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Telejornalismo móvel no novo Jornal das Dez da Globonews: o uso do celular e a ressignificação da cobertura política

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 1

Telejornalismo móvel no novo Jornal das Dez da

Globonews: o uso do celular e a ressignificação da

cobertura política

Geylla Priscila de Lira Santos1

Ana Carolina Vanderlei Cavalcanti2

Centro Universitário UniFBV | Wyden.

Resumo: O telejornalismo vive um momento de atualizações na construção da notícia. Uma delas é provocada pelo uso profissional da câmera do celular para o registro dos fatos. O novo formato do Jornal das Dez (J10), da emissora de jornalismo 24h GloboNews, tem se apropriado dessa estratégia narrativa no fazer telejornalístico. Neste artigo, são apresentados o percurso analítico e os achados da pesquisa de monografia que investigou a apropriação do uso do celular enquanto dispositivo de gravação e a ressignificação da cobertura política do telejornal. Este estudo de caso teve referencial teórico construído segundo os conceitos de telejornalismo, jornalismo móvel, convergência e mobilidade.

Palavras-chave: telejornalismo; Jornal das Dez; política; convergência; mobilidade.

1. Introdução

No Brasil, o telejornalismo tem se reinventado desde o dia de sua estreia. Durante os primeiros anos, o jornalismo televisivo foi muito influenciado pelos métodos radiofônicos. Devido aos avanços tecnológicos, o telejornalismo contemporâneo adquiriu uma gramática própria, com uma estética imagética diferenciada e adaptações

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Graduanda em Jornalismo. Centro Universitário UniFBV | Wyden. E-mail: geyllasantos@gmail.com. 2

Orientadora do trabalho. Professora do curso de Jornalismo do Centro Universitário UniFBV | Wyden. E-mail: ana_carolinavc@yahoo.com.br.

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 2 da linguagem (BECKER, 2016). O registro de notícias audiovisuais realizadas a partir da câmera do celular, nomeado telejornalismo móvel neste artigo, vem ressignificando as coberturas jornalísticas como consequência do processo de convergência nas redações e da inserção da sociedade no ecossistema móvel, caracterizado pela produção e consumo de notícias em condições de mobilidade (LEMOS, 2009; SILVA, 2013), geralmente, por meio do celular.

A GloboNews, primeira emissora de jornalismo ininterrupto do Brasil, utiliza-se do telejornalismo móvel desde 2012 em seu principal telejornal, o Jornal das Dez (J10), momento em que o repórter e comentarista político Gerson Camarotti se compromete a utilizar o espaço para explorar e apresentar os bastidores da política diretamente da capital federal, utilizando apenas a câmera do celular.

No dia 5 de março de 2018, um novo formato do J10 foi apresentado ao público. Durante a semana de estreia, foi percebido que além de Gerson Camarotti (que, após seis anos utilizando a técnica e o formato da narrativa, ganhou um quadro intitulado De

olho no poder), o repórter Nilson Klava e a correspondente internacional Raquel

Krähenbühl também fazem o registro da política, nacional e internacional, por meio de seus celulares.

Partindo do que foi observado no telejornal e levando em consideração o aparato tecnológico utilizado para a construção da notícia, o presente trabalho foi realizado com intuito de refletir sobre o novo significado atribuído às coberturas. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, o qual permite a compreensão e interpretação de um acontecimento recente a partir de dados qualitativos.

Este artigo é parte do resultado de uma pesquisa feita para um trabalho de conclusão de curso (TCC), que visava estudar como o registro da notícia, realizado com o celular, reconfigurava a cobertura política transmitida no Jornal das Dez, que vai ao ar de segunda à segunda, às 22h, com duração média de uma hora, sob o comando do jornalista Heraldo Pereira.

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2. Telejornalismo: convergência e mobilidade

O telejornalismo contemporâneo tem vivenciado um conjunto de transformações estruturais que ultrapassa as práticas jornalísticas (apuração, produção e distribuição de conteúdo) e a relação com o público. Com base nos estudos de Fernando Firmino da Silva (2013), entende-se que os efeitos da convergência (inovações e investimentos tecnológicos) no ambiente televisivo provocam novos comportamentos na reestruturação dos modelos de notícia e narrativa. No âmbito comunicacional, a lógica operacional, fator intermediário da produção de notícias, é reconfigurada pela convergência através de tecnologias digitais que favorecem a integração de ferramentas, linguagens, métodos de trabalhos e espaços (SALAVERRÍA et al., 2010).

