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PARECER. 2 A leitura cronológica dos elementos patenteados na ficha com pertinência para o caso revela a existência dos seguintes registos:

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P.º n.º R.P. 258/2009 SJC-CT Prazo de caducidade dos registos provisórios. Contagem do prazo de vigência do registo provisório por natureza de acção previsto no n.º 3 do artigo 92.º do CRP, na redacção anterior às alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho. Inconvertibilidade do registo de acção após o decurso daquele prazo. Anotação da caducidade. Requalificação dos registos dependentes e dos incompatíveis.

PARECER

1 – O presente recurso hierárquico vem interposto contra a decisão da Senhora Adjunta da Conservadora do Registo Predial de… de proceder à requalificação dos registos de arresto e de penhora que tinham sido efectuados como provisórios por natureza nos termos do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do CRP e que, na sequência da conversão da inscrição da acção que ingressou nas tábuas a coberto da ap. …/…/…/…, passaram a ser enquadrados no disposto na alínea a) do n.º 2 do artigo 92.º do citado Código.

2 – A leitura cronológica dos elementos patenteados na ficha com pertinência para o caso revela a existência dos seguintes registos:

Ap…./…/…/… – Aquisição a favor de .... de … e de …, causada por usucapião; Ap…./…/…/… – Hipoteca voluntária – a favor de …;

Ap. …/…/…/… – Afectação ao caucionamento de responsabilidade patronal a favor do … para garantia das pensões que … foi condenado a pagar a …;

Ap. …/…/…/… – Acção – provisória por natureza1 – movida por … e mulher contra … e mulher em que se pede que seja proferida sentença que produza os efeitos da

1 Esta inscrição foi também efectuada como provisória por dúvidas, tendo o respectivo despacho sido proferido em …/…/… e notificado à apresentante por ofício datado de …/…/… A remoção daquelas dúvidas veio a ser obtida em …/…/…

Como é sabido, por um registo ser pedido como provisório por natureza não obstaculiza a que lhe acresçam outras razões para provisoriedade sejam elas igualmente por natureza sejam por dúvidas. Na verdade, sobre o mesmo pedido de registo podem incidir causas de provisoriedade

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declaração negocial a que os réus estão adstritos por contrato promessa de compra e venda celebrado com o Autor;

Ap…./…/…/… – Penhora a favor de …;

Ap. ..../…/…/. – Acção – provisória por natureza (artigo 92.º, n.º 1, alínea a)– instaurada por … e mulher contra os promitentes compradores e os promitentes vendedores em que se pede que se declare nulo o contrato promessa de compra e venda celebrado entre os autores e o réu marido, em …/…/…, e se ordene o cancelamento da insc. F-2 a que corresponde a ap…./…/…/… 2. Pedem ainda, subsidiariamente, que se declare a ineficácia do referido contrato promessa;

Ap. …/…/…/… – Penhora – provisória por natureza – artigo 92.º, n.º 2, alínea b), a favor do …, sendo exequente … e mulher – reprodução da insc. F-8;

Ap. …/…/…/… – Arresto – provisório por natureza – artigo 92.º, n.º 2, alínea b), no qual figuram como requerentes … e … e como requeridos …, viúva, e os demais herdeiros de … – reprodução da insc. F-9;

Ap. …/…/…/… - Penhora – provisória por natureza – 92.º, 2, alínea b) – executados – ... e mulher, sendo exequente o … - reprodução da insc. F-10;

distintas, podendo, então, haver tantos prazos de caducidade quantas as causas que concorram para essa provisoriedade.

Estes prazos, de duração variável, correm paralelamente, sem contudo se confundirem no seu percurso já que gozam de autonomia bastante entre si, muito embora o respectivo registo caduque (artigo 10.º do CRP) logo que se verifique o decurso de um qualquer desses prazos sem que tenha havido conversão do registo ou renovação do seu prazo de vigência, quando esta seja admissível. Veja-se, adrede, o parecer do Conselho Técnico proferido no proc.º R.P.91/99DSJ-CT, in BRN n.º 3/2000, pág. 2 e segs., entre outros.

2 Embora não conste das fichas (nem como histórico) a ap…./…/…/… deu lugar ao registo definitivo da promessa a favor de … e esposa, …, do o mesmo sido cancelado na sequência do pedido apresentado sob o n.º …/…/…/…, com base na decisão judicial que homologou a transacção mediante a qual as partes terminaram o litígio (processo n.º …/…).

