Psicologia Evolucionista:
Comportamento Social
Ana França
Ana.franca@unama.br
Unidade IV: Comportamento Social
Evolução da Inteligência e Cognição Social Comportamento Moral
Agressividade Humana Comportamento Alimentar
Espécie humana
Há uma série de particularidades na espécie: postura bípede, tamanho do cérebro, nascimento prematuro e infância
prolongada, polegar opositor, poucos pelos corporais, linguagem verbal e capacidade simbólica são alguns exemplos.
Evidências de que estas características são resultados da
seleção natural para otimizar nossa sobrevivência e reprodução.
Iconográfico:
http://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/caracteristicas-homo-sapiens/
Iconográfico:
O que é Inteligência
O termo é comumente usado para abranger aquela combinação de
habilidades necessárias para resolução de problemas necessários para a sobrevivência e para o avanço em uma determinada cultura.
Binet e Simon e QI(1905): A habilidade para julgar bem, entender bem e raciocinar bem.
Gardner e as Múltiplas Inteligências(1986): A habilidade ou capacidade para solucionar problemas ou para confeccionar produtos que são valorizados dentro de um ou mais arranjos culturais.
Goleman e a Inteligencia Emocional (1986): As habilidades de reconhecer as próprias emoções e sentimentos quando ocorrem; lidar com os próprios
sentimentos, adequando-os a cada situação vivida; dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal; reconhecimento de emoções em outras pessoas e empatia; interação com outros indivíduos utilizando competências sociais.
Relação entre inteligência e
tamanho cerebral
Altos custos de um cérebro grande: será nosso cérebro maior que o esperado?
Dunbar (2006): ser Humano tem um cérebro 3 vezes superior ao que seria de esperar para um mamífero do seu porte.
Herculano-Houzel (2009): nosso cérebro não é maior do que o esperado, se comparado com outros primatas (exceto gorilas,
orangotangos e chimpanzés); além disso, não temos 100 bilhões de neurônios, mas cerca de 86 bilhões - bem perto do esperado para um cérebro primata de 1.5 kg.
De qualquer forma, o volume cerebral tem custos: maior consumo calórico, complicações no parto e nascimentos precoces são alguns
Pela lei da seleção natural os benefícios de um órgão tão caro terão de ter compensado os custos para os seus portadores (Goleman,2007).
Coeficiente de
encefalização
(http://www.mdig.com.br/index.p hp?itemid=31434)
Cognição Social e
modularidade
Cognição social refere-se ao conjunto de processos cognitivos que tornam possível o desenvolvimento social humano. (VASCONCELOS, JAEGER, PARENTE e HUTZ, 2009)
Analogia do “canivete suíço”: a mente abarca um conjunto de funções especializadas que, por sua vez, coexistem em um mesmo aparato. Assim, pressões evolutivas favoreceram a sofisticação de
determinadas funções cognitivas, tais como raciocínio, memória e linguagem, bem como novos mecanismos de interação social.
Dessa forma, a inteligência foi desenvolvida para dar resposta às exigências sociais de grupos socialmente complexos.
O cérebro humano não é uma máquina de processamento genérico mas sim constituída por módulos especializados para o desempenho de tarefas específicas (Módulos mentais).
Bases Biológicas da Inteligência e
Cognição Social
Fatores genéticos versus ambientais
Não há acordo nem sobre a definição nem sobre a natureza da inteligência
Herdamos o nosso potencial intelectual dos nossos antepassados? Ou nosso potencial intelectual é principalmente determinado pela nossa ontogênese e sociogênese?
O quanto o meio ambiente influencia na expressão do gene? (genes como banco de dados)
Tanto hereditariedade quanto ambiente têm um grande papel da determinação da inteligência
Comportamento Moral
É possível falar em imposição de um determinismo biológico sobre o psiquismo e a conduta moral?
Psicólogos Evolucionistas somente recentemente têm considerado o tema “comportamento moral”.
