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Avaliação e ensino: O uso de trabalhos escolares como instrumento de avaliação e as consequências na aprendizagem

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Academic year: 2021

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

Avaliação e ensino: O uso de “trabalhos escolares” como instrumento de avaliação e as consequências na aprendizagem

Marídea Santos Pessanha Soares* E-mail:marifoto2007@yahoo.com.br

Resumo

O presente artigo pretende promover uma reflexão, em torno do uso de algumas metodologias de ensino, com trabalhos escolares, tais como as “pesquisas” e os “trabalhos em grupo”, as quais tem sido amplamente utilizada por educadores na educação básica, como instrumentos de avaliação, ocasionado sérias consequências na aprendizagem. O uso banalizado dessas atividades em sala ou “para casa”, tem demonstrado que o aluno não está desenvolvendo o tão aclamado senso crítico, disseminado pela pedagogia moderna, nem tão pouco está assimilando o conteúdo mínimo das disciplinas. Algumas teorias apontam a pesquisa como recurso de aprendizagem, já que ela possibilita o aluno, através da experiência e do questionamento científico, a aquisição de conhecimento. No entanto, não está havendo por grande parte dos educadores, uma orientação correta na execução e avaliação desses trabalhos escolares, deixando uma sensação de que os mesmos tem valido apenas para compor notas e médias na escola. Por outro lado, os alunos viraram meros realizadores de tarefas, cumprindo-as de forma mecânica e acrítica. Se desejamos um educação de qualidade, é mister reavaliarmos nossas práticas dentro e fora da sala de aula, refletindo sobre o quanto certas metodologias tem servido apenas para a reprodução de um sistema social excludente.

Palavras Chave: metodologia, avaliação, aprendizagem, inclusão

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*Professora de Sociologia da Rede Estadual de Ensino; Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Candido Mendes, Pós-graduanda do Curso de Especialização em Docência do Ensino Básico (Sociologia).

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes INTRODUÇÃO

Estamos vivenciando na educação pública, especialmente no ensino médio, uma realidade preocupante: Como podemos atender as exigências do sistema de educação, no que concerne avaliar o aluno através de, no mínimo três avaliações bimestrais, e ao mesmo tempo conseguir trabalhar efetivamente o conteúdo das disciplinas com o tempo de aula tão escasso? No caso de disciplinas como Filosofia e Sociologia, a situação ainda é mais agravante. Como conseguir em apenas um tempo de aula, disponibilizado para essas disciplinas, trabalhar os conteúdos de forma eficaz? Na tentativa de equalizar esse problema, atender conteúdo escolares e meios avaliativos, creio estarmos adotando uma solução, no mínimo inadequada, sacrificando muitas vezes o conteúdo das disciplinas, a fim de poder alcançar a média mínima exigida pelo sistema escolar. Na prática, o que observo, são professores desesperados, solicitando aos seus alunos, pesquisas, trabalhos em grupo, e outros similares, com o mesmo objetivo, servir de instrumentos para a composição da média bimestral. A meu ver, o problema não está somente no número de avaliações definidos pelos professores, alguns chegam a dar seis ou mais tipos de avaliação durante o bimestre, a fim de garantir que o aluno alcance a média. O equívoco, também, não está na utilização dos instrumento citados, mas na forma como essas experiências estão sendo realizadas com os nossos alunos, repito, sacrificando o ensino dos conteúdos, em nome de metas que devem ser alcançadas a qualquer custo. O resultado disso, é que os nosso alunos não estão assimilando o mínimo do que deveriam, e o aprendizado nessas escolas, já está seriamente comprometido. Surge, então, diante de nós, educadores um desafio: como sair desse círculo vicioso, alunos realizando tarefas para obterem nota e professores “avaliando” para cumprirem metas escolares?

