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ICTIOFAUNA DO BAIXO RIO MANHUAÇU (BACIA DO MÉDIO RIO DOCE) ICHTHYOFAUNA OF THE LOWER MANHUAÇU RIVER (MIDDLE DOCE RIVER BASIN)

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Resumo

A ictiofauna da bacia do rio Doce apresenta uma grande diversidade e registros atuais indicam a ocorrência de 71 espécies de peixes nativos, onze ameaçadas de extinção e 28 espécies introduzidas.Somente o médio curso do rio apresenta uma riqueza superior a 70 espécies.O presente trabalho teve como objetivo avaliar a diversidade da ictiofauna do rio Manhuaçu, um dos principais afluentes do rio Doce.Para a realização do estudo foram estabelecidas em quatro estações amostrais e para cada área de amostragem foram utilizadas metodologias qualitativas e quantitativasde coletas. Durante o período de amostragem foram capturados 240 indivíduos, distribuídos em 30 espécies, 6 ordens e 15 famílias, revelando a importância do rio Manhuaçu para a diversidade de peixes do médio rio Doce.

Palavras-chave: rio Doce, espécies não-nativas, rio Manhuaçu. Abstract

The ichthyofauna of the Doce river basin is highly diverse and current records indicate the occurrence of 71 species of native fish, 11 species are on the list of threatened species and 28 species non-native.Only the segment of the river has a higher species richness at 70.This study aimed to evaluate the diversity of the fish fauna of the river Manhuaçu, one of the main tributaries of the river Doce. For the study four sampling stations were established in each area and sampling qualitative and quantitative methodologies were used collections. During the sampling period, 240 individuals belonging to 30 species, 6 orders and 15 families, were captured, revealing the importance of the river Manhuaçu for fish diversity of the Middle Rio Doce.

Key words: Doce River, non-natives, Manhuaçu River.

ICTIOFAUNA DO BAIXO RIO MANHUAÇU (BACIA DO MÉDIO RIO DOCE) ICHTHYOFAUNA OF THE LOWER MANHUAÇU RIVER (MIDDLE DOCE RIVER BASIN) Bruno da Silva Marques²; Frederico Belei¹²; Wagner Martins Santana Sampaio¹ ³

1-Departamento de Biologia Animal 2-IPEFAN Consultoria e Meio Ambiente 3 – Departamento de Biologia Geral

bruno.marques@ipefan.com.br

Introdução

O Brasil lidera o número de peixes de água doce, possuindo 2.587 espécies catalogadas, aproximadamente 21% das espécies do mundo (Buckup et al., 2007).Essa diversidade é reflexoda complexidade de habitats e da história evolutiva desse grupo (Langeani et al., 2009). No entanto ainda existem divergências

entre as estimativas disponíveis na literatura sobre diversidade da ictiofauna em águas continentais brasileiras (Buckup & Menezes, 2003). Vieira (2005) estima que somente no Estado de Minas gerais existam 354 espécies. Grande parte destadiversidade está diretamente relacionada à sua localização geográfica na região tropical, às suas dimensões territoriais,

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quantidade e o tamanho de suas bacias hidrográficas. A bacia do rio Doce encontra-se inserida na bacia do Atlânticosudestee merece destaque diante daimportânciaeconômica, ambiental e social, além de apresentar alto índice de endemismo, espécies ameaçadas de extinção e por possuir grande parte de sua drenagem inserida na Mata Atlântica. Por esses motivos, bacia do rio Doce é considerada uma área prioritária para conservação (Drummond et al., 2005; Abell et al., 2008; Vieira, 2009; Nogueira et al., 2010).

Embora tratadas rotineiramente como grandes unidades, as bacias hidrográficas possuem características diferenciadas quanto à composição da fauna de peixes, principalmente porque cada afluente apresenta suas formações geográficas e climáticas. Recentemente, os dados levantados demonstram que a riqueza de espécies e o grau de endemismo por bacia são bastante diferenciados entre os grandes tributários do rio Doce (Vieira, 2006).

A bacia do rio Doce é subdividida em três seções: alto curso (região de cabeceira até a foz do rio Matipó), médio curso (da foz do rio Matipó até divisa dos estados ES/MG) e baixo curso (da região de Baixo Guandu e Aimorés até a foz do rio doce em Linhares/ ES) (ANA, 2001). Na transição entre Médio e Baixo curso desta baciaestá localizado a bacia hidrográfica do rio Manhuaçu, que é formada pelas sub-bacias dos rios Manhuaçu, Mutum, São Luís, Pocrane, Itueto, José Pedro e Capim, além de ribeirões e rios de menor porte. O rio Manhuaçu nasce na Serra da Seritinga, divisa dos municípios de Divino e São João do Manhuaçu, desenvolve-se por 347 km até desaguar no rio Doce, acima da cidade de Aimorés, sendo considerado um dos principais afluentes pela margem direita (ANA, 2001).

