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As marcas do passado que não podem ser esquecidas

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Academic year: 2021

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tema ainda carece de regula-mentação legal, mas já está na pauta do setor de mineração: é inexo-rável que os passivos ambientais se-jam assumidos pelos empreendedores. Aliás, no Brasil mesmo, existe empre-sas que já praticam essa modalidade de cuidado ambiental

com os rejeitos de suas atividades minerárias, quer por consciência ambiental, quer por vi-são estratégica de seus negócios. O professor Luis Enrique Sánchez, do Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo, da Escola Po-litécnica da USP, diz que a recuperação de áreas degradadas ainda é um campo nebuloso, por -que as exigências legais brasileiras são deficien-t e s e i n e f i c a z e s . O s bons exemplos de recu-peração ambiental se explicam quase sempre por razões de política própria das empresas.

Em curto prazo, diz, não se vislum-bra uma ação mais efetiva do Estado que introduza mudanças legais para, por exemplo, obrigar que as empre-sas apresentem garantias financeiras para a recuperação de áreas após a extração dos minérios.

É verdade que aqui e ali ocorrem casos que chamam a atenção, mais pelo inusitado. O próprio professor Sánchez lembra o caso da Alcoa, em Poços de Caldas, que começou a recuperar as áreas degradadas já na década de 70, bem antes das exigências legais. Ao elo-giar esta postura, o professor lembra — e lamenta — o caso de outra empre-sa mineradora instalada em Sete Lago-as, também em Minas Gerais, que “deli-beradamente destruiu um sítio arque-ológico muito importante: um arco de calcário coberto de pinturas rupestres”. E, infelizmente esse é um cenário bastante costumeiro na atividade. Ou-tra mácula na história da mineração brasileira, e sempre mencionado, são

as chamadas “paisagens lunares” da mineração de carvão no Sul do Brasil, em especial em Santa Catarina. O pro-fessor Sánchez, no trabalho que relata a história dos impactos ambientais da mineração brasileira, diz que a extra-ção de carvão em Santa Catarina

cau-sou alguns dos mais graves impactos ambientais promovidos pela mineração no País. “Embora as práticas de gestão das empresas carboníferas não fossem significativamente diferentes, nem pio-res que as de outros segmentos do se-tor mineral, as características do miné-rio foram responsáveis pelo acúmulo de um grande passivo ambiental, estima-do em mais de US$ 112 milhões”. Como conseqüência, a região foi declarada como “área crítica de poluição”, um re-conhecimento oficial de seu estado de degradação ambiental. Ele explica: “A espessura do carvão catarinense é re-duzida, o que obriga a extração com as rochas que se apresentam intercaladas. Depois de separado do carvão, na boca da mina, esse material constitui um re-jeito, que é descartado a céu aberto. Esse rejeito, que contém porções de sulfeto de ferro na forma de pirita, em contato com a água e o ar oxida-se, formando o ácido sulfúrico, um problema comum em muitas regiões mineiras,

conheci-do como drenagem ácida. Como esses rejeitos estão espalhados na beira de rios e em diferentes locais, as fontes de poluição são muitas e os rios passam a ser extremamente ácidos”.

A impressão digital dos passivos ambientais é extensa e está espalhada por diversas partes do País. Sánchez lembra o passivo caracterizado pela alteração da paisa-gem promovida pela mi-neração de ferro em Mi-nas Gerais. Aliás, o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos anos 70, fez o alerta e protestou con-tra os escon-tragos produzi-dos pela CVRD na paisa-gem de Itabira, sua cida-de natal. Mais tarcida-de pro-testou também contra a MBR, cujos projetos de ampliação da exploração do minério de ferro “seri-am responsáveis pela al-teração no horizonte das Alterosas”. A história re-gistra que o movimento conclamava a população a “olhar bem” para as montanhas por-que elas poderiam desaparecer, uma vez que a Serra do Curral, ao Sul de Belo Horizonte, constituída em boa parte de minério de ferro, corria ris-cos de desaparecer com o projeto de expansão da mina de Águas Claras. Drummond escreveu: “Proibido esca-lar. Proibido sentir o ar de liberdade des-tes cimos, proibido viver a selvagem in-timidade destas pedras que se vão des-fazendo em forma de dinheiro...”

