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ANPOF - Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia

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ANPOF - Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia

Diretoria 2017-2018

Adriano Correia Silva (UFG)

Antônio Edmilson Paschoal (UFPR) Suzana de Castro (UFRJ)

Agnaldo Portugal (UNB) Noéli Ramme (UERJ) Luiz Felipe Sahd (UFC) Cintia Vieira da Silva (UFOP) Monica Layola Stival (UFSCAR) Jorge Viesenteiner (UFES) Eder Soares Santos (UEL) Diretoria 2015-2016 Marcelo Carvalho (UNIFESP) Adriano N. Brito (UNISINOS)

Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros (USP) Antônio Carlos dos Santos (UFS)

André da Silva Porto (UFG) Ernani Pinheiro Chaves (UFPA)

Maria Isabel de Magalhães Papaterra Limongi (UPFR) Marcelo Pimenta Marques (UFMG)

Edgar da Rocha Marques (UERJ) Lia Levy (UFRGS)

Produção

Samarone Oliveira

Editor da coleção ANPOF XVII Encontro Adriano Correia

Diagramação e produção gráfica Maria Zélia Firmino de Sá

Capa

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COLEÇÃO ANPOF XVII ENCONTRO

Comitê Científico da Coleção: Coordenadores de GT da ANPOF

André Leclerc (UnB)

Antônio Carlos dos Santos (UFS)

Antonio Glaudenir Brasil Maia (UECE/UVA) Arthur Araujo (UFES)

Carlos Tourinho (UFF)

Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedo (UNIFESP) César Augusto Battisti (UNIOESTE)

Christian Hamm (UFSM)

Claudemir Roque Tossato (UNIFESP) Cláudia Drucker (UFSC)

Cláudio R. C. Leivas (UFPel) Daniel Lins (UFC/UECE)

Daniel Omar Perez (UNICAMP) Daniel Pansarelli (UFABC) Dennys Garcia Xavier (UFU) Dirce Eleonora Nigro Solis (UERJ) Dirk Greimann (UFF)

Emanuel Angelo da Rocha Fragoso (UECE) Fátima Regina Rodrigues Évora (UNICAMP) Felipe de Matos Müller (PUCRS)

Flávia Roberta Benevenuto de Souza (UFAL) Flavio Williges (UFSM)

Francisco Valdério (UEMA) Gisele Amaral (UFRN)

Guilherme Castelo Branco (UFRJ) Jacira de Freitas (UNIFESP) Jairo Dias Carvalho (UFU) Jelson Oliveira (PUCPR)

João Carlos Salles Pires da Silva (UFBA) Juvenal Savian Filho (Unifesp)

Leonardo Alves Vieira (UFMG) Lívia Mara Guimarães (UFMG) Lucas Angioni (UNICAMP)

Luciano Carlos Utteich (UNIOESTE) Luís César Guimarães Oliva (USP) Luiz Antonio Alves Eva (UFPR)

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Luiz Rohden (UNISINOS)

Marcelo Esteban Coniglio (UNICAMP) Marco Antonio Azevedo (UNISINOS) Marco Aurélio Oliveira da Silva (UFBA) Maria Aparecida Montenegro (UFC) Maria Cristina de Távora Sparano (UFPI) Maria Cristina Müller (UEL)

Mariana de Toledo Barbosa

Mauro Castelo Branco de Moura (UFBA) Milton Meira do Nascimento (USP) Nilo Ribeiro Junior (FAJE)

Noeli Dutra Rossatto (UFSM) Paulo Ghiraldelli Jr (UFRRJ)

Pedro Duarte de Andrade (PUC-Rio) Rafael Haddock-Lobo (PPGF-UFRJ) Ricardo Pereira de Melo (UFMS) Ricardo Tassinari (UNESP)

Roberto Hofmeister Pich (PUCRS) Rodrigo Guimarães Nunes (PUC-Rio) Samuel Simon (UnB)

Silene Torres Marques (UFSCar)

Silvio Ricardo Gomes Carneiro (UFABC) sofia inês Albornoz stein (UnisinOs) Sônia Campaner Miguel Ferrari (PUC-SP) Susana de Castro (UFRJ)

