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ESTADO DE SANTA CATARINA

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Academic year: 2021

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5.3 EXPORTAÇÃO: ESTRUTURA E DESEMPENHO RECENTE

José Antônio Nicolau*

As vendas no mercado externo são um tradicional indicador de competitividade de empresas e setores produtivos. Ainda que seja resultado de competências adquiridas no passado, ou da falta delas, e seja influenciado por ocorrências conjunturais na taxa cambial, o desempenho exportador é uma informação importante para, juntamente com a análise de variáveis relacionadas à capacidade produtiva e tecnológica, orientar a avaliação das condições de sustentabilidade da estrutura industrial vigente.

O valor da exportação catarinense tem representado, nos últimos anos, pouco mais de 5% do valor da exportação brasileira e concentra-se, na ordem de 70%, em seis setores principais: carnes de aves e suínos; produtos da indústria eletrometal-mecânica (motocompressores, motores, autopeças etc.); móveis de madeira; artigos têxteis e de vestuário; cerâmica de revestimento e papel. Estes setores, com a inclusão da indústria de plásticos, são também aqueles que têm maior peso na estrutura industrial do Estado, o que torna o seu desempenho no mercado externo um indicador da performance da atividade industrial como um todo. Além desses seis setores, merecem registro fumo e derivados de soja, com participação pouco superior a 1%, e plásticos, calçados e produtos químicos, com participação ao redor de 0,5%.

Tomando-se os últimos 10 dez anos, pode-se dividir a trajetória do comércio exterior brasileiro e catarinense em dois períodos, demarcados pela mudança de patamar da taxa cambial no início de 1999: 1996-1999 e 2000-2005. Nesses anos, o valor exportado pelo Estado acompanhou de perto – um pouco abaixo - a evolução do valor das exportações brasileiras. No primeiro período, a variação média anual das exportações esteve próxima de zero (0,5% para o Brasil e –0,7% para Santa Catarina); no segundo período, já sob o efeito da mudança cambial, as exportações passaram a crescer a taxas elevadas (variação média anual de 9,8% para o país e de 8,5% para o Estado). No ano de 2004, as exportações catarinenses somaram US$4.853,5 milhões, correspondentes a 5,0% das exportações brasileiras, abaixo dos 5,5% registrados em 1996, indicando, dessa forma, dinamismo um pouco menor.

*

Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado – em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Dentro deste panorama, pode-se analisar o desempenho relativo dos seis principais setores exportadores do Estado. A Tabela 5.3.1 permite visualizar a composição das exportações ao longo dos últimos 10 anos. A primeira observação a ser feita a partir dos dados da tabela é que ocorreram diferenças de desempenho importantes expressas pela participação setorial no valor total das exportações: um setor com aumento de participação (carnes), dois setores com queda de participação (têxtil-vestuário e, em menor grau, cerâmica) e três setores com participação relativamente estável (eletrometal-mecânica, móveis e papel). Com as análises e considerações a seguir, busca-se compreender as razões e circunstâncias dessa diferença de desempenho.

Tabela 5.3.1 - Composição das exportações do estado de Santa Catarina – 1996-2005

ANOS CARNES

ELETROMETAL-MECÂNICA MÓVEIS TÊXTIL-VESTUÁRIO CERÂMICA PAPEL E CELULOSE OUTROS SETORES TOTAL 1996 20,8 17,3 6,8 11,2 4,5 3,8 35,6 100 1997 21,6 20,1 7,0 10,1 4,7 3,4 33,2 100 1998 18,9 22,9 6,4 9,4 5,0 3,2 34,3 100 1999 19,1 22,2 7,8 9,3 5,0 3,6 33,0 100 2000 19,1 22,0 8,6 10,3 5,0 3,8 31,2 100 2001 27,5 19,3 7,7 8,8 4,4 3,7 28,7 100 2002 25,7 20,6 9,2 7,7 4,4 3,8 28,6 100 2003 22,1 22,2 9,2 7,6 4,3 3,7 30,8 100 2004 24,4 22,0 9,1 6,5 4,1 3,4 30,5 100 2005 26,7 20,7 8,7 5,9 4,1 3,2 30,7 100

Fonte: Base Aliceweb.

