Autora:
Thamara Bensi
Sinais Precoces do Transtorno
do Espectro Autista
3 Sinais Precoces do Transtorno do Espectro Autista
3 SINAIS PRECOCES DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
Sinais Precoces do Transtorno
do Espectro Autista
Atualmente o autismo é classificado como um transtorno invasivo do desenvolvimento, no qual, envolve graves dificuldades em habi-lidades sociais e comunicativas. Para quem não é familiarizado com tal demanda, a palavra “autismo” significa “ausente” ou “perdido”, o que facilita o entendimento do que envolve esse transtorno.
O TEA vem se tornando um transtorno conhecido, porém pouco se sabe sobre ele, principalmente com relação aos sintomas “não apa-rentes”. Portanto o objetivo desta apostila é facilitar a observação de sinais precoces do TEA e principalmente citar e fazer-se enten-der a importância que esse olhar possui no prognóstico.
A suposta incurabilidade do autismo pode estar ligada, em grande parte, aos encaminhamentos tardios para o tratamento. No entan-to, vale ressaltar que nos primeiros anos de vida os sinais indicati-vos de risco não são tão percebidos ou até são, porém não são valo-rizados pelos pais, familiares e médicos.
O que normalmente ocorre é que as pessoas só começam a se preo-cupar com a criança quando o atraso na fala ou em algo extrema-mente aparente é notado, atrapalhando de forma direta o desenvol-vimento e a interação do indivíduo, indo contra ao que é esperado para determinada fase.
Partindo deste pressuposto, para observar sinais precoces de TEA é necessário entender o que é esperado para um desenvolvimento saudável do indivíduo.
Importância dos primeiros anos de vida x Desenvolvimento infantil
Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para esta-belecer os alicerces das suas aquisições futuras, ou seja, para o de-senvolvimento físico, emocional, cognitivo e cultural. Portanto, a
promoção da saúde integral da criança possui ligação direta com seu potencial a ser apresentado.
A importância das relações interpessoais iniciais e a estruturação neurobiológica.
O período entre o nascimento até os 3 anos de idade, apresentam influência na estruturação do sistema nervoso do indivíduo, res-ponsável pelas aquisições adquiridas pela criança. Tal período pos-sui ligação com habilidades dirigidas aos aspectos motores e da lin-guagem, salientando sua importância.
O desenvolvimento morfológico do Sistema Nervoso (SN) inicia-se desde as primeiras semanas do período embrionário. A partir desse momento, sabemos que diferentes modificações ocorrem, organi-zando as estruturas neuronais.
Essa estrutura neuronal do indivíduo faz com que haja um comple-xo neuroquímico de neurotransmissores (principalmente a dopa-mina, noradrenalina e serotonina). Tal complexo é responsável por atuar progressivamente na ativação de circuitos, promovendo fun-cionamento e interação.
Dessa forma, desde o nascimento, o cérebro do indivíduo mostra-se bem constituído para que ocorra correlação entre os estímulos do mundo externo e sua internalização. Portanto, o estabelecimento contínuo dos vínculos entre o meio ambiente e a criança atua como aprendizados cujos registros terão expressão na estrutura neuro-biológica e emocional.
Atualmente, acerca da teoria ligada à neurociência, afirma que as relações vinculares precoces interferem no estabelecimento ou modificação comportamental do indivíduo, além de corresponder ao processo de modelação do circuito neuronal.
Sendo assim, adquire valor a relação vincular inicial entre mãe-be-bê, em seu desenvolvimento global. É a partir dos estímulos que o bebê vai criando seu alicerce neuronal e consequentemente desen-volvendo suas habilidades funcionais, ou seja, para adquirir uma
5 SINAIS PRECOCES DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
estrutura neuronal consistente, as conexões sinápticas dependerão da qualidade e, principalmente da persistência da sucessão desses estímulos precoces.
A partir dessa linha de raciocínio, estreita-se o laço acerca da defi-nição citada pelos Psicanalistas diante do TEA.
Relação entre psicanálise, sinais precoces de TEA e o desenvolvimento infantil
Segundo autores psicanalíticos, o TEA nada mais é que um defeito na estruturação psíquica do sujeito, por conta de um fracasso do cir-cuito pulsional. Partindo da concepção da teoria Freudiana em sua teoria das pulsões, afirma que este circuito pulsional engloba três tempos, tendo como finalidade a obtenção da satisfação pulsional. Os três tempos são classificados como:
1. Ativo:
Interação do bebê e o objeto oral, no caso, seio ou mamadeira, o agarrando.
2. Reflexivo:
Processo autoerótico, ou seja, se apropria de uma parte de seu corpo como objeto pulsional, ou seja, o bebê chupa o próprio dedo ou pé. 3. Passivo:
O Bebê se faz objeto de pulsão da mãe, ocorrendo assim a necessá-ria alienação para surgir um novo sujeito. Sendo uma passividade apenas aparente, pois, na realidade é ativamente que o bebê con-duz o processo.
Importância do Diagnóstico precoce:
Portanto, afirma-se que em crianças com TEA, o terceiro tempo do circuito pulsional é ausente. Desta forma, identificar a presença
desta fase no desenvolvimento da criança é fundamental para que se possa fazer um diagnóstico precoce, antes que se instale a sín-drome autística.
É importante salientar que, independente da causa que gera a não estruturação deste circuito pulsional, é que ele pode ser e estabele-cer, caso haja uma certa contribuição libidinal e principalmente se ocorrer antes dos três anos de idade.
Para o diagnóstico precoce ser realizado é fundamental que seja de-tectado a existência de um sujeito no bebê, ou seja, para que isso ocorra, é necessário interferência do meio em que ele está inserido e de suas relações afetivas.
Sinais Precoces
Devemos considerar que, no caso de um sujeito com risco de evo-lução de um quadro de TEA, trata-se de uma problemática com re-lação a sua interação com o mundo, ou seja, o foco principalmente deve ser a qualidade das primeiras relações afetivas estabelecidas e como as mesmas foram estruturadas.
Portanto, é necessário para um diagnóstico precoce, observar o de-senvolvimento infantil e notar se o seu percurso
Na tabela abaixo estão descritos os marcos mais importantes para a avaliação dos si-nais e sintomas de risco para o TEA.
IDADE DESENVOLVIMENTO
NORMAL SINAIS DE ALERTA
2 MESES • Criança fixa o olhar; • Reage ao som;
• Bebê se aconchega no colo dos pais e troca olhares (mamadas e trocas de fralda);
4 MESES • Emite sons;
• Mostra interesse em olhar rosto de pessoas, respondendo com sorriso, vocalização ou choro; • Retribui sorriso;
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IDADE DESENVOLVIMENTO NORMAL SINAIS DE ALERTA 6 MESES • Sorri muito ao brincar com
pessoas; • Localiza sons;
• Acompanha objetos com olhar;
• Não tem sonisos e expressões alegres;
9 MESES • Sorri e ri enquanto olha para as pessoas;
• Interage com sorrisos, feições amorosas e outras expressoes; • Brinca de escondeachou; • Duplicas sílabas;
• Não responde às tentavas de interaçao feita pelos outros quando estes sorriem fazem caretas ou sons;
• Não busca interaçao emindo sons, caretas ou sorrisos; 12 MESES • Imita gestos como dar tchau e
bater palmas;
• Responde ao chamado do nome; • Faz sons como se fosse conversa
com ela mesma;
• Não balbucia ou se expressa como bebê;
• Não responde ao seu nome quando chamado; • Não aponta para coisas no
intuito de compartilhar atenção;
• Não segue com olhar gesto que outros lhe fazem; 15 MESES • Troca com as pessoas muitos
sorrisos, sons e gestos em uma sequencia;
• Executa gestos a pedido; • Fala uma palavra;
• Não fala palavras que não seja mama, papa, nome de membros da família;
18 MESES • Fala no mínimo 3 palavras; • Reconhece claramente pessoas
e partes do corpo quando nomeados;
• Faz brincadeiras simples de faz de conta;
• Não fala palavras (que não seja ecolalia);
• Não expressa o que quer; • Utiliza-se da mão do outro
para aponta o que quer 24 MESES • Brinca de faz de conta;
• Forma frase de duas palavras com sentido que não seja repetição; • Gosta de estar com crianças da mesma idade e tem interesse em brincar conjuntamente; • Procura por objetos familiares
que estão fora do campo de visão quando perguntado;
• Não fala frase com duas palavras que não sejam repetição;
IDADE DESENVOLVIMENTO NORMAL SINAIS DE ALERTA 36 MESES • Brincadeira simbólica com
interpretação de personagens; • Brinca com crianças da mesma
idade expressando preferências; • Encadeia pensamento e ação nas
brincadeiras (ex.: estou com • sono, vou dormir);
• Responde a perguntas simples como “onde”, “o que”;
• Falam sobre interesses e sentimentos;
• Entendem tempo passado e futuro;
Qualquer perda de linguagem, capacidade de comunicação ou habilidade social já ad-quirida em qualquer idade.
Fonte: elaborado com adaptações à partir de Figueiras, Souza, Rios, Benguigui,(2005); Fuentes et al., (2012); Autism Speaks (2013)
O que precisamos?
• Maior rigor no treinamento de especialistas; • Preocupação com diagnóstico precoce;
• Eliminação do pensamento simplista: É ou NÃO É;
• Exigir diagnóstico, laudo e programação terapêutica e educacional.
REFERÊNCIAS
CAMPANÁRIO, Isabela Santoro. Espelho, espelho meu: A psica-nálise e o tratamento precoce do autismo e outras psicopatolo-gias graves. Salvador: Ágalma, 2008.
BERNARDINO, Leda Maria Fischer (org.). O que a Psicanálise pode ensinar sobre a criança, sujeito em constituição. São Pau-lo: Escuta, 2006.
9 REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund (1915) As pulsões e suas vicissitudes, v. XIV, ESB. RJ: Imago,1990.
_________ (1911) Formulações sobre dois princípios do funciona-mento psíquico, v.XII. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
JERUSALINSKY, Julieta. Enquanto o futuro não vem: A Psicaná-lise na clínica
interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma, 2002.
LACAN, Jacques. (1953). Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise, in:Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, l988. _________ (1955- 56) O seminário, livro 3, as psicoses. RJ: Jorge
Zahar, 1985.
LAZNIK, Marie-Christine. A voz da sereia: O autismo e os impas-ses na constituição do sujeito. Salvador: Ágalma, 2004.
_________ Risco de autismo em bebês. O bebê e a modernidade: abordagens teórico-clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
_________ (1999) Entrevista com Marie-Christine Laznik por Lau-ra Battaglia, in: A voz da sereia. O autismo e os impasses da constituição do sujeito. Salvador: Ágalma, 2004.