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Ana Sofia Bilreiro Jacinto

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE PSICOLOGIA

CO-CONSTRUÇÃO INTERGERACIONAL DE VALORES: À PROCURA DE UM MODELO SISTÉMICO

Ana Sofia Bilreiro Jacinto

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

CO-CONSTRUÇÃO INTERGERACIONAL DE VALORES: À PROCURA DE UM MODELO SISTÉMICO

Ana Sofia Bilreiro Jacinto

Dissertação orientada pela Professora Doutora Isabel Narciso Davide

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica

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“Olhos abertos do navegador Mudam aqui a luz a sombra a cor E também faces e gestos se modulam Segundo elaboradas estranhezas Outro o recorte da vaga e do penedo Caudas de dragões seguem os barcos”

Sophia deMello Breyner Andresen, in Navegações

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À Professora Doutora Isabel Narciso Davide, pelo seu olhar, pelo conhecimento que deu e por aquele que fez procurar e reflectir, pelas suas palavras que me transportam e me espantam, pela sua imensa compreensão, disponibilidade, apoio e confiança, ao longo deste caminho;

À Dr. Ana Prioste, por me receber, pela amizade tão bonita, pelas incansáveis palavras de apoio confiança e incentivo, por me mostrar o mundo dos valores na família, por me guiar neste trabalho, e por me instigar a reflectir embrenhada no universo sistémico, pela sua dedicação enquanto co-orientadora deste trabalho;

À Dr. Rita Francisco, pelo seu sorriso sem fim e pela sua imensa ajuda neste trabalho e ao longo deste percurso;

À Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro, por me mostrar novos caminhos das famílias e pela sua delicadeza e ajuda sempre que necessário;

Ao Professor Doutor Wolfgang Lind, por me levar para um mundo de abertura à diversidade, pelas reflexões que me acompanharam ao longo deste percurso;

Ao Professor Doutor Luís Miguel Neto, por me mostrar a importância do rigor nas palavras e na comunicação;

Às meninas da família sistémica, pelas aprendizagens que proporcionaram e pelos momentos divertidos que passámos juntas;

À Cátia, por caminharmos juntas nesta fase;

À Dr. Célia Figueira, por me ajudar a conhecer quem sou e quem quero ser;

Aos pais e filhos que colaboraram neste trabalho, cujas vozes iluminam as nossas questões; Aos meus pais, pelo seu conforto, carinho e amizade, pela coragem e força com que vivem a vida, pela doçura das suas mãos, pelo calor dos seus olhos e pelo brilho do seu coração, que me ajudaram a crescer e a voar sempre mais além, obrigada por acreditarem sempre em mim; Aos meus irmãos, André, Teresa e Joana, pela alegria e novidade da minha vida, pela profunda amizade e amor que nos une;

Aos meus avós, pelas suas histórias e aventuras, pelo seu sorriso e total disponibilidade;

Às minhas doces e mais querida amigas, Catarina e Sheyda, por todos os momentos de partilha e de amor;

Ao meu amor, pela sua doçura infinita, pela sua entrega, por todos os momentos de amizade, partilha, calor, pelo seu apoio e força quando não restavam mais energias, por acreditar em mim e no meu trabalho, pela felicidade quando as recompensas surgem;

Ao meu amor, por me fazer sentir em união e comunhão com a vida, por me aceitar como sou e por caminhar comigo;

Ao meu amor, minha ternura, por todo o seu amor

Agradeço com todo o meu coração Obrigada por estarem em mim

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Resumo

A adolescência é uma fase da vida do indivíduo caracterizada pelo desenvolvimento da identidade, em que a definição e construção dos valores dos adolescentes assume um papel relevante na coerência e consistência do self. Neste sentido, o presente estudo parte de uma abordagem sistémica e ecológica com o propósito de compreensão do processo de co-construção de valores, enfatizando a complexidade de relações entre as diversas variáveis envolvidas no mesmo. Com base no paradigma construcionista, esta investigação recorre a uma metodologia qualitativa de recolha de dados e análise dos dados. A amostra consiste em 21 indivíduos pertencentes a famílias nucleares intactas, incluindo 11 adolescentes e 10 pais de adolescentes. A partir da comparação da perspectiva dos filhos e dos pais foram identificadas semelhanças ao nível dos circuitos de transmissão intergeracional familiar, da relação pai-filho e dos principais valores emergentes. Relativamente às diferenças entre pais e filhos, os últimos evidenciam mais movimentos centrífugos em relação à família, atribuindo maior relevância à descontinuidade intergeracional e salientando as suas aprendizagens individuais. Considerando o carácter exploratório do estudo, as principais relações emergentes contribuem para a identificação e definição das principais variáveis a estudar em trabalhos futuros, por um lado, centrados especificamente na relação pais-filho e nas variáveis da parentalidade, e por outro lado, analisando o processo de co-construção de valores numa perspectiva mais global e abrangente.

Palavras-chave

Co-construção de valores, construção da identidade, famílias na adolescência, relação pais-filho

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Abstract

Adolescence is a life-cycle stage marked by identity development, when adolescent‟s values definition and construction take a relevant role on coherence and consistence of the self. The present study follows a systemic and ecological perspective, pointing the variables relations complexity of this process. Based on constructivist paradigm, this research follow

s a qualitative methodology to collect and analyze data. The sample consists of 21 individuals from intact nuclear families, which includes 11 adolescents and 10 parents of adolescents. By comparing the perspective of children and parents, there were identified similarities in 1) family‟s circuits of intergenerational transmission; 2) parent-child relationship; and 3) main emerging values. Regarding the differences between them, adolescents show more centrifugal movements, as far as family is concerned, by giving greater emphasis to the intergenerational discontinuity and highlighting their individual learning. Considering the exploratory nature of the study, the main emergent relations contribute to the identification and definition of key variables to consider in future studies. So, this research could, on the one hand, focus specifically on parent-child relationship and the parental variables, on the other hand, analyze the co-construction of values holistically and comprehensively.

Keywords

Co-construction of values, identity construction, families into adolescence, parent-child relationship

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ÍNDICE

Introdução 1

1. Enquadramento teórico 2

1.1. Uma abordagem ecossistémica 2

1.2. Valores e Co-construção de valores na família 3

1.3. Variáveis que influenciam o processo de transmissão de valores 6 1.3.1. Cronossistema – Duas linhas temporais que se intersectam 6 1.3.1.1. Crono-Microssistema – Complexidade relacional entre indivíduos e

contextos relacionais proximais

6

1.3.1.1.1. Características individuais 6

1.3.1.1.2. Interacção Familiar 8

1.3.1.2. Crono-Macrossistema – A influência de contextos distais 11

2.Processo Metodológico 13 2.1. Enquadramento Metodológico 13 2.2. Desenho da Investigação 14 2.2.1. Questão Inicial 14 2.2.2. Mapa Conceptual 14 2.2.3. Objectivos 16 2.2.4. Questões de investigação 16 2.3. Estratégia Metodológica 17 2.3.1. Selecção da Amostra 17

2.3.2. Procedimento de Recolha de Dados 18

2.3.3. Instrumentos Utilizados 19

2.3.4. Caracterização da amostra 20

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3. Apresentação de resultados e discussão 21

3.1. Análise exploratória inicial 22

3.2. Análise das significações gerais acerca dos valores 22

3.2.1. Análise da conceptualização de valores 22

3.2.2. Análise relacional da caracterização da mudança social de valores 23 3.3. Análise do processo de co-construção de valores: Continuidades e

descontinuidades do processo

25

3.3.1. Análise relacional dos padrões intergeracionais e valores emergentes 25 3.3.2. Análise relacional dos padrões intergeracionais e circuitos familiares de

interacção

27

3.3.3. Análise relacional dos padrões intergeracionais e relação pai-filho 30 3.3.4. Análise relacional da caracterização da relação pai-filho 34 3.3.5. Análise relacional padrões intergeracionais e aprendizagens individuais 37 3.3.6. Análise relacional da caracterização de fontes e fases de co-construção 39

