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J. X. Carvalho de Mendonça e a Faculdade de Direito de São Paulo

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J. X. Carvalho de Mendonça e a Faculdade de

Direito de São Paulo

Proclamada a República, em 1889, como acontece no

período inicial dos regimes novos, instaurados por efeito de movimentos revolucionários, ainda que incruentos, cuidou-se, c o m o era natural, da renovação do ensino, prin-cipalmente do ensino superior. Bastava a circunstância de que a pasta, que o superintendia, tivesse sido confiada a B E N J A M I N C O N S T A N T , para que não se retardassem as providências no sentido de despi-lo de seu passadismo, que foi glorioso.

Deu-se a reforma do ensino nas Faculdades de Direitoi, pelo decr. n. 1.232rF, de 2 de janeiro de 1891, passando a ministrar-se e m três cursos: o de ciências jurídicas, o de ciências sociais e o de notariado.

Dividiu-se o curso de ciências jurídicas e m quatro séries, a saber: primeira série, duas cadeiras — a de filosofia e história do direito e a de direito público e constitucional; segunda série, quatro cadeiras — a de direito romano, a de direito civil, a de direito comercial e a de direito cri-minal; terceira série, três cadeiras — a de medicina legal, a de direito civil e a de direito comercial; e quarta série, quatro cadeiras —• a de história do direito nacional, a de processo criminal, civil e comercial, a de noções de econo-m i a política e direito adecono-ministrativo e a de prática forense.

Desdobrou-se o curso de ciências sociais e m três séries: a primeira, c o m duas cadeiras — a de filosofia e historia do direito e a de direito publico e constitucional; a segun-da, c o m três cadeiras — a de direito das gentes,

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diploma-— 53 diploma-—

cia e tratados, a de economia política' e a de higiene pública; e a terceira, com três cadeiras — a de ciência da adminis-tração e direito administrativo, a de ciências das finanças e contabilidade do Estado e a de legislação comparada sobre o direito privado.

Confinou-se o curso de notariado e m duas séries, sendo a primeira série de duas cadeiras — a de explicação sucinta do direito pátrio, constitucional e administrativo e a de explicação sucinta do direito pátrio, civil e comercial; e a segunda série c o m igualmente duas cadeiras — a de explicação sucinta do direito pátrio processual e a de prá-tica forense.

Tresdobrado desse m o d o o curso do bacharelado, acres-ceu-se o número de professores. Vinte e dois seriam os catedráticos e seis os substitutos.

Por efeito de concursos, anteriormente realizados, foram nomeados professores catedráticos ou passaram a reger as novas cadeiras BRASILIO R O D R I G U E S D O S S A N T O S , FREDERICO J O S É C A R D O S O D E A R A Ú J O A B R A N C H E S , JOÃO M E N D E S D E A L M E I D A JÚNIOR, P E D R O A U G U S T O CARNEIRO LESSA, BRASILIO A U G U S T O M A C H A D O D E OLIVEIRA, transferindo-se da Faculdade de Direito de Recife M A N O E L C L E M E N T I N O D E OLIVEIRA E S -COREL.

Dada a dificuldade de preenchimento das demais ca-deiras por concurso, foram nomeados sem que a este se houvessem submetido ULADISLAU H E R C U L A N O D E FREITAS, JOSÉ XAVIER C A R V A L H O D E M E N D O N Ç A , A N T Ô N I O A M A N C I O PEREIRA D E C A R V A L H O , A U G U S T O N O G U E I R A D A R O C H A M I R A N D A , JESUINO U B A L D O C A R D O S O D E M E L O , A N T Ô N I O J A N U Á R I O P I N T O F E R R A Z , A U R E L I A N O D E S O U Z A E OLIVEIRA C O U T I N H O , J O S É L U I Z D E A L M E I D A NOGUEIRA, JOSÉ M A C H A D O D E OLIVEIRA, A L F R E D O D E B A R R O S OLIVEIRA L I M A e M A N O E L P E D R O VILABOIM, todos ju-ristas e médicos dois deles, de muito e alto conceito pelos seus méritos e renomes assim no pretório como na admi-nistração e na política.

