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DECISÃO (LIMINAR/ANTECIPAÇÃO DA TUTELA)

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MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO Nº 5002254-14.2012.404.7008/PR

DECISÃO (LIMINAR/ANTECIPAÇÃO DA TUTELA)

1. A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) impetrou mandado de segurança coletivo, com pedido liminar, visando à obtenção de ordem judicial para que todas as empresas submetidas à fiscalização da autoridade impetrada, associadas aos sindicatos filiados à impetrante, tenham seus despachos aduaneiros processados normalmente, ou seja, na forma e nos prazos estabelecidos na legislação em vigor, sendo viabilizado o embarque ou desembarque das mercadorias apresentadas à exportação, importação ou ao trânsito aduaneiro, inclusive aquelas afetas a procedimentos especiais.

Disse, em síntese, que ainda que se possa considerar justa a exigência da classe dos servidores da Receita Federal, a paralisação ou retardo na prestação do serviço público afeta terceiros, havendo o direito à prestação do serviço público de fiscalização aduaneira ainda que haja o movimento grevista, em homenagem aos princípios que regem a Administração Pública.

A liminar foi concedida no evento 5, mas cassada pelo E.TRF4, ante a inobservância do contraditório prévio para a Fazenda Pública (evento 26).

Cumprindo a decisão da instância superior, a UNIÃO (Fazenda Nacional) foi intimada para se pronunciar em 72 (setenta e duas) horas (eventos 25-33).

No evento 34, a UNIÃO ofereceu sua manifestação prévia, deduzindo as seguintes alegações: a) ilegitimidade ativa da Federação para defender os interesses dos filiados de seus filiados; b) ausência de autorização expressa dos filiados do impetrante; c) incompetência territorial do órgão prolator, diante do fato que a Federação impetrante ter filiados domiciliados em outros Estados-Membros; d) impossibilidade de liminar para autorizar a liberação de mercadorias oriundas do exterior; e) impossibilidade de liminar pelo esgotamento do objeto do mandado de segurança; f) impossibilidade de fixar prazo para a realização do despacho aduaneiro, diante da invasão da seara do mérito administrativo; g) no caso de concessão da ordem, que o prazo seja deixado a cargo da autoridade fazendária, diante da complexidade dos atos que compõem o despacho aduaneiro; h) alternativamente, no caso de concessão da ordem, que o prazo para realização de cada ato seja de 08 (oito) dias, excluindo desse cômputo os atos que devam ser praticados pelo importador/exportador ou por terceiros; i) exclusão, no caso de concessão da ordem, dos procedimentos especiais de fiscalização; j) impossibilidade de análise quanto ao pleito de declaração de ilegalidade da greve; e k) impossibilidade de liberação de mercadorias sem a fiscalização fazendária.

Decido.

IMPETRANTE : FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARANÁ ADVOGADO : Marco Antônio Guimarães

IMPETRADO : Inspetor-Chefe - RECEITA FEDERAL DO BRASIL - Paranaguá : JACKSON ALUIR CORBARI

MPF : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL INTERESSADO : UNIÃO - FAZENDA NACIONAL

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2. Antes de adentrar ao mérito do pedido de ordem liminar, enfrento as preliminares processuais arguidas pela União.

a) ilegitimidade ativa da Federação para substituir os filiados de seus filiados

A impetrante pede liminar para que todas as empresas submetidas à fiscalização do impetrado, desde que associadas aos sindicatos filiados à impetrante, tenham garantida a continuidade normal dos seus procedimentos de despacho aduaneiro.

A douta Procuradoria da Fazenda Nacional argumenta que a Federação não tem legitimidade extraordinária para substituir as empresas filiadas aos sindicatos patronais filiados seus.

A Constituição, em seu art. 5º, LXX, garante o mandado de segurança coletivo às organizações sindicais, às entidades de classe e às associações legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros os associados.

