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sem limites
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Aumento crescente de acessos à internet,
banda larga em expansão e plataformas de
comunicação inovadoras demandam cada
vez mais agilidade e criatividade das grandes
empresas de telecomunicações
O
mais conectado, e esse movimento não tem volta. Automóveis, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos e sistemas de segurança e de automação residencial podem ser acionados ou controlados por um simples toque no smartphone. Esse aparelho inteligente responde por infinitas possibilidades de interatividade e de prestação de serviços, e seu sucesso é tanto que, no Brasil, foi vendido um smartphone por minuto no segundo trimestre de 2014. De acordo com dados da consultoria IDC, foram comercializados, ao todo, 13,3 milhões de aparelhos desse tipo (75%) contra 4,6 milhões de celulares comuns (25%) no período. No mundo, foram vendidos 300 milhões de smartphones.Mas esse demonstrativo reflete muito mais do que simples dados sobre recorde de vendas. O aumento no uso do dispositivo denota, entre outros aspectos, a popularização do uso da
internet e, sobretudo, a convergência
que se amplia drasticamente com os serviços de banda larga. “Nos últimos 12 meses foram ativados 50
larga no Brasil”, afirma Eduardo Levy, presidente-executivo do SindiTelebrasil (Sindicato das Empresas de telefonia e serviço móvel) e membro do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). “Cinquenta milhões não sabiam o que era acessar a internet e passaram a utilizar o smartphone. Essa é uma grande evolução”, completa.
O aumento exponencial de acessos tem gerado sérios debates sobre os atuais modelos de negócios das empresas do setor, inclusive em razão do marco civil da internet. De uma forma geral, um dos temas mais discutidos é a tributação praticada para as empresas operadoras de telecomunicações, que fazem parte do segmento ICT (do inglês Information
and Communication Technologies),
e não aplicada às prestadoras
Over-the-Top (OTT). Os OTTs são serviços
oferecidos aos clientes pela internet, mas não necessariamente pelas operadoras, como é o caso das redes sociais. “A grande questão que vem à tona é que as mídias sociais utilizam a infraestrutura construída pelas empresas de telecomunicações, e
em debate. A informação passa pela estrada sem necessariamente pagar pedágio”, exemplifica Manuel Fernandes, líder da área de Tecnologia, Mídia e Telecomunicação para a América Latina da KPMG no Brasil.
O problema seria o grande tráfego gerado nas redes por vídeos e imagens, principalmente, e que demandam grandes investimentos de infraestrutura por parte das
operadoras para o funcionamento com eficiência e velocidade. Além disso, com as empresas OTTs, os clientes estão se afastando cada vez mais dos serviços tradicionais de comunicação oferecidos pelas operadoras, como ligações telefônicas e mensagens de texto via SMS.
Oportunidades
À parte as questões técnicas e de gestão que necessitam ser equacionadas de forma urgente, toda essa demanda de uso decorrente dos avanços tecnológicos dos dispositivos de comunicação traz uma gama de oportunidades para investidores e empreendedores. Shut terstoc k/ alphaspirit Fonte: Anatel 26
O Brasil tinha, em julho, 276,15
milhões de linhas ativas na
telefonia móvel. No mesmo
mês houve acréscimo de
446,2 mil linhas de telefonia
móvel. A banda larga móvel
totalizou 132,89 milhões
de acessos, dos quais 3,67
milhões eram terminais 4G
Para Levy, o caminho das OTTs, por exemplo, é irreversível, e cada vez mais as empresas ICT têm de se adaptar a essas condições, buscando novos mercados através de associações ou subsidiárias. Até porque o mercado de operadoras está praticamente consolidado, mesmo com a recente aquisição da GVT pela Telefônica, e já atingiu uma cobertura considerável de clientes de telefonia, com
poucas perspectivas de crescimento quantitativo. “O que as empresas tradicionais estão procurando fazer é encontrar a melhor forma de obter margens para seus investimentos. Uma maneira é se associar ou criar empresas que também estejam em outra camada, como se fosse uma
Over-the-Top”, diz Levy. “Então, é
possível a criação de subsidiárias da empresa ou o estabelecimento de acordos para fazer streaming de voz ou
A parceria, aliás, parece ser o principal caminho para a inovação das companhias. “Há modelos que podem dar certo, como, por exemplo, o
marketing conjunto. Uma empresa pode
utilizar a base de usuários de mídias sociais para, de alguma forma, divulgar seus produtos em troca do serviço de infraestrutura”, sugere Manuel Fernandes. “É uma forma de aproveitar o que o outro tem de melhor, e os dois players acabam tendo sucesso e benefícios múltiplos”, comenta.