Não fosse o caso, o mencionado registo teria de ser rectificado porquanto enfermava de nulidade dado que foi elaborado com base num simples contrato promessa assinado pelas partes que não lhe atribuíram eficácia real nem podiam visto que não o submeteram à indispensável escritura pública (vd. o que prescreve o artigo 413.º do Código Civil). Consequentemente, é manifesto que o facto não estava titulado nos documentos apresentados – cfr. o disposto nos artigos 69.º, n.º 1, alínea b), e, 16.º, alínea b), ambos do CRP.

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Ap. .../…/…/… – Av.– Conversão do arresto em penhora;

Anotação oficiosa efectuada em … respeitante à caducidade da acção ap. …/…/…/…;

Anotação oficiosa efectuada em … a dar sem efeito a anterior anotação de caducidade da acção;

Ap. …/…/…/… – Av.– Conversão do registo da acção em definitivo – ap. …/…/…/…;

Of. … – Requalificado o registo de penhora apresentado sob o n.º .../…/…/… – provisório por natureza – artigo 92.º, n.º 2, alínea a). Titular inscrito:… c.c. …;

Of. … – Requalificado o registo de arresto apresentado sob o n.º ../…/…/… – provisório por natureza – artigo 92.º, n.º 2, alínea a). Titular inscrito: …;

Of. … – Requalificado o registo de conversão do arresto em penhora (ap…./…/…/…) – provisório por natureza nos termos do artigo 92.º, n.º 2, alínea a). Titular inscrito: …

As requalificações referidas foram notificadas aos interessados em 26 de Outubro de 2009.

3 – Os ora recorrentes (requerentes do arresto, posteriormente convertido em penhora) inconformados com a requalificação que recaiu sobre os aludidos registos de arresto e de penhora, vêm deduzir recurso hierárquico aduzindo os fundamentos que aqui se dão por integralmente reproduzidos, sem prejuízo de se extrair a seguinte súmula:

3.1 – A inscrição da acção efectuada como provisória por natureza deve considerar-se caduca porquanto os interessados não pediram a sua renovação dentro do prazo legal.

Como se sabe a intenção e vontade do legislador à data da ap. …/…/…/…, era no sentido de que o prazo de vigência do registo de acção, que era de três anos, pudesse ser renovado, por períodos de igual duração, a pedido dos interessados, caso subsistissem as razões que determinaram a sua provisoriedade.

Ora, não tendo os autores, in casu, providenciado pela renovação da inscrição provisória a mesma caducou após o decurso de três anos sobre a data da apresentação, isto é, em …/…/…

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Mas se assim não se entender, hipótese que só por mera cautela se equaciona, o início do prazo de caducidade terá então ocorrido em …/…/…, ou seja, 15 dias após a data da apresentação do pedido (vd. artigo 75.º do CRP na redacção vigente ao tempo).

O registo presume-se efectuado dentro dos 15 dias seguintes à apresentação pelo que o prazo ter-se-á iniciado em …/…/… e terminado em .../…/…, ou, na pior das hipóteses, em …/…/… data da prolação do despacho de provisoriedade por dúvidas que recaiu também sobre o pedido, sendo que o facto de o registo ter sido também inicialmente qualificado como provisório por dúvidas em nada altera a situação no que concerne ao prazo inerente à provisoriedade por natureza visto que são prazos diferentes e correm autonomamente.

Consequentemente, a anotação da caducidade da acção foi correctamente efectuada ao contrário da sua posterior reposição em vigor razão pela qual deve ser dada sem efeito.

3.2 – Para além da requalificação jurídica dos registos de penhora operada em …/…/. ter sido incorrectamente efectuada, também a conversão do registo de acção, mesmo que fosse admissível, não podia ter sido feita com a amplitude e alcance que foi, uma vez que da respectiva sentença consta expressamente não só que a eficácia do contrato é meramente obrigacional, isto é, só produz efeitos inter partes, como também que os registos efectuados, designadamente os de penhoras, são de manter nos seus precisos termos.

Por conseguinte, em face da decisão judicial proferida a requalificação de tais registos não podia ter ocorrido3.

3.3 – Por outro lado, acresce ainda que a nova redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, ao n.º 3 do artigo 92.º, apenas se aplica aos prazos de caducidade após a sua entrada em vigor e não aos prazos já incólumes ou a correr à data da entrada em vigor do referido diploma.