Nesse sentido, a Lei 12.016/2009, em seu art. 21, disciplinou essa legitimação extraordinária, especificando que eles atuam em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Tenho por certo que a Federação das Indústrias do Estado do Paraná é organização sindical, dotada de legitimidade extraordinária para impetrar mandado de segurança coletivo em defesa dos interesses da sua categoria econômica.

Não vejo como distinguir, para fins de legitimidade extraordinária, os interesses dos sindicatos filiados à Federação, dos interesses das empresas filiadas aos respectivos sindicatos. A todos interessa, como direito coletivo, o processamento regular dos despachos aduaneiros.

E não seria medida de boa política judiciária exigir que cada um dos inúmeros sindicatos reunidos na Federação (evento 1, out 6) impetrasse um distinto (mas igual) mandado de segurança coletivo. Este mandado de segurança coletivo previne dezenas de outros mandados de segurança coletivos, além de centenas de mandados de segurança individuais.

O processo coletivo promete concentração e economia, garantindo a isonomia entre todos aqueles afetados pela medida ilegal ou abusiva. Restringir a legitimidade extraordinária, neste caso, seria conspirar contra as promessas de efetividade pragmática do processo coletivo, contra a isonomia substancial e contra o direito fundamental a uma tutela jurisdicional adequada, eficiente e tempestiva.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO. ARTIGO 557, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONTRIBUIÇÃO. AVISO PRÉVIO INDENIZADO. FEDERAÇÃO. POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE. 1. O art. 5º, LXX, 'b', da C.R/88 não se refere a sindicatos, mas a organizações sindicais, entre os quais estão as federações. A

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entidades congêneres a legitimidade para a propositura de mandado de segurança coletivo, ampliando o rol dos legitimados para tal ação constitucional e expandindo a proteção dos direitos e garantias individuais. 2. A Federação, entidade sindical em nível de segundo grau, reúne sindicatos filiados e tem como fim a defesa dos interesses dos trabalhadores ou empregadores associados a eles, sendo parte legítima, pois, para a propositura do mandado de segurança coletivo. 3. Agravo a que se nega provimento.

(AMS 00111689520094036100, DESEMBARGADOR FEDERAL HENRIQUE HERKENHOFF, TRF3 - SEGUNDA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:10/12/2009 PÁGINA: 59 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

Por essas razões, rejeito a preliminar para reconhecer a legitimidade da FIEP à impetração coletiva.

b) ausência de autorização expressa dos filiados

A Lei 12.016/2009 expressamente dispensou a autorização dos filiados para viabilizar o mandado de segurança coletivo, dado o regime de substituição processual (art. 21, parte final).

Não fosse isso, a jurisprudência também já havia sedimentado esse entendimento:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO AO INCRA. ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. INSTRUÇÃO DA INICIAL COM A RELAÇÃO NOMINAL DOS FILIADOS. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES.DESPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL.

1. Esta Corte de Justiça, seguindo o posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, firmou entendimento no sentido de que '(...) as entidades elencadas no inciso LXX, 'b', do art. 5º da Carta Magna, atuando na defesa de direito ou de interesses jurídicos de seus representados - substituição processual, ao impetrarem mandado de segurança coletivo, não necessitam de autorização expressa deles, nem tampouco de apresentarem relação nominativa nos autos' (REsp 220.556/DF, 5ª Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 5.3.2001). 2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1030488/PE, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/11/2009, DJe 25/11/2009)

Também rejeito essa preliminar.

c) incompetência territorial do órgão prolator e limitação da eficácia subjetiva da decisão

A União ainda pretende aplicar o disposto no art. 2º-A da Lei 9.494/1997 ao presente mandado de segurança coletivo, seja para gerar a incompetência territorial deste juízo federal, dado que alguns sindicatos filiados à impetrante teriam domicílio fora do Estado do Paraná, seja para restringir a eficácia de eventual decisão favorável aos substituídos com domicílio nos limites circunscrição judiciária do órgão judiciário prolator.