Infraestrutura
O líder da KPMG explica que a operação em parceria também tem funcionado na área de infraestrutura, como no compartilhamento de ativos. “A infraestrutura precisa ser utilizada ao máximo para rentabilizar de forma adequada o investimento e diminuir a pressão de custos, sendo normal encontrar hoje
De qualquer forma, com ou sem parceria, a infraestrutura é um fator problemático no atendimento da forte demanda pelo uso da rede. A divergência de legislações, na opinião de Levy, é um dos principais fatores impeditivos de maiores investimentos do mercado. “Existe um mito de que a antena faz mal à saúde, gerando, por parte dos representantes da sociedade, a criação de legislações que só impedem a implantação de infraestrutura”, diz o presidente-executivo do SindiTelebrasil.
Levy explica que as diferentes regras de distância, altura e outros itens existentes nos municípios não têm sustentação técnica e invadem a esfera federal de responsabilidade. “Estamos sempre correndo atrás do prejuízo porque a obtenção de licença nas prefeituras para instalação das torres
As conexões máquina a máquina (M2M) devem aumentar
consideravelmente a partir do próximo ano. De acordo com Eduardo Levy, presidente-executivo do SindiTelebrasil, a expectativa de crescimento não só diz respeito às inovações nessa área como também se justifica pela queda tarifária de acesso do sistema Fistel (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações). “O valor praticado inviabilizava o sistema”, comenta.
A presidente Dilma Rousseff assinou em maio o Decreto 8.234, que regulamenta a redução do Fistel para as conexões M2M. Segundo o documento, os sistemas M2M são “dispositivos que, sem intervenção humana, utilizam redes de telecomunicações para transmitir dados a aplicações remotas com o objetivo de monitorar, medir e controlar o próprio dispositivo, o ambiente ao seu redor ou sistemas de dados a ele conectados por meio dessas redes”.
A Taxa de Fiscalização de Instalação (TFI), cobrada para cada chip de celular habilitado ao custo de R$ 26,83, vai cair para R$ 5,68. E a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF) – paga todos os anos para cada chip em poder do usuário – cai de R$ 13,40 para R$ 1,89. A princípio, a desoneração não vale para máquinas com interferência humana. Caberá à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) organizar e acompanhar a adoção dessa desoneração.
Acesso máquina a máquina
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ainda ociosa, que poderia ser ocupada com qualidade ao longo do tempo de implantação, já passou”, explica.
Mas uma importante medida promete melhorar o processo de instalação de infraestrutura. O Projeto de Lei 293/2012, conhecido como Lei Geral de Antenas, propõe a unificação das regras para a instalação das torres. O projeto é uma demanda das empresas de telecomunicações para agilizar o processo de autorização de novas antenas como condição para a ampliação do número de torres.
De uma forma geral, o PL determina que a operadora envie requerimento de instalação a um único órgão em cada ente federado. O prazo máximo para decisão sobre a solicitação seria de 60
o compartilhamento da capacidade excedente da infraestrutura de suporte, além do planejamento de novas antenas, para permitir seu compartilhamento pelo maior número possível de prestadoras.
O projeto que institui a nova lei ainda prevê limites de exposição definidos na legislação e em regulamentos específicos para a instalação de antenas transmissoras. O PL, que é de autoria do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), já foi aprovado pelo Senado Federal, pela Câmara dos Deputados e seguiu novamente para o Senado. A expectativa é de que a matéria seja aprovada ainda este ano.
Em paralelo, Levy explica que o SindiTelebrasil tem promovido uma força-tarefa de visita aos municípios
apresentando as propostas do PL padrão e participando de audiências públicas com especialistas na área de frequência e de emissão eletromagnética, para desmitificar o conceito de prejuízos à saúde causados por antenas.
O sindicato também criou documentos sobre novas práticas de implantação de antenas, com a intenção de mostrar às prefeituras que, se houver facilidade, as empresas cumprirão com determinadas regras de implantação, substituindo antigas torres pela instalação de infraestrutura nos postes e com equipamentos subterrâneos. “Acreditamos que o PL do Senado e as práticas que colocamos no mercado devem dar retorno e, nos próximos anos, teremos uma reversão positiva desse quadro”, finaliza.
