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IDENTIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS

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IDENTIFICAÇÃO DAS

CARACTERÍSTICAS DOS ARRANJOS

PRODUTIVOS LOCAIS

Nadja Polyana Felizola Cabete (UFAM) poly.cabete@gmail.com Silvana Dacol (UFAM) sdacol@ufam.edu.br

A localização das aglomerações industriais em muitos países tornou-se um aspecto de fundamental importância para o desenvolvimento regional e para a competitividade de pequenas e médias empresas, possibilitando às mesmas uma maior flexibiliidade e capacidade inovativa. Com isso, cresce a cada dia a discussão sobre a importância dos arranjos produtivos locais (APLs) s como fator de desenvolvimento regional. Porém, não são todos os tipos de aglomerações que podem ser enquadradas no conceito de APL devido às suas particularidades. Este trabalho tem como objetivo identificar as principais características de aglomerações deste tipo a fim de facilitar o

entendimento sobre as mesmas, abrindo caminhos para

aprofundamento dos estudos sobre o tema, como mapeamento, diagnósticos situacionais, estruturação, definição de modelos de gerenciamento, entre outros.

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1. Introdução

Desde o sucesso das experiências européias relacionado às aglomerações especializadas, os arranjos produtivos locais, ou APLs, têm recebido especial atenção dos empresários e governantes brasileiros. Acompanha o ressurgimento deste interesse uma esperança de que tais arranjos possam contribuir para a competitividade e o desenvolvimento do país (VASCONCELOS, GOLDSZMIDT e FERREIRA, 2005).

Arranjos produtivos locais, na definição de Cassiolato e Lastres (2003), são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico de atividades econômicas que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Segundo os autores, geralmente envolvem a participação e a interação de empresas, produtoras de bens e/ou serviços, e suas variadas formas de representação e associação. Além disso, incluem diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para formação e capacitação de recursos humanos, como escolas e universidades; pesquisa e desenvolvimento; política, promoção e financiamento.

Existem na literatura diversos estudos relacionados aos arranjos produtivos locais (Schmitz (1999); Porter (1998); Suzigan (2001); Cassiolato e Lastres (2003)), entretanto, conforme Quirici (2006), parte significativa das análises empíricas sobre o tema focam, com base em análise quantitativa (grau de especialização regional, índice de concentração em setores industriais, número de empregados no setor etc.), no potencial de uma aglomeração empresarial de um setor em uma região específica de se tornar um arranjo produtivo. Exemplos disso são os trabalhos de Machado (2003), Santana e Santana (2004), entre outros. Por outro lado, se verifica que existem poucos estudos que busquem entender ou identificar os fatores que os direcionam a esta categoria.

Clegg (1998), citado por Lopes e Baldi (2005), questiona a universalidade das teorias organizacionais modernas, que ele diz considerar somente uma forma de racionalidade, e defende a necessidade de abordagens que levem em consideração as especificidades locais, no que concerne às suas características sociais, culturais, políticas e econômicas.

Santos, Diniz e Souza (2004) apontam que aglomerações encontradas pelo mundo que foram ou são consideradas como APLs estão longe de possuírem as características relacionadas ao conceito original, e que a literatura está convergindo para resumir o conceito de APL em apenas uma concentração geográfica de empresas e outras instituições que se relacionam em um setor particular, porém eles afirmam que isso é pouco para se definir APL.

Para Vasconcelos, Goldszmidt e Ferreira (2005) é fundamental a presença de uma “cola social” entre as empresas participantes da aglomeração, seus fornecedores, as instituições de ensino, pesquisa e associações regionais. Para eles, essa interação impacta as relações de cooperação, que permite da difusão do conhecimento, e a competitividade, que impulsiona o processo de inovação entre as empresas.

O objetivo deste trabalho é a realização de uma pesquisa bibliográfica para identificação das características apontadas por diversos autores como necessárias para que uma aglomeração possa ser caracterizada como APL. A pesquisa foi realizada através da leitura de livros, revistas, artigos e trabalhos acadêmicos relacionados ao tema abordado e, a partir de uma avaliação crítica dos conceitos sugeridos por diversos autores, foram apresentados os pontos de concordância entre eles para a conclusão deste trabalho.

