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Unio crassus Mexilhão-de-rio, Mexilhão-de-rio pequeno

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Academic year: 2021

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Unio crassus

Mexilhão-de-rio, Mexilhão-de-rio pequeno

Taxonomia: Família: Unionidae

Espécie: Unio crassus (Philipsson, 1788)

Actualmente admite-se que a espécie Unio crassus em Portugal englobe duas unidades taxonómicas distintas, diferenciadas a nível morfológico e genético, estando em curso os estudos para a determinação das suas relações filogenéticas. Uma unidade ocorre nas bacias do Guadiana e Sado enquanto a outra se distribui por todo o país.

Código da Espécie: 1032 Estatuto de Conservação:

Global (IUCN 1994): LR/nt (Baixo risco/próximo de ameaça) Protecção legal

· Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei nº 49/05, de 24 de Fevereiro, Anexos B-II e B-IV, transposição da Directiva Habitats (92/43/CEE), de 21 de Maio de 1992, Anexos II e IV

Distribuição:

Global: Espécie endémica da Europa, distribui-se pela Europa Central e do Norte, excluindo o Reino

Unido, até ao Mar Negro (Wells & Chatfield 1992).

Comunitária:

Região Biogeográfica Atlântica: Alemanha, Bélgica e França

Região Biogeográfica Mediterrânica: Espanha, Portugal, Grécia e França

Região Biogeográfica Continental: Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Áustria, França, Luxemburgo e

Suécia

Região Biogeográfica Boreal: Finlândia e Suécia Região biogeográfica Alpina: Áustria.

Nacional:

Unidade taxonómica do Norte - Bacias do Douro (Rios Tâmega, Rabaçal, Tuela, Tua, Sabor, Maçãs,

Angueira, Águeda e Côa), Vouga (Rio Vouga), Mondego (Rio Mondego) e Tejo (Rio Zêzere). Unidade taxonómica do Sul – Bacias do Sado (Rio Sado) e Guadiana (Rios Amoreiras, Azambuja, Barranco do Vidigão, Caia, Chança, Foupanas, Limas, Lucefecit, Marmelar, Odeleite, S. Pedro, Terges, Cobres e Vascão) (Reis 2004).

Tendência Populacional:

Declínio generalizado na maioria dos países onde ocorre (Wells & Chatfield 1992, Woodward 1996). Os dados existentes para Portugal não permitem uma avaliação (Reis com. pess.), só se podendo afirmar que apresenta uma distribuição muito fragmentada.

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Abundância:

A espécie Unio crassus é dada como abundante para os Sítios de Montesinho/Nogueira e Rios Sabor e Maçãs, estável para os Sítios Vouga, Malcata e Douro Internacional e raro nos Sítios mais a Sul de Portugal – S. Mamede, Moura/Barrancos e Guadiana, à excepção do rio Vascão, onde é abundante (Reis com. pess.).

Requisitos ecológicos:

Habitat: Os bivalves de água doce têm na sua maioria tolerância muito reduzida à salinidade.

Utilizam toda uma variedade de habitats de água doce, desde lagos e charcas até rios e valas, enterrando-se total ou parcialmente no substrato de cascalho, areia ou lodo.

Unio crassus tem um grau de tolerância reduzido à poluição. Prefere ambientes lóticos e ocorre ocasionalmente em regime lêntico (Wells & Chatfield 1992, Woodward 1996, Reis 2002). Comparativamente a Margaritifera margaritifera, esta espécie ocorre em águas com maior conteúdo mineral e orgânico e possui maior valência ambiental.

Alimentação: Todos os bivalves de água doce se alimentam filtrando a água por um sistema de cílios,

sendo a sua dieta constituída por detritos e plancton. Em condições óptimas, os bivalves atingem densidades elevadas e são então eles próprios determinantes da qualidade de água, devido ao volume que filtram (Reis 2002 e 2004), sendo um indicador da boa qualidade da água.