Embora os impactos da convergência no telejornalismo estimulem o público receptor a migrar para outras mídias, Beatriz Becker (2016, p.31) defende que os telejornais, em seu papel singular, ainda são uma “poderosa e extraordinária fonte de informação”. Ao mesmo tempo em que as facilidades tecnológicas dos meios digitais provocam intensas reconfigurações no modelo tradicional de produção, circulação e consumo de notícias, elas também impulsionam a comunicação e potencializam as propriedades originais da televisão a partir do uso de diferentes códigos em um tratamento criativo da informação (FRANKLIN apud BECKER, 2016). Esse fator estimula novos processamentos, dinâmicas e manifestações de diferentes estratégias no jornalismo televisivo. Além disso, é notável que, mesmo se diferindo das outras mídias emergentes, este é o meio mais influenciado pelo uso de tecnologias digitais, inclusive de dispositivos móveis (BECKER, 2016).

A “cultura da mobilidade”, defendida por André Lemos (2009), que se estabelece na dinâmica do móvel e do imóvel, e a conjuntura de apropriação tecnológica móvel no fazer jornalístico que Silva (2016) diz fomentar um ecossistema móvel, regido por tecnologias móveis, aplicativos e redes sem fio, apresentam um sistema ligado à ubiquidade, que, quando exercitada por repórteres de rua, explora as dimensões de mobilidade física e adquire velocidade na distribuição do material. Segundo Lucia Santaella (2010 apud CAVALCANTI, 2014, p. 154), a ubiquidade relacionada/com propósito na comunicação móvel é:

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Quando a continuidade temporal do vínculo comunicacional é assimilada a uma plurilocalização instantânea. Isso só é possível porque a filiação à rede situa o usuário não mais em um espaço estritamente territorial, mas em um híbrido território/rede comunicacional, de forma muito justa André Lemos [...] chama territórios informacionais (SANTAELLA, 2010 apud CAVALCANTI, 2014, p. 154).

Ao longo da história da televisão, profissionais da área assumiram diversos procedimentos através das possibilidades permitidas pela tecnologia. Na era do digital, o telejornalismo passa a apropriar-se das tecnologias móveis para a produção de conteúdo audiovisual. O celular, aparelho de uso rotineiro – que permite a captura de fotos, vídeos, a edição, o envio do material à redação e entradas ao vivo com acesso à internet (SILVA, 2009) –, pode ser considerado a ferramenta mais importante de convergência midiática na atualidade (JENKINS, 2008), fazendo parte de um “crescente movimento em torno da adoção do jornalismo em mobilidade, no qual o repórter tem à disposição um ambiente móvel de produção com todo o suporte para a elaboração da notícia” (SILVA, 2008, p. 2-3, grifo do autor).

A agência Reuters é uma das pioneiras na produção audiovisual a partir da câmera do celular. Em meados de 2007, a empresa equipou seus jornalistas com um kit de jornalismo móvel (telefone, tripé e jogo de lentes). Segundo o chefe do departamento de celulares e novas mídias, Ilico Elia (apud QUINN, 2014), o projeto da Thomson Reuters deu início a uma nova forma de contar histórias. Dessa forma, em setembro de 2009, o Jornal da Record exibiu a primeira série de reportagem da televisão brasileira realizada com um celular3. Nomeada de “Cuidado, você está sendo filmado”, o repórter Vinícius Dôndola registrou imagens durante 40 dias com o auxílio de um aparelho Nokia N95 e de suportes improvisados.

Em 2011, o Jornal Nacional transmitiu imagens de celular capturadas pelo jornalista Ari Peixoto na cobertura da Primavera Árabe, no Egito. A substituição da câmera profissional pelo dispositivo móvel se deu pela perseguição dos ativistas

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Disponível em:

<http://www.viniciusdonola.com/reportagens.php#!http://www.youtube.com/watch?v=OlhgDWmIeCc?v ersion=3&hl=pt_BR||grid>. Acesso em 03 abr. 2018.

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Por permitir fluidez nos deslocamentos, os dispositivos móveis nas mãos de profissionais em exercício da construção da notícia podem ser comparados com a facilidade de movimentação dos fluidos, retratada por Zygmunt Bauman (2001), pela facilidade em contornar os obstáculos. De forma geral, há um consenso entre os pesquisadores de que a atividade móvel indica um profissional capaz de movimentar-se e executar suas atividades de qualquer lugar, em qualquer momento, a partir do uso de tecnologias móveis (VAINIO et al. apud SILVA, 2013).