Conclusão 42 Implicações clínicas 48 Limitações do estudo 48 Estudos futuros 49 Referências 51 Índice de Figuras

Figura 1. Quadro de referência conceptual do estudo empírico

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Índice de Apêndices

Apêndice I – Guião de focus group para pais

Apêndice II – Guião de focus group para adolescentes

Apêndice III – Caracterização detalhada da amostra - Pais*

Apêndice IV – Caracterização detalhada da amostra – Filhos adolescentes*

Apêndice V – Esquema representativo das categorias gerais*

Apêndice VI – Esquema representativo da árvore da categoria valores emergentes*

Apêndice VII – Esquema representativo da árvore da categoria significações gerais*

Apêndice VIII – Esquema representativo da árvore da categoria processo de co-construção de

valores*

Apêndice IX – Esquema representativo da árvore da categoria processo de transmissão

familiar*

Apêndice X – Resumo das codificações*

Apêndice XI – Gráficos que explicitam relações entre as variáveis emergentes Apêndice XII – Mapa de Valores - Pais

Apêndice XII – Mapa de Valores - Filhos

Índice de Anexos

Anexo A – Questionário sócio-demográfico

Anexo B – Questionário Sobre os Valores Pessoais

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Introdução

O presente estudo enquadra-se no âmbito da Psicologia da Família1, alicerçando-se numa perspectiva ecossistémica, que considera a mudança e o desenvolvimento do indivíduo e dos sistemas em função de uma teia complexa e interactiva de factores de diferentes níveis sistémicos (Bronfenbrenner, 1979). As mudanças na sociedade são um fenómeno complexo, dadas as constantes interacções entre os indivíduos, os grupos e a sociedade. Em várias circunstâncias ouvimos expressões como “os valores da sociedade já não são os mesmos”, “no meu tempo

não era assim” ou, ainda, “os jovens de hoje em dia não têm valores”. Partindo

destas observações e da noção de que as mudanças sócio-culturais afectam as funções e a estrutura familiar (Kagitçibasi, 1996; Kwak, 2003), muitas interrogações se colocam relativamente ao processo de co-construção de valores, nomeadamente no que se refere ao processo de transmissão intergeracional na família .

O estudo da co-construção de valores, segundo uma abordagem sistémica e contextual, implica desafios teóricos e metodológicos que o investigador deve ter em consideração. Por um lado, é necessário reconhecer que existem múltiplos factores de socialização para além da família, o que está fortemente associado às descontinuidades existentes entre as gerações familiares. Por outro lado, é fundamental reconhecer que as influências entre os membros da família são fluidas e permeáveis entre si, o que indica que o processo de transmissão de valores ocorre de pais para filhos e de filhos para pais (Tadros, 2009).

Este estudo representa uma abordagem possível no estudo da co-construção de valores, pretendendo contribuir para o desenvolvimento neste campo do saber a partir de um paradigma teórico construcionista e uma metodologia qualitativa (Guba & Lincoln, 2000). A dissertação compreende 1) a revisão e reflexão sobre os principais estudos e temáticas; 2) a fundamentação e descrição do processo metodológico do estudo empírico realizado; 3) a apresentação e discussão dos resultados; 4) as reflexões e conclusões finais sobre o trabalho desenvolvido, as suas limitações e possíveis estudos que permitirão dar continuidade à investigação nesta temática.

1 O presente estudo enquadra-se no âmbito de doutoramento de Ana Prioste, que visa estudar a transmissão intergeracional de dimensões relacionais e de valores na família nuclear. Este projecto de investigação decorre no Programa Inter-universitário de Doutoramento em Psicologia em Psicologia Clínica – Psicologia da Família e Intervenção Familiar - entre a Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, sendo orientado pela Prof. Doutora Isabel Narciso e pelo Prof. Doutor Miguel Gonçalves.

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1. Enquadramento Teórico

“Além do mais, percebemos que tudo o que tem uma realidade para nós é, de certa maneira, sistema. Sistema, o átomo; sistema, as moléculas; sistema, a sociedade; sistema, o homem. Portanto, sistemas, subsistemas e polissistemas. Assim, o objecto da ciência se transforma: não é mais algo isolado. O objecto da ciência é o sistema.” (Edgar Morin, 1999)

1.1. Uma abordagem ecossistémica

A totalidade sistémica e a circularidade são conceitos que caracterizam o processo de co-construção de valores. Ao considerar a criança ou jovem no seu contexto familiar, em interacção com os subsistemas da família, com os grupos externos à mesma e a interacção da família com estes, é possível compreender que a aquisição e co-construção de valores é um processo complexo que envolve as partes, o todo e as relações circulares que estes estabelecem entre si (Alarcão, 2002).

Neste sentido, o desenvolvimento é promovido pelas relações interpessoais que os indivíduos estabelecem entre si e com o ambiente percebido, isto é, os vários contextos e sistemas com que estes interagem directa ou indirectamente. Assim, no seu modelo ecológico, Bronfenbrenner (1979) salienta diferentes níveis sistémicos que actuam de forma interactiva e influenciam o desenvolvimento e o comportamento humano: microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema (Bronfenbrenner, 1979). Para a compreensão do processo de co-construção intergeracional de valores, destacam-se, como sendo os níveis ecológicos mais relevantes: o cronossistema, que expressa a influência das mudanças temporais individuais, familiares e da sociedade; o microssistema, que inclui as características dos indivíduos e os contextos próximos em que interagem; e o macrossistema, que inclui as normas e valores culturais. À luz desta teoria, o processo de co-construção intergeracional de valores adquire uma dimensão de complexidade de relações circulares que se estabelecem entre o jovem e a família e os contextos que os envolvem, salientando a importância de diferentes níveis, agentes e factores.

Apesar da família ser um subsistema da sociedade altamente diferenciado, não é independente da mesma, ou seja, para além de exercerem a sua função parental, os pais desempenham diversos papéis nas estruturas sociais. Esta é uma condição básica para a eficácia da função socializadora da, na e com a família (Parsons, 1955). Na sua função

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3 de socialização primária, principalmente durante a infância, a família está centrada na tarefa interna de promoção do desenvolvimento e autonomia das suas crianças. A partir da pré-adolescência, aumenta o contacto da criança com a comunidade exterior à família, o que implica, necessariamente, a promoção da socialização por outras fontes e agentes, já que o principal objectivo da socialização secundária é apoiar os filhos na sua adaptação à sociedade. As duas tarefas de socialização não se excluem mutuamente, são complementares e contribuem para uma trajectória adaptativa da criança ou jovem (Alarcão, 2002).

A adolescência, enquanto fase crucial na adaptação do indivíduo à sociedade, é caracterizada pela construção da identidade. Nesta, o adolescente precisa de aceitar ou refutar as identificações individuais da sua infância, ao longo de um processo gradual denominado moratória psicossocial. Simultaneamente, procura reconhecer-se como uma pessoa em que se pode confiar, sendo íntegro e coerente na sua construção e definição de continuidades e descontinuidades geracionais (Erikson, 1982). Deste modo, a adolescência é uma fase importante no processo de co-construção de valores individuais, em que a riqueza e diversidade dos mesmos resulta da intensa interacção entre família e sociedade.