Em outra paragem, é lembrado o caso da Mineração Rio do Norte, con-sórcio de grandes empresas liderado pela Cia. Vale do Rio Doce, no Rio Trombetas, no Pará. Aqui o passivo ambiental tem a forma de rejeitos do beneficiamento do minério lançados em um lago natural, o lago Batata, causando seu assoreamento e impac-tos sobre a fauna e a flora. Como me-dida saneadora, a usina de beneficia-mento foi transferida para área da mina, situada a 30 km de distância e

PASSIVOS AMBIENTAIS

As marcas do passado que

não podem ser esquecidas

Paulo Antunes

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os rejeitos passaram a ser dispostos em setores já la-vrados. O lago Batata, po-rém, é até hoje objeto de um programa de recupe-ração ambiental.

Outro segmento do se-tor de mineração sempre lembrado pelos impactos ambientais que promove e cujos passivos também merecem atenção é o da extração de areia de cons-trução e brita, insumos que estão em segundo lugar entre os bens minerais mais importantes do País, em termos de quantidade produzida. A produção de areia e brita, ou agregados, como são chamados, cres-ceu em decorrência da

ado-ção de métodos construtivos que empre-gam o cimento e o concreto. A extração de areia ocorre em diferentes situações: no leito de rios, planícies aluviais e so-los intemperizados de rochas graníticas. Os impactos: a lavra nos leitos dos rios contribui para o aumento da turbidez da água e para o soterramento das co-munidades faunísticas que vivem no fundo do leito dos rios. Já no caso da exploração nas planícies aluviais e na lavra de rochas intemperizadas, a areia é desagregada com jatos d’água e bom-beada para caixas onde se faz a separa-ção das argilas e siltes. Essas partícu-las finas são armazenadas em áreas já lavradas. Sánchez informa que um es-tudo comparativo realizado em um tre-cho da planície aluvionar do rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba, em São Pau-lo, baseado na interpretação de fotogra-fias aéreas, em diferentes momentos his-tóricos e desde 1962, deixou demons-trada a alteração da morfologia do rio, a remoção de vegetação nativa e o avanço da lavra sobre a área de preservação per-manente na margem do rio, entre ou-tros impactos. Ele diz mais: “Embora se tenha notícias de alguns projetos de re-cuperação ambiental, o fato é que até 1998, apesar de ter forte alteração no meio ambiente local, as mineradoras fizeram pouco para recuperar as áre-as degradadáre-as”. Entenda-se o pouco como projetos de revegetação, especi-almente ao redor das cavas e vias de acesso às frentes de lavra, como as úni-cas medidas de recuperação ambiental até então implementadas.

Mudanças e ações

Mas para não ficar apenas com uma visão pessimista, é bom que se diga, para o bem da verdade, que o assunto começa a merecer atenção e pode re-presentar mudanças na gestão deste problema ambiental. José Mendo Mizael de Souza, vice-presidente exe-cutivo do Ibram, diz que, com o

desen-volvimento da humanidade, valores e conhecimentos também mudam e hoje há uma nítida consciência de que “po-luição é desperdício” e entre o empre-sariado já se percebe a adoção do con-ceito da “Ecoeficiência”. No que diz res-peito aos passivos ambientais da mi-neração, ele concorda com a idéia de que seja feito um amplo diagnóstico dos passivos no Brasil. Saber onde houve exploração mineral, por que a extração foi paralisada, se de fato a mina foi exaurida ou qual o teor de minério ain-da ali existente são informações impor-tantes para um eventual aproveitamen-to de jazidas minerais remanescentes que, agora, têm condições de ser ex-ploradas com as novas técnicas, repre-sentando eventualmente mais um gan-ho de produtividade. Esse diagnóstico servirá também para que o passivo ambiental seja efetivamente assumi-do e passe a ser encaraassumi-do como algo que precisa ser resolvido.