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2. Aglomerações e Arranjos Produtivos Locais

Os primeiros estudos sobre os benefícios dos aglomerados industriais ocorreram ao final do século XIX, por Alfred Marshall, que utilizou o termo Distrito Industrial para caracterizar as concentrações de pequenas e médias empresas localizadas ao redor das grandes indústrias nos subúrbios das cidades inglesas, destacando a eficiência e a competitividade que apresentavam as empresas que se localizavam numa mesma região. Para ele, estes distritos funcionavam com sucesso devido à reciprocidade, ou cooperação, entre os agentes envolvidos no processo produtivo, fazendo com que houvesse maior aprendizado, especialização da mão-de-obra, facilidade de acesso a insumos e produtos intermediários e de escoamento da produção tanto para mercado interno quanto externo (GUALDA e SOUZA, 2005).

Este conceito, porém, só veio a ser introduzido por volta dos anos 50 a 70 do século XX, quando se iniciou a prática de políticas regionais e dos conceitos de polarização, em que havia uma atração política para que grandes empresas industriais formassem blocos de investimentos em áreas não muito favorecidas, utilizando-se de incentivos fiscais de diferentes esferas governamentais. Muitas indústrias se transferiram para estes centros, atraídas pelos incentivos oferecidos. Haddad (1989) enfatiza que as políticas que atraíam as empresas neste período podem ser associadas, do ponto de vista regional, ao conceito de “pólo de desenvolvimento” estabelecido por François Perroux. Neste mesmo período surgiram os denominados “centros industriais”, formados por grandes e diversificadas aglomerações de empresas, com ou sem vínculos diretos entre elas.

A partir disso, já nos anos 80 e 90, visto que as avaliações deste tipo de política não mostravam cenários muito eficazes, eram necessárias novas intervenções públicas em busca de desenvolvimento regional. Percebe-se, então, um forte interesse pelos aglomerados industriais a fim de estimular o desenvolvimento de regiões e locais específicos.

Há empresas ligadas a outras não pelo fato de receberem incentivos fiscais, mas por estarem em cadeia produtiva, tendo as outras empresas como parte de seus processos produtivos, portanto dependendo delas para conclusão de seus processos. Esse tipo de aglomeração é chamado de “complexos”. Estes complexos também foram iniciados no Brasil a partir dos anos 50, porém com força maior a partir dos anos 70, com o objetivo de se diminuírem as importações e, a partir destas cadeias, fortalecer a exportação. A este conceito está associado um outro termo: o de clusters que, de acordo com Galvão (2000), surgiram a partir dos distritos industriais italianos, que desenvolveram sistemas produtivos eficientes, principalmente à base de pequenas e médias empresas, nas regiões Norte e Nordeste da Itália. A diferença entre os termos estaria no fato de que, enquanto os distritos industriais italianos quase sempre se concentravam em atividades associadas aos ramos tradicionais da indústria de transformação, os clusters representariam um conceito mais abrangente, envolvendo todo tipo de aglomeração de atividades geograficamente concentradas e setorialmente especializadas – não importando o tamanho das unidades produtivas, nem a natureza da atividade econômica desenvolvida, podendo ser da indústria de transformação, do setor de serviços e até da agricultura. Ainda segundo o autor, o sucesso dos distritos italianos, e, conseqüentemente, dos clusters, deve-se:

“principalmente pelo fato de que as firmas localizadas neles estariam se organizando em redes (networks) e desenvolvendo sistemas complexos de integração, nos quais predominam entre as firmas vários esquemas de cooperação, solidariedade e coesão e a valorização do esforço coletivo. O resultado desses processos seria a materialização de

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uma eficiência coletiva, decorrente das externalidades geradas pela ação conjunta, propiciando uma maior competitividade das empresas, em comparação com firmas que atuam isoladamente no mercado.” (GALVÃO, 2000, p. 7)

Complexos, clusters, distritos industriais, pólos industriais são alguns dos termos relacionados a aglomerados industriais, e desde o início do interesse por este tema, vários têm sido os termos criados para identificação dos mesmos, podendo-se citar ainda redes de interação, cadeias produtivas, milieu inovador, dentre outros. Porém, percebe-se que cada tipo de aglomerado possui características específicas e, pelo fato destes termos muitas vezes serem usados como se fossem sinônimos, tem havido um desentendimento com relação ao verdadeiro significado de cada um deles.

