• Nenhum resultado encontrado

RISCOS PSICOSSOCIAIS DO ENFERMEIRO DO ACOLHIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: SOB ÓTICA DEJOURIANA.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "RISCOS PSICOSSOCIAIS DO ENFERMEIRO DO ACOLHIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: SOB ÓTICA DEJOURIANA."

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

RISCOS PSICOSSOCIAIS DO ENFERMEIRO DO ACOLHIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: SOB ÓTICA DEJOURIANA.

O presente paper tem como objetivo realizar uma reflexão sobre a qualidade de vida no trabalho e os riscos psicossociais do enfermeiro do acolhimento e classificação de risco sob a ótica dejouriana.

Nos diversos serviços de urgência e emergência hospitalar no Brasil é utilizado o serviço de Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR), o objetivo desse serviço é acolher e identificar o usuário que necessita de atendimento imediato, visando minimizar os possíveis agravos e o potencial risco de sua vida.

O enfermeiro é o responsável legal por classificar e decidir a gravidade de saúde do usuário, ou seja, o primeiro a entrar em contato com esse sujeito e com a sua família e/ou conhecido que o acompanha durante o seu atendimento. Por esse motivo, o profissional fica muito mais vulnerável a situação de violência, assédio, coação, situação de estresse e o próprio medo, potencializando o surgimento dos riscos psicossociais, contribuindo para diminuição da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).

A QVT tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência, em diversos contextos, mas quase sempre voltada para a satisfação e o bem-estar do trabalhador na execução de suas tarefas.

Isso tem sido alvo de discussões e reflexões em todo o mundo, principalmente por estar inserida no contexto da globalização da economia. Por esse motivo, torna-se, também, um desafio para a sociedade brasileira elucidar como é a qualidade de vida no trabalho, especificamente a da enfermagem, tendo em vista tantas desigualdades e injustiças sociais.1

O processo de globalização em curso tem definido intensas transformações no mundo do trabalho. Inovações tecnológicas, enfraquecimento da atividade econômica, mudanças na organização do trabalho, entrada crescente no mercado de trabalho de mulheres são alguns dos fatores que, vêm contribuindo para que haja redefinição das relações entre a capital e trabalho.2

Entender a influência da organização do trabalho na qualidade de vida, na saúde mental, na geração de sofrimento psíquico, no desgaste e no adoecimento dos trabalhadores é de fundamental importância não somente para compreensão e para

(2)

intervenção em situações de trabalho que possam acarretar diversas formas de sofrimento, mas para superação e a transformação dessas organizações.2,3

Evidencia-se que o conceito de QVT envolve, tanto os aspectos físicos e ambientais, como os relativos ao local de trabalho e como influenciam psicologicamente os trabalhadores. O conhecimento de tais fatores é fundamental quando se pretende compreender todo o processo de sua interferência nessa qualidade, até porque, de forma direta e indireta, interagem com esse processo. Vale destacar que é necessário ter em mente alguns aspectos essenciais, que poderão interferir na QVT dos profissionais de enfermagem.3

Diversos aspectos têm sido considerados como dificuldades para se atingir qualidade de vida nas organizações. Uma delas reside na diversidade das preferências humanas e diferenças individuais e o grau de importância que cada trabalhador dá às suas necessidades. As dimensões dos cargos podem refletir em aspectos psicológicos que afetam os resultados pessoais e de trabalho que interferem na QVT, como variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da tarefa, autonomia, retroação do próprio trabalho e inter-relacionamento.4

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que 2,34 milhões de pessoas morrem todos os anos em virtude de acidentes e doenças relacionados com o trabalho, sendo 2,02 milhões (86,3%) causados por doenças profissionais e 321 mil em consequência de acidentes de trabalho. São 6.300 mortes diárias relacionadas ao trabalho, 5.500 causadas por doenças profissionais, números esses inaceitáveis, os quais indicam que ações devem ser intensificadas em busca do trabalho decente, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, além de ser capaz de garantir uma vida digna às pessoas.5

Os riscos são oriundos de mudanças tecnológicas, sociais e de organização, consequentes de um novo modelo de produção flexível de capital, denominado precarização e/ou a terceirização, onde afeta gravemente a saúde dos trabalhadores. O processo de globalização fez desaparecer cerca de 322 mil empregos formais, instalando, assim, a busca por empregos informais e por esse estilo de produção. As empresas exigem um profissional competente e competitivo, polivalente e criativo, mas nem sempre fornece um suporte organizacional promotor da saúde no trabalho. Diante dessa situação,