1. COPIANDO SE APRENDE?

Quantos às tarefas realizadas pelos alunos para obterem notas, algumas me chamam bastante atenção: Quando os alunos são solicitados a desempenhar uma tarefa, aparentemente simples, como por exemplo, a leitura e a interpretação de um texto, seguida de elaboração de respostas, sobre esse mesmo texto , as mesmas são

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realizadas, em sua maioria, da forma mais elementar possível. Em geral os alunos transcrevem o parágrafo inteiro do texto, sem traçarem interpretação crítica alguma. Na oralidade, ocorre a mesma dificuldade, os alunos sequer conseguem desenvolver uma síntese com suas próprias ideias, não conseguem elaborar o mínimo de argumentação possível, dificuldade aliás, que advém da própria falta de compreensão do texto. Além disso, esses alunos não foram e não estão sendo instruídos por nós educadores, a explorar linguagens textuais de modo significativo, construindo argumentos críticos e estabelecendo relações com outros textos, os quais abordam assuntos similares. Na disciplina a qual leciono, Sociologia, a ausência de assimilação crítica dos textos trabalhados com os alunos, ocasionam perdas significativas no aprendizado dessa ciência, a qual só faz sentido, se manuseada pelo viés crítico.

Com essa mesma postura, a da cópia, os alunos desenvolvem pesquisas, quando solicitados, copiando o conteúdo das mesmas, com o comando de “copiar-colar” do computador, ou às vezes imprimindo diretamente o texto, citando ao final do “trabalho”, a fonte da suposta pesquisa que realizaram. E o pior, é que estamos aceitando isso! Já ouvi discursos de professores do tipo “pelo menos fizeram a pesquisa”, “pior do que copiar é não fazer”, ou até aqueles que acreditam que copiando se aprende. Sim, é possível aprender copiando, mas não no contexto que sigo relatando.

Na modalidade trabalho de grupo, outro dilema, como podemos precisar quem realmente participou? Em sua grande maioria, os grupos se formam por amizade ou afinidade, e quase sempre, há um do grupo, que realiza a tarefa inteira sozinho, quando no máximo dois alunos, deixando os outros integrantes assinarem o trabalho ao final, como se tivessem participado. Sobre esse problema, algum teórico da educação, poderia responder, que seria fácil discernir qual dos alunos realmente produziu, pois conhecemos o perfil dos nossos alunos, acompanhamos o seu desenvolvimento e desempenho em sala de aula, sendo assim, possível avaliá-los. Acontece, que essa noção se perde quando temos turmas que chegam a quase cinquenta alunos, realidade das classes de ensino médio do ensino público.

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Outra questão que deve ser problematizada é a estratégia a qual muitos educadores terminam adotando, quando decidem avaliar somente pelo viés “tradicional”, a “velha e boa” prova objetiva, sob a alegação de que a mesma poupa tempo na hora na correção. Realmente, pensando na realidade vivida por professores da rede pública, a grande maioria com duas matrículas e mais de vinte turmas para corrigir provas, entende-se porque essa estratégia tem sido adotada. Mas ela não está funcionando! O aluno fica acostumado com esse modelo e cria mecanismos para se “sair bem”, entre eles, o famoso “chute” ou a “cola” são recursos para os que não estudaram. Lembrando, que em muitas escolas no dia dessas avaliações, não necessariamente o próprio professor da disciplina é o aplicador de sua prova. Sendo essa missão, muitas vezes delegada a outros professores, torna-se difícil ter um sistema organizado para avaliar corretamente.