Não receberam os estudantes essas nomeações por sim-ples decretos, mercê de munificência governamental, sem

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o seu protesto; e no meio deles, c o m natural e viva reper-cussão fora das arcadas da Faculdade de Direito, surgiram críticas acerbas.

Compreendia-se. A forma normal de ascender ao magistério superior era o concurso. Que cada u m , por via dele, conquistasse a cátedra! Era o que desejavam os es-tudantes. A investidura devia resultar de provas de ca-pacidade e não de benesses do favoritismo do alto. Daí a revolta dos moços. Ajustaram-se eles, a princípio, e m ausentarem-se das aulas dos "lentes que entraram pelas janelas", como então diziam. O alvoroço prolongou-se por muitos dias...

Os lentes por decreto eram vaiados nas arcadas secu-lares; e os protestos sucediam-se.

Tal intensidade tiveram eles, que o governo da Repú-blica fez expedir o decr. n. 54, de 21 de março de 1891, nestes termos:

"O Presidente da República dos Estados Unidos do Bra-sil resolve que, se os lentes catedráticos e substitutos, pro-fessores e preparadores nomeados sem concurso, dentro do prazo de u m ano, a qontar da data da posse, forem decla-rados inhábeis para o magistério pelas congregações das

respectivas escolas ou faculdades, e m cujas votações para esse fim não poderão eles tomar parte, sejam seus lugares postos e m concurso".

Esse decreto, referendado pelo ministro da Justiça JOÃO B A R B A L H O U C H O A CAVALCANTI, que seria depois ministro do Supremo Tribunal Federal, e que veio a destacar-se como o grande comentador da Constituição Federal de 1891, de certo m o d o acalmou os estudantes exaltados e operou como refrigério aos ânimos e m sobressalto dos aquinhoados c o m as cátedras; m a s levou u m dos professores nomeados a, sem perda de tempo, formular este requerimento:

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A atitude, que J. X. C A R V A L H O D E M E N D O N Ç A assim tornou^ não repercutiu, como devera, no seio da Congregação da Faculdade de Direito, e m boa parte constituída pelos pro-fessores que haviam sido nomeados por decreto. Não

che-gou siquer seu requerimento a ser lido quando reunida ela,, talvez porque o próprio diretor o houvesse encaminhado-ao Ministro da Instrução Pública, Correio e Telégrafos, sem dar-lhe dela conhecimento oficial.

Serviu, no entanto, para que, e m Congregação de 4 de abril de 1891, apresentasse JoÃo M O N T E I R O a seguinte indi-cação :

"Considerando que à Congregação compete manifestar-se diretamente acerca da atual questão da nomeação de lentes sem concurso, pois cumpre-lhe guardar ciosamente-as suciosamente-as prerrogativciosamente-as de juiz, e zelar dos créditos cientificos-da Faculcientificos-dade;

"Considerando que os lentes, nomeados ultimamente sem concurso, são conhecidos — uns por haverem ocupado^ com brilho, elevados cargos públicos, e outros, por já have-rem sustentado teses para doutoramento e para concurso,. sendo aprovados, e propostos ao Governo;

"Considerando já haver a Congregação admitido a_ tomar posse, sem reclamação, os lentes, nomeados no ano passado, sem concurso;

"Indico que a Congregação dê por habilitados os refe-ridos lentes, e admita-os a tomarem posse".

Achava-se sobre a mesa a manifestação de protesto dos-estudantes. Propôs o professor VIEIRA D E C A R V A L H O que dela_

se conhecesse, embora lhe parecesse que a Congregação nada mais poderia fazer; e era esta:

"Reunidos e m u m a das salas do Liceu de Artes e Ofícios, no dia 6 do corrente, os acadêmicos de Direito incumbiram-nos de, e m seu nome, agir de m o d o a que não se efetuassem as nomeações de lentes, para as cadeiras vagas, na

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mia, nomeações já publicadas como certas* por alguns órgãos da imprensa.

"No intuito de dar cumprimento à delegação recebida, entendemos ser medida acertada, e de alto alcance, para

salvaguarda de nossos interesses ameaçados, dirigir-vos u m a representação, solicitando o vosso poderoso auxilio para defesa de nossa causa.