Thadeu Weber (PUCRS) Vilmar Debona (UFSM)

Wilson Antonio Frezzatti Jr. (UNIOESTE)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

FICHA CATALOGRÁFICA

C338 Ceticismo, dialética e filosofia contemporânea / Organizadores

Adriano Correia .... [et al.]. São Paulo : ANPOF, 2017. 430 p. – (Coleção XVII Encontro ANPOF)

Bibliografia

ISBN 978-85-88072-65-7

1. Ceticismo - Filosofia 2. Dialética 3. Filosofia moderna I. Correia, Adriano (Org.) II. Nunes, Rodrigo Guimarães (Org.) III. Utteich, Luciano Carlos (Org.) IV. Valdério, Francisco (Org.) V. Williges, Flavio (Org.) VI. Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia VII. Série

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APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO XVII ENCONTRO

NACIONAL DE FILOSOFIA DA ANPOF

O XVii encontro nacional de filosofia da AnpOf, ocorrido em Araca-ju, na Universidade federal de sergipe, de 17 a 21 de outubro, reuniu parte significativa da comunidade acadêmica brasileira da área de filosofia, como já é tradição nos encontros promovidos pela AnpOf desde 1984, em Diaman-tina/MG. Tivemos mais de 2 mil apresentações e a participação massiva de docentes e discentes de todas as partes do país. O evento, que se amplia a cada edição, refletindo a expansão e a consolidação nacional da nossa área, é oportunidade única para a divulgação e a discussão de nossas pesquisas, mas também para o debate e o intercâmbio de opiniões sobre temas relevantes para nossa comunidade acadêmica e a consolidação de redes de pesquisa.

Desde 2013 a AnpOf vem publicando parte dos textos apresentados no evento, nos Grupos de Trabalho e nas sessões Temáticas visando registrar as atividades do evento, dar visibilidade a nossa produção e fomentar o diá-logo entre as pesquisas na área. Nesta edição do evento contamos com pouco mais de seiscentos textos aprovados dentre os efetivamente apresentados e submetidos para avaliação dos Grupos de Trabalho e das Coordenações dos Programas de Pós-graduação.

Após o processo de avaliação dos trabalhos submetidos foi concedido aos autores um prazo de um mês para que revisassem seus próprios textos, uma vez que os autores respondem pela versão final do seu texto. foi feita uma revisão geral nos livros, mas com foco antes de tudo na diagramação e na padronização da apresentação dos textos, de modo que apenas ocasio-nalmente foram corrigidos erros evidentes, principalmente de digitação. O processo de edição dos livros durou o tempo compatível com a magnitude do material e a estrutura da AnpOf. Os 22 volumes resultantes foram agrupados por afinidade temática, tanto quando possível, e sempre com a anuência dos coordenadores de GTs.

A edição deste material não teria sido possível sem a colaboração dos Coordenadores de programas de pós-graduação e Coordenadores de GTs, aos quais agradecemos profundamente. A reunião dos textos e a solução dos

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vá-rios problemas ao longo do processo não seriam possíveis sem a contribuição competente e inestimável de samarone Oliveira, da secretaria da AnpOf. A comunidade da filosofia no Brasil se reunirá novamente em 2018 em Vitória, por ocasião do XViii encontro nacional de filosofia. Uma boa leitura e até lá.

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Títulos da Coleção ANPOF XVII Encontro

Ceticismo, Dialética e filosofia Contemporânea

Deleuze, Desconstrução e Alteridade Estética

Ética, política, Religião

fenomenologia e Hermenêutica Filosofar e Ensinar a Filosofar filosofia Antiga

filosofia da Linguagem e da Lógica

filosofia da natureza, da Ciência, da Tecnologia e da Técnica filosofia do século XVii

filosofia do século XViii

filosofia francesa Contemporânea filosofia Medieval

filosofia política Contemporânea Hegel e Schopenhauer

Heidegger, Jonas, Levinas Justiça e Direito

Kant

Marxismo e Teoria Crítica Nietzsche

pragmatismo, filosofia da Mente e filosofia da neurociência psicanálise e Gênero

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8

Sumário

O problema do assentimento do juízo e da evidência da representação na teoria estoica

do conhecimento e a crítica cética ao dogmatismo 11

João Carlos Pereira da Silva (UFRRJ)