Sou a favor das provas discursivas, não como um único modelo, sugiro que ela possa ser mesclada com outros tipos de prova, como por exemplo a modalidade oral e a objetiva. Quanto à discursiva, creio que esse modelo permite ao educador avaliar o aluno sob diversos enfoques: a capacidade de desenvolver o tema, a coerência entre os parágrafos do texto, a capacidade de argumentação, entre outros fatores. Vale lembrar, que a mescla entre uma modalidade e outra, dá oportunidade ao aluno de demonstrar em quais delas, ele se desenvolve melhor, proporcionando ao professor uma avaliação mais fiel sobre o aluno. A prova oral, também aprecio muito, é uma oportunidade de nos aproximarmos do aluno, ver como ele utiliza a linguagem e cria conexões, além do fato de podermos dar orientações e avaliar em tempo real. Ao aplicar provas orais, já ouvi alunos chegarem até a minha mesa e dizer: “professora, estudei muito, mas estou tão nervoso, que esqueci tudo”. Em situações como essa, é possível criarmos condições para que o aluno controle o nervosismo e se estabilize, não devemos nos esquecer que já fomos alunos, e temos a consciência de que esse momento é altamente estressante. Nessas provas, costumo ser bastante flexível com meus alunos. A mesma questão, pode ser elaborada por eles, de diversas maneiras, com discursos extensos ou apenas alguns termos chave, mas todas podem levar a uma resposta razoável, dentro do esperado. Devemos ter essa flexibilidade com o aluno, deixar ele se expressar sem pressão, pois do contrário, ele pode ficar inseguro e consequentemente se desinteressar pela disciplina.

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes 2. PROBLEMATIZANDO O SISTEMA DE AVALIAÇÃO ATUAL

No que concerne à avaliação, não podemos deixar de mencionar a questão da avaliação em um único bimestre. Vários casos podem ser citados, desde alunos que não apresentaram avanço algum durante os bimestres, e ao final do último bimestre são aprovados, como um passe de mágica, avaliado sob a perspectiva de um ou vários trabalhos escolares, nos moldes da “pesquisa” e similares, aos quais já foram discutidos nesse trabalho. Há também os casos de alunos sem professor da disciplina durante três bimestres, e somente no último, quando um professor é admitido, os alunos são avaliados por todos os bimestres, em apenas alguns encontros. Seguido de casos, de alunos transferidos de outras escolas, onde não havia professor da disciplina e de situações, como por exemplo, alunos que se matriculam faltando poucos meses para terminar o ano letivo. Em todos os casos relatados, como avaliar, sem ser arbitrário, em tão pouco tempo? Esse sistema de avaliação e aprovação tem que ser repensado, pois a “flexibilização do sistema escolar”, o qual permite tais aberrações, tem mascarado a verdadeira condição escolar dos alunos e da educação, pois não geram dados fidedignos, colaborando para o fracasso do sistema escolar. Não podemos nos render aos números, a pressões externas e metas. Ou nos unimos a favor de um sistema, que possa incluir nosso aluno e lhes proporcionar verdadeiras condições de aprendizado, ou seremos eternos burocratas, e nosso papel se reduzirá a preencher formulários, relatórios e diários, banalizando todo o processo educativo.

As realidades citadas em relação ao binômio avaliação e aprendizagem demonstram um equívoco: estamos recorrendo a algumas metodologias de ensino, cujos resultados tem apontado justo o contrário, o anti-ensino. Tenho refletido muito sobre o uso de certos “trabalhos escolares”, hábito dos anos iniciais do ensino básico, os quais, a meu ver estão sendo repetidos no ensino médio, sem reflexão. Se os resultados dessas atividades servissem como experiência, para traçarmos outras estratégias, seria ideal. No entanto, não é isso que está ocorrendo. Essas atividades feitas para gerar notas, da maneira como estão sendo conduzidas, demonstram que estamos na contramão da

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educação crítica. O discurso atual, de que devemos romper com a educação bancária, inclui várias mudanças na metodologia aplicada com nossos alunos. Acredito que mesmo os docentes, os quais tem adotado a prática do trabalho escolar esvaziado, a qual discuto nesse trabalho, querem romper com essa postura. Talvez eles não tenham se dado conta, de que ainda estão adotando os mesmos velhos pressupostos sobre o ensino. Por outro lado, a pesquisa escolar realizada de forma ética e sistemática, na busca de promover a construção da aprendizagem é sempre válida. Conforme salienta Pedro Demo, “a parte menos interessante da aprendizagem é a imitação. A mais gloriosa é a construção.” ( 2000, p.151).