Aqui e ali se fica sabendo de ações de empresas que procuram corrigir os seus passivos ambientais. Leandro Quadros Amorim, Gerente de Meio Am-biente da MBR, diz que a empresa pos-sui alguns passivos ambientais, prin-cipalmente relacionados a antigas pro-priedades adquiridas de terceiros e que todos estão sendo adequadamente tra-tados em planos de controle ambiental da empresa. Entre eles o gerente lem-bra o caso do assoreamento do Córrego do Grota Fria, causado por décadas de ações de mineradoras. A MBR assumiu a área em meados da década de 90, herdando os passivos ambientais. No ano 2000, em decorrência de fortes chuvas, houve o extravasamento de um pequeno dique de contenção de sedi-mentos, o que contribuiu mais para o assoreamento do córrego. Foi feito um projeto de recuperação que se encon-tra em pleno desenvolvimento.

De maneira mais “estruturante” e para não deixar de abordar o tema da bacia carbonífera de Santa Catarina,

Brasil Mineral ouviu o DNPM, para saber quais estão sendo os encaminha-mentos para esta verdadei-ra chaga da história ambi-ental da mineração brasi-leira. Walter Lins Arco-verde, diretor de Fiscaliza-ção do DNPM e membro suplente do MME no Co-mitê Gestor para Recupe-ração Ambiental da Bacia Carbonífera de Santa Cata-rina, faz um histórico con-sistente da mineração de carvão em Santa Catarina e iniciativas ambientais.

Por fim, o caso também relatado nesta edição, que trata da reabilitação de áreas de mineração de bauxita, em Poços de Cal-das, MG, deve ser mencionado pelo valor simbólico que a iniciativa pode encerrar. Em 1997, a direção da Cia Geral de Minas, subsidiária da Alcoa Alumínio S.A. adotou como uma de suas diretrizes a “recomposição vege-tal dos corpos exauridos de minério”, demonstrando que os efeitos da mine-ração podem ser minimizados, contri-buindo para a não deterioração dos recursos paisagísticos em uma região com forte vocação turística. Não resta dúvida de que a imagem da empresa também ficou fortalecida, quesito im-portante, é bom lembrar, conforme revela resultado da pesquisa elabora-da pelo Ibram, que constatou que o setor ainda é visto pela sociedade como “poluidor”, entendendo-se poluidor como responsável pela degradação ambiental, sendo pouco lembrado pe-los benefícios que a sua atividade pro-dutiva traz para a sociedade.

O DNPM e a recuperação da Bacia Carbonífera de Santa Catarina

O carvão mineral é indispensável na siderurgia, no processo de redu-ção do minério de ferro, na fabrica-ção do aço. Devido ao seu alto poder calorífero, sua queima aquece caldei-ras que geram vapor e movimentam turbinas geradoras de energia elétri-ca. Diferentemente de países como EUA e China, que ainda dependem do carvão mineral, com índices acima de 55% de participação em suas matri-zes energéticas, no Brasil o carvão mi-neral é fonte complementar, respon-dendo por cerca de 1,5% da geração de energia em tempos de aquecimen-to de demanda, ou no atendimenaquecimen-to a eventuais problemas de suprimento. A primeira notícia de sua explora-ção econômica no Brasil data de 1861, quando o Visconde de Barbacena rece-beu do imperador D. Pedro II a conces-são para explorar carvão mineral na lo-calidade de Lauro Muller. Durante as

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duas grandes guerras mundiais, o car-vão catarinense foi suporte para ati-vidades econômicas, devido à escas-sez de combustível, para os transpor-tes marítimo e ferroviário e para a in-dústria. Com a implantação da Side-rurgia Nacional, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, em 1942, após be-neficiamento, o carvão metalúrgico abasteceu os altos fornos da siderúr-gica e deu origem ao complexo ter-melétrico Jorge Lacerda, ex-Eletrosul, ex-Gerasul, hoje Tractebel Energia.

Porém, durante muitos anos as mi-nas fornecedoras de carvão careceram de planejamento e das melhores téc-nicas. À medida que as reservas eram exauridas, as empresas se deslocavam para novos sítios de mineração, dei-xando para trás depósitos de rejeitos. O quadro foi se agravando com o tem-po, a ponto de, em 1980, Decreto do Governo Federal (Dec. n.º 85.206 de 25 de setembro) estabelecer a região carbonífera de Santa Catarina como a “14ª Área Crítica para Efeito de Con-trole da Poluição e Conservação da Qua-lidade Ambiental”. Santa Catarina é detentora de apenas 9% das reservas carboníferas brasileiras, estimadas em 23 bilhões de toneladas em 1982. No Rio Grande do Sul, encontram-se 90% destas reservas. O restante (1%) está localizado principalmente nos Estados do Paraná e São Paulo.

