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Resenha do Livro Decepcionados com a Graça

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Academic year: 2021

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Resenha do Livro “Decepcionados com a Graça”

O título do livro, Decepcionados com a Graça – Esperanças e frustrações no Brasil

Neopentecostal (São Paulo : Mundo Cristão, 2005), mostra claramente o interesse do seu

autor, pr. Paulo Romeiro (Th.M., Ph.D.) em expor como o nosso país tem sido influenciado pelo neopentecostalismo. Passando por pouco mais de suas 200 páginas, o leitor vai conhecer as origens, não só dos movimentos (pentecostal e neopentecostal), mas das principais igrejas que os propagaram. Também, como as três ondas do pentecostalismo foram somando-se, formando o que a maioria dos brasileiros, de forma geral, chama de evangélicos. O autor enriquece a obra verificando os efeitos sociais, pela pesquisa de campo, entrevistando quem tem “ganhado” e perdido com tais movimentos. Por fim, como qualquer livro dito evangélico deve ser suas páginas apontam para um retorno à Palavra, a fim de encontrarmos respostas, tanto teológicas como práticas, a começar pela compaixão por aqueles que têm sofrido a dor e as conseqüências de suas próprias escolhas.

O autor cita algumas igrejas pentecostais bem conhecidas como Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil e Igreja do Evangelho Quadrangular. Estas são fruto da primeira onda, marcada por oração em línguas, onde mais tarde juntou-se com a cura divina, trazendo “renovação” a algumas denominações tradicionais como Batista Nacional, Presbiteriana Renovada e Metodista Wesleyana. Da Igreja de Nova vida saíram os principais líderes do que agora é denominado neopentecostalismo brasileiro. Vale lembrar que tal movimento não é uma denominação, já que há diferenças na prática entre as igrejas. Igrejas como a Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra, e dezenas de outras, apresentam características semelhantes como Igrejas e líderes que se multiplicam rapidamente, sempre introduzindo alguma novidade na liturgia ou na teologia. Por mais que as formas e estruturas de governo de cada igreja tenham a sua peculiaridade, todas elas descansam num líder supremo, que dá todas as diretrizes e que não pode ser questionado. Em comum também, tais igrejas recebem denúncias por suas práticas estranhas e abusivas, ou seja, como diz Paulo Romeiro, elas “mantêm a imprensa com as mãos ocupadas” (p. 58).

Mesmo com toda esta repercussão negativa, as igrejas do movimento neopentecostal têm apresentado crescimento contínuo, que o autor coloca como fatores decisivos uma liderança carismática somada a uma liturgia descontraída. O contraste é

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grande, principalmente com a maior religião do país, o catolicismo, que tem perdido muitos de seus seguidores. Isso também mostra que uma das grandes armas dos neopentecostais, a mídia, tem cumprido muito bem o seu papel.

Paulo Romeiro, na segunda parte de seu livro, destaca aspectos teológicos do movimento neopentecostal destacando a influência da confissão positiva popularizada por homens como Kenneth Hagin e Benny Himm, e que desafiam os seus adeptos a trazerem à existência o que se declara verbalmente, já que a fé é uma confissão. Então as doenças, que são vistas como consequência de enfermidade espiritual, e o poder das forças do mal, responsáveis por falta de prosperidade, ou por assim dizer, qualquer insatisfação do crente, são os principais inimigos. Na prática, segundo o autor, a Bíblia perde espaço para a experiência, assumindo apenas um papel secundário (principalmente no Antigo Testamento) para dar bases à livre interpretação das Escrituras e às novidades doutrinárias. Textos e personagens são indispensáveis para a criação de símbolos, pontos de contato e autenticar experiências. Nesta ênfase, testemunhos, sensacionalismo, excessiva preocupação com o diabo (a fonte de tudo o que é ruim) e ênfase da prosperidade são os pilares dos cultos e programas de mídia. Frases como “só é doente quem quer ou quem não tem fé”, testemunhos com os famosos “antes e depois” despertam o interesse da platéia, seja numa das diversas reuniões ou mesmo no conforto de seu lar, diante da TV.

A pesquisa que o autor do fez mostra que as práticas e atividades mencionadas acima têm formado outro grupo, sem espaço na mídia, mas com problemas profundos que precisam ser resolvidos. A mensagem tem feito bem para umas pessoas, mas também faz mal a outras, pois, segundo Romeiro, poucos são beneficiados com a libertação. Ele teve contato com várias pessoas que por alguns anos participaram destas igrejas e conta alguns casos de decepção. Este novo grupo, que ele chama de “nômades da fé”, por causa da era da velocidade (tudo tem que ser logo), demonstra que quanto mais transitam, mais se decepcionam, e quanto mais se decepcionam, mais transitam!

Pode se dizer que é com este grupo, principalmente, que Paulo Romeiro se preocupa. O título do livro fala de decepção com uma graça que muitas pessoas não conhecem de fato. Assim, ele descreve o significado da graça e como Deus usa de Sua graça em todos os momentos da vida, ou seja, onde até o sofrimento é uma manifestação desta graça e é a situação em que melhor podemos ver o agir gracioso Dele. Textos que exaltam a vida pela fé