Três Dúvidas 29

Danilo Marcondes (PUC-Rio/UFF)

Pascal no Brasil – espiritualismo e ceticismo 39

Alex Lara Martins (IFMG/UFMG)

Os limites do cognoscível um estudo das afinidades entre Max eber

e o ceticismo grego 50

Marcelo da Costa Maciel (UFRRJ)

Juízo e Ser: o debate de Hölderlin com o Idealismo alemão nascente 60

Tamara Havana dos Reis Pasqualatto (UNIOESTE)

Notas sobre dialética em Aristóteles 75

Marcio Soares (UFFS)

A historicidade da música em Hegel diante do dodecafonismo de Schoenberg 92

Adriano Bueno Kurle (PUCRS)

excrever a multiplicidade a filosofia primeira de Jean-Luc nanc 108

Carlos Cardozo Coelho (PUC-Rio)

O conceito de afeto como critério filosófico 11

Rafael Mófreita Saldanha (UFRJ)

esboço de uma nova definição para propriedades naturais 132

Renato Mendes Rocha (UFSC/UFCA)

Desaxiomatizar a natureza, tarefa da ecologia política 143

Alyne de Castro Costa (PUC-Rio)

O social e o Metafísico Tarde e simodon 1 0

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O mundo como rede de forças contribuições para uma ontologia da relação 174

Diogo Bogéa (UERJ)

Ontologia do limite 187

Raquel de Azevedo (PUC-Rio)

O caminho da eficácia discurso e organização política 19

Maikel da Silveira (PUC-RJ)

Consciência, plasticidade neural e o estado ilusório da matéria 208

Charles Borges (PUCRS)

Grafemática e plasticidade diálogos entre Derrida e Malabou 218

Moysés Pinto Neto (ULBRA)

Michel foucault e pierre Hadot um diálogo contemporâneo sobre a concepção

estoica do si mesmo 231

Cassiana Lopes Stephan (UFPR)

palácio de Cristal globalização e capitalismo na perspectiva de peter sloterdij 24

Edilene Maria de Carvalho Leal (UFS)

educação e instrução do homem agente 2 4

Adaleuton de Queiroz Soares (UECE) Marly Carvalho Soares (UECE)

educação e instrução na filosofia de Éric eil 279

Aparecido de Assis (UNEMAT)

O que torna o mundo da ação tão vulnerável 288

Luís Manuel A. V. Bernardo (FCSH/NOVA-UAc)

Os impasses da linguagem sistema ou existência em ier egaard 30

Franklin Roosevelt Martins de Castro (UNICAMP/UEA)

O conceito de essência humana em feuerbach 314

Jéfferson Luiz Schafranski da Silva (UEL)

para além da dialética da contemplação ao perigo da experiência estética 337

Renan Pavini (PUCPR/UEM)

Autenticidade e expressivismo em Charles Ta lor 3 1

Rogerio Foschiera (IFRS)

O Risco do Relativismo Moral no Liberalismo Radical de Robert nozic 371

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10

11

John Rawls: imparcialidade e não neutralidade na justiça como equidade 376

Elnora Gondim (UFPI)

Aprimoramento biotecnológico Um prelúdio a era pós-humana 38

Keoma Ferreira Antonio (UFRN)

Sentidos da transformação do humano na contemporaneidade: entre

o transumanismo e o bioludismo 393

Rafael Nogueira Furtado (PUC-SP)

O mais além da essência a radicalidade presente no outramente que ser 408

Valéria dos Santos Silva (UECE)

O sopro demoníaco do daímon grego ao lugar da ética na arte contemporânea 418

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s oço de uma no a definição para

propriedades naturais

Renato Mendes Rocha

(UFSC/UFCA)

neste capítulo apresento o esboço de uma nova definição para pro-priedades naturais. na minha tese de doutorado (ROCHA, 2017) defendo que na metafísica de mundos possíveis de Le is, a noção de propriedade natural desempenha um papel central. As propriedades naturais podem ser esclarecidas de pelo menos dois modos. Um deles é buscar uma defi-nição que seja suficiente e necessária para a sua classificação. O segundo modo é elucidar o papel desempenhado por elas não pela definição ape-nas, mas a partir de sua aplicação filosófica. na minha tese, eu abordo estas duas estratégias. neste texto ainda que mencione elementos da se-gunda estratégia, vou focar a discussão na primeira estratégia.