Se somos “biologicamente culturais”, nada mais lógico do que pensar que biologicamente foram selecionados mecanismos a evolução de comportamentos morais, selecionando habilidades para a
internalização de normas de convivência.
Estudos de comportamento econômico humano revelam que as
pessoas geralmente se engajam em forte reciprocidade, punindo quem engana e esperando punição se eles mesmos enganam.
“O homem é um animal que se domesticou a si mesmo com a
emergência da cultura” (LEVI-STRAUSS, 1976 apud QUEIROZ, 2009, p.127)
Bases biológicas da moralidade
Darwin acreditava que nos humanos somos um animal moral: temos como refletir sobre nosso próprio comportamento e dos outros, através de atributos como consciência, memória e julgamento.
Cartwright (2000 apud YAMAMOTO, ALENCAR e LACERDA, 2009) afirma que a moralidade é um meio através do qual os indivíduos tentam induzir o moralismo no outro, em seu próprio interesse: “… A cooperação e as emoções envolvidas nas trocas sociais nos privam de benefícios de curto prazo em favor de benefícios potencialmente
maiores de longo prazo, através da retribuição” (p.142)
Segundo Wright (1996, apud YAMAMOTO, ALENCAR e LACERDA, 2009), não somos naturalmente animais morais. Para que nos
tornemos morais, precisamos perceber até que ponto não o somos. As decisões relativas ao comportamento moral estão intimamente ligadas à emoção e não somente à razão.
Agressividade Humana
É possível falar em uma “natureza humana” agressiva?
Todas as sociedades humanas possuem alguma conduta agressiva.
Boa parte da agressividade humana manifesta-se através de rituais. Segundo Darwin, o
homem parece partilhar com outros animais variados comportamentos não verbais
indicadores de agressividade.
Bueno (em entrevista para GUILAYN, 2014): 90% dos atos violentos são cometidos por
homens. Os homens têm mais testosterona, o hormônio da masculinidade, que tem relação indireta com a agressividade, promovendo a dominância social.
Bases biológicas da agressividade
Sentimentos de raiva devem ser entendidos como elementos fisiológicos cuja variação genética foi selecionada ao longo de milhões de anos de evolução. “As formas particulares de violência organizada não são herdadas, embora se possa perceber uma predisposição inata para a construção de um aparato cultural agressivo… (QUEIROZ, 2009, p. 129)
O estudo da agressão exige a contextualização do fenômeno. Há uma multiplicidade de variáveis envolvidas que precisam ser consideradas: biológicas, psicológicas, ambientais, socioculturais, econômicas etc). A explicação biológica da agressividade não pode se transformar em
justificativa para cometer mais atos violentos e eludir penas de prisão. O fator genético não exime ninguém da responsabilidade por seu comportamento.
Comportamento Alimentar
Há uma série de universalidades de hábitos alimentares na nossa espécie.
Lopes (2009): A dieta de nossos antepassados (1,5 milhão de anos atrás) era baseada em frutos, folhas e grãos. A entrada da carne (40 mil a 10 mil anos atrás) em nossa dieta (primeiramente através da carniça e depois da caça) permitiu a reserva energética para desenvolvimento do cérebro e das relações sociais.
Assim nos tornamos uma espécie onívora: proteínas, carboidratos, gordura, vitaminas, minerais e água. Apesar das diferenças
culturais nos hábitos alimentares, todas as dietas possuem os nutrientes essenciais.
Alimentos, AAE e
“novidades”
No ambiente ancestral, devido ao nomadismo, novos alimentos tinham que ser avaliados, pois podiam ser tóxicos.
Hoje as escolhas estão mais ligadas às preferências dos alimentos já conhecidos.
“… Porém, ainda carregamos e nossos genes predisposições que eram adaptativas às pressões sofridas naquele ambiente hostil e que hoje, diante das alterações das condições de vida, não mais o são.” (LOPES, 2009, p. 158).