A bacia rio Manhuaçu corresponde acerca de 11 % da drenagem do rio Doce, embora os estudos ictiofaunísticos sejam muitos escassos, registros anteriores demonstram que uma parcela significativa da diversidade descrita para o rio Doce também é incorporada pelorio Manhuaçu (Veado, 2002). O rio Manhuaçu é refúgio para espécies de vida restrita, endêmicas e extremamente ameaçadas na bacia do

do-rio-Doce) (Drummond et al., 2005; Rosa & Lima, 2008; Vieira, 2010). A ictiofauna do rio Manhuaçu é representada por peixes presentes nas três porções do rio Doce, porém após a construção das hidrelétricas de Mascarenhas e Aimorés no rio Doce ocorreu a redução de diversas espécies, principalmente espécies diadrómase invasores marinhos (Vieira, 2010).

Diante da falta de dados científicos consolidados para a bacia rio Manhuaçu o presentetrabalho teve por objetivo inventariar a ictiofauna do rio Manhuaçu. Materiais e métodos

A área de estudo esta localizadano rio Manhuaçu, na bacia do Médio rio Doce, no município de Aimorés, estado de Minas Gerais. Para a realização do presente trabalho foram estabelecidas três estações amostrais,uma estação amostralna confluência do rio Manhuaçu com o rio Capim (Alto Manhuaçu), uma estação amostral na confluência do rio Manhuançu com o rio Doce (Foz do Manhuaçu) e uma estação amostral em um tributário (córrego Capa Bode) (Tab. 01; Fig. 01). As coletas foram realizadas sob licença do IBAMA (02001.009572/2009-15) e ocorreram mensalmente entre o período de setembro de 2009 a julho de 2010, perfazendo um total de 10 campanhas com idêntico esforço amostral.

Em todas as estações de amostragem foram utilizados metodologias quantitativas e qualitativasde coleta. Em cada área de amostragem foi utilizado um conjunto de dez redes de espera, cada uma com 10 metros de comprimento e altura de 1,6 metros, com as malhas 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45, 50, 60 e 70 mm, entre nós adjacentes, dois espinhéis com 10 anzóis iscados com peixes, tarrafas operadas com cinco lances cada malhagem (2,4; 4; 6 e 7mm, entre nós adjacentes), e arrasto com 20 metros de comprimento, quando não foi possível a utilização da rede de arrasto, essa metodologia foi substituída por peneiras, sendo aplicadas no mesmo espectro de atividade do arrasto, ou seja, 20 metros. No córrego Capa Bode e no rio Capim ainda foi utilizado a metodologia de pesca elétrica de acordo coma metodologia proposta por Mazzoni et al. (2000), usando sistema de puçás acoplados a um

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Estação Amostral Coordenadas Vegetação Ripária Curso d’água Observações do Entorno

P1 - Alto Manhuaçu 24k - 268321.00 m E/

7843415.00 m S Margens desmatadas com poucos remanescentes de vegetação ciliar.

Situado na calha do rio Manhuaçu. Ambiente lótico, e o leito é composto por areia e rochas.

Propriedades rurais com criação de gado, hortaliças e tanques para pisciculturas. PCH desativada. P2 - Foz Manhuaçu 24k - 280814.00 m E/

7844035.00 m S Margens desmatadas com poucos remanescentes de vegetação ciliar.

Situado na calha do rio Manhuaçu. Ambiente lótico, e o leito é composto por areia e rochas. Propriedades rurais de pequeno e médio porte. Montante da cidade de Aimorés. Influência das UHEs Aimorés e Mascarenhas. P3 - córrego Capa

Bode 24k - 269902.77 m E/7843156.63 m S Margens desmatadas com poucos remanescentes de vegetação ciliar.

Ambiente lótico, e o leito é composto por areia e cascalho. Curso d’água de primeira ordem e intermitente.

Propriedades rurais de pequeno e médio porte, leito assoreado. P4 - rio Capim 24k - 268642.00 m E/

7843025.00 m S Margens desmatadas com poucos remanescentes de vegetação ciliar.

Ambiente lótico, e o leito é composto por areia e pedras. Curso d’água de segunda ordem.

Propriedades rurais de pequeno e médio porte, leito assoreado.

Tabela. 01: Estações amostrais, coordenadas geográficas, vegetação ripária e descrição do curso dá água.