3. INSTRUINDO O ALUNO À PESQUISA EM SALA DE AULA

Se desejamos alunos autônomos, autores de suas próprias histórias, devemos nos renovar. Um bom início seria incentivar o nosso aluno a pesquisar, podemos começar instruindo-os sobre o que realmente seja o termo pesquisa. A pesquisa pressupõe algo que desconhecemos e queremos descortinar. Podemos instigar nossos alunos, sobre o que eles já sabem sobre o tema a ser pesquisado. Devemos motivá-los a construírem subtemas, relacionados ao tema principal, os quais compõem a pesquisa. A curiosidade pela descoberta e pelo conhecimento vai abrindo “links” para a composição da pesquisa. Os alunos devem ter noção do que é delimitar, do que é mais relevante sobre um tema, devem ter também a noção de síntese. Uma boa pesquisa, pode ser apresentada de várias formas. Sugiro perguntarmos aos alunos como gostariam que o tema fosse apresentado a eles, se através de textos, ilustrações, encenações, vídeos, fotografias, ou tudo isso reunido. Se o professor achar necessário, poderá apresentar uma pesquisa, de um turma anterior, para que os alunos possam se embasar. Deve ficar claro, que todas as etapas devem ser feitas em conjunto, pois dessa forma, todos estarão cooperando em toda a trajetória da pesquisa. Pesquisas onde cada integrante fica responsável por um subtema, que ao final são “colados” podem gerar falta de conexão e sentido, comprometendo todo o trabalho. Claro que as potencialidades de cada aluno devem ser exploradas, mas isso não significa uma divisão radical de tarefas, entre os componentes do grupo. No dia marcado para apresentação do trabalho, deve-se evitar que o aluno

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fique lendo cartazes ou telas, é importante que ele se prepare e fale de improviso, podendo ler alguns trechos, quando julgar necessário. Para os alunos mais tímidos, no inicio, apresentar-se de improviso perante à turma soará como uma tortura, mas certamente será um bom ensaio, pois futuramente, na vida acadêmica e no trabalho, essas atividades serão amplamente requisitadas. Sendo assim, a escola deve ser um espaço onde o aluno se prepara para o mundo, certo de que ali, ele pode errar quantas vezes forem necessárias, aliás, e esse o sentido do conhecimento, algo que vai sendo construído e desconstruído permanentemente. Diferentemente da escola, a realidade a qual esse aluno irá encontrar pelo mundo afora, especialmente no campo do trabalho, não lhe proporcionará uma tolerância tão elástica em relação a erros.

Devemos chamar atenção para as fontes de pesquisa, indicando sites e textos confiáveis. No início, os alunos podem apresentar dificuldade em discernirem um conteúdo mal produzido, de outro bem elaborado, que sirva como fonte de sua pesquisa. Mas, com o direcionamento do professor, aos poucos, esse aluno passará a selecionar melhor as informações e por consequência, as pesquisas por eles realizadas não só apresentarão melhores resultados, bem como servirão de experiência, para o aluno utilizar em outras situações de aprendizado, após a vida escolar.

De acordo com Gasparin “Não consiste mais em educar para reproduzir algo, mas para encaminhar soluções para os desafios que são colocados pela realidade.” (2005, p.46).

