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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS FHS CURSO DE PSICOLOGIA. Adriano Aparecido de Oliveira

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CURSO DE PSICOLOGIA

Adriano Aparecido de Oliveira

PEDOFILIA:

a distinção entre o abusador preferencial e o oportuno

Governador Valadares 2009

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ADRIANO APARECIDO DE OLIVEIRA

PEDOFILIA:

a distinção entre o abusador preferencial e o oportuno

Monografia para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia, apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce.

Orientador: Roberto Jório Filho

Governador Valadares 2009

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ADRIANO APARECIDO DE OLIVEIRA

PEDOFILIA:

a distinção entre o abusador preferencial e o oportuno

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, 03 de junho de 2009.

Banca Examinadora:

____________________________________________ Professora Kelly Prata Silva

Universidade Vale do Rio Doce

_____________________________________________ Professora Valéria Chequer de Miranda Trindade

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Dedico esse trabalho ao Mestre Roberto Jório Filho, pela simples amizade, pelos meus valores que sempre aumenta, por minha fé que alimenta, pela presença nesse grande momento, por repreender-me quando estou errado, por tudo isso e muito mais eu te agradeço e te digo, Deus te abençoe amigo, a cada instante.

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AGRADECIMENTOS

A presente conquista não é resultado apenas dos últimos cinco anos de dedicação acadêmica, mas do imprescindível esforço de meus pais, por toda uma vida, que com perseverança, coragem e fé, conduziram minha educação. Por isso agradeço a Deus pelas suas vidas e pela enorme felicidade de poder concluir essa etapa. Meu carinho aos meus irmãos, que contribuíram de forma efetiva para essa vitória, em especial à minha irmã Sueli que mesmo de longe se fez presente. Obrigado por estarem do meu lado em todos os momentos!

A felicidade aparece para aqueles que choram, para aqueles que se machucam, para aqueles que buscam, para aqueles que tentam sempre e para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

Neste percurso encontrei força e fé bastantes para fazer das adversidades momentos doces, dificuldades para tornar-me mais forte, tristezas para fazer-me mais humano, perseverança e resignação para seguir em frente e esperança suficiente para realizar um sonho.

Agradeço aos Mestres por compartilhar o seu conhecimento, pela dedicação, persistência e paciência no exercício da arte de educar, em especial aos professores Roberto Jório, Kelly Prata e Valéria Chequer.

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RESUMO

Segundo a literatura revisada, um indivíduo que tenha cometido crime sexual contra criança para ter o diagnóstico de pedófilo, deve preencher os critérios previstos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV-TR (2000) e na Classificação Internacional de Doenças, CID 10 (1983). Sendo assim, nem todo indivíduo que comete crimes sexuais contra menores de idade é pedófilo, pois os crimes sexuais podem ser situacionais ou preferenciais e nem todo pedófilo é necessariamente criminoso, pois ele pode desenvolver o transtorno e contudo não passar ao ato, sendo necessário portanto que se façam as devidas distinções. Trata-se de um tema relevante para a sociedade, pois poderá contribuir com legisladores na elaboração de leis específicas para cada caso e por colocar o conhecimento produzido pela psicologia e psiquiatria como ferramentas para identificar estas diferenças e fornecer os indicativos necessários à justiça para uma punição adequada, bem como estabelecer os melhores critérios para o tratamento do abusador. Além de esclarecer sobre o transtorno parafílico do tipo pedofilia, justifica-se perante a generalização produzida através dos meios de comunicação do conceito de pedofilia, ao cunhar este conceito simplesmente por nomear quaisquer “crimes contra os costumes” que envolvam menores de idade, de pedofilia. Através do presente trabalho de pesquisa bibliográfica, pretende-se conceituar as parafilias e caracterizá-las dando ênfase à parafilia do tipo pedofilia, com o objetivo de distinguir o abusador pedófilo (preferencial), do abusador oportuno (situacional). A Monografia encontra-se nas áreas da Psicologia, da Psiquiatria e do Direito, organizada através dos fundamentos metodológicos da revisão bibliográfica, que utilizou os diversos desdobramentos do problema, para proporcionar uma melhor resposta à mesma.

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ABSTRACT

According to the literature review, an individual who has committed sexual crimes against children to have the diagnosis of pedophilia must meet the criteria of Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM-IV-TR (2000) and the International Classification of Diseases, CID 10 (1983). Therefore, not all individuals who commit sexual crimes against children under age is pedophile, because the sexual crimes can be situational or preferential child molester and not all necessarily be criminal, he may develop the disorder and it does not pass the act, and therefore need that will be necessary distinctions. This is an issue relevant to society, it could help with legislators in the drafting of laws specific to each case and to put the knowledge produced by psychology and psychiatry as tools to identify these differences and provide the indicators needed to justice for punishment appropriate and establish the best criteria for the treatment of the abuser. In addition to clarifying the type of paraphilias disorder pedophilia, it is produced before the general through the media of the concept of pedophilia, to coin this concept by simply appoint any "crimes against the customs" involving children under age of pedophilia . Through this work of literature is to conceptualize the paraphilias and characterize them emphasizing the type of paraphilias pedophilia, with the aim of distinguishing the abuser pedophile (preferred), the abuser appropriate (situational). The monograph is in the areas of Psychology, Psychiatry and the Law, organized by the methodological foundations of the literature review, using the various ramifications of the problem, to provide a better response to it.

Keywords: Pedophilia. Sexual Crime. Psychology. Law.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 8

2 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO NOSOLÓGICA DAS PARAFILIAS ... 13

2.1 CONCEITUAÇÃO DAS PARAFILIAS ... 13

2.2 CLASSIFICAÇÃO NOSOLÓGICA DAS PARAFILIAS ... 17

3 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA PARAFILIA DO TIPO PEDOFILIA ... 21

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PARAFILIA DO TIPO PEDOFILIA ... 21

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA PARAFILIA DO TIPO PEDOFILIA ... 26

4 PEDOFILIA ENQUANTO TRANSTORNO E CRIME ... 30

4.1 PEDOFILIA ENQUANTO TRANSTORNO ... 30

4.2 PEDOFILIA ENQUANTO CRIME ... 33

5 POSSÍVEIS CAUSAS E SUGESTÕES TERAPÊUTICAS PARA O TRATAMENTO DO TRANSTORNO PARAFÍLICO DO TIPO PEDOFILIA ... 39

5.1 POSSÍVEIS CAUSAS DO TRANSTORNO PARAFÍLICO DO TIPO PEDOFILIA 39 5.2 SUGESTÕES TERAPÊUTICAS PARA O TRANSTORNO PARAFÍLICO DO TIPO PEDOFILIA ... 42

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa bibliográfica, pretende caracterizar a parafilia do tipo pedofilia com o objetivo de distinguir o abusador pedófilo (preferencial), do abusador oportuno (situacional).

Esclarecer sobre o transtorno parafílico do tipo pedofilia, justifica-se perante a generalização produzida através dos meios de comunicação do termo pedofilia, ao cunhar este conceito simplesmente por nomear quaisquer crimes sexuais que envolvam menores de idade, de pedofilia.

Trata-se de um tema relevante para a sociedade, pois poderá contribuir com legisladores na elaboração de leis específicas para cada caso e por colocar o conhecimento produzido pela psicologia e psiquiatria como ferramentas para identificar estas diferenças fornecendo assim os indicativos necessários à justiça para uma punição adequada, bem como estabelecer os melhores critérios para o tratamento do indivíduo abusador.

O tema em questão merece amplitude no seu debate por ter emergido de modo significativo após a democratização e acesso aos meios de comunicação e a facilidade e velocidade das notícias, não se mantendo restrito a pequenos grupos e seguimentos.

O termo parafilia surge com a psiquiatria em substituição à expressão “perversão sexual”. O conceito “perversão” aparece pela primeira vez em Freud, nos “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1980). Esse conceito será explicitado no decorrer do trabalho para melhor compreensão do leitor.