(3)

é visível a distância entre o que a organização espera e prescreve e o que o trabalhador realiza.5,6

O ambiente laboral compõe-se de um conjunto de fatores que, de forma direta ou indireta, podem provocar riscos ao profissional, camuflando ou retardando sinais e sintomas de comprometimentos à saúde do trabalhador. Existem fatores no meio ambiente de trabalho que são nocivos ao organismo, tais como as condições físicas, biológicas e emocionais.7

Para Organização Mundial da Saúde (OMS), ao se discutir a interação entre o trabalhador e os riscos psicossociais devem-se considerar, além das características do indivíduo, aspectos organizacionais no que dizem respeito ao conteúdo do trabalho, organização e gestão, assim como outras condições ambientais e sociais, cujas interações podem ter uma influência perigosa sobre a saúde dos trabalhadores. Por sua vez, o foco das iniciativas organizacionais normalmente considera somente aspectos preventivos em saúde e segurança relacionados à exposição dos trabalhadores a agentes químicos, físicos e biológicos, sendo o risco psicossocial negligenciado e insuficientemente compreendido. A psicodinâmica do trabalho na ótica dejouriana refere-se aos estudos dos movimentos psicoafetivos gerados pela evolução dos conflitos intersubjetivos e intra-subjetivos existentes entre a organização prescrita e a organização real do trabalho. Embora o trabalho possa ser fonte de sofrimento; por outro lado, proporciona vivências de prazer, pois é por meio dele que o ser humano constrói sua vida e se insere no mundo laboral, não somente como forma de sobrevivência, mas também para realização pessoal e profissional.8

Assim, nesta reflexão teórica, entende-se que as formas de organização do trabalho que estão pautadas, na totalidade ou parcialmente, nas bases estabelecidas pela escola científica de administração, não considera a saúde holística do trabalhador, ou seja, não trata a organização do labor como um processo dinâmico e que envolve a subjetividade dos indivíduos, a preocupação está voltada para a saúde física. Entretanto, é fundamental compreender as inter-relações do ambiente de trabalho, considerando a saúde física e mental, bem como as formas de organização do.8,9

A psicodinâmica do trabalho desenvolve-se a partir de uma pergunta direcionada ao mundo do trabalho, expressa no âmbito do conceito de homem formulado pela psicanálise. Os conflitos, o sofrimento e prazer que emergem em situação de trabalho e

(4)

às dificuldades, ou mesmo aos conflitos que ela provoca entre os indivíduos, na própria dinâmica das equipes; e nos indivíduos, em decorrência das tensões que aparecem no confronto entre a situação laboral e as obrigações próprias da esfera privada. Assim, a psicodinâmica do trabalho leva a questionar novamente o estatuto do real na economia geral do prazer e do sofrimento, as estratégias defensivas e as descompensações psicopatológicas.9

A psicodinâmica do trabalho dejouriana, está diretamente relacionado com as situações vivenciadas na realidade cotidiana dos trabalhadores, sendo que a forma de organização do trabalho e o ser humano não deve ser um conjunto rígido, mas deve estar pautado na flexibilidade. Para que ocorra a estabilidade desta relação, deve-se permitir a evolução e as transformações, pois se as formas de organização laboral forem bloqueadas, travadas ou cristalizadas, impedem o crescimento dos trabalhadores, podendo surgir ineficiências no trabalho, conflitos, tensões, estresses, sentimentos de sofrimento, dentre outros8,9.

Para a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (AESST), dentre as recomendações relacionadas ao enfrentamento dos riscos psicossociais, destacam-se: participação dos trabalhadores e conscientização dos riscos presentes no trabalho; intervenções no ambiente social e físico das organizações; maior cobertura do Serviço de Saúde do Trabalhador (SST), promoção da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT); e investimento em pesquisas que desvelem os riscos psicossociais ao considerar ambiente, processo de trabalho e suas exigências.

Para a melhoria da saúde e qualidade de vida dos trabalhadores pode ocorrer a partir de uma intervenção que estimule a participação dos enfermeiros como atores de mudança, permitindo-lhes o espaço da palavra, para que haja o resgate de sua importância como ser humano criativo em relação ao seu processo de trabalho.