Primeiramente, a regra do art. 2º-A da Lei 9.494/1997 não trata de competência territorial, pelo que descabe qualquer consideração sobre incompetência territorial deste juízo federal.

Essa regra veio para limitar o alcance das decisões em ações coletivas de direitos individuais homogêneos contra a Fazenda Pública.

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Mas, à toda evidência, ela não é aplicável ao mandado de segurança coletivo. Isso porque, não obstante o mandado de segurança coletivo seja espécie de ação coletiva, as restrições do art. 2º-A, além de não serem previstas, são incompatíveis com o regime do mandado de segurança coletivo instituído pela Lei 12.016/2009. Note-se que o art. 21 dessa Lei não fez esse tipo de limitação subjetiva, ao contrário, consignou que o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado na defesa de direitos líquidos e certos da totalidade ou de parte, de seus membros ou associados, sem qualquer restrição quanto aos substituídos, tenham ou não domicílio na circunscrição judiciária do órgão prolator.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. ART. 2.º-A DA LEI N.º 9.494/97. LIMITAÇÃO TERRITORIAL DOS EFEITOS. NÃO APLICAÇÃO. 1. Em face da competência absoluta do Juízo com jurisdição sobre a sede da Autoridade Impetrada, o que impede a propositura do mandado de segurança coletivo em qualquer outro local, bem como da natureza constitucional desse remédio jurídico coletivo, não se lhe é aplicável a restrição quanto à limitação territorial dos efeitos das decisões das ações de caráter coletivo prevista no art. 2.º-A da Lei n.º 9.494/97, vez que ela representaria limitação absoluta da própria substituição processual viabilizada pela norma constitucional que prevê essa ação mandamental coletiva. 2. Provimento do agravo de instrumento, julgando prejudicado o agravo regimental.

(AG 20090500050616801, Desembargador Federal Emiliano Zapata Leitão, TRF5 -Primeira Turma, DJE - Data::24/03/2011 - Página::128.)

Rejeito a preliminar e reconheço que todas as empresas filiadas a sindicatos filiados à Federação impetrante poderão usufruir dos efeitos das decisões proferidas neste mandado de segurança coletivo, independentemente do local dos seus domicílios.

3. Rejeitadas as preliminares processuais, passo a apreciar o mérito do pedido de ordem liminar de segurança.

O pedido de ordem liminar de segurança diz respeito ao normal prosseguimento dos procedimentos de despacho aduaneiro, obstado que está pela operação-padrão dos Auditores Fiscais da Receita Federal em Paranaguá. Nesse sentido é que será apreciada a liminar, não sendo o caso de deferir a liberação de mercadorias provenientes do exterior ou autorizar a liberação de mercadorias sem fiscalização aduaneira.

Além disso, não está presente o perigo de irreversibilidade preconizado pela União (art. 1º, §3º, Lei 8.437/1992), pois eventual concessão da ordem não impedirá os atos de fiscalização aduaneira.

A ordem deve ser concedida pois, como bem apontou o Juiz Federal Substituto, Cláudio Roberto da Silva, nos autos nº 5027773-15.2012.404.7000, 'o que se convenciona

chamar 'Operação Padrão' nada mais significa do que eventual redução na intensidade dos serviços prestados, aproximando-se à greve, e, não raro, a precedendo, assim que todo o raciocínio aqui cabível é o mesmo daquele atinente ao direito de greve'.

Nessa toada, conforme o entendimento já manifestado por ocasião de outras greves deflagradas pelos servidores da Receita Federal em Paranaguá, embora o movimento paredista seja um direito dos servidores, o princípio da continuidade do serviço público denota a relevância do fundamento da impetração.