Sabatini (1998) demonstra que entre os conceitos difundidos na literatura sobre aglomerados industriais há alto grau de heterogeneidade conceitual, não existindo total homogeneidade nas características que são definidas pelos autores e que há dificuldade de empregar conceituação única.

Vários conceitos sobre os aglomerados são encontrados na literatura. Porter (1999) conceitua como sendo uma: “concentração geográfica e setorial de empresas e instituições que em sua interação geram capacidade de inovação e conhecimento especializado”. Mytelka e Farinelli (2000) consideraram os aglomerados industriais como a concentração espacial de empresas e de suas respectivas fornecedoras de insumos e de serviços industriais, como no caso dos complexos, e também em semelhança com o conceito da Eurada (1999), que diz que aglomerados são concentrações geográficas de firmas e instituições interconectadas em um campo ou setor particular. Cunha (2002) trata aglomerados e clusters como sinônimos, e Porter (1999, p. 240) observa que:

“A teoria dos aglomerados atua como uma ponte entre a teoria das redes e a competição. O aglomerado é uma forma que se desenvolve dentro de uma localidade geográfica, na qual a proximidade física de empresas e instituições asseguram certas formas de afinidades e aumenta a freqüência e os impactos das interações”.

Enright (1996), citado por Cunha (2002, p. 14), inclui outras tipologias relacionadas a aglomerados, de que são exemplos:

− Clusters ou aglomerados industriais, formados pelo conjunto de indústrias interligadas através de relações “comprador e fornecedor”;

− Clusters ou aglomerados regionais, formados pela aglomeração geográfica de firmas que se situam próximas umas das outras;

− Distritos industriais, formados por firmas envolvidas em processos de produção interdependentes, pertencentes ao mesmo segmento industrial, envolvidas com a comunidade local e delimitadas pela distância da viagem diária dos seus trabalhadores; − Redes de negócios, formadas por várias firmas que mantém comunicação e interação, com

certo nível de interdependência, não operando necessariamente numa mesma indústria ou estar geograficamente concentradas num mesmo espaço.

Outro conceito relacionado às aglomerações é o de Sistemas Produtivos, tal como a dos Sistemas Produtivos Locais, definidos por Melo e Casarotto (2000), como sendo uma concentração de empresas do mesmo setor, estruturada e inter-relacionada com empresas do

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mesmo setor, com um modelo de desenvolvimento extensivo e um processo de industrialização impulsionado por agentes locais. Estas ocorrências também são denominadas de Sistemas Econômicos Locais, ou seja, um sistema microrregional competitivo que se relaciona de forma aberta com o mundo e com forte concentração dos interesses sociais (CASAROTTO e PIRES, 2001).

Segundo a Eurada (1999), os Sistemas Produtivos Locais (SPL) são redes cooperativas de negócios caracterizadas pela concentração territorial, pela especialização em torno de um produto ou atividade e pela solidariedade entre vários atores, apesar da competição, e ainda no mesmo documento diz que os sistemas produtivos locais podem ser definidos como uma configuração de pequenas e médias empresas agrupadas em determinada área, em torno de uma atividade ou negócio.

Santos, Crocco e Lemos (2002) caracterizam os sistemas produtivos locais pela proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de PMEs, cooperação inter-firmas, competição entre elas determinada pela inovação, confiança, organizações de apoio ativas na oferta de serviços e parceria estreita com o setor público local.

Para Cassiolato e Szapiro (2002) um sistema produtivo local é uma aglomeração de agentes econômicos, políticos e sociais, que estão inseridos numa mesma localidade territorial e que se articulam e interagem de forma cooperativa. Este tipo de interação influencia no processo de inovação das empresas.