1.2. Valores e Co-construção de Valores na Família

Na adolescência, enquanto fase de construção da identidade, os valores assumem um papel importante para definir a posição do jovem na sociedade. A nível individual, os valores consistem em representações sociais internalizadas ou crenças morais, a que os indivíduos recorrem como racional para as suas acções. Assim, funcionam como códigos ou princípios gerais que guiam a acção, constituindo um mecanismo de auto-regulação do comportamento individual em função dos grupos e sistemas em que o indivíduo está inserido, representando o que é esperado, exigido e proibido para cada um, em determinada sociedade com as suas normas específicas (Grusec, Goodnow & Kuczynski, 2000).

Os valores divergem numa perspectiva transversal, encontrando-se valores diferentes em diversas sociedades; e numa perspectiva temporal, pois mudam ao longo do tempo. Consequentemente, também as famílias se caracterizam por diferentes valores que guiam os comportamentos dos indivíduos nas sucessivas gerações familiares (Kwak, 2003), pelo que permite levantar questões sobre os processos e as variáveis subjacentes às continuidades e descontinuidades de valores nas famílias.

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4 A continuidade de valores entre gerações, vista como transmissão intergeracional de pais para filhos, pode ser considerada como um processo eficaz de internalização, associado à eficácia da parentalidade. Neste, a geração mais recente assume os valores e atitudes da sociedade como seus, de forma que os comportamentos socialmente aceitáveis emerjam a partir de motivações intrínsecas e não a partir da antecipação de consequências externas. Este processo decorre em dois passos: o primeiro que envolve a percepção (fiel ou distorcida) do ponto de vista dos pais; e o segundo, que implica a aceitação dessa mesma posição (Grusec & Goodnow, 1994). Esta abordagem salienta a importância das práticas educativas dos pais para a aquisição de valores na família.

No entanto, a continuidade geracional de valores não se deve apenas aos comportamentos educativos intencionais dos pais. Esta ocorre através de dois processos distintos - socialização e inculturação -, em que o indivíduo internaliza os valores dos seus grupos, identificando-se com os mesmos (Hynie, Lalonde & Lee, 2006). Tanto a socialização, enquanto instrução intencional de normas e valores, como a inculturação, enquanto aquisição indirecta dos mesmos através da exposição e observação da cultura da sociedade, são adquiridas na família, na escola, em grupos de pares e outros grupos culturais. Estes dois processos estão frequentemente relacionados entre si e, como tal, reforçam-se mutuamente, facilitando a transmissão intergeracional de valores (Schönpflug, 2001). Com base nesta perspectiva, destaca-se o carácter mais complexo e diversificado das formas de comunicação de valores nas diversas interacções do indivíduo.

A partir do estudo de Phalet e Schönpflug (2001), centrado nas diferenças culturais entre a família nuclear e a sociedade, a transmissão de valores é estruturada em três direcções: 1) transmissão vertical, entre gerações na família ou na sociedade; 2) transmissão horizontal que se refere à influência exercida pelos pares dos elementos da família; e 3) transmissão oblíqua2, definida pela influência da geração anterior à dos filhos, que não os pais (por exemplo, avós, pares dos avós, pares dos pais). No caso da cultura da família ser muito diferente da cultura da sociedade maioritária, a manutenção

2 Neste sentido, é clara a pertinência de alargar o estudo da co-construção intergeracional de valores à geração dos avós, já que, com o aumento da esperança média de vida, o contacto entre estes e os netos aumenta. Os valores dos avós afectam a geração mais nova directa e, indirectamente, na forma como exerceram a sua parentalidade. Através das histórias contadas pelos avós, é possível perceber que o seu papel na socialização quotidiana dos netos é marcada pela diminuição de responsabilidade na sua educação, recorrendo a formas e conteúdos de comunicação diferentes dos usados pelos pais (Pratt, Norris, Hebblethwaite, Arnold, 2008), o que sugere uma grande abrangência nas formas de transmissão familiar dos valores, ao longo das três gerações.

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5 e continuidade dos valores depende, principalmente, da transmissão vertical que ocorre na família, salientando a sua relevância na construção da identidade (Phalet & Schönpflug, 2001; Tadros, 2009). As variáveis mediadoras da transmissão de valores estão, ainda, organizadas segundo dois níveis de influência. No nível macro, mais distal, destacam-se: o processo de aculturação entre diferentes culturas, o estatuto educacional e profissional dos pais, as oportunidades educacionais dos filhos e o género. Estas variáveis influenciam indirectamente as variáveis do nível micro, mais proximal, que engloba, essencialmente, os valores dos pais, que, por sua vez, influenciam os valores dos filhos directa e indirectamente, através dos objectivos parentais, enquanto meios de transmissão e práticas de socialização (Phalet & Schönpflug, 2001). Esta abordagem permite compreender a complexidade da relação entre as diferentes fontes e níveis de influência, no processo de co-construção intergeracional de valores.

A abordagem bidireccional da transmissão intergeracional (Pinquart e Silbereisen, 2004) enfatiza, ainda, no processo de co-construção de valores, três dimensões que se influenciam entre si (Bengston, Bilblarz & Roberts, 2002; Zentner & Renaud, 2007): (1) o estatuto sócio-económico da família3 que situa o jovem num contexto específico, condicionando as suas oportunidades de desenvolvimento, e influencia os objectivos de socialização dos pais; (2) os comportamentos dos pais, com ênfase na aprendizagem social4, que constituem um meio de comunicação directa e indirecta com os filhos; e (3) a qualidade emocional da relação pai-filho, que influencia directa e indirectamente o desenvolvimento e as competências sociais dos filhos (Bengston, Bilblarz & Roberts, 2002).

As semelhanças e correspondências de valores entre pais e filhos têm sido estudadas a partir de diversas abordagens e com ênfase em diferentes variáveis, o que culmina na falta de consenso e homogeneidade teóricos relativamente aos conceitos de transmissão e continuidade intergeracional. Com o intuito de conciliar as diferentes perspectivas, a presente investigação considera que as semelhanças de valores entre pais e filhos mostram a continuidade intergeracional, que resulta de um processo complexo de co-construção de valores, em que a transmissão geracional na família explica parte das continuidades e descontinuidades observadas.

3

Para melhor compreensão, ver no capítulo 1.3.1.1.1. Características individuais. 4 Para melhor compreensão, ver no capítulo 1.3.1.1.2. Interacção Familiar.

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6

1.3.Variáveis que influenciam o processo de transmissão de valores

1.3.1. Cronossistema – Duas linhas temporais que se intersectam

Como temos vindo a referir, as competências e condições necessárias para a co-construção de valores desenvolvem-se, ao longo do tempo, numa interacção mútua entre a criança ou jovem e os micro e macro ambientes (Bengston, Biblarz, Roberts, 2002). Assim, a co-construção intergeracional de valores ocorre em duas linhas temporais distintas, que se intersectam nas suas sequências de acontecimentos. Por um lado, destaca-se a nível micro-social, a biografia individual e familiar, respeitante às fases de desenvolvimento ontogénico dos elementos da família e da fase do ciclo vital em que esta se encontra. Por outro lado, a nível macro-social, salienta-se a história da sociedade com acontecimentos culturais e sócio-económicos globais (Bengston, Biblarz, Roberts, 2002). Deste modo, e tendo como grelha conceptual o modelo ecológico de Bronfenbrenner (1979), salientamos a relevância da relação do cronossistema com o

microssistema e com o macrossistema, sugerindo-se, assim, dois cronossistemas

distintos que interagem entre si, para explicar a continuidade e descontinuidade dos valores entre pais e filhos.