Neofobia alimentar: desconfiança inicial em ingerir um alimento. Ligado à sobrevivência, evitação de toxidade.
Rocky Mountain Oysters (Testículo de búfalo)
Rocky Mountain Oysters (Testículo de búfalo)
Khash Dish (pés, cérebro e estômago de vaca)
Khash Dish (pés, cérebro e estômago de vaca)
Tarântulas fritas
Tarântulas fritas Olhos de atumOlhos de atum
Sopa de ninho de andorinhas
Sopa de ninho de andorinhas
http://www.muitofixe.pt/10-alimentos-muito-estranhos-vendidos-em-restaurantes/
Disponibilidade de
Alimentos
AAE: escassez de alimentos: “… A restrição de acesso a fontes de energia pode ter levado o nosso organismo a adotar um modo conservador de
energia, tanto na absorção, quanto no seu uso” (LOPES, 2009, p.161) Dias atuais: enorme facilidade em repor energia gasta: alimentos
encontrados com facilidade , sua disponibilidade em geral é grande. “… Hoje, a maioria de nós pode se dar ao luxo de comer mais gordura, açúcar e sal do que é biologicamente adaptativo...” (LOPES, 2009, p. 161)
Surgimento de doenças como obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes etc, por causa da diminuição do gasto de energia associado ao aumento da ingestão de energia.
A despeito da modificação do AAE, nosso corpo continua agindo como se precisasse prever períodos de escassez.
Nunca se soube tanto sobre nutrição e bem-estar. Precisamos fazer uso
desse conhecimento para mudar nosso padrão alimentar, melhorando nossa qualidade de vida.
Concluindo...
Compreender o fenômeno como um todos, em suas causas próximas e finais.
A evolução nunca, em situação alguma, pode ser entendida de modo isolado das circunstâncias, do contexto, do ambiente de vida dos
organismos.
O comportamento social, nas suas variadas manifestações só será compreendido em sua plenitude se for contextualizado em suas variáveis biológicas, históricas, ambientais, psicológicas, sociais, ,políticas, econômicas etc.
Não se pode negar a base biológica do comportamento social, nem de nenhum outro.
Para que se possa compreender o comportamento humano em sua totalidade , precisamos considerar que os requisitos para a vida social foram estabelecidos ao longo de prolongado processo evolutivo.
Referências
DUNBAR, R. A história do homem: uma nova história da evolução da humanidade, Lisboa, Quetzal Editores. 2006.
GUILAYN, P. Nós nascemos com distintas tendências à agressividade. 02/05/2014. Disponível em http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/nos-nascemos-com-distintas-tendencias-agressividade-12358809. Acesso em 30 mai 2016
HERCULANO-HOUZEL, S. Somos apenas grandes primatas - e agora? Disponível em
http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2009/2/12/somos-apenas-grandes-primatas-e-agora.html. Acesso em 23 mai 2016.
LOPES, F.A. Somos o que comemos: a universalidade do comportamento alimentar humano. In: OTTA, E.; YAMAMOTO, M. E. (Orgs). Fundamentos de psicologia:
psicologia evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. pp. 157-162.
QUEIROZ, R.S. Agressividade humana: contribuições da psciologia evolucionista e da antropologia. In: OTTA, E.; YAMAMOTO, M. E. (Orgs). Fundamentos de psicologia: psicologia evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. pp. 127-132 VASCONCELOS, S. J. L.; JAEGER, A.; PARENTE, M.A.; HUTZ, C.S. A psicologia evolucionista e os domínios da cognição social. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jul-Set 2009, Vol. 25 n. 3, pp. 435-439
YAMAMOTO, M.E.; ALENCAR, A.I.; LACERDA, A.L.R. Comportamento moral, ou como a cooperação pode trabalhar a favor de nossos genes egoístas. In: OTTA, E.; YAMAMOTO, M. E. (Orgs). Fundamentos de psicologia: psicologia evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. pp. 133-143.