Cassiolato e Szapiro (2002) já tratavam a questão da inovação, além de outros fatores, como característica de um sistema produtivo local. Eles afirmam que, além dos vínculos consistentes de articulação, os sistemas produtivos locais apresentam: interação, cooperação e aprendizagem voltadas à introdução de novos produtos e processos. Para eles, por envolver os agentes econômicos e sociais, fortalece a importância da sinergia e por enfatizar a aprendizagem e os avanços tecnológicos, torna-se um conceito atrelado ao dos sistemas locais de inovação.

Castro (2000) observa que a diferença entre os sistemas produtivos locais e os clusters (aglomerados) está na palavra solidariedade e nos ambientes sociais e culturais.

Um outro conceito que engloba muitas das características dos conceitos citados anteriormente e que está mais fortemente ligado aos conceitos de sistemas produtivos locais definidos nos dois parágrafos anteriores é o de Arranjos Produtivos Locais.

Gualda e Souza (2005) sugerem que os Arranjos Produtivos Locais, abreviadamente chamados de APL’s, são uma extensão dos trabalhos de Marshall, no século XIX, sobre os distritos industriais, e que passaram a ter importância competitiva a partir da década de 50 e 60, do século XX com os estudos de Perroux, Hirschman e Isard que enfatizam os benefícios das concentrações industriais para o desenvolvimento regional.

De acordo com Santos, Diniz e Barbosa (2004), o conceito original de APL considera que estes são formados por fornecedores especializados, universidades, associações de classes e instituições governamentais pró-ativas no local, centros tecnológicos, centros de treinamento de mão-de-obra ou instituições que façam coleta e distribuição de informações, apoio técnico, elevado grau de cooperação, confiança e inovação das empresas.

Já nos anos 80 e 90, a partir do sucesso comercial das empresas instaladas nos distritos industriais italianos e no Vale do Silício na Califórnia, e à elevada renda obtida por estes conjuntos de empresas, surge um novo conceito para APLs, baseado nessas experiências.

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Segundo Haddad (2003, p. 37), “o objetivo final de muitos projetos de desenvolvimento de APL é transformá-lo em distritos industriais de estilo italiano”.

Os distritos industriais italianos possuem características particulares. Uma delas é a cooperação, que tem grande importância política, social, economia e competitiva, e que, segundo Santos, Diniz e Barbosa (2004), é um dos fatores de maior importância e característica fundamental para o sucesso dos mesmos, sendo atribuídos a ela os altos níveis de ganho competitivo nestes distritos. Segundo Quirici (2006), a cooperação é imprescindível para consolidar as vantagens competitivas entre as empresas inseridas em um APL e é o que faz com que elas de diferenciem de uma simples concentração de empresas do mesmo setor. Para Santos, Diniz e Barbosa (2004), a cooperação pode ser multilateral, com a presença de sindicatos, associação de produtores, cooperativas de créditos, centro de tecnologia ou de treinamento de mão-de-obra coletiva ou de associações, como também pode ser bilateral, que podem ser as relações de troca de conhecimento com parceiros ou, possivelmente, até com concorrentes. A cooperação característica dos distritos italianos é multilateral e tem como premissa a presença de micro, pequenas ou médias empresas, que, em conjunto, apresentem importante participação em alguma etapa da cadeia produtiva.

Segundo Gualda e Souza (2005), a cooperação pode se dar de várias formas, sendo as mais freqüentes a relação de amizade entre os indivíduos; relação entre várias empresas; pequenas empresas que se unem para seguir um objetivo comum relacionados com a necessidade urgente de uso de novas tecnologias, por meio de projetos conjuntos; e o intercâmbio sistemático das operações produtivas.

Por outro lado, o fato das empresas apresentarem vínculo somente de cooperação não implica que sejam enquadradas como APL, pois a maioria das pequenas empresas pode apresentar este vínculo, mesmo que informalmente, da mesma forma que grandes complexos podem ter níveis de cooperação e não serem identificados como APLs.

