PROGRAMA DE ESTUDOS DO PORTUGUÊS POPULAR FALADO DE SALVADOR – PEPP INQ Nº 20 – HOMEM – idade: 24 anos – Escolaridade: 2 grau
DOCUMENTADOR: Norma Lopes DATA: 06/10/1998
TRANSCRIÇÃO: Alessandra Lopes Fontoura
20 Boa tarde, eu sou ..., sou de Salvador e... e meus, meus pais também são daqui, e 1
podemos começar. 2
DOC: Bem, nós vamos conversar, primeiro eh... primeiro sobre a... sobre ... quando você 3
era criança, você sempre morou em Salvador, mas como foi sua infância? 4
20 Praticamente minha infância ... em Salvador foi ótima, porque hoje você vê outras 5
conseqüências da vida, né? Porque como eu estava analisando ultimamente, eu saía 6
para brincar de gude, empinava arraia... 7
DOC: Na rua, né? 8
20 Na rua. Brincava com o pessoal, era um bate lata. E hoje em dia você está vendo, 9
totalmente diferente das coisas, as circunstâncias de hoje. Hoje você procura um 10
lazer desse, ninguém, a maioria das pessoas, ninguém quer mais fazer isso, praticar, 11
aquela infância como era antigamente, a educação que meus pais me deram. Hoje 12
você vê muitas pessoas eh... fumando maconha ... 13
DOC: É, os jovens né? 14
20 Os jovens hoje em dia. As agressões são freqüentemente, você vê pessoas de doze, 15
treze, quatorze anos de idade ... se você brigar um com outro, antigamente 16
apaziguava, deixava, do outros dias, nos outros dias vocês eram amigos, hoje em dia 17
não, estão querendo já partir para a violência, querer matar, fazer outras coisas mais 18
aí eu...tô eu tô... eu fico analisando assim, aquela educação que eu tive há... quinze 19
anos atrás, eu acho que foi bem melhor do que hoje educações que os pais não estão 20
passando para os próprios filhos, estão deixando muito liberal. 21
DOC: Hum. Então seria a liberdade que está sendo dada, né? 22
20 É.
23
DOC: Demais. 24
20 Dando muita liberdade hoje em dia. Eu acho que, hoje mesmo, vocês, vocês que 25
têm seus filhos têm que parar para analisar um pouquinho que a violência está sendo 26
muita. 27
DOC: Hum. Você tem uma filha, né? 28
20 Tenho uma filha. 29
DOC: O que é que você pretende para sua filha? 30
20 Educar ... eu acho que vou dar a mesma educação que eu tive na minha infância, no, 31
no que meus pais passaram para mim. 32
DOC Hum. 33
20 Se não vai chegar um ponto, tudo bem que você vai dar liberdade, mas também 34
falando o que, o que é o certo e o que é errado. Porque ela também ela vai aprender 35
no dia –a – dia, pra ela também não se esbarrar daqui para frente em algumas coisas 36
se, não venha me decepcionar. 37
DOC: Você foi muito preso quando era criança? 38
20 Não. Sempre tinha liberdade de brincar, agora era liberdade em quê? Falar assim ... 39
Como minha avó, ia para o colégio aí ia para a rua, ela falava assim: “Oh tal horário 40
você tinha que estar aqui”. Eu respeitava. Aí eu sempre estava no horário que ela 41
mandava. Isso não era ... 42
DOC: Então havia mais ... (superp) 43
20 ... não era ser preso. 44
DOC: Então havia mais respeito. 45
20 Mais respeito, porque hoje não há com respeito. Na minha concepção (inint) que 46
estou vendo ... estou passando até... em termos até de amigos ou amigas mesmo que 47
olho assim, não respeitam nem os próprios pais que eu fico até assim, “Pô, por que 48
que naquele tempo não era nada disso e hoje mudaram?”. Quem sabe até o milênio 49
está chegando, né? (risos) 50
DOC: E você foi uma criança pintona? Foi, L... ? 51
20 Ah, sempre fui uma criança pintona. 52
DOC: O que é que você fazia? 53
20 Ah, eu fazia o quê? Quando eu ia jogar bola, aí saía, né? Não avisava, minha avó 54
sempre pegava, chegava falava assim “pô, minha avó, por que não pode deixar eu 55
ficar jogando bola, que isso, que aquilo?”, “Você está muito novo ainda, você está 56
muito novo”, mas sempre no... mantendo sempre respeito com ela, né? E ela, e no, 57
na escola mesmo era muito abusado e sempre minha mãe recebia uma cartinha 58
assim, “J..., eh... L... C... compareça com senhor seus pais, isso e aquilo.” Mas isso 59
você sabe como era, aquele tempo era uma coisa, hoje em dia, sabe como é, tudo 60
totalmente diferente. 61
DOC: Então hoje os meninos são diferentes? 62
20 São diferentes. Com certeza. 63
DOC: Eles são mais pintões hoje? 64
20 São ... são mais pintões e mais agressivos, eu não sei... 65
DOC: Agressivos. 66
20 Agressividade. Tem muito. 67
DOC: É o que você falou da violência. 68
20 Da violência. 69
DOC: Então as pessoas já são mais agressivas. 70
20 Já são mais agressivas. Não sei porque, o que é que passa pelas cabeças deles. Você 71
vê ... você vira e mexe, você vê na televisão pessoas de doze, nem doze, oito ou sete 72
anos de idade com arma na mão, e vai ... comete um crime. Antigamente, na... 73
naquele tempo não havia isso. Todo mundo brincava, até brigava com o outro, 74