3. Telejornalismo político em condições de mobilidade

A televisão é o principal meio de informação política no Brasil. Segundo dados disponibilizados pela Secretaria da Comunicação da Presidência da República (Secom) em sua última pesquisa de mídia, realizada em dezembro de 2016, 63% dos entrevistados afirmaram que a televisão é o principal meio de obter informações sobre o Brasil e o mundo. Para Alfredo Vizeu e João Carlos Correia (2008, p. 22), o brasileiro tem o meio televisivo como a representação de um lugar de referência, “que tem como uma das suas preocupações tornar comum e real algo que é incomum (não familiar), ou que nos dá um sentimento de não familiaridade”. Os noticiários televisivos fornecem informações e conhecimentos na representação dos fatos transformados em notícia, além de servirem como “atores sociais relevantes na organização do cotidiano social” (BECKER, 2016, p. 31).

Em um ano de eleições presidenciais e reviravoltas no contexto político do Brasil, é possível visualizar, todos os dias, novas investigações, desdobramentos de processos e longas sessões nos plenários. Grande parte do conteúdo informativo político

4

Disponível em: <https://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/o-reporter-ari-peixoto-relata-sua-experiencia-em-meio-aos-protestos-no-egito-2823464>. Acesso em: 17 mai. 2018

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Com a crescente popularização dos aparelhos móveis, presentes no dia a dia de milhões de brasileiros5, e a mobilidade permitida aos repórteres casada à agilidade na produção e disseminação da notícia, o uso da câmera de celular para o registro dos fatos tornou-se uma viável estratégia para a produção de notícias – não precisando estar inteiramente ligada ao registro de flagrantes ou ao espectador como coprodutor.

4. Ressignificação da notícia e atualização de valores notícia

Luiz Amaral (apud PENA, 2015) afirma que a matéria-prima do jornalismo é a notícia. Mas até que a notícia seja considerada notícia, valores estabelecidos por meio de códigos profissionais são levados em consideração. Sendo isso, portanto, o resultado da cultura profissional, dos processos de produção, dos códigos das redações e das práticas jornalísticas (VIZEU; CORREIA, 2008).

O autor e jornalista Nelson Traquina (2005) diz que os critérios de noticiabilidade não são constantes, pois sofrem alterações de tempos em tempos ou por conta da política editorial dos veículos comunicacionais. Critérios de valores notícia de seleção e valores notícia de construção (TRAQUINA, 2005) são utilizados para que o profissional compreenda a importância, contexto de produção e apresentação dos fatos que serão expostos ao público.

Conforme os estudos de Ivan Stauf (2014), o ecossistema midiático móvel no qual o Jornal das Dez está inserido apresenta novas características ao processo de seleção e construção das notícias, pois expõe uma narrativa diferenciada através de um mecanismo que geralmente não é utilizado para a finalidade noticiosa. Flora Leite (2017) defende que, para a televisão, a decisão do que pode ser notícia é vinculada a peculiaridades, como a importância de se ter recursos imagéticos. Diante dos expostos por Stauf e Leite, essa análise aponta para o telejornalismo móvel como um novo

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De acordo com uma pesquisa divulgada em 2018 pela FGV-SP, existem, no Brasil, 220 milhões de smartphones para 210 milhões de habitantes, sendo, portanto, uma marca de pouco mais de um celular inteligente para cada indivíduo.

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Compreender a possibilidade de um repórter que, da rua, registra um acontecimento importante e, de lá mesmo, por meio da internet, o encaminha para a redação, é constatar que dispositivos móveis e redes ubíquas também provocam a circulação das notícias. Quando os critérios de Traquina (2005) para a seleção da notícia são usados para esta análise, é possível compreender que essa aposta do telejornal faz parte de uma estratégia de tornar visível (notoriedade/disponibilidade) uma espécie de conteúdo que não é mostrado em nenhum outro jornal (novidade/concorrência), que são os bastidores da política brasileira (visualidade/proximidade).

O telejornalismo móvel na editoria de política do Jornal das Dez já apresentou diversas declarações de parlamentares em ambientes inusitados, que fogem do padrão do fazer telejornalístico, como elevadores e corredores da Câmara e do Senado, no Congresso Nacional. Além disso, a notícia apresentada ao público espectador possui características próprias, como: a falta de estabilidade nas imagens e balanço de cor; enquadramentos em primeiríssimo plano, quando o entrevistado é mostrado dos ombros para cima; barulho do som ambiente pela falta de microfone externo; e forte luz no entrevistado ocasionada pelo flash do aparelho (fig.01).

