTIGOS RECOMENDADOS
“GREEN CHEMISTRY” – OS 12 PRINCÍPIOS DA QUÍMICA VERDE E SUA INSERÇÃO NAS ATIVIDADES DE ENSINO E PESQUISA - Quim. Nova, Vol. 26,
No. 1, 123-129, 2003
QUÍMICA VERDE, OS DESAFIOS DA QUÍMICA DO NOVO MILÊNIO - Quim. Nova, Vol. 26, No. 5, 738-744, 2003
Nova, Vol. 26, No. 5, 738-744, 2003
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E QUÍMICA VERDE - Quim. Nova, Vol.