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gerador de corrente alternada de energia elétrica com configuração de 900W, 220V, 1-2 A. Foram realizadas três remoções sucessivas (Zippin, 1958) em trechos de aproximadamente 50 metros de extensão, resultando em um esforço de pesca constante. As extremidades de cada ponto amostral foram bloqueadas com redes de arrasto de malha de 5 mm, para evitar o escape de peixes. Após as capturas, os peixes foram anestesiados, sacrificados, fixados e conservados em formaldeído a 10% da solução comercial, sendo acondicionado em sacos contendo etiquetas com anotações sobre o tipo de aparelho de pesca, malhagem, ponto de amostragem e período de captura. A identificação das espécies capturadas foi obtida com o auxílio dos trabalhos científicos disponíveis (Géri, 1977; Garavello, 1979) e consulta a especialistas. Os exemplares foram depositados no Museu de Zoologia João Moojen (MZUFV) na Universidade Federal de Viçosa.

Resultados

Durante o período de amostragem foram capturados 240 exemplares, distribuídos em 30 espécies, pertencentes a 6 ordens e 15 famílias (Anexo 2). Entre os peixes capturados as famílias que apresentaram maior número de espécies foram Characidae com 20%, Loricariidae 16.6% e Cichlidae 10% (Tab.2). As estações amostrais com maior riqueza foram a P1 com 23 espécies e 151 indivíduos capturados e a P2 com 20 espécies e 57 indivíduos, situadas na calha do rio Manhuaçu. As estações com menor riqueza foram a P3 com 5 espécies e 26 indivíduos e aP4 com 4 espécies e 6 indivíduos capturados, localizadas em afluentes do rio Manhuaçu (Tab. 2).

No presente trabalho foi encontrada a espécie Prochilodus vimboides (Curímba), com status de conservação considerado ameaçado de extinção no Estado do Espírito Santo; (Vieira & Gasparini, 2007) (Tab. 2). Ainda foram registradas espécies introduzidas, que representaram aproximadamente 26.6% das espécies capturadas no presente trabalho para o rio Manhuaçu (Tab. 2). Sendo elas, Salminus brasiliensis, Oreochromis niloticus, Pygocentrus piraya, Hoplosternum litoralle,

Clarias gariepinus, Duopalatinus emarginatus, Lophiosilurus alexandri e a Poecilia reticulata. Entre as espécies encontradasse destacaram pela abundância Poecilia reticulata (Barrigudinho), alóctone pertencente à região Norte do Brasil, Clarias gariepinus (Bagre Africano) espécie exótica originaria do continente africano e Pygocentrus piraya (Piranha Preta) alóctone pertencente à bacia Amazônica.

Discussão e conclusão

A ictiofauna inventariada no rio Manhuaçu, pelo presente trabalho, representam aproximadamente 42% das 70 espécies descritas para o rio Doce, revelando a importância do rio Manhuaçu para esta bacia (Drummond et al., 2005; Vieira, 2010). Os resultados obtidos são considerados satisfatórios para se avaliar a composição da ictiofauna no rio Manhuaçu, uma vez que estudos anteriores citam uma menor diversidade para esta sub-bacia. Veado (2002) registrou a ocorrência de 19 espécies na caracterização da RPPN Feliciano Miguel Abdala e 25 espécies durante os estudos nas áreas das PCH’s Areia Branca e Cachoeirão. A proporção encontrada entre a riqueza de espécies por família está de acordo com o esperado para região Neotropical (Lowe-Mcconnel, 1999) e para a bacia do rio Doce (Vieira, 2010).

A maior riqueza e abundância encontrada na estação amostral P1 pode estar relacionada à melhor qualidade do habitat e menor influência das UHEs situadas no rio do Doce e da cidade Aimorés. Na estação P2 foi encontrado exemplares de Pygocentrus piraya, Salminus brasiliensis, Prochilodus vimboides e Lophiosilurus alexandria presença dessas espécies somente na estação P2 pode estar relacionado à maior influência das UHEs situados no rio Doce.

