Fundamentos da Filosofia – Gilberto Cotrim
Filosofia Moral
O homem é uma interseção entre dois mundos: o real e o ideal. Pela liberdade humana, os valores do mundo ideal podem atuar sobre o mundo real.
Nicolai Hartmann
Prisioneiros a fazer exercícios (segundo Doré) — Saint-Rémy (1890) — Vincent Van Gogh.
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Ética
Do ser ao que deve-ser
A característica específica do homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais.
ARISTÓTELES. Política, p. 15.
O ser humano age no mundo de acordo com valores. Desse
modo, as ações que se realizam podem ser hierarquizadas de
acordo com as noções de bem e de justo compartilhadas por
um grupo de pessoas, em um determinado momento.
O homem é um ser moral, capaz de avaliar sua conduta a
partir de valores morais.
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Distinção entre Moral e Ética
Moral
do latim mos mor-, “costumes”. Refere-se ao conjunto de normas que orientam o comportamento humano tendo como base os valores próprios a uma dada comunidade ou cultura.Ética
do grego ethikos, “modo de ser”, “comportamento”, e se aplica à disciplina filosófica que investiga os diversos sistemas morais elaborados pelos homens, buscando compreender a fundamentação das normas e proibições (interdições) próprias a cada um e explicitar seus pressupostos, ou seja, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que os sustentam.
Une o saber ao fazer, aplicando o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser.
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Moral e Direito
Aspectos comuns entre as normas morais e jurídicas:
• apresentam-se como imperativos, ou seja, normas que devem
ser seguidas por todos
• buscam propor, através de normas, uma melhor convivência
entre os indivíduos
• orientam-se pelos valores culturais próprios de uma
determinada sociedade
• têm um caráter histórico, isto é, mudam de acordo com as
transformações histórico- sociais
Se a moral é o conjunto de normas de conduta de uma sociedade, qual (is) a (s) semelhança (s) e a(s) diferença(s) entre normas morais e normas jurídicas?
Moral e Direito
Diferenças entre Moral e Direito• as normas morais são cumpridas a partir da convicção pessoal de cada
indivíduo, enquanto as normas jurídicas devem ser cumpridas sob pena de punição do Estado em caso de desobediência
• a punição, no campo do direito, está prevista na legislação, ao passo que, no
campo da moral, a sanção eventual pode variar bastante, pois depende
fundamentalmente da consciência moral do sujeito que infringe a norma • a esfera da moral é mais ampla, atingindo diversos aspectos da vida humana, enquanto a esfera do direito se restringe a questões específicas nascidas da interferência de condutas sociais. O direito costuma ser regido pelo seguinte princípio: tudo é permitido que se faça, exceto aquilo que a lei expressamente proíbe
• a moral não se traduz em um código formal, enquanto o direito sim • o direito mantém uma relação estreita com o Estado, enquanto a moral não apresenta essa vinculação.
Moral e Direito
Maior diferença entre Moral e Direito é o princípio da
COERCIBILIDADE DA NORMA JURÍDICA
conta com a força e a repressão potencial do Estado (através da
ação da Justiça e da polícia) para ser obedecida pelas pessoas. Já
a norma moral não é sustentada pela coerção do Estado, isso
implica que ela depende, de certo modo, da aceitação de cada
indivíduo para ser cumprida.
Por isso, a norma moral costuma ser vinculada, por alguns
filósofos, à idéia de liberdade.
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Moral e Liberdade
Além da consciência lógica, o ser humano possui também consciência moral
faculdade de observar a própria conduta e formular juízos sobre os atos passados, presentes e as intenções futuras. E depois de
julgar, o homem tem condições de escolher,
dentre as circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida.
A essa possibilidade que o homem tem de construir sua maneira de ser e sua história chamamos liberdade
decidir entre o bem e o mal (consciência moral) = escolher.
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Virtude
Liberdade com Responsabilidade
Virtude
do latim virtus, “força ou qualidade
essencial”, e significa, no contexto da moral,
a qualidade ou a ação que dignifica o
homem.