Diferentemente dos distritos industriais da Itália o tipo de APL desenvolvido no Vale do Silício não apresenta estes aspectos de cooperação multilateral como principais fatores de inovação e competitividade, mas fundamenta-se na especialização, na grande oferta de serviço, grande e diversificada demanda de produtos e serviços e na solução de problemas. Desta forma, pode-se verificar que outros aspectos, além da cooperação são também importantes para caracterização de um APL.

Mytelka e Farinelli (2000) consideram como aspectos presentes na classificação de APLs, embora uns com maior intensidade que outros, a existência de liderança, o tamanho das firmas, a confiança interna, a capacidade inovativa, a cooperação, linkage, a competição, os novos produtos e exportação.

Gualda e Souza (2005) sugerem outros aspectos além dos citados por Mytelka e Farinelli, tais como: o espaço geográfico, a afinidade, o compartilhamento de informações e conhecimentos, o surgimento de indústrias correlatas e de apoio, o aprendizado interativo, e em concordância com Mytelka e Farinelli a governança (ou liderança), a competição e a inovação. Eles conceituam APL’s como sendo:

“...uma aglomeração geográfica e setorial de produtores especializados de bens e serviços diferenciados, que mantêm vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizado entre si e outros agentes também especializados, que podem ser produtores de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadores de

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consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros. Apresentando grande número de empresas de porte variado, com presença significativa das de micro e pequeno porte.” (GUALDA e SOUZA, 2005, p. 276-277)

As empresas que estão localizadas em um mesmo espaço geográfico possuem vantagens competitivas com relação às demais, pois além de compartilharem visões e valores para desenvolvimento regional, podem envolver além das empresas diretamente ligadas ao APL a comunidade como um todo, como universidades, centros de desenvolvimento, órgãos públicos, entre outros. Para Gualda e Souza (2005) a localização das aglomerações industriais em muitos países desenvolvidos e subdesenvolvidos é um aspecto fundamental para o desenvolvimento regional e o aumento da competitividade de pequenas e médias empresas, possibilitando às mesmas maior flexibilidade e capacidade inovativa, e, na sua visão, isso faz com que cresça a cada dia a discussão sobre a importância dos APL’s como fator de desenvolvimento regional em busca de novas perspectivas de crescimento, aprimoramento técnico, geração de emprego e renda. Garcez (2000) analisa que a questão local ganha grande importância seja pelo papel desempenhado na comunicação entre os agentes do processo ou pela criação de relações de confiança entre os mesmos. Lemos (1999) observa que as relações de confiança são mais facilmente geradas em ambientes de proximidade entre os agentes, e Lopes e Baldi (2005) afirmam que a confiança interorganizacional é crucial por criar um sentimento de obrigação recíproca entre os parceiros, que faz com que haja um comportamento de lealdade entre eles, fortalecendo o negócio.

O compartilhamento de informações e conhecimento é parte característica das empresas inseridas em APL. De acordo com Gualda e Souza (2005) o conhecimento pode ser codificado, que é aquele que pode ser armazenado, ou tácito, que é o conhecimento que está inserido em indivíduos, organizações ou regiões, mais difíceis de ser armazenados. Este se aproxima mais aos APLs, pois está mais diretamente ligado a contextos organizacionais e geográficos. De acordo com Campos (2004) esta característica impossibilita o acesso e uso deste tipo de conhecimento por agentes externos a tais contextos, fazendo com que informações sobre novos produtos e mercados, além das inovações que ocorrem no setor, demorem a chegar a empresas que estejam isoladas. Garcez (2000) também considera que a formação de redes de cooperação entre firmas localizadas na mesma região tem forte aproveitamento do conhecimento tácito, visando à maior adaptação no mercado.

Com o aumento do conhecimento e do aprendizado entre os agentes, a empresa passa a dispor de maiores possibilidades para inovar em seus produtos e, assim, torná-los mais atraentes ao mercado. Joseph Schumpeter (1988) observa que a inovação cria uma ruptura no sistema econômico, no interior da indústria, revolucionando as estruturas produtivas e criando fontes de diferenciação para as empresas. A busca por diferenciação é entendida como resultado da procura natural e constante por maiores lucros, mediante a obtenção de vantagens competitivas entre os agentes (empresas), que procuram diferenciar-se uns dos outros, das mais variadas dimensões do processo competitivo, tanto tecnológico quanto de mercado (processo produtivo, produtos, insumos, organizações, mercados, clientela, serviços de pós-venda). Cassiolato e Szapiro (2002) lembram que a capacidade de gerar inovações tem sido o fator principal para o sucesso de empresas e países e que esta capacidade é obtida através da interação entre os diversos agentes com trajetórias de vida e ambiente comuns, o que se caracteriza pelo termo afinidade.