Figura 01: Na sequência, imagem com falta de balanço de cor; Uso do flash em entrevista no elevador.

A cobertura política tem passado por um processo de ressignificação. A cultura da convergência, fator que impulsiona a confluência de linguagens entre os meios e o ecossistema móvel, nos quais tanto a sociedade quanto os meios de comunicação estão inseridos, têm atualizado o modelo de estruturação das reportagens – na linguagem

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Sendo assim, o valor-notícia que gera conteúdo noticioso por meios móveis de tecnologia deixa de estar associado às técnicas de apuração e passa a estar diretamente ligado à relevância da informação e à significância dos fatos para a sociedade.

5. Análise: telejornalismo móvel no novo J10

Durante o estudo de caso da primeira semana do novo formato do telejornal (do dia 5 a 9 de março de 2018), o conteúdo político, nacional e internacional somou 50% das notícias apresentadas ao público. Desse percentual, seis notícias foram total ou parcialmente construídas com imagens da câmera do celular.

Foram percebidas duas formas de uso do telejornalismo móvel. A primeira e mais recorrente busca fazer o recorte dos bastidores da política através da permeabilidade proporcionada aos jornalistas dentro do Congresso Nacional, de plenários e gabinetes. Estes profissionais (Gerson Camarotti e Nilson Klava) se apropriam de recursos narrativos menos rígidos e mais fluidos para a transmissão dos fatos. Por não chamar tanta atenção, o celular garante mais espontaneidade ao entrevistado, “facilitando, inclusive, pegar situações e reações mais imprevisíveis e naturais” (KLAVA, 20186).

A segunda atribui um novo significado à cobertura política internacional da emissora. O celular substitui o equipamento profissional não apenas com gravações, mas com transmissões ao vivo via internet. A correspondente internacional Raquel Krähenbühl trabalha sozinha e precisa estar munida de equipamentos (fig. 02) que lhe permitam o exercício de três funções distintas dentro da televisão: produtor, repórter e cinegrafista (KRÄHENBÜHL, 2017, informação eletrônica7).

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A fala do repórter foi extraída de uma conversa com a autora via direct no Instagram, no dia 27 de abril de 2018.

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Figura 02: Raquel Krähenbühl utiliza o “kit vivo” (composto por celular, tripé e microfone) para a realização de reportagens e entradas ao vivo.

Durante a pesquisa, foi possível perceber que a linguagem televisiva tem se entrelaçado com linguagens e expressões de outras mídias – a exemplo, principalmente, da internet – ficando evidente no objeto de estudo. Entretanto, a força da internet e a presença dos celulares no cotidiano da população e do jornalista como produtor de notícias, são consideradas um coeficiente determinante para que esse efeito midiático se sobressaia (CABRAL, 2012).

A televisão enquanto linguagem audiovisual e, mais ainda, o telejornalismo, como um gênero da mídia que se serve dessa linguagem para contar histórias da realidade da vida cotidiana, se vale desses elementos (as várias mídias) e dessas significações desde seu nascimento (CABRAL, 2012, p. 112).

Beatriz Becker (2016, p. 17) enfatiza como os modelos de linguagem implantados na televisão tornaram-se uma “gramática própria”, existindo, cada vez mais, uma busca de “autorrenovação” de formatos e linguagens similares aos usados pela internet e de maneira que possam expandir os vínculos com o público espectador.

O Jornal das Dez passou a apostar em uma nova narrativa por meio do telejornalismo móvel através das reportagens de Gerson Camarotti, em 2012. Desde então, a mudança tem se mostrado perceptível pela forma que é apresentada. Repórteres e entrevistados, que estão diante da câmera do telefone celular, mudam a maneira de proferir o discurso. A familiaridade com a ferramenta permite uma fala mais despojada, pois se trata de um equipamento informal. Os entrevistados ficam mais à vontade e se expressam de maneira que certamente não fariam caso estivessem diante de uma câmera

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Além disso, a estrutura da notícia televisiva pode sofrer algumas alterações. Enquanto é esperada uma estrutura padrão de “off + passagem + sonora” durante as notícias apresentadas, a prática do telejornalismo móvel provoca mudanças a ponto de, talvez, nem existir a passagem; como nas atuais notícias construídas pelo repórter Gerson Camarotti, no noticiário do J10.