D

O ponto de partida são as definições encontradas na discussão con-temporânea sobre ontologia de propriedades. A primeira definição encon-trada é a de uinton (19 7, p. 3 ) na qual ele afirma que uma classe desse tipo natural seriam as classes cujas partes seriam de um modo represen-tativa do todo da classe .1 essa caracterização surge no contexto do debate

entre realistas e nominalistas sobre o problema dos universais. As classes de propriedades naturais parecem ser um modo de introduzir a relação de semelhança na defesa da posição conhecida como nominalismo de lhanças, uma vez que uma classe formada a partir de uma relação de seme-lhança pode ser definida em termos de propriedade natural e propriedade natural também pode ser definida em termos de classes de semelhança.

1 A class of this ind, hose parts are in this a representative of the hole, is hat i mean b

a natural class. esta e as seguintes traduções são de minha autoria.

Correia, A. nunes, R. G. Utteiche, L. C. Valdério, f. illiges, f. Ceticismo, Dialética e Filosofia

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e

Há pelo menos um problema naquela definição de uinton ela afir-ma que um elemento da classe pode ser representativo de toda a classe. isto parece ser falso pela seguinte razão. Cada elemento de uma classe pode ser representativo de cada um dos outros elementos daquela classe e não da classe como um todo. para esclarecer considere, por exemplo, uma classe D formada por dez moedas que estão no meu bolso direito.2

Cada elemento desta classe (uma moeda individual) é apenas represen-tativo de outros elementos desta classe, quando tomados individualmen-te, e não representativo da classe como um todo. Uma moeda representa uma outra moeda e não outras dez moedas ao mesmo tempo. Apesar des-ta imprecisão, a definição de uinton apresendes-ta pelo menos uma virtude o uso da noção de representatividade que desempenha um papel impor-tante nas aplicações filosóficas das propriedades naturais.

A segunda definição propriedades naturais é aquela apresentada por Le is (1983, p. 347) propriedades naturais seriam aquelas cujo o fato de dois particulares a compartilharem torna estes particulares seme-lhantes, além disso devem ser relevantes para explicar poderes causais .3

Le is defende uma teoria conhecida como inegualitarismo entre pro-priedades. ele sustenta que dentre todas as propriedades possíveis e existentes, há uma pequena elite minoritária de propriedades que são as propriedades naturais. ele distingue as propriedades naturais das pro-priedades não naturais sobretudo por causa de suas aplicações. A maior parte destas aplicações está relacionada segunda cláusula da definição apresentada explicar os poderes causais. esta capacidade em parte se dá por um outro poder mágico das propriedades naturais a capacida-de capacida-de trinchar corretamente a natureza em suas as articulações. Correta no sentido das articulações (junções) existentes própria natureza e não apenas considerando uma perspectiva humana (e subjetiva) de trinchar. este tipo de classificação de propriedades é defendido por Le is a partir do seu critério metodológico de escolha de teorias baseado na análise do custo-benefício. Os papéis desempenhados pelas propriedades naturais podem ser classificados basicamente em dois papéis o papel da

raciona-2 por moeda aqui, entendo, um objeto físico geralmente de formato arrendodado feito de algum

metal e dotado de algum valor monetário, cujo sistema sistema financeiro ao qual ela pertence é irrelevante para os propósitos deste exemplo.

3 Natural properties would be the ones whose sharing makes for resemblance, and the ones rel-evant to causal powers.

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Renato Mendes Rocha

lidade e o papel da fundamentação. Ao primeiro papel estão relacionadas soluções ao paradoxo de Goodman, o paradoxo de rip enstein e o pa-radoxo de putnam, problemas que permearam boa parte das discussões da filosofia analítica da segunda metade do século XX. Ao segundo papel pertencem os usos das propriedades naturais na explicação dos itens que compõem o pacote nomológico, ou seja, dos conceitos ligados definição regularista de leis da natureza de Le is, tais como duplicado, evento, cau-salidade, contrafactual e que vão influenciar, por exemplo, uma definição de determinismo que é importante na discussão sobre o livre-arbítrio.