A interacção entre ambas as dimensões temporais é explícita quando determinado acontecimento da sociedade, por ser mais saliente, despoleta o interesse dos indivíduos e aumenta a interacção e discussão em redor do mesmo. Isto sugere que a fase de desenvolvimento individual em que os indivíduos se encontram, associado ao desenrolar de acontecimentos da sociedade, influencia directa e indirectamente a co-construção intergeracional de valores na família (Pinquart & Silbereisen, 2004). Da mesma forma, ao longo de gerações, as mudanças sócio-culturais afectam as funções da família e a estrutura familiar, alterando a importância atribuída a determinados valores, bem como as formas de transmissão (e.g Kagitçibasi, 1996), contribuindo, consequentemente, para as descontinuidades geracionais.

1.3.1.1. Crono-Microssistema – Complexidade relacional entre indivíduos e contextos relacionais proximais

1.3.1.1.1. Características individuais

Na co-construção de valores, parte-se da premissa de avaliação, compreensão e aceitação de uma mensagem ou situação. Relativamente aos filhos, a adolescência é

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7 caracterizada por grandes mudanças cognitivas – primazia da argumentação racional e da escolha pessoal, bem como a relativização e questionamento das normas sociais, morais e regras absolutas – associadas à necessidade de maior responsabilidade, independência e liberdade. A construção da identidade e da autonomia, em que o jovem busca o sentido do Eu e procura a sua posição na sociedade é acompanhada pelo intenso contacto e influência de outras fontes e agentes de socialização, principalmente os pares e os meios de comunicação (Steinberg & Silk, 2002).

Partindo das características dos pais, salienta-se o estatuto socio-económico, que engloba as habilitações académicas e a ocupação profissional dos pais, na co-construção de valores, enquanto variável que influencia os valores parentais e, consequentemente, a socialização dos filhos (Bengston, Bilblarz & Roberts, 2002; Kohn, Slomczynski, & Schoenbach, 1986). Analisando as duas dimensões desta variável, as habilitações académicas explicam mais a continuidade de valores entre pais e filhos que a profissão dos pais. Quando é comparado com variáveis relacionais familiares, o estatuto socio-económico perde o seu peso relativo na explicação das continuidades e descontinuidades. No entanto, Yi, Chang e Chang (2004) consideram que os valores dos pais são a variável que explica melhor as correspondências de valores educativos entre pais e filhos.

No mesmo sentido, e partindo do pressuposto que valores e self ideal correspondem, ambos, a representações de estados desejáveis pelo indivíduo, torna-se mais claro o processo de co-construção de valores na família. O estudo de Zentner e Renaud (2007), centrado no self ideal dos adolescentes, aponta para que self ideal dos pais, e, consequentemente os seus valores, sejam transpostos para os objectivos e ideais que têm para os seus filhos; e, por sua vez, os filhos, através de um processo de assimilação, compreenderão e aceitarão a mensagem que os pais transmitem. Pinquart e Silbereinsen (2004) acrescentam que a relevância e importância pessoal do conteúdo do valor são importantes na continuidade dos valores: quanto mais importância pessoal tiver um valor, menor é a probabilidade de outra pessoa influenciar a mudança do mesmo, pois diminui o espaço pessoal de negociação.

A consistência dos valores dos pais e o género dos elementos da família também são apontados como características que influenciam a transmissão intergeracional, embora as relações entre estas variáveis não sejam claras, como é realçado no estudo de Pinquart e Silbereisen (2004). Relativamente ao género, enquanto variável que influência o processo de co-construção, o estudo de Zentner e Renaud (2007) mostra

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8 que as raparigas têm maior tendência a ter aspirações e valores semelhantes aos dos pais, e os valores da mãe estão mais próximos do self ideal dos filhos, do que os do pai.

1.3.1.1.2. Interacção Familiar

Relação de Casal – Tarefas conjugais

A relação conjugal assume um papel fundamental na continuidade da adaptação individual, da qualidade da conjugalidade e da relação pais-filhos, já que se verifica uma tendência para repetir os padrões interiorizados na relação de casal aos quais a criança ou jovem foi exposto (Cowan & Cowan, 2009). Para além das tarefas parentais, também cabe aos elementos do casal concretizar novas tarefas desenvolvimentais conjugais e individuais, reajustar objectivos, interacções comunicacionais e comportamentos, de acordo com a nova fase da vida (Steinberg & Silk, 2002; Alarcão, 2002). Assim, os esquemas e comportamentos de vinculação na idade adulta influenciam a qualidade das relações conjugais e familiares, influenciando directa e indirectamente o desenvolvimento e adaptação da criança (Cowan & Cowan, 2009). Desta forma, a continuidade de padrões relacionais está associada ao processo de co-construção de valores, exercendo uma influência indirecta nas aprendizagens individuais dos adolescentes, através das experiências e vivências.

Relação Parental – Parentalidade positiva

Do ponto de vista do ciclo vital da família, a adolescência corresponde à fase considerada como a mais longa e difícil da parentalidade, dada a necessidade permanente de equilíbrio entre as exigências individuais e do sistema (Alarcão, 2002). Uma das principais tarefas desenvolvimentais parentais consiste em respeitar os sentimentos, valores, atitudes e comportamentos dos adolescentes, com coerência e sinceridade. Implica, assim, como desafio parental, o reconhecimento das novas capacidades dos filhos, em que num processo gradual se estabelecem novos papéis relacionais familiares (Steinberg & Silk, 2002; Alarcão, 2002).

A realização eficaz destes desafios está associada à parentalidade construtiva e ao estilo parental autoritativo, que promove o ajustamento e a adaptação positiva das crianças e jovens à sociedade. Este é caracterizado pelo equilíbrio ideal entre o afecto e as exigências, já que os pais conciliam níveis elevados de controlo e incentivo positivo da autonomia e independência, com elevados níveis de responsividade, carinho e

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9 receptividade às mensagens das crianças. Desta forma, é promovido o desenvolvimento individual e social das crianças, que adquirem níveis elevados de responsabilidade social e de independência (Baumrind, 1971). Também na parentalidade positiva, os pais, mais eficazmente, protegem as crianças e os adolescentes contra os efeitos de eventos stressantes, promovem a auto-regulação e previnem dificuldades e problemas de externalização e internalização (Kerr, Capaldi, Pears & Owen, 2009). Deste modo, o estilo parental autoritativo está associado a maior semelhança e correspondência de valores entre pais e filhos, comparativamente com famílias com um estilo menos autoritativo (Taris, Semin & Bok, 1998).

A circularidade do processo de co-construção de valores é influenciada também pela influência das competências académicas e sociais dos filhos, sugerindo que a parentalidade construtiva tem também continuidade ao longo das gerações, através da promoção de competências desenvolvimentais positivas nos jovens, que tornam o jovem mais activo e adequado no seu processo de co-construção de valores (Conger, Belsky, Capaldi, 2009). As práticas parentais tendem, assim, a ser repetidas quando os filhos desempenham, posteriormente, o papel parental, havendo semelhança nas formas de comunicação e de transmissão familiar no processo de co-construção de valores entre gerações, isto é, contribuindo para as continuidades geracionais dos valores a dois níveis complementares (Campbell & Gilmore, 2007).

Com base em diversos estudos, foi possível concluir que a flexibilidade e a adaptação das práticas parentais a uma circunstância específica, na relação entre pais e filhos, são mais relevantes para promover a transmissão de valores que os estilos e as práticas parentais em si (ver Grusec & Goodnow, 1994). Note-se, no entanto, que existem diferentes variáveis mediadoras no processo de transmissão intergeracional familiar de acordo com as práticas parentais usadas, o que permite distinguir diferentes processos de co-construção de valores para parentalidade positiva e parentalidade negativa (ver Conger, Belsky, Capaldi, 2009).

Formas de transmissão familiar

A transmissão familiar de valores, enquanto internalização, é o resultado de uma parentalidade eficaz, em que as práticas parentais são uma forma privilegiada de transmitir valores (Grusec & Goodnow, 1994). No caso de comportamentos parentais intencionais, para que a mensagem transmitida seja compreendida, é necessário que esta seja clara, consistente, apelativa e relevante. Numa fase posterior, para que a mensagem

(19)

10 seja aceite pelas crianças ou jovens, os pais precisam de fazer compreender a mensagem como apropriada, o que exige sensitividade e adaptação às necessidades e capacidades da criança (Grusec & Goodnow, 1994).

No entanto, também há co-construção de valores através da aprendizagem social, permitindo aos jovens apreender os valores dos pais e definir as suas prioridades e importância atribuída. A partir da observação das interacções e comportamentos, modelagem, imitação, reforço e punição, a aprendizagem social explica, assim, a aquisição de formas de funcionamento pessoal e social e a tendência para repetir o que é aprendido com os pais (Bandura 1969), isto é, contribui para a continuidade intergeracional de valores entre pais e filhos. Ainda, de acordo com a hipótese da busca selectiva, a criança tem tendência para procurar reforço, facilitando a sua aprendizagem e adaptação social, o que leva a mais semelhanças comportamentais entre pais e filhos. Neste sentido, as práticas parentais podem ser consideradas como variáveis mediadoras directas e causais da regularidade entre gerações, isto é, a principal forma de transmissão de valores na família (Patterson, 1998).

Clima relacional familiar

A partir da perspectiva da parentalidade, quando a relação entre pais e filhos é caracterizada por abertura e afecto, há maior probabilidade de haver continuidade de valores entre gerações. O carinho, protecção e responsividade mútua contribuem para a transmissão de valores, pois promovem a proximidade relacional e o afecto. Deste modo, numa relação com qualidade emocional, as crianças ficam mais atentas ao comportamento dos pais e aumenta a sua capacidade de compreender e aceitar os valores dos pais (Taris, Semin & Bok, 1998; Grusec, Goodnow & Kuczynski, 2000).

Importa, ainda, salientar que o envolvimento na parentalidade e na socialização dos filhos é uma variável relevante na co-construção intergeracional de valores. Os indivíduos com maior nível de generatividade5 estão mais envolvidos na transmissão de valores para os filhos, usando as narrativas de histórias pessoais. Desta forma, a generatividade tende a estar associada a uma parentalidade autoritativa, positiva e eficaz, e prediz maiores níveis de afecto nas crianças (Pratt, Norris, Hebblethwaite, Arnold, 2008; Peterson, 2006).

5

Para uma leitura e enquadramento mais aprofundados do conceito de generatividade, vide a teoria de Erickson (1963 cit. por Peterson, 2006).

(20)

11 A transmissão de normas e valores é facilitada quando a relação pais-filhos é percebida com elevada qualidade, já que há uma maior flexibilidade na negociação dos desacordos entre os elementos da família e são menos frequentes os assuntos de conflito entre pais e filhos (Taris, Semin & Bok, 1998). A identificação com os pais e o desejo de os agradar facilitam, também, a continuidade de valores entre pais e filhos (ver Grusec & Goodnow, 1994).

Assim, uma relação caracterizada por elevados níveis de suporte emocional, vinculação segura, boa qualidade da comunicação e respeito mútuo estão associadas à continuidade de valores entre pais e filhos (Bengston, Bilblarz & Roberts, 2002). Em oposição, associado à parentalidade autoritária, a afirmação de poder, por parte dos pais, é prejudicial na socialização das crianças, pois desperta nelas hostilidade e raiva, sendo, também, acompanhada de oposição e falta de vontade para aceder aos desejos dos pais, e dificultando, desta forma, a transmissão de valores. Usando uma abordagem positiva, a conversa e o debate sobre os comportamentos negativos da criança promovem a sua capacidade de compreensão, promovendo comportamentos socialmente adaptados e facilitando a transmissão das crenças dos pais para os filhos (Hoffman, 1970 cit. por Grusec & Goodnow, 1994).

A relação de suporte entre pais e filhos, na discussão e abertura para diferentes opiniões, a partilha de ideias, assim como a compreensão e respeito mútuo facilitam a continuidade intergeracional de valores (Taris, Semin & Bok, 1998).

Concluindo, a adequação das práticas de disciplina à idade, a consistência das mesmas, a monitorização eficaz, assim como o afecto e envolvimento e suporte parental, proporcionam um desenvolvimento positivo (Kerr, Capaldi, Pears & Owen, 2009).

1.3.1.2. Crono-Macrossistema – A influência de contextos distais

As descontinuidades de valores entre gerações da mesma família estão associadas à identificação dos indivíduos com os valores da sociedade. Enquanto os jovens têm mais tendência para se identificar com a cultura da sociedade na actualidade; as gerações mais antigas tendem a identificar-se, principalmente, com os valores e normas da cultura de origem - associada, frequentemente, a valores mais tradicionais -, o que poderá levar a uma maior dificuldade de adaptação e ao aumento dos conflitos. A percepção de oposição entre valores da família e valores da sociedade, leva, assim, os indivíduos a uma necessidade de escolha, pois o posicionamento numa das partes é

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12 visto como mutuamente exclusivo (Kwak, 2003). Contudo, estas descontinuidades intergeracionais não acontecem para todos os comportamentos, já que a pressão para a mudança é inicialmente experienciada nos comportamentos da esfera pública, por exemplo, os comportamentos associados à escola ou às ocupações profissionais (Kwak, 2003). Isto sugere que a exposição dos comportamentos, associada à pressão social, é uma variável que influencia a transmissão de valores intergeracionais.

Os valores globais de uma cultura, como o colectivismo e o individualismo, são valores de funcionamento na sociedade, que, por si só, promovem a interdependência e independência6 em relação ao grupo de maior pertença, neste caso, a família. Especificamente, há maior facilidade na transmissão dos valores colectivistas de pais para filhos, já que estes aumentam a motivação para os filhos se conformarem e agirem em função do grupo, sendo, assim, valores que se reforçam a si próprios, promovendo a continuidade intergeracional familiar (Phalet e Schönpflug, 2001; Schönpflug, 2001).

Relativamente ao peso da família e da cultura no processo de co-construção de valores em famílias, cujos valores familiares são muito díspares dos valores culturais, o alocentrismo familiar (coesão familiar) é mais forte que os valores específicos da cultura. Isto sugere que a co-construção de valores ocorre no sentido de permitir a continuidade aos valores familiares específicos e não aos valores culturais. No confronto entre os valores da cultura de origem e da cultura da sociedade maioritária, os indivíduos recorrem aos valores internalizados na família, percepcionando-os como valores familiares específicos e não como valores da sua cultura de origem. Desta forma, é possível compreender que a percepção da fonte da mensagem tem um grande peso para a transmissão intergeracional de valores (Hynie, lalonde & Lee, 2006), embora a influência do agente de socialização dependa do conteúdo do valor que está a ser transmitido (Pinquart e Silbereisen, 2004).

Ao longo da sua vida, nas interacções com a família, com os amigos e com a sociedade envolvente, os indivíduos estão embrenhados numa imensidão de valores, coincidentes, contrastantes, complementares, reais e ideais. Assim, na construção da sua identidade, os adolescentes são desafiados a quebrar barreiras e agarrar as oportunidades de desenvolvimento do seu Eu. Dá-se o momento em que, com criatividade, abertura e respeito à sua idiossincrasia, cada pessoa começa a recriar, a contar a sua própria estória, entretecida entre os contos da família e os contos da cultura, e a revelar para o

(22)

13 exterior a eloquente relação entre os sistemas que o influenciam e pelos quais é influenciado, num percurso sempre por desvendar.

2. Processo Metodológico

2.1. Enquadramento Metodológico

Considerando o objecto de estudo da presente investigação, optou-se pela utilização do paradigma construcionista, enquanto sistema de crenças associadas ao processo científico. Neste, as fronteiras entre a posição ontológica e epistemológica esbatem-se, estando saliente um carácter relativista, em que a realidade é mutável em função do conhecimento, da experiência e da sofisticação de expressão dos indivíduos. Trata-se de um paradigma marcado pela subjectividade e interacção entre o investigador e os participantes, considerando-os como fontes interactivas de conhecimento, ao longo do processo de investigação. A nível metodológico, existe o recurso à hermenêutica, análise e interpretação dos dados em função de conceitos teóricos, e à dialéctica, em que as construções individuais são privilegiadamente elicitadas, através das interacções sociais entre os participantes e o investigador (Guba & Lincoln, 2000).

Neste sentido, o propósito desta investigação consiste na compreensão da complexidade do mundo das experiências vivenciadas pelos indivíduos, a partir da perspectiva dos mesmos. Considera-se que a realidade vivida pelos indivíduos e os significados que estes atribuem às situações específicas sobre determinado objecto de investigação (neste caso, a co-construção de valores e o processo de transmissão intergeracional na família) podem ser construídos por actores sociais, indivíduos activos (Schwandt, 2000).

Os conceitos subjacentes ao paradigma construtivista estão associados à metodologia qualitativa, que melhor se adapta a este paradigma (Guba & Lincoln, 1989). Nesta metodologia, a diversidade de resultados que emergem (e.g. pontos de vista, acções) devem-se às diferentes perspectivas dos sujeitos e aos seus contextos sociais. A possibilidade de ajustamento e adaptação dos métodos de investigação à complexidade e especificidade do objecto de estudo, permite estudar esta diversidade sem perder riqueza ou complexidade de informação (Flick, 2005).

A metodologia qualitativa envolve uma interacção contínua entre a recolha dos dados, fundamentando-se em guias que são vistos como um conjunto de princípios e práticas flexíveis, ou seja, não são prescrições ou receitas pré-concebidas e impostas

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14 (Charmaz, 2006). A sua interpretação e análise teórica e possibilita a construção de hipóteses e teorias teoria a partir dos dados recolhidos (Strauss & Corbin, 2000).

Assim, a compreensão inerente ao tema desta investigação é consonante com a complexidade do processo de uma análise qualitativa. A partir da Teoria Geral dos Sistemas (von Bertallanfy, 1968, citado por Alarcão, 2002), que salienta a circularidade, totalidade e complexidade presente nas relações entre indivíduos e sistemas, são construídos e entrelaçados os fios condutores dos processos psicológicos que motivam o presente estudo. Desta forma, é possível reconhecer que o paradigma construcionista e a abordagem metodológica qualitativa são mais coerentes quando se pretende uma compreensão profunda e relevante dos processos intergeracionais nas famílias, na co-construção de valores, dado que se privilegia as perspectivas dos participantes da investigação.

2.2.Desenho da Investigação7

2.2.1. Questão Inicial

A família assume um papel privilegiado no processo de co-construção de valores, em que pais e filhos são agentes activos na transmissão familiar dos valores (Pinquart e Silbereisen, 2004), pelo que este projecto parte das seguintes questões:

Como se processa a transmissão familiar de valores? Que conceptualização e significações de valores por pais e filhos? Que valores são mais salientes e importantes para pais e filhos e a que contextos e fontes de co-construção estão associados?

2.2.2. Mapa Conceptual

As questões de investigação iniciais envolvem a relação entre os conceitos abordados no enquadramento teórico. Neste sentido, surge a necessidade de tornar claras as relações entre as diversas variáveis intervenientes na compreensão do processo de co-construção de valores através da representação gráfica das mesmas (ver Clarke, 2005).

7 O presente estudo, como já se referiu, enquadra-se no âmbito de doutoramento de Ana Prioste, que visa estudar a transmissão intergeracional de dimensões relacionais e de valores na família nuclear. Este projecto de investigação decorre no Programa Inter-universitário de Doutoramento em Psicologia em Psicologia Clínica – Psicologia da Família e Intervenção Familiar - entre a Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, sendo orientado pela Prof. Doutora Isabel Narciso e pelo Prof. Doutor. Miguel Gonçalves.

(24)

15

Figura 1. Proposta da relação entre as variáveis envolvidas no processo de

co-construção intergeracional de valores.

À luz do modelo ecológico proposto por Bronfenbrenner (1979), destacam-se dois grandes contextos de análise, o macrossistema e o microssistema, sendo que o

mesossistema e o exossistema não são relevantes para este estudo. A distinção entre os

dois sistemas é acompanhada por dois cronossistemas paralelos: as mudanças temporais que ocorrem na sociedade, e o desenvolvimento ontológico dos indivíduos e da família, respectivamente. Os circuitos de transmissão familiar de valores entre pais e filhos estão associados às formas de transmissão, ao clima relacional e às condições em que ocorre a transmissão de valores. As aprendizagens individuais, as vivências proporcionadas pela família de origem e pelos pares são variáveis que influenciam os elementos familiares, bem como a comunicação e relação que estabelecem entre si.

(25)

16

2.2.3. Objectivos

Com base nas questões iniciais, esta investigação tem como objectivo geral compreender o processo complexo da co-construção intergeracional de valores nas perspectivas dos elementos intervenientes nesse processo, as famílias. Pretende, também, contribuir para o desenvolvimento do estudo da transmissão familiar de valores, enfatizando o carácter construcionista e qualitativo, a partir da análise das vozes de pais e filhos adolescentes, num contexto de investigação exploratória, com base numa perspectiva sistémica e ecológica.

2.2.4. Questões de investigação

O planeamento do presente estudo desenvolve-se com base no quadro conceptual, figura 1, permitindo a especificação das seguintes questões de investigação:

- Quais são as semelhanças e diferenças na conceptualização de valores percebida por filhos e pais?

- Quais são as principais semelhanças e diferenças entre pais e filhos na caracterização da mudança social e temporal de valores, percebida no processo de co-construção de valores relativamente aos valores emergentes?

- Quais são as semelhanças e diferenças de valores percebidos por filhos e por pais, em função dos padrões familiares intergeracionais?

- Quais são as principais semelhanças e diferenças entre pais e filhos na definição dos circuitos familiares de interacção percebidos no processo de co-construção de valores, em função dos padrões familiares intergeracionais?

- Quais são as semelhanças e diferenças entre pais e filhos na identificação das principais características percebidas da relação pai-filho associadas à continuidade e descontinuidade dos padrões familiares intergeracionais?

- Quais são as principais semelhanças e diferenças entre pais e filhos na caracterização da relação pai-filho percebida no processo de co-construção de valores, considerando a interacção entre as diferentes dimensões parentais (formas de transmissão, clima relacional, circunstâncias de transmissão?

- Quais são as principais semelhanças e diferenças entre pais e filhos na identificação das aprendizagens individuais percebidas no processo de co-construção de valores, em função em função dos padrões familiares intergeracionais?

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17 - Quais são as principais semelhanças e diferenças entre pais e filhos na caracterização da relação percebida entre os valores emergentes, as fontes e as fases associadas ao processo de co-construção de valores?

2.3. Estratégia Metodológica

2.3.1. Selecção da Amostra

A selecção da amostra baseia-se na amostragem teórica, a estratégia mais ajustada à metodologia qualitativa (Flick, 2005; Glaser & Strauss, 2009). De acordo com a finalidade de construção de novas ideias, acerca do processo de co-construção de valores, a selecção da amostra segue o critério de relevância dos casos, isto é, o grau em que são esperadas novas ideias dos participantes, sobre o tema em estudo (Flick, 2005; Glaser & Strauss, 2009). Os critérios teóricos representados nas questões iniciais guiam a escolha dos grupos e indivíduos: vivência da parentalidade e adolescência, interacção familiar e interacção desta com a família de origem/alargada e com os contextos externos à família.

Em função do tema em estudo, destaca-se a relevância da selecção de casos significativos que preenchem os critérios de “bom informante”8

(Morse, 2000). Assim, a amostra relevante para esta investigação consiste em elementos de famílias com filhos adolescentes, sendo organizada em dois subgrupos de sujeitos-chave, pais de adolescentes e adolescentes com idades entre os 16 e os 19 anos. A amostra do estudo também foi seleccionada segundo a estratégia de conveniência (Patton, 1990). No seguimento das decisões metodológicas, destaca-se, ainda, como critério de selecção de amostra, a procura de profundidade acerca do tema, na sua estrutura e complexidade. Deste modo, são reconhecidas as experiências singulares que permitem recolher informação com grande riqueza e especificidade, em detrimento da abrangência superficial de diferentes vivências (Flick, 2005).

8 De acordo com Morse (2000), existem critérios universais de “bom informante”, que permitem seleccionar os casos significativos na selecção primária: 1) conhecimentos e experiência necessários sobre o assunto ou objecto em estudo; 2) capacidade de reflexão e articulação; 3) tempo para ser interrogado; e por fim, 4) disposição para participar no estudo. (Denzin & Lincoln, 2000).

(27)

18

2.3.2. Procedimento de Recolha de Dados

Prosseguiu-se a recolha dos dados ao longo do processo de selecção da amostra. De acordo com o processo de selecção gradual, a estrutura da amostra não foi definida à partida com base em características demográficas abstractas, mas com base em critérios teóricos (Flick, 2005; Strauss & Corbin, 2008). Numa fase inicial, foram realizados 2

focus group a pais de adolescentes e posteriormente foram realizados 2 focus group a

filhos adolescentes, ambos os subgrupos de famílias nucleares intactas. Dado que esta investigação decorre num contexto de doutoramento, foram também realizados 2 focus

group a pais com filhos adolescentes e 2 focus group a adolescentes, ambos os

subgrupos de famílias nucleares monoparentais. Os focus group foram realizados em dois concelhos da Área Metropolitana de Lisboa por critério de conveniência e pela disponibilidade dos participantes. Durante o focus group, é pedido aos sujeitos que preencham o mapa de valores9 e no final, os mesmos são convidados a preencher o questionário sócio-demográfico. A recolha gradual dos dados permite, então, acrescentar novas peças ou mesmo construir novos puzzles, permitindo seguir os conceitos que emergem ao longo do processo de investigação e refinar a informação obtida (Charmaz, 2006; Strauss & Corbin, 2008).

Considerando o contexto de doutoramento sobre a transmissão intergeracional familiar numa perspectiva sistémica, em que a investigação está inserida, os participantes, após participarem no focus group, aceitaram preencher um protocolo com diversos instrumentos que permitem compreender este processo em diversas áreas da vida dos indivíduos e da família.

Todos os participantes colaboraram na investigação voluntariamente, com a salvaguarda de confidencialidade e anonimato dos dados fornecidos, consentindo a recolha de informação através de gravação áudio.

9 O mapa de valores constitui uma representação gráfica dos principais valores que guiam os comportamentos e atitudes do indivíduo em três níveis de importância para o próprio e em função de 4 grandes áreas de fontes de co-construção de valores. Este é formado por três círculos concêntricos sobrepostos e com diâmetro crescente a partir do centro. O nível de importância é menor no círculo exterior, que representa os valores menos importantes para o indivíduo, sendo que a importância e valorização atribuída a estes vais crescendo no círculo intermédio e é máxima no círculo central e menor. Os três círculos estão divididos em 4 quadrantes que representam as diferentes fontes de co-construção de valores: pais, avós, sociais e pessoais. Depois de serem abordadas as questões de introdução, o mapa de valores foi introduzido no focus group, contribuindo para o debate de ideias como questão de transição para as perguntas-chave apresentadas posteriormente. Para ter acesso ao mapa de pais e filhos, ver

(28)

19

2.3.3. Instrumentos Utilizados

Focus group

O método usado para a recolha dos dados foi o focus group, que se centra na interacção grupal como fonte de informação e no papel activo do investigador enquanto promotor da discussão de ideias (Morgan, 1996). A interacção entre os indivíduos facilita a comunicação e a expressão de ideias e atitudes, através das próprias palavras. Esta permite que os indivíduos questionem e comentem, entre si, as diversas opiniões apresentadas, através de formas de comunicação mais próximas do quotidiano. Deste modo, é construído o contexto para que os indivíduos elaborem as suas ideias, levantem as questões mais relevantes para si e re-avaliem a sua compreensão das próprias experiências, em função da opinião do grupo (Kitzinger, 1995).

As entrevistas de focus group podem ter um estilo mais ou menos directivo e ter questões mais ou menos estruturadas, de acordo com os objectivos da investigação (Morgan, 1996). Assim, a construção da entrevista focus group, para este estudo, seguiu uma estrutura semi-directiva com questões abertas que, simultaneamente, deixam claro o objectivo do investigador e promovem a emergência das significações específicas e experiências subjectivas dos participantes. Apesar do guião utilizado10 seguir uma sequência padronizada das questões, este serviu apenas como apoio ao investigador, dando liberdade ao moderador para gerir a introdução de questões e comentários (Flick, 2005; Krueger, 1998).

Questionário sócio-demográfico

O questionário sócio-demográfico11 pretende recolher informação complementar que permita contextualizar a informação recolhida no focus group, de forma a conhecer características da amostra específicas e relevantes para a interpretação dos resultados, através do cruzamento de informação. As questões estão organizadas em três blocos temáticos: 1) dados pessoais; 2) dados familiares; e 3) questões de avaliação acerca da satisfação com o clima relacional familiar na infância e actualmente.

10 Para ter acesso aos guiões utilizados, para pais e para adolescentes, ver o Apêndice I e II, respectivamente. Considerando que os resultados obtidos emergem no debate e partilha de ideias, que têm como base o guião de entrevista, o conhecimento das questões usadas permite uma melhor compreensão e contextualização dos resultados obtidos.

11

O questionário sócio-demográfico foi construído no âmbito do doutoramento de Ana Prioste. Ver o questionário no Anexo A.

(29)

20

2.3.4. Caracterização da amostra

A amostra é constituída por 21 indivíduos, divididos em dois grupos: 11 adolescentes, com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos de idade; e 10 pais de adolescentes, com idades compreendidas entre os 43 e os 55 anos de idade. No grupo dos adolescentes, 2 são do sexo masculino e 9 são do sexo feminino; e no grupo dos pais, 4 são do sexo masculino e 6 são do sexo feminino. No grupo dos adolescentes, 7 participantes têm 10 a 12 anos de escolaridade e 4 participantes têm frequência universitária; no grupo dos pais, 1 participante tem 7 a 9 anos de escolaridade, 3 participantes têm 10 a 12 anos de escolaridade, 2 participantes têm frequência universitária, e 4 participantes têm ensino superior completo. Todos os participantes pertencem a famílias nucleares intactas12.

2.3.5. Análise dos Dados

Depois de recolhidos os dados, procedeu-se à construção das categorias e à codificação das unidades de análise. O processo de codificação realizou-se através do software Nvivo 8.

As três categorias superiores (valores emergentes, significações gerais e processo de co-construção de valores) foram construídas de modo a corresponderem às três questões iniciais da investigação. As subcategorias da categoria valores emergentes consistiram, numa primeira fase, nos valores que emergiam no discurso dos participantes, partindo da correspondência com os valores enunciados no Questionário Sobre os Valores Pessoais13 (S. H. Schwartz, 1987; tradução e adaptação: I. Menezes & B. Campos, 1989)14. Numa fase posterior, devido ao elevado número de subcategorias de valores emergentes, estas foram agrupadas de acordo as dimensões que emergiram no estudo de Duarte (2010)15, de modo a evitar a dispersão dos resultados.

As subcategorias da categoria significações gerais e da categoria processo de co-construção de valores foram construídas a partir da interacção entre os objectivos

12 Para uma caracterização específica do grupo de pais e de adolescentes, ver o Apêndice III e IV, respectivamente. A caracterização específica de cada grupo permite compreender e contextualizar mais aprofundadamente os resultados emergentes.

13

Para aceder aos itens do Questionário Sobre os Valores Pessoais, ver o Anexo B.

14 A recriação deste instrumento decorre no contexto de investigação mais alargado de A. Prioste. Questionário Sobre os Valores Pessoais (S. H. Schwartz, 1987; tradução e adaptação: I. Menezes & B. Campos, 1989; recriação: A. Prioste, I. Narciso, & M. Gonçalves, 2010).

15 O estudo de Joana Duarte (2010) está, também, enquadrado no âmbito do doutoramento de Ana Prioste. Neste estudo foram identificadas as seguintes dimensões: Relacional; Tradicionalismo; Aventura; Poder

(30)

21 específicos, as bases teóricas da investigação, as questões do guião de entrevista e as percepções dos participantes. As subcategorias destas categorias foram emergindo ao longo do processo de recolha de dados, através das experiências, opiniões e conhecimentos narrados pelos participantes, de acordo com os pressupostos da

Grounded Theory (Strauss & Corbin, 2008). Assim, a árvore de categorias final16

consiste no resultado de um processo contínuo de construção e reconstrução da mesma, de acordo com a necessidade de adaptação aos dados17. Ao longo do processo de codificação as categorias foram sendo preenchidas com as unidades de análise presentes no discurso dos indivíduos. Para ter conhecer as relações entre as variáveis emergentes, foram realizadas associações entre as mesmas, a partir de uma matriz de resultados, que permite aceder ao número de referências simultaneamente codificadas em nas diversas subcategorias analisadas, bem como ao conteúdo das mesmas. No seguimento da análise, para tornar os resultados obtidos mais salientes, alguns destes foram convertidos em percentagens que reflectem o peso relativo de uma subcategoria dentro categoria principal ou na relação com a outra categoria principal em estudo, presente na matriz. Numa fase final, as matrizes obtidas nas diferentes associações entre variáveis foram convertidas em gráficos, de modo a tornar mais saliente as relações mais relevantes para os indivíduos.

3. Apresentação de resultados e discussão

Na procura de um modelo sistémico que saliente as variáveis mais influentes e a relação entre elas, faz sentido fazer a análise dos resultados em função dos padrões intergeracionais, que se dividem em continuidade intergeracional, semelhanças entre pais e filhos, e descontinuidade intergeracional, diferenças entre pais e filhos. A relação destas categorias com as restantes variáveis emergentes permite compreender quais são os aspectos e dimensões do processo de co-construção de valores que os pais e filhos consideram estar mais associados às semelhanças e diferenças entre as gerações. Para além desta análise, é relevante aprofundar e especificar, em algumas dimensões, como as variáveis se relacionam entre si, de forma a caracterizar de modo mais completo, este processo.

16 Para ver a árvore de categorias, ver o Apêndices V, VI, VII, VIII e IX. Por motivos de legibilidade, a árvore de categorias foi dividida em diversos esquemas.

(31)

22

3.1. Análise exploratória inicial

A partir da análise da figura 218, é possível comparar pais e filhos relativamente às principais categorias associadas à continuidade e descontinuidade intergeracional, o que permite conduzir a análise dos resultados de forma mais específica e relevante, em função do questionamento dos dados. Desta forma, salientam-se as semelhanças e diferenças entre pais e filhos, de acordo com a relevância da relação entre os padrões familiares e as outras dimensões.

3.2. Análise das significações gerais acerca dos valores

3.2.1. Análise da conceptualização de valores

- Quais são as semelhanças e diferenças na conceptualização de valores percebida por filhos e pais?

Conceptualização x Parentesco (Pais e Filhos) – Comparando o grupo dos filhos e o

dos pais, relativamente à sua conceptualização de valores, destaca-se que os filhos vêem os valores enquanto expressão comportamental (25,3%), princípios-guia fundamentais (24,1%), princípios-guia úteis (22,8%) e educação (21,5%). Os pais também associam fortemente estes conceitos, no entanto a sua relevância varia: princípios-guia fundamentais (28,2%), princípios-guia úteis (25,6%), educação (20,1%) e expressão comportamental (15,7%)19.

“Eu acho que mais importante que valores é pô-los em prática, porque só pondo em prática aquilo que nós aprendemos, os valores … Só depois com a prática do nosso dia-a-dia e com a aplicação desses valores na nossa vida é que podemos perceber se eles fazem sentido ou não” (L, filha)

“Acho que quando se fala da educação, não só a educação cívica que estamos a falar, mas também a educação escolar, é importante. (…) mas é importante ir o mais possível e o melhor que se consiga.” (R, pai)

18

Para visualizar o gráfico que expressa a relação entre as variáveis, ver o Apêndice XI, figura 2. 19 Para visualizar o gráfico que expressa a relação entre as variáveis, ver o Apêndice XI, figura 3.

(32)

23 A forma como pais e filhos conceptualizam os valores é abrangente, pois estabelecem relações relevantes com as diversas categorias, o que nos permite compreender que os valores estão presentes em diversas situações da vida dos indivíduos e que, desta forma, são usados e referidos com diferentes níveis de abstracção. Assim, pais e filhos têm conceptualizações semelhantes dos valores, apesar da relevância atribuída especificamente a cada categoria ser ligeiramente diferente. Nota-se, ainda, que tanto os pais como os filhos fazem uma associação importante com a educação, o que aponta para a importância das práticas parentais e da relação pai-filho para o processo de co-construção de valores e para a transmissão das práticas educativas para a geração seguinte (e.g. Campbell & Gilmore, 2007).

3.2.2. Análise relacional da caracterização da mudança social de valores

- Quais são as principais semelhanças e diferenças entre pais e filhos na caracterização da mudança social e temporal de valores, percebida no processo de co-construção de valores relativamente aos valores emergentes?

Mudança x Factores de mudança – Os filhos referem de forma muito saliente a

mudança na hierarquia e importância dos valores (76,2%), que está associada à distância intergeracional (50%) e à adaptação (37,5%), enquanto principais factores que influenciam esta mudança. No grupo dos pais também se destaca a mudança na hierarquia e importância dos valores (46%) como sendo a principal mudança referida na relação com os factores de mudança. Tal como nos filhos, os principais factores associados a esta mudança são a adaptação (43,5%) e a distância intergeracional (39,1%). Também emergem com algum relevo, a mudança nas formas de transmissão (16%), a estabilidade dos valores centrais (14%) e o aparecimento de novos valores (12%)20.

Mudança x Valores emergentes – A principal mudança referida pelos filhos dá-se ao

nível da hierarquia e importância dos valores (64,6%), considerando a mesma como a principal mudança associada às seguintes categorias de valores: equilíbrio pessoal (70%), tradicionalismo (64,3%), poder social (58,3%) e relacional (55,6%). No grupo dos pais, as mudanças que emergem com maior relevância são a mudança na hierarquia

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