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A RESISTÊNCIA INDÍGENA À CATEQUESE E O DESAFIO DA MUDANÇA DE COSTUMES NOS RELATOS JESUÍTICOS DO SÉCULO XVI

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A RESISTÊNCIA INDÍGENA À CATEQUESE E O DESAFIO DA MUDANÇA DE COSTUMES NOS RELATOS JESUÍTICOS DO SÉCULO XVI

Laís de Jesus Santos Graduanda - UFRB

RESUMO: Este trabalho apresenta como tema central a resistência indígena ao processo de catequização imposto pelos padres da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Para tanto, proponho um estudo sobre os desafios enfrentados pelos missionários para retirar do dia a dia dos índios seus costumes tidos como contrários à religião cristã. A partir dessa perspectiva, a pesquisa está voltada para a análise de aspectos relevantes acerca da resistência dos povos nativos presentes no território posteriormente reconhecido como Brasil, tendo como base a visão dos missionários através dos seus relatos do século XVI.

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INTRODUÇÃO

Pretende-se com esse trabalho ampliar os estudos sobre história indígena, tendo em vista sua pequena dimensão em comparação com as pesquisas desenvolvidas sobre outros diversos temas do ramo da História. No entanto, busco também reforçar a importância do índio como sujeito histórico e elemento constituinte da formação étnica do país. Desta forma, é essencial que mais estudos sejam realizados, tendo em vista a grande relevância que os grupos indígenas tiveram dentro deste processo.

Nesta pesquisa me atenho a refletir sobre se de fato existiu ou não resistência indígena à cristianização durante os primeiros anos de colonização. Tomando como base registros jesuíticos do século XVI, apresento a visão dos missionários em relação ao tema em questão, que no geral, aponta para uma passividade dos ameríndios e até mesmo certo interesse em se tornarem cristãos.

A partir dos estudos desenvolvidos, observo que além do problema em torno da aceitação ou não aceitação da catequese, havia o problema maior de “civilizar” os ameríndios, ou seja, retirar do dia a dia seus costumes considerados “selvagens” e adaptá-los à cultura europeia. Desta forma, o trabalho foi pensado com o propósito de mostrar a opinião dos missionários em relação à resistência dos povos do Novo Mundo à conversão e, a partir disso, refletir e buscar elementos que pudessem comprovar a existência de formas de resistência, com o intuito de futuramente confrontar a visão deste grupo com outros registros.

Para a realização deste trabalho utilizo como fonte impressa as Cartas Jesuíticas 1: cartas do Brasil, do padre Manuel da Nóbrega, do período de 1549 a 1560. As cartas jesuíticas são documentos importantes, sendo prova disso a sua grande utilização pelos historiadores, pois nos traz diversas informações acerca do período colonial do Brasil. Para esta pesquisa em especial, proponho utilizá-las para buscar vestígios de resistência indígena à catequese, no entanto, percebe-se uma forte negação ou talvez ocultação de resistência por parte dos missionários, neste caso, em destaque o jesuíta Manuel da Nóbrega.

Vale destacar que Nóbrega participou da primeira missão de catequização nas terras de Santa Cruz no século XVI. Nascido em Portugal, na vila de Sanfins do Douro, no dia 18 de

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outubro de 1517, estudou na Universidade de Salamanca, na Espanha, entre 1534 e 1538; e bacharelou-se em Direito canônico em 1539, em Coimbra. O padre Nóbrega entrou para a Companhia de Jesus em 1544 e após cinco anos embarcou na armada de Tomé de Sousa para o Brasil, com a missão de converter os gentios. (NÓBREGA, 1988).

Segundo Vale Cabral, em seu prefácio do volume aqui analisado (NÓBREGA, 1988), as cartas eram lidas em Portugal em público e durante as refeições, sendo que os trechos que não pareciam ser construtivos eram cortados e, provavelmente, essas cartas eram passadas para os livros de registros com esses cortes. A produção dessas cartas faz parte do sistema burocrático missionário, isso significa que era uma forma de troca de informações entre os membros da Companhia de Jesus devido ao princípio de unidade que existia dentro da ordem religiosa jesuítica. Os missionários estavam dispersos em diferentes lugares, mas deveriam a todo o momento informar ao “cabeça” sobre as circunstâncias do local onde se encontravam, além disso, precisavam receber orientações de como proceder no determinado local, sendo assim, tais orientações também eram feitas através das cartas. Desta forma, Charlotte de Castelnau- L’Estoile afirma que a correspondência é a chave do sistema jesuítico. (CASTELNAU- L’ESTOILE, 2006).