Dados em percentual – valor FOB.

Inicialmente, para reduzir o efeito de fatores conjunturais, é feita comparação entre exportação catarinense e brasileira dos mesmos seis setores. Os resultados são apresentados na Tabela 5.3.2. Observando-se os dados, cabem dois importantes registros: a grande participação de Santa Catarina nas exportações brasileiras nesses setores, com maior destaque para têxtil-vestuário, móveis e cerâmica, em que a participação supera 40%, além de carnes, com 20%; e a acentuada perda de participação no período 2000-2005 das exportações de têxtil-vestuário, carnes, cerâmica e, em menor grau, móveis (enquanto eletro-metal-mecânica e papel mantêm participação estável). Análises específicas do desempenho setorial são feitas abaixo.

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5.3.1 Carnes de aves e suínos

O setor de carnes de aves e suínos, com seu expressivo desempenho exportador no período 2000-2005, passando de 20 para 25% das exportações estaduais, tornou-se o setor responsável pela manutenção da posição relativa de Santa Catarina nas exportações brasileiras, apesar da falência de uma importante empresa. A queda de participação nas exportações brasileiras, registrada na Tabela 5.3.2, deve-se ao aumento das exportações de carne bovina por outros Estados, onde o Brasil tem também grande potencial competitivo, e não por menor desempenho da avicultura e suinocultura catarinenses.

Tabela 5.3.2 - Participação do estado de Santa Catarina nas exportações brasileiras de acordo com os principais setores - 1996-2005

ANOS CARNES

TÊXTIL-VESTUÁRIO

ELETROMETAL-MECÂNICA MÓVEIS CERÂMICA

PAPEL E CELULOSE TOTAL 1996 44,2 62,1 7,9 50,9 49,2 10,8 5,5 1997 46,7 63,8 8,9 50,4 51,5 9,7 5,3 1998 39,5 59,4 9,9 46,3 53,6 8,8 5,1 1999 32,1 60,1 9,9 48,8 52,4 10,3 5,3 2000 32,2 52,5 8,2 45,1 51,8 11,1 4,9 2001 32,6 49,8 7,8 45,9 52,5 11,8 5,2 2002 29,5 47,7 8,9 51,8 47,5 13,6 5,2 2003 22,5 45,2 9,3 48,3 44,2 12,7 5,1 2004 21,4 43,9 9,6 44,0 40,7 13,8 5,0 2005* 21,0 42,4 7,7 44,0 40,5 12,6 4,9

Fonte: Base Aliceweb.

Dados em percentual – valor FOB. * Estimativas.

No segmento de aves, o Estado vem consolidando sua participação em mercados de maior valor agregado, principalmente Japão e países europeus, e responde por 29,4% das exportações brasileiras do setor, apesar de reunir somente 18,0% da produção – o que evidencia clara especialização exportadora das unidades de produção. Esse volume de exportação tem sido suportado, nos últimos anos, por aumentos nos plantéis de aves a taxas superiores às verificadas para o país. Há forte participação de empresas exportadoras de grande porte nas exportações (Sadia, Perdigão, Seara, Cooperativa Aurora), mas há também empresas de médio porte.

A carne suína representa cerca de ¼ da exportação de carnes do Estado e Santa Catarina é o principal exportador, com 45,7% das exportações brasileiras. O principal destino das vendas externas é o mercado russo, que absorve em torno da metade do volume exportado. Essa excessiva dependência e a freqüente suspensão de embarques sob alegação de problemas sanitários no rebanho brasileiro têm gerado instabilidade na exportação de carne

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suína. De qualquer modo, trata-se de mercado com grande possibilidade de expansão, uma vez que o volume negociado no mercado internacional representa menos de 5% do total consumido no mundo. Os exportadores são também frigoríficos de grande porte: Sadia, Perdigão, Pamplona e Aurora.