esticava a orelha tal, mas não havia e, essa violência que é hoje. Isso é triste até 75
para, para a própria sociedade, de ver até para os próprios pais. Como já aconteceu, 76
que aconteceu, que passou sobre um mendigo. 77
DOC Hum ... 78
20 Acho que aquelas pessoas têm a cabeça formada para chegar aquele ponto, chegar a 79
queimar uma pessoa num... num abrigo. Agente pensa assim “Como é que pode 80
rapaz, até que ponto o ... brasileiro está chegando em termos de mentalidade.” 81
DOC: Hum. 82
20 Muitas vezes pode ser até a droga, que vício influencia muito a capacidade de cada 83
pessoa. 84
DOC: Hum. E ... castigos? Antigamente havia mais castigos, não era? 85
20 Havia castigos, mas a gente aceitava, e chegava no outro dia estava todo mundo de 86
bem. 87
DOC: Então o próprio jovem já aceitava mais o castigo. 88
20 Aceitava mais o castigo do que hoje. Hoje em dia se você der um castigo ao seu 89
filho, ou ele quer responder ou sai de casa e para voltar ... demora muito. Para ... 90
isso cria até um ... termo de revolta, mas sempre quando a pessoa dá um castigo, é 91
até por, por bem dele mesmo, porque ele, porque o que está acontecendo hoje em 92
dia, se as mães não abri.. não abrirem os olhos deles próprios eles podem fazer 93
coisas piores. 94
DOC: Então é necessário que ... haja um pouco de controle dos pais. 95
20 Com certeza. Tem que ser, ... ter controle e também um respeitando o outro, quase 96
sempre é bom o diálogo, que eu acho que eu tive na minha... na minha infância, 97
houve sempre diálogo, sempre que minha avó conversava comigo, meus tios, minha 98
mãe me ... saía para levar, me a, mostrava o que ... o que era certo o que era errado, 99
então até hoje como eu estou aqui, nunca me envolvi em termos de drogas, bri ... 100
brigas, eu acho que brigas bestas, mas chegar ao ponto de ir para a delegacia, nunca 101
me envolvi. Pois tudo foi um fruto de educação que eu tive. Que muitas pessoas 102
falam assim “Menino criado com avó é mimado, ou - como dizem que é 103
homossexual ou viado, né?”, mas digo: Não, a criação que eu tive com minha avó e 104
com minha mãe, eu agradeço a elas, que valeu, está valendo a pena e vai valer a 105
pena até quando eu morrer. 106
DOC: É isso mesmo, que bom que você reconhece, não é? R... deve saber disso, você 107
reconhece, pra ela ficar mais contente. E me diga ... me diga uma coisa, eh... você ... 108
havia mais castigos, você recebeu algum assim que tenha sido ... 109
20 Que eu me revoltasse ... alguma coisa ...? 110
DOC: Eh ... Não. Que você tenha sido assim algo que merecesse você contar, ou foi muito 111
pesado, ou foi engraçado o castigo, ou até, às vezes, a gente recebe um castigo e não 112
foi merecido. 113
20 O que eu lembre assim, deixe eu ... o castigo que eu tive ... foi uma vez que eu fu... 114
que minha avó me mandou para casa de minha mãe e eu fugi. 115
DOC: Fugiu para onde? 116
20 Não fugi, eu fui para casa de minha mãe. Minha avó: “Você vai ficar morando lá na 117
casa de sua mãe agora, aí eu fiquei morando quando deu de madrugada, eu saí 118
correndo e voltei para casa de minha avó. Aí minha mãe ficou preocupada, veio de 119
madrugada, aí voltou, aí minha avó sentiu. “Ah, não, que isso e aquilo, isso... isso é 120
para você aprender, quando eu falar para você não sair você não sair, se não você 121
vai morar com sua avó, com sua mãe. 122
DOC: Com sua mãe. 123
20 Aí, eu acho que foi o único castigo que eu tive foi esse. Porque sempre a gente 124
conversava, e uma vez que eu tomei, foi uma dúzia de bolo de meu pai, mas só que 125
depois ele se arrependeu, porque não era para dar em mim ... o, o bolo, porque eu fiz 126
uma coisa, ele ... e quem fez uma coisa foi o meu primo, ele pensou que foi eu. Aí 127
entrou em contradição, ele me pegou e me bateu, mas normal. Não teve, não teve 128
cas ... outro castigo que eu me lembrasse assim não. Só mais que eu me lembre foi 129
esse mesmo, que eu estava pintando demais, aí minha avó “Você daí para casa de 130
sua mãe”, aí eu fui para casa da minha mãe, mas não agüentei e fugi. Ela: “Está 131
vendo você, da próxima vez já sabe”. Mas você sabe que naquele tempo, isto 132
normal, não, não teve demais, não teve nada de mais não... 133
DOC: Sim ... e você eh... não gostava muito de ficar na casa de sua mãe? 134
20 Não. Porque minha cria... acho que foi até ... tudo é questão de criação, porque 135
minha mãe trabalhava, certo? 136
DOC Hum ... 137
20 E não tinha quem tomasse conta de mim, aí eu, como recém – nascido, fiquei 138
morando com a minha avó, aquele xodó todo e tal e tal e me acostumei, até hoje eu 139
não saio para morar com minha mãe. (risos) 140
DOC: E, de qualquer forma na casa de sua avó sua mãe também estava lá direto, né? 141
20 É.