A partir desse princípio de unidade e dependência dos membros ao centro da Companhia de Jesus em Roma, explica-se a importância das correspondências, pois implica intensas relações de comunicação entre as províncias e o centro. A correspondência, portanto, ligava os membros dispersos à cabeça do corpo e estabelecia uma rede horizontal de relações que ligavam aqueles que foram divididos. Tudo isso se devia ao fato de que para governar, o centro necessitava conhecer as condições locais.

“A correspondência tinha assim um papel estrutural na organização da Companhia de Jesus: ela reforçava a identidade do grupo disperso, permitia adaptar as regras às circunstâncias locais e dava ao centro o meio de exercer uma forma de controle.” (CASTELNAU- L’ESTOILE, 2006, p. 76).

Portanto, as fontes foram produzidas nesse sistema de controle à distância de uma província por um centro.

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RESISTÊNCIA NA VISÃO DOS JESUÍTAS

Como já foi dito, as análises feitas às cartas escritas pelo padre Nóbrega no período de 1549 a 1560, revelam que houve uma negação por parte do missionário de resistência dos índios em serem catequizados, demonstrando quase sempre estarem dispostos a aprender os ensinamentos cristãos. Vale lembrar que os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549 com a frota do primeiro governador- geral Tomé de Sousa, ocupando-se inicialmente de rezar missas e confessara gente da armada e da terra. (NÓBREGA, 1988).

Inácio de Loyola foi o fundador da Companhia de Jesus, nasceu por volta de 1491 e desejava na sua juventude seguir carreira militar, conquistando ainda a nomeação de capitão na guarnição de Pamplona, porém, após sofrer acidente em guerra com a França, passou por um longo período de convalescença. Foi então nesse período que deu início a sua vida religiosa, pois não havendo livros de cavalaria em sua casa, passou a ler livros religiosos, surgindo assim outro ideal em sua vida: o serviço da glória de Deus. Saindo do leito, Inácio se dedicou a fazer retiros espirituais, onde lhe surgiu a ideia de redigir os Exercícios Espirituais, o que reuniu em sua volta um grande número de homens que se tornaram seus companheiros. Juntos, firmaram alguns propósitos, para tanto, tiveram que organizar uma vida espiritual a fim de alcançar os objetivos, a partir do voto de castidade, de pobreza, pregação e celebração da missa, entre outras ações. (CASTELNAU- L’ESTOILE, 2006).

A decisão de fundar a Companhia de Jesus se deu em 1539, sendo aprovada definitivamente na bula Regimini Militantis Ecclesiae em 27 de setembro de 1540. É importante ressaltar que essa ordem religiosa surgiu num período de crise da Igreja católica, no momento em que ocorria a Reforma Protestante, pondo em dúvida o futuro da religião cristã. No que diz respeito às origens, é notável que exista algumas semelhanças entre os dois fenômenos, no entanto, a Companhia de Jesus não surge diretamente para combater a reforma, sendo que o seu lema era Ad maiorem Dei gloriam (Para a maior glória de Deus) e tinha como alguns de seus objetivos a realização de trabalhos missionários e de assistência a

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enfermos (O’MALLEY, 2004). No Brasil, por exemplo, a principal missão foi ensinar e catequizar os índios. O’Malley discorre acerca dessa relação entre a Reforma Protestante e a fundação da Companhia de Jesus, afirmando em uma passagem de sua obra que:

“Em todo caso, embora a Companhia de Jesus tivesse uma história muito diferente, teria vindo à existência mesmo se a Reforma não tivesse acontecido, e não pode ser definida primeiramente em relação à mesma. Em muitas partes do mundo, o impacto direto da Reforma sobre os jesuítas varia do mínimo até o não-existente.” (O’MALLEY,2004, p.37)

A implantação jesuíta se divide em três tipos de estabelecimentos: colégios, casas professas e aldeias de evangelização; salientando que o último foi criado a partir da adaptação às circunstâncias do Novo Mundo, desta forma, as aldeias era a única diferença existente entre o retrato da província jesuíta do Brasil e o das outras províncias. (L’ESTOILE, 2006)

Retomando as cartas, destaco que a primeira publicada nesta coletânea, escrita por Nóbrega e enviada ao padre mestre Simão Rodrigues de Azevedo no ano de 1549, deixa claro a crença de que os povos nativos mostravam muito desejo em se tornarem cristãos e, por outro lado, deixa evidente a sua preocupação devido aos maus exemplos que muitos portugueses estavam dando, por exemplo, passando anos sem se confessar e vivendo em pecado com muitas mulheres. Acerca desse possível interesse dos índios e, em contrapartida, displicência dos portugueses, uma passagem da segunda carta de Nóbrega publicada nesta coletânea nos diz muito: “Estão na igreja, sem ninguém lhes ensinar, mais devotos que os nossos christãos.” (CARTA II, 1988, p. 77)

Nóbrega afirma que ele e seus companheiros cuidaram primeiramente de catequizar os mais novos, pois destes esperavam mais frutos, tendo em vista que não se colocavam em oposição às leis cristãs como os seus pais. A partir dessa perspectiva, nota-se que houve alguma forma de resistência por parte dos índios adultos ou mais velhos, mesmo que não seja tão evidenciado pelo jesuíta. Algumas das cartas mostram que por mais que os indígenas aceitassem serem convertidos com facilidade, não o faziam por amor e sim por temor, isso porque os povos ameríndios temiam muito os colonos, que exploravam suas terras e os faziam de escravos.

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Os índios tinham certa confiança nos padres, que eram vistos como protetores e, por isso, viam a conversão como uma forma de proteção e sobrevivência, e não como algo que de fato acreditavam e desejavam. Nóbrega expressa com diferentes palavras em cartas escritas em períodos distintos que o medo era um dos motivos pelo qual os índios aceitavam depressa serem catequizados. Observa-se isso claramente na seguinte passagem de uma carta: “(...) vimos que por amor é mui dificultosa a sua conversão, mas, como é gente servil, por medo fazem tudo (...)” (CARTA XVI, 1988, p. 159)

A visão que Nóbrega expressa a partir de suas cartas é a de que não houve resistência à catequese, inclusive considerava a missão de converter os índios “tarefa fácil”, pois os viam como “papel em branco” e desta forma, tudo poderia lhes ser ensinado; apontava ainda para o desejo dos índios de aprenderem os ensinamentos cristãos, por exemplo, estavam sempre nas missas repetindo as ações dos cristãos e muitos até iam ao encontro dos padres para pedirem o batismo. Os jesuítas defendiam a catequese como objetivo principal da colonização no Novo Mundo e como a única forma de civilizar os índios, esses, por sua vez, teriam a semente divina que se desenvolveria somente por meio da catequização.

Os únicos empecilhos apontados por Nóbrega foram ação dos feiticeiros, que se consideravam “filhos de Deus” e tinham grande influência sobre a comunidade indígena; e os costumes, que eram contrários à religião cristã. Nas cartas de Nóbrega pouco se encontra a respeito da resistência indígena, pois como já foi dito, suas palavras a todo o momento apontam para uma negação, porém, em algumas passagens podemos supor a sua existência, como através do medo e da preferência pela catequese dos filhos, o que nos leva a pensar que os pais de alguma forma resistiam, até pelo fato de terem seus costumes mais arraigados devido a idade.

Os jesuítas viam a catequização dos ameríndios como uma missão, que era a de tornar cristão aquele povo que vivia no pecado e que mesmo aceitando o cristianismo, não se mostravam dispostos a deixarem sua cultura, sendo os costumes mais comuns o ato de comer carne humana e de ter várias mulheres, tidos como hábitos abomináveis pelos padres da Companhia de Jesus. No trecho da carta abaixo escrita em 1549, Nóbrega expressa claramente a importância da missão dada a eles por Deus:

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“Mas é de grande maravilha haver Deus entregue terra tão boa, tamanho tempo, a gente tão inculta que tão pouco o conhece, porque nenhum Deus têm certo, e qualquer que lhes digam ser Deus o acreditam, regendo-se todos por inclinações e apetites sensuais, que está sempre inclinado ao mal, sem concelho nem prudência.” (CARTA IV, 1988, p.90)