Voltando para o esboço da definição a ser apresentada. A virtude da definição de Le is é considerar a relação de semelhança entre os termos de uma classe natural. no entanto, ela parece vaga quando menciona os poderes causais que podem se tornar mais claro ao se deparar com as definições dos itens pacote nomológico. então, a partir da combinação de elementos das definições de uinton (19 7) e Le is (1983), eu proponho a seguinte nova definição

Propriedade natural df uma propriedade é natural se, e

so-mente se, cada elemento da classe definida pela propriedade for suficientemente semelhante aos outros elementos desta classe e cada elemento da classe for representativo de outros elementos desta mesma classe.

Uma primeira objeção que pode ser feita a esta definição é a redun-dância entre semelhança e representatividade.4 no entanto, uma distinção

sutil entre estes dois aspectos pode ser traçada do seguinte modo. por um lado, a semelhança parece ser uma propriedade objetiva do mundo, uma relação presente (ou ausente), entre dois objetos quaisquer independen-temente de estes objetos serem observados. por outro lado, a noção de representatividade parece envolver um agente que capaz de estar em um dos lados da relação de representação. embora distintas, estas noções es-tão estreitamente conectadas, pois se dois objetos possuem um elevado

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e

grau de semelhança entre si, há uma alta probabilidade de um objeto ser tomado como representativo do outro, por algum agente capaz de perce-ber esta semelhança.

Acredito que esta minha proposta de definição tenha as seguin-tes vantagens sobre as anteriores i) ela evita a fraqueza da definição de

uinton, mencionada na seção anterior e, ii) por ser uma definição con-juntiva acrescenta uma exigência inexistente na caracterização de Le is, aquela que diz que cada elemento precisa ser representativo dos outros elementos desta classe. Ao propor uma intersecção entre a extensão das relações de semelhança e a representação, permite não considerar, por exemplo, apenas a semelhança ou, apenas a representatividade, para uma propriedade candidata a propriedade natural ser, de fato, considerada uma propriedade natural. segundo esta proposta de definição, os elemen-tos de sua classe precisam ser semelhantes e representativos. Algo a ser desenvolvido para tornar a proposta mais atraente e filosoficamente mais robusta é um esclarecimento a respeito dos termos as quais a objeção do parágrafo se direcionam semelhança e representatividade. no que diz respeito à representatividade é preciso encontrar uma caracterização que seja objetiva e compatível com os realismos metafísico e científico que compõem o pano de fundo desta discussão na ontologia contemporânea.5

na seção seguinte ofereço um sumário de algumas destas teorias sobre a semelhança encontradas tanto na literatura filosóficas quanto científicas.

T

Há pelo menos três teorias que podem ser utilizadas para explicar a noção de semelhança encontrada na proposta de definição de proprie-dade natural apresentada na seção anterior. Teorias da semelhança são enriquecidas quando elaboradas a partir de um ponto de vista interdisci-plinar. As abordagens filosóficas são enriquecidas quando acrescentadas de dados empíricos fornecidos por exemplo, pela psicologia, ou ainda da biologia ou da neurociência. estas teorias procuram estabelecer critérios empíricos e/ou formais para atribuir semelhança a um grupo de objetos em análise, ou ainda estabelecer relações de semelhança entre classes de

5 Tenho aqui em vista a retomada da discussão sobre o problema dos universais entre filósofos

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Renato Mendes Rocha

objetos distintos. por exemplo, critérios para afirmar que uma determi-nada classe A é mais semelhante à classe B que a determidetermi-nada classe C. Teorias como esta seriam úteis, por exemplo, ao se querer defender a atri-buição de graus de naturalidade.