Walter Lins Arcoverde contextualiza o assunto. “Em 1979, o Governo Fede-ral instituiu o Programa de Mobilização Energética, que visava a expansão da produção de carvão mineral em subs-tituição aos combustíveis derivados de petróleo. O DNPM e a CPRM desenvol-veram, então, importante campanha de sondagens para melhor conhecimento

das condicionantes geológicas da região e da disposição espacial das camadas de carvão mineral, ao mesmo tempo em que se projetou e se começou a execu-tar uma ação fiscalizadora na região de forma mais sistemática”. Em decorrên-cia deste Programa de Mobilização Energética, pelo qual o governo criou incentivos à instalação de minas de carvão mecanizadas e de grande por-te, a produção de ROM passou de 3,5 milhões de toneladas, em 1970, para mais de 13 milhões, em 1980, e al-cançou 15,6 milhões de toneladas, em 1982. O Diretor do DNPM lembra que, na oportunidade, os ministros de Mi-nas e Energia, do Interior e Indústria e Comércio, “considerando a necessi-dade de conciliar a expansão da pro-dução e uso do carvão mineral com a preservação e integridade do meio am-biente”, editaram a Portaria nº 917, de 6 de junho de 1982 obrigando as empresas a implementar medidas vi-sando diminuir os impactos ambi-entais na mineração.

Em vista dessa coerção, as empre-sas contrataram um consórcio de em-presas que elaborou projetos concei-tuais e executivos para manuseio e dis-posição de rejeitos sólidos, bem como para tratamento primário de efluentes líquidos. Pode-se dizer que, pela primei-ra vez, dava-se início a um progprimei-rama ordenado de controle da poluição

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ambiental na Bacia Car-bonífera Catarinense. A partir de então, segundo Arcoverde, o DNPM vem adotando medidas visan-do o controle regional das atividades de mineração, com o estabelecimento de rotinas de vistorias sistemáticas.

Walter Arcoverde destaca algumas dessas práticas ao longo das duas últimas décadas. Em 1983, o DNPM, em convênio com o CPRM, desenvolveu o projeto “Estudo da Vulnerabi-lidade à Contaminação dos Mananciais Subter-râneos nas Áreas de Mi-neração de Carvão”, com a finalidade de

ava-liar as condições e o estágio de conta-minação dos aqüíferos subterrâneos dada à presença de águas ácidas re-sultantes da lixiviação dos rejeitos piritosos. Em uma das áreas testadas no município de Siderópolis, foi cons-tatado existir contaminação tanto nas águas superficiais quanto nos aqüí-feros subterrâneos. Contaminação causada essencialmente pela oxidação da pirita e da marcassita.

Nos anos de 1984 e 1985, o DNPM passou a exigir o controle efetivo da emanação de gás metano das minas, visando minimizar os riscos de aci-dentes. A partir de 1989, o DNPM exi-giu o corte e a furação de rochas a úmido e proibiu a lavra com recupe-ração de pilares, ou seja, eliminou o risco de abatimento da superfície e fugas d’água, reduzindo conflitos com os moradores próximos às minas, que sofriam rachaduras em suas casas e a falta de água. Itens como o escora-mento de minas, acondicionaescora-mento e manuseio de explosivos e acessórios, o estado geral da instalação e conser-vação de equipamentos elétricos, a quantidade de ar nas frentes de la-vra, o registro diário das medidas de metano e a existência de equipamen-tos de combate ao fogo passaram a ser fiscalizados com maior ênfase.

Atividades voltadas exclusivamente para a questão ambiental na mineração, principalmente as ligadas à lavra de carvão também passaram a ser objeto da atenção do DNPM. Entre elas Walter Arcoverde lembra a publicação da “Co-letânea de Trabalhos Técnicos sobre Con-trole Ambiental na Mineração”, com des-taque para o trabalho que trata dos “Usos de Técnicas de Sensoriamento Remoto no Monitoramento para o Con-trole Ambiental Causado pela Mineração de Carvão em Santa Catarina”. Ainda no plano da literatura, destaca o “Manual de Equipamentos para o Controle da Po-luição na Mineração” e o “Glossário de