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças, CID 10 (1983), as parafilias (pedofilia, urofilia, coprofilia, necrofilia, sadismo, masoquismo, etc.), se caracterizam por impulsos sexuais intensos e recorrentes, modulados por fantasias e padrões de comportamento não convencionais que podem provocar alterações desfavoráveis na vida social, familiar e ocupacional da pessoa, sendo este um comportamento que se caracteriza pela repetição, como em um quadro compulsivo.

De acordo com Meyer (1999), o fato de um indivíduo mostrar preferências por determinadas partes do corpo, acessórios e objetos, não necessariamente caracteriza uma parafilia e em muitos casos não existe risco para que possa determinar uma conduta criminosa.

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O termo “pedofilia” nas suas origens designava o amor de um adulto pelas crianças (do grego antigo paidophilos: pais = criança e phileo = amar). No entanto, a palavra tomou outro sentido sendo designada para caracterizar uma parafilia, qual seja a atração sexual preferencial de adultos para crianças em idade pré - puberal, ou seja, crianças que ainda não adquiriram os caracteres sexuais secundários.

A pedofilia segundo a Classificação Internacional de Doenças, CID 10 (1983), é definida como Preferência sexual por crianças, meninos ou meninas, geralmente pré-púberes. O DSM-IV-TR (2000), conceitua pedofilia como uma desordem psicológica, na qual há preferência sexual por crianças pré-púberes e para que se configure o transtorno pedofílico, o indivíduo deve preencher determinados critérios diagnósticos.

Além da pedofilia, um número significativo de pedófilos encontra-se concomitantemente envolvido, ou já esteve, com exibicionismo, voyerismo ou estupro. Embora não seja classificado como uma perversão no sentido estrito, o incesto está superficialmente relacionado à pedofilia, pela frequente seleção de uma criança imatura como objeto sexual, pelo componente sutil ou declarado de coerção e, ocasionalmente, pela natureza preferencial da ligação adulto-criança (KAPLAN, 1993, p. 471).

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pedofilia é classificada como uma desordem mental e de personalidade do adulto e também como desvio sexual.

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças aprovada em 1989 pela Assembléia Geral das Nações Unidas no seu artigo19, define que os países signatários devem tomar todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas adequadas à proteção da criança, inclusive no que se refere à violência sexual.

O contexto histórico da parafilia do tipo pedofilia encontra no antigo Egito relatos de envolvimento entre faraós e infantes. Na Grécia antiga cabia ao chefe da família conduzir os jovens à iniciação sexual, desenvolvendo-se a partir daí a prática da relação sexual entre homens e a pedofilia. Existem também relatos do envolvimento de adultos com crianças nas Sociedades Romanas, no Mundo Árabe no Extremo Oriente e na Europa.

A partir do século XVIII importantes transformações ocorreram. As crianças passaram a ser vistas como indivíduos com características específicas para sua etapa de desenvolvimento.

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O século XIX é marcado por um avanço significativo das ciências. Desde então os desvios sexuais passaram a ser tema de estudos da medicina, da psicologia e das outras ciências.

Os crimes sexuais de acordo com o Código Penal Brasileiro (2006), são definidos como “crimes contra os costumes”, dos artigos de 213 a 224 e de 233 a 234 que incluem estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude, corrupção de menores, rapto violento ou mediante fraude, rapto consensual, presunção de violência e outros. Neste mote o indivíduo que comete crime sexual contra menores de idade não necessariamente é pedófilo, pois a motivação para o crime poderá ser situacional e não preferencial.

É erroneamente diagnosticado como pedófilo todo aquele que abusa sexualmente de crianças, pois esta parafilia implica, como dito anteriormente, a preferência sexual por crianças. Diversas situações e estados mentais podem contribuir para o abuso sem que o indivíduo possa ser caracterizado como pedófilo. Mesmo o comportamento pedofílico pode variar conforme a idade e os estressores, apesar do curso ser geralmente crônico. Uma forma muito difundida atualmente é a pornografia infantil pela internet, situação em que o sentimento de anonimato pode estar revelando tendências que de outro modo ficariam reprimidas. Nesses casos, é importante a distinção entre os verdadeiros pedófilos, os consumidores de pornografia em geral, os curiosos e os que procuram satisfazê-los por interesse pecuniário (DUQUE 2000, p. 300).

No Código Penal Brasileiro (2006), não existe “Crime de Pedofilia”, sendo a pedofilia o transtorno parafílico e não o crime. O que configura crime é a prática da parafilia pedofílica envolvendo menores de idade. Os pedófilos que passam ao ato podem ser acusados e sentenciados por crimes que variam de atentado violento ao pudor a estupro, agravados pela presunção de violência e seus atos são considerados crimes hediondos pela lei 8.072/90. Existem no momento projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, que objetivam tipificar os crimes sexuais cometidos por pedófilos, a fim de aumentar a pena para quem os comete, tentar inibir tais práticas e assim proteger os menores de idade contra este tipo de abuso.

Segundo Duque (2000), é necessário ressaltar que a pedofilia enquanto desejo, tendência ou preferência não é crime, que nem todos os diagnosticados com o transtorno de pedofilia passam ao ato e que alguns procuram situações que os coloquem em contato com crianças como escolas e creches, não apenas para satisfazer os desejos e sim para mediante mecanismo de sublimação, poder controlá-lo e evitar sua atuação.

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O autor acima citado ressalta ainda que as causas do comportamento pedófilo são desconhecidas e diferentes estudos têm sido realizados no sentido de definir relações causais deste tipo de comportamento. Pensava-se que o histórico de abuso sexual na infância era um fator importante para determinar a causa da pedofilia, porém pesquisas recentes não encontraram relação causal, uma vez que a maioria dos infratores adultos relata não ter sido vítima de abusos sexuais na infância.

Percebe-se assim, que a respeito das possíveis causas para a pedofilia não há concordância entre os pesquisadores, pois segundo Looman apud Serafim (2007), as possíveis causas destes comportamentos estão associadas à história de abuso físico, sexual, exposição à violência familiar durante a infância e uso de álcool e outras drogas durante a adolescência.

De acordo com a presente pesquisa bibliográfica, verificou-se que diversos estudos têm sido realizados em centros de referência e universidades na busca de explicação para o comportamento pedófilo, além de estudos que visam encontrar o mais adequado modo de tratamento, o que será melhor explicitado posteriormente para facilitar o entendimento do leitor.

Os parafílicos raramente procuram tratamento por conta própria, uma vez que a parafilia é vivida como uma tentativa de solução dos conflitos internos, especialmente a dificuldade de satisfação por outros meios, o que justificaria o recrudescimento dos sintomas em períodos especialmente estressantes (DUQUE 2000, p. 308).

Sendo assim, o objetivo desta pesquisa bibliográfica, é esclarecer o transtorno pedofílico a fim de responder ao seguinte problema: Como fazer a distinção entre o abusador preferencial e o oportuno?

O debate amplia-se para as áreas do direito penal, da psiquiatria e da psicologia. O Congresso Brasileiro tem discutido o tema através da instituída Comissão Parlamentar de Inquérito, CPI da Pedofilia. Trata-se de um tema relevante que merece amplitude no seu debate, visto que tal fenômeno apresenta-se com freqüência significativa na atualidade.

A Monografia encontra-se nas áreas da Psicologia, da Psiquiatria e do Direito, organizada através dos fundamentos da metodologia do tipo revisão bibliográfica.

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Assim, buscou-se correlacionar o entendimento dos diversos autores pesquisados, a fim de entender o transtorno parafílico do tipo pedofilia e seus desdobramentos na sociedade atual.

O primeiro capítulo deste trabalho de revisão bibliográfica terá como objetivo conceituar as parafilias de acordo com o entendimento médico-psiquiátrico e classificá-las nosologicamente através da Classificação Internacional de Doenças, CID 10 (1983), do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV-TR (2000) e de conceitos da psicologia, dando ênfase à parafilia do tipo pedofilia.

No segundo capítulo, será caracterizada a parafilia do tipo pedofilia de acordo com os conceitos obtidos através dos diversos autores estudados. Além dos conceitos serão evidenciados os aspectos históricos e culturais que envolvem a pedofilia, entendida em determinadas épocas e locais como uma normalidade.

O terceiro capítulo versará sobre os aspectos legais referentes aos crimes sexuais, fazendo a distinção entre o criminoso sexual preferencial e o criminoso sexual situacional, além de esclarecer aspectos importantes como por exemplo, o pedófilo que não passa ao ato portanto não comete crime, e o criminoso sexual que tenha abusado de crianças e não necessariamente é pedófilo.

No quarto e último capítulo serão elencadas as possíveis causas da pedofilia e as diversas sugestões terapêuticas para o tratamento do pedófilo, segundo estudos da psiquiatria e da psicologia.

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2 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO NOSOLÓGICA DAS PARAFILIAS

2.1 CONCEITUAÇÃO DAS PARAFILIAS

Na atualidade, segundo classificação de Holmes (2001), que segue os padrões do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-IV- TR (2000) existem três tipos de transtornos relacionados ao sexo:

a) As denominadas disfunções sexuais que envolvem desejo ou estimulação insuficientes e problemas com o prazer (orgasmo);

b) As parafilias, gênero daqueles que buscam a satisfação de estímulos sexuais através de meios inapropriados, dentre as quais se encontram práticas como o exibicionismo, fetichismo, necrofilia, coprofilia, masoquismo, sadismo, pedofilia e outros;

c) Os transtornos de identidade de gênero.

Dentre os três tipos de transtornos acima citados relacionados ao sexo, nos deteremos aos transtornos denominados “parafilias”. Entende-se por parafilia, um conjunto de transtornos relacionados à sexualidade humana anteriormente referidos como perversões, conceito este que aparece pela primeira vez em Freud, nos “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1980).

De acordo com Corrêa (2006), a palavra perversão em sua origem está carregada de juízo de valor. Segundo o autor, o substantivo perverso já nomeia adjetivando, pois este “Verso” é de verter, verter para o caminho errado, sair do que é direito e bom. Literalmente, o perverso é contrário aos padrões aceitos, ou o que é ainda mais forte, contrário à direção do juízo ou à lei.

De acordo com o DSM-IV-TR (2000), quando o comportamento individual de excitação sexual somente se dá em resposta à objetos ou situações diferentes das tidas como normais e quando esse comportamento interfere na capacidade do indivíduo de ter relações sexuais e/ou afetivas tidas como normais, dá-se o nome a essa disfunção de parafilia.

As parafilias, (assim como os transtornos da identidade de gênero), eram chamadas “perversões sexuais”, termo que tende a ser abandonado, já que

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na linguagem leiga a palavra “perversão” é rapidamente assimilada à “maldade”, “ruindade”, “erro moral (DALGALARRONDO, 2000, p. 221). A etimologia da palavra “parafilia” segundo Corrêa (2006), diz respeito à “para” de paralelo, ao lado de, e “filia” de amor à, apego à. Portanto, para estabelecer-se uma parafilia está implícito reconhecer aquilo que é convencional, para em seguida detectar-se o que estaria “ao lado“ deste convencional. Culturalmente se reconhece o sexo convencional como sendo heterossexual, coital, com finalidade prazerosa e/ou procriativa.

Pelo exposto no DSM-IV-TR (2000), o diagnóstico de Parafilias entre as várias culturas ou religiões é complicado pelo fato de que aquilo que é considerado um desvio em um contexto cultural, pode ser mais aceitável em outro. O que foge ou extrapola o convencional pode ser considerado parafilia desde que preencha determinados critérios. As características essenciais de uma parafilia consistem de fantasias, anseios sexuais ou comportamentos recorrentes, intensos e sexualmente excitantes, em geral envolvendo:

a) Objetos não humanos;

b) Sofrimento ou humilhação próprios ou do parceiro;

c) Crianças ou outras pessoas sem o consentimento, ocorrendo durante um período mínimo de seis meses (critério A).

Em alguns indivíduos, as fantasias ou estímulos parafílicos são obrigatórios para a excitação erótica e sempre incluídos na atividade sexual. Em outros casos as preferências parafílicas ocorrem apenas episodicamente, como por exemplo durante período de estresse, ao passo que em outros momentos o indivíduo é capaz de funcionar sexualmente sem fantasias ou estímulos parafílicos. O comportamento, os anseios sexuais ou as fantasias causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo do funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (critério B). Portanto, somente está configurada a parafilia quando há necessidade de se substituir a atitude sexual convencional por qualquer outro tipo de expressão sexual, sendo este substitutivo a preferida ou a única maneira da pessoa conseguir excitar-se.

Tanto no DSM IV, quanto na CID 10 (Classificação Internacional de Doenças-Organização Mundial da Saúde, 1993), as parafilias (fetichismo, transvestismo fetichista, exibicionismo, voyerismo, necrofilia, pedofilia, etc.), se configuram como uma sexualidade caracterizada por impulsos sexuais

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intensos e recorrentes, modulados por fantasias e manifestações de comportamentos não convencionais, provocando alterações desfavoráveis na vida familiar, ocupacional e social da pessoa por ser um padrão de comportamento caracterizado pela repetição como um quadro compulsivo. As fantasias geralmente compreendem desejos sexuais ou comportamentos recorrentes, intensos e sexualmente excitantes, podendo envolver objetos não-humanos, sofrimento ou humilhação próprios ou do parceiro, crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento (MEYERS e BLASHFIELD, 1997, apud SERAFIM, 2007 p.1).

Para Meyer, apud Serafim (2007), o fato de um indivíduo apresentar preferências por determinadas partes do corpo, objetos e acessórios, não representa necessariamente uma parafilia e em muitos casos não há risco para condutas sexuais criminosas. Segundo esse autor, para que este funcionamento preencha critérios para uma parafilia deve-se considerar no seu portador os seguintes aspectos:

a) Caráter opressor, com perda de liberdade de opções e alternativas. O parafílico não consegue deixar de atuar dessa maneira;

b) Caráter rígido, significando que a excitação sexual só se consegue em determinadas situações e circunstâncias estabelecidas pelo padrão de conduta parafílica;

c) Caráter impulsivo, que se reflete na necessidade imperiosa de repetição da experiência.

Os aspectos acima segundo afirma o autor, evidenciam a marcante presença de um quadro compulsivo.

Os indivíduos que não dispõem de um parceiro consensual com quem possam atuar suas fantasias, podem recorrer aos serviços de prostituição ou atuar suas fantasias contra a vontade de suas vítimas. Os indivíduos com uma parafilia podem escolher uma profissão ou desenvolver um passatempo ou trabalho voluntário que os coloque em contato com o estímulo desejado, por exemplo vender sapatos ou roupas íntimas femininas [fetichismo], trabalhar com crianças [pedofilia], ou dirigir uma ambulância [sadismo sexual]. Eles podem ver, ler, comprar ou colecionar seletivamente fotografias, filmes e textos que enfocam seu tipo preferido de estímulo parafílico (DSM-IV-TR, 2000, p. 496).

Segundo o DSM-IV-TR (2000), alguns indivíduos relatam que seu comportamento parafílico não lhes causa sofrimento e que seu único problema decorre da disfunção sexual resultante da reação de outras pessoas a seu comportamento. Outros relatam extrema culpa, vergonha e depressão pela necessidade de se envolverem em uma atividade sexual incomum que é

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socialmente inaceitável ou que eles próprios consideram imoral. Existe o prejuízo por não ter uma atividade sexual recíproca e afetuosa, podendo ocorrer distúrbios sexuais. Distúrbios de personalidade também são freqüentes, podendo ser suficientemente severos para indicar um diagnóstico de Transtorno de Personalidade. Sintomas depressivos podem desenvolver-se em indivíduos com parafilias, podendo acompanhar-se da freqüência e intensidade do comportamento parafílico.

A prevalência das parafilias pelo exposto no DSM-IV-TR (2000), encontra suporte no amplo mercado da pornografia e da indústria dos objetos parafílicos. Os problemas apresentados com maior freqüência em clínicas especializadas no tratamento de parafilias são: pedofilia, voyerismo e exibicionismo. O masoquismo sexual e o sadismo sexual são vistos com uma freqüência muito menor. Aproximadamente metade dos indivíduos com parafilias vistos em clínicas, são casados.

Para se fazer o diagnóstico diferencial, deve-se considerar o uso não patológico de fantasias sexuais, comportamentos ou objetos como estímulo para a excitação sexual em indivíduos sem parafilia. Fantasias e objetos são parafílicos, apenas quando levam à prejuízos e sofrimentos clinicamente significativos.

Para Kaplan (1993), definir a sexualidade normal é difícil e não é prática em termos clínicos. Mais fácil seria definir a sexualidade anormal. No caso das parafilias as fronteiras entre o normal e o patológico são bastante arbitrárias, uma vez que entre o gostar e integrar determinada fantasia ou prática em meio à atividade sexual geral, e o fixar-se de forma intensa a um padrão sexual exclusivo e potencialmente lesivo para si e para os outros, nem sempre é fácil a discriminação.

Em casos de retardo mental, demência, alteração da personalidade devido a uma condição médica geral, intoxicação com substância, episódio maníaco ou esquizofrenia, pode haver redução do julgamento, habilidades sociais ou controle de impulsos que, em casos raros leva a um comportamento sexual incomum. Estes casos específicos podem ser diferenciados de uma parafilia por serem atos isolados, quando não são o padrão preferido ou obrigatório das práticas sexuais daquele indivíduo (DSM-IV-TR, 2000, p. 497).

Pelo exposto no DSM-IV-TR (2000), o curso de alguns dos transtornos de ordem sexual podem se iniciar na infância ou nos primeiros anos da adolescência, mas tornam-se mais definidos e elaborados durante a adolescência e início da idade

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adulta. A elaboração e a revisão das fantasias parafílicas podem continuar ao longo de toda a vida do indivíduo. Há uma tendência à diminuição das fantasias com o avanço da idade, porém os comportamentos poderão aumentar em resposta a estressores psicossociais, em relação a outros transtornos mentais ou com o aumento das oportunidades de envolvimento na parafilia.

Sendo assim, na parafilia os meios se transformam em fins e de maneira repetitiva, configurando um padrão de conduta rígido no qual na maioria das vezes, acaba por se transformar numa compulsão opressiva que impede outras atividades sexuais, podendo causar prejuízos significativos para o indivíduo ou para os outros.

2.2 CLASSIFICAÇÃO NOSOLÓGICA DAS PARAFILIAS

O quadro abaixo demonstra a classificação nosológica dos transtornos de ordem sexual, com base nas informações contidas no DSM-IV-TR (2000) e CID 10. Segundo o DSM-IV-TR (2000), as parafilias são diferenciadas com base no foco parafílico característico. Se as preferências sexuais de um indivíduo satisfizerem os critérios para mais de uma parafilia, todas deverão ser diagnosticadas. Os códigos e termos diagnósticos são os seguintes:

DSM-IV-TR (2000) OMS- CID-10 (1993)

302.4 Exibicionismo, F65.0 Fetichismo

302.81 Fetichismo, F65.1 Transvestismo Fetichista, 302.89 Frotteurismo F65.2 Exibicionismo

302.2 Pedofilia F65.3 Voyerismo

302.83 Masoquismo Sexual F65.4 Pedofilia

302.84 Sadismo Sexual F65.5 Sadomasoquismo

302.82 Voyerismo F65.6 Transtornos Múltiplos de Preferência Sexual

302.3 Fetichismo Transvéstico

F65.8 Outros Transtornos de Preferência Sexual

302.9 Parafilia Sem Outra Especificação F65.9 Transtorno de Preferência Sexual não Especificado.

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Exibicionismo: O foco parafílico envolve a exposição dos genitais a estranhos. O individuo pode se masturbar enquanto se expõe. Ao agir com o foco no anseio de se exibir, não existe qualquer tentativa de uma atividade adicional com o estranho. Em certos casos o individuo está com o objetivo de chocar o outro, surpreendê-lo ou excitá-lo. O início acontece geralmente antes dos 18 anos de idade, porém pode começar mais tarde. Poucos indivíduos de faixa etária mais avançada são detidos, o que sugere uma condição menos severa após os 40 anos de idade.

Fetichismo: Envolve o uso de objetos inanimados, chamados fetiches. Os objetos de fetiche mais comuns são calcinhas, soutiens, meias, sapatos, botas ou outras peças do vestuário feminino. O indivíduo com fetichismo se masturba enquanto esfrega ou cheira o objeto do fetiche ou pode pedir que o parceiro use o objeto em seus encontros. Os objetos em geral podem ser exigidos ou preferidos para a excitação sexual, podendo os homens em sua ausência apresentar disfunção erétil. Uma vez estabelecido, o fetichismo tende a ser crônico.

Frotteurismo: A excitação sexual está relacionada ao esfregar-se e tocar em uma pessoa sem seu consentimento, ocorrendo em locais de grande concentração de pessoas, como por exemplo, calçadas muito movimentadas ou veículos coletivos. Geralmente a parafilia inicia-se na adolescência, sendo que a maior parte dos atos referentes a esse transtorno ocorre quando a pessoa está entre 15 e 25 anos. Após esta idade observa-se um declínio gradual dessa freqüência.

Pedofilia: Envolve a atividade sexual com criança pré-púbere, geralmente com 13 anos de idade ou menos. Os indivíduos com pedofilia geralmente relatam uma atração por crianças de uma determinada faixa etária. Alguns preferem meninos, outros meninas, e outros possuem atração por ambos os sexos. Alguns indivíduos sentem atração exclusivamente por crianças (tipo exclusivo), outros sentem atração tanto para crianças quanto para adultos (tipo não-exclusivo).

Masoquismo Sexual: Possui o foco parafílico no ato real de ser humilhado, espancado, atado, ou submetido a formas de sofrimento. Os atos masoquistas podem ser buscados por conta própria, por exemplo, atando-se a si mesmo, picando-se com alfinetes ou agulhas, auto-administrando choques elétricos mutilando-se, ou com o envolvimento de um parceiro incluindo colocação de vendas, palmadas, espancamento, açoitamento, choques elétricos, cortes, perfurações e humilhação, como por exemplo, receber do parceiro sobre si a urina ou as fezes, ser

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forçado a rastejar, latir como cão, ou ser submetido a abuso verbal. O transvestismo forçado pode ser usado como forma de humilhação, o indivíduo pode ter o desejo de ser tratado como bebê indefeso e usar fraldas, (infantilismo). Há ainda uma forma perigosa de masoquismo sexual chamada “hipoxifilia”, que envolve a excitação sexual pela privação de oxigênio obtida por meio de compressão toráxica, ataduras ou sufocação com saco plástico. O masoquismo sexual geralmente é crônico, com tendência de repetição do mesmo ato por muitos anos. Outros aumentam gradativamente seus atos, podendo causar ferimentos ou até mesmo a morte.

Sadismo Sexual: O indivíduo se excita com o sofrimento físico ou psicológico da vítima. Neste caso a fantasia envolve o completo controle sobre sua vítima. Outros atuam com consentimento de seu parceiro em sofrer dor ou humilhação. Nestes casos o sádico pode atar, vendar, dar palmadas, espancar, chicotear, beliscar, bater, queimar, administrar choques elétricos, estuprar, cortar, esfaquear, torturar, mutilar ou matar a vítima. O sadismo sexual geralmente é crônico e geralmente a gravidade dos atos sádicos aumenta com o passar dos anos.

Fetichismo Transvéstico: O foco parafílico do fetichismo transvéstico envolve vestir-se com roupas do sexo oposto. Geralmente, o homem com esta parafilia mantém uma coleção de roupas femininas, que usa intermitentemente. O indivíduo se masturba enquanto usa roupas femininas imaginando-se tanto como sujeito masculino quanto como objeto feminino de sua fantasia. Este transtorno tem sido descrito apenas em homens heterossexuais. Este transtorno porém, não é descrito quando o vestir-se com roupas do sexo oposto ocorre exclusivamente durante o curso de um transtorno de identidade de gênero. Alguns homens usam apenas uma peça do vestuário feminino como cinta liga sob suas roupas masculinas, outros usam inteiramente suas roupas e usam maquiagem.

Voyeurismo: Ato que envolve a observação de indivíduos, geralmente estranhos, sem que estes suspeitem que estejam sendo observados. O ato de observar tem a finalidade de excitação sexual, e geralmente não há a tentativa do estabelecimento de contato sexual com o observado. O orgasmo, através da masturbação, pode acontecer durante a observação ou mais tarde, em resposta à lembrança do momento observado. Em sua forma severa, o ato de observar constitui uma forma exclusiva da atividade sexual. O curso tende a ser crônico.

Estudar as Parafilias é importante para conhecer as variantes da sexualidade e do erotismo em suas diversas formas de estimulação e expressão. Estabelecer um

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banco de dados que classifique todas as parafilias tem se tornado muito difícil devido à crescente variabilidade percebida no que se refere às práticas sexuais. Muitas “fantasias” podem passar à ordem de parafilias, dependendo do grau de dependência e recorrência de tais práticas. Por outro lado, conceituar a sexualidade normal, tem-se tornado também muito difícil, pois o que é considerado normal em uma cultura pode não ser em outra.

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3 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA PARAFILIA DO TIPO PEDOFILIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PARAFILIA DO TIPO PEDOFILIA

Segundo Verhoeven (2007), o termo “pedofilia” nas suas origens designava o amor de um adulto pelas crianças (do grego antigo paidophilos: pais = criança e phileo = amar). No entanto, a palavra tomou um outro sentido sendo designada para caracterizar uma parafilia, qual seja a pedofilia, uma atração sexual preferencial de adultos para crianças em idade pré-puberal, ou seja, crianças que ainda não adquiriram os caracteres sexuais secundários.

É importante ressaltar que caracteres sexuais secundários são as alterações na forma do corpo, acompanhadas pela maturação sexual. Nas meninas estas características são evidenciadas principalmente no crescimento dos pêlos pubianos, mamilos e com a primeira menstruação (menarca). Nos meninos verificam-se os caracteres sexuais secundários no crescimento dos pêlos pubianos e axilares, aparecimento da barda, engrossamento da voz, aumento dos testículos e do pênis e com a primeira ejaculação. Desta forma, a atração segundo afirma Duque (2000), está focada na criança como objeto do desejo do pedófilo e não no interesse por uma relação consensual e de troca.

A pedofilia segundo a Classificação Internacional de Doenças, CID 10 (1983), caracteriza-se pela preferência sexual por crianças, quer se tratem de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes.

O DSM-IV-TR (2000), conceitua pedofilia como uma desordem psicológica, qual seja a preferência sexual por crianças pré-púberes e o indivíduo com o transtorno pedofílico deve preencher os critérios diagnósticos para 302.2, pedofilia, abaixo relacionados:

a) Ao longo de um período mínimo de 6 meses, fantasias sexualmente excitantes recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança pré-púbere (geralmente com 13 anos ou menos).

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b) As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo do funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

c) O indivíduo tem no mínimo 16 anos e é pelo menos 5 anos mais velho que a criança ou crianças no Critério A.

Especificar se:

Atração Sexual por Homens; Atração Sexual por Mulheres;

Atração Sexual por Ambos os Sexos. Especificar se:

Limitada ao Incesto Especificar tipo:

Tipo Exclusivo (atração sexual apenas por crianças) Tipo Não-Exclusivo (atração sexual por crianças e adultos)

A pedofilia para Dalgalarrondo (2000), é dentre todas as parafilias umas das mais freqüentes e perturbadoras do ponto de vista humano. Caracteriza-se pela freqüência em realizar, ativamente ou na fantasia, práticas sexuais com crianças. Pode ser homossexual (pederastia) ou heterossexual (pedofilia propriamente dita), ocorrendo no interior da família e conhecidos ou entre estranhos. A pedofilia pode incluir apenas o brincar jogos sexuais com a criança (observar ou despir a criança ou despir-se na frente dela), a masturbação ou a relação sexual completa (geralmente o estupro).

Segundo Kaplan (1993), a vasta maioria das molestações de crianças envolve carícias genitais e sexo oral. A penetração vaginal ou anal da criança é uma ocorrência infreqüente, exceto nos casos de incesto. O autor ressalta ainda que 95% dos pedófilos são heterossexuais e 50% consumiram álcool em excesso por ocasião do incidente. Além da pedofilia, um número significativo de pedófilos encontra-se concomitantemente envolvido, ou já esteve, com exibicionismo, voyerismo ou estupro. O incesto, de acordo com o autor, está superficialmente relacionado com a pedofilia, pela freqüente seleção de uma criança imatura como objeto sexual, pelo componente sutil ou declarado de coerção e, ocasionalmente, pela natureza preferencial da ligação adulto-criança.

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Pelo exposto por Dietz et al apud Serafim (2007), a dificuldade no controle desta compulsão se apresenta como o fator de maior vulnerabilidade para a ocorrência de condutas criminosas com abrangência médico-legal. De acordo com Campbell (1995) apud Serafim (2007), outros fatores como nível alto de testosterona, incapacidade em manter relação conjugal estável, traumatismo crânio encefálico, retardo mental, psicoses, abuso de álcool e substâncias psicoativas, reincidência de crimes e transtornos da personalidade, representam também um escopo de vulnerabilidade para as condutas sexuais criminosas.

Entre os casos legalmente identificados de parafilias, a pedofilia é, de longe, a mais comum de todas. Dez a 20% de todas as crianças já foram molestadas, ao atingirem 18 anos. Uma vez que a criança é objeto, o ato é considerado com maior seriedade, e um maior esforço é realizado para localizar o culpado do que em outras parafilias (KAPLAN, 1993, p. 470).

De acordo com Verhoeven (2007), os impulsos sexuais direcionados às crianças são vistos de um modo geral como degradantes, imorais e assim inaceitáveis pela maioria das pessoas, embora existam grupos ativistas pró-pedofilia, os quais defendem a tese polêmica de que a pedofilia não seria uma doença ou um desvio sexual, mas sim uma orientação sexual específica, tanto quanto a homossexualidade ou a heterossexualidade e desejam o reconhecimento da sociedade neste ponto. Sua pretensão não encontra apoio na comunidade científica, que condena também as tentativas de "neutralização" dos crimes praticados por pedófilos.

Segundo Verhoeven (2007), em seu artigo “Um Olhar Crítico Sobre o Ativismo Pedófilo”, publicado na Revista da Faculdade de Direito de Campos, existem na atualidade várias dessas organizações ativistas sendo uma delas a NAMBLA, www.nambla.org, The North American Man/Boy Love Association, baseada nas cidades de Nova York e São Francisco nos Estados Unidos, que defende veementemente a legalização da relação sexual entre homens e meninos, sob o argumento de que as minorias possuem o direito de livremente explorar a sexualidade.

Em uma investigação da Polícia Federal dos Estados Unidos, Bureau of Investigation (FBI), foi constatada a existência até 1995 de 1.100 membros somente na assossiação NAMBLA, acima citada. Segundo a autora, a grande meta das organizações a favor da pedofilia é acabar com a opressão sobre o relacionamento

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entre homens e meninos que livremente consintam nessa direção. Estas organizações clamam também pela adoção de leis que protejam tanto as crianças que não repudiam determinada relação sexual, quanto à liberdade daquelas que propõem exercer sua própria sexualidade.

Dentre outras organizações pró-pedofilia, destacam-se também a MARTINJ, www.martinj.org, associação fundada na Holanda em 1982, a RENE GUYON SOCIETY com sede na Califórnia, a AMBLA, que não possui mais endereço eletrônico, a AG-PAEDO, organização expressiva de ativistas pedófilos alemães, os quais realizam dois encontros anuais, posuem publicações de interesse da comunidade pedófila e dão suporte para condenados por prática de pedofilia. A COALITION PÉDOPHILE QUEBECOIS é uma organização que era considerada extinta, porém sinais atuais indicam a sobrevivência dessa comunidade pedófila no Canadá e ainda a DANISH PAEDOPHILE ASSOCIATION (DPA), uma comunidade de ativismo pedófilo situada na Dinamarca, sem muitos dados sobre este grupo de acordo com a autora.

Em Felipe (2006), percebe-se que um dos aspectos mais preocupantes e que tem merecido atenção especial do poder público e de várias entidades civis em defesa da criança e do adolescente, diz respeito à prática da pedofilia, especialmente aquela cometida através da internet, uma vez que envolve a produção de material pornográfico utilizando imagens de crianças muitas vezes submetidas a toda sorte de violência sexual. O Brasil, segundo a pesquisadora supracitada, ocupa o 4º lugar no ranking de material pornográfico, com pelo menos 1.210 endereços na internet. Um dos nichos desse mercado está na pornografia infantil, com intuito de abastecer o mercado da pedofilia.

Esta rede como afirma Felipe (2006), se organiza internacionalmente e o Brasil de acordo com alguns especialistas presentes na Terceira Jornada Estadual contra a Violência e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, ocorrida em Porto Alegre em 2005, precisa tratar a questão da pedofilia como uma rede internacional que envolve o crime organizado, utilizando-se do tráfico de crianças. Tal rede segundo a autora é composta por “angariadores”, que são pagos para seqüestrarem crianças com o intuito de utilizá-las em filmagens obscenas.

Os angariadores freqüentam os lugares onde existem crianças como parques, praças e escolas. Depois de encontrar crianças com as características solicitadas pela rede de pedofilia, elas são seqüestradas e em seguida são entregues aos

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chamados “monitores”. Geralmente a criança é levada a um cativeiro, onde são realizadas as filmagens envolvendo todo o tipo de violência sexual. Logo após é assassinada. Os sites colocam simultaneamente no ar as imagens de violência/abuso sexual ao vivo para o deleite dos pedófilos, que pagam elevadas taxas para ter acesso a tais cenas. A autora ressalta ainda que outro ponto importante desse negócio refere-se aos lucros obtidos. Quanto mais nova a criança mais caras são as imagens. Há registros de imagens feitas com bebês de 4 meses e crianças de 2 anos.

Para caracterizar a parafilia do tipo pedofilia, torna-se necessário também definir onde termina a infância e começa a adolescência. As fronteiras exatas entre a infância e a adolescência podem variar e são difíceis de serem definidas em termos rígidos de idade.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, (1989), define adolescência como o período da vida entre 10 e 19 anos de idade. Já no Brasil, a definição legal de adolescência é de pessoa entre os 12 e os 18 anos de idade, conforme o Código Civil Lei nº 8.069/90, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Considerando os aspectos acima evidenciados, convém ressaltar que a pedofilia não pode ser levada a um caráter generalista ao incluírem-se no mote de pedófilos, aqueles indivíduos que molestam jovens no início da puberdade ou em pleno desenvolvimento de seus caracteres sexuais secundários, os adolescentes. Esta confusão por vezes é percebida junto a alguns órgãos da imprensa, ao noticiarem casos de molestadores de adolescentes como “caso de pedofilia”.

A prática sexual por homens e menores com faixa etária entre 10 e 16 anos recebe o nome de hebefilia. Os hebefílicos são indivíduos com características de violadores, com distúrbio de juízo, amiúde incluídos nos padrões psiquiátricos esquizo-adaptativos (CROCE,1995, p. 592).

Para Croce (1995), a hebefilia é também conhecida como efebofilia do grego "ephebos", ou seja, pessoa jovem pós-pubescente, ou "hebe" que significa juventude mais "philia", sendo definida pelo autor como a prática sexual por homens e menores com faixa etária entre 10 e 16 anos. Já para Correia (2003), há distinção entre hebefilia e efebofilia. O autor utiliza o termo efebofilia para designar a atração de adultos por adolescentes pós-púberes (de 13 a 17 anos) e hebefilia para descrever a atração adulta por adolescentes que já atingiram a puberdade (de 9 a 13 anos).

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Deve-se ressaltar também que além de se confundirem pedófilos com hebefílicos e/ou efebófilos, percebe-se nos noticiários de um modo geral, o anúncio dos casos de pedofilia como crimes de pedofilia. A pedofilia não é o crime. Pedofilia é o transtorno, ou seja, não existe crime de pedofilia. O pedófilo nem sempre passa ao ato, sendo assim nem todo pedófilo é criminoso. O indivíduo que possui preferência sexual por criança e passa ao ato, comete os crimes de estupro, atentado violento ao pudor agravados pela presunção de violência, e não o crime de pedofilia como muitas vezes é anunciado.

Um dos desafios de se lidar com parafilias ou crimes delas derivados é abster-se de julgamento moral, especialmente no que se refere à pedofilia. Portanto, estabelecer uma distinção entre o pedófilo como um indivíduo possuidor de um transtorno de ordem sexual visto do ponto de vista clínico e aquele que é repudiado pela sociedade de um modo geral pelo seu “caráter desviante”, torna-se difícil porém necessário para que o transtorno seja entendido como um fenômeno psicológico merecedor de amplitude em sua discussão, notadamente no campo da pesquisa científica, comprometida com a busca de explicação e solução para o mesmo, através dos possíveis tratamentos.

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA PARAFILIA DO TIPO PEDOFILIA

De acordo com a palestra “Pedofilia”, proferida em 03/09/2002, no evento “AMAZÔNIA 2002”, realizado em Manaus – AM, promovida pela Federação Internacional de Advogadas – FIDA, extraída do site www.stj.gov.br/Discursos em 17 de fevereiro às 22:23 hs., o contexto histórico da parafilia do tipo pedofilia encontra no antigo Egito relatos de envolvimento entre faraós e infantes, submetidos aos caprichos sexuais dos poderosos. Na Grécia antiga, cabia ao chefe da família conduzir os jovens à iniciação sexual, desenvolvendo-se a partir daí o hábito da homossexualidade e da pedofilia.

De acordo com dados da referida palestra, a sociedade romana colocou o pater familias (pai), no comando absoluto da família abrangendo a todos, responsabilizando-se inclusive pela iniciação sexual do filius (filhos). A prática do sexo entre o pater familias e o filius estava inteiramente fora do controle do Estado,

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pois tinha o primeiro, poder de vida e de morte sobre o segundo, agindo como verdadeiro dominus, (leia-se domínio ou dominador). Assim estava escrito na Lei das XII Tábuas (450-451 a. C.), reconhecimento que vigorou até Constantino no ano de 337 d. C.

A história do mundo árabe e do mundo oriental, de acordo com a palestra acima mencionada, também registra a prática de sexo entre adultos e crianças em diversas passagens. Basta lembrar a história dos samurais com suas jovens amantes, mantendo-as como tal até a idade adulta quando lhes era permitida a emancipação.