Segundo Hochwald & Bauer (1991), as larvas de Unio crassus usam como hospedeiros na Europa central indivíduos das espécies Cottus gobio e Phoxinus phoxinus, espécies não existentes em Portugal. São ainda referidos como hospedeiros Gasterosteus aculeatus, Pungitius pungitius, Perca fliviatilis, Leuciscus cephalus, Leuciscus leuciscus e Scardinius erythropthalmus (Wells & Chatfield 1992, Woodward 1996, MED 2004). Para Portugal não estão ainda determinados quais os hospedeiros das larvas de Unio crassus.

Reprodução: Espécie dióica, parecendo não se reproduzir a baixas densidades (não existem dados de

hermafroditismo, ao contrário do que se verifica com Margaritifera margaritifera) (Wells & Chatfield 1992, Woodward 1996, MED 2004). A reprodução inicia-se em Abril-Maio. As larvas parasitam os peixes durante cerca de 5 semanas (Woodward, 1996, MED 2004), libertando-se e passando a fase seguinte enterrado nocurso de água (Woodward, 1996). A vida parasitária constitui, assim, uma fase do desenvolvimento larvar e simultaneamente de disseminação da espécie, devido às deslocações do hospedeiro.

Os indivíduos atingem os 20-30 anos de idade, havendo espécimes do Norte da Europa com mais de 50 anos (Woodward 1996, MED 2004).

Ameaças:

A poluição resultante de descargas de efluentes não tratados de origem industrial, ou urbana, a par com fontes de poluição difusa devidas à intensificação da utilização de pesticidas e fertilizantes na agricultura, cria situações de elevada eutrofização do meio, com a consequente perda da qualidade da água, tornando-se esta imprópria para a sobrevivência da espécie, podendo levar a situações de elevada toxicidade, com maior repercussão nos períodos de estiagem. As descargas provocam também episódios de anóxia, que eliminam por completo populações inteiras de bivalves, incapazes de fugir. A construção de barragens e açudes provoca a conversão de um sistema lótico em lêntico, em geral inadequado à sobrevivência de U. crassus, particularmente no caso de empreendimentos de grandes

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dimensões. A eutrofização e alteração dos parâmetros físico-químicos da água (nomeadamente aumento de temperatura da água, diminuição do oxigénio dissolvido e alteração de pH) que se verificam na grande maioria de albufeiras, tornam estas áreas impróprias como habitat desta espécie. Por outro lado, as margens das albufeiras são instáveis e não permitem o desenvolvimento de vegetação ripícola essencial para a consolidação do substrato onde os mexilhões se enterram. As barragens e açudes constituem também barreiras aos peixes hospedeiros das larvas de U. crassus, com os consequentes efeitos negativos nos bivalves.

A regularização de sistemas hídricos - nomeadamente através da transformação dos cursos de água

em valas artificiais com a uniformização do substrato, no intuito de melhorar o escoamento hídrico – leva à modificação drástica do leito do rio, à destruição total da mata ripícola e da vegetação aquática e à reestruturação artificial das margens, provocando a homogeneização do habitat, eliminando a alternância das zonas de remanso e de rápidos, essenciais para a sobrevivência dos bivalves e para o refúgio, reprodução e alimentação dos peixes hospedeiros das suas larvas.

Quando da extracção de materiais inertes, os bivalves, que se enterram na areia, são removidos, podendo ser destruída toda uma população. Pelas alterações da morfologia do leito do rio e destruição da vegetação ripícola que esta actividade implica, são igualmente afectados os peixes hospedeiros, no que respeita ao abrigo, alimentação e desova, sendo particularmente grave se efectuada nas zonas e épocas de desova da espécie. Durante os trabalhos de extracção há ainda um elevado aumento da turbidez da água num troço considerável a jusante, o que pode causar mortalidades importantes na ictiofauna, por asfixia dos peixes (devido à deposição de partículas nas guelras) e colmatação das suas posturas. O aumento da turbidez é também responsável pela deposição de sedimentos finos que colmatam o substrato, impedindo o desenvolvimento dos bivalves juvenis.

A regressão generalizada das espécies de peixes autóctones em Portugal, hospedeiros das larvas de Unio crassus, é reflectida nas populações de bivalves. Nalguns locais com habitat em relativo bom estado de conservação, os bivalves encontram-se em regressão acentuada ou já desapareceram devido ao desaparecimento da ictiofauna autóctone, muitas vezes substituída por espécies exóticas, como a perca-sol ou o achigã.

