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O enquadramento da foto e o céu como fundo ajudam a ressaltar a leveza das pedras localizadas no Lajedo do Pai Mateus, na Paraíba

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Academic year: 2021

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Saber como a própria visão funciona ajuda a entender como é possível fazer

composições diferentes, com enquadramentos mais equilibrados e menos óbvios

figura e fundo

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o focalizar de perto um determinado ponto de algum objeto, apenas esse ponto aparece nítido. Todo o resto fica vagamente delineado na visão periférica. É como se olhássemos através de um potente telescópio com profundidade de foco mínima.

Ao olhar uma pinta em meu braço, a 20 cm de distância, tenho que desviar os olhos para ver o fio de cabelo ao lado. Ao observar a lua cheia e prestar atenção nas manchas das crateras, tenho que redirecionar meu olhar para

perceber o halo de umidade em volta dela.

O que escrevo não foi tirado de estudos de psicologia da percepção, mas de minha própria experiência e pura observação. Faça um teste e veja. Saber como a visão funciona ajuda a compreender a maneira como percebemos, selecionamos e enquadramos as cenas que fotografamos.

Esse modo especializado e seletivo (portanto, excludente) de funcionamento da atenção visual influencia a maneira como

valorizamos o fundo das fotos. E, por fundo, entenda tudo o que não for o assunto principal da imagem, inclusive o que estiver em um plano anterior ao motivo principal.

Quando olhamos no monitor ou no visor da câmera SLR para fazer uma foto, muitas vezes esquecemos de considerar o que envolve o assunto principal. Excluímos o fundo e nos concentramos apenas na figura. Não percebemos o quadro total, a relação entre figura e fundo. Depois, com a imagem na tela do

Use de forma criativa a relação

Por Luiz Claudio Marigo

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Para destacar a cigarra no primeiro plano, além de um fundo desfocado, foi usada a técnica do flash de preenchimento

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A natureza da mente humana é estar em movimento. O pensamento e a percepção fluem sempre. É impossível mantê-los imóveis por muito tempo. Por isso, os exercícios de concentração são tão difíceis e frustrantes. Tudo o que não é o ponto de concentração é distração e o embate entre exercício e distração aborrece. Ao apreciarmos uma imagem sem movimento, contrariamos o ritmo da mente e nos enfadamos com isso. Não aproveitamos a oportunidade de usar o fundo como um elemento enriquecedor da imagem, tornando-o, ao contrário, um adversário do dinamismo visual.

Se considerarmos que o fundo ocupa frequentemente a maior parte da superfície da foto, é admirável que descuidemos tanto desse importante elemento de composição. Os exemplos citados são de usos passivos do fundo, mas podemos também utilizá-lo ativamente, fazendo com que ele computador ou no papel,

percebemos que a composição pode ter sido prejudicada. Justamente a composição, a organização total de todas as linhas, formas e cores, que é o elemento mais importante do design de uma imagem.

Geralmente, a harmonia entre figura e fundo é afetada por elementos que perturbam a composição, como reflexos, linhas, formas e cores, que tiram a força da figura principal, “brigam” com ela. Com essa abordagem, podemos entender que algumas fotos não têm figura e fundo. Toda a composição é figura, é assunto principal. Não somente fotos em que apenas um elemento ocupa todo o quadro, como uma textura ou um desenho, mas algumas paisagens também.

O MOVIMENTO

No entanto, essa característica da visão humana não é a única razão de fazermos fotos com

interferências do fundo, com a composição desequilibrada ou estática. Por vezes, também esquecemos algumas noções de composição e desconsideramos regras básicas. Mas é preciso sempre respeitar as regras? Bem, se não conhecermos tais orientações, como desrespeitá-las criativamente?

Se colocamos a linha do horizonte no meio do quadro, dividindo uma foto de paisagem em duas partes iguais, por exemplo, criamos uma simetria paralisante que bloqueia o dinamismo interno da composição, delegando o mesmo peso visual ao primeiro plano e ao plano de fundo. O céu funciona como o elemento complementar da paisagem e, ao desperdiçarmos a oportunidade de criar um dinamismo, produzimos uma imagem estática, monótona, que atende muito mais a um primeiro impulso do olhar do que a uma composição pensada. Ao posicionarmos uma ave no meio da foto produzimos efeito semelhante.