142
DOC: Então não havia grande diferença, não tinha separação da mãe, né? 143
20 É, eu sei. Mas sempre havia o ciúmes de meu pai, “Ah, porque a avó vai ficar 144
porque J... não vai ... isso e aquilo”, mas sabe como é o pai, né? Que querr ficar 145
sempre perto do filho. 146
DOC: É. É isso mesmo. Sim ... Agora quando adolescente, compare a sua adolescência 147
com a adolescência dos meninos de hoje. 148
20 Bom, assim, chegou num ponto bom. É isso ... (inint) adolescência ... como foi a 149
adolescência... 150
DOC: Quer dizer, sua adolescência, você está saindo da adolescência, você está bem assim 151
recente, não é? 152
20 Sim, até no meu tempo de adolescência. 153
DOC: Mais novo. 154
20 Mais novo, vou dizer assim, eu estou com vinte e quatro anos, hoje. Até, eu digo, os 155
quinze aos vinte anos não, não tinha muitas coisas que você vê hoje, a gente 156
brincava também, ainda tinha aqueles ... aquelas brincadeiras de você ir pra, pra a 157
escola aí jogava um, uma bola, brincava de... de fruta ... sal ... esse negócio, é ... 158
tudo o convívio como você também não vê na adolescência de hoje, que eles ... 159
essas pessoas de hoje, da... de quinze como, eh... vou separando, de quinze até os 160
vinte anos, na minha adolescência eu tinha, eu era, eu brincava de bola de manhã e 161
de tarde. E hoje você vê as pessoas não... não praticam nem esporte, já ... já está 162
muito forte em termos sabe de quê? Ah, eu acho que tudo entra aí a influência em 163
termos de drogas, eu estou vendo ... eu... fico, eu fico até com medo até de meu 164
irmão, de meu irmão, eu sempre converso com ele, que ele está chegando nessa 165
idade agora que... vai chegar aos vinte anos, e essa... e essa é a idade que perturba 166
muito, a influência, a pior coisa é a influência, a pessoa tem que ter uma cabeça 167
formada, independente de tudo, porque hoje a maioria desse pessoal, tudo só quer 168
saber (inint) de drogas, bebidas, né? Nem ...até estudo ninguém está estudando mais, 169
e eu tento abrir a cabeça de meu irmão porque ... eu não quero, eu quero passar para 170
ele o que eu passei, o que eu... o que eu, porque na minha adolescência, o que eu ... 171
o que eu ... o que eu era não, o que eu sou ainda. Quero passar para ele porque se ele 172
se juntar com as pessoas que não for certas ... e ele não tiver uma cabeça equilibrada 173
ele segue o mesmo caminho, e depois vai ser tarde para ele fugir disso. Aí eu tento 174
passar isso para ele porque pô ... eu me preocupo você vê eu estou do lado de lá, da 175
casa de minha avó, mas eu me ... fico me preocupando muito com ele porque hoje 176
em dia está muito difícil ... essas pessoas que a mãe não dá apoio que isso e aquilo, e 177
parte para ser assaltante outro parte para outro, outro meio ... você sabe como é hoje, 178
né? Hoje em dia, né? 179
DOC: É, está difícil. 180
20 Fica difícil mesmo e há muita preocupação. Minha adolescência foi... foi boa como 181
está sendo até hoje. Eu não vou dizer que eu sou um homem completamente, que eu 182
ainda tenho que aprender um bocado de coisa, mas ... uma parte boa mesmo eu 183
queria que voltasse, eu queria estar agora com quinze anos, dezes... 184
DOC: Com menos responsabilidade, não é? 185
20 É. (inint) 186
DOC: Mas hoje, você diz então que adolescência, viver adolescência hoje está mais 187
perigoso. 188
20 Está mais perigoso do que naquele tempo, na, vamos dizer assim até em noventa, de 189
noventa até noventa e três você poderia viver sua adolescência numa boa, mas hoje 190
está muito arriscado. Você vê pessoas de doze anos já armado, se você ... 191
antigamente era assim ... logo no começo como eu falei aqui, se você fosse para 192
algum bairro, brigasse com alguém aí ficava todo mundo normal, controlava, mas 193
hoje em dia não, você briga, você não pode nem andar, você tem que andar assim 194
olhