EFEITO DO DEFICIT DE ÁGUA NO SOLO SOBRE A RELAÇÃO RAIZ/PARTE AÉREA NAS CULTIVARES DE MAMONA BRS 149 e BRS 188
Genival Barros Júnior1,Hugo Orlando Carvallo Guerra1, Mario Luiz Farias Cavalcanti1, Rogério Dantas
de Lacerda3 e José Mario Cavalcanti de Oliveira2
1Universidade Federal de Campina Grande, barrosjunior@yahoo.com.br ,
mariolfcavalcanti@yahoo.com.br, rogerio_dl@yahoo.com.br;
2Embrapa Algodão, jmario@cnpa.embrapa.br.
RESUMO – A mamoneira, por ser uma planta com capacidade de produzir satisfatoriamente sob condições de baixa precipitação pluvial, se apresenta como uma boa alternativa para geração de renda. Em regiões onde ocorre uma baixa precipitação, como é o caso do semi-árido, a mamoneira diminui sua produtividade. Assim, um manejo adequado da água do solo, constitui-se numa ação de extrema importância para a sustentabilidade da produção. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo estudar a sensibilidade a diferentes conteúdos de água no solo das cultivares BRS -149 e BRS -188 sobre a relação raiz/parte aérea e seu efeito sobre a produção de fitomassa. O experimento foi conduzido sob condições de estufa, localizada na Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG, no período de fevereiro a agosto de 2004; disposta em esquema fatorial 2 x 4, constituído por estas duas cultivares e quatro níveis de umidade do solo (40, 60, 80 e 100% de água disponível) com três repetições. Procedeu-se analise estatística, através da calculo da variância, e da aplicação do teste de Tukey para a comparação entre as médias. Observou-se que o efeito do deficit hídrico afetou por igual, tanto o sistema radicular como a parte área da planta.
INTRODUÇÃO
Por ser uma planta com capacidade de produzir satisfatoriamente bem sob condições de baixa precipitação pluvial, a mamona (Ricinus communis L.), se apresenta como uma alternativa de grande importância para o semi-árido brasileiro. Nesta região, a cultura mesmo tendo sua produtividade afetada, tem-se mostrado resistente ao clima adverso quando se verificam perdas totais em outras culturas, servindo, desta forma, como uma das poucas alternativas de trabalho e de renda para o agricultor da região. A faixa ideal de precipitação pluviométrica para produção da mamona varia entre 750 e 1500 mm, com um mínimo de 600 a 750 mm durante todo o ciclo da cultura, ajustando-se o plantio de forma que a planta receba de 400 a 500 mm até o início da floração (TÁVORA, 1982). As pesquisas realizadas pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário - EBDA e pela EMBRAPA - CNPA, concluem que para duas das principais cultivares da espécie a BRS - 149 (Nordestina) e a cultivar BRS 188 – (Paraguaçu) o potencial de produtividade médio varia de 1.500 kg ha-1 em condições de sequeiro a 5.000 kg ha-1 em condições irrigadas (CARVALHO, 2005).
Desta forma, quantificar com precisão o conteúdo de água no solo, principalmente em áreas do semi-árido, onde a escassez deste insumo torna-se fator limitante para o potencial produtivo das culturas, constitui-se numa ação de extrema importância para a sustentabilidade da atividade agrícola. O método considerado ideal para esta quantificação deve envolver uma propriedade física do solo ou uma característica altamente correlacionada ao seu teor de água (SILVA. e GERVÁSIO, 1999), que permita uma leitura direta sem alterações para as características físicas originais do mesmo. Dentre as metodologias disponíveis para quantificação do teor de água no solo, tem se destacado a técnica da reflectometria no domínio do tempo (TDR), por ser dotada de uma boa precisão, não destruir a estrutura física do solo e permitir a realização de múltiplas leituras, bem como um número infinito de repetições (COELHO et al., 2001).