Na Idade Média inicia-se na Europa um intenso combate à sodomia, que dentre suas variações inclui o gosto pela prática sexual com crianças. Por esse período a prática passou a ser velada e silenciosa, num mundo de dominação onde os mais fortes subjugavam os mais fracos. Não se sabe a real extensão de tais abusos, senão por retalhos da história da prostituição infantil já na era da revolução industrial e pelos contos românticos e sodômicos que a literatura difundiu.

Segundo a pesquisa de Jório (2002), Considerações Teóricas e Práticas Psicoterapêuticas: Perversão Sexual – Pedofilia, Aixa, uma das mulheres de Maomé, era uma menina de 8 anos quando teve sua primeira relação sexual com seu marido que tinha na época 53 anos. O rei David, (aquele que lutou contra Golias), já era ancião quando fez de Abisag sua esposa, décadas mais nova que ele.

Ainda segundo o autor acima citado, na Índia antiga, na costa do Nayar, as práticas sexuais com meninas eram estimuladas antes da primeira menstruação acontecer. O romance “Lolita” de Vladimir Nabocov, escandalizou a sociedade da época, pois contava uma (es) história de paixão entre um homem maduro e uma ninfeta de 12 anos, que na realidade não poderia ser um caso de pedofilia, pois ela já havia adquirido seus caracteres sexuais secundários, posto que numa passagem do livro ele a deixa no carro e vai até uma farmácia comprar absorventes para a Lolita.

Para melhor exemplificar casos como esses, serão apresentados nos anexos casos ilustrativos do trabalho desse autor. O escritor francês Marquês de Sade, que viveu na tumultuada França do século XVIII, escandalizou a todos com seus poemas eróticos. Em suas obras sobre perversidades e prazeres sexuais ligados à violência,

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(daí a origem do termo sadismo), existem também relatos do envolvimento de crianças nestas práticas.

No século passado no Brasil, era comum o consentimento de pais para casamento de suas filhas a partir dos 12 anos de idade. Tais concessões ganharam um novo enfoque a partir de pesquisas que passaram a determinar a maturidade sexual e psicológica para práticas sexuais envolvendo crianças e jovens, além de estudos que buscaram criminalizar tais práticas por entendê-las como agressões ao corpo e danosas ao processo de desenvolvimento humano, podendo deixar seqüelas que repercutirão negativamente na vida do indivíduo abusado.

Por muito tempo os desvios de comportamento ligados ao sexo tiveram somente a conotação de imoralidade. Para Felipe (2006), a partir do século XVIII importantes transformações ocorreram de modo a afetar as concepções de infância, bem como sua educação. As crianças passaram a ser percebidas como sujeitos instituídos de uma “natureza infantil”, possuidoras de características específicas próprias para a idade.

Esses relatos históricos de culturas antigas evidenciam que o relacionamento sexual com infantes e entre pessoas do mesmo sexo vem sendo praticado pelos mais variados povos e em períodos diferentes da história, com tolerância ou mesmo admiração, dependendo do contexto de cada época. Essas relações podiam ser conectadas com cerimônias de iniciação sexual, magia, crença e medicina.

Apenas no século XIX é que os desvios sexuais tornaram-se tema da medicina, da psicologia e das outras ciências. O primeiro a tratar do assunto como problema médico foi o psiquiatra alemão Richard Von Krafft Ebing (1886/1970) na obra intitulada Psychopathia Sexualis, que serviu de base para vários estudos relacionados ao assunto, inclusive para Freud, que em sua obra Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1980), procura a compreensão dinâmica do desvio sexual. Podemos assim concluir que relatos de pedofilia embora sejam antigos, encontram na atualidade uma prática persistente que se apresenta danosa, marcando negativamente a vida de crianças e adolescentes.

Percebe-se também que questões sociais como a pobreza tende a aumentar a prostituição infantil, notadamente em países subdesenvolvidos, fato que expõe a fragilidade da criança e facilita assim a ação de abusadores, muitos deles pedófilos.

Segundo Pozzebom (2009), a democratização dos meios de comunicação no caso a internet, considerada o “paraíso” dos pedófilos, permanece sem eficazes

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modos de controle, onde nela podem desenvolver-se as redes de pedofilia, sendo o Brasil um dos países que mais usa a Rede Mundial de Computadores para produzir e distribuir a pornografia infantil, como declara o Senador Magno Malta, relator da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Pedofilia, CPI da Pedofilia. A legislação brasileira ainda caminha no sentido de tipificar os crimes sexuais cometidos por pedófilos, embora avanços significativos vêem acontecendo.

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4 PEDOFILIA ENQUANTO TRANSTORNO E CRIME

4.1 PEDOFILIA ENQUANTO TRANSTORNO

Nem todo pedófilo é criminoso e nem todo criminoso que abusa sexualmente de crianças é pedófilo. Estas são duas afirmações importantes, com as quais pretende-se responder à questão suscitada no presente trabalho de pesquisa bibliográfica, qual seja fazer a distinção entre o abusador preferencial e o oportuno.

A pedofilia se enquadra dentro dos transtornos parafílicos e não requer, e usualmente não envolve um ato criminoso, visto que o portador de pedofilia pode manter seus desejos em segredo durante toda a vida sem nunca compartilhá-los ou torná-los atos reais. Pode casar-se com mulheres que tem filhos ou praticar profissões que os mantenham com fácil acesso à crianças, mas raramente causam algum mal (SERAFIM, 2007, p. 3).

Usar o termo pedofilia para descrever indivíduos que cometeram crimes sexuais contra crianças, é considerado por alguns autores como errôneo, principalmente se tais criminosos são vistos do ponto de vista clínico. Serafim (2007), afirma que a maioria dos crimes sexuais envolvendo crianças são praticados por pessoas que não são clinicamente diagnosticadas como pedófilos, mas realizam tais atos por diversos outros motivos. Estes são chamados criminosos sexuais situacionais, por não sentirem atração primária por crianças.

Para Holmes e Holmes apud Serafim (2007), estima-se que apenas 2% a 10% das pessoas que cometeram crimes de natureza sexual contra crianças sejam realmente pedófilos. Tais criminosos são chamados de pedófilos estruturados, fixados ou preferenciais. Abusadores que não atendem aos critérios regulares de diagnóstico da pedofilia são chamados de abusadores oportunos, regressivos ou situacionais.

Conforme se observa em Serafim (2007), o tipo mais comum de pedófilo é o indivíduo imaturo. Este, em algum ponto da vida descobre que obtém com crianças níveis de satisfação sexual que não são possíveis de se alcançar de outro modo.

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Trata-se de um perfil solitário, onde a falta de habilidade social acaba levando-o a mergulhos cada vez mais profundos e fantasiosos na pedofilia.

Os autores Holmes e Holmes apud Serafim (2007), dividem os molestadores de crianças em dois grupos distintos: situacionais e preferenciais. Os molestadores situacionais segundo afirmam os autores, possuem inteligência inferior, baixa classe econômica, transtornos de personalidade do tipo antisocial / psicopática, narcisista, esquizóide, comportamento criminal variado, possuem preferência por pornografia violenta, são impulsivos, consideram riscos, cometem erros por negligência, são orientados intelectualmente, molestam espontaneamente ou planejam, utilizam a disponibilidade de suas vítimas, a oportunidade, ferramentas, comportam-se pelo aprendizado e possuem padrões de comportamento voltados para a praticidade e flexibilidade. (ver anexo C)

Já os molestadores preferenciais possuem características bastante distintas dos situacionais tais como: Inteligência superior, alta classe socioeconômica, parafilias do tipo pedofilia, voyerismo, sadismo, comportamento criminal focado, pornografia temática, compulsivos, consideram necessidade e assim cometem erros pela necessidade, são orientados pela fantasia, são auditivos, repetitivos, utilizam acessórios, são críticos e rígidos. (ver anexo C)

Para Bradford apud Serafim (2007), existe um caminho da fantasia ao ato sexual violento, sendo que o processo de fantasia do agressor sexual se configura em disparador para a violência extrema. As fantasias, de acordo com o autor, gradativamente vão se transformando em pensamentos cada vez mais fixos, chegando a um quadro de obsessões.