Engenharia Ambiental”, o Curso de Con-trole da Poluição Ambiental na Minera-ção, em 1986, em Brasília e o Seminá-rio Brasil/Canadá de Mineração e Meio Ambiente em 1990, com a apresenta-ção do trabalho “Problemas Ambientais da Bacia Carbonífera – Investigação e Estudo dos Efluentes de Mineração na sub-bacia do Rio Sangão, Santa Catarina”. Enfim, Walter Arcoverde diz que o DNPM, em sua ação fisca-lizadora, acompanha o desenvolvimen-to dos empreendimendesenvolvimen-tos minerários através de vistorias de rotina e não pro-gramadas, fazendo exigências e emi-tindo autos de infração e/ou paralisa-ção de atividades. E, embora as deman-das relacionademan-das ao meio ambiente ocu-pem lugar de destaque entre as priori-dades do órgão, não é de se ignorar que, com o advento da Lei nº 6.938/80 (a Lei da Política Nacional do Meio Ambi-ente) e com a Constituição de 1988, a ação do órgão tem caráter supletivo à dos órgãos ambientais.

E quanto aos passivos ambientais? Walter Arcoverde lembra que em 2000 foi elaborado pelo Cetem, por encomen-da do Sindicato encomen-da Indústria Extrativa d o C a r v ã o d e S a n t a C a t a r i n a – SIECESC, o “Projeto Conceitual Preli-minar para a Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera”. A recuperação ambiental prevista pelo Projeto deve-ria contemplar as áreas de depósitos de rejeitos, áreas mineradas a céu aberto e minas abandonadas, bem como o desassoreamento, fixação de bar -rancas, descontaminação e retificação dos cursos d’água, além de outras obras para amenizar os danos sofri-dos principalmente pela população sofri-dos municípios sede da extração e bene-ficiamento do carvão.

Arcoverde explica que o Projeto Conceitual demonstrou que “a recupe-ração efetivamente pretendida deman-dava estudos e projetos mais comple-xos e com interfaces com problemas

causados por outras fontes de poluição”. Aliás, um programa do Governo do Estado, no início da década de 90 – o “PROVIDA-SC”, já reconhecia que “as questões setoriais só adquirem real dimen-são quando colocadas no contexto socioeco-nômico regional e do País. São amplas, por exemplo, as correla-ções entre saneamen-to, saúde pública, ha-bitação, transporte, educação, agricultura e meio ambiente, todos interagem e têm dire-ta inter ferência na qualidade de vida das populações. Há neces-sidade absoluta de se adotarem novas posturas no tratamento de problemas, conforme os diagnosticados na região. Os prognósticos serão sombrios se per-manecerem prescrições isoladas para enfermidades que têm características holísticas: continuaremos a investir na ineficácia, a aplicar mal os recursos públicos, sem resolver os problemas”. O documento do “PROVIDA” diz mais: “A degradação social e ambiental de 50 anos não se recupera em curto prazo, em função, inclusive, da magnitude dos problemas a enfrentar. Em decorrência, o projeto prevê ações de curto, médio e longo prazo. Algumas dessas ações po-dem ser imediatamente identificadas, outras são natural decorrência das inter -relações que se estabelecerão”. Ainda no plano das intenções, o Pro-jeto Conceitual Preliminar para a Re-cuperação da Bacia Carbonífera foi as-sim planejado: 1 – na fase conceitual, coleta sistemática de informações para a caracterização da área a ser recupe-rada e das fontes de poluição (investi-gações de campo e trabalhos de labo-ratório), análise de dados e diagnósti-co sobre as diagnósti-condições ambientais da região; 2 – na fase seguinte, as solu-ções para recuperar ou mitigar o dano diagnosticado são apresentadas e são realizados ensaios para testar a efici-ência de tais soluções; 3 - por fim, deve ser implementado um sistema de monitoramento ambiental para acom-panhar a evolução das características da área trabalhada. Walter Arcoverde diz que tais providências são impres-cindíveis para a elaboração de um jeto adequado à grandiosidade do pro-blema que é, justamente, a recupera-ção das áreas degradadas pela ativi-dade de mineração em toda a bacia carbonífera, de modo que as etapas pre-vistas não podem ser suprimidas, sob pena de se pretender o impossível.