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tenha um significado na composição, dramatizando uma cena ou acrescentando sutilmente mais informação àquela imagem.

CONTROLE DO FUNDO

Quando fotografamos um animal em movimento, uma ave ou mamífero muito agitado, não temos tempo para escolher o fundo para a foto. Já é uma grande conquista se conseguirmos registrar aquela espécie com bom enquadramento e foco preciso. Depois, vamos encontrar uma boa composição e, com sorte, uma luz natural ideal, uma postura e expressão elegantes do animal, enfim, uma boa foto. Mas, muitas outras vezes, temos oportunidade e tempo para prestar atenção no fundo, mover a câmera e refazer a composição, conquistando, assim, uma cena com destaque, consciência e controle.

As características das objetivas e alguns procedimentos técnicos são ferramentas de controle do modo como o fundo aparecerá nas fotos. A grande angular, por exemplo, registra uma cena com um ângulo de visão maior que a lente normal ou uma teleobjetiva. Separa também os planos da imagem de forma mais acentuada que uma lente de maior distância focal.

Um ângulo de visão mais aberto, consequentemente, vai incluir mais componentes na composição. Isso quer dizer que os elementos do fundo, atrás do assunto principal, vão parecer menores; por outro lado, as formas que estão à frente serão maiores se comparadas ao tamanho que teriam em uma foto feita com lente normal ou tele. É claro que isso traz reflexos importantes para a composição. O fotógrafo terá mais itens com que trabalhar, para o bem ou para o mal.

NA PRÁTICA

Na região de Quixadá, Ceará, há um pássaro de distribuição geográfica muito restrita, o bacurau (de nome científico Caprimulgus

hirundinaceu). Ele pousa sobre

lajedos de pedra ou sobre folhas

Acima, a foto destacou o bacurau das folhas por meio do uso de uma abertura f/8 com uma tele de 800 mm; nas duas fotos abaixo, por outro lado, em que a ave se confunde com o fundo, o objetivo foi mostrar a habilidade de camuflagem do pássaro na caatinga

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secas no chão da caatinga, onde praticamente desaparece. Essa ave é um mestre da camuflagem, o que tem tudo a ver com a relação figura e fundo aqui tratada. Ou melhor, com a ausência quase total desta relação.

Ao fotografar esse bacurau, alternei as opções de destacá-lo do fundo e mostrar sua capacidade de confundir-se com o ambiente. Para evidenciá-lo, usei o contraste cromático entre figura e fundo e regulei a profundidade de campo. Com uma tele de 650 mm (400 mm f/2.8 com o teleconversor TC-17 EII) e abertura f/8, opção relativamente grande para a distância entre o animal e o plano do sensor, registrei a ave nítida e o fundo fora de foco. Com isso, o bacurau

“saltou” do fundo, ressaltado pela diferença de nitidez entre os dois planos. Na outra foto, para mostrar a camuflagem da ave, escolhi incluir mais ambiente no quadro e colocar em foco também uma pedra com textura parecida com a plumagem do bacurau.

A profundidade de campo (ou profundidade de foco) varia com a distância focal da objetiva, que é a distância entre o assunto fotografado e o plano do sensor (mostrado no corpo da câmera pelo símbolo de um círculo cortado ao meio), e pela abertura de diafragma escolhida.

No entanto, se o tamanho do quadro permanece o mesmo, objetivas de distâncias focais

diferentes terão a mesma profundidade de foco, com a mesma abertura de diafragma.

Por exemplo: com uma abertura f/4, se o tamanho do quadro for o mesmo para compensar a distância, uma tele a uma distância maior ou uma grande angular a uma distância menor terão a mesma

profundidade de foco. Mas a perspectiva e a separação de planos das duas imagens serão bem diferentes, influenciando a composição e, consequentemente, a percepção do observador.

