O cortiço
Nasceu em São Luís (MA),em 1857, filho do vice-cônsul português e faleceu em Buenos Aires, em 1913.
Foi escritor, pintor desenhista e
O crítico Valentim Magalhães assinala que Aluísio talvez tenha sido o único escritor
brasileiro a ganhar o pão com seu
trabalho. Mas só o pão, sem manteiga... Destacou-se como caricaturista. Em São Luís, escreve para a imprensa
oposicionista criticando políticos locais, o clero e os conservadores.
Segundo Alfredo Bosi, Aluísio Azevedo “trata-se de um caso raro e precoce de profissionalização literária.”
Vive mal. Apesar da ampla produção. É
aprovado para cargo diplomático em 1895 e abandona a literatura.
Principais obras literárias
1880 – Uma lágrima de mulher 1881 – O mulato 1884 – Casa de pensão 1890 – O cortiçoO naturalismo
Apogeu da revolução industrial do séc. XIX – mudanças radicais no pensamento do homem.
Cientificismo.
Materialismo, oposição ao espiritualismo e exploração de doutrinas
científico-filosóficas, baseadas na ciência, no progresso e na razão.
Positivismo (Augusto Comte).
Evolucionismo (Charles Darwin).
Determinismo(Taine:meio/momento/raça). Socialismo (Marx).
Influência de Eça de Queirós e Émile Zola (caricaturas, tipos, ausência de drama
moral).
Características do romance
naturalista de Aluísio Azevedo
Obra heterogênea, com alguns caracteres românticos.
Romance social, dá vida aos
agrupamentos humanos, habitações coletivas onde as personagens vão se degradando.
Capta o comportamento das multidões, suas paixões, costumes, destinos.
A análise social das personagens
obedece a um pessimismo que julga o homem destinado à dor por ser
degenerado, sem fibra.
Como em toda obra naturalista, o tempo presente é que importa para fazer a
Temática: as patologias sociais, as taras, os vícios humanos e os impulsos sexuais irreprimíveis.
Segundo Alfredo Bosi, em O Cortiço, Aluísio atinou com uma fórmula que se ajustava com seu talento, desistindo de
montar um enredo em função de pessoas, atendo-se a cenas coletivas e tipos
psicologicamente primários, que fazem o conjunto do cortiço a personagem mais convincente de nosso romance
No século XIX, os cortiços eram galpões de madeira habitados por trabalhadores
não-qualificados. Esses galpões eram subdivididos internamente. O proprietário era geralmente português, dono de armazém próximo. Mas havia outros interessados: o Conde D'Eu, marido da princesa Isabel, foi dono de um imenso cortiço, o "Cabeça-de-porco", onde viviam mais de 4 mil pessoas.
O Cortiço é descrito com ambiente e os
caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção
crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço:
"Sentia-se naquela fermentação
sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra, ...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a
esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."
Características
Romance social: o Cortiço, mais do que espaço, pode ser comparado a uma personagem, é
gerador de tudo e feito à imagem de seu proprietário.
Crítica ao capitalismo selvagem: tema da
ambição e exploração do homem pelo próprio homem.
Inovação: o proletariado passa a ser retratado na literatura.
Exploradores (João Romão, Miranda) X
João Romão aspira à riqueza e Miranda à nobreza.
Zoomorfismo: redução das criaturas ao nível animal:
“Leandra...a Machona; portuguesa feroz,
berradoura, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo”...
Força do sexo: é mais degradante que a
ambição e a cobiça. Daí a busca de quase todas as formas de patologia social, desde a
degradação das relações matrimoniais até adultério, prostituição, lesbianismo etc.
A visão determinista faz com que o destino das personagens seja cíclico e previsível. Exemplo: João Romão se assemelhará a Miranda,
Senhorinha (filha de Jerônimo) deverá ter o mesmo destino de Pombinha.
Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie.
"A cadeia continuava e continuaria
interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina
23 capítulos. Enredo revolucionário, organização textual conservadora. O autor é no registro das ações coletivas e na seleção do
pormenor e do detalhe típico.
Linguagem: plurivalência de nacionalidades. Tempo: pela presença da escrava, antes de 1888 Espaço: Rio de Janeiro, Botafogo.
Espaço Social:
horizontal: o Cortiço, onde vivem os marginalizados.
vertical: o Sobrado, onde moram os de melhor condição social e econômica.
Foco narrativo: 3ª pessoa (objetividade),
narrador onisciente, que, por vezes, emite juízo sobre ações ou comportamento das
personagens, como se observa no comentário abaixo sobre a ganância de João Romão:
“Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de
João Romão: português ambicioso,
avarento, dono e explorador do cortiço. E
seu tipo baixote, socado, de cabelos à
escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos,
aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.
...possuindo-se de tal delírio de
enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o
balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.
Romão usa as forças do meio, mas não se submete a elas. Num primeiro
momento, ele não se distingue da escrava Bertoleza, seja nos costumes diários, seja no trabalho duro e feroz, parecendo que vai sucumbir ao mundo promíscuo do
cortiço que ele mesmo criou e que explora.
Contudo, ele é se opõe a Jerônimo, o português dominado pela realidade
brasileira. João Romão escapa de
qualquer integração com a sensualidade e a desordem do ambiente, sob pena de
perder a chance da ascensão econômica.. Explorar o natural da terra é o seu único objetivo. Para isso agirá cada vez com maior ferocidade e ausência de
Bertoleza: crioula trintona, escrava de um velho cego, amancebada com um
português. Após a morte dele, amasia-se com João Romão.
Miranda: português bem sucedido no comércio, dono do sobrado. Iniciou a carreira com o dote da mulher, Estela.
Estela: mulher de Miranda, adúltera, pretensiosa, com fumaças de nobreza.
Zulmirinha: filha de Miranda, desprezada pela mãe, que a considerava filha de Miranda e
detestada por ele, convencido de que não era o pai.
Jerônimo: português, forte, trabalhador, vai morar no cortiço, onde se degrada,
abrasileirando-se. Abandona a família para
amasiar-se com Rita Baiana, cujo amante Firmo assassina friamente a pauladas.
Rita Baiana: mulata faceira, carismática, livre, dançarina, não quer se casar. Para Jerônimo, condensa todo o mistério , as cores, os sabores, os cheiros, a
"Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui. ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas de fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras, era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso, era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; e/a era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, e muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe
Piedade: portuguesa, trabalhadora, esposa devotada, é abandonada por Jerônimo e entrega-se ao alcoolismo
Pombinha: a flor do cortiço, jovem doce, letrada, com chances de sair do cortiço após o casamento. É seduzida pela
madrinha e prostituta Leóni, com quem mantém um relacionamento.
A homossexualidade na obra
No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A
questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal,
patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios.
Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho,
havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal,
patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder,
culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo
Leónie subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor:
Leónie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um
Condições da mulher
Objeto: Bertoleza e Piedade
Objeto e sujeito: Rita Baiana e Estela Sujeito: Leónie e Pombinha