" G o m o b e m eompreendeis, o futuro da Pátria Brasi-leira, a consolidação da República, a garantia de todos os

direitos e de todas as liberdades, dependem essencialmente da direção, a que for submetido o ensino, de m o d o que, descurado este, teremos como conseqüência o

despresti-gio dos títulos científicos, o aniquilamento da intelec-tualidade dos moços, e, como corolário de tantos males, u m a verdadeira desgraça nacional — a falta, e m tempo não mui remoto, de pessoal idôneo para direção dos altos negócios da República. Ora, sucede que, entre os

cida-dãos, cujas nomeações para lentes são anunciadas, muitos há aos quais falecem aptidões para dar ao ensino Jurídico essa indispensável, e salutar direção, de que temos falado. "Assim sendo, daríamos prova, nós, os moços estu-dantes, de decadência moral e intelectual, ou de indiferen-ça, altamente condenável, se assistíssemos impassivelmente essa doação, que se está fazendo, de cadeiras, até hoje tão brilhantemente ocupadas por eminentes jurisconsultos. E' por isso que, agindo dentro da lei, conforme nos orde-n a m orde-nossos deveres cívicos, e o respeito às autoridades constituídas, dirigimos nossas primeiras solicitações aos

po-deres competentes, afim de que eles forneçam de pronto remédio aos males, que dolorosamente nos afetam.

"Os interesses do ensino superior, ora ameaçados, sendo comuns aos mestres e aos discípulos, estamos conscios de que é mister estabelecer, entre uns e outros, u m a forte solidariedade, para que eles tenham u m a garantia pronta

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e eficaz. Contamos, pois, c o m o poderoso concurso da vossa palavra autorizada.

"Saúde e fraternidade.

"São Paulo, 14 ide março de 1951. — Lafayette Chagas. — Antônio Pinto. — Virgílio Caldas".

A representação dos estudantes teve o apoio de B R A -SILIO R O D R I G U E S DOS S A N T O S , que, no entanto, apresentou pro-< posta substitutiva da de JOÃO M O N T E I R O , declarando que a Congregação, se tivesse sido ouvida, teria concordado com as nomeações do Desembargador A U R E L I A N O C O U T I N H O e dos Doutores RODRIGO L O B A T O , C A M P O S T O L E D O , M I R A N D A A Z E V E D O , JOÃO D E A R A Ú J O , P I N T O F E R R A Z , JESUINO CARDOSO, OLIVEIRA L I M A , A U G U S T O M I R A N D A e A M A N C I O D E C A R V A L H O , por julgá-los habilitados, entendido, entretanto "que julga essencial, para a boa organização e progresso do ensino, que os lu-gares do corpo docente sejam providos, ou mediante indi-cação prévia da Congregação, ou por meio de concurso, na fôrma do regulamento vigente de 2 de janeiro" Essa indicação teve o apoio de A L M E I D A NOGUEIRA, A B R A N C H E S , BRASILIO DOS S A N T O S , V I C E N T E M A M E D E , JOÃO M O N T E I R O e L E O N C I O D E C A R V A L H O , abstendo-se H E R C U L A N O D E FREITAS, VIEIRA D E C A R V A L H O , BRASILIO M A C H A D O e JOÃO M E N D E S JÚNIOR.

Decidiu a Congregação, ademais, aprovar a representa-ção dos estudantes, por seus fundamentos, m a s absteve-se de encaminhá-la ao Governo.

Tão nobre foi o gesto de J. X. C A R V A L H O D E M E N D O N Ç A resignando, e m 31 de março de 1891, o cargo de professor para que fora nomeado e m 30 de dezembro de 1890, quão prejudicial ao ensino do Direito. O jurisconsulto eminen-tíssimo, que veio a ser, pelo consenso geral do país, o maior comercialista brasileiro, teria dado ao ensinamento da dis-ciplina relevo extraordinário. Foi êle o único na renúncia.

C o m o M A N O E L P E D R O V I L L A B O I M também foi o único a sub-meter-se a concurso, m e s m o depois de nomeado.

Não chegaram RODRIGO L O B A T O e JOÃO D E A R A Ú J O a tomar posse.

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