O Diretor do DNPM diz, também, que não se pode esquecer que a

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ção de região tão expressiva em área (as reservas se concentram numa fai-xa alongada de Norte a Sul, com apro-ximadamente 95 km de comprimento por 15 a 20 de largura) e tão seriamen-te comprometida sob o aspecto ambi-ental (estima-se, por exemplo, o com-prometimento de 42.800 hectares de terras agriculturáveis) depende de von-tade política e de recursos emanados de todos os níveis da Federação e prin-cipalmente dos mineradores.

Levantamentos realizados pelo “Estudo de Viabilidade da Recupera-ção das Áreas Degradadas pela Mine-ração do Carvão na Região Sul de San-ta CaSan-tarina”, produzido a partir de um convênio entre a FATMA – Fundação do Meio Ambiente e a JICA – Agência de Cooperação Internacional do Ja-pão, ligada ao governo japonês, em 1998, estimaram custos da ordem de R$ 72 milhões para a melhoria ambi-ental das operações de lavra e recu-peração de áreas em atividade e ou-tros R$ 98,5 milhões para a recupe-ração de 3.292 hectares impactados pela mineração passada. Em 2003, um novo projeto da parceria apresen-tou uma conta mais salgada para a recuperação ambiental de toda a ba-cia carbonífera: US$ 55 milhões.

Enfim, em 2000, um Decreto do en-tão Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, instituiu o Comitê Gestor para a Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera de Santa Cata-rina. A União integrou o referido comi-tê com representantes do MME, MMA e do MCT. Desde então, os projetos apoiados pela União referem-se ao aerolevantamento da Região, monito-ramento da qualidade das águas da Bacia Carbonífera, mapeamento de bocas de minas desativadas e abando-nadas. Com isso, o Comitê começa a dispor de informações técnicas con-sistentes para o início de projetos exe-cutivos. E, por falar em recursos, o DNPM/MME solicitou este ano de 2004 crédito suplementar ao Minis-tério do Planejamento, da ordem de

R$ 8,5 milhões, visando à imple-mentação de tra-balhos de coorde-nação da recupe-ração ambiental, bem como de pro-jetos executivos em áreas que por -ventura sejam de responsabilidade da União. A f o r a i s s o , o S I E S C E S C , u m dos integrantes do Comitê Gestor de Recuperação da Bacia Carbonífera e suas associadas, informa que desde maio de 2000 vem implantando o pro-jeto de Recuperação Ambiental da Ba-cia Carbonífera do sul do Estado de Santa Catarina. São ações que visam a adequação da mineração dentro de um novo modelo. Ou seja, um mode-lo que contemple a mineração, o beneficiamento e o uso do carvão de forma sustentável, reduzindo o seu impacto ao meio ambiente e promo-vendo a recuperação do impacto ambiental causado no decorrer dos mais de cem anos de atividades da mi-neração no Sul de Santa Catarina. É preciso lembrar que estas ações são em grande parte impulsionadas pela Ação Civil Pública impetrada pelo Mi-nistério Público Federal, em 1993, cuja sentença, em janeiro de 2001, do Juiz Federal Paulo Afonso Brum Vaz, de Criciúma, condenou as minera-doras a recuperarem as áreas degra-dadas pela exploração e extração do minério de carvão.

De tudo, nessa história, depreende-se que na verdade falta muito para depreende-se chegar a um bom termo quanto aos passivos ambientais do sul cata-rinense. Além do que os problemas não param de surgir. A ONG “Sócios da Natureza”, cujo trabalho em San-ta CaSan-tarina vem se desSan-tacando pela luta que desenvolve em prol de ações efetivas para enfrentar os problemas originados pela mineração de carvão, alertou, em abril último, para uma suspeita sobre a possibilidade da ati-vidade carbonífera estar poluindo os aqüíferos próximos ao projeto da usi-na a carvão (USITEC – 440MW), a ser instalada na região sul do Estado, principalmente depois de perceber que o EIA-RIMA aponta perfuração de poços com profundidade de 300 ou 400 m para captação de água limpa para o resfriamento das turbinas da usina. A preocupação é válida, uma vez que o comprometimento dos re-cursos hídricos da região é uma ver-dade incontestável desde os anos 80, quando a região foi considerada área crítica de poluição.

Extração de casseterita em Rondônia: paisagem lunar

Referências

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