EMINENTE SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR COMPONENTE DO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Recurso em Expediente Administrativo nº135.745/2011
A acusação é sempre um infortúnio enquanto não verificada pela prova. Rui Barbosa
MEMORIAL DO RECLAMANTE
Trata-se de Reclamação Disciplinar proposta pela OAR Consultants Co. em face do Juiz da 18a Vara Cível do Fórum Central de São Paulo com o objetivo de apuração de conduta suspeita, concretizada por inadequação de conduta
Esta corte tem absoluto conhecimento do ensinamento do filósofo Sócrates ao deixar consignado que: “Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente.”
com absoluta violação ao princípio da imparcialidade que deve nortear os atos e atividades do Juiz.
Sapientes, com a devida vênia, os fatos desta representação merecem investigação.
Esta respeitável corte demonstra que a ocupação de cargo público exige grande responsabilidade com diversos sacrifícios, humildade, serenidade, discernimento, compostura e discrição e exige vocação e dedicação para servir com ética e realizar o bem comum.
Hodiernamente, é fato notório que o Poder Judiciário e as demais instituições, sustentáculos do estado democrático de direito, estão sofrendo constantes ataques, muitas vezes sem
qualquer espécie de racionalidade, motivadas unicamente pela imprensa e seu privilégio pelo faturamento.
A deformidade dos acontecimentos é fenômeno freqüente dos meios de comunicação, mas também não deve ser generalizado, pois quando o fato tem procedência sua investigação e apuração é extremamente salutar ao regime democrático, permitindo o aperfeiçoamento das instituições do sistema vigente.
Países civilizados fiscalizam a magistratura, exigem transparência e punem exemplarmente eventuais desvios, mas sem prejulgamentos, frases de efeito e linchamentos midiáticos em espetáculos pirotécnicos.
Ocorre que, a presente representação traz a lume terrível desvirtuamento de conduta que merece ao menos investigação.
Então, ao tomar conhecimento destes cinco pontos, eu suplico que Vossa Excelência, componente deste órgão julgador, que é o coração do judiciário paulista, perquira se o conteúdo não desperta nenhum indício de desvio de conduta do magistrado ou mais, se alguma vez, ao longo de toda Vossa brilhante carreira, houve prática de algum ato parecido com os enumerados abaixo.
(I) PRIMEIRO FATO - Novembro de 2010, após atuação enérgica do síndico da massa falida em conjunto com a representante houve recuperação de ativos financeiros na ordem de 800 milhões de reais.
Então, surge no processo um personagem NOVO e estranho à falência, curiosamente, amigo íntimo e advogado pessoal do eminente juiz representado. (FATO CONFESSO PELO PRÓPRIO JUIZ EM SUA DEFESA PRÉVIA.)
Desta forma, o advogado começou a estabelecer contato com a massa falida, com a alegação de que era amigo íntimo do magistrado e que através de sua ingerência seria mais fácil a celebração de acordo perante o respeitável juízo da falência. (Este fato foi objeto de reclamação do presidente do banco rural à época, Sr. Plauto, ao síndico da massa falida que se reportou ao juiz, este item está detalhado no item 16, folhas 667).
(II) SEGUNDO FATO - 25 de Abril de 2011, o magistrado, mesmo ciente da suposta “venda de prestígio” estreita o seu laço de amizade com o advogado e a exterioriza com a
nomeação da esposa de seu advogado para o cargo de co-síndica da falência, com remuneração elevadíssima.
Sapiente Desembargador é IMPARCIAL o juiz que nomeia a mulher do seu advogado e amigo íntimo para o cargo de co-síndica da falência?
(III) TERCEIRO FATO - O juiz representado, mediante visita da senhora Kátia Rabelo em seu gabinete, indica “ainda que de forma branca” seu advogado para celebração de acordo no processo de falência, na ocasião o magistrado referendou a constituição de seu advogado pessoal para representar a “Securinvest” uma das empresas do “Grupo Rural”.
O douto magistrado representado confirmou a visita da Sra. Kátia Rabello, Fls. 1.079/1080.
A maior confirmação da visita é o fato de que a procuração da Sra. Kátia Rabelo, que constituiu o advogado pessoal do juiz como seu representante é imediatamente posterior à sua visita.
Eminentes julgadores, não há desvio de conduta na atitude do magistrado que indica seu advogado pessoal e amigo íntimo para uma das partes envolvidas no processo?
(IV) QUARTO FATO – 5 de Setembro de 2011, o advogado pessoal do magistrado recebe procuração específica para requerer a suspensão da falência, o pedido é realizado e DEFERIDO.
Então, o advogado, mostrando-se influente, obtém procuração com poderes específicos para propor o acordo.
DA SITUAÇÃO QUE SE INSTALOU:
A ESPOSA DO ADVOGADO DO MAGISTRADO DE UM LADO, NOMEADA CO-SÍNDICA DA FALÊNCIA.
O ADVOGADO PESSOAL DO JUIZ DE OUTRO LADO, REPRESENTANTE DOS FALIDOS, SENDO AMIGO ÍNTIMO DO MAGISTRADO.
(V) QUINTO FATO – 20 de setembro de 2011, na qualidade de procurador e com pedido de suspensão deferido o advogado do magistrado e representante de uma das empresas da
massa falida, mostrando-se altamente influente, é constituído em nova procuração com poderes específicos para transigir, então, oferta proposta de acordo objetivamente inferior às anteriores.
A proposta é homologada pelo magistrado com absoluto desprezo à manifestação contrária da massa de credores que ofertou agravo de instrumento e à manifestação do ministério público que solicitou audiência para esclarecimento do acordo.
O agravo interposto tem a relatoria do Eminente Desembargador Hamilton Elliot
Akel, que concedeu liminar suspendendo a eficácia da decisão e após o provimento o JUIZ
REPRESENTADO CELEBROU NOVO ACORDO NO PROCESSO FALIMENTAR.
A manifestação de inconformismo dos credores relacionada à atuação do magistrado na condução do processo é declarada, houve apresentação de exceção de suspeição por um credor da quantia de seis milhões.
DA SITUAÇÃO DA FALÊNCIA
O passivo da falência está em torno de 1,2 bilhões de reais.
O VALOR RECUPERADO PELO REPRESENTANTE EM ATUAÇÃO COM O SÍNDICO SUPERA OS 800 MILHÕES DE REAIS.
O acordo foi celebrado no valor de 200 milhões de reais, absorvendo somente o passivo trabalhista da massa. O pacto prejudica mais de 800 credores QUE NADA RECEBERÃO.
Emintentes, ao que tudo indica há algo estranho no trâmite do processo que deve ser investigado.
CONCLUSÃO
Excelentíssimo Desembargador, conforme os pontos expostos, não se trata de reclamação pelo ato jurisdicional, não há intuito algum em denegrir a imagem do magistrado, HÁ SIM, FORTES INDÍCIOS DE DEFORMIDADE COMPORTAMENTAL QUE MACULAM A IMPARCIALIDADE DO JUIZ E VIOLAM O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
Desta forma, as acusações formuladas em face do magistrado devem ser devidamente apuradas com a admissão da presente representação com o objetivo de perquirir todas as circunstâncias do ocorrido com afastamento imediato e preventivo do magistrado do cargo.
Sapiente, claro está que esta corte não se deixa sensibilizar pelo clamor público, pois é tocada somente pelo espírito da lei e nestes termos, requer a admissão da presente representação.
FAZENDO-SE A MELHOR JUSTIÇA.
Nestes termos, pede deferimento.
São Paulo, 03 de Maio de 2011.