A menor riqueza encontrada no córrego Capa Bode e no rio Capim pode estar relacionada ao tamanho desses cursos d’água que são de primeira e segunda ordem e estando sujeitos sazonalmente a grandes flutuações no volume de água, situação que desfavorece o estabelecimento de espécies de grande porte (Esteves & Aranha, 1999). Esta menor diversidade

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Classificação Taxônomica Apetrecho

de Coleta Origem Ocorrência P1 P2 P3 P4

Characiformes Prochilodontidae

Prochilodus vimboides (Kner,1859)AM/ES RE Autóctone Nativa 0 4 0 0

Anostomidae

Leporinus conirostris Steindachner, 1875 RE Autóctone Nativa 3 0 0 0

Leporinus copelandii Steindachner, 1875) RE Autóctone Nativa 4 2 0 0

Characidadae

Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758) T,P,RE,

A,PE Autóctone Nativa 27 2 5 2

Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) T,RE, A, PE Autóctone Nativa 5 0 3 0

Astyanax scabripinnis (Jenyns, 1842) T,P,RE,

A,PE Autóctone Nativa 4 0 3 1

Astyanax sp P Autóctone Nativa 1 0 0 0

Oligosarcus argenteus Günther, 1864 RE,T Autóctone Nativa 21 6 0 2

Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) RE Alóctone Introdução dos anos de 1960/

Bacia do São Francisco 0 2 0 0 Serrasalmidae

Pygocentrus piraya (Cuvier, 1819)1 RE Alóctone Desconhecida/Bacia

Amazônica 0 12 0 0

Erythrinidae

Hoplias lacerdae Miranda Ribeiro, 1908 RE Autóctone Nativa 3 3 0 0

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) RE Autóctone Nativa 3 3 0 0

Siluriformes Callichthyidae

Hoplosternum littorale Hancock, 1828 RE,T Alóctone Pesca esportiva 1 0 0 0

Loricariidae

Delturus carinotus (La Monte, 1933) RE Autóctone Nativa 7 0 0 0

Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855) RE,T Autóctone Nativa 10 1 0 0

Hypostomus affinis (Steindachner, 1877) RE,T Autóctone Nativa 6 3 0 0

Hypostomus sp2 RE Autóctone Nativa 4 2 0 0

Hypostomus sp3 RE Autóctone Nativa 1 1 0 0

Pseudopimelodidae

Lophiosilurus alexandri Steindachner, 1876 RE Alóctone Desconhecida/ Bacia do rio

São Francisco 0 1 0 0

Pimelodidae

Duopalatinus emarginatus (Valenciennes,

1840)1 RE Alóctone Desconhecida/ Bacia do rio São Francisco 1 1 0 0

Pimelodus sp. RE Autóctone Nativa 0 1 0 0

Auchenipteridae

Pseudauchenipterus affinis (Steindachner,

1877) RE Autóctone Nativa 3 2 0 0

Trachelyopterus striatulus (Steindachner,

1877) RE Autóctone Nativa 11 4 0 0

Clariidae

Clarias gariepinus (Burchell, 1822) RE, E Exótica Piscicultura/Continente

Africano 15 4 0 0

Gymnotiformes

Tabela 2: Espécies amostradas na área de influência da drenagem do rio Manhuaçu. São exibidos: classificação taxonômica segundo REIS et al., 2013. ¹Não citado por VIEIRA (2010), AM/ES Ameaçado na Lista estadual do estado do Espírito Santo (GASPRINI & VIEIRA, 2007). Apetrecho de Coleta: P: Peneira; PE: Pesca Elétrica; RE: Rede Emelhar; T: Tarrafa; A:Arrasto, E: Espinhel. Estação Amostral: P1: Alto Manhuaçu; P2: Foz do Manhuacu; P3: Córrego Capa Bode; P4: Rio Capim.

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também pode está ligada a qualidade dos habitas desses córregos, situação que favorece o estabelecimento de espécies de pequeno porte e generalistas como a Poecilia reticulata (Casatti et al., 2012). As condições ambientais diminuíram o sucesso da utilização de apetrechos quantitativos nos tributários do rio Manhuaçu, nesse sentido a utilização da pesca elétrica mostrou-se interessante como metodologia qualitativa complementar para complementar a metodologia tradicional para inventário de riachos, descritas por Uieda & Castro (1999).

A região estudada no rio Manhuaçu destaca-se por fazer parte da porção da bacia do rio Doce que abriga a maior concentração de pescadores profissionais e amadores e por fazer parte das áreas de influência da UHE Mascarenhas e Aimorés. O presente trabalho foram capturadas espécies de importância cinegética, ou seja, de importância para subsistência da comunidade ribeirinha local como a traíra (Hoplias malabaricus), o Lambari bocarra (Oligosarcus argenteus) e o cascudo (Hypostomus affinis). Além de espécies de interesse comercial em que destacam-se Leporinus copelandii, Leporinus conirostris, Prochilodus vimboides, Lophiosilurus alexandri, Salminus brasiliensis e Oreochromis niloticus. As três primeiras são nativas e as demais são introduzidas e atualmente compõem a principal fonte de pescado na região.