Com a correspondente internacional Raquel Krähenbühl, a estrutura da notícia ganha outra roupagem. Pela responsabilidade de estar na frente e atrás das câmeras – lembrando o conceito de jornalista “multi” estabelecido no início da GloboNews (PATERNOSTRO, 2006) –, torna-se perceptível que em alguns momentos de reportagem ao vivo, dentro do noticiário, a mesma está movimentando o tripé que estabiliza a câmera do celular para gerar novas imagens.

O telejornalismo móvel é, geralmente, conduzido pelo repórter. Esse modelo de notícia tem atualizado as expectativas de valor-notícia por se tratar de um modelo de aparência mais informal e descontraído, que se preocupa muito mais com a transmissão de informações do que com a qualidade estética imposta pelos padrões de referência da televisão. O casamento de boas imagens feitas com a câmera do celular e uma linguagem mais despojada, tanto pelo repórter como pelo entrevistado, rompe muitos dos tradicionalismos da TV sem deixar que a notícia de seja essencialmente telejornalística.

Antes da implementação do modelo móvel no Jornal das Dez, eram transmitidas reportagens sem dinamicidade (não é porque política é considerado um assunto sério que não pode ser dinâmico), com uma linguagem um tanto quanto rebuscada e entendida por poucos, além de sempre apresentar os mesmos locais do Congresso ou, no caso da correspondente internacional, na frente da Casa Branca. Essa narrativa, misturada aos conceitos de storytelling, se torna possível graças à mobilidade que permite a presença do repórter em ambientes diferenciados. As informações e o modelo

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6. Considerações finais

Com o desenvolvimento da pesquisa, tornou-se claro como o telejornalismo tem passado por constantes transformações em um pequeno intervalo de tempo, como reflexo da convergência tecnológica. Além disso, procurou-se evidenciar que o telejornalismo móvel é uma forma de intensificar as particularidades primordiais da televisão e elevar o potencial uso dos dispositivos móveis no campo televisivo.

Para a produção noticiosa da editoria de política com a câmera do celular, tem sido necessário quebrar paradigmas e padrões que a academia ou a vivência no campo ensinou. O telejornalismo móvel surge para transformar muito mais do que rotinas, ferramentas de trabalho, espaço, linguagem e a relação entre emissor e receptor de conteúdo. O modelo reinventa, principalmente, o desempenho profissional do repórter responsável por transmitir a notícia com narrativa mais flexível e menos informal em favor da disseminação da notícia.

O telejornalismo móvel amplia o alcance dos “óculos” que os jornalistas usam para verem e construírem o mundo (TRAQUINA, 2005). Como defende Stauf (2014), a evolução tecnológica provoca naturais transformações culturais para a criação de novas lentes usadas pelos jornalistas.

No cenário político brasileiro atual, no qual o objeto de estudo da presente pesquisa está inserido, os profissionais do J10 da GloboNews têm investido em reportagens, completa ou parcialmente realizadas com o celular, devido ao acesso a determinados espaços que costumam restringir a entrada da equipe tradicional – composta por, no mínimo, três pessoas –, proporcionando conteúdos antes não vistos, como os bastidores do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Essa acessibilidade adquirida pelo repórter e a relação de proximidade que os entrevistados têm para com a ferramenta de gravação permitem que eles se sintam mais à vontade e deem declarações que possivelmente não seriam feitas caso estivessem diante de uma câmera profissional. Além disso, a inclusão de imagens dessa natureza nas reportagens atualiza as narrativas

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Analisar o uso da tecnologia móvel em dois contextos diferentes da cobertura política, nacional e internacional, proporcionou uma visão mais ampla de como ela vem sendo explorada pela televisão. Através dessa pesquisa, comparando as duas formas de uso do celular no telejornal, foi possível interpretar que a ferramenta tende a estar mais presente no registro da notícia televisiva mesmo que parcialmente, através de imagens de apoio registradas por repórteres no centro da notícia, como tem feito a Rede Globo nos seus telejornais.

Este trabalho considera o telejornalismo móvel um meio de produção de notícias que permite ir além da estrutura tradicional estabelecida pelo meio telejornalístico, mas que não deve substituí-la, porque se trata de uma ferramenta alternativa de narrar os fatos. As atualizações nas narrativas do Jornal das Dez incorporam o que existe de mais forte na disseminação de notícias na atualidade: a linguagem mais aproximada da internet. Em tempos de convergência, a aposta neste formato de jornalismo é uma estratégia comunicacional.

Referências

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TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2005.

Referências

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