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Nesse sentido, há inúmeros precedentes nos quais o impetrado cumpriu liminares da espécie buscada nestes autos para evitar prejuízos de grande monta aos importadores ou exportadores que possuem negócios pendentes em razão da greve. Sobre o tema:

ADMINISTRATIVO. GREVE. SERVIDOR PÚBLICO. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. IMPORTAÇÃO. EXPORTAÇÃO. SERVIÇO PÚBLICO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. O administrado tem direito líquido e certo de obter do Estado a prestação do serviço público contínuo, adequado e eficaz, o qual não pode ser frustrado ao fundamento da existência de movimento grevista dos servidores públicos. 2. Seja porque a deficiência do serviço público, ainda que patrocinada por movimento paredista, não pode comprometer as atividades econômicas desenvolvidas licitamente, seja porque não há se negar a essencialidade do serviço aduaneiro para desembaraço de importação de mercadorias relacionadas com a atividade comercial inerente ao objetivo social da impetrante, mostra-se evidenciado o direito líquido e certo ao prosseguimento do despacho aduaneiro. (TRF4, REOMS 2006.70.08.000650-8, Terceira Turma, Relator Luiz Carlos de Castro Lugon, D.E. 26/09/2007)

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Mandados de Injunção n.º 670, 708 e 712, concluídos em 25.10.2007, solucionou a omissão legislativa da edição da lei de greve dos servidores públicos com a aplicação da Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, no que couber, conforme a notícia extraída do site do tribunal:

Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007

Supremo determina aplicação da lei de greve dos trabalhadores privados aos servidores públicos

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (25), por unanimidade, declarar a omissão legislativa quanto ao dever constitucional em editar lei que regulamente o exercício do direito de greve no setor público e, por maioria, aplicar ao setor, no que couber, a lei de greve vigente no setor privado (Lei nº 7.783/89). Da decisão divergiram parcialmente os ministros Ricardo Lewandowski (leia o voto), Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que estabeleciam condições para a utilização da lei de greve, considerando a especificidade do setor público, já que a norma foi feita visando o setor privado, e limitavam a decisão às categorias representadas pelos sindicatos requerentes.

A decisão foi tomada no julgamento dos Mandados de Injunção (MIs) 670, 708 e 712, ajuizados, respectivamente, pelo Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindpol), pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de João Pessoa (Sintem) e pelo Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará (Sinjep). Os sindicatos buscavam assegurar o direito de greve para seus filiados e reclamavam da omissão legislativa do Congresso Nacional em regulamentar a matéria, conforme determina o artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal.

No julgamento do MI 712, proposto pelo Sinjep, votaram com o relator, ministro Eros Grau, - que conheceu do mandado e propôs a aplicação da Lei 7.783 para solucionar, temporariamente, a omissão legislativa -, os ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello, Sepúlveda Pertence (aposentado), Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia Antunes Rocha, Cezar Peluso e Ellen Gracie. Ficaram parcialmente vencidos os ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que fizeram as mesmas ressalvas no julgamento dos três mandados de injunção.

Na votação do MI 670, de autoria do Sindpol, o relator originário, Maurício Corrêa (aposentado), foi vencido, porque conheceu do mandado apenas para cientificar a ausência da lei regulamentadora. Prevaleceu o voto-vista do ministro Gilmar Mendes, que foi acompanhado pelos ministros Celso de Mello, Sepúlveda Pertence (aposentado), Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia, Cezar Peluso e Ellen Gracie. Novamente, os ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio ficaram parcialmente vencidos.