A substituição de espécies nativas por

introduzidas pelos pescadores na região teve inicio a partir da construção da UHE Mascarenhas, nos anos 1965, que fragmentou a região e impediu o acesso de espécimes diádromasque antes do barramento estavam entre as espécies de maior importância econômica, como a Tainha (Mugilsp) e o Caçari (Genidens genidens). Este impacto se intensificou com a construção da UHE Aimorés que contribuiu para a homogeneização do sistema (CTA, 2010; Vieira, 2010).

A introdução de espécies já é reconhecida como uma das mais importantes causas de perda de diversidade no planeta (Mack et al., 2000; Reis et al., 2013).Na Bacia do rio Doce eventos de introdução de espécies são conhecidos desde anos de 1970 nas áreas de influência da UHE Mascarenhas (Alves et al., 2007; Vieira, 2010). Nos últimos anos, novas ocorrências têm sido descritas. Barros et al.(2012) registraram duas novas espécies (Plagioscion squamosissimus e Parachromis managuensis) para o trecho do médio rio Doce e Belei et al.(2012) registraram a ocorrência de Pygocentrus piraya no médio e baixo rio Doce. O aumento de espécies introduzidas na porção do médio e baixo rio Doce está intimamente relacionadoàs diversas ações antrópicas que levaram a redução das espécies de espécies nativas, como o abastecimento histórico dessa região com espécies de peixes não-nativas para o restabelecimento do sistema de pesca da região (Alves et al., 2007; CTA, 2010;). O presente trabalho demonstra que atualmente o rio Manhuaçu incorpora uma parcela Gymnotidae

Gymnotus carapo Linnaeus, 1758 RE Alóctone Pesca esportiva 4 0 0 0

Cyprinodontiformes Poeciliidae

Poecilia reticulata Peters, 1859 P,PE Alóctone Aquariofilia 9 0 13 0

Synbranchiformes Synbranchidae

Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 A Autóctone Nativa 0 0 1 0

Perciformes Cichlidae

Crenicichla lacustris (Castelnau, 1855) RE,T Autóctone Nativa 0 2 0 0

Geophagus brasiliensis(Quoy & Gaimard,

1824) RE,T,PE Autóctone Nativa 2 1 1 1

Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) RE Exótica Piscicultura/Continente

Africano 6 0 0 0

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significativa dessa ictiofauna introduzida na bacia do rio Doce.

A introdução de espécies é uma das principais ameaças a ictiofauna nativa por características biológicas que favorecem seu sucesso no novo habitat colonizado como a alta taxa de reprodução, a rápida dispersão e a grande tolerância a variações ambientais (Barbieri, 1998). Os principaisimpactos da introdução de espéciesestão relacionadosa alterações no habitat, na estrutura da comunidade, introgressão, perda de patrimônio genético, alterações tróficas e introdução de doençasque podem resultar na homogeneização da biota nativa (Barbieri, 1998). Em regiões com influência de barragem essa homogeneização pode ser potencializada pela eliminação de barreiras naturais (Vitule et al.,2012).

A bacia hidrográfica do rio Doce tem sofrido historicamente com diferentes açõesantrópicas, a supressão das matas ciliares, o represamento de seus rios e cachoeiras e o assoreamento devido ao uso e ocupação do solo. Segundo Almeida & Carvalho (1993), no Brasil diversos empreendimentos hidrelétricos tiveram sua capacidade de geração reduzida ou até mesmo a operação interrompida devido a problemas de assoreamento de seus reservatórios. As barragens com fins de geração de energia induzem um efeito devastador para as taxocenoses de peixes, sobretudo pela quebra dos ritmos migratórios, alimentares e reprodutivos de muitas espécies, principalmente das reofílicas de piracema (Britto, 2009). Assim, a ictiofauna remanescente nos reservatórios é constituída por peixes oriundos de seus rios formadores como o rio Manhuaçu.

A falta de dados científicos consolidados, os registros de espécies ainda não capturadas em estudos anteriores e a captura de espécies ameaçadas de extinção demonstram a importância do presente estudo para conhecimento da ictiofauna do rio Manhuaçu e reforça a necessidade de programas de conservação da ictiofauna do rio Manhuaçu, devido sua contribuição para manutenção da diversidade das três regiões da bacia do rio Doce.

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Anexo 2: Peixes do rio Manhuaçu

O periódico Evolução e Conservação da Biodiversidade, ISSN 2236-3866, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

Com base no trabalho disponível em www.simposiodabiodiversidade.com.br/ecb. DOI: 10.7902/issn.2236-3866

Referências

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