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em contraste com o que podemos oferecer (Rm 1.17; Ef 2.8, 9) são usados para que o crente aprenda a se apegar unicamente no Senhor. Jesus Cristo ainda é nosso maior exemplo de agir com graça, o que Ele fez ao encontrar todo tipo de pessoa, com todo tipo de dificuldade, seja ela física, espiritual, material ou moral (Mc 6.41-44; Lc 7.11-17; 23.34; Jo 8.3-13; 21.17). Também, versículos em que homens de Deus sofreram, mas se apegaram e experimentaram de todo o amor e a graça de Deus, mesmo quando não houve o fim do sofrimento (2 Co 12.7-10; 1 Pd). O autor não deixa de fora, nem mesmo, a necessidade de nós agirmos com graça em relação ao próximo, o que ele demonstra pela história de Davi com Mefibosete (2 Sm 9.6-13). Enfim, um contraste claro com a idéia que as bênçãos materiais e físicas como dinheiro, bens, saúde, casamento constituem os principais sinais de uma pessoa agraciada por Deus. Portanto, a Bíblia ensina que o sofrimento, não só é encontrado no mundo, como se faz necessário para apontar para a necessidade real do ser humano e para a sua edificação. Romeiro, então, procura responder a pergunta: Onde podemos encontrar a esperança, e, se possível, como mantê-la? Para ele, Jürgen Moltmann contribui com a sua Teologia da Esperança (baseada, não somente na teoria, mas no seu passado e experiência nos campos de concentração) num mundo que afirma que o alvo é alcançar a felicidade sem passar pelo sofrimento, e de crentes que deixam de orar, pois em sua maneira de ver, suas orações não estão trazendo resultados. Moltmann desenvolve uma pastoral da esperança à luz da Primeira Epístola de Pedro, onde esperança e ressurreição andam junto, o que é comprovado pela mensagem e obra de Jesus. Assim como a morte e ressurreição de Cristo são os temas centrais da pregação dos apóstolos, a vida de Paulo e a teologia de Pedro falam de sofrimento inevitável e até mesmo esperado por aqueles que servem a Deus. Em todo este sofrimento os que estão firmes no Senhor, mesmo que experimentado as dificuldades num mundo corrompido, precisam aprender a responder com amor (1 Pd 3.15, 16).

Na prática, o propósito deve ser formular uma proposta pastoral de acolhimento aos cristãos em trânsito, muitos dos quais passaram pelo movimento neopentecostal. Neste ponto Romeiro destaca a contribuição de Casiano Floristan apresentando a teoria através das raízes bíblico-teológicas, como a apresentação da igreja sob cinco ângulos (missão, catequese, liturgia, comunidade e serviço). O livro aponta os caminhos para uma contribuição pastoral de restauração e acolhimento, onde Jesus é o modelo. A vida, com todos os seus desafios, deve ser uma contínua celebração da esperança, e numa sociedade

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onde os pregadores neopentecostais são o único referencial de pregação e ética evangélica, aqueles que decidem viver tão somente pela Palavra, têm muito trabalho pela frente.

Em toda esta passagem sobre esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal, uma recordação sobre o que a Bíblia fala sobre salvação se faz indispensável, já que o livro parece considerar que estamos falando todo o tempo de pessoas regeneradas. O autor chama de “aspectos positivos do neopentecostalismo” as conversões, transformações morais e espirituais, alegria e desejo de assumirem responsabilidades com a família e a igreja local (p. 122). Sabemos que é difícil separarmos crentes reais de crentes nominais, o que não somos sequer incentivados a fazer, mas se o caso é avaliar pelo que o movimento neopentecostal tem apresentado através de sua mensagem e sua prática, fica difícil vermos que tais igrejas podem ser chamadas de cristãs, simplesmente por citarem o nome de Cristo em suas reuniões ou usarem a Palavra de Deus. O autor às vezes parece crer que a única ou principal diferença dos neopentecostais é o desejo pela libertação e prosperidade. Será que tirando esses desejos, que os crentes reais também sempre tiveram, todos estariam iguais quanto à fé em Cristo como único e suficiente salvador? Acredito que os desejos e os meios aos quais se submetem provam o contrário! Mesmo assim, a profundidade de pesquisa do autor, o que destacamos o contato com ex-adeptos e até pessoas mais envolvidas com o movimento, tornam o livro útil para diversos grupos. Neopentecostais podem ser alertados e mudar, enquanto é tempo, para uma vida que Deus esteja no centro. Certamente temos conhecidos cuja visão dominante sobre “ser evangélico” encontra-se nestas igrejas e tal visão precisa ser derrubada, o que faz deste livro uma ótima ferramenta. Quanto aos crentes verdadeiros, podemos destacar aqueles que são simpatizantes do movimento e que em seus argumentos destacam a tal “fé de cada um” ou a “política de resultados” e que precisam conhecer como a coisa realmente funciona. Também os crentes de verdade que se sentem limitados ou com as mãos amarradas encontrarão uma diretriz para lidar com aqueles que estão decepcionados com o cristianismo e até mesmo os que se encontram iludidos dentro dos arraiais neopentecostais.

O interesse de Paulo Romeiro (formado em Jornalismo), somado à sua experiência no meio pentecostal, e a preocupação com os problemas doutrinários nas igrejas brasileiras instigou-o a escrever Decepcionados com a Graça, assim como Super Crentes: O evangelho

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Evangélicos em Crise: Decadência doutrinária na igreja (1995). Livros que analisam, criticam

e procuram dar ferramentas para combater tais movimentos ao mesmo tempo em que busca restaurar aqueles que foram atingidos pelos mesmos. É, portanto, um material e, porque não dizer, um autor que abre os olhos dos evangélicos verdeiros que têm em seu cristianismo bíblico as respostas para a sociedade perdida, mesmo que esta esteja dentro das paredes das igrejas!

João Marcos Cruz Ferreira, pastor e acadêmico do Mestrado em Novo Testamento e Exposição Bíblica do Seminário Bíblico Palavra da Vida, em Atibaia-SP.

Referências

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