Shut
terstoc
k/ Andresr
jovem
Conexão
Quase metade do País (49,4%) já está
conectada à internet, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa referente a 2013, divulgada em setembro deste ano, apontou o crescimento de 2,9 milhões de internautas entre 2012 e 2013, totalizando cerca de 85,6 milhões de usuários de internet com 10 anos de idade ou mais.
Os maiores índices de usuários encontram-se entre pessoas de 15 a 17 anos e de 18 a 19 anos, com 76% e 74,2%, respectivamente. Já na faixa etária que compreende 40 e 49 anos, 44,4%
Acesso à internet aumentou e
adolescentes lideram índice entre usuários
Cerca de 130,2 milhões de pessoas de 10 anos ou mais, da população no Brasil, possuem aparelho celular. O crescimento foi de 5,7 milhões de pessoas em relação a 2012, embora tenha sido a menor taxa de aumento verificada.
As residências com algum tipo de telefone aumentaram 1,3%, de 2012 para 2013. São 2,1 milhões de novos domicílios com aparelhos.
O levantamento também apontou crescimento nos domicílios com computadores. Dos 31,8 milhões de domicílios com computador em casa,
O aparelho celular é o
único meio telefônico
em muitas residências
brasileiras
Quase 50% dos brasileiros
se conecta à internet
No último
ano, a
banda larga
cresceu
50%
130,2 milhões de pessoas
possuem aparelho celular
Jovens entre 15 e 19 anos são
os principais usuários de internet
Brasil encerra julho com
23,4 milhões de
acessos de
banda larga fixa
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A
cer
vo KPMG
Panorama
setorial
Quais são as principais evoluções no mercado de telecomunicações?
Há um crescimento extraordinário, particularmente na área de telefonia móvel. Com a globalização, os processos de consolidação tanto no Brasil quanto em âmbito mundial têm se tornado cada vez mais fortes, e isso traz mudanças para o setor, a começar pela convergência. Falamos sobre isso desde 2004, mas, nos últimos seis anos, esse processo tem se acentuado e trazido benefícios para o setor. Também é importante destacar o surgimento das empresas
Over-the-Top (OTTs), que começaram
a criar novas plataformas de serviços para os usuários de forma ágil e competente, como Cloud Computing,
Big Data, Analytics e Customer Experience, por exemplo, assunto
muito em voga dentro das operadoras e empresas modernas.
Mas as operadoras reclamam que não faturam devido ao alto tráfego
gerado com as plataformas OTTs.
É verdade, mas quando as OTTs perceberem que não estão ganhando tanto quanto poderiam ganhar, vão se aproximar do ecossistema ICT e se integrar. Hoje já há diversos acordos entre operadoras e OTTs. E tem de ser assim, porque as operadoras, por mais que invistam, não têm condições de melhorar a rede com o tráfego incrível gerado pelas OTTs. Além disso, esse mundo de ICT está mudando dramaticamente e, ainda que tarde, as operadoras estão entrando de maneira mais decidida na competição. É importante destacar, por exemplo, a quebra de monopólio na área de TV por assinatura. Dois anos atrás as operadoras não forneciam esse serviço, que é OTT, e hoje já competem nesse mercado.
O senhor concorda que o
estabelecimento de parcerias é uma saída?
Com certeza. As OTTs estão querendo se aproximar do sistema ICT porque as redes não estão sendo capazes de custear o tráfego que elas precisam para faturar mais. O mundo da internet é extraordinário. Teremos milhões e milhões de aparelhos conectados, já vemos carros conectados, vai ter geladeira conectada. Então, ou as operadoras se modernizam e estabelecem canais de parcerias, ou vão ficar com a vida cada vez mais complicada.
Até onde a banda larga pode chegar?
A banda larga cresce em média 30% ao ano e vai continuar crescendo assim porque as comunicações são cada vez mais necessárias, e os serviços OTTs, como tráfego de vídeo, por exemplo, serão cada vez mais intensos nas redes.
A internet vai trazer um novo grande ciclo de possibilidades. Espero que todos saibam definir bem seus modelos de negócios e tenham sucesso.
ENTREVISTA
Laudálio Veiga Filho, presidente da
Provisuale e organizador do Futurecom
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