Com isso, o presente estudo teve como objetivo estudar a sensibilidade a diferentes conteúdos de água no solo das cultivares de mamona Nordestina e Paraguaçu, por meio das alterações provocadas sobre a relação raiz / parte aérea, monitorando-se o conteúdo de água no solo utilizando-se das sondas de um TDR.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido numa estufa localizada na Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande, Campus I, Campina Grande–PB, no período de Fevereiro a Agosto de 2004. Como substrato utilizou-se uma camada (0 - 60 cm) de um solo cuja descrição encontra-utilizou-se na Tabela 1, classificado como franco, não salino, com pH inicialmente ácido (5,63) e apresentando um baixo teor de matéria orgânica, proveniente do município de Campina Grande – PB. Após a devida correção do pH e a adição de fósforo na forma de superfosfato simples na adubação de fundação, conforme recomendações de Novais et al (1991), procedeu-se o enchimento dos vasos com 125 kg de solo cada.
No ensaio, testou-se as cultivares BRS 149 (Nordestina) e BRS 188 (Paraguaçu) cujo ciclos vegetativos nas condições do semi-árido são de aproximadamente 250 dias conforme ressalta Azevedo e Lima ( 2001). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, no esquema fatorial 2 x 4, constituído por duas cultivares de mamoneira (BRS 149 - Nordestina e BRS - 188 Paraguaçu) e quatro tratamentos de umidade do solo, T (T1 = 40 %, T2 = 60 %, T3 = 80 % e T4 = 100 % de água disponível) com três repetições, constituindo-se vinte e quatro parcelas. Os dados foram analisados estatisticamente utilizando a analise de variância (ANAVA), aplicando o teste de Tukey a 5 % de probabilidade, de acordo com Ferreira (2000).
Após a adubação de fundação o solo foi previamente irrigado até que a umidade atingiu o conteúdo de água de correspondente à capacidade de campo (θCC) para a germinação das plântulas e em seguida realizou-se a semeadura de 07 sementes por vaso. As irrigações subseqüentes foram realizadas à medida que a umidade atingiu os conteúdos pré-determinados, correspondendo aos tratamentos (T) estudados (100, 80, 60 e 40 % da água disponível),através de medições instantâneas diárias do conteúdo de água em % de volume determinado pela técnica TDR, utilizando-se uma proveta graduada e um regador manual, repondo-se os volumes necessários ao suprimento hídrico das plantas em cada tratamento a partir das leituras obtidas através das sondas do TDR.
Após a germinação, quando as plantas atingiram de 10 a 12 cm, 24 dias após a semeadura (DAS) foi realizado o primeiro desbaste deixando-se apenas as duas plantas mais vigorosas por vaso e, aos 40 DAS efetuou-se o segundo desbaste, eliminando-se mais uma planta, deixando apenas uma por vaso. As adubações nitrogenadas de cobertura foram realizadas em intervalos de 15 dias, aplicando-se o adubo diluído via água de irrigação.
Aos 180 DAS procedeu-se a coleta das plantas, destinado-se suas raízes, bem como a parte aérea, a uma estufa com circulação de ar forçado por 72 horas a uma temperatura de 60 ºC, obtendo-se o valor de fitomassa das raízes (FR) e fitomassa da parte aérea (FPA), possibilitando a obtenção do calculo da relação raiz/parte aérea (R/PA), segundo a equação: R/PA (g g-1) = FR/FPA (BENINCASA,
1988).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Relação Raiz/Parte Área (R/PA) não foi afetada significativamente pelo efeito do deficit hídrico conforme observa-se na tabela 02; de modo geral, esta relação manteve-se no mesmo patamar para todos os tratamentos estudados, ou seja, o déficit hídrico afetou por igual, tanto o sistema radicular como a parte área da planta à medida que o conteúdo de água no solo foi diminuindo. Desta forma, como o R/PA expressa a contribuição das reservas armazenadas no sistema radicular para o crescimento da parte área, os resultados indicam que as plantas de mamoneira, como resposta a carência de água no solo, não foram capazes de constituírem mecanismos importantes de adaptação aos baixos conteúdos de água no solo, comprometendo assim a produção de matéria seca e, conseqüentemente, a produção final dos tratamentos submetidos ao déficit hídrico. Trabalhando com plantas de algodão, submetidas a diferentes teores de água disponível (03, 23, 43 e 63 % de AD) resultados contrários foram obtidos por Pereira (1995), para duas variedades desta oleaginosa (CNPA 7H e PRECOCE 1), com as plantas reagindo a baixos conteúdos de água, por meio de uma produção
maior de raízes do que de parte aérea e por ARAUJO e FERREIRA (1997), que constataram uma redução no crescimento da parte aérea de plantas de amendoim em relação a raiz quando submetidas a condições severas de déficits hídricos.