Uma das teorias que procuram explicar a semelhança é baseada na neurociência e, se for bem-sucedida, seria uma boa candidata para a tese de que a semelhança (ou pelo menos a nossa capacidade de identificar se-melhança) é uma característica objetiva do mundo. segundo esta teoria, a semelhança objetiva pode ser detectada ao observar um certo padrão no comportamento de células do sistema nervoso quando um indivíduo identifica semelhanças entre objetos numericamente distintos. segue por esta linha a teoria neurosemântica baseada no modelo sinBAD do córtex cerebral.6 Basicamente, esta teoria afirma que seria uma função biológica

das redes neurais de se estruturarem de maneira isomórfica ao ambien-te. esta característica defende R der (2004, p. 212), significa que estas redes modelam, ou representam o ambiente. Um aspecto interessante desta teoria é que ela associa correlações causais não apenas entre pares de propriedade, mas considera pares de funções complexas definidas en-tre propriedades (R DeR, 2004, p. 219). por exemplo, enquanto o par de propriedade ser-amarelo e ter-o-formato-banana não obteriam uma relação causal forte, a função formada pelo par ser-amarelo e ter-o--formato-banana , e pelo par ser-descascável e vir-em-cachos obteria mais correlação causal.

Uma outra teoria que procura explicar a semelhança é a análise de similaridade comparada apresentada por Le is (1973, p. 48) como parte de sua semântica para contrafatuais. esta teoria estabelece um or-denamento de mundos possíveis a partir da semelhança entre eles. este ordenamento é representado por um sistema de esferas concêntrico, na qual o mundo atual, ou outro mundo em questão estariam localizados em seu centro. uanto mais distante for a esfera do mundo possível de seu centro, menos semelhante é aquele mundo do mundo do centro da esfera.

6 Abreviação para Conjunto de Dendritos de interação Retroativa Set of INteracting BAckpropa-gating Dendrites

Figura 1 - Sistema de esferas de mundos possíveis

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e

esta representação diagramática oferece uma poderosa ferramenta para analisar o valor de verdade de sentenças contrafatuais. A análise é fei-ta a partir do posicionamento do antecedente e do consequente do contra-fatual nestas esferas. Linhas curvas são traçadas para delimitar os mundos em que cada proposição é verdadeira ou falsa. se houver intersecções entre segmentos de esferas em que o antecedente e o consequente sejam verda-deiros, então o contrafatual pode ser considerado verdadeiro. no entanto, se há um mundo possível mais próximo ao mundo atual em que o antece-dente for verdadeiro, o consequente for falso, então o contrafatual é falso no mundo atual. uanto mais próximo estiver o mundo possível que torna o antecedente verdadeiro, maiores serão as chances daquele condicional ser considerado verdadeiro. em termos formais, o ordenamento de mun-dos possíveis a partir da semelhança é introduzido a partir das seguintes notações, considerando j, k e i como mundos possíveis:

j i e j <i

A primeira fórmula afirma que o mundo i é tão semelhante ao mun-do j quanto ao munmun-do k. A segunda notação quer dizer que o munmun-do i é

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Renato Mendes Rocha

mais semelhante ao mundo j do que ao mundo k. A partir desta notação Le is (1973, p. 48) estabelece um sistema (centrado) de similaridade comparada baseado no estabelecimento de seis condições: transitivida-de, conexão forte, auto acessibilidatransitivida-de, similaridade minimal, similaridade maximal e uma sexta que estabelece que mundos acessíveis são mais se-melhantes que mundos inacessíveis.

esse sistema de esferas é fundamental para viabilizar a semântica contrafactual de Le is. no entanto, seria viável para analisar semelhança entre conjuntos de propriedades se substituirmos simplesmente as va-riáveis j, k e i que neste sistema representam mundos possíveis por clas-ses que designam propriedades, teríamos um sistema de ordenamento entre propriedades a partir da semelhança entre elas. Todavia, isso não seria suficiente para explicar por que uma propriedade A é mais seme-lhante a uma propriedade B do que uma propriedade C. Apenas fornece-ria um ordenamento.