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empresas de uma determinada região devem especializar-se nas coisas que fazem relativamente bem. Para ele, a vantagem econômica de cada região está em especializar-se na produção de apenas uma variedade limitada de bens e serviços, isso facilita a interação entre elas e auxilia na busca pela melhoria contínua de seus processos. Desta forma, pode-se considerar que a afinidade está ligada à característica interdependência, presente nos conceitos de outros autores como fundamental para o desenvolvimento de um APL.

O surgimento de indústrias afins, que se apóiem mutuamente dentro destas aglomerações, reforça a competitividade das empresas, estreitando as relações entre os agentes e contribuindo para estimular a criação de novas tecnologias. Da mesma forma as empresas contribuem para o desenvolvimento de novas tecnologias, servindo de laboratório para o fornecedor (GARCIA, 2001). O papel do governo como entidade de apoio essencial ao desenvolvimento dos APLs ainda é questão de divergência entre autores. Porter (1998) considera a união de esforços das empresas inseridas no APL suficientes para buscar e garantir a eficiência dentro dele, sendo pequena a participação do governo no processo. Enquanto outros como Scott (1998), Audretsch (1998) e Schimitz (1999) defendem que o governo tem papel importante na definição de políticas públicas e do cooperativismo entre elas (GUALDA E SOUZA, 2005). Estes mesmo autores consideram que o conceito de governança está ligado à participação dos diferentes agentes nos processos de tomada de decisão e que pode haver ou não uma empresa ou instituição local que governa as relações técnicas e econômicas em toda a cadeia produtiva.

De acordo com Santos, Diniz e Barbosa (2004), um APL deve ser definido a partir da existência de vantagens competitivas locais de abrangência setorial, e que, portanto, existem aglomerações setoriais que não são consideradas APL. É ressaltado ainda que estas vantagens competitivas não sejam decorrentes de custos de transporte, mão-de-obra ou fiscais. Segundo Cunha (2002) este tipo de vantagem é chamada de economia passiva e se caracteriza pelos ganhos originários de custos de transporte, proximidade com o cliente, urbanização e da infra-estrutura gerada por ela. O mesmo autor também retrata as vantagens da economia ativa, que são os resultados do acúmulo e intercâmbio de conhecimento tácito, sugerido anteriormente por Gualda e Souza (2005), ao longo do tempo em uma determinada localidade. Para Santos, Diniz e Barbosa (2004), é este tipo de vantagem que caracteriza um APL. Para Campos (2004) “as vantagens competitivas estão ligadas à redução de custo dos fatores disponíveis no interior da rede”.

E, para encerrar a gama de definições sobre o conceito de APL’s, Cassiolato e Szapiro (2002) os definem como aglomerados produtivos cujas relações entre os agentes locais não são tão eficientes ou desenvolvidas a ponto de caracterizarem um sistema, embora haja fortes vínculos devido à localização e instituições comuns, tanto públicas quanto privadas (essas na formação e treinamento de recursos humanos e pesquisa nas diversas áreas) e cujas relações técnicas entre os atores são essenciais para o aprendizado (CASSIOLATO e SZAPIRO, 2002).

3. Resultados da pesquisa

O quadro 1, apresentado a seguir, mostra as características relativas aos APLs, que são indicadas pelos diversos autores referenciados nesta pesquisa e quais delas são comuns na definição de cada autor.