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Na votação do Mandado 708, do Sintem, o relator, ministro Gilmar Mendes, determinou também declarar a omissão do Legislativo e aplicar a Lei 7.783, no que couber, sendo acompanhado pelos ministros Cezar Peluso, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Carlos Britto, Carlos Alberto Menezes Direito, Eros Grau e Ellen Gracie, vencidos os ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio. Ao resumir o tema, o ministro Celso de Mello salientou que 'não mais se pode tolerar, sob pena de fraudar-se a vontade da Constituição, esse estado de continuada, inaceitável, irrazoável e abusiva inércia do Congresso Nacional, cuja omissão, além de lesiva ao direito dos servidores públicos civis - a quem se vem negando, arbitrariamente, o exercício do direito de greve, já assegurado pelo texto constitucional -, traduz um incompreensível sentimento de desapreço pela autoridade, pelo valor e pelo alto significado de que se reveste a Constituição da República'. Celso de Mello também destacou a importância da solução proposta pelos ministros Eros Grau e Gilmar Mendes. Segundo ele, a forma como esses ministros abordaram o tema 'não só restitui ao mandado de injunção a sua real destinação constitucional, mas, em posição absolutamente coerente com essa visão, dá eficácia concretizadora ao direito de greve em favor dos servidores públicos civis'.

Leia mais:

Sexta-feira, 13 de Abril de 2007

Íntegra do voto do ministro Celso de Mello no julgamento de ações sobre direito de greve de servidor público Quinta-feira, 12 de Abril de 2007

STF poderá regulamentar direito de greve no serviço público Processos relacionados

Os dispositivos da Lei n° 7.783/1989 que tratam da manutenção dos serviços essenciais durante a greve são os seguintes:

Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:

I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo;

XI compensação bancária.

Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.

Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.

Infere-se dessas normas que o serviço público (ou o poder de polícia) relativo à fiscalização e ao controle do comércio exterior (Constituição da República, art. 237), não está abrangido no conceito de serviço essencial, seja pela ausência de citação expressa no rol do artigo 10, seja por não repercutir nas necessidades inadiáveis da comunidade, referidas no parágrafo único do artigo 11, circunscritas à sobrevivência, saúde e segurança da população.

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Afinal, prejuízos econômicos não podem ser equiparados a esses relevantes valores protegidos pela norma.

Não obstante, independentemente da Lei n° 7.783/1989, mantenho o entendimento da jurisprudência consolidada que reconhece o direito dos particulares à manutenção das atividades referentes ao despacho aduaneiro. Inclusive, transcrevo partes do voto do Min. Celso de Mello, no MI 712, quanto à essencialidade das atividades, dando a entender que alcançariam também aquelas que podem ocasionar danos de ordem econômica à sociedade:

A importância do direito de greve, contudo, não pode prescindir da necessária observância dos princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços desenvolvidos pela administração estatal, especialmente daquelas atividades que, qualificadas pela nota da essencialidade, não podem sofrer, em hipótese alguma, qualquer tipo de interrupção.

(...)

O próprio Romano Pontífice, na Encíclica 'Laborem Exercens' ('Sobre o Trabalho Humano', p. 49, item n. 20, 1981, Loyola), após advertir que as exigências sindicais 'não podem transformar-se numa espécie de egoísmo de grupo ou de classe', salientou, nesse documento pontifício comemorativo do 1º Centenário da Encíclica 'Rerum Novarum', do Papa Leão XIII (1891), que a atividade desenvolvida pelas entidades representativas dos prestadores de serviços deve ser entendida 'como uma prudente solicitude pelo bem comum', aduzindo que:

'Ao agirem em prol dos justos direitos dos seus membros, os sindicatos lançam mão também do método da 'greve', ou seja, da suspensão do trabalho, como de uma espécie de 'ultimatum' dirigido aos órgãos competentes e, sobretudo, aos dadores de trabalho. É um modo de proceder que a doutrina social católica reconhece como legítimo, observadas as devidas condições e nos justos limites. Em relação a isto os trabalhadores deveriam ter assegurado o direito à greve, sem terem de sofrer sanções penais pessoais por nela participarem.

