E
G
GA
PISCATÓRIA,
CANTO
líKJS
PESCADORES
<
D O
X.í^
E-tP
PBSGÁLIO
,MARINO
,dLCAM.
>
\y
Pd?P
LISBOA
NA
OFFICINA
DE
ANTÓNIO
GOMES.
AnNO M. DCC. CXI.Cbm licença da Real Meza da Commtífaõ Geral fobri
( 3 )
E
GLO
G
A
PISCATÓRIA.
PESCALIO,
M
ARINO
,he
tempo
já de hirmos alçandoK
pezada fateixa , e as brancas vellasRirmos das pardas cordas dezatando. á
do
Ceo
dezertarao as Eílrellas, Vias tremólaõ as ondas j pulao vivasVs bogas cor de prata á tona delias.
Síao feráo hoje as oras tao efquivas,
^e
colhamos
a rede apanhadora,Coda
prenhe de pedras fó nocivas, impurra tu aLancha
para fora;
^e
eu dehuma
, e outra banda oleme
engafto,A-<4)
Ajuda
tu 5 Alcaô :Carrega
agora.já lhe podes metter o
leme
gafto:
Vamos
falndo, e láem
mais alturaAccenderemos
fogo ao pédo
mafto.Que
manhã
taõ gentil!Tao
frefca , e pura1.Ah
!Em
quantonaô
fomos
fobre a cofta,
Vejamos
quem
melhor no
canto atura.MARINO.
Pelo teu gofto eftou ,
mas fem
apofta;
Canta
tu láconforme
o teu dezejo ,Que
eu íó canto dequem
minha
alma gofta.ALÇAM.
.,^Pois cantem
ambos
,que
eu a efcota rejo.I.
MARINO,
Inda que cu fobre as ondas fui creadv.
Qiie do fruto das ondas
me
fuftentoj Sufpiro pelocampo
apaixonadoQual
noíTaembarcação
pelobom
vento :Só
fobre ocampo
verde, e matizadoCom
alegri^.os olhos apafcento:
Só
fobre elle heque
eu vi o rofto. bello,De
Filiz yporquem
tantome
difvello.IL
P
ESC
ALIO.
Eu
do
campo
nao
quero as alegrias:Nao
quero as faces ver deneve pura.
Só
quero ver das noílasmargens
frias .As
almas todas cheias de candura:!:^ -^f; ^0:1''^Saó
melhoresno
mar
as calmarias ; Qiie as virações rizonhas na efpelTura:
Mais
que
oXerne,
ou Corvina
á molle Arraia,
Excede
em
tudo aocampo
a noíTa praia.líl.
MARINO.
Apafcentar
n'hum
dia de defeiteOs
olhos porhum
prado verdejante •Ver
mulgirno
aarral o branco leite ,Dentro do
groíTo tarrofumegante
:A
grinalda purpúrea , e alvejante ;Nada,
nadaproduz
tamanho
gofto ,Como
de Filiz ver o bello roílo.IV.
P
ESC
ALIO.
Undilia , a
minha
Undiliahe
maisformoza
,Qiie a
Lua,
e os Salmonetes encarnados'•A
viração travefla, e preguiçozaVence
no
doce rizo , e nos agrados:
Por
fua trança de oiro buUiçozaSe
içaô loucos dezejosnamorados
;Mas
Undilia taomeiga
como
altiva,Só
tem
hum
Pefcador j e os mais efquiva.V.
MARINO.
Quando
Filiz dezata avoz
do peitoAo
tom
de íua lyra torneada,Se
obfervao
Cordeirinho fatisfeitoCo
a relva fobre a boca pendurada:O
negrume
do
Ceo
foge desfeito:
"^
Per-(
7
)Perde
o Sul a braveza de nodada.Que
fentirá por ellaquem
a adoraCom
todo o exceíTo d'alma , auzente a chora?VI.
PESCALIO.
Huma
manhã
,que o
vento furiozoAs
Lanchas
todas deftroçar queriajQue
o trovão rebentando eftrepitozo,
As
mefmas
rochas abalar fazia;N'hum
canto rogativo 5 e ferverozoRompeo
Undilia a fanta melodia*Eis
que morre
o temporal taõ carrancudo :Moftra-fe o
Çeo
rizonho , o ventomudo.
VIL
MARINO.
Se
eufem
lezao das pedras para foraArranco
os caranguejos efquinados:
Se
encho
de mixilhoes a qualquer oraFundos
ceftos devime
acugulados:
He
fóporque
me
lembro
, alva Paítora ,. (
n
Do
influxo de teus dons acryzolados.Sobre
mim
ellespodem
mais por certo, Qiie as Eftrellasdo
Olympo
defcoberto.VIÍI.
PESCALIO,
Se
fendo Arrais daLancha,
eu agoverno
Sem
perigo das ondas efpumantes:Se
eu tantono
Verão
,como
no
InvernoAdvinho
as tempeftades innundantes:
Tudo
devo
ao poder invi6lòv-'é- ternoDe
teus volúveis olhos faifcantes.Por
teus olhos , e facepudibunda
Se
adorna o dia,o
campo
fe fecunda»DC.
MARINO.
He
talminha
paixão , emeu
extremoPor
tuavoz,
e angélico femblante.Que
na auzencia de ti ás vezestemo
Cahir
dentro nas agoas delirante..
(9)
.Sobre o
Ceo
fito os olhos palpitante:A
péfcame
enfaftia, e aos outros rogo ,Que
bufcamosfem
maiso
porto logo.X.
PESCALIO.
He
talo
meu
amor o
meu
dezejoPor
teu rofto,oh
Undilia appetecida,
Que
fe ao levardo
Cais eu tenaò
vejo,
Me
agoiro íortemá
na nolTa lida.Sem
alguma
efperança arrojo aoTejo
Apoz
huma
outra rede entertecida.Sem
fé as dezenvolvo ,porque
caiaO
pobre
,ou
rico lanço fobie a praia.XI.
MARINO.
0«
donsdo
noíTo trafego , Paftora,
Nao
fao dignos da tua gentileza;
Por
iíTo de te darnao
ouzo
agoraQuantos
daminha
contaforem
preza.Como
vivesno
campo
, os dons de Flora(
10^
Para ti fó efcolho por fineza,Nao
te darei maryícos , Peixes muitos'Más
ricos ramalhetes ^ ricos fruitos. :>'XIL
P
ESC
ALIO.
OíFertar-te
nao
poflb os brandos véllosjOs
Cabritinhos tenros ^ e balantes ;Nem
os frutos rozados, e amarellos.Os
roxos cravos 5 os jafmins fragantes:Mas
poíTo-te oíFertar os peixes bellos,
Os
Camarões
;, e as oítras gotejantes.Os
recôncavos búzios gritadores,
As
conchinhasque
brotao refplendoresrXIII.
MARINO.
Aviza-me
,oh
Paftoramoça,
e bella,Quando
a tua lavoira principia;Quando
a efpiga desfolhasamafelk,
Quando
cuidas na crefta, e na tofquiajQue
eii hirei ajudar-te a toda ellaSem
maispremio
,que
a tua companhia.Correfponde-me^
, qual te eumereço
,
Que
eudo
bareo , e de tudome
defpeço.t
^
^^y
..XIV.
PESCJLIO.
t^-*'
Vem
ver, loira Undilia,Mai
das graças, Pular na área os peixes nadadores:
Comigo
defprender as verdes naças;
Puxar
pelos anzoes enganadores:Vem
alegre,naó
fejao taó efcaçasTuas
feições c'os pobres Pefcadores.Tú
mefma
tirarás daquellas grutas,
Hum
ceílinho de amêijoasbem
emxutiís.MARINO.
Todo
abforto deamor
fincero, e grato ,Por,
meu
Bem
tao honeíto , e perigrino,Eu
juro fazer troc^ deíle trato Pelo trato Serrano , eCampuzino.
Antes
vivercom
Filiz fón'hum
mato,
.(12)
Que
com
muitasno
trafego marino.Antes
de Filizhuma
graça pura yQue
das bordasdomar
toda a ternura.XVI.
PESCALIO.
Amar
fempre
efta vida PifcatoriaPor
ti 5oh
meiga
Undilia, eu firme juro.Só
c'o teunome
impreílb namemoria
O
norte creftadorfem
damno
aturo.Cantando
encho
os Triíl6es de aíTombro, e gloriaEm
quanto corto omar
c'oremo
duro.E
aíTim ( fabe oCeo!
) talveznao
fora^Se
amara
láno campo
huma
Paftòra.XVIL
jíLCJM.
Tendes ambos
deamor mui
bem
cantado:
Mas
vamos
o aparelho já difpondo.De
forteque
fiquemospouco
a nado.Eu
daqui c'o efta vara a rocha fondo:Nelle o
peixe fc acolhecom
o frio;Ar-(^3)
Armemos-lhc
hum
trefmalho de redondo.Nefte
cantoo
bom
Sável ,o
Safio,
O
gordo
Xerne
abunda de
maneira ,Que
ámão
mefmo
feapanhaõ
,muito
a fio ^O
ponto
he,
que
ajudar-noso
Cco
queira»í .» r.' <-! ^' i^^.•.fF.ff'r
i
PLEASE
DO
NOT
REMOVE CARDSOR
SLIPSFROM
THIS POCKETUNIVERSITY OF