Serafim Leite traz uma contribuição a respeito dessa problemática da resistência indígena à catequese, discutindo sobre a facilidade com que aceitavam serem convertidos e batizados. Assemelha tal facilidade com a mesma facilidade que poderiam esquecer a religião cristã, isso porque havia, segundo o autor, certa superficialidade nos sentimentos daqueles povos, ou seja, para eles tanto fazia ganhar ou perder, ter ou não ter, não existia profundidade em suas emoções; isso então dificultava a conquista de uma catequese sólida e de uma verdadeira civilização. Para Leite, essa superficialidade se explicaria, talvez, pela embriaguez quase constante em que viviam os índios. (LEITE, 2006)

Serafim Leite apresenta dois pontos acerca do caráter dos índios que possivelmente influenciaram na aceitação ou não aceitação da catequese:

“Um é o interesse que movia geralmente o índio: ‘o seu intento era que lhes déssemos saúde, vida e mantimentos, sem trabalho, como os seus feiticeiros lhes prometem.’ Outro ponto incontestável era a inconstância e o seu caráter remisso.” (LEITE, 2006, p. 7)

Leite ainda afirma que houve manifestações de resistência por parte dos pajés, porém, considerou-as ineficazes. Os pajés se mostravam resistentes por diversas ações, por exemplo, fugiam dos padres nas aldeias e julgavam a religião como um meio para escravizá-los.

MANUTENÇÃO DOS COSTUMES COMO FORMA DE RESISTÊNCIA

“E’ esta a cousa mais abominável que existe entre eles. Si matam a um na guerra, o partem em pedaços, e depois de moqueados os comem, com a mesma solenidade; e tudo esto fazem com um odio cordial que têm um ao outro, e nestas duas cousas, isto é, terem muitas mulheres e matarem os inimigos, consiste toda a sua honra.” (CARTA IV, 1988, p. 90)

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Esse trecho da carta do padre Nóbrega expressa o espanto que os costumes indígenas causavam nos missionários, nisto estava a maior dificuldade encontrada para a realização da missão dos jesuítas naquele território: fazer com que deixassem sua cultura. Para os portugueses os nativos não possuíam religião, apenas apresentavam algumas crenças; entre vários de seus costumes estavam a gula, o nomadismo, a bebedeira, a poligamia e a antropofagia, sendo que os dois últimos são os mais apontados nos relatos no jesuíta.

Ao mesmo tempo em que consideravam a missão de catequizar os índios tarefa fácil e negavam a existência de qualquer tipo de manifestação de resistência, assumiam que havia muita dificuldade em retirar os “maus costumes” do dia a dia deles, afirmando que não se mostravam dispostos a se desfazerem de suas tradições. Por exemplo, o ato de comer carne humana fazia parte da sua cultura, ocorria quando um inimigo era capturado em guerra, sendo que faziam única e exclusivamente por vingança e não simplesmente por apetite. O fato é que os índios aceitavam com facilidade os ensinamentos cristãos, porém, resistiam em manter seus costumes, não seria então essa atitude um ato de resistência?

Retomo a hipótese de que a facilidade com a qual aceitavam serem catequizados e batizados se explica devido ao medo que sentiam das maldades que os portugueses cometiam contra eles; e tendo os padres uma imagem protetora, os indígenas viam na catequese uma forma de se manterem protegidos, não sendo então algo que realmente desejavam como coloca o padre em suas cartas. Portanto, de certa forma havia uma resistência cultural, mas por algum motivo os jesuítas optaram por negá-la. O valor que essa missão tinha para os jesuítas era grandioso, pode ser então um motivo pelo qual escolheram exaltar o sucesso da missão escondendo que houve resistência das comunidades ameríndias. O trecho seguinte resume o que foi dito até este ponto: “Todos querem e desejam ser christãos; mas deixar seus costumes lhes parece áspero.” (CARTA VII, 1988, p.114)

Fabricio Lyrio Santos reforça a veracidade dessa resistência cultural como a maior dificuldade enfrentada pelos jesuítas.