Entre outros significados, prática constante do bem, correspondendo ao uso da liberdade com responsabilidade moral. Assim, são consideradas virtudes a polidez, a fidelidade, a prudência, a justiça, a coragem, a generosidade etc.
Virtude
Vício
prática do mal, correspondendo aouso da liberdade sem responsabilidade
moral
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Liberdade X Determinismo
Somos realmente livres para decidir? Que liberdade é essa?
Há três respostas possíveis:
A ênfase no determinismo
A ênfase na liberdade
A dialética entre liberdade e determinismo
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As transformações da moral
Relação entre sociedade e indivíduo pode ser considerada dialética, pois ocorre uma relação mútua influência entre dois polos:
• por um lado, o indivíduo, um ser singular, é levado,
através da educação, à universalidade expressa nos
costumes e normas morais. Isso significa que cada indivíduo
assimila os princípios morais consolidados como próprios
do ser humano até então.
• por outro lado, os indivíduos, não assimilando
passivamente esses princípios, podem contestá-los ou
interferir em sua formulação, de acordo com as novas
condições histórico-sociais, e acabar por transformar as
normas e costumes morais.
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Ética na História
Concepções filosóficas sobre o bem e o mal
Moral
Construção social
Construção
histórica
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Ética na História
Antiguidade: a ética grega
A questão da ética começou a ser motivo de preocupação na época de Sócrates, considerado “pai da moral”.
É importante observar como os principais filósofos gregos trataram essa questão. •
Os sofistas afirmavam que não existem normas e verdades
universalmente válidas. Tinham, portanto, uma concepção ética
relativista ou subjetivista.
• Ao contrário dos sofistas, Sócrates sustentou que existe um saber
universalmente válido, que decorre do conhecimento da essência
humana, a partir da qual se pode conceber a fundamentação de uma
moral universal. E o que é essencial no ser humano?A sua alma racional.
O homem é, essencialmente, razão. E é na razão que se devem,
portanto, fundamentar as normas e costumes morais. Por isso, dizemos
que a ética socrática é racionalista. O homem que age conforme a razão
age corretamente.
Fundamentos da Filosofia – Gilberto Cotrim •
Platão desenvolveu o racionalismo ético iniciado por Sócrates,
aprofundando a diferença entre corpo e alma. Argumentava que o corpo,
por ser a sede dos desejos e paixões, muitas vezes desvia o homem de
seu caminho para o bem. Assim, defendeu a necessidade de purificação
do mundo material, para se alcançar a Idéia de Bem.
Segundo Platão, o homem não consegue caminhar em busca da
perfeição agindo sozinho.Necessita, portanto, da sociedade, da polis. No
plano ético, o homem bom é também o bom cidadão.
• Depois do período clássico grego, o estoicismo desenvolveu uma ética
baseada na procura da paz interior e no autocontrole individual, fora dos
contornos da vida política. Assim, o princípio da ética estoica
é a apathéia: a atitude de aceitação de tudo o que acontece, porque
tudo faria parte de um plano superior guiado por uma razão universal
que a tudo abrangeria.
Ética na História
Antiguidade: a ética grega
...Cont.
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Antiguidade: a ética grega
Ética na História
•A ética do epicurismo, de forma semelhante, tinha
como princípio a ataraxia: a atitude de desvio da dor e
procura do prazer espiritual, que contribui para a paz de
espírito e o autodomínio. Minimizando a influência dos
fatores exteriores sobre o bem-estar espiritual, Epicuro
observou: “O essencial para nossa felicidade é nossa
condição íntima e dela somos senhores”.
...Cont.
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Ética na História
A ética do equilíbrio de Aristóteles
Aristóteles
Reflexão ética racionalista, porém sem o dualismo corpo-alma platônico.Questão fundamental, para Aristóteles:
Para o quê tendemos?
FELICIDADE
A felicidade maior para Aristóteles se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais especificamente humano: a razão.
“A virtude moral é um meio-termo entre dois vícios, um dos quais envolve o excesso e outro deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas paixões e nos atos.” ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, livro II.
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Ética na História
Idade Média: a ética cristã
Ética Cristã
Ética Grega
Divergem em dois pontos:
•
O abandono do racionalismo — a ética cristã abandonou a idéia
de que é pela razão que se alcança a perfeição moral e centrou a
busca dessa perfeição no amor a Deus e na boa vontade.
• A emergência da subjetividade — acentuando a tendência já
esboçada na filosofia de estoicos e epicuristas, a ética cristã
tratou a moral do ponto de vista estritamente pessoal, como uma
relação entre cada indivíduo e Deus, isolando-o de sua condição
social e atribuindo à subjetividade uma importância
desconhecida até então.
Ética na História
Idade Média: a ética cristã
Santo Tomás de Aquino (século XIII)
Recuperou da ética aristotélica a ideia de felicidade
como fim último dos homens, mas cristianizou essa
noção quando identificou Deus como a fonte dessa
felicidade.
Ética na História
A ética do livre-arbítrio de Santo Agostinho
Livre-arbítrio: a noção de que cada indivíduo pode escolher livremente entre aproximar-se de Deus ou afastar-aproximar-se Dele.
Diante disso, acentuou-se o papel da subjetividade humana nas coisas do mundo. O livre-arbítrio é o meio pelo qual o homem realiza a sua liberdade, usando-a para o bem ou para o mal.
Santo Agostinho (século III)
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Ética na História
Idade Moderna: a ética antropocêntrica
Humanismo
Nova concepção moral, centrada na autonomia humana.Iluminismo
moral deve ser fundamentada não mais em valores religiosos, mas em valores oriundos da compreensão acerca do que seja a natureza humana.
Período
Moderno
Concepção de natureza racional, que encontra em Kant a formulação mais bem-sucedida.
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Ética na História
A ética do dever de Kant
Kant
Razão humana
Razão legisladora
Dever= liberdade
o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à liberdade da razão, isto é, àquilo que a razão, no uso de sua liberdade, determinou como correto.Fundamentos da Filosofia – Gilberto Cotrim
Ética na História
Idade Contemporânea: a ética do homem concreto
A reflexão ética na Idade Contemporânea
(séculos XIX e XX) se desdobrou em uma série
de concepções distintas acerca do que seja a
moral e sua fundamentação. Seu ponto comum
é a recusa de uma fundamentação exterior,
transcendental para a moralidade, centrando
no homem concreto a origem dos valores e
das normas morais.
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Ética na História
A fundamentação histórico-social de Hegel
Hegel (1770-1831)
Ética: história e relação do indivíduo com a sociedade são fundamentais para as decisões morais.Moral: conteúdos diferenciados ao longo da história das
sociedades, e a vontade individual seria apenas um dos
elementos da vida ética de uma sociedade em seu conjunto. A
moral seria o resultado da relação entre o indivíduo e o conjunto
social. E em cada momento histórico, a moral se manifestaria
tanto nos códigos normativos como, implicitamente, na cultura e
nas instituições sociais.
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Ética na História
A fundamentação ideológica de Marx
Marx (1818-1883)
Moral: produção social que atende a determinada demanda da sociedade. E essa demanda deve contribuir para a regulação das relações sociais. Transformação das relações sociais ao longo do tempo: transformam-se os indivíduos e as moralidades que regulam essas relações.
Diante disso, Marx compreende a moral como uma forma de consciência, própria a cada momento do desenvolvimento da existência social.
Moral, para Marx, seria:
ideologia dominante em sociedade, pois difunde determinados valores que são necessários à manutenção dessa sociedade. É a fundamentação
ideológica da moral.
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Ética na História
A ética discursiva de Habermas
Habermas (1929)
Ética discursiva: fundada no diálogo e no consenso entre os sujeitos. O que se buscaria nesse diálogo é a razão que, tendo sido reconhecida pelos participantes do diálogo, sirva como fundamentação última para a ação moral.
Aposta de Habermas na linguagem e na capacidade de entendimento entre as pessoas na busca de uma ética democrática e não autoritária, baseada em valores validados e aceitos consensualmente.
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