3.4 – Assim, tendo o despacho de requalificação violado, por erro de subsunção, o disposto nos artigos 92.º, n.º 3, e 101.º, n.ºs 2 e 4, do CRP, e o artigo 329.º do Código Civil, deve o mesmo ser revogado, anotando-se na ficha o cancelamento da inscrição de

3 A argumentação esgrimida pelos recorrentes no que concerne à penhora inscrita a coberto da ap…./…/…/…, que tem como exequente o …, não é aqui apreciada tendo em conta que não lhes assiste qualquer legitimidade para impugnar a decisão de requalificação que sobre a mesma recaiu, independentemente da validade dos argumentos expendidos e da sua aplicabilidade ao mencionado registo.

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acção, visto que efectivamente já tinha caducado pelo decurso do prazo, requalificando-se em requalificando-seguida as inscrições de penhora em vigor – F-9 e F-104 – para definitivas.

Como consequência lógica do exposto, requer que seja concedida procedência ao presente recurso hierárquico.

4 – A recorrida, inabalável na sua convicção, profere despacho de sustentação nos termos e com os fundamentos que aqui se dão por integralmente reproduzidos, dos quais destacamos, em síntese, os seguintes:

4.1 – A inscrição provisória de acção foi apresentada em …/…/… mas segundo presume, tendo em conta a data do lançamento da conta emolumentar correspondente à prática do acto, terá sido efectuada apenas em …/…/…, fora, portanto, do prazo legal.

Assim, em face da redacção actual do n.º 11 do artigo 92.º do CRP e da sua conjugação com o artigo 32.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, e ainda do artigo 279.º do Código Civil, concluiu-se, em processo de rectificação, que a referida inscrição só caducava em …/…/… (Sábado), pelo que a anotação da caducidade da acção foi indevidamente efectuada dando-se, por isso, sem efeito mediante anotação de sinal contrário.

Contudo, esta decisão de rectificação, em face do que prescreve o artigo 131.º do CRP, apenas pode ser impugnada para o tribunal de 1.ª instância competente na área da circunscrição a que pertence a conservatória em que pende o processo. Cita, em abono da sua tese, a doutrina firmada pelo Conselho nos proc.º 30/94 R.P.4 e 136/2004, publicados nos BRN n.ºs 10/97 e 9/2004, respectivamente.

4.2 – Posteriormente, a coberto da ap. …/…/…/… foi pedida a conversão do registo de acção que visava a prolação de sentença que produzisse os efeitos da declaração negocial do promitente vendedor (artigo 830.º, n.º 1, do C. C.), ou seja que visava obter os efeitos do contrato prometido que implicam a transmissão do direito de propriedade (artigo 879.º, alínea a), do C.C.) para o autor da acção.

Da procedência da referida acção resulta a transmissão do direito de propriedade para o autor, motivo que determina a conversão do registo em definitivo com base na respectiva decisão judicial transitada em julgado.

4 O recorrente, certamente por lapso, refere as inscrições F-9 e F-10, mas a inscrição respeitante ao arresto corresponde apenas à reprodução da F-9, sendo que a conversão do arresto em penhora é efectuada por averbamento nos termos prescritos na alínea b) do n.º 2 do artigo 101.º do CRP.

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4.3 – Esta sequência de actos impunha a requalificação dos registos de penhora que tinham sido efectuados como provisórios por natureza nos termos da alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º, em virtude da sua incompatibilidade com o registo de acção agora convertido em definitivo, para a provisoriedade prevista na alínea a) do n.º 2 do citado preceito.

Em face do exposto, mantém na íntegra a decisão de requalificação ora impugnada.

5 – Descrita a dinâmica processual pertinente, e verificando-se que o processo é o próprio, que o recurso foi tempestivamente deduzido e que a respectiva petição se encontra subscrita por pessoa devidamente mandatada para o efeito e inexistindo outras questões prévias ou prejudiciais que obstem à apreciação do mérito, cumpre emitir parecer.

II – Fundamentação

1 – Antes das alterações introduzidas pelo artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, no Código do Registo Predial, o registo de acção era feito com base em certidão de teor do articulado ou em duplicado deste, com nota de entrada na secretaria judicial – artigo 53.º do CRP. Este registo era (e continua a ser) efectuado como provisório por natureza nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 92.º do citado Código.