CARACTERÍSTICAS

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Gover-9

pendência ração tição

Conhe-cimento ança médias empresas espaço geográfico nança Quirici (2006) X X X X X Gualda e Souza (2005) X X X X X X X X Vasconcelos et al. (2005) X X X X X X X Santos, Diniz e Barbosa (2004) X X X X X X X Cassiolato e Lastres (2003) X X Mytelka e Farinelli (2000) X X X X X

Quadro 1 – Características dos APLs na definição dos autores pesquisados

O quadro 2 mostra os pontos relacionados no quadro 1 como características de um APL e sua relação com os conceitos de Sistemas Produtivos Locais e de Aglomerados Industriais, definidos por autores referenciados nesta pesquisa.

CARACTERÍSTICAS AUTORES Interde-pendência Coope-ração Compe-tição Difusão do Conhe-cimento Inovação Confi-ança Pequenas e médias empresas Mesmo espaço geográfico Gover-nança Santos, Crocco e Lemos (2002) SPL X X X X X X X X Cassiolato e Szapiro (2002) SPL X X X X Melo e Casarotto (2000) SPL X X Eurada (1999) SPL X X X X X X X Mytelka e Farinelli (2000) AI X X Eurada (1999) AI X X X Porter (1999) AI X X X X X X X

Quadro 2 – Relação entre as características dos APLs e de Sistemas Produtivos Locais (SPL) e Aglomerados Industriais (AI) na definição dos autores pesquisados

Os pontos em comum relacionados no quadro 1 são efetivamente interdependência e cooperação, que são unanimidade nos conceitos aqui verificados. Os demais pontos de considerável importância nos conceitos verificados são: difusão do conhecimento, inovação e

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confiança, que são características resultantes dos processos de cooperação e interdependência entre as firmas, bem como a competição, que, apesar de não ter sido tratada por todos os autores como característica fundamental para um APL, é um ponto de estímulo para o processo de inovação.

A governança ainda é um ponto de divergência entre autores, com alguns deles atribuindo este papel ao governo, outros às instituições relacionadas, enquanto outros acreditam não haver a necessidade de um governo formal para estabelecer as relações nestas cadeias.

Em virtude dos APLs serem uma espécie de aglomerado de empresas, o fato da característica “Mesmo espaço geográfico” não ser refenciada em todos os conceitos aqui tratados, é implícito que esta é uma característica fundamental dos mesmos. Da mesma forma, a presença de micro e pequenas empresas na formação deste tipo de aglomerado torna-se fator importante a partir dos relatos das experiências de sucesso dos APLs, que estão relacionadas a estas categorias de empresa.

De acordo com a relação apresentada no quadro 2, é possível afirmar que o conceito APL está diretamente relacionado aos conceitos de Sistema Produtivos Locais estabelecidos por Santos, Crocco e Lemos (2002) e pela Eurada (1999), da mesma forma como está relacionado com o conceito de Aglomerados Industriais de Porter (1999). Desta forma, pode-se chamá-los de sinônimos, na visão destes autores.

4. Conclusão e Considerações finais

Todos os conceitos citados no referencial teórico deste trabalho apresentam algum tipo de interação e todos estão relacionados às aglomerações de empresa, no entanto, percebe-se que, apesar de haver pontos em comum entre eles, não há clareza quanto a necessária presença de todas as características relacionadas aos APLs na definição dos demais tipos de aglomerados. De acordo com as posições dos diversos autores da área analisados nesta pesquisa, as características fundamentais para que uma determinada aglomeração industrial seja considerada como um APL são: mesma localização geográfica, interdependência e cooperação, e em consequência destes processos há ainda as características competitividade, difusão do conhecimento, inovação e confiança.

Muitas aglomerações têm recebido a denominação de APL sem possuir este conjunto de características, o que causa uma generalização do termo englobando todos os tipos de aglomerações setoriais, com conseqüente banalização do conceito para o qual o termo foi criado. Muitas destas aglomerações recebem a denominação de APLs potenciais, porém isso dificulta os estudos para identificação e mapeamento desses arranjos em determinadas regiões pois podem ser caracterizadas por qualquer tipo de aglomeração.

Pesquisas aprofundadas sobre o tema, como mapeamento, diagnósticos situacionais, estruturação, definição de modelos de gerenciamento de APL’s, entre outras podem ser realizadas a partir deste artigo, uma vez que este facilita a identificação dos mesmos.

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