Assim, a conclusão é que o produto brasileiro, especialmente aquele produzido em Santa Catarina, é bastante competitivo, mas o mercado internacional de carnes caracteriza-se pela existência de barreiras sanitárias, além de barreiras tarifárias e não-tarifárias (quotas). Neste sentido, Santa Catarina tem usufruído da sua condição sanitária diferenciada, uma competência adquirida pela atuação de órgãos estaduais de defesa animal. Apesar de seu bom desempenho no período analisado, restam dúvidas sobre a capacidade desse setor manter sua importante posição atual na pauta de exportações do Estado a médio e longo prazo, em função de dificuldades nas áreas ambiental (principalmente suinocultura) e logística. Neste último aspecto, com a abertura de novas áreas produtoras de grãos (milho e soja) na região Centro-Oeste, tem sido considerada como natural a tendência de deslocamento da atividade criatória também para essa região.

5.3.2 Produtos da eletrometal-mecânica

A indústria eletrometal-mecânica tem produtos diversificados de exportação, sendo destaque: motocompressores, motores e geradores elétricos, refrigeradores e congeladores, blocos e cabeçotes para motores e carrocerias de ônibus etc. Essas exportações são realizadas por empresas de grande porte localizadas na região Nordeste do Estado. Essa indústria insere-se no padrão de concorrência do insere-setor de nível mundial, onde pontifica a internacionalização da cadeia produtiva, seja mediante exportações, seja pela abertura de unidades de produção em outros países. São exemplos ilustrativos as estratégias da Embraco e, mais recentemente, da Busscar de criar joint ventures e adquirir unidades para melhor alcançar o mercado internacional; e o caso da Weg, que instalou filiais próprias para melhor distribuir seus produtos.

Além das grandes empresas, há registro de exportação por considerável número de empresas de menor porte - cerca de 200 empresas em todo o Estado – incluindo empresas de autopeças, fabricantes de motores, metalurgia e outros tipos de máquinas e equipamentos. Essa inserção internacional, aliada à existência de bases produtivas expressivas em mais

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quatro regiões, além da região Nordeste, confere importância ao setor eletrometal-mecânico no contexto da estrutura industrial do Estado.

5.3.3 Têxtil-vestuário

O setor têxtil-vestuarista é grande gerador de empregos e tem, em sua estrutura, a presença maciça das micro e pequenas empresas, ao lado de algumas grandes empresas exportadoras. No ano de 2002, respondia por aproximadamente 25% do emprego industrial do Estado. O setor tem bases centenárias em Santa Catarina, conduzindo a região do Vale do Itajaí, polarizada pela cidade de Blumenau, à posição de destaque na economia estadual. Diferentemente do Brasil, onde as exportações de têxteis e confecções situam-se em torno de apenas 1% do valor total exportado, a indústria têxtil-vestuarista do Estado tem larga tradição exportadora, com importante participação nas exportações estaduais. Entretanto, os dados das Tabelas 5.3.1 e 5.3.2 demonstram claramente a perda de competitividade externa.

A década de 1990 foi de grandes dificuldades para a indústria têxtil-vestuarista. O endividamento excessivo, em alguns casos já proveniente da década anterior, taxa de câmbio valorizada e o surgimento de novas tecnologias, especialmente no segmento têxtil, resultaram em perda de competitividade externa e interna (com a entrada de produtos estrangeiros). Com isso, foram registradas falências, mudança de controle acionário e reestruturação produtiva defensiva de empresas tradicionais da região. Os estudos sobre o setor mostram que ocorreu também importante atualização tecnológica de empresas que, todavia, não foi suficiente para a manutenção do desempenho no mercado externo.

5.3.4 Móveis de madeira

A exportação catarinense de móveis, concentrada no arranjo produtivo de São Bento do Sul, atingiu US$441,1 milhões em 2004, que representam 44% da exportação brasileira. Trata-se de móveis a partir de madeira de pínus eliotti, com produção dirigida numa porcentagem de 75 a 80% ao mercado externo, tendo por isso sua dinâmica e rentabilidade setorial condicionadas a fatores que afetam a competitividade externa. Essa vinculação com o mercado externo é ainda mais estreita pelo fato de que a maior parte das empresas exportadoras são subcontratadas para executar a produção de acordo com projeto e design pré-definidos por distribuidores internacionais. O acesso a esses canais de comercialização

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tem sido destacado, então, como fator importante para o desempenho exportador da produção catarinense.