Como é sabido, o aludido registo tinha o prazo de vigência de três anos, renovável por períodos de igual duração, a pedido dos interessados, mediante a apresentação de documento comprovativo da subsistência da razão da provisoriedade – cfr. o que dispõe o n.º 3 do citado preceito.

Decorrido o prazo inicial sem que fosse pedida a sua conversão ou a renovação daquele prazo a inscrição caducava, devendo tal ocorrência ser reflectida nas tábuas mediante a anotação oficiosa da caducidade nos termos previstos no n.º 4 do artigo 11.º do CRP.

2 – Após as alterações introduzidas no Código do Registo Predial pelo referido Decreto-Lei n.º 116/2008 o regime de caducidade do registo das acções foi modificado deixando o mesmo de estar sujeito a qualquer prazo de caducidade.

Com efeito, por força do prescrito no novo n.º 11 do artigo 92.º do CRP, o registo provisório das acções pedido a partir de 21 (inclusive) de Julho de 2008 mantém-se em vigor, sem qualquer limite temporal, até que seja convertido em definitivo [alínea c) do n.º 2 do artigo 101.º do CRP] ou seja cancelado (n.º 4 do artigo 59.º do CRP).

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Perante o actual regime é imperioso equacionar-se a questão atinente à situação das acções inscritas e vigentes à data de entrada em vigor das referidas alterações legislativas – quid iuris?

O artigo 32.º do citado Decreto-Lei n.º 116/2008 oferece-nos a resposta prescrevendo o seguinte:

«1 – As normas aprovadas pelo presente decreto-lei que alterem prazos previstos no Código do Registo Predial são apenas aplicáveis aos referidos registos ou procedimentos requeridos a partir da data da sua entrada em vigor.

2 – As normas que ampliem prazos de caducidade aplicam-se imediatamente aos prazos em curso.

3 – O disposto no número anterior aplica-se aos registos em que deixe de haver prazo de caducidade».

A entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 116/2008 foi fixada no n.º 1 do artigo 36.º para o dia 21 de Julho de 2008, donde decorre que as acções inscritas como provisórias por natureza nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 92.º do CRP que naquela data – 21 de Julho – ainda se encontrassem em vigor deixaram também de estar sujeitas ao regime de caducidade, por força da excepção consignada no n.º 3 do citado artigo 32.º, que determina que as normas relativas a prazos de caducidade se aplicam aos registos vigentes imediatamente após a sua entrada em vigor5.

2.1 – Sendo assim, o que no caso em apreço temos, em primeiro lugar, de apurar é se o referido registo de acção ainda se encontrava em vigor em 21 de Julho de 2008.

Para o efeito temos de projectar a nossa atenção sobre uma questão básica e incontornável – como se efectua a contagem do prazo de vigência do referido registo já que a lei registal dispondo embora sobre a sua duração (cfr. o que dispõem os artigos 11.º, n.º 3, e 92.º, n.º 3, do CRP) nada dispõe sobre o início do prazo de caducidade?

Na falta de previsão do direito registal relativa ao modo como se efectua a contagem do prazo de vigência dos registos temos, desde logo e linearmente, de nos socorrer do prescrito no artigo 329.º do Código Civil que determina que, se a lei não fixar

5 Como se vê, o legislador muito avisadamente preveniu logo possíveis dificuldades de aplicação da lei no que concerne à alteração dos prazos no âmbito do registo predial mediante a formulação de disposições que apontam claramente qual a lei – a LN ou a LA – que deve ser aplicada.

Veja-se, sobre a aplicação das leis no tempo, BAPTISTA MACHADO, in Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, 2008, págs. 219 e segs.

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outra data, o prazo de caducidade começa a correr no momento em que o direito possa ser legalmente exercido.

Por conseguinte, importa indagar acerca do momento em que existe a possibilidade legal de exercício tal direito6.

É o que veremos a seguir.

2.2 – Temos por indiscutível que a data da apresentação do pedido marca a data dos registos (cfr. o n.º 1 do artigo 77.º do CRP) e que esta tem sobretudo a ver com o princípio da prioridade consagrado no artigo 6.º do CRP, sendo que o registo convertido em definitivo conserva a prioridade que obteve como provisório (é o que os autores costumam chamar «reserva de lugar»)7, permitindo ao seu beneficiário estar ao abrigo de quaisquer contratempos provenientes de eventuais registos posteriores.