CONCLUSÕES
O déficit hídrico provocado pela escassez de água no solo afetou por igual, tanto o sistema radicular como a parte área da planta, indicando que as plantas de mamoneira não foram capazes de constituírem mecanismos importantes de adaptação à baixaumidade no solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, W. F;; FERREIRA, L. G. R. Efeito do déficit hídrico durante diferentes estádios do amendoim. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.32, n.5, p.481-484, 1997.
AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. O Agronegócio da mamona no Brasil. Campina Grande: EMBRAPA – Algodão, 2001, 350p.
BENINCASA, M. M. P. Análise de crescimento de plantas. Jaboticabal: FUNEP, 1988. 42p. CARVALHO, B. C. L. Manual do cultivo da mamona. Salvador: EBDA, 2005. 65 p. il.
COELHO, E.F.; ANDRADE, C.L.T.; OR, D.; LOPES, L.C.; SOUZA, C.F. Desempenho de diferentes guias de ondas para uso com o analisador de umidade TRASE. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande v.5, n.1, p.81-87, 2001.
FERREIRA, P. V. Estatística aplicada a agronomia. 3 ed. Maceió: EDUFAL, 2000. 422 p.: il.
NOVAIS, R. F.; NEVES, J. C. L.; BARROS, N. F. Ensaios em ambiente controlado. In: Métodos de
pesquisa em fertilidade do solo. Brasília: EMBRAPA. 1991. 392 p. (EMBRAPA – SEA. Documentos, 3).
PEREIRA, M. N. B. Comportamento de duas cultivares de algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum, L. r. Latifolium Hutch L.) em baixos níveis de água disponível do solo. Campina Grande. 1995. 109p. (Dissertação de mestrado) Univesidade Federal da Paraíba.
SILVA, E. L.; GERVASIO, E.S. Uso do instrumento TDR para determinação do teor de água em diferentes camadas de um Latossolo Roxo distrófico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v3, n3, p.417-420, 1999.
TÁVORA, F. J. A. F. A cultura da mamona. Fortaleza: EPACE, 1982. 111p
Textura Densidade Conteúdo deágua no solo Areia Silte Argila Solo Partículas 0,01 MPa MPa1,5 HpH
2O P K Al 3+ Ca2++Mg2+ M. O. g kg-1 kg dm-3 g kg-1 mg dm-3 cmol c dm-3 g dm-3 702,2 95,7 202,1 1,48 2,64 147,3 39,4 6,56 0,076 0,038 0,2 5,34 0,568 M. O. - Matéria orgânica. MI.
Tabela 2. Resumo da analise de variância (ANAVA) e média transformados em √X + 1 da Relação Raiz / Parte Aérea
Causa da variação
GL Quadrado médio NordestinaMédias dos tratamentos1,086 a
Paraguaçu 1,074 a Cultivares 1 0,0008 ns DMS 0,025 Conteúdos de água 3 0,0011 ns 40% AD 1,066 a Interação 3 0,0000 ns 60% AD 1,072 a Blocos 2 0,0002 ns 80% AD 1,084 a Resíduo 14 0,0008 100 % AD 1,097 a CV % 2,63 DMS 0,047
GL - grau de liberdade; CV - coeficiente de variação; DMS – Diferença mínima significativa; AD – água disponível; (ns) não significativo; médias seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si (p < 0,05).