Talvez a lição a se obter do sistema de esferas le isiano é que explica-ções deste tipo exigiria algo como um critério quantitativo para comparar semelhança entre mundos ou propriedades. estas medidas quantitativas de análise se semelhança seriam análogas s medidas de distância espacial, no qual é possível imaginar um espaço preenchido por mundos possíveis em que a distância entre estes mundos representaria o grau de semelhan-ça entre eles. A partir, por exemplo, de um conjunto de mundos possíveis, poderia se estabelecer números para cada grau de semelhança entre dois mundos. Os dois mundos mais semelhantes deste conjunto receberiam um número que representaria seu elevado grau de semelhança, por exemplo, 0.9 (enquanto 1.0 seria a semelhança completa, em que cada mundo pos-sui apenas consigo mesmo) e os mundos menos semelhantes receberiam números menores. Le is (1973, p. 1) apresenta algumas ressalvas quanto a um critério quantitativo deste tipo. segundo ele, a adoção de um critério quantitativo exigiria uma indesejável simetria entre relações de semelhan-ça, por exemplo, se afirmo que i é semelhante a j, implicaria que (numeri-camente) j é semelhante à i. no entanto, aceitar a simetria implicaria em impor uma restrição a este ordenamento numérico. esta restrição seria quanto a selecionar qual aspecto de um conjunto de mundos é mais impor-tante para uma determinada comparação. pois, se i é mais semelhante a j do que a k (j <i k) e, j é mais semelhante a k do que a i ( j i), então k seria mais semelhante a j do que a i (j <k i). O que nem sempre parece ser o caso,

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e

a j. Le is cita o exemplo das propriedades relacionadas a cores, que em certos mundos pode ter uma relevância maior do que em outros mundos, por exemplo, em um mundo as cores aparecem entre as leis físicas funda-mentais, enquanto em outros mundos as cores poderiam ser aleatórias e alternantes. Alguém teria que aceitar uma restrição injustificada quanto a fatos sobre um mundo i e quais aspectos deste mundo são relevantes para compará-lo com outros mundos. se afirmo que

(𝑗 <𝑖 𝑘) (𝑘 <𝑗 𝑖) (𝑗 <𝑘 𝑖)

ou seja, se i é mais semelhante a j do que a k e j é mais semelhante a

k do que a i, então k seria mais semelhante a j do que a i. isto evita

estabe-lecer critérios quantitativos de comparação entre propriedades.

Ressalvas similares quanto a teorias quantitativas para análise de semelhança também são apresentadas por Tvers (1977, p. 329). Um dos exemplos citado por ele e que pode ser usado para explicar o proble-ma com o esqueproble-ma anteriormente apresentado. Considere a comparação entre três países distintos Rússia, Jamaica e Cuba. para o autor, há uma semelhança tanto entre Jamaica e Cuba, por estarem localizados no mes-mo continente, comes-mo há uma semelhança entre Cuba e Rússia, que apesar da distância geográfica, houve uma associação política entre os dois paí-ses do qual o primeiro se beneficiava de subsídios econ micos recebidos do segundo. pelos critérios considerados, parece não haver semelhança alguma entre Rússia e a Jamaica. substituindo as variáveis i, j, e k anterio-res pelo nome dos países se obteria algo como: se a Rússia é mais seme-lhante a Cuba do que a Jamaica e a Jamaica é mais semeseme-lhante a Cuba do que a Rússia, então Cuba seria mais semelhante a Jamaica do que a Rússia. O consequente deste condicional não pode ser afirmado, ao menos que se estabeleça sobre qual critério de comparação ele está sendo afir-mado. Ta lor (2004, p. 248) também percebeu esse problema na avalia-ção de critérios de semelhança e concluiu que a justificaavalia-ção de julga-mentos de similaridade é relativa a atitude cognitiva do juiz (crenças) e também s suas avaliações (objetivos) .7

A terceira teoria da semelhança é a lógica de primeira ordem para semelhança comparada apresentada por illiamson (1988). Diferente de

