AVALIAÇÃO DOS EMPRESÁRIOS DE
VAREJO E SERVIÇOS SOBRE O
1
0
SEMESTRE E EXPECTATIVAS PARA
O 2
0
SEMESTRE DE 2017
Em meio a um turbilhão de más notícias, começam a despontar alguns números melhores na economia: os setores de comércio e serviços deram mostras de estabilização; as vendas de automóveis tiveram um resultado positivo no primeiro trimestre; as taxas de juros caíram e, tudo indica, seguirão em queda. Entre os especialistas, há quem veja nesses dados conjunturais o começo do fim da longa crise. Outros, mais cautelosos, preferem esperar.
Em que ponto da crise estamos, afinal? E, mais importante, para onde vamos? O presente estudo, conduzido pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), ouviu empresários varejistas e prestadores de serviços sobre o balanço que fazem do primeiro semestre e sobre as expectativas para o segundo semestre, considerando, em ambos os casos, a perspectiva da empresa e da economia de maneira geral. Os resultados mostram que, ao longo do primeiro semestre, a maioria não se apercebeu dos
sinais de melhora na economia, embora um percentual considerável tenha julgado que a primeira metade do ano foi melhor do que o ano anterior. Quando o assunto é o futuro da economia, a divisão dos empresários é clara. Praticamente a metade dos que se posicionaram acredita que a economia crescerá ainda este ano; a outra metade descarta a possibilidade.
O momento do país ainda é delicado e contrapõe, de um lado, a estabilização de alguns setores e, de outro, um impasse que sugere nova crise política. Não é tarefa fácil prever qual será a resultante das duas forças, que atuam em sentidos contrários. Mas é sempre útil o esforço de sondar a percepção do varejo e setor de Serviços, que estão em contato direto com o consumidor final. O fato de boa parte enxergar a possibilidade de crescimento econômico ainda neste ano, por exemplo, não deixa de ser um bom indicativo, desde que ressalvados os riscos de contaminação do cenário econômico pelo cenário político.
O primeiro semestre de 2017 não deixa boas lembranças a empresários de varejo e serviços. Isso equivale a dizer que a melhora de alguns indicadores ainda não repercutiu, ao menos de modo sensível, no dia a dia do empresário. De acordo com a pesquisa, apenas 20,4% dos empresários sondados perceberam alguma melhora na economia, comparando o primeiro semestre de 2017 com o ano anterior. A maioria (40,4%) julgou que os seis primeiros meses de 2017 foram piores, enquanto 36,5% consideraram que não houve piora nem melhora.
Ao analisar o desempenho do próprio negócio, e não mais da economia, os resultados apontam quase a mesma direção: apenas 21,5% consideraram que houve melhora no desempenho de seus negócios, na comparação com 2016, enquanto 42,6% notaram que não houve piora nem melhora, e praticamente um terço (33,5%) notaram que houve piora.
A piora dos negócios no primeiro semestre de 2017 fica mais explicita na queda das vendas: entre os empresários que relataram a piora da performance
O PRIMEIRO SEMESTRE DE 2017
PARA 33% DOS EMPRESÁRIOS, A SITUAÇÃO
FINANCEIRA DA EMPRESA PIOROU NO PRIMEIRO
SEMESTRE; PRINCIPAL MOTIVO FOI A QUEDA DAS
VENDAS
da sua empresa, 62,5% disseram que a razão foram os maus resultados de vendas. O aumento dos custos também pesou nessa percepção, sendo mencionado por 29,1%. Além desses, 16,7% lembraram o aumento da concorrência, 12,0% citaram aumento da inadimplência dos clientes e 8,4% falaram do aumento das próprias dívidas.
Em meio a restrições impostas pelo momento atual, 27,3% dos empresários disseram ter ficado muitos meses com as contas no vermelho e 24,2% não conseguiram
pagar as contas em dia. Para 11,2%, a consequência dos atrasos foi a negativação do CNPJ da empresa. Ao longo do primeiro semestre, 76,3% não conseguiram fazer reserva financeira e 76,2% não conseguiram aumentar o capital de giro. Também merece destaque o fato de que 81,8% não conseguiram aumentar o tamanho da empresa ou realizar algum investimento no negócio. Ao longo do primeiro semestre, a grande maioria empresários ouvidos disse ter pagado as contas em dia (75,8%). Ainda assim, no momento da pesquisa, houve quem relatasse algumas contas em atraso (24,2%). No caso dos tributos, 8,9% da amostra disseram estar com pagamentos pendentes. Em seguida, aparecem as contas com bancos e outras instituições financeiras (6,9%), conta de luz (6,8%), contas com fornecedores (6,4%) e cheque especial (5,0%).
Quatro em cada dez empresários sondados (42,8%) relataram cortes e ajustes no orçamento da empresa no primeiro semestre de 2017, ante 53,2% que disseram não ter feito. O principal corte foi no quadro de funcionários, lembrado por 44,0% dos que promoveram ajustes. Surgem em seguida os cortes nas contas de telefone (30,1%), nas contas de água e luz (23,6%), itens de higiene e limpeza (13,6%) e viagens (13,6%), entre outros.
43%
RELATARAM CORTES E AJUSTES
NO ORÇAMENTO DA EMPRESA
NO PRIMEIRO SEMESTRE DE
2017.
CORTES E/OU REDUÇÃO DE GASTOS NO ORÇAMENTO
NO 1º SEMESTRE DE 2017
Funcionários Conta de telefone fixo e/ou celular Conta Luz, água Itens de higiene e limpeza Viagens Subsidio para almoço/lanches dos colaboradores Financiamento de cursos para funcionários Outros
Entre os que fizeram a redução do quadro de funcionários, o número médio de demissões foi de 2,0. Para compensar a falta desses colaboradores, 30,3% redistribuíram as atividades entre os outros membros da equipe, 18,7% disseram não ter alterado a forma de trabalho e 15,5% disseram que não foi preciso redistribuir, já que a demanda caiu. Além desses, 12,9% alegaram que assumiram as atividades.
Fazendo um balanço dos planos para o primeiro semestre de 2017, 36,6% dos entrevistados disseram que conseguiram tirar do papel aquilo que haviam traçado, sendo que 17,2% realizaram de forma completa e 19,5% realizaram apenas parcialmente. Mas também houve frustrações: 28,6% disseram não ter realizado seus planos, adiando-os para o segundo semestre (10,1%) ou por um tempo indeterminado (18,5%). 27,9% responderam ainda que não fizeram planos para os primeiros meses de 2017. Entre os planos que foram colocados de lado, destacam-se o aumento das vendas, mencionado por 30,1%; a realização de uma grande reforma (22,0%); a compra de equipamentos (16,5%); o pagamento de dívidas (15,9%): e a ampliação da equipe de funcionários (15,9%).
37%
DISSERAM QUE CONSEGUIRAM
TIRAR DO PAPEL AQUILO QUE
HAVIAM TRAÇADO.
29 % ADIARAM PARA O
SEGUNDO SEMESTRE.
44%
30%
24%
14%
14%
12%
5%
28%
Os principais motivos que impediram a realização dos planos foram a falta de recursos financeiros próprios (29,1%); o aperto financeiro (22,0%); a insegurança, isto é, o medo de incorrer em dívidas e não poder pagar (20,5%); e a percepção de que os preços aumentaram (15,9%), entre outros.
Apesar de toda a incerteza que paira sobre o cenário político, a maior parte dos empresários sondados acredita que o segundo semestre será melhor do que o primeiro para a economia do país. A opinião é compartilhada por 43,3% da amostra. Também há os que acreditam que será igual ao primeiro semestre (37,6%) e os que acreditam que será pior (7,8%). Entre esses últimos, que esperam a piora, 26,6% acreditam que será mais difícil manter as contas em dia; 21,9% acreditam que irão reduzir o estoque de produtos e 21,9% preveem dificuldades para fazer reserva financeira ou capital de giro.
Um semestre melhor não significa, necessariamente, que haverá crescimento da economia. Entre os especialistas, há quem trabalhe com a expectativa de avanço do PIB em 2017 e, mais precisamente, no segundo semestre. Essa percepção, no entanto, divide os empresários de varejo e serviços: 39,2% acreditam, sim, que o país crescerá nos próximos meses, enquanto praticamente o mesmo percentual (39,1%) não enxergam essa possibilidade. Além desses, 21,8% disseram não saber avaliar.
O SEGUNDO SEMESTRE DE 2017
OTIMISMO: MAIOR PARTE DOS EMPRESÁRIOS
ACREDITAM QUE 2
O
SEMESTRE SERÁ MELHOR
PLANOS DA EMPRESA PARA O 2º SEMESTRE DE 2017
Pensando no desempenho da própria empresa, e nãomais da economia como um todo, o percentual de otimistas aumenta: nesse quesito, 55,8% disseram que o segundo semestre será melhor do que o primeiro, enquanto 31,0% disseram que será igual o primeiro e 6,0% avaliaram que será pior. As perspectivas para as vendas pendem igualmente para o otimismo: 47,2% disseram acreditar que o volume de vendas será maior no segundo semestre, na comparação com o primeiro. 35,6% acreditam que será igual, ao passo que 6,0% acreditam que será menor.
As perspectivas um pouco melhores para os negócios levam alguns empresários a traçarem planos para o segundo semestre. Pouco mais da metade da amostra (51,5%) descarta ter algum plano, mas o restante aponta ao menos uma meta. 15,9% dos empresários falaram até em ampliar o seu negócio, enquanto 15,5% mencionaram o lançamento de novos produtos. Além desses, 8,5% relataram que planejam sair do vermelho, pagando as contas pendentes.
56%
DISSERAM QUE O SEGUNDO
SEMESTRE SERÁ MELHOR
DO QUE O PRIMEIRO
E 47% ACREDITAM QUE
O VOLUME DE VENDAS
SERÁ MAIOR.
Não tenho um projeto específico, tenho a esperança de que boas coisas me acontecerão
Ampliar o negócio Lançar novos produtos/serviços Sair do vermelho, pagar todas as contas vencidas
que estão pendentes Começar a fazer vendas pela internet Comprar ou trocar o carro da empresa Vender para outras cidades Vender fora do Brasil Outros
52%
16%
16%
9%
6%
3%
3%
8%
1%
(88,5%) pretende contratar os próximos funcionários com salários que já costuma pagar para a função. 6,4% deverão contratar abaixo do que a empresa contratava para a função e 3,8%, acima do que contratava.
84%
NÃO PRETENDE DEMITIR
MAIS EMPREGADOS E 72%
NÃO PRETENDE FAZER
CONTRATAÇÕES.
Independentemente dos rumos que a economia venha a tomar, os entrevistados pensam em medidas para enfrentar o quadro de crise. Comprar à vista é a principal medida, citada por 16,8%. Os empresários também mencionam as pesquisas de preço (14,0%); a formação de reserva financeira (12,9%); as negociações na hora da compra (12,4%) e o investimento em novos produtos e serviços para aumentar a clientela (12,4%). No cenário que traçam para o segundo semestre, a grande maioria dos varejistas e prestadores de serviços (84,1%) não pretende demitir mais empregados. Só 5,8% trabalham com essa hipótese, além dos 10,2% que disseram não saber. Mas, se não pretendem demitir, esses empresários também não pretendem fazer contratações, conforme respondem 72,1%. Somente 9,5% manifestaram essa intenção.
Entre os que pretendem contratar, 76,9% farão contratações formais, enquanto 12,8% recorrerão a contratações informais, e apenas 1,3% buscarão funcionários terceirizados. Além disso, a maioria
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: o quadro da avaliação que os empresários fazem do primeiro semestre de 2017 mostra que maioria relativa ainda enxerga piora da economia. O restante, porém, vê estabilidade ou melhora na comparação com o turbulento ano de 2016. E o que mostram os indicadores econômicos? Os dados mais recentes sobre o desempenho da economia estão no Índice de Atividade Econômica do Banco Central - Brasil (IBC-Br). Esse indicador busca antecipar o resultado do PIB, que só é divulgado trimestralmente. Em maio de 2017, o IBC-Br registrou uma queda de 0,51% na comparação mensal, isto é, ante o mês anterior. O número ficou abaixo do que as projeções apontavam.
Mas a comparação mensal não conta tudo a respeito deste início do ano. No acumulado do ano, ou seja, na comparação entre os cinco primeiros meses de 2017
e os cinco primeiros meses de 2016, o índice apontou queda de 0,10%. Apesar de o número ainda mostrar-se negativo, se economia mantiver esse ritmo, registrará em 2017 um resultado perto da estabilidade. Convém resgatar também os dados oficiais referentes ao PIB, divulgados pelo IBGE. No primeiro trimestre de 2017, a economia registrou um avanço de 1,0% na comparação com o trimestre imediatamente anterior.
Não se espera que o ritmo do primeiro trimestre se mantenha no restante do ano. Tanto é assim que, de acordo com o Boletim Focus, o crescimento da economia deverá beirar 0,35% em 2017. Essa projeção mostra que, até o momento, o país reúne condições para interromper uma sequência de dois anos de queda do PIB. Como mostrou a pesquisa, essa é a perspectiva de quase metade dos empresários sondados.
» Pensando na economia no primeiro semestre de 2017, 40% acreditam que o desempenho foi pior do que em
2016, e para 36%, foi igual. Quanto à situação financeira da empresa, 43% avaliam que o primeiro semestre de 2017 foi igual a 2016 e para 33% foi pior.
» Entre os que avaliam que a situação financeira da empresa melhorou, os principais motivos são o aumento
do volume de vendas (61%), melhora da gestão do negócio (31%) e aumento na carteira de clientes (25%). » Entre as situações vividas pelas empresas no primeiro semestre de 2017 destacam-se conseguir pagar as
contas em dia (76%), redução do mix de produtos e serviços vendido (29%) e ter ficado muitos meses com as contas no vermelho (27%).
» 43% tiveram de fazer cortes e ajustes no orçamento no primeiro semestre de 2017. Os principais cortes foram: funcionários (44%), conta de telefone fixo ou celular (30%) e conta de luz e água (24%).
» 43% acreditam que o segundo semestre de 2017 será melhor para a economia brasileira do que foi no
primeiro semestre. Entre os 8% que acreditam que o cenário será pior, as principais consequências serão a dificuldade de manter as contas em dia (27%), a necessidade de reduzir o estoque de produtos (22%) e a dificuldade em economizar e fazer reserva financeira (22%).
» 39% acreditam que a economia brasileira irá crescer no segundo semestre, enquanto outros 39% acreditam que ela não irá crescer. 47% acreditam que o volume de vendas da empresa será maior no segundo semestre de 2017 do que foi no primeiro.
METODOLOGIA
PÚBLICO-ALVO MÉTODO DE COLETA TAMANHO AMOSTRAL
DA PESQUISA
DATA DE COLETA DOS DADOS
Empresas brasileiras de todos os portes dos
ramos de comércios e serviços.
Telefone. 822 casos, margem de erro geral de 3,4 p.p para um intervalo de confiança de 95%.
26 de junho a 06 de julho de 2015.