Com efeito, a expectativa da conversão do registo sobreleva os interesses daqueles que não tenham registado com anterioridade os seus direitos, garantindo a prevalência do direito que aquele registo se propõe definir a qualquer outro que venha a ser objecto de registo, em momento posterior, sobre o mesmo prédio, como resulta da análise conjugada das normas plasmadas nos artigos 5.º, n.º 1, 6.º, n.ºs 1 e 3, e 7.º, todos do CRP8.

O registo tem, portanto, a data do dia em que é pedido e anotado no Diário, mas este dia não é necessariamente o dia em que foi efectuado. Sendo assim, a data do registo não tem que ver directamente com a caducidade9, que é o prazo dentro do qual o

6 Os prazos dentro dos quais pode ser exercido um direito são fixados também em benefício dos titulares desse direito. O verdadeiro fundamento ou razão de ser da caducidade reside, segundo ensina ANÍBAL DE CASTRO, in A Caducidade – Na doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2.ª

edição, pág. 28 e segs., no interesse público da paz familiar e segurança social da circulação, bem como no interesse da brevidade das relações jurídicas.

7 Cfr., entre outros, OLIVEIRA ASCENSÃO, in Direitos Reais, 1978, pág. 388.

8 Veja-se, neste sentido, o parecer do Conselho proferido no proc. 28/99R.P.4 DSJ-CT, in BRN n.º 8/99, II Caderno, págs. 18 e segs.

9 Esta asserção não deve constituir motivo para surpresa se tivermos em conta que, relativamente a registos definitivos mas com prazos especiais de caducidade, este Conselho no parecer constante do proc.º R.P.66/2001DSJ-CT, in BRN n.º 9/2001, II Caderno, pág. 47 (e mais recentemente no proc.º R.P.282/2008SJC-CT disponível Intranet), defendeu que o prazo de caducidade previsto no n.º 1 do artigo 12.º do CRP só pode começar a correr no momento em que o registo assuma natureza definitiva.

Por conseguinte, quando o registo seja inicialmente lavrado como provisório, o prazo de caducidade do mesmo só começa a correr a partir da data da sua conversão em definitivo

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direito deve ser exercido e que, por isso, só pode começar a correr quando legalmente o direito possa ser exercido10.

Por conseguinte, o direito não pode ser exercido antes da feitura do registo provisório, donde decorre que o prazo de caducidade dos registos é o prazo da sua vigência o qual, repetimos, não pode iniciar-se sem que a respectiva inscrição esteja efectivamente efectuada.

2.2.1 – Neste sentido, da jurisprudência fixada pelo Supremo11 relativa às regras da caducidade dos registos provisórios podemos extrair, com pertinência para o caso, as seguintes ilações:

– a data do registo nada tem a ver com a caducidade, fixando tão só a prioridade do registo;

– a incolumidade dos prazos de caducidade tem de ser integralmente respeitada; e – a elaboração do registo provisório é conditio iuris para que comece a correr o prazo de caducidade, já que é aquela que marca o momento em que o direito pode ser legalmente exercido.

2.2.2 – Por seu turno, a doutrina estabilizada deste Conselho12 (tendo já presente a referida jurisprudência) no que respeita às referidas regras da caducidade vai no sentido que a seguir procuramos sintetizar:

Tratando-se de registo provisório por dúvidas o prazo de caducidade começa a correr a partir da data da notificação do respectivo despacho de qualificação ao interessado – n.º 1 do artigo 71.º do CRP;

Tratando-se de registos provisórios por natureza, com excepção dos casos previstos nas alíneas a), g) e i) do n.º 1 do artigo 92.º do CRP, aquele prazo começa igualmente a correr a partir da data da notificação da qualificação aos interessados – n.º 2 do citado artigo 71.º;

quebrando-se também, para este efeito, a ligação com a data da apresentação do pedido e a conservação da prioridade que tinha como provisório.

10 Cfr. PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, com a colaboração de MANUEL HENRIQUE MESQUITA, in

Código Civil Anotado, I Volume, 2.ª edição, pág. 273, referem que nos casos em que a lei se limite

a fixar um prazo de caducidade sem indicar a data a partir da qual o prazo se conta interessa distinguir entre a constituição ou a existência do direito e a possibilidade legal do seu exercício.