A grande angular separará os planos da imagem e a teleobjetiva irá compactá-los. Na reserva Serra das Almas, próximo a Crateús (CE),

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divisa com o Piauí, procurava cenas de vegetação de caatinga e encontrei uma formação de bromélias de uma espécie rara, a Encholirium rectifolium, e alguns cactos xiquexiques.

As bromélias eram o centro da composição mas, devido à iluminação em contraluz, apareciam confusas, sem destaque. Queria melhorar a iluminação usando flash de preenchimento (fill flash) no assunto principal, mas sem anular o efeito da contraluz nos cactos.

Com uma objetiva de 24 mm, aproximei-me bastante das bromélias, destacando-as no quadro sem interferir com o resto da cena. A essa distância, a luz do flash diminuía logo e perdia intensidade onde estavam as outras plantas, que ficavam duas vezes mais longe do que as bromélias, o assunto principal. Nessa foto, o fundo era especialmente importante e representativo para a composição e para o significado, pois mostrava o ambiente xerófito da caatinga.

TERRA E CÉU

Em fotos de paisagem em contraluz, com o Sol baixo no horizonte, há uma diferença de exposição muito grande entre a terra e o céu. O fotógrafo deve optar entre medir a luz mais acima ou mais abaixo, porque o sensor não conseguirá captar todos os tons em uma única exposição.

Raras são as fotos de pôr do sol que mostram além do clichê. Talvez porque o alto contraste da luz deixe apenas a opção de usar silhuetas na terra e explorar as cores do céu. Assim, quase sempre, fotos de pôr do sol possuem apenas esse significado.

Contudo, existem técnicas de controle de luz que colaboram de forma criativa com a relação entre os planos da imagem, como o flash de preenchimento, bem usado se o assunto principal estiver ao alcance da luz eletrônica. Há também os filtros de densidade neutra

graduados, para grandes paisagens

Bromélias raras da caatinga foram destacadas do fundo em contraluz com o uso do fill flash

A paisagem registrada com uma grande angular de 24 mm faz com que os planos pareçam mais distantes se comparados com a mesma cena (abaixo) registrada com uma normal de 50 mm

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onde o céu é a fonte de luz. Outra técnica para situações como a de um pôr do sol é fazer duas exposições com a câmera, com todos os elementos da imagem imóveis (uma para captar detalhes da terra e a outra para detalhes do céu), e juntar as duas fotos no Photoshop. Também há a possibilidade de ajuste em casos de contrastes de luz menores pelo uso da ferramenta Sombra/Realce (Shadow/Highlight), no menu Imagem > Ajustes (Image >

Adjustments) do Photoshop.

OPÇÕES CRIATIVAS

O panning é outra técnica usual para fotografar um fundo esteticamente significativo. Para exemplificar, imagine um casal de araras-vermelhas voando sobre um

barranco em meio à floresta amazônica. O fotógrafo tem, pelo menos, duas alternativas principais de uso da velocidade do obturador para fotografá-las: congelar o movimento com uma velocidade suficientemente alta, buscando perfeita nitidez das araras e do fundo, ou, com uma velocidade de obturador baixa, acompanhar o movimento das aves com a câmera, como se fosse uma filmadora. Isso é o panning.

Com essa técnica, o fundo torna-se um borrão que sugere a ideia de movimento e destaca ainda mais o motivo principal da foto. Para fazer a imagem das araras-vermelhas usei uma tele de 500 mm, sem foco automático, com 1/60s de velocidade e abertura f/8. Hoje, as objetivas Nikkor e Canon com foco automático

rapidíssimo e a tecnologia para evitar vibração permitem resultados ainda melhores e com mais chances de sucesso em menos tentativas.

Uma foto deve ser vista como uma forma completa, uma gestalt (termo alemão que pode ser traduzido por “forma”, bastante usado nos estudos de psicologia e percepção visual), em que todos os elementos são importantes e se inter-relacionam. Ao fotografar, o

profissional deve “varrer” o quadro do visor com o olhar, alternando a atenção entre figura e fundo, e considerar a ação de todos os elementos na composição final.

