Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo 11:69-81, 1974
ELETROFORESE EM ACETATO DE CELULOSE DAS PROTEÍNAS SÉRICAS D F. CÃES NORMAIS E DE CÃES COM SARNA DEMODÉCICA
Mitika K. H A G IW A R A *
Pedro Manuel Leal G E R M A N O **
RFM V-A/7
Hac iw a r a, M. K. & Ge r m a n o, P. M. L. — Eletroforese em acetato de celu
lose das proteínas séricas de cães normais e de cães com sarna demo- décica. Rev. Fae. Med. vet. Zootee. lln iv. S. Paulo, 11:69-81, 1974.
Re s u m o: Procedeu-se ao estudo do proteinogram a de cães normais e de cães com sarna demodécica, pelo método do fracionam ento eletroforético em “ C ellogel” . Há variações individuais no núm ero das frações protéicas, e para o cálculo do va lor rela tivo fora m consideradas cinco (5) frações albu mina, ai, ai, fi e y globulinas; o va lor de az, ft e y fo i obtido pela soma dos seus componentes.
Nos animais com sarna demodécica há um aumento de m, (i ou y g lo bulinas dependendo da gravidade da lesão da pele.
Un it e r m o s: E le tro fo re s e * ; Acetato de ce lu lo s e *; Proteínas s érica s*; Cães * ; Sarna demodécica *.
I N T R O D U Ç Ã O
A sarna demodécica constitui uma afec ção relativam ente freqüente em Clinica Veterinária. O agente etiológico Dem odex
canis (L E Y D IG , 1844), se estabelece ini
cialmente nos foliculos pilosos donde, por contiguidade, se infiltra nos nódulos lin fáticos. Nos casos mais avançados a dis seminação se faz por todo o organismo através dos vasos linfáticos V 2. Atinge principalmente os cães jovens de 2 meses a 3 anos de idade, afetando todas as ra ças, independente do sexo, manejo, etc.
Segundo C O PE M A N & C A A F A R 7 (1967) as reações dermatológicas típicas da sarna
demodécica são uma resposta alérgica ao parasita ou aos produtos do parasita. W A L T O N 20 (1966) cita essas mesmas rea ções como sendo do tipo inflamatório. B A K E R 1, 2 (1969, 1970) estudando a histopa- tologia, a patogênese e a epidemiologia das demodecoses também conclui não se tra tar de uma imune reação típica, sendo mais próxima de uma reação inflamatória.
Não se sabe ao certo quais as altera ções que ocorrem nas proteinas séricas dos animais afetados; o estudo dessas alte rações poderia trazer subsídios que
pudes-• Auxiliar de Ensino do Departamento de Patologia e Clinica Médicas da Faculdade de Me dicina Veterina e Zootecnia da USP.
•* Médico Veterinário. Diretor Clinico da Clinica Veterinária Butantâ.
H A G IW A R A , M. K. & GERMANO, P. M. L. — Eletroforese em acetato de celulose das pro teínas sérlcas de cäes normais e de cães com sarna demodécica. Rev. Fac. Med. vet.
Zootec. Univ. S. Paulo, 11:69-81, 1974.
sem contribuir para esclarecer a patoge nia da sarna demodécica.
A eletroforese, como método analítico no estudo das proteínas séricas foi inicial mente utilizada por T IS E L IU S em 1937. A eletroforese sobre papel de filtro, que permite a separação de proteínas séricas. quando submetidas a uma corrente elé trica, é uma técnica relativam ente simples e tem sido amplamente utilizada no estu do do proteinograma em todas as espé cies animais. N a espécie canina são tam bém numerosos os trabalhos realizados, quer seja em animais normais 3. 4. 6. u . u ,
1 7 . 1 8 quer em diferentes condições pato
lógicas 7. 9. 13, 15. A eletroforese de proteí nas séricas por meio da membrana de acetato de celulose é um método mais sen sível, permitindo melhor separação das di ferentes frações protéicas5, bem como sua qualificação. Não há entretanto, trabalhos realizados na espécie canina, empregando- -se acetato de celulose, sendo necessário testar o método com o soro de animais normais, para conhecer o comportamento das diferentes frações.
Os objetivos do presente trabalho são, portanto:
1. Estudar o proteinograma sérico de cães normais, utilizando-se a eletrofo rese em acetato de celulose “ Cello- g e l” ;
2 . estudar comparativamente o proteino gram a na sarna demodécica.
M A T E R IA L E MÉTODOS
1. Anim ais utilizados
1.1. Cães normais
Foram utilizados 15 animais cuja idade variava de 6 meses a 3 anos. N ão se levou em consideração o sexo e a raça. Esses
animais procediam do Ambulatório da Fa culdade de Medicina Veterinária e Zoo tecnia da U .S .P . onde foram levados pa ra a profilaxia anti-rábica, tendo sido con siderados clinicamente normais.
I.2 . Cães com sarna demodécica
Foram utilizados 22 animais com lesões localizadas ou generalizadas, de diferentes raças, de ambos os sexos e a idade va riando de 3 meses a 4 anos. Esses animais foram atendidos na Clínica Médica da F a culdade de Medicina Veterinária e Zoo tecnia da U .S .P . durante o período de 1970 a 1971. O diagnóstico foi feito pelo exame clínico e confirmado pelo encontro do agente etiológico Dcm odex canis no raspado da pele.
Dividimos esses animais em 4 grupos I, II, I I I e IV, de acordo com as caracterís ticas do processo.
Grupo I — Constituído pelos animais que apresentavam lesões localizadas na cabeça
(animais n.0* 1, 2, 3 e 4).
Grupo I I — Constituído pelos animais com processo generalizado, tendo sido po rém recentemente acometidos.
Grupo I I I — Constituído pelos animais apresentando processo generalizado de evo lução crônica (animais n.M 10 a 19).
Grupo IV — Constituído pelos animais com infecção secundária (animais n.°* 20, 21 e 22).
2. Coleta do m aterial e tratam ento
subsequente
O sangue foi colhido das veias safena ou radial, com os devidos cuidados de assep sia, centrifugado imediatamente após a coleta, para evitar hemólise. Após a sepa ração o soro fo i mantido à temperatura de — 10°C até o momento da análise.
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3. Dosagem da proteína sérica total
A dosagem da proteína total foi feita pelo método refratom étrico, utilizando-se o refratôm etro Atago, onde a leitura é di reta e o resultado expresso em g% .
4. Eletroforese dos soros
A migração ele tro fo ré tic a 10 para a se paração das frações proteicas foi efetua da sobre suporte de acetato de elulose "Cel- logel” , medindo 2,5 x 17,0 cm. O apare lho utilizado foi o Colab Unitized E lectro phoresis Tank.
A amostra de soro fo i aplicada utilizan- do-se o aplicador para macroanálise; em seguida submetida a corrente elétrica de 2,5 mA por membrana, durante 60 minutos em tampão Veronal-Acetato de sódio 0,03 M com pH 8,6 (Oxoid Acetate B u ffe r). D e pois de coradas com amido negro (amido Schwartz 10 B ) e diferenciadas com so lução de metanol, água e ácido acético, as membranas foram desidratadas com me tanol durante 1 minuto e mergulhadas em mistura de metanol, ácido acético e glice- rol por 2 minutos, colocadas sobre lâm i nas de vidro e aquecidas em estufa de 70 a 80°C, até se tornarem transparentes. A densitometria foi feita pelo método semi- -automático e as frações calculadas pela planimetria.
R E S U L T A D O S
1. Cães normais
A análise eletroforética do soro de 15 animais revelou a existência das seguin tes frações: albumina, « j, globulina, 2 fra ções de ai globulina, 3 a 4 frações de p globulina e 1 ou 2 frações de y globu lina. A p globulina apresenta nítido po limorfismo, havendo inclusive componen tes de maior mobilidade, localizando-se en tre a2 e p ou então de mobilidade menor, localizando-se entre fj e y quando com
parados com o perfil eletroforético do so ro humano.
Todos os animais apresentaram as fra ções albumina ai, 2 frações de « 2 globu lina, /Ji, /}2, p 3 ,e y i globulinas; quatro animais apresentaram a fração p.{ e cinco animais apresentaram a fração y 2.
Para efeito de cálculo adotamos o se guinte critério:
1. as sub-frações de p foram somadas e consideradas como uma só fração;
2 . idêntico critério foi adotado para a fração y;
3. apesar de, em todas as amostras ter mos encontrado 2 frações de a-i glo bulina, consideraremos a soma das 2 frações.
Assim foram consideradas 5 frações pro- téicas: albumina, ai, ca, p e y globulina. Os resultados obtidos estão representados no quadro I I ; no quadro I I I apresenta mos os valores absolutos das proteínas sé ricas.
2. Cães com sarna demodécica
Os resultados obtidos de 22 animais, to dos com lesões ocasionadas pela sarna de modécica, estão apresentados no quadro IV . O mesmo polimorfismo das frações protéicas encontrado nos animais normais, foi também observado nos casos de sarna demodécica. Utilizamos portanto, o mes mo critério na qualificação das frações. Os valores absolutos das proteinas séricas nesse grupo de animais estão apresenta dos no quadro V .
D I S C U S S Ã O
O objetivo do presente trabalho foi estu dar as modificações das proteinas séricas em animais com sarna demodécica.
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Zootec. Univ. S. Paulo, 11:69-81, 1974.
Q U A D R O I
Grupos de animais com sarna demodéclca, segundo raça, sexo e idade e características do processo.
Grupo Anim al
n.° Kaça Sexo Idade
1 Pastor alemão M 3 a 2 Doberman M 12 m I 3 F ila brasileiro F 6 m 4 Dalmata F 4 m 5 S .R .D . F 4 m 6 Pastor alemão M 10 m I I 7 S .R .D . F 18 m 8 Fox Terrier M 6 m 9 Fox Terrier F 6 m 10 Dinamarquês Jfi 15 m 11 Dinamarquês F 15 m 12 S .R .D . F 10 m 13 S .R .D . M 10 m I I I 14 S .R .D . F 12 m 15 Pastor alemão M 20 m 16 S .R .D . M 20 m 17 S .R .D . F 12 m 18 Pastor alemão M 18 m 19 S .R .D . M 12 m 20 S .R .D . M 3 a IV 21 FOX F 3 a 22 Fox M 12 m
Grupo I — Animais com lesões localizadas na cabeça.
Grupo I I — Animais com processo generalizado, de evolução aguda. Grupo I I I — Anim ais com processo generalizado, de evolução crônica. Grupo IV — Animais com infecção secundária.
N o atendimento desses casos observa mos frequentemente animais com lesões circunscritas que assim permaneciam por muito tempo; em outros, o processo se generalizava rapidamente, sem haver uma resposta satisfatória ao tratamento insti tuído. T a l fato poderia ser devido a maior ou menor resistência do animal ao agente etiológico. Interessamo-nos, assim, em estudar o comportamento das protei- nas séricas, principalmente a y globulina, nos diferentes estágios da doença. O fra- cionamento eletroforético das proteínas
séricas em “ C ellogel” apresenta numerosas vantagens em relação ao papel de filtro, mais comumente empregado. Uma das vantagens é que permite a separação de m aior número de frações, sendo um mé todo mais preciso 5.
A maioria dos trabalhos feitos na espé cie canina, foi em papel de filtro e os valores normais encontrados6, 9, u . 17 fo ram obtidos por esse método. Considera mos como animais normais, aqueles que
Q U A D R O 1 1 Caes n o rm ai s (s eK u nd o ra c a .s ex o e id a d e ) — V a lo re s r e la ti v o s das p ro te ín a s s é rl c a s . A n i m a l n .‘ * R ac a S e x o Id a d e A lb u m in a «1 o 2 0 y <» 2, 1 »2 ,2 «2 / T 0 1 0 2 0 3 0 4 0 / T y l 7 2 y / T 1 S .R .D . M 6 m 4 2 ,4 4 5 ,8 0 1 0 ,5 0 5 ,1 0 1 5 ,6 0 6 ,2 5 7 ,0 0 1 1 ,5 1 2 4 .7 6 6 ,3 0 5 ,3 0 1 1 ,6 0 2 P. A le m ã o M 1 0 m 5 0 ,3 3 6 ,7 2 8 ,3 8 5 ,0 3 1 3 ,4 1 6 ,0 4 G .7 4 1 0 ,0 6 — 2 2 ,8 4 3 ,3 5 3 ,3 5 6 ,7 0 3 F o x F 2 a 4 5 ,1 5 8 ,2 3 9 ,3 8 7 ,1 5 1 6 ,5 3 5 ,8 1 8 ,5 0 8 ,9 3 — 2 3 ,2 4 6 ,8 5 — 6 ,8 5 4 S .R .D . F 1 5 m 4 8 .1 7 5 ,1 2 3 ,4 0 6 ,2 0 9 ,6 0 6 ,3 0 7 ,0 0 8 ,2 5 3 ,3 0 2 4 .8 5 1 2 ,2 6 — 1 2 ,2 6 5 S .R .D . M 1 2 m 4 2 ,3 9 6 ,2 2 5 ,2 5 7 ,1 0 1 2 ,3 5 3 ,2 9 1 1 ,0 5 1 2 ,9 0 — 2 7 ,2 4 1 1 .8 0 — 1 1 ,8 0 6 B o x e r F 7 m 4 2 ,0 0 4 ,3 2 6 ,8 9 5 ,0 0 1 1 ,8 9 5 ,1 3 7 ,6 9 1 1 ,1 5 6 ,8 5 3 0 ,8 2 1 0 ,9 7 — 1 0 ,9 7 7 S .R .D . M 1 5 m 5 6 ,1 5 3 ,8 7 3 ,5 0 3 ,7 0 7 ,2 0 3 ,1 5 3 ,8 0 5 ,6 0 1 5 ,1 3 2 7 .6 8 5 ,1 0 — 5 ,1 0 8 P . A le m ã o M 9 m 5 1 ,8 8 3 ,2 0 2 ,7 0 6 ,4 0 9 ,1 0 5 ,1 9 1 0 ,2 0 1 1 ,3 7 — 2 6 ,7 6 9 ,0 6 — 9 ,0 6 9 S .R .D . M 6 m 5 2 ,0 0 9 ,0 0 3 ,0 0 4 ,1 1 7 ,1 1 4 ,2 0 5 ,1 5 6 ,7 3 8 ,9 5 2 5 ,0 3 4 ,5 5 2 ,3 1 6 ,8 6 1 0 C o ll ie F 1 8 m 4 9 ,6 8 4 ,3 7 5 ,9 0 6 ,5 2 1 2 ,4 2 5 ,9 0 8 ,3 9 7 ,7 6 — 2 2 ,0 5 7 ,1 4 4 ,3 4 1 1 ,4 8 1 1 S .R .D . F 2 0 m 4 6 ,1 5 9 ,2 6 1 0 ,3 8 6 ,1 5 1 6 ,5 3 4 ,6 1 7 ,3 0 8 ,4 6 — 2 0 ,3 7 7 ,6 9 — 7 ,6 9 1 2 P. A le m ã o M 8 m 5 0 ,0 6 3 ,7 1 4 ,0 0 4 ,1 3 8 ,1 3 5 ,1 7 1 0 ,1 5 1 5 ,3 5 — 3 0 ,6 7 7 ,4 3 — 7 ,4 3 1 3 F o x F 2 a 4 6 ,6 2 8 ,2 5 5 ,3 4 4 ,8 5 1 0 ,1 9 3 ,8 8 1 5 ,5 3 1 0 ,6 8 — 3 0 ,0 9 4 ,8 5 — 4 ,8 5 1 4 F o x F 1 8 m 4 9 ,5 7 4 ,9 2 6 ,5 0 6 ,7 2 1 3 ,2 2 4 ,8 9 6 ,9 6 1 3 ,6 8 — 2 5 ,5 3 6 ,8 6 — 6 ,8 6 1 5 S .R .D . F 1 0 m 4 9 ,2 1 2 ,7 0 2 ,7 0 1 0 ,8 1 1 3 ,5 1 6 ,7 6 9 ,4 6 6 ,7 6 -2 2 ,9 8 1 0 ,8 1 0 ,7 9 1 1 ,6 0 X 4 8 ,1 0 5 ,7 1 1 1 ,7 8 2 5 ,6 6 8 ,7 4 S 3 ,8 9 2 ,0 7 1 ,9 2 3 ,2 4 2 ,5 3 M -M a s c u li n o «2 / T -«2 .1 + o2 .2 F -F e m in in o B/ T -fi l + P2 + fi3 + /i 4 y / T -y l + 72
H A G IW A R A , M. K. & GERMANO, P. M. L. — Eletroforese em acetato de celulose das pro teínas séricas de cães normals e de cães com sarna demodéclca. Rev. Far. Med. vet.
Zootec. Univ. S. Paulo, 11:69-81, 1974.
Q U A D R O I I I
Valores absolutos das proteínas séricas de animais normais (g % ).
Anim al n.° Proteína total Albumina «1 «2 ß y 1 6,4 2,70 0,37 0,99 1,58 0,74 2 7,2 3,62 0,48 0,96 1,64 0,48 3 6,6 2,98 0,54 1,09 1,53 0,45 4 5,8 2,79 0,30 0,56 1,44 0,71 5 7,1 3,01 0,44 0,88 1,93 0,84 6 6,4 2,69 0,27 0,7« 1,97 0,70 7 6,7 3.76 0,26 0,48 1,85 0,34 8 7,0 3.63 0,22 0,64 1,87 0,63 9 5,9 3,07 0,53 0.42 1,48 0,40 10 6,8 3,38 0,30 0,84 1,50 0,78 11 6,5 3,00 0,60 1,07 1,32 0,50 12 6,6 3,30 0,24 0,54 2,02 0,49 13 6.3 2,94 0,52 0,64 1,90 0,31 14 5,9 2,92 0,29 0,78 1,51 0,40 15 7,0 3.44 0.19 0.95 1.61 0,81 X 6,56 3,15 0,37 0,77 1,68 0,57 s 0,42 0,32 0,11 0.19 0,20 0.16
ao exame clínico não apresentavam ne nhum sintoma da doença.
Não fizemos distinção entre animais de sexos e raças diferentes, pois, pelo menos na espécie canina, parece não haver v a riações fisiológicas devido a esses fatores 1K.
Segundo T O M O D A 18 (1963) existe uma variação muito grande das proteinas séri cas em relação à idade, principalmente a
y globulina, que aumenta gradativam ente:
quanto mais velho o animal, maior é a concentração de y globulina. Procuramos portanto restringir o estudo ao grupo de animais cuja idade variava entre 6 meses a 3 anos, grupo esse no qual está com preendida a maioria dos casos de sarna demodécica.
Os valores das proteinas séricas totais que encontramos pela refratom etria não difere muito dos valores encontrados por
outros autores, sendo igual ao de G E N T I- L E et a l . 11 (1960), bem próximo de TO M O D A 17. 18 (1962, 1963), sendo porém me nores em cerca de 10% aos valores encon trados por K A N E K O & C A R R O L 1« (1967) e D A R R A S P E N et al. 9 (1961).
Na espécie em estudo as proteinas sé ricas mostraram ser de separação difícil
e de coportamento individual bastante va riável. Dependendo do animal, obtivemos 8 a 10 frações havendo evidências de exis tir maior número de componentes. A fra ção mais heteróloga é a fração p, com diversos componentes, cujos números va riam de 3 a 5. Tomando-se como referên cia o perfil eletroforético do soro huma no 5, verificam os que na espécie canina não há separação distinta entre as fra ções /Ji e p2, pelo menos por esse método
que empregamos. Os diferentes compo nentes da p globulina situam-se entre as
Q U A D R O X V V a lo re s r e la ti v o s da s p ro te ín a s s é rl c a s e m cã e s c o m s ar na d e m o dé c lc a. A n im a l n.° A lb u m in a «1 «2 e y «2 .1 "2 .2 «2 / T fi l 0 2 P3 P i P / T y l V 2 y / T 1 4 0 ,8 2 3 ,5 5 1 6 ,5 6 1 6 ,5 6 4 ,4 7 1 4 .7 9 9 ,4 6 2 9 ,0 2 8 ,8 7 1 ,1 8 2 4 7 ,6 1 0 ,7 9 0 ,7 9 7 ,9 3 8 ,7 2 2 ,3 8 2 0 ,6 3 1 1 ,0 3 — 3 4 ,0 3 7 ,2 6 1 ,5 8 8 .8 4 3 4 9 ,3 4 5 ,2 6 5 ,2 6 3 ,2 9 8 ,5 5 3 ,2 9 2 ,6 4 7 ,2 3 1 7 ,7 6 3 0 ,9 2 2 ,6 3 3 ,2 8 5 ,9 1 4 3 5 ,5 9 8 ,4 7 1 1 ,8 6 — 1 1 ,8 6 5 ,0 8 1 1 ,8 6 6 ,7 8 6 ,7 8 3 0 ,5 0 1 3 ,5 6 — 1 3 ,5 6 5 4 0 ,8 4 3 ,2 8 5 ,1 6 1 0 ,7 9 1 5 ,9 5 1 ,4 0 4 ,2 2 7 ,5 1 1 6 ,9 0 3 0 ,0 3 7 ,5 7 2 ,3 3 9 ,9 0 6 3 9 ,0 5 9 ,4 4 4 ,2 9 5 ,1 5 9 ,4 4 4 ,7 2 6 ,8 6 1 5 ,8 7 6 ,8 6 3 4 ,3 1 2 ,1 4 5 ,5 8 7 ,7 2 < 4 1 ,0 7 4 ,1 6 4 ,7 6 5 ,3 5 1 0 ,1 1 9 ,5 3 7 ,7 6 1 7 ,8 5 1 ,7 8 3 6 ,9 2 2 ,9 7 4 ,7 6 7 ,7 6 8 4 2 ,8 0 1 2 ,9 0 1 3 ,8 0 — 1 3 ,8 0 5 ,7 0 5 ,8 3 5 ,3 5 6 ,0 0 2 2 ,8 8 4 ,9 3 2 ,7 0 7 ,6 3 9 4 2 ,8 8 1 3 ,5 7 1 4 ,2 8 — 1 4 ,2 8 3 ,5 7 5 ,4 2 5 ,1 5 7 ,1 4 2 2 ,2 8 4 ,8 5 2 ,1 4 6 ,9 9 1 0 3 8 ,1 1 3 ,1 3 3 ,5 8 4 ,0 3 7 ,6 1 2 ,2 4 2 ,2 4 1 3 ,9 0 1 4 ,3 9 3 2 ,7 7 8 ,5 2 9 ,8 6 1 8 ,3 8 1 1 3 6 .5 2 3 ,4 2 2 ,4 9 5 ,2 9 7 ,7 8 2 .1 8 2 ,1 8 1 3 ,5 7 1 3 ,2 4 3 1 ,1 7 8 ,3 4 1 2 ,7 7 2 1 ,1 1 1 2 3 7 ,3 8 3 ,6 5 3 ,6 0 4 ,5 0 8 ,1 0 7 ,2 0 1 1 ,2 6 2 3 ,2 7 — 4 1 ,7 6 4 ,5 1 4 ,6 5 9 ,1 6 1 3 2 0 ,3 7 6 ,0 3 8 ,3 0 4 ,5 2 1 2 ,8 2 9 ,4 3 1 3 ,5 8 1 0 ,6 0 — 3 3 ,6 1 2 0 ,3 8 6 ,7 9 2 7 ,1 7 1 4 2 8 ,0 0 3 ,6 6 7 ,0 0 7 ,3 3 1 4 ,3 3 9 ,0 0 1 2 ,3 3 1 6 ,0 1 — 3 7 ,3 4 8 ,3 3 8 ,3 3 lò ,6 6 1 5 1 9 ,8 6 7 ,7 5 1 0 ,7 7 — 1 0 ,7 7 8 ,6 3 1 5 ,0 8 1 2 ,9 3 7 .3 2 4 3 ,9 6 1 5 ,9 4 1 ,7 2 1 7 ,6 6 1 6 2 6 ,4 9 4 ,2 0 1 1 ,3 4 — 1 1 ,3 4 1 1 ,7 6 1 8 ,0 6 1 7 ,6 5 — 4 7 ,4 7 5 ,8 8 4 ,6 2 1 0 ,5 0 1 7 1 8 ,3 4 1 ,9 1 3 ,2 7 6 ,5 5 9 ,8 2 2 ,1 8 4 7 ,8 1 9 ,0 1 — 5 9 ,0 0 1 0 ,9 3 — 1 0 ,9 3 1 8 2 1 ,2 4 0 ,9 0 3 ,0 3 1 ,2 1 4 ,2 4 4 ,5 4 6 ,6 6 1 2 ,4 3 9 ,0 9 6 2 ,7 2 1 0 .9 0 — 1 0 .9 0 1 9 2 3 ,3 3 6 ,2 3 7 ,3 1 — 7 ,3 1 8 ,1 3 2 8 ,4 6 8 ,4 0 4 ,8 7 4 9 ,8 6 1 3 ,2 7 — 1 3 .2 7 2 0 3 8 ,3 3 5 ,3 6 5 ,0 9 2 4 ,3 9 2 9 ,4 8 3 ,2 1 4 ,8 2 9 ,6 5 — 1 7 ,6 8 5 ,6 7 3 ,4 8 9 ,1 5 2 1 2 5 ,0 0 3 ,8 4 — 2 9 ,8 0 2 9 ,8 0 3 ,8 4 6 ,7 7 1 5 ,3 8 4 ,8 0 3 0 .7 9 1 0 ,5 7 — 1 0 ,5 7 2 2 2 9 ,3 7 7 ,9 6 — 2 6 ,5 7 2 6 ,5 7 5 ,5 9 3 ,2 6 1 2 ,8 2 — 2 1 ,6 7 1 0 ,0 2 4 ,4 1 1 4 ,4 3 «2 / T -«2 .1 + «2 .2 P / T -0 1 + fi2 + ft 3 + P 4 y / T -v i + y 2
HAG IW ARA, M. K. & GERMANO, P. M. L. — Eletroforese em acetato de celulose das pro teínas séricas de cães normais e de cães com sarna demodécica. Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. St. Paulo, 11:69-81, 1974.
Q U A D R O V
Valores absolutos das proteínas séricas dos animais com sarna demodécica (g % ).
Animal n.°
Proteína
Total Albumina <i1 •.2
fi
71 6,8 2.76 0,24 1.23 1,97 0,68 2 5,6 2,6" 0,04 0.49 1,91 0,50 3 5,9 2,91 0,31 0,50 1,82 0,35 4 5,2 1,85 0,44 0,62 1,59 0,79 5 5,8 2,37 0,19 0,93 1.74 0,57 K 5.7 2,23 0,54 0,54 1,96 0,44 7 7,2 2,96 0,30 0,73 2,66 0,56 S 6,6 2,82 0,85 0,91 1,51 0,50 9 6,2 2.66 0,84 0,89 1,51 0,31 10 7,2 2,74 0,23 0,55 2,36 1,32 11 7,1 2,38 0,24 0,55 2.21 1.71 12 7,3 2,73 0,27 0,59 3,05 0,67 13 6,8 1,39 0,41 0,87 2,29 1,85 14 7,8 2,18 0,29 1,12 2,91 1,30 15 8,0 1,59 0,62 0,86 3.52 1,41 16 7,9 2,09 0,33 0,90 3,75 0,83 17 6,2 1,14 0,12 0,61 3,66 0,68 18 5,8 1,23 0,05 0,25 3,64 0,63 19 8,6 2,01 0,54 0,63 4,29 1,14 20 5,6 2,15 0,30 1,65 0,99 0,51 21 9,2 2,30 0,35 2,74 2,83 0,97 22 6,0 1,76 0,48 1,59 1,30 0,87
frações ai e y globulinas. Estes últimos também apresentam comportamento va riável, ora apresentando-se como uma úni ca fração, ora como 2 frações. P ro va vel mente deve-se a esse grande polimorfismo a discordância das denominações das fra ções entre os vários autores 3. *.14. 17, bem como a divergência no valor de cada fra ção. Quando se deseja conhecer o com portamento detalhado de cada um dos componentes, torna-se necessário lançar mão de outros métodos bioquímicos ou imunoquímicos, quais sejam a imunoele- tro fo rese1S, 19 ou eletroforese em gel de agar
No presente estudo, consideramos ape nas 5 frações: albumina, « i, « 2, P e y globulinas, sendo o valor de <*2, p e y a soma dos valores de cada componente si tuado nessas faixas. Idêntico critério foi usado por C H A R Y & D U F O R « (1965) na
espécie canina e por G A C E K 10 (1972) no estudo do proteinograma de jumentos.
O valor médio que assim obtivemos, aproxima-se dos valores citados por outros autores, trabalhando em papel de filtro. Apresentamos, para efeito comparativo, no quadro V I, os valores encontrados, bem como os de outros autores. O menor va lor de y globulina deve-se ao fato de que trabalhamos com animais, de no máximo, 3 anos de idade. Com efeito sabe-se que à medida que o animal vai envelhecendo k*. aumenta a concentração sérica de y glo bulina, devido a estímulos antigênicos nem sempre característicos.
Ao estudarmos o fracionamento eietro- forético do soro de cães com sarna demo décica, encontramos também o mesmo po limorfismo, e a separação dos componentes foi muito mais difícil, principalmente na
H AGIW ARA, M. K. & GERMANO, P. M. L. — Eletroíorese em acetato de celulose das pro teínas sérlcas de cáes normais e de cães com sarna demodéclca. R p v . F i t r . M e r t . v e t . Zootec. Univ. S. Paulo, 11:69-81, 1974.
Q U A D R O V I
queles casos em que havia aumento muito grande de uma das frações.
Os valores encontrados para a albumina, foram mais baixos do que os valores nor mais; em alguns casos apenas é que se situavam dentro dos limites normais. A menor concentração de albumina é facil mente explicada à luz dos conhecimentos atuais: a proteina sérica total dificilm en te se a l t e r a e o aumento das outras frações séricas se faz à custa da diminui ção da albumina. Foi nos processos loca lizados (animais n.'* 1, 2 e 3) que encon tramos a albumina dentro dos seus valo res normais, justamente porque não há alteração das outras frações.
Nos processos generalizados, observamos diversas modificações no quadro protéico, na dependência da extensão da lesão, bem como do tempo decorrido desde o início da afecção. Assim nos animais com le sões extensas e com infecção secundária, comprovada através do hemograma (an i mais n.°» 20, 21 e 22) observamos um aumento de a-i globulina. Era de se espe rar que houvesse esse aumento, pois em todos os processos inflamatórios agudos 9. 1!* quer infecciosos ou não, há um aumento da fração 02. independente da espécie ani mal. Os animais 8 e 9 não apresentavam sinais clínicos de infecção secundária; ob
servamos entretanto, aumento de <t, e 02 globulinas, o que nos fe z suspeitar da exis tência de uma infecção inaparente, con firmada pelo hemograma. Já nos animais que apresentavam processo generalizado, com lesão extensa da pele, lembrando uma dermatite atópica ou seborréica, houve um aumento da fi globulina, com excessão dos animais 8 e 9.
O aumento da fração fi nas afecções crô nicas da pele já havia sido relatado por P A R T H A S A R A T Y & C H A N D R A S C K - R A N '« (1964) e por V E R S T R A E T E et al. 19 (1966). Quanto m aior o valor de /}, mais dificil foi a visualização das sub- frações ou seja. dos diferentes componen tes da fração. Com efeito, formava-se um bloco compacto em form a de nódulo, ha vendo, inclusive o comprometimento da y globulina, que se tornava de dificil sepa ração; V E R S T R A E T E et al. ’ ** (1966) ao estudarem diversos processos de pele, tam bém encontraram essa formação e a de nominaram de “K n ot shape” . Observamos essa característica nos animais n.“* 14, 15. 16. 17 e 18.
A y globulina manteve-se nos limites normais nos processos localizados e nos generalizados, porém recentes; em alguns animais com processo crónico houve um aumento (animais n."* 10, 11. 13. 14 e
77 Valores relativos das proteínas sérlcas segundo diversos autores.
' Frações
Autor —
Albumina a l «2 fi 7
Nosso valor 48,10 5.71 11,78 25.66 S.74
Gentile e col. 48,00 7.50 9,50 22.70 12,90
Darraspen e col. 41,30 6.80 12,30 2S.2CI 11.70
Tomoda 48,30 7.30 8,20 22,50 13,70
H AG IW AR A. M. K. & GERMANO, P. M. L. — Eletroforese em acetato de celulose das pro teínas sérlcas de cães normais e de cães com sarna demodécica. Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:69-81. 1974.
15), em outros a y globulina se manteve
dentro dos limites normais. O aumento de y globulina na sarna demodécica tam
bém é citado por V E R S T R A E T E et al. 111 (1966) sem especificar porém, quando po deria ocorrer esse aumento.
Há portanto nos processos generalizados, duas possibilidades: aumento da p globu
lina acompanhado do aumento de y glo
bulina, ou aumento exclusivo de p globu
lina. Não há diferenciação dos processos em relação ao aumento de uma ou de ambas as frações; trata-se provavelm ente de uma variação individual, havendo uma resposta diferente para o mesmo estímulo.
■ ■
Foto n.° 1 — P e rfil eletroforético do soro de animal normal (animal n.° 07). Ê interessante observarmos o comporta mento das proteínas séricas nos animais n.°» 8 e 9, em que se evidencia um aumen to de a, e 02 globulinas e nos animais 10 e 1 1, em que há um aumento de p globu
lina. Os animais 8 e 9 são da mesma pro le, o mesmo ocorrendo com os animais 10 e 11. Animais consanguíneos podem res ponder de maneira idêntica a um deter minado processo, podendo também haver predisposição hereditária a adquirir a sar na demodécica. Seria entretanto neces sário o estudo de maior número de casos para podermos chegar a uma conclusão mais exata.
Foto n.° 2 — P erfil eletroforético do soro de animal com sarna demodécica generalizada. Observa-se o aumento da fração fi e y giobulinas (animal n.° 19).
Foto n.° 3 — P erfil eietroforético de animai com sarna demodécica generalizada com infecção secundária. Observa-se o aumento da m globulina (anim al n.° 20).
H AG IW ARA, M. K. & GERMaNO, P. M. L. — Eletroforese em acetato de celulose das pro teínas séricas de cães normals e de cães com sarna demodécica. Rev. Far. Med. vet. Zootec. Univ. 8. Paulo, 11:69-81, 1974.
C O N C L U S O E S
Os resultados obtidos com o material e a metodologia empregados nos permitem concluir:
1 O número de proteínas séricas na espécie canina, separadas por ele troforese em “ C ellogel” , varia em torno de 8 a 10, evidenciando uma variação individual;
2 . a fração p globulina é a que apre senta maior polimorfismo;
3. nos animais normais, quando conside ramos a soma das frações; agru pando-as em albumina, a i, <*2, p e y globulinas, não há diferenças com os valores obtidos pela eletroforese em papel por outros autores;
4. nos cães com sarna demodécica, há as seguintes alterações no quadro protéico:
4.1. nos processos generalizados há um aumento de /} globulina e de y glo bulina, isoladamente ou em conjun to;
4.2. com o aumento de p globulina, tor na-se ainda mais difícil a separação das subfrações, formando-se um blo co único;
4.3. nos processos localizados não há al teração da composição da proteína sérica;
4 .4. em nenhum caso há alteração da proteína sérica total.
RFM V-A/7
Ha g iw a r a, M. K . & Ge r m a n o, P. M. L. — Electrophoresis o f serum protein
■with cellulose acetate. Studies on norm al dogs and w ith demodetic mange. Kev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:69-81, 1974.
Su m m a r y: I t was realized a com parative research about serum pro
teins fro m norm al dogs and fro m dogs w ith demodetic mange by the method o f eletroph oretic fra ction a tion in "C ellog el’’.
There is an individual difference in the num ber o f protein fractions and fo r the percentage calculation it was considered 5 (fiv e ) fractions, that ares albumin ai, at, P and y globulin.
The at, p and y fractions were obtained by the sum o f th eir com po nents. The animals w ith demodetic mange presented an increasing o f a*, p o r y on dependence o f the skin lesion degree.
Un i t e r m s: E le ctro p h o re s is *; Serum p ro te in s * ; D o g s * ; Demodetic
mange *.
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Recebido para publicação em 1-8-74 Aprovado para publicação em 29-8-74