Nesse sentido, devemos romper de uma vez por todas com a ideia da cópia, nossos alunos devem ter a consciência de que que tarefa da cópia não acrescenta resultado algum. As palavras as quais devem direcionar os trabalhos escolares são a dúvida, a incerteza, a busca, o método, a síntese, a argumentação. Se cada vez mais essas palavras fizerem sentido para o aluno e forem inseridas no seu cotidiano, as práticas dentro da escola serão pautadas por elas, e os resultados poderão ser sentidos não só dentro da escola, mas fora dela. Teremos alunos mais envolvidos com a política e com as ações de sua comunidade, e alunos mais preparados para a vida. Se na vida, não

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nos deparamos com soluções imediatas para resolver possíveis problemas, porque na escola seria diferente? O pensamento de Perrenoud reforça a ideia de que devemos preparar nosso alunos para a vida e não somente “treiná-los” para realizar exames e provas. Segundo esse autor (2000, p.14) “A escola é um espaço social instituído nas diferenças, onde deveriam ser ensinados conteúdos que viabilizassem respostas às necessidades práticas da vida e onde, principalmente, se buscasse uma formação humana plena.”

Perrenoud ainda defende que:

[…] “o preparo para a vida não propõe situações sob medida, nem se podem prever as dificuldades como acontece no contexto da escola. […] Assim, esta formação comporta variadas dimensões, entre elas a ética, a política, a social, enfim, tudo o que tem a ver com o desenvolvimento material e espiritual do indivíduo e da sociedade.” […] (PERRENOUD, 2000, p. 14)

Se for criado um ambiente propenso à pesquisa, o interesse do aluno virá naturalmente e as atividades em sala certamente serão prazerosas. O professor deve incentivar esse processo. Além do livro didático, os próprios alunos poderão sugerir materiais para facilitar sua pesquisa, podem fazer um levantamento prévio de fontes, as quais servirão como base da pesquisa, vídeos, fotos, textos matérias de jornais e revistas, conteúdos virtuais, entre outros. Preferencialmente o tempo de aula deverá ser usado para a realização desses trabalhos, pois o professor estará presente para mediar e acompanhar todo o processo. Aos poucos e se for possível, os alunos poderão criar seus próprios acervos, além dos que já existem nas bibliotecas e laboratórios, em algum lugar da sala de aula, facilitando assim, o processo de realização de pesquisas e trabalhos escolares.

Assmann (1998, p.34) enfatiza a questão do ambiente pedagógico, que deve ser um lugar de “fascinação e inventividade”. Na sua concepção, o prazer está diretamente relacionado à construção do conhecimento e o aluno só poderá sentir prazer em aprender se o professor sentir o mesmo ao ensinar ou, para usar as palavras do autor: “pedagogia

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é encantar-se e seduzir-se reciprocamente com experiências de aprendizagem” (ASSMANN, 1998, p. 34).

4. O QUE SIGNIFICA APRENDER?

Os conhecimentos nunca foram e nem serão caixas prontas e acabadas. O saber é sempre algo a ser construído, e deve estar em constante relação com o contexto vivido. As pesquisas mais relevantes, sobre muitos temas que existem, tem o respaldo de serem desenvolvidas por especialistas, porém, eles não são os donos da verdade. Todo conhecimento pode ser contestado. Na disciplina de Sociologia, área a qual leciono, a dificuldade apresentada por muitos alunos, deve-se ao fato deles não conseguirem abstrair dos esquemas teóricos, e fazerem alguma conexão com realidade a qual estão imersos. Cabe a nós, educadores, tentar fazer essa ponte, dar mais sentido às teorias, tentando identificar em que medida ela serve para explicar a sociedade atual.

A metáfora do mapa proposta por Demo (2000, p.81) pode ser aplicada à problemática da aprendizagem:

“um mapa nos dá um descrição ou ideia de como as coisas são, não é a realidade, mas uma noção dela. O mapa não é um fim em si mesmo, ma sim um recurso pelo qual podemos chegar a algum lugar. Com a educação ocorre o mesmo, não é um simples reconhecimento, é um caminho para expandir o conhecimento.” (DEMO, 2000, p. 81).