7 The arrantedness of similarit judgements is relative to the cognitive attitude of the judge

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Renato Mendes Rocha

Le is, illiamson apresenta um operador tetrádico para semelhança e argumenta que incluir uma variável a mais no operador evita problemas encontrados na notação triádica de Le is. illiamson apresenta a sua lógica da similaridade como se fosse um desenvolvimento daquele ope-rador triádico de Le is, além dos avanços no seu novo sistema lógico, ele discute vantagens filosóficas da adoção de um sistema tetrádico ao invés do sistema triádico. segundo ele, a inclusão de mais um termo no operador é feito apenas para tornar explícita uma relação que é conside-rada implícita na notação de Le is. Além do mais, o poder expressivo das fórmulas seria mais adequado para dar conta da complexidade envolvida nas operações de similaridade comparativa.

por conseguinte, nota-se que aspectos importantes desta nova defi-nição podem se apoiar em teorias já existentes. Um passo adicional seria melhorar a nova definição ao incorporar aspectos destas teorias mencio-nadas. Antes disso, vale a pena refletir se este caminho de busca de uma definição que seja necessária e suficiente para uma determinada noção seja ele mesmo, do ponto de vista metodológico, adequado. Talvez mais importante que definir seja consolidar a noção considerando a sua utili-dade teórica.8

C

A busca por uma definição que seja necessária e suficiente para propriedades naturais parece ser algo ambicioso considerando as inúme-ras dificuldades enfrentadas por aqueles que se colocaram nesta emprei-tada. esta é uma opinião de sider (1993, p. 2 ) que ao discutir as noções de propriedade natural, intrinsicalidade e duplicação afirma que a maio-ria das tentativas de definição encontradas possuem falhas consideráveis. Dada essa dificuldade em definir, ele prefere tratar propriedade natural como uma noção primitiva e, portanto, não analisável em termos de con-dições suficientes e necessárias. sider procura apenas um esclarecimento para a naturalidade e defende que o fato de uma propriedade ser natural é uma questão objetiva e independente de nós. penso que essa caracterís-tica eminente é que tornam as propriedades naturais tão especiais. Dado

8 Agradeço ao prof. Daniel stoljar (Australian National University) por trazer minha atenção para

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e

o poder mágico atribuído a elas encontrar as articulações corretas exis-tentes na natureza, ou seja, o modo mais adequado de obter uma classi-ficação do mundo natural e humano e que essa classiclassi-ficação seja correta em virtude da realidade e não do homem. Afirmações deste tipo possuem pelo menos dois pressupostos filosóficos que precisam ser explicitados. O primeiro deles é o realismo metafísico, uma perspectiva que parece ser assumida como pano de fundo sem a necessidade de discussão extra pela maioria dos filósofos australianos. A citação seguinte Heil (1989, p. ) explicita de forma bem-humorada esse pano de fundo assumido

David Armstrong tem (levemente) sugerido que a forte luz solar e a severa paisagem marrom da Austrália forçam a realidade sobre nós. Ao contrário, na europa, a neblina e as paisagens verdes enfra-quecem o efeito da realidade.9

Assim, para concluir levando em consideração que um determinado conceito pode ser melhor compreendido tendo em vista as suas aplicações filosóficas do que a exibição de sua mera definição. espero que o esboço da proposta de uma nova definição de propriedade natural tenha sido apre-sentado de forma em que o contexto da discussão tenha ficado claro tam-bém. Uma análise pormenorizada das aplicações das propriedades natu-rais na filosofia serão objeto investigação em trabalhos posteriores10.

HeiL, J. Recent or in Realism and anti-realism. Philosophical Books, Blac ell publishing Ltd, v. 30, n. 2, p. -73, 1989. issn 14 8-0149

Le is, D. (1973) Counterfactuals. s.l. Blac ell publishers, 1973.

. (1983) ne or for a Theor of Universals. Australasian Journal of

Phi-losophy, v. 1, n. 4, pp. 343-377, 1983. issn 0004-8402

9 David Armstrong has suggested (lightly) that the strong sunlight and harsh brown landscape of Australia force reality upon us. In contrast, the mists and gentle green landscape of Europe weaken the grip on reality.

10 sou grato aos colegas do GT Ontologias Contemporânea pela discussão após a minha

apresen-tação e pró-reitoria de pesquisa e inovação (pRpi) da U fCA pelo apoio financeiro para esta apresentação por meio do edital 09/201 .

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Renato Mendes Rocha

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Referências

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