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VIII Congresso Brasileiro de Administração e Contabilidade - AdCont a 21 de outubro de Rio de Janeiro, RJ

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Academic year: 2021

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Relação da Governança Corporativa e do Gerenciamento de Resultados com a data de Publicação das Demonstrações Financeiras de Empresas Brasileiras

Darclê Costa Silva Haussmann – Mestre em Ciências Contábeis FURB Doutoranda do PPGCC da Universidade Regional de Blumenau FURB

e-mail: darcle@furb.br

Edgar Pamplona – Mestre em Ciências Contábeis FURB Doutorando do PPGCC da Universidade Regional de Blumenau FURB

e-mail: edgarpamplona@hotmail.com

Maurício Leite - Mestre em Ciências Contábeis FURB

Doutorando do PPGCC da Universidade Regional de Blumenau FURB e-mail: mauricio.leite@ymail.com

Roberto Carlos Klann – Doutor em Ciências Contábeis e Administração FURB Professor do PPGCC da Universidade Regional de Blumenau FURB

e-mail: rklann@furb.br

Resumo

As informações financeiras são essenciais no processo de tomada de decisão, sendo a tempestividade uma característica qualitativa essencial, visto que as informações devem estar disponíveis em tempo hábil para que os usuários possam tomar decisões racionais. Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo verificar a relação entre a governança corporativa e o gerenciamento de resultados com a data de publicação das demonstrações financeiras de empresas brasileiras. Para tanto, realizou-se pesquisa descritiva, documental e quantitativa. Os dados analisados são derivados da base de dados Economática® e dos formulários de referência disponíveis no website da BM&FBovespa. A amostra da pesquisa compreendeu 216 empresas brasileiras no período de 2013 a 2015. Os resultados apontaram que o tamanho do conselho de administração, gerenciamento de resultados, rentabilidade e tamanho da empresa influenciam no prazo de divulgação das informações financeiras. Mais precisamente, tem-se que conselhos maiores tendem a apresentar maior diversidade de experiências, contribuindo para com a apresentação de informações mais pontuais. Verificou-se ainda que empresas que utilizam em menor intensidade práticas de gerenciamento de resultados tendem a divulgar suas informações de forma mais oportuna. Tal achado implica que a divulgação mais ágil de informações pode estar atrelada a dados financeiros de maior qualidade, o que é importante para a tomada de decisão dos usuários. Destaca-se que a evidência acerca da relação entre gerenciamento de resultados e o prazo de divulgação das informações financeiras deve ser interpretada com cautela e pesquisas futuras tornam-se essenciais para o concreto entendimento deste fenômeno.

Palavras-Chave: Governança corporativa; Gerenciamento de resultados; Publicação; Demonstrações financeiras.

1 Introdução

A contabilidade é considerada o mais completo sistema de informações para alicerçar a tomada de decisão dos mais diversos usuários. Ackoff (1975) observa que a deficiência crítica sob a qual os gestores operam é justamente a falta de informações relevantes. Além disso, por vezes, estes recebem informações que não precisam e, com isso, sofrem com o excesso de informações. Alvim (1998) afirma que a busca pela informação deve ser pautada por qualidade e não por quantidade, sendo que o importante é possuir dados adequados, no

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tempo esperado e a um custo compatível com o seu benefício. Nesta concepção, a informação útil para a tomada de decisão é aquela que chega ao usuário no momento certo e no formato por ele desejado.

Complicações do ambiente econômico e o crescimento das organizações têm tornado a gestão dos negócios mais complexas, demandando informações cada vez mais claras, oportunas e relevantes (BARROS, 2005). A baixa qualidade da divulgação das informações contábeis é derivada de fraude contábil e/ou manipulação de resultados (LIN; RONG, 2012), ou ainda pode estar atrelada à baixa transparência, mesmo quando as escolhas contábeis forem realizadas em concordância com as normas contábeis vigentes (PAULO, 2007).

Para Lin e Rong (2012), quanto menor a qualidade das informações divulgadas, maior a assimetria informacional entre os investidores e as companhias e, consequentemente, maiores as chances para o gerenciamento de resultados, que é contrária aos princípios da objetividade e pode induzir investidores a tomada de decisões equivocadas. Desta forma, para os autores, um conceito de qualidade de informação contábil torna-se complexo e depende do objetivo do seu usuário.

Outra perspectiva apontada por Caskey e Laux (2016) é que os recentes escândalos contábeis em todo o mundo demandaram uma governança corporativa mais forte, a fim de divulgar aos usuários informações contábeis fidedignas. Esses fatos levaram conselhos e comitês de auditoria a terem uma proporção maior de diretores externos e maior expertise financeira. A combinação de tais esforços, além de proporcionar aos usuários externos a garantia de que os recursos que são confiados aos gestores de uma organização sejam adequadamente utilizados em suas operações, visa também estabelecer fatores por meio dos quais a assimetria informacional entre as partes interessadas seja minimizada, por meio de mecanismos de governança corporativa que revistam a gestão de transparência.

Diante de tais pressupostos, a literatura contábil tem buscado elementos que confiram credibilidade às informações contábeis, a fim de proporcionar a tomada de decisão mais assertiva por parte dos usuários. Sendo assim, o presente estudo apresenta o seguinte problema de pesquisa: qual a relação entre a governança corporativa e o gerenciamento de resultados com a data de publicação das demonstrações financeiras de empresas brasileiras? Por conseguinte, o objetivo deste trabalho consiste em verificar se a data de publicação das demonstrações financeiras é influenciada pelos mecanismos de governança corporativa e por práticas de gerenciamento de resultados adotados por empresas brasileiras.

O estudo se justifica pela importância que as informações financeiras possuem para informar acionistas, investidores e demais stakeholders, bem como fornecer novos insigths sobre a temática proposta. Resultados de estudos acerca do prazo de divulgação das informações, conforme Hassan e Melegy (2010), podem ainda ser utilizados pelas Bolsas de Valores, neste caso a BM&FBovespa.

Mais especificamente, o reporte oportuno contribui para o desempenho dos mercados de ações em suas funções de avaliação e de preços, ajudam a mitigar ou reduzir o nível de insider trading, vazamentos e rumores no mercado. Pesquisadores têm se preocupado mais com o efeito da divulgação de informações sobre os preços de títulos negociados em mercados emergentes e menos com a tempestividade da informação e os fatores que afetam a divulgação (OWUSU-ANSAH, 2000).

Além disso, este é o primeiro estudo empírico no contexto brasileiro a investigar de forma conjunta a relação entre governança corporativa e gerenciamento de resultados com a tempestividade dos relatórios financeiros. Assim, caso se confirme a existência de relação positiva entre o prazo de divulgação das demonstrações e as práticas de gerenciamento de resultados, pesquisas futuras, assim como analistas de mercado e demais stakeholders, poderão utilizar tais achados como indicador de qualidade das demonstrações contábeis ou, ainda, demonstrações menos tempestivas poderiam servir de alerta para tais usuários.

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2 Referencial Teórico

2.1 Prazo de Divulgação das Demonstrações Financeiras

O processo de divulgação das informações financeiras aos usuários externos é fator importante para a sobrevivência das empresas, assim, quanto maior a quantidade e a qualidade das informações divulgadas, de maneira oportuna e uniforme para todo o mercado de capitais, maior a credibilidade dos gestores da empresa junto ao mercado, propiciando a igualdade de direitos entre os acionistas (GALLON, BEUREN; HEIN, 2007).

Turel (2010) menciona a pontualidade das demonstrações financeiras como uma condição importante para atender objetivos da contabilidade, considerando que tanto os regulamentos de divulgação como boa parte da literatura contábil adotam a premissa de que a tempestividade é uma condição necessária para ser satisfeita se as demonstrações financeiras forem úteis. As informações tempestivas, divulgadas no prazo ou de forma antecipada, demonstram uma boa imagem da empresa ao mercado, podendo influenciar na sua capacidade de levantamento de capital, fato importante diante de uma economia que visa satisfazer as necessidades dos seus usuários em tempo hábil, em especial pela demanda dos acionistas e dos investidores (SÁ, 2014).

Abdullah (2006) destaca a importância da pontualidade do relatório foi reconhecida pela Malaysian Accounting Standards Board (MASB), que afirma que a utilidade das demonstrações financeiras seria prejudicada se não forem disponibilizadas ao público dentro de um período razoável de tempo a partir do encerramento do exercício financeiro da empresa. Xu, Gong e Sheng (2016) asseveram a pontualidade como uma propriedade importante da qualidade da informação.

No Brasil, as informações financeiras das sociedades anônimas de capital aberto são elaboradas e divulgadas em conformidade com a Lei n. 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Para assegurar que as informações financeiras sejam disponibilizadas aos usuários, a Lei n. 6.404/76 determinou, no artigo 176, que ao final de cada exercício social as sociedades devem elaborar as suas demonstrações financeiras com base nas determinações dispostas nos artigos 132 e 133 da referida lei, considerando que até o quarto mês do exercício seguinte deve acontecer uma assembleia geral. Assim, a data a ser considerada no parágrafo 5º do artigo 133 da Lei 6.404/76 como sendo a data para a divulgação e publicação das demonstrações financeiras será 31 de março do exercício seguinte (BRASIL, 2016).

Os mecanismos de governança corporativa correspondem a uma forma de garantir ou ao menos contribuir para a divulgação de informações financeiras de forma tempestiva, buscando atender os inúmeros usuários da informação contábil.

2.2 Governança Corporativa

O IBGC (2009) determina que a governança corporativa preocupa-se em criar um conjunto eficiente de mecanismos que possa incentivar e controlar o comportamento dos gestores, a fim de que estes ajam sempre alinhados aos interesses da empresa, o que envolve os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração (CA), diretoria e órgãos de controle. Nessa perspectiva, governança corporativa implica na redução da assimetria de informação entre a empresa e os stakeholders, o que denota maior transparência. Dessa forma, os acionistas poderão intensificar seus investimentos se identificarem que os gestores não agirão em benefício próprio (CADBURY, 1992; VIEIRA; MENDES, 2006).

A governança corporativa objetiva aumentar a probabilidade de os detentores de capital garantam o retorno sobre o investimento, por meio de um conjunto de mecanismos, dentre eles o conselho de administração, controles internos, sistema de remuneração dos gestores, posse de ações por parte dos executivos, bem como a obrigatoriedade da divulgação de informações periódicas sobre a companhia (SILVEIRA; BARROS; FAMÁ, 2003).

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Neste contexto, o prazo de reporte é importante para a transparência corporativa, bem como relevante indicador do valor da informação nos relatórios financeiros (ABDULLAH, 2006). McGee e Tyler (2008) enfatizam a importância de se divulgar informações financeiras em tempo hábil, uma vez que quanto mais tempo uma empresa demora em divulgar o relatório anual, menos útil torna-se a informação para a tomada de decisão. Instituições como a Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) listam a informação financeira tempestiva como um importante princípio da governança corporativa.

Pesquisas enfatizam que a governança corporativa gera maior precisão das informações divulgadas e organiza a relação entre os acionistas, conselho de administração e gestão. Diversos mecanismos relacionados à governança são investigados em estudos anteriores, dentre eles o tamanho e a independência do conselho de administração, dualidade do diretor (EZAT; EL-MASRY, 2008; HASSAN; MELEGY, 2010; MOUNA; ANIS, 2013; EBIMOBOWEI; YADIRICHUKWU, 2013; XU; GONG; SHENG, 2016) e número de reuniões do conselho de administração (EBIMOBOWEI; YADIRICHUKWU, 2013).

Acerca de cada um destes mecanismos, o tamanho do conselho de administração deve desempenhar um papel importante na tomada de decisões estratégicas (SILVEIRA; BARROS; FAMÁ, 2003). Mais especificamente, pode-se argumentar que a diversidade dos membros do conselho de administração – ligado, portanto, ao seu tamanho – resulta em vontade maior de divulgar informações da empresa visando atrair mais investidores e satisfazer as necessidades dos usuários, havendo, portanto, a expectativa de relação negativa entre o prazo de divulgação dos relatórios corporativos e o tamanho do conselho de administração (EZAT; EL-MASRY, 2008; HASSAN; MELEGY, 2010).

Similarmente, Ebimobowei e Yadirichukwu (2013) revelam que a tempestividade da informação financeira depende do monitoramento, comunicação, participação e coordenação do conselho de administração na empresa. Ademais, mencionam que conselhos maiores são suscetíveis de fornecer experiência e diversidade e, por consequência, aumentar principalmente a capacidade de monitoramento, um dos elementos que influenciam na tempestividade. Desta forma, com base nas considerações acima apresentadas, tem-se a seguinte hipótese de pesquisa:

𝐻1- O tamanho do conselho de administração influencia negativamente no prazo de

divulgação de informações financeiras anuais.

Em relação à dualidade do diretor, Mouna e Anis (2013) revelam que CEO (Chief Executive Officer) e o Presidente do Conselho de Administração têm papeis diferentes e, a combinação destas duas funções proporciona alta concentração de poder, que pode comprometer a independência do conselho de administração e, por consequência, gerar impacto negativo sobre a riqueza dos acionistas. Desta forma, a dualidade pode também influenciar a tempestividade da informação divulgada (HASSAN; MELEGY, 2010). De acordo com Hassan e Melegy (2010), a dupla função cria forte base de poder individual, o que pode prejudicar a independência do conselho e a eficácia da função de comando, que pode ser comprometida. Logo, tem-se que a função de CEO e de Presidente do Conselho exercida pela mesma pessoa poderá levar à perda de independência do conselho de administração, reduzindo a eficácia da fiscalização e controle do gestor (XU; GONG; SHENG, 2016). Assim sendo, as prerrogativas acima assumidas levam a seguinte hipótese de pesquisa:

𝐻2- A dualidade de função do diretor influencia positivamente no prazo de divulgação de informações financeiras anuais.

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Em referência à independência do conselho de administração, Ezat e El-Masry (2008) mencionam que esta é determinada pela proporção de diretores externos em relação ao número total de administradores. Assim, Mouna e Anis (2013) defendem que quanto maior a proporção de conselheiros independentes, mais eficaz será o conselho no acompanhamento do comportamento da gestão, reduzindo, assim, a natureza do risco e o prazo de divulgação dos relatórios financeiros. Além disso, diretores externos podem ostentar reputação substancial e estarem expostos a custos monetários se ocorrer alguma ação judicial, tendo, desta forma, incentivos para encorajar a informação oportuna (HASSAN; MELEGY, 2010).

Ademais, menciona-se ainda que conselheiros independentes são considerados como uma maneira importante de restringir o comportamento oportuno dos gestores, o que é benéfico para fortalecer a governança interna de uma organização. Logo, quanto maior a proporção de administradores independentes, mais suscetível é a divulgação de informações contábeis de alta qualidade (XU; GONG; SHENG, 2016). Desta forma, tem-se a seguinte hipótese de pesquisa:

𝐻3- A independência do conselho de administração influencia negativamente no prazo de divulgação de informações financeiras anuais.

No que concerne às reuniões do conselho de administração, uma medida essencial da qualidade de um conselho é a frequência com que os conselheiros se reúnem com o intuito de discutir os vários problemas enfrentados por uma empresa, o que tende a aumentar o nível de supervisão, resultando na melhoria da qualidade de relatórios financeiros. Além disso, as reuniões do conselho são consideradas como um recurso que leva à diligência (EBIMOBOWEI; YADIRICHUKWU, 2013). Logo, constitui-se a seguinte hipótese:

𝐻4- O número de reuniões do conselho de administração influencia negativamente no prazo

de divulgação de informações financeiras anuais.

De acordo com Odit (2015), a governança corporativa continua a receber ênfase na prática e na pesquisa acadêmica. Tal foco é em parte devido à associação entre os pontos fracos da governança corporativa para com a má qualidade da informação financeira, manipulação de resultados, fraudes em demonstrações e controles internos fragilizados. De fato, segundo Erfurth e Bezerra (2013), pressupõe-se que empresas com padrão superior de governança corporativa apresentem menor gerenciamento de resultados, sendo este último uma métrica importante para evidenciar a qualidade das informações reportadas pelas organizações.

2.3 Gerenciamento de Resultados

O gerenciamento de resultados é a intervenção, realizada propositalmente, no processo de evidenciação, com a intenção de obter algum ganho privado (SCHIPPER, 1999). Nesse sentido, Healy e Wahlen (1999) apontam que o gerenciamento de resultados ocorre quando os gestores usam o julgamento em relatórios financeiros e na estruturação de transações para alterá-los, com o intuito de induzir os stakeholders a erros acerca do desempenho econômico da organização ou, ainda, para influenciar os resultados contratuais que dependem dos números contábeis relatados.

É importante ressaltar que o gerenciamento de resultados não pode ser confundido com fraude, pois é praticado dentro dos padrões prescritos pelas normas contábeis e pela legislação tributária, em especial, no processo de mensuração e evidenciação, que oferecem possibilidades de julgamento por parte dos gestores que utilizam a sua discricionariedade para reportar o resultado desejado (FORMIGONI; ANTUNES; PAULO, 2009).

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De acordo Abdullah (2006), um importante indicador do valor da informação nos relatórios financeiros está vinculado à qualidade dos mecanismos de governança corporativa. Odit (2015) aponta que estes mecanismos interferem na qualidade da informação financeira, que perpassa pela manipulação de resultados, fraudes das demonstrações e controles internos, podendo, desta forma, impactar na prática de gerenciamento de resultados. Assim sendo, como mecanismos de governança mais eficientes geram informação de maior qualidade e com o menor prazo de divulgação, acredita-se que a baixa qualidade da informação, que pode ser medida por métricas de gerenciamento de resultados, pode estar vinculada a controles de governança corporativa incipientes e, por consequência, a tempestividade da informação também pode ser comprometida.

Empiricamente, Chai e Tung (2002), ao analisar empresas de capital aberto listadas em bolsas de valores norte-americanas e gregas, entre os anos de 1991 a 1994, evidenciaram que quanto mais longo for a defasagem do relatório, maior será a magnitude dos acréscimos discricionários utilizados pelos divulgadores da informação contábil. De forma similar, Rahmawati (2013), em estudo que abrangeu 568 empresas de manufatura da Indonésia entre os anos de 2003 a 2008, relaciona a qualidade dos ganhos (medido com a proxy de gerenciamento de resultados) com o prazo de divulgação das demonstrações contábeis. Em suma, os resultados apontam que quanto pior a qualidade dos ganhos reportados, maior é o prazo de divulgação das informações, ou seja, a qualidade da informação influencia em sua tempestividade. Com base nestes entendimentos, tem-se a seguinte hipótese de pesquisa:

𝐻5- O gerenciamento de resultados influencia positivamente no prazo de divulgação de informações financeiras anuais.

Portanto, a premissa teórica estabelecida neste estudo é que quanto maior a prática de gerenciamento de resultados, maior será o prazo de apresentação de suas demonstrações contábeis, desde a data do encerramento do exercício até o dia da divulgação dos relatórios.

3 Procedimentos Metodológicos 3.1 Seleção da Amostra

A população da pesquisa é composta pelas empresas brasileiras de capital aberto listadas na BM&FBovespa. Para delinear a amostra de pesquisa, foram excluídas as empresas que atuam no segmento financeiro e de seguros, pois possuem regulamentações econômicas e contábeis significativamente diferentes dos demais ramos de atividades econômicas. Foram excluídas também aquelas organizações que não dispunham de informações para cálculo de todas as variáveis ao longo do período estudado. Por fim, ainda foram excluídas as empresas cujos dados econômico-financeiros foram considerados outliers, por estarem mais de dois desvios-padrão distantes da média geral. Desta forma, ao todo, a amostra de pesquisa é composta por 216 empresas, que geraram 648 observações entre os anos de 2013 e 2015.

3.2 Coleta dos Dados e Modelo Econométrico

A coleta dos dados ocorreu a partir da base de dados Economática®, em conjunto com informações derivadas do website da BM&FBovespa, sendo mais precisamente dos formulários de referência divulgados pelas organizações objeto de análise entre os anos de 2013 a 2015. Ademais, destaca-se que o modelo utilizado para estimar o gerenciamento de resultados das organizações foi o de Pae (2005). Este modelo visa ampliar os modelos de Jones inserindo variáveis que representem o fluxo de caixa operacional e a reversão natural dos accruals anteriores (ou accruals defasados), com o intuito de corrigir problemas de classificação dos accruals – em discricionários e não discricionários (PAE, 2005). Neste sentido, o referido modelo é assim representado pela equação 1:

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7 𝑇𝐴𝑖𝑡 = ∝ (

1

𝐴𝑡−1) + 𝛽1(∆𝑅𝑖𝑡) + 𝛽2(𝑃𝑃𝐸𝑖𝑡) + 𝜆1(𝐹𝐶𝑂𝑖𝑡) + 𝜆2(𝐹𝐶𝑂𝑖𝑡−1) + 𝜆3(𝑇𝐴𝑖𝑡−1) + 𝜀𝑖𝑡 (1)

𝑇𝐴𝑖𝑡 = accruals totais da empresa i no período t, ponderados pelos ativos totais no final do

período t-1;

𝐴𝑖𝑡−1 = ativos totais da empresa i no período t-1;

Δ𝑅𝑖𝑡 = variação das receitas líquidas da empresa i do período t-1 para o período t, ponderada

pelos ativos totais no final do período t-1;

PPE𝑖𝑡 = saldos das contas Ativo Imobilizado e Ativo Diferido (bruto) da empresa i no final do período t, ponderados pelos ativos totais no final do período t-1;

FCO𝑖𝑡 = fluxo de caixa operacional da empresa i no período t, ponderado pelos ativos totais no final do período t-1;

FCO𝑖𝑡−1 = fluxo de caixa operacional da empresa i no período t-1, ponderado pelos ativos totais no final do período t-2;

TA𝑖𝑡−1 = accruals totais da empresa i no período t-1, ponderados pelos ativos totais no final

do período t-2;

ε𝑖𝑡 = erro da regressão;

∝; β1; β2; λ1; λ2; λ3; = coeficientes estimados da regressão.

Diante da equação 1 apresentada tem-se então os accruals discricionários, que são utilizados, em valores absolutos, como uma das variáveis independentes da equação 2 (posteriormente apresentada). Cabe destacar que tais accruals discricionários referem-se aos resíduos da equação de regressão 1.

A equação 2 possui como variável dependente o prazo de publicação das demonstrações financeiras anuais, que corresponde ao tempo decorrido (em dias) entre a data de encerramento do exercício e da data da publicação das demonstrações contábeis. Como variáveis independentes têm-se aquelas vinculadas à estrutura de governança corporativa – tamanho do conselho de administração, dualidade de função do diretor, independência do conselho de administração e número de reuniões do conselho de administração –, de gerenciamento de resultados e de controle – rentabilidade, endividamento e tamanho. Desta forma, a equação 2 fica assim dimensionada:

𝑃𝑅𝑍𝐴𝑁 = 𝛽0+ 𝛽1𝑇𝐶𝐴 + 𝛽2𝐷𝐹𝐷 + 𝛽3𝐼𝐶𝐴 + 𝛽4𝑅𝐶𝐴 + 𝛽5𝐺𝑅 + 𝛽6𝑅𝐸𝑁𝑇 + 𝛽7𝐸𝑁𝐷 + +𝛽8𝑇𝐴𝑀 + 𝜺 (2) Apresenta-se no Quadro 1 a descrição das variáveis utilizadas e as respectivas respostas esperadas, suportadas pela literatura revisitada.

Quadro 1 – Constructo da Pesquisa

Variável Descrição Autores Sinal

Esperado Variáveis dependentes

Prazo de Publicação das Demonstrações Financeiras

Anuais (PRZAN)

Dias do Calendário entre o encerramento do Exercício Social e a Divulgação das DF´s

Anuais à CVM.

Sá (2014); Xu, Gong e Sheg (2016).

Não se aplica

Variáveis Independentes de Governança Corporativa

Tamanho do Conselho de Administração (TCA)

Log do número total de membros no conselho. Ezat e El-Masry, 2008; Hassan e Melegy, 2010; Mouna e Anis, 2013; Ebimobowei e Yadirichukwu, 2013; Xu, - Dualidade de função do Diretor

(DFD)

Variável dummy, 1 se o CEO é o presidente do conselho de administração, 0, caso contrário.

(8)

8 Independência do Conselho de

Administração (ICA)

Relação entre o número de membros independentes e o

tamanho do conselho.

Gong e Sheng, 2016.

- Número de Reuniões do Conselho

de Administração (RCA)

Número total de reuniões do conselho no ano.

Ebimobowei e

Yadirichukwu (2013). -

Variável Independente de Gerenciamento de Resultados

Gerenciamento de Resultados (GR)

Accruals discricionários obtidos

a partir do Modelo de Pae (2005)

Proposta pelos autores. +

Variáveis Independentes de Controle

Rentabilidade (RENT)

Relação entre o EBIT (Earnings

Before Interest Tax) e Ativo

Total.

Ezat e El-Masry, 2008;

Hassan e Melegy, 2010. -

Endividamento (END) Relação das dívidas com terceiros e Ativo Total.

Ezat e El-Masry, 2008; Mouna e Anis, 2013; Xu,

Gong e Sheg (2016).

+/-

Tamanho da Empresa (TAM) Logaritmo Natural da Receita Líquida de Vendas.

Ezat e El-Masry, 2008; Hassan e Melegy, 2010;

Mouna e Anis, 2013

-

Fonte: Dados da pesquisa.

Para a tabulação das variáveis fez-se uso de planilha eletrônica, que também serviu como base para operacionalização da estatística descritiva das variáveis. Posteriormente, para análise dos acrruals, fez-se uso da regressão linear múltipla com uso do software estatístico SPSS 21®, conforme modelo de Pae (2005). Por fim, com o intuito verificar se existe influência das variáveis independentes de governança corporativa, de gerenciamento de resultados e de controle (vinculadas à estrutura corporativa) sobre o prazo de publicação das demonstrações financeiras anuais, fez-se uso da técnica estatística de regressão de dados em painel, com auxílio do software STATA 12®.

4 Descrição e Análise dos Resultados

De forma preliminar, apresenta-se na Tabela 1 a estatística descritiva dos índices de gerenciamento de resultados conforme o modelo de Pae (2005), que demonstra os valores dos accruals segmentados por ano, bem como em todo o período analisado, considerando para tanto, que tais valores são apresentados em valores absolutos, visto que se busca verificar o nível de flexibilidade sobre a contabilidade, independentemente se as escolhas contábeis são utilizadas para gerenciar o resultado a fim de diminuir ou aumentar o desempenho corporativo. Destaca-se que os valores dos acrualls discricionários foram operacionalizados anualmente, ou seja, os dados de cada período foram configurados separadamente, a fim de detectar os resíduos por caso.

Tabela 1 - Descrição dos valores de gerenciamento de resultados

Gerenciamento de Resultados Ano Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo

Valores Absolutos 2013 0,0574 0,0805 0,003 0,6785 2014 0,0566 0,0828 0,003 0,8071 2015 0,0544 0,0597 0,001 0,5323 Total 0,0561 0,0750 0,001 0,8071 Significância ao nível de 5%

Fonte: Dados da pesquisa.

Destaca-se que para os períodos supramencionados as regressões lineares múltiplas realizadas, conforme o modelo de Pae (2005), foram significativas ao nível de 5%, sendo que o poder explicativo (R²) destas foi de 0,238 em 2013, 0,153 em 2014 e 0,317 em 2015. Além

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disso, não houve problemas de multicolinearidade (teste VIF) entre as variáveis em todos os modelos operacionalizados. Por fim, destaca-se que o Durbin-Watson, foi de 1,777 em 2013, 1,925 em 2014 e 1,844 em 2015, ou seja, sempre próximos ao ideal de 2,000 (FAVERO et al., 2009), indicando, portanto, que os resíduos são independentes entre si.

Quanto aos achados da Tabela 1, nota-se ao longo dos anos que a prática de gerenciamento de resultados, conforme indicado pela média, é similar para todos os períodos. Apesar disto, verifica-se que as práticas de gerenciamento apresentam comportamento decrescente ao longo do tempo, visto que em 2013 a média dos accruals foi de 0,0574, passando para 0,0566 em 2014 e atingindo o menor índice em 2015, com 0,5444. Além disso, no período mais recente (2015) encontra-se o menor desvio-padrão, apontando que as distâncias entre as práticas de gerenciamento de resultados das empresas foco do estudo foram menores no referido ano.

Visto os resultados acerca do gerenciamento de resultados, conforme o modelo de Pae (2005), que integrará o modelo de dados em painel conforme variável 𝛽5, apresenta-se, na sequência, a Tabela 2, que contempla a estatística descritiva das demais variáveis que integram a equação 2 deste estudo, para posteriores inferências.

Tabela 2 - Estatística descritiva das demais variáveis

Variáveis Numéricas Média Desvio-Padrão

2013 2014 2015 Total 2013 2014 2015 Total PRZAN 70,704 71,440 74,009 72,051 16,877 20,938 18,937 19,013 TCA 6,921 6,921 6,792 6,878 2,432 2,504 2,409 2,446 ICA 0,209 0,213 0,226 0,216 0,215 0,236 0,240 0,230 RCA 12,120 12,023 12,810 12,318 8,383 8,698 8,891 8,654 GR 0,0574 0,0566 0,0544 0,0561 0,081 0,083 0,060 0,075 RENT 0,084 0,068 0,050 0,067 0,089 0,095 0,103 0,097 END 0,610 0,620 0,653 0,628 0,246 0,257 0,290 0,265 TAM 6,470 6,501 6,522 6,498 0,695 0,714 0,734 0,714

Variável Categórica 2013 2014 2015 Total

Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não

DFD 16,7% 83,3% 14,8% 85,2% 12,0% 88,0% 14,5% 85,5%

Legenda: PRZAN = Prazo de Publicação das Demonstrações Financeiras Anuais; TCA = Tamanho do Conselho de Administração; ICA = Independência do Conselho de Administração; RCA = Número de Reuniões do Conselho de Administração; GR = Gerenciamento de Resultados; RENT = Rentabilidade; END = Endividamento; TAM = Tamanho da Empresa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Como se pode observar na Tabela 2, no decorrer do período analisado nota-se um crescimento no prazo de divulgação das demonstrações contábeis, o que é fator negativo, visto que as organizações têm, em média, demorado mais para publicar suas demonstrações contábeis, apesar de estarem majoritariamente cumprindo o prazo legal. Esta ponderação é suportada por Sá (2014), que argumenta que quanto mais rápido a informação for divulgada, mais tempestiva e com maior qualidade será apresentada aos acionistas e investidores, oportunizando maior rapidez na tomada de decisão. Ademais, Xu, Gong e Sheng (2016) apontam a tempestividade como sendo uma propriedade importante da qualidade da informação contábil.

Quanto às variáveis de governança corporativa, nota-se que o número de membros independentes no conselho de administração e o número de reuniões realizadas pelo mesmo apresentaram seu maior índice em 2015, demonstrando evolução. A posição defendida por Mouna e Anis (2013) é de que quanto maior a proporção de membros independentes, mais eficaz o mesmo será no acompanhamento do comportamento da gestão, reduzindo, assim, o prazo de divulgação dos relatórios financeiros. Em relação às reuniões do conselho de

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administração, Ebimobowei e Yadirichukwu (2013) apontam que a frequência com que os conselheiros se reúnem resulta na melhoria da qualidade dos relatórios financeiros.

Além disso, há uma redução constante na dualidade de função do diretor, o que é positivo, visto que mitiga a concentração de poder. Conforme Hassan e Melegy (2010), a dualidade pode influenciar a tempestividade da informação divulgada, pois a dupla função cria poder individual, o que pode prejudicar a independência do conselho, que nesse caso poderá comprometer a governança. Por outro lado, nota-se que os conselhos, em média, são menores em 2015, apontando, portanto, efeito inverso ao observado nas outras variáveis.

Por fim, além da variável de gerenciamento de resultados, já analisada anteriormente, verifica-se que a rentabilidade média auferida pelas organizações tem diminuído, bem como o endividamento aumentado. Tal fato pode estar vinculado principalmente à atual crise econômica existente no Brasil no período analisado, todavia, não tem impedido das organizações crescerem, como se observa pela variável tamanho da empresa, que apresenta comportamento crescente ao longo dos anos.

Após análise da estatística descritiva das variáveis, apresenta-se na Tabela 3 o modelo de dados em painel, a fim de verificar a relação entre a governança corporativa e o gerenciamento de resultados com a data de publicação das demonstrações financeiras de empresas brasileiras.

Tabela 3 - Determinantes da data de publicação das Demonstrações Financeiras

Variável Coeficiente Z P>|z| VIF

TCA -1,1571 -2,68 0,007* 1,55 DFD 4,2184 1,57 0,116 1,07 ICA 0,0037 0,00 0,999 1,07 RCA -0,0075 -0,08 0,935 1,30 GR 12,2005 2,23 0,026* 1,10 RENT -29,4061 -3,88 0,000* 1,07 END 4,9223 1,48 0,138 1,09 TAM -3,6692 -2,58 0,010* 1,50 CONST 101,5371 11,09 0,000* --- R² Within --- --- R² Between --- --- R² Overall 0,1427 --- Sig. do Modelo 0,0000* --- N° Observações 648 --- LM de Breusch-Pagam 0,0000* --- F de Chow --- --- Teste Hausman 0,0000* ---

Significância ao nível de 5%. Legenda: TCA = Tamanho do Conselho de Administração; DFD = Dualidade de Função do Diretor; ICA = Independência do Conselho de Administração; RCA = Número de Reuniões do Conselho de Administração; GR = Gerenciamento de Resultados; RENT = Rentabilidade; END = Endividamento; TAM = Tamanho da Empresa; CONST = Constante.

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme a Tabela 3, com base nos testes de LM de Breusch-Pagam e Teste de Hausman, o modelo de dados em painel de efeitos aleatórios foi o que melhor se ajustou aos dados analisados. Além disso, conforme o teste VIF, os dados não apresentam problemas de multicolineariedade. Todavia, conforme o teste de Breusch-Pagan/Cook-Weisberg, os dados apresentam heterocedasticidade. Desta forma, a fim de detectar e corrigir situações de heterocedasticidade dos termos de perturbação, operacionalizou-se o modelo de efeitos aleatórios robusto, que indica a inserção da matriz de White (FÁVERO et al., 2009). O poder explicativo do modelo, significativo ao nível de 5%, é de 0,1427 (R² Overall), ou seja, as

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variáveis explicativas conseguem explicar 14,27% das variações do prazo de publicação das demonstrações financeiras anuais de empresas brasileiras.

Quanto aos achados de pesquisa, nota-se que a variável tamanho do CA influencia negativamente no prazo de divulgação das informações contábeis, sendo significativo ao nível de 5%, aceitando, portanto, a hipótese 1 de pesquisa. Mais especificamente, tal achado para o contexto brasileiro confirma a assertiva de Ebimobowei e Yadirichukwu (2013), de que número mais elevado de membros no conselho de administração proporciona maior experiência e diversidade, aumentando a capacidade de monitoramento do mesmo. Desta forma, a expectativa de que existe agilidade dos relatórios corporativos mediante aumento do tamanho do conselho de administração, conforme defendido por Ezat e El-Masry (2008) e Hassan e Megely (2010), confirma-se para a amostra em estudo.

Ainda acerca das variáveis vinculadas à estrutura de governança corporativa, nota-se que a dualidade de função do diretor, a independência do conselho de administração e o número de reuniões do conselho de administração não foram significativos e, portanto, não apresentam potencial para explicar as diferenças no prazo de publicação das demonstrações financeiras anuais das empresas brasileiras neste estudo analisadas.

Desta forma, os resultados acima mencionados, no que concerne a variável dualidade de função do diretor, quanto ao sinal do coeficiente, estão de acordo com o defendido por Mouna e Anis (2013), que revelam que a função de CEO e de Presidente do CA, quando exercidas pela mesma pessoa, potencializa a alta concentração de poder que, por consequência, afeta a pontualidade da divulgação das informações financeiras (HASSAN; MEGELY, 2010). Todavia, apesar de apresentar o sinal esperado, nesta pesquisa a relação entre dualidade de função do CEO e o prazo de divulgação das informações não foi significativo, rejeitando-se, portanto, a hipótese 2 da pesquisa.

Além disso, a variável Independência do CA e o Número de reuniões do CA, vinculadas às hipóteses de pesquisa 3 e 4, respectivamente, não foram significativas, rejeitando-se, assim, as referidas hipóteses. Enfatiza-se, ainda, que além de não significativas, tais variáveis apresentaram coeficiente praticamente nulos (0,0037 e -0,0075, respectivamente), o que confirma sua baixa relevância a fim de explicar as diferenças entre os prazos de publicações das demonstrações financeiras das organizações aqui estudadas. Logo, esses achados para o contexto brasileiro não confirmam as perspectivas de que a maior proporção de conselheiros independentes encoraja a divulgação de informação oportuna (HASSAN; MELEGY, 2010; MOUNA; ANIS, 2013) e, de que o número de reuniões do conselho aumenta a diligência e velocidade de publicação das informações financeiras (EBIMOBOWEI; YADIRICHUKWU, 2013).

Na sequência, a variável gerenciamento de resultados apresentou significância estatística ao nível de 5%, com coeficiente positivo (12,2005), o que torna aceita a hipótese 5 desta pesquisa. Tais resultados sugerem, portanto, que quanto maior o nível de gerenciamento de resultados, maior é a demora das empresas em divulgar suas demonstrações financeiras ao mercado. Tais resultados são importantes, visto que não foi identificado na literatura revisitada evidências empíricas acerca deste fenômeno no cenário brasileiro.

A literatura sugere que o fato acima identificado pode ser explicado por aspectos subjacentes à qualidade da informação divulgada. Neste sentido, Martinez (2008) enfatiza que uma consequência do gerenciamento de resultados consiste no comprometimento da qualidade da informação contábil. Para Abdullah (2006), Hassan e Melegy (2010) e Odit (2015), mecanismos de governança corporativa interferem na qualidade da informação contábil, sendo importante indicador do valor da informação nos relatórios financeiros, bem como do prazo de divulgação destes. Lopes e Iudícibus (2012) mencionam que o caminho até então percorrido pela literatura teórica e empírica é abrangentemente intuitivo: quanto maior (ou melhor) a qualidade da auditoria, maior será a qualidade da informação reportada.

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Com base nos pressupostos acima delineados, é razoável supor que a qualidade da informação contábil está intrinsecamente ligada às boas práticas de governança corporativa e auditoria. Logo, tais práticas tendem a aumentar a pontualidade das demonstrações contábeis (HASSAN; MELEGY, 2010; IKA; GHAZALI, 2012). Ao utilizar o gerenciamento de resultados como métrica para a qualidade da informação contábil (MARTINEZ, 2008), torna-se razoável supor que a divulgação de informações com maior qualidade torna-sejam realizadas por empresas com estruturas de governança corporativa e auditoria mais fortes que, por consequência, divulgam as informações aos usuários de forma mais pontual.

Além disso, Chai e Tung (2002) e Rahmawati (2013) constataram que quanto mais longo for a defasagem na divulgação dos relatórios financeiros, maior será a magnitude dos acréscimos discricionários utilizados pelos divulgadores da informação contábil. Logo, os achados desta pesquisa convergem com os estudos anteriormente citados, confirmando-se a hipótese 5 de que gerenciamento de resultados influencia positivamente no prazo de divulgação de informações financeiras anuais.

Por fim, quanto às variáveis de controle, verifica-se que rentabilidade e o tamanho da empresa influenciam negativamente no prazo de divulgação das informações financeiras divulgadas por empresas brasileiras, o que vai ao encontro dos estudos de Ezat e El-Masry (2008) e Hassan e Melegy (2010). De forma mais abrangente, em empresas altamente lucrativas, os gestores tendem a ser propensos a divulgar mais informações (e de forma mais pontual) para obter vantagens, além de que, grandes empresas, buscando aumentar seu capital externo a fim de melhorar o desempenho, divulgam mais informações em seus websites para auxiliar na comercialização de títulos e posterior alcance dos objetivos organizacionais (EZAT; EL-MASRY, 2008; HASSAN; MELEGY, 2010).

Logo, com base nos resultados das hipóteses testadas, infere-se que quanto maior a quantidade de membros participantes do CA, menor o prazo (mais tempestivo) para a divulgação dos relatórios financeiros por parte das empresas. Por outro lado, empresas com práticas de gerenciamento de resultados tendem a apresentar um prazo maior para a divulgação de seus relatórios financeiros (menos tempestivas), o que acaba prejudicando a qualidade da informação contábil duplamente, pelo próprio uso discricionário dos accruals, bem como pela menor tempestividade das informações disponibilizadas ao mercado.

5 Considerações Finais

As complicações do ambiente econômico perpassam pela alta competitividade, sendo que o crescimento das organizações têm tornado a gestão dos negócios mais complexas, demandando informações cada vez mais claras, oportunas e relevantes. Nesse contexto, a contabilidade é considerada o mais completo sistema de informações para alicerçar a tomada de decisão dos mais diversos usuários.

Desta forma, a tempestividade como característica qualitativa da informação contábil, desempenha papel fundamental para acionistas e demais usuários no processo de tomada de decisão. Mais precisamente, em uma economia de mercado, reportar informações torna-se o meio pelo qual os usuários se mantêm informados acerca de questões essenciais, como o desempenho corporativo. Logo, quanto mais precisas e oportunas às informações forem disponibilizadas, melhores serão os processos de julgamentos dos diversos usuários para a tomada de decisão, cada qual com seu objetivo.

Neste contexto, o presente estudo revisitou literaturas que fornecem evidências da relação entre a governança corporativa e o gerenciamento de resultados com a tempestividade das informações financeiras divulgadas. Para esta pesquisa, buscou-se verificar empiricamente a relação entre a governança corporativa e o gerenciamento de resultados com a data de publicação das demonstrações financeiras de empresas brasileiras listadas na

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BM&FBovespa, no período de 2013 e 2015. Para atingir o referido objetivo foram analisadas 216 empresas, totalizando 648 observações.

Os achados apontaram que as variáveis tamanho do conselho de administração, gerenciamento de resultados, rentabilidade e tamanho da empresa possuem potencial para explicar as diferenças no prazo de publicação de demonstrações financeiras anuais das empresas estudadas. Em contrapartida, a dualidade de função do diretor, a independência do conselho de administração, o número de reuniões realizadas pelo conselho de administração e o nível de endividamento corporativo não foram significativos na amostra pesquisada.

Quanto aos resultados significativos, há evidências de que conselhos maiores abrangem maior diversidade de experiência e conhecimento, gerando aos usuários informações de forma mais oportuna. Similarmente, informações de maior qualidade, ou seja, que apresentam menores níveis de gerenciamento de resultados, tendem a ser disponibilizadas ao público interessado de forma mais ágil. Por fim, empresas mais rentáveis e maiores também disponibilizam informações de forma mais tempestiva, buscando atender de maneira eficaz o número de interessados por suas informações, bem como garantir as vantagens competitivas que empresas rentáveis geralmente possuem, como credibilidade.

Acredita-se que este estudo fornece insigths importantes para o entendimento do presente tema. Mais precisamente, para pesquisadores, estende-se os conhecimentos anteriores na área de governança corporativa e gerenciamento de resultados, examinando suas relações com o prazo de divulgação dos relatórios financeiros. Para os profissionais, os resultados deste estudo contribuem no contexto do mercado de capitais, auxiliando na tomada de decisão por parte dos investidores de forma racional, na medida que sinaliza que informações menos tempestivas podem estar relacionadas a prática de gerenciamento de resultados por parte dos gestores.

Todavia, apesar de importantes, os resultados desta pesquisa devem ser interpretados com cautela. A princípio, este estudo é o primeiro que investigou e identificou que informações com maior qualidade (medida por meio da métrica de gerenciamento de resultados) são divulgadas com maior tempestividade. Entende-se que tal aspecto possa estar suportado pelos mecanismos de governança corporativa, visto que evidências prévias da literatura defendem que estes contribuem para a geração de informações mais fidedignas e tempestivas, mediando, portanto, a relação entre qualidade da informação e o prazo de divulgação das informações financeiras anuais.

É importante que estudos futuros investiguem o referido fenômeno em contextos diversificados (países desenvolvidos e emergentes). Além disso, a ampliação da amostra, bem como da lacuna temporal observada, pode proporcionar resultados ainda mais abrangentes acerca do assunto, contribuindo para a evolução do conhecimento acerca do tema.

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