Concluímos que existem poucos estudos que versam sobre a qualidade de vida dos enfermeiros no ACCR, existe a necessidade de desenvolvimento e criação de programas ou projetos que visam estratégias de melhoria nos espaços sociais do trabalho. A importância do entendimento e discussão da temática, visa a prevenção e promoção da saúde do trabalhador no cuidado a sua saúde mental, buscando constantemente o alcance da qualidade de vida no trabalho.

(5)

REFERENCIAS

1. BENEVIDES-PEREIRA AMT. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem estar do trabalhador do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

2. LANCMAN S.; SZNELWAR, L.I. (Org.). Cristophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2011. p.512. 3. RIBEIRO LA, SANTANA LG. Qualidade de vida no trabalho: fator decisivo para

o sucesso organizacional. Rev Inic Cient., Cairu. 2015 jun; 2(2): 75-96.

4. CARNEIRO VF. Qualidade de vida no trabalho e estresse ocupacional: percepção dos auditores internos e externo-Região Sudeste, Minas Gerais [dissertação]. Pedro Leopoldo: Fundação Cultural Dr. Pedro Leopoldo, 2013.

5. FERNANDES MA, MARZIALE MH. Riscos ocupacionais e adoecimento de trabalhadores em saúde mental. Acta Paul Enferm. 2014; 27(6):539-47. 539.

6. VASCONCELLOS IRR, ABREU AMM, MAIA EL. Violência ocupacional sofrida pelos profissionais de enfermagem do serviço de pronto atendimento hospitalar. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2012 jun;33(2):167-175.

7. WORM FA, PINTO MAO, Schiavenato D, ASCARI AR, TRINDADE LL, SILVA OM. Risco de adoecimento dos profissionais de enfermagem no trabalho em

atendimento móvel de urgência. Rev Cuid 2016; 7(2): 1288-96.

8. MARTIS JT, ROBAZZI MLCC, BOBROFF MCC. Prazer e sofrimento no trabalho da equipe de enfermagem: reflexão à luz da psicodinâmica Dejouriana. Rev. Esc. Enfermagem USP. São Paulo, 2010; 44 94: 1107-11.

9. DEJOURS C, ABDOUCHELI E, JAYET C. Psicodinâmica do Trabalho: Contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2012.

Autores Daniel da Silva Granadeiro Mestre em Enfermagem pelo PPGEnf/Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutorando em Enfermagem e Biociência pelo PPGEnfBio/UNIRIO. Bolsista DS/CAPES. Professor no Centro Universitário Augusto Motta. E-mail: nielump@hotmail.com

Joanir Pereira Passos Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Coordenadora do Curso de

Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências/UNIRIO. Professora Titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO. Líder do Laboratório de Pesquisa: Enfermagem, Tecnologias, Saúde e

Trabalho.E-mail:joppassos@hotmail.com Como citar este post (Vancouver adaptado): GRANADEIRO DS, PASSOS JP. Riscos psicossociais do enfermeiro do acolhimento e classificação de risco: sob ótica dejouriana. [internet]. Rio de Janeiro (BR); 2019. [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: https://journaldedados.wordpress.com.br (completar com dados do site).

Referências

Documentos relacionados

(criminalização obrigatória) de intervenção penal, conforme se pode depreender da coexistência, na Constituição de 1988, de limitações constitucionais ao poder de punir estatal

Figura 1 – Esquema do desenvolvimento do tubo digestivo do Decapoda Maja squinado...20 Figura 2 – Esquema de decápode, localizando o hepatopâncreas e detalhe de um

As Forças Armadas Portuguesas em Angola enfrentaram, durante os treze anos que durou a Guerra, três movimentos independentistas – A União Dos Povos Angolanos (UPA), que foi fundada

Xu, Oscillation criteria for certain even order quasilinear neutral differential equations with deviating arguments, Appl. Philos, A new criteria for the oscillatory and

Hobbes (1974, p.44) afirma que “se o discurso for apenas mental, consistirá em pensamentos de que uma coisa será ou não, de que ela foi ou não foi, alternadamente”. Para

A través de esta encuesta fue posible comprender el desconocimiento que existe sobre este tema y lo necesario que es adquirir información para poder aplicarla y conseguir

Feito isso, sobrevieram as respostas solicitadas que, após análise, deram origem a uma nova planilha, para cada unidade do Ministério Público da União e dos Estados, onde

Apesar de todos os estudos incluídos reunirem os critérios de inclusão predefinidos neste trabalho, existem algumas características relativas a qualidade metodológica