A introdução de espécies exóticas de peixes restringe o número de peixes de espécies autóctones,

hospedeiros das larvas de U. crassus. As espécies exóticas de lagostim alimentam-se dos estádios juvenis e adultos jovens desta espécie, e as espécies exóticas de bivalves competem directamente com U. crassus.

A sobre-exploração dos recursos hídricos provoca a diminuição dos caudais e, consequentemente, aumenta a extensão dos cursos de água que secam durante o Verão, reduzindo drasticamente o habitat disponível. Para além disso, a diminuição dos caudais aumenta a concentração das substâncias poluentes e altera profundamente as características do habitat (velocidade da corrente, temperatura, oxigenação, concentração de diversas substâncias e nutrientes, etc.) adequadas à espécie.

Objectivos de Conservação:

Manter as populações de Unio crassus nas sub-bacias do Sabor, Tua, Côa, Águeda (Douro) e Vascão. Incrementar as populações de Unio crassus no Tâmega, Vouga, Alto Mondego, Zêzere, toda a restante bacia do Guadiana e ainda o Sado.

Aumentar a área de ocupação actual

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Recuperar o habitat dos restantes cursos de água · Assegurar habitat de alimentação

· Assegurar habitat de reprodução · Assegurar habitat de abrigo

Orientações de gestão:

Importa salientar que, dada a dependência da espécie, na sua fase larvar, de hospedeiros piscícolas, qualquer intervenção sobre estes últimos tem grande influência sobre as populações de Unio crassus. Manter ou melhorar (consoante as áreas em causa) a qualidade da água a um nível favorável à conservação da espécie (não existindo informação específica relativa aos limites dos vários parâmetros físico-químicos da água tolerados pela espécie, poderão considerar-se como valores de referência os limites previstos nas “Normas de qualidade aplicáveis às águas piscícolas”, mais concretamente às águas de ciprinídeos, de acordo com o disposto no Decreto-Lei nº 236/98, de 1 de Agosto). Restringir o uso de agro-químicos, adoptando técnicas alternativas, como a protecção integrada e outros métodos biológicos, em áreas contíguas ao habitat da espécie.

Melhorar a eficácia de fiscalização sobre a emissão de efluentes, garantindo o cumprimento da legislação.

Monitorizar a qualidade da água, articulando com outras monitorizações já existentes1.

Sempre que possível, recorrer a outras alternativas à construção de novas barragens e açudes, tais como a exploração de aquíferos. Nos casos em que a sua construção seja imprescindível, deverá optar-se por soluções que induzam uma menor alteração dos habitats naturais - nomeadamente através da redução das dimensões dos diques e respectivas albufeiras e da implementação de sistemas de passagem para a fauna - diminuindo, assim, a possibilidade de ocorrência de isolamentos populacionais.

Assegurar o caudal dos cursos de água adequado às necessidades ecológicas da espécie e dos seus hospedeiros e que respeite as variações naturais dos regimes hidrológicos.

Condicionar a regularização dos sistemas hídricos em toda a área de ocorrência da espécie e restaurar as condições em rios onde a espécie ocorra.

Interditar a extracção de inertes em toda a área de ocorrência da espécie, em qualquer época do ano. Identificar os hospedeiros da espécie, de forma a coordenar as acções de conservação dos bivalves com acções de conservação da ictiofauna. Os esforços de conservação de Unio crassus de nada valem se não se conservarem também os hospedeiros das suas larvas.

Controlar introduções furtivas de espécies animais exóticas, através de educação ambiental e fiscalização. Reforçar os meios humanos, nomeadamente com estabelecimento de parcerias entre

1

O Decreto-Lei nº 236/98 de 1 de Agosto, Anexo XI, refere amostragens mensais para diferentes parâmetros físico-químicos, à excepção da temperatura, que é semanal. No entanto, a rede de monitorização instalada poderá não ser a mais apropriada para esta espécie.

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DGF, GNR e ICN, em especial no interior de Áreas Classificadas. Controlar ou erradicar as

populações das espécies já introduzidas2.

