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Trabalho voluntário: o cidadão em ações sociais

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Academic year: 2021

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Trabalho voluntário: o cidadão em ações sociais

O trabalho voluntário vem assumindo um papel expressivo na sociedade. Adeptos da prática vêm de todas as classes sociais.

Por Mayara Kelly

Há seis anos, a psicóloga Ana Mônica, 28 anos, dedica um período dos seus dias para prestar serviços não remunerados em benefícios da comunidade. Por meio da Rede pela Paz – uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), qualificada pelo Ministério da Justiça e reconhecida pela UESCO – a coordenadora do projeto doa seu tempo e conhecimento, realizando um trabalho gerado pela energia do seu impulso solidário. Ela é apenas uma gota no mar de voluntários que vem se formando recentemente.

No ano de 2001 a ONU instituiu o Ano Internacional do Voluntário com adesão de 132 países. A iniciativa pretendia reconhecer e incentivar o trabalho dos voluntários, aqueles que doam seu tempo e talento aos que precisam de ajuda, estimulando outras pessoas a fazerem o mesmo. Formou-se um Comitê Brasileiro para gerir o Ano Internacional do Voluntário no Brasil, coordenando atividades que buscavam sensibilizar pessoas e organizações sociais para o trabalho voluntário.

Empresas e ações sociais

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2005, mostra que, em relação à pesquisa anterior, realizada em 1999, cresceu significativamente o número de empresas que desenvolvem algum trabalho na área social do país. O crescimento maior ocorreu na região Nordeste onde o percentual de empresas privadas que declararam fazer algum tipo de ação social para as comunidades aumentou em 35%.

O IPEA considera ação social qualquer atividade que as empresas realizam, em caráter voluntário, para o atendimento de comunidades nas áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, entre outras. O trabalho voluntário foi regularizado recentemente no Brasil pela Lei 9608/98, e muitas iniciativas têm surgido em várias regiões do País. Pesquisas apontam que apenas 7% dos jovens brasileiros são voluntários, porém 54% gostariam de ser.

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As organizações não governamentais (ONGs) são associações do terceiro setor, da sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos. Desenvolvem ações em diferentes áreas e, geralmente, mobilizam a opinião pública e o apoio da população para modificar determinados aspectos da sociedade. O Terceiro Setor não é público nem privado, mas sim uma junção do setor estatal e do setor privado para uma finalidade maior, suprir as falhas do Estado e do setor privado no atendimento às necessidades da população, numa relação conjunta.

No Brasil, três figuras jurídicas correspondentes no novo Código Civil compõem o Terceiro Setor: associações, fundações e organizações religiosas (que foram recentemente consideradas como uma terceira categoria). Com a qualificação de OSCIP, as organizações podem remunerar os seus diretores sem perder algumas imunidades tributárias, além de poder realizar termos de parceria com órgãos governamentais.

Controvérsias

Estas organizações complementam o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar, podendo receber financiamentos e doações governamentais, e também de entidades privadas, para tal fim. No entanto, o trabalho voluntário divide opiniões quando se fala em obrigações do Estado.

Para a professora de sociologia, da Universidade Católica de Goiás (UCG), Maria Aparecida Daniel da Silva, o trabalho voluntário não deve substituir o governo, livrando-o de suas responsabilidades e atribuições em relação às políticas públicas. Contudo, ela o considera como um trabalho positivo, “pois pode ser educativo para a desconstrução do individualismo e construção da solidariedade”, afirma.

As ONGs podem ser parceiras do Estado, levando benefícios aos cidadãos, mas não substituindo suas funções; uma vez que o Estado existe como instituição reguladora da sociedade e, portanto, não pode se ausentar de suas responsabilidades.

Parcerias

Como exemplo de parceria entre a rede pública e o terceiro setor, temos em Goiás a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) que existe há mais de 60 anos, realizando trabalhos em prol da promoção do ser humano e da inclusão social. Alguns projetos instituídos pela OVG ganharam repercussão nacional, como o Programa Bolsa

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Universitária, voltado para estudantes com dificuldades financeiras de pagar as mensalidades em faculdades particulares.

Para incentivar o trabalho voluntário, a OVG lançou o Centro Goiano de Voluntários. Com o tema “Você pode mudar o mundo de alguém”, o programa tem como proposta ser um instrumento de capacitação do voluntariado.