“Apesar da enorme diferença cultural entre os europeus e os povos nativos, os primeiros relatos feitos pelos jesuítas confirmavam as expectativas iniciais favoráveis à catequese. No

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entanto, a diferença cultural mostrou-se um obstáculo maior do que se imaginava de início.” (SANTOS, 2014, p. 36)

A respeito dessa diferença cultural entre os europeus e os povos ameríndios, Ronald Raminelli nos traz uma importante contribuição desenvolvendo a problemática da degeneração ameríndia sob dois aspectos, dos religiosos e dos iluministas; sendo que o primeiro grupo explicava pelo declínio temporário e reversível, e o segundo pela corrupção natural (RAMINELLI, 1996). Um dos religiosos destacados por Raminelli é Simão de Vasconcellos, que, por sua vez, sofreu influências de Nóbrega; os dois trazem a ideia de que a catequese era responsável por devolver a cristandade aos indígenas. Vasconcellos acreditava que os índios teriam se originado de uma ilha chamada Atlante e que suas características se explicavam devido às circunstâncias, por exemplo, a tonalidade da pele mais avermelhada teria sido resultado da longa exposição ao sol e ao calor; e os maus costumes devido ao afastamento dos ensinamentos de Deus.

O índio era visto pelos europeus como “bárbaro”, vale ressaltar que o termo se originou na Grécia para denominar os povos vizinhos, destacando a superioridade grega, porém, o conceito recebeu vários significados ao longo do tempo, sendo que, no mundo cristão, bárbaro equivalia à pagão, designando todos os homens indiferentes à verdadeira religião. Na baixa Idade Média referia-se aos povos ainda não convertidos, mas que traziam consigo a luz da razão natural, que seria revelada somente por intermédio da conversão e do abandono das práticas contrárias à palavra do Senhor. Os religiosos, portanto, defendiam essa natureza selvagem dos nativos confiantes de que através da conversão poderiam devolver sua cristandade que teria se perdido com o tempo. “O índio encontrava-se no limbo: como um pagão, era um ser decaído, capaz de ver a luz divina apenas por intermédio da palavra revelada.” (RAMINELLI, 1996, p. 55)

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É importante evidenciar que apenas as cartas do jesuíta Manuel da Nóbrega foram estudadas para este trabalho, e que para uma pesquisa mais completa é necessário que mais registros sejam analisados, como do padre Anchieta e Simão de Vasconcellos. Desta forma, o estudo de outros documentos a respeito dessa problemática será importante para que haja uma comparação entre a visão desses religiosos.

A visão do padre Nóbrega acerca da resistência indígena se apresenta de forma clara em suas palavras, existe uma nítida negação da existência de manifestações indígenas contrárias à conversão e, além dessa negação, existe uma afirmação a respeito do desejo dos povos nativos em serem batizados, porém, o jesuíta não apresenta motivos para essa vontade. Ainda deixa dúvidas quando diz que os índios se convertiam, mas continuava sendo difícil fazer com que deixassem seus costumes, ou que a conversão por amor era difícil, mas que por temor faziam tudo; acredito que havia uma consciência de que tinha resistência, o que não houve foi o interesse por parte dos jesuítas em evidenciar isso em suas cartas.

Por fim, é notável que o processo de catequização foi algo imposto e tudo que é imposto não abre brechas para liberdade de aceitar ou não aceitar. Aqueles que não se convertessem ou que se opusessem aos colonizadores eram castigados e escravizados. A resistência se mostra de forma discreta em várias ações dos índios, porém, a manutenção de seus costumes é a mais evidente.

BIBLIOGRAFIA

NÓBREGA, Manoel da. Cartas Jesuíticas 1: cartas do Brasil 1549-1560. 1 ed., Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1988.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. 1 e 2 ed., Belo Horizonte: ITATIAIA, 2006.

RAMINELLI, Ronald. Imagens da colonização: a representação do índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

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CASTELNAU L’ ESTOILE, Charlotte de. Operários de uma vinha estéril: os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil 1580- 1620. Bauru, SP: EDUSC, 2006.

O’MALLEY, Jhon W. Os primeiros jesuítas. São Leopoldo, RS: UNISINOS; Bauru, SP: EDUSC, 2004.

SANTOS, Fabricio Lyrio. Da catequese à civilização: colonização e povos indígenas na Bahia. Cruz das Almas, BA: UFRB, 2014.

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