O crescimento recente do valor exportado, correspondente ao período 1996-2004, foi elevado, com variação média anual de 12,8%, apesar dessa evolução ter sido interrompida por dois anos de variação negativa, 1998 e 2001. Entretanto, a exportação dos demais Estados brasileiros evoluiu de forma ainda mais rápida, alcançando a variação média anual de 17,5% no mesmo período, o que resultou na queda de participação da exportação catarinense na exportação brasileira de móveis de 50,9 para 44% entre 1996 e 2005. A competitividade externa depende da capacidade técnica para atender com qualidade e a baixo custo as encomendas dos distribuidores externos. Por isso, a rentabilidade é muito sensível à taxa de câmbio. Um fator preocupante que pode reduzir a capacidade competitiva da produção catarinense a médio e longo prazo é o esgotamento de matéria-prima (madeira) na região, o que tenderá a elevar os custos de produção.

5.3.5 Cerâmica de revestimento

À semelhança de móveis, Santa Catarina possui outro arranjo produtivo que se destaca na exportação brasileira – o de cerâmica de revestimento, localizado na região Sul do Estado. Conforme Tabela 5.3.2, Santa Catarina foi responsável por 40,5% da exportação brasileira do setor em 2004. Mas, de forma mais acentuada que móveis, vem sendo observada perda dessa participação, que era de 49,2% em 1996. Nesse período de 1996-2004, a exportação catarinense teve boa evolução, expressa pela variação média anual de 9,9% (com interrupção do crescimento nos anos de 1998, 1999 e 2001, quando ocorreu variação negativa). Em contrapartida, a exportação dos demais Estados registrou variação anual média superior, de 12,8%. A exportação catarinense está concentrada nas três maiores empresas: Eliane, Cecrisa e Portobello.

Os principais concorrentes no mercado internacional são empresas da Itália e Espanha, países que detêm cerca de 60% das exportações mundiais. Mas, há outros países que vêm crescendo rapidamente no comércio internacional, com destaque para a China, maior produtor e terceiro exportador. O Brasil vem ocupando a quarta posição, registrando crescimento de sua participação nesse mercado. Contudo, a indústria catarinense não acompanhou o ritmo de crescimento da exportação brasileira e mundial.

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Neste contexto, apesar de seus esforços de capacitação e modernização tecnológica, os resultados do comércio, interno e externo, não são favoráveis à porção da indústria cerâmica catarinense. Essa indústria produz artigos de maior valor agregado, com moagem a úmido, do que a indústria concorrente no país, localizada no estado de São Paulo, que adota processo de moagem a seco, de que resultam produtos mais baratos, mas de menor qualidade. Provavelmente, as dificuldades competitivas são maiores no mercado interno devido à diferença de preço a favor da indústria paulista, que parece mais ajustada ao poder de compra do consumidor brasileiro. Por isso, é compreensível a adoção da estratégia das empresas de Santa Catarina de direcionar crescentes volumes de produção ao mercado externo. Porém, isto não tem sido suficiente para sustentar sua posição nas exportações brasileiras do setor.

5.3.6. Papel e celulose

A indústria catarinense de papel e celulose é especializada na produção de papel para embalagem, utilizando como matéria-prima celulose fibra longa de pínus. Essa indústria responde por cerca de 3,5% do total das exportações estaduais e cerca de 13% do valor exportado pelo setor no Brasil. Seu desempenho exportador é pouco inferior ao do total das exportações do Estado, mas superior crescimento das exportações da indústria brasileira de papel e celulose: no período 1996-2004, o segmento da indústria localizado em Santa Catarina registrou variação média anual das exportações de 6,7%, contra 3% dos demais Estados. A indústria exporta pouco mais de ¼ de sua produção, tendo por mercado principal os países do MERCOSUL.

A indústria catarinense de papel e celulose segue padrão setorial nacional e mundial: aproveitamento de economias de escala, com plantas industriais de grande porte e com integração vertical nas etapas de produção florestal, produção de celulose e produção de papel. A produção e a exportação estão concentradas em poucas empresas (Klabin, Igaras, Rigesa), de capital nacional e externo, e com unidades de produção em outros Estados, havendo também empresas médias e pequenas. Nesse sentido, a dinâmica de produção e exportação do setor é decorrente de estratégias dos grupos empresariais de grande porte, não se limitando à porção da indústria localizada em Santa Catarina.

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