11 Remetemos, para mais desenvolvimentos sobre o ponto, para os acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, de 17 de Abril de 1997 e de 3 de Junho de 2003, o primeiro publicado na CJ/STJ, Tomo II, págs. 50 e segs., e o segundo disponível em www.dgsi.pt.

12 Para mais desenvolvimentos sobre este tema veja-se a doutrina do parecer constante do proc.º R.P.317/2002DSJ-CT, in BRN n.º 4/2004, II, págs. 2 e segs.

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O prazo de caducidade dos registos abrangidos pelas excepções consignadas nas alíneas a), g) e i) do n.º 1, ou, simultaneamente, nos termos das alíneas i), do n.º 1, e b) do n.º 2, do artigo 92.º do CRP, lavrados no prazo legal13, conta-se a partir do 15.º dia posterior à data da apresentação do pedido de registo na Conservatória. Se estes registos forem efectuados fora do prazo legal, o seu prazo de caducidade conta-se a partir da data em que os mesmos forem lavrados, devendo, neste caso, constar do correspondente extracto a menção da data em que efectivamente foram efectuados14.

O caso vertido nos autos revela-se, a contrario, um exemplo paradigmático da grande importância que a inserção da referida menção assume no registo precisamente por dar a conhecer, de imediato e sem margem para dúvidas, a data em que o registo efectivamente caducará se não for tempestivamente convertido em definitivo.

Do iter interpretativo que percorremos resultará, em suma, que a caducidade do registo é o prazo da sua vigência, sendo que este não pode iniciar-se enquanto não for efectuado o respectivo registo, o que se concilia harmoniosamente com o comando ínsito no artigo 329.º do Código Civil quanto ao início do prazo de caducidade.

3 – No que concerne ao prazo de elaboração e à ordem dos registos a lei fixava, ao tempo, que deviam ser efectuados no prazo de 15 dias e pela ordem da sua anotação no Diário, salvo os casos de urgência – cfr. o n.º 1 do artigo 75.º do CRP.

No entanto, a presunção (iuris tantum) de que o registo terá sido elaborado dentro desse prazo legal pode ser elidida mediante a averiguação concreta do dia da feitura desse mesmo registo (designadamente, a partir da data do despacho de qualificação, nos casos em que é devida), quando a menção da data exacta da elaboração do registo não conste, como deve, do respectivo extracto.

No caso vertente a inscrição não publicita tal menção sendo que a data do despacho das dúvidas que também recaiu sobre o pedido de registo da acção tem a data de …/…/…, o que se nos afigura decisivo neste ponto visto que não é concebível que a data da elaboração do registo seja diversa (e posterior) da data da prolação do despacho de qualificação que recaiu sobre o respectivo pedido na sua integralidade.

13 A recente reforma do registo predial buliu também com o prazo legal para a feitura dos registos ficando agora reduzido a 10 dias por força do prescrito no n.º 1 do artigo 75.º do CRP.

14 Actualmente, do disposto na alínea c) do n.º 1 do artigo 93.º do Código do Registo Predial consta que a data em que o registo foi confirmado deve ser mencionada no extracto da respectiva inscrição, revelando-se tal data da maior importância nos casos em que o registo tenha sido efectuado fora do prazo legal, sendo certo que é a partir dessa data que começa a contar o prazo de caducidade dos registos.

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Assim, transposto o excurso para o caso concreto, temos de concluir que o registo, porque efectuado em …/…/…, caducaria em …/…/… pelo que a anotação da caducidade efectuada em …/…/… tinha, na verdade, sido correctamente efectuada.

3.1 – O exame desta problemática não ficaria, porém, esgotado sem uma alusão específica, ainda que breve, à questão relativa à anotação que repôs em vigor a referida inscrição de acção.

Como se sabe, a caducidade dos registos dá-se com o decurso do prazo e deve ser anotada ao registo logo que verificada em cumprimento do disposto no n.º 4 do artigo 11.º do CRP. Daqui decorre que a caducidade opera com o decurso do prazo e não com a anotação dessa circunstância pelo que se for erradamente anotada a caducidade de um registo não é por esse facto que ele caduca. O mesmo se diga, mutatis mutandis, na situação inversa, isto é, a reposição em vigor de uma inscrição cujos efeitos já se extinguiram por caducidade não tem a virtualidade de a fazer renascer.