As obsessões se constituem em idéias, pensamentos, imagens ou desejos persistentes e recorrentes, involuntários, que invadem a consciência. No caso dos pedófilos e molestadores, a maioria deles não percebem ou se preocupam que estas venham a se transformar em uma conduta problemática (BRADFORD, 2001, apud SERAFIM, 2007, p. 5).

O autor Serafim (2007), ressalta que de acordo com sua experiência como pesquisador no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia do Instituto de Pesquisas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina – Universidade de São Paulo (NUFOR), seja no âmbito pericial ou nas vivências de pesquisas com esses criminosos, também observa-se uma estrutura obsessiva e compulsiva, bem distinta do quadro de TOC. Nestes sujeitos não se observa

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arrependimento ou culpa, comumente observados nos pacientes com TOC, entretanto, o padrão de comportamento deles segue um ritual com hierarquias de ações que são seguidas rigidamente.

De acordo com o autor, durante algumas entrevistas com este tipo de criminoso, observou-se que se algum fator interpelar esse ritual, estes indivíduos tendem a interromper a ação, sendo a vítima preservada. O mesmo autor afirma ainda que a violência contra as pessoas por motivos sexuais constitui uma parte importante de todos os delitos sérios, visto que podem chegar às formas mais desumanas de assassinato.

Depois de encontrar crianças com as características solicitadas pela rede de pedofilia, elas são seqüestradas e em seguida são entregues aos chamados “monitores”. Geralmente a criança é levada a um cativeiro, onde são realizadas as filmagens envolvendo todo o tipo de violência sexual. Logo após é assassinada (FELIPE, 2006, p. 211).

Pelo exposto por Felipe (2006) na citação acima, as vítimas de violência sexual, no caso crianças, podem ser raptadas, submetidas a todo tipo de violência sexual onde as cenas são vendidas à consumidores de pornografia infantil e em seguida assassinadas. Porém, de acordo com Serafim (2007), o crime pode acontecer também por prazer, sendo produto de extremo sadismo e a vítima pode ser assassinada e mutilada com o propósito de provocar gratificação sexual ao criminoso, sendo seu prazer adquirido pela violência e não pelo ato sexual.

Como vimos, a pedofilia enquanto transtorno pode assumir as mais variadas formas de práticas que se diferenciam de acordo com as características individuais da pessoa, indo desde simplesmente observar uma criança, até as mais violentas formas de atividade sexual, podendo chegar ao assassinato.

Por outro lado se formos corretos com o conceito, a pedofilia apenas, enquanto transtorno, observada do ponto de vista clínico não é crime. Nenhum indivíduo pode ser apenado somente por ter um transtorno de ordem sexual, no caso a pedofilia. Neste contexto, pedofilia é o termo designado para definir o transtorno. Os atos praticados por pedófilos é que configuram o crime. Sendo assim, algumas pessoas ao perceberem uma preferência sexual por crianças podem procurar tratamento antes que os atos ocorram, podendo permanecer (em tratamento e/ou com o transtorno) pelo resto de suas vidas. Portanto uma vez que não passam ao ato não cometem crime.

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4.2 PEDOFILIA ENQUANTO CRIME

A definição para crimes sexuais segundo Duque (2000) não é simples. Podemos fazê-la considerando todos os atos delituosos que tenham o propósito de satisfação sexual como o motivo. (enfoque motivacional)

Os crimes sexuais pelo Código Penal Brasileiro (2006), se enquadram nos Crimes Contra os Costumes, dos artigos 213 a 224 e de 233 a 234, que incluem estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude, corrupção de menores, rapto violento ou mediante fraude, rapto consensual e presunção de violência.

A partir de Duque (2000), percebe-se que há uma tendência em confundir abuso sexual de menores de idade com pedofilia, por isso é importante caracterizar o criminoso sexual. De acordo com este autor, o criminoso sexual pode ser situacional ou preferencial.

O criminoso sexual situacional define-se por sujeito sem transtorno psiquiátrico, em situações intensa e continuadamente estressantes, ou que lhes confiram poder absoluto sobre o outro e podem ter dificuldade de controlar impulsos que seriam mantidos adormecidos sem tais situações. É o caso de indivíduos encarceirados, de pessoas sob stress intenso em situações de guerras, onde além da tensão detém poder absoluto sobre os outros, ou de babás que por possuírem domínio sobre crianças abusam sexualmente delas. Para o autor, na maioria dos casos não há antecedentes nem persiste o comportamento criminoso após a modificação ambiental.

Criminosos sexuais sem diagnóstico psiquiátrico – São, na maior parte dos casos, situacionais, que, em circunstâncias especialmente propícias, decidiram ou foram induzidos ao crime. É o caso das violências sexuais nos presídios, na guerra e em situações de absoluto controle sobre a vítima, como assaltos, seqüestros e torturas em prisão, etc (DUQUE, 2000, p. 304).

Define-se por criminoso sexual preferencial segundo Duque (2000), aquele que de maneira preferencial e continuada, nas condições de vida habitual e contando com a possibilidade de satisfação sexual, opta pelo comportamento criminoso.

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Criminosos sexuais parafílicos – Pessoas que tem no crime sexual a satisfação última, preferencial e que preencham os critérios para o diagnóstico de parafilia. Em relação à primeira parte da formulação do art. 26 do CP, referente ao elemento cognitivo, esses criminosos têm inteira capacidade de entender o caráter ilícito do ato praticado, pois o transtorno não lhes confere perturbação da consciência, distorção perceptiva ou do juízo da realidade. O que, aliás, é demonstrado por fazerem às escondidas, conscientes que são da ilegalidade e/ou da relação social no caso de flagrante (DUQUE, 2000, p. 305).

Contudo, estabelecer um banco de dados confiável sobre a prevalência do abuso de menores na população torna-se difícil. Para Duque (2000), estima-se que 10% das pessoas podem ter sido abusadas antes dos 18 anos, dentre elas cerca de 90% meninas, não raro dentro da própria família. Os dados estatísticos referem-se a apenas os casos que geram procedimentos policiais e legais, sendo muitos casos resolvidos em família, não denunciados ou tendo a conivência de pessoas próximas.

De acordo com o autor, dos casos atendidos pelo serviço de psicologia da Vara Central da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, entre 1990 e 1998, abrangendo todas as situações que demandassem intervenção psicológica como guarda, tutela, destituição de pátrio poder, autorização para viagem, etc., cerca de 17% se referiam à violência sexual doméstica. Destes, 90% dos agressores exercendo a função paterna, sendo 65% pais biológicos.

Tendo como referência os dados acima, percebe-se a necessidade de classificação do criminoso sexual, pelo motivo de não colocá-los no mesmo bojo, ou seja, nem todo criminoso sexual que comete crimes sexuais contra crianças é necessariamente pedófilo, pois como afirma o autor, podem estes serem criminosos sexuais situacionais ou preferenciais. Vale ressaltar aqui que o molestador de crianças, se situacional pode não ser pedófilo, mas pode ter indicativo para pedofilia. Em Duque (2000), observa-se que nos estudos dos transtornos sexuais, um diagnóstico não remete obrigatoriamente a uma conclusão médico-legal. Embora existam linhas gerais, as diversas situações são bastante distintas e algumas implicam inimputabilidade, outras não, outras semi-inimputabilidade. No caso da pedofilia, os indivíduos que passam ao ato são de um modo geral considerados imputáveis, ou seja, tem inteira capacidade de determinação do caráter ilícito do seu ato, sendo portanto responsabilizados legalmente pelos seus crimes. Caso adverso, considerado de inimputabilidade, são os crimes praticados por dementes e outros doentes orgânicos cerebrais.

Referências

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