Como ser um voluntário

A coordenadora do projeto Rede pela Paz esclarece que é necessária uma preparação para torna-se um voluntário. Segundo Ana Mônica, muitos tem o desejo de ajudar o próximo ou de aderir a uma causa, mas muitas vezes não sabem como fazê-lo. No caso da Rede, que trabalha com crianças e adolescentes de seis a quatorze anos que vivem em área de risco, a coordenadora acredita que esta formação do voluntário é fundamental, pois o projeto procura auxiliar na educação das crianças, visando o desenvolvimento pessoal, social e, futuramente, profissional de cada uma delas.

Os educadores da organização realizam curso de capacitação promovido pela OVG, além de outros relacionados à cultura de paz. Nesses cursos, os interessados aprendem sobre conceitos e sobre a história do voluntário no Brasil, conhecem direitos e deveres, a lei do serviço voluntário, a lei do voluntariado e o termo de adesão. É nessa etapa que os candidatos à vaga de voluntário de uma determinada organização terão acesso às informações necessárias para a formação de uma consciência do perfil de um cidadão que presta serviços sociais.

O artigo primeiro da Lei n.° 9608/98, parágrafo único, esclarece que o serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim. O artigo segundo estabelece que o serviço voluntário seja exercido mediante Termo de Adesão entre a entidade e o prestador do serviço voluntário, constando o objeto e as condições de seu exercício.

Importância do trabalho

Segundo definição das Nações Unidas, "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e a seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos...". Para a coordenadora da Pastoral Bom Samaritano, Wanda de Souza Camargo, o trabalho voluntário é muito importante tanto para quem o realiza

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quanto para quem o recebe. Segundo ela, “é uma forma de sair de si mesmo para se doar ao próximo. É a primeira caridade que Deus nos pede”.

A Casa Bom Samaritano foi fundada pelo Padre Luiz Augusto e existe há cinco anos. Ela acolhe hoje em torno de 50 ex-moradores de rua e andarilhos resgatados pela pastoral de rua. O objetivo é oferecê-los toda a assistência necessária durante um período de até três meses, para que possam se “refazer”. O trabalho realizado com esses homens envolve, além da moradia oferecida, direito a refeições, roupas, higiene pessoal, auxílio espiritual, assistência médica e odontológica.

No período em que estão na casa, os moradores não podem ingerir bebidas alcoólicas nem se drogar, caso contrário poderão ser expulsos. A Casa Bom Samaritano sobrevive de doações e do dízimo da Paróquia Sagrada Família. Todos os serviços prestados para a casa são voluntários.

Fraudes

De acordo com Ana Mônica e Wanda Camargo, as entidades filantrópicas se deparam constantemente com pessoas que não compreendem o verdadeiro valor e importância das ações sociais desenvolvidas que buscam atender às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa. São pessoas que buscam apenas satisfazer seus próprios interesses durante um determinado período de tempo, seja para incrementar o currículo profissional ou para realizar projetos de pesquisas para cursos superiores. O que revela o não comprometimento com a causa assumida.

Há também alguns empecilhos ao trabalho voluntário. Recentemente, muitas fraudes envolvendo falsas licitações têm colocado diversas ONGs dentro de escândalos de corrupção e desvio de verbas. Algumas ONGs se constroem para tirar proveito de verbas do governo em benefício próprio, e abusam do voluntariado como forma de exploração e de economia de mão-de-obra remunerada. Para a professora Aparecida Daniel, nem todas as ONGs são sérias, no sentido de trabalhar pelo coletivo, mas isso ocorre em qualquer lugar que existam seres humanos.

Credibilidade

No entanto, há quem faça um bom trabalho em defesa dos direitos dos cidadãos e em favor do meio ambiente. Para os americanos e os europeus, as ONGs são as instituições mais confiáveis, enquanto governos e empresas estão perdendo credibilidade aos olhos dessas populações.

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Isso ocorre devido a uma evolução do trabalho voluntário e do conceito de voluntário que passa a ser considerado como um ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade. Doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político, emocional.

Quando nos referimos ao voluntário contemporâneo, engajado, participante e consciente, diferenciamos também o seu grau de comprometimento. Ações mais permanentes, que implicam em maiores compromissos, requerem um determinado tipo de voluntário, e podem levá-lo inclusive a uma “profissionalização voluntária”.

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