Condicionar a captação de água3 durante os meses de menor escoamento (variável de ano para ano, de acordo com as condições hidrológicas), em particular no baixo Sabor e rio Maçãs, em toda a bacia do Guadiana e ainda no rio Sado a montante da Alvalade. A autorização de captações de água deve ser avaliada caso a caso, tendo em conta os núcleos populacionais presentes na zona a intervencionar e o efeito da captação no regime hídrico de todo o rio ou bacia.

Definir zonas de protecção para o Unio crassus em Portugal, atendendo a que alguns núcleos populacionais são essenciais à sobrevivência de toda a população.

Planificar programas de recuperação de populações criticamente ameaçadas, como as do Alto Mondego, Zêzere, Sado e toda a bacia do Guadiana à excepção do rio Vascão.

Elaborar/implementar Planos de gestão localizados.

Ter em atenção as áreas de distribuição da espécie quando da elaboração dos estudos de impacto

ambiental. Fiscalizar o cumprimento das medidas de minimização e compensação previstas nas

avaliações de EIA.

Informar e sensibilizar o público para a conservação da espécie e do meio que a suporta.

Desenvolver campanhas de sensibilização e educação ambiental para diferentes grupos-alvo, nomeadamente pescadores profissionais, desportivos e público em geral.

Aprofundar os conhecimentos relativos às distribuições, biologia e ecologia da espécie. Em

particular, é necessário conhecer o ciclo de vida da espécie, incluindo longevidade, taxas de crescimento, taxas fisiológicas, fecundidades, frequência de reprodução, taxa de sobrevivência das larvas, taxa de recrutamento, hospedeiros adequados, valências ecológicas, entre outros.

Monitorizar anualmente populações chave (Rio Minho – montante da ponte internacional de

Monção; Lima – montante de Ponte da Barca; Tâmega – montante da ponte de Mondim de Basto; Tua,Tuela e Águeda- toda a extensão; bacia do Sabor – rio Sabor a jusante de Izeda e rio Maçãs; Côa – jusante da barragem do Sabugal; lagoas de água doce da bacia do Vouga; Rio Vouga – próximo de Sever do Vouga; Mondego – entre Coimbra e Montemor-o-Novo; Rio Tejo – Abrantes; Sado – Torre Vã; Mira – Saboia; Ribeiras da Foupana e Odeleite, rio Vascão – toda a extensão; Guadiana – Mértola; Ribª S. Pedro – Herdade dos Lameirões; Ribª de Carreiras e Oeiras – toda a extensão).

Bibliografia:

Hochwald S & Bauer G (1990) Untersuchungen zur Populationsökologie und Fortpflanzungsbiologie der Bachmuschel Unio crassus (Phil.) 1788. Schriftenreihe Bayer. Landesamt für Umweltschutz, Helf 97. Pp.31-49.

IUCN (2004). 2004 IUCN Red List of Threatened Species. www.redlist.org., acedido em 14.01.05 MED - Ministére de l´Écologie et du Développement (2004). Natura 2000. Espèces animales. http://natura2000.environnement.gouv.fr/habitats/cahiers7.html.

2

O Decreto-Lei nº 565/99, de 21 de Dezembro, prevê a existência de um Plano Nacional com vista ao controle ou erradicação das espécies não indígenas invasoras já introduzidas na Natureza.

3

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Reis J (2002). Bivalves de água doce em Portugal. Inventariação e Estado de Conservação. Relatório final de estágio. Instituto da Conservação da Natureza.

Reis J (2004). Atlas dos Bivalves de água doce de Portugal Continental. Relatório final. Projecto “Documentos Estruturantes” financiado pelo POA 1.100021. Instituto da Conservação da Natureza. Wells SM & Chatfield JE (1992). Threatened non-marine molluscs of Europe. Nature and Environment, nº 64. Council of Europe Press.

Woodward, F.R. (1996). Unio crassus Philipsson, 1788. Pp.. In: Background information on vertebrates of the Habitats Directive and the Bern Convention. Part III – Mollusca and Echinodermata. Pp. 519-523. Helsdingen PJ, Willemse L & Speight MCD (eds). Nature and Environment, nº 81. Council of Europe.

Referências

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