Admitindo que se trata de um meio legítimo, deve simultaneamente relevar-se que a greve continua a ser, num certo sentido, um meio extremo. Não se pode abusar dele; e não se pode abusar dele especialmente para fazer o jogo da política. Além disso, não se pode esquecer nunca que, quando se trata de serviços essenciais para a vida da sociedade, estes devem ficar sempre assegurados, inclusive, se isso for necessário, mediante apropriadas medidas legais. O abuso da greve pode conduzir à paralisação da vida sócio-econômica;

ora isto é contrário às exigências do bem comum da sociedade, o qual também corresponde à natureza, entendida retamente, do mesmo trabalho.' (grifos no original, com exceção das palavras sublinhadas em itálico)

A importância do direito de greve, contudo, não pode prescindir da necessária observância dos princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços desenvolvidos pela administração estatal, especialmente daquelas atividades que, qualificadas pela nota da essencialidade, não podem sofrer, em hipótese alguma, qualquer tipo de interrupção.

Quanto requisito do perigo de ineficácia da medida, constato que também está presente, porquanto eventual continuidade do bem na zona portuária implicaria em vultosos prejuízos aos substituídos da impetrante, decorrentes das taxas de armazenagem, atraso no embarque, além da multa contratual pelo atraso na entrega do produto encomendado e abalo de sua credibilidade junto aos seus clientes.

Quanto ao prazo para o procedimento de fiscalização, cumpre lembrar que a Constituição hoje elenca o direito fundamental à duração razoável do processo

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administrativo (art. 5º, LXXVIII), pelo que pode o Poder Judiciário apreciar tal prazo para garantir o direito fundamental. E para tanto não se pode deixar ao alvedrio da autoridade alfandegária a fixação do prazo razoável. Entendo que tal prazo deva continuar sendo fixado em 05 (cinco) dias, tal qual determinada a Lei 9.784/1999.

4. Ante o exposto, defiro a liminar a fim de determinar que a autoridade impetrada proceda à continuidade dos despachos aduaneiros referentes à importação, exportação e trânsito aduaneiro de todas as empresas vinculadas aos sindicatos filiados à Federação impetrante, realizando cada ato do procedimento de fiscalização no prazo de 5 (cinco) dias (Lei n° 9.784/1999, art. 24), sem deixar o processo paralisado por prazo superior a esse, com exceção dos atos de competência exclusiva do exportador/importador ou de terceiros em relação aos quais a Receita Federal não tenha ingerência ou autoridade.

Os procedimentos especiais de fiscalização também deverão ter continuidade, mas concluídos dentro dos prazos preconizados para cada procedimento.

Caberá à empresa interessada comprovar, perante a Receita Federal, sua condição de filiada a qualquer um dos sindicatos vinculados à impetrante.

A autoridade impetrada poderá dar cumprimento à ordem judicial, quando possível, em prazo inferior.

Consigne-se, ainda, que o objeto deste mandado de segurança coletivo é tão-somente o movimento paredista dos Auditores Fiscais da Receita Federal. No caso de problemas particulares com as exportações/importações de seus filiados, cada importador/exportador, de forma individual, deverá ajuizar ação própria para discussão da questão, descabendo digressões a respeito nesta ação.

Comunique-se à autoridade impetrada pelo meio mais expedito, podendo cópia da presente decisão servir de ofício/mandado, dando-lhe ciência e solicitando-se as informações no prazo legal.

Escoado o prazo, com ou sem elas, abra-se vista ao MPF e, aviado o parecer, registre-se para sentença.

Intimem-se, salientando-se que a impetrante deverá dar ampla divulgação (em seu site, por e-mail e através de notícia publicada em um jornal de grande circulação) às suas associadas da impetração do presente mandamus e da concessão da presente medida liminar, visando se evitar o ajuizamento desnecessário de ações mandamentais individuais e coletivas.

Paranaguá, 23 de julho de 2012.

Vicente de Paula Ataide Junior Juiz Federal Substituto

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Documento eletrônico assinado por Vicente de Paula Ataide Junior, Juiz Federal Substituto, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.jfpr.jus.br/gedpro/verifica/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 6420467v5 e, se solicitado, do código CRC 144130B6. Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): Vicente de Paula Ataide Junior Data e Hora: 23/07/2012 19:43

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