No que concerne à sua tramitação processual, este Conselho15 defendeu já expressamente que a reposição de uma inscrição em vigor por ter sido indevidamente anotada a sua caducidade não demanda a instauração de qualquer processo de rectificação nos termos dos artigos 120.º e segs. do CRP.

Também o contrário, vale por dizer, a anotação a dar sem efeito essa mesma reposição, por indevida, não tem, por igualdade de razão, que se submeter ao formalismo prescrito no aludido processo de rectificação e, sendo assim, ficará fora do âmbito de aplicação das prescrições de tal regime inclusivamente para efeitos de impugnação.

4 – O thema decidendum demanda ainda a análise do disposto no n.º 11 do artigo 92.º do CRP, na redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, que determina,

inter alia, que as inscrições referidas na alínea a) do n.º 1 do artigo 92.º não estão

sujeitas a qualquer prazo de caducidade.

Esta norma é aplicável imediatamente após a sua entrada em vigor não só a todos os pedidos de registo que sejam apresentados no dia 21 de Julho de 2008 e seguintes como também a todas as acções inscritas e vigentes nesse mesmo dia (que corresponde à data da entrada em vigor do citado Decreto-Lei n.º 116/2008 – cfr. o disposto no n.º 1 do artigo 36.º) atento o que prescreve o n.º 3 do artigo 32.º do mesmo diploma.

15 Cfr. os proc.ºs 75/96R.P.4 e R.P. 28/99DSJ-CT, in BRN n.ºs 11/2000 e 8/99, II, pág. 23, e págs. 2 e segs., respectivamente.

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No entanto, como de resto já salientámos, os efeitos do registo da acção em tabela extinguiram-se por caducidade em ../…/… não lhe aproveitando, por isso, a excepção consignada no citado n.º 3 do artigo 32.º do Decreto-lei n.º 116/2008.

Nestes termos, a anotação da caducidade verificada em …/…/… tinha sido correctamente anotada impondo-se, de imediato, que a senhora conservadora diligencie pela promoção do processo de rectificação da conversão da inscrição em causa.

Sublinhamos, contudo, que em face da situação reflectida nas tábuas, que nos revela que a inscrição acção foi convertida em definitivo, a requalificação dos registos dependentes ou incompatíveis efectuados em momento posterior ao do registo da acção tornou-se num imperativo legal – cfr. o disposto nos n.os 6 e 7 do artigo 92.º do CRP, sendo que a situação só pode ser alterada no âmbito do aludido processo de rectificação.

5 – Finalmente, e apesar da decisão judicial no que concerne à manutenção dos registos de penhora ficar prejudicada com o desfecho que preconizamos, não podemos deixar de tecer alguns considerandos a esse propósito tendo em conta a argumentação esgrimida pelos recorrentes.

Como se sabe, o registo de conversão das acções [artigo 101.º, n.º 2, alínea c)], determina que se proceda oficiosamente à conversão das inscrições dependentes e à anotação da caducidade das inscrições incompatíveis, salvo se outra for a consequência da requalificação desta, como hoje decorre do disposto no n.º 7 do citado artigo 92.º do CRP.

Como é bom de ver o registo de cancelamento nas situações previstas no n.º 4 do artigo 59.º do CRP e a anotação da caducidade do registo desencadeiam as operações inversas, vale por dizer, determinam a conversão oficiosa das inscrições incompatíveis e a anotação da caducidade das inscrições dependentes – n.º 8 do artigo 92.º do CRP.

No caso em apreço nos autos, o juiz (e não queremos nem podemos discutir o mérito) declarou transmitido o direito de propriedade a favor dos autores determinando também a salvaguarda dos ónus e encargos registados nos seus precisos termos.

Refere concretamente que sobre o prédio … se mostram «registados diversos ónus, designadamente penhoras cuja validade se manterá e não ficará afectada pela sua aquisição pelos autores através da presente sentença, na medida em que o contrato promessa que estes celebraram tem eficácia meramente obrigacional e aqueles ónus mostram-se registados sobre o prédio a transmitir».

Parece-nos, assim, que da interpretação do decidido se pode deduzir que ao conservador está vedada, in casu, a possibilidade de praticar qualquer acto de registo conducente à remoção dos ditos registos das tábuas pela singela razão de não ter sido

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ordenado o seu cancelamento, mas não é licito extrair daí que lhe esteja vedada a possibilidade de proceder à requalificação desses mesmos registos nos termos que se encontram fixados na lei.

Os registos efectuados na pendência da acção e que com ela sejam incompatíveis ou dependentes devem ser lavrados como provisórios por natureza nos termos da alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do CRP e posteriormente requalificados em conformidade com a estatuição legal pertinente.

Aplicando-se literalmente o decidido, como pretendem os recorrentes, deparávamos com uma situação, no mínimo, contraditória. Por um lado, o registo da acção já se encontrava convertido em definitivo por o pedido ter sido julgado procedente mas, por outro, os registos efectuados como provisórios por natureza continuavam «suspensos» como que a aguardar uma decisão final que já tinha sido proferida e ingressado nas tábuas.

Não cremos, assim, que fosse intenção do juiz interferir com a normal requalificação dos actos de registo prevista na parte final do n.º 7 do artigo 92.º do CRP, que como é sabido incumbe exclusivamente ao conservador16.

6 – Como corolário lógico de todo o exposto, parece-nos de concluir que o presente recurso hierárquico não merece provimento.

Em consonância com o que precede, firmamos as seguintes

Conclusões

I – A lei registral estabelece prazos de caducidade dos registos mas não indica a data a partir da qual se faz a sua contagem, devendo, portanto, aplicar-se-lhe as regras gerais de direito.

II – O prazo de caducidade dos registos provisórios por dúvidas, e dos provisórios por natureza que devam ser notificados aos interessados, conta-se a partir da data da notificação ao apresentante de harmonia com o previsto no artigo 71.º do Código do Registo Predial.

16 A jurisprudência do Supremo vai no sentido de que o juiz não pode ordenar ao conservador que proceda à elaboração de registos. Do acórdão proferido em 28 de Outubro de 1999, publicado no BMJ n.º 490, págs. 294 e segs., transcrevemos, por expressivo, o seguinte excerto: «A Administração e tribunais são entidades independentes. Não dão nem recebem ordens entre si».

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III – O prazo de caducidade dos registos provisórios por natureza que não sejam notificados aos interessados por força da excepção consignada na primeira parte do n.º 2 do artigo 71.º do Código do Registo Predial, conta-se a partir do prazo legal para a sua elaboração, ou, sendo efectuados fora do prazo legal, da data em que efectivamente tenham sido efectuados.

IV – Assim, no direito pregresso, o prazo de caducidade dos registos provisórios de acção efectuados fora do prazo legal começava a correr a partir da data em que tivessem sido efectivamente lavrados, que é o momento a partir do qual, de acordo com o prescrito no artigo 329.º do Código Civil, o direito podia legalmente ser exercido.

V – Nestes termos, o registo provisório de acção anotado no Diário em 9 de Junho de 2005 e efectuado em 14 de Julho de 2005 caduca no dia 14 de Julho de 2008, salvo se for convertido em definitivo ou se os interessados pedirem a renovação do seu prazo de vigência, mediante documento que comprove a subsistência da razão da provisoriedade, nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 92.º do Código do Registo Predial na versão anterior à reforma do registo predial concretizada com a publicação do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho.

VI – Não tendo sido pedida a conversão nem a renovação do prazo de vigência do registo de tal acção os seus efeitos extinguiram-se por caducidade em data anterior à da entrada em vigor das alterações levadas a efeito pelo Decreto-Lei n.º 116/2008.

VII – Consequentemente, a referida caducidade do registo de acção determina a conversão oficiosa das inscrições incompatíveis e a anotação da caducidade das inscrições dependentes por força do preceituado no n.º 6 do artigo 92.º do Código do Registo Predial.

VIII – Actualmente, as inscrições provisórias de acção não estão sujeitas a qualquer prazo de caducidade por força do prescrito no n.º 11 do artigo 92.º do citado Código.

IX – As inscrições provisórias de acção vigentes ao tempo da entrada em vigor do citado Decreto-Lei n.º 116/2008 deixaram, igualmente, de estar

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sujeitas a qualquer prazo de caducidade em face da excepção consignada no n.º 3 do artigo 32.º do citado diploma.

Lisboa, 25 de Fevereiro de 2010.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 25 de Fevereiro de 2010. Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora, António Manuel Fernandes Lopes, João Guimarães Gomes Bastos, Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, Luís Manuel Nunes Martins, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, José Ascenso Nunes da Maia.

Referências

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