No Lajedo do Pai Mateus, perto de Campina Grande, na Paraíba, imensos matacões, pedras grandes com formato arredondado,

repousam sobre o solo de granito

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como se tivessem sido colocados ali depois da formação da crosta terrestre. Não caíram de alguma montanha, pois elas não existem na região. Estão soltos, parecendo isolados do chão.

A imaginação é instigada a perguntar como foram “colocados” naquele lugar. Devido à forma, alguns parecem quase levitar sobre a base de granito, tocando-a com leveza em apenas dois ou três pontos. Para ressaltar essa impressão paradoxal (blocos de pedra que pesam toneladas parecem querer se separar do chão e subir ao céu), o fotógrafo pode procurar um ângulo em que as pedras se separam visualmente do solo e, ao incluir nuvens na imagem, aumentar a ideia de leveza e levitação. Isso é atribuir significado ao fundo. Interessado em explorar essa ideia, no mesmo local fiz outros estudos de figura e fundo, usando também flash e as cores do céu e das nuvens para investigar essa relação.

São nas fotos de aves e outros animais ariscos, geralmente realizadas com teleobjetivas grandes, que a relação figura e fundo fica mais evidente. O tema principal da foto, a figura, é o animal. A iluminação, as cores, a postura e a expressão são fundamentais, mas o diferencial de uma bela imagem pode ser justamente o menosprezado fundo.

Fotografei o galo-de-campina, também na caatinga, onde essa espécie é um passarinho comum e típico. Nesse exemplo, acredito que é a posição da ave em relação ao fundo a principal característica da foto. As cores e o padrão da plumagem foram realçados pela cor e textura do galho. No mesmo local, registrei outro exemplar da espécie com o fundo funcionando como uma moldura lateral.

DETALHES

Exemplos de como a relação figura e fundo influencia na percepção final de uma foto não faltam. Como na imagem do

Acima, a posição do pássaro em relação ao fundo de galhos ressalta a plumagem da ave; abaixo, o destaque vem com o uso criativo das folhas, que emolduram o galo-de-campina

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canário-da-terra, feita também na caatinga. Depois de fazer a foto, senti uma certa insatisfação com a folha que estava ao fundo, à direita do canário. Assim, optei por eliminar esse fator de distração na composição com a ferramenta carimbo do Photoshop. Devido à posição e proximidade com os olhos da ave, a folha chamava muita atenção; a remoção de um detalhe do fundo fez toda a diferença.

EVITAR PROBLEMAS

Figura e fundo constituem uma relação em que a posição ou a orientação dos componentes da foto determinam a qualidade desse

vínculo. Na foto do canário-da-terra, pude eliminar a folha que me incomodava depois. Mas muitas vezes podemos resolver esse problema já na hora de fotografar.

Na Serra das Almas, registrei um urubu-de-cabeça-amarela, que desceu e pousou próximo ao chão, a poucos metros de mim. Garimpei uma brecha na intrincada mata de caatinga, evitando que folhas e galhos aparecessem no primeiro plano. Liguei o flash e fotografei imediatamente, para não perder a oportunidade. Na primeira foto, gostei da postura do pássaro, mas me incomodou o fundo, cujas folhas, ainda que desfocadas, se

confundem com a cabeça do urubu, que é um destaque.

Logo depois, a ave olhou para o outro lado e fiz uma nova foto. Na segunda imagem, repare na diferença da relação da ave com as folhas, da figura com o fundo.

Concordo que os exemplos que usei no artigo evidenciam apenas detalhes da imagem. Contudo, fotografia é um negócio muito sério para todos nós, profissionais ou experts. Ao controlar essas pequenas coisas, aprimoramos a técnica, ampliamos as possibilidades e atingimos um padrão estético com resultados cada vez mais recompensadores.

Acima, à esq., uma folha ao fundo une-se ao bico do canário; à dir., a imagem corrigida no computador, com o pássaro destacado; abaixo, à dir., o mesmo incômodo visual é causado pelos galhos atrás da cabeça do urubu; à dir., o novo enquadramento melhorou a composição

Referências

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