A escola deve ser um espaço no qual o aluno possa acreditar que ele está ali para somar seus conhecimentos, com os seus iguais, compartilhar experiências, inclusive questionar os conteúdos curriculares. Ele precisa saber o sentido de estudar certas coisas, deve participar da seleção de textos que serão explorados, e nós, devemos estar prontos para ouvir de nossos alunos, que certos métodos não lhes agradam. É importante termos essa resposta do aluno, se o nosso método está promovendo estímulos para ele continuar. Do contrário, tudo perde o sentido. Falamos sobre o que? Para quem e para

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que? Se acaso não nós interessarmos sobre como o nosso aluno deseja aprender, estaremos reproduzindo a visão escolar conteudista, onde o professor está centro de todo o processo de ensino, selecionado sozinho metodologias e aplicando-as sem questionar os resultados. Não há educação sem reflexão. A cada passo nosso, devemos recuar para avaliar os resultados, devemos aceitar nossas limitações, rever constantemente os nossos conceitos e mudar nossas atitudes.

5. ASSIMILAÇÃO DE CONTEÚDOS PELOS ALUNOS

Sobre a ideia dos conteúdos trabalhados em sala de aula, sob a forma de trabalhos escolares, desde que bem orientados, eles podem permitir que os alunos alcancem os resultados propostos por Gasparin (2005, p.130) quando esse autor desenvolve as cinco etapas de conhecimento. A catarse, uma dessas etapas, é o momento em que ocorre a síntese mental por parte do educando, dos conteúdos trabalhados, é quando o educando compreende e fala sobre o conteúdo, mostrando que o mesmo foi assimilado e ajudou na transformação de seus conceitos prévios. Na visão de Gasparin:

“neste momento o aluno traduz oralmente ou por escrito a compreensão que teve de todo o processo de trabalho. Expressa a sua nova maneira de ver o conteúdo e prática social. É capaz de entendê-los em um novo patamar, mais elevado, mais consistente e mais bem estruturado[...] ao professor cabe criar mecanismo de avaliação para perceber se essa síntese mental ocorreu e como ocorreu” […] (GASPARIN, 2005,p.130)

No mesmo sentido temos a contribuição de Moraes:

“educar pela pesquisa tem como objetivo incentivar o questionamento dentro de um processo de reconstrução de conhecimento. Este processo pode ser entendido como a produção de um conhecimento inovador que inclui interpretação própria,

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formulação pessoal, saber pensar e aprender a aprender. Desta maneira, educar pela pesquisa é ir contra a cópia, a condição de objeto e a manipulação do aluno.” (MORAES, 2002).

6. A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA

A ideia de Projetos Bimestrais, os quais possam envolver toda a escola, mais do que um acumulado de trabalhos escolares durante o ano letivo, me parece mais coerente com o modelo de escola, que nós educadores desejamos: aluno crítico, participativo, inquieto e questionador. Sei que é não é tarefa fácil, mas é fundamental que mudemos a nossa visão em relação à certas metodologias usadas no ensino, ou nunca atingiremos os resultados que tanto almejamos. Um tema, por exemplo, como a cidadania, pode ser trabalhada sob diversos enfoques, e deve ser articulado entre todas as disciplinas. Ainda vejo um muro entre as disciplinas, criando barreiras desnecessárias e impedindo o nosso aluno de aprender efetivamente. Outra questão, a qual merece atenção, é o excesso de avaliações durante o bimestre, não devemos pensar em números, mas sim, na qualidade das atividades e dos projetos que envolvem a escola. Mais vale um trabalho bem feito, do que um acumulado de tarefas, as quais não nos permitem avaliar nosso aluno, de modo coerente.

Sobre a importância de trabalhos interdisciplinares Morin ressalta:

“A educação, para ser completa, deve interferir sobre todas estas dimensões. A técnica, o conhecimento e os saberes práticos são imprescindíveis para ajudar a humanidade a responder às demandas da vida pragmática, a gerar o conhecimento, a produzir e expandir as bases materiais. Nesta sociedade globalizada, não basta apenas aprender muitas coisas, é preciso aprender coisas diferentes e em um tempo curto. A demanda de aprendizagens contínuas e massivas requer a construção de novos imaginários, esquemas valorativos e estilos de aprendizagem. A complexidade da realidade exige superar

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o paradigma da disjunção, redução e unidimensionalização, na busca de um saber complexo, que permita distinguir sem desarticular, associar sem identificar ou reduzir, através da formação de grupos que possam praticar a interdisciplinaridade e o diálogo de saberes.” (MORIN, 1988).

7. ALGUMAS CONCLUSÕES

O presente trabalho procurou levantar algumas questões, acerca do uso de “trabalhos escolares”, por educadores, como recurso de aprendizagem e avaliação, questionando essa metodologia, quando usada de forma maciça e sem reflexão. Foi importante chamar a atenção para o hábito nocivo da cópia, entre os nossos alunos, o qual muitas vezes temos pactuado. Procurei sugerir algumas metodologias, as quais visam melhorar o processo de aprendizagem, e ao mesmo tempo, facilitar o processo de avaliação do professor, que recorre constantemente a estratégias de ensino, como trabalhos em grupo e pesquisas escolares. O mesmo não objetiva criar fórmulas, mas repensar certas estratégias e metodologias, amplamente utilizadas na sala de aula, procurando aliar aprendizagem e avaliação com qualidade. Como foi proposto por vários autores, ao longo desse trabalho, a modalidade pesquisa escolar e afins, cumprem um importante papel na vida escolar do aluno, desde que utilizadas com responsabilidade. Desde que bem estruturados, os trabalhos escolares podem promover uma grande autonomia no aluno, incentivando-o a pesquisar, criar e articular ideias, motivando-o a aprender cada vez mais.

O papel do educador é fundamental nesse processo, os alunos bem orientados, realizarão as tarefas escolares, não de modo mecânico, mas de forma organizada e sistemática, alcançando bons resultados e bom rendimento, e principalmente, assimilando os conteúdos de forma natural. Atividades informais em sala de aula, deixam os alunos mais livres para criar, permitem maior mediação do professor e possibilidade de inserção e correção em tempo real. Os alunos sentem-se mais seguros e acolhidos, pois sabem que, quando precisarem, o professor está por perto para sanar qualquer espécie de

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Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes dúvida.

A ideia desse trabalho não é abolir o uso de “trabalhos escolares”, mas utilizá-lo de maneira responsável e crítica, aproveitando-se de seus resultados, para repensar nossas práticas educativas. Não sugiro partir do novo, mas usar as ferramentas que já dispomos, de maneira mais eficaz. As vezes a rotina, as pressões externas e os problemas pessoais nos paralisam, nos deixam apáticos e não nos deixam sair do lugar. Talvez precisemos somente de um ajuste fino, de sair da nossa zona de conforto, de conversar mais com nossos colegas de profissão e com a comunidade escolar. Temos tantos exemplos de escolas, as quais conseguem atingir ótimos resultados e que a cada dia, dão saltos maiores de qualidade. Sinceramente, não acredito que sejam somente aquelas escolas, que dispõem de mais recursos financeiros e materiais, as que alcancem os melhores índices. O nossa dedicação, o nosso repensar e refletir diário, e o nosso amor pela profissão, são as nossas maiores ferramentas em busca de uma escola melhor, não a escola perfeita, mas a que possa atender os nossos anseios e dos nossos alunos.

Referências

ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998.

DEMO, P. Conhecer e aprender: sabedorias dos limites e desafios. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

GASPARIN, J.L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

MORAES, R. Educar pela pesquisa: exercício de aprender a aprender. In: Moraes, R. Lima, V.M.R.(Orgs). Pesquisa em sala de aula: Tendências para a educação em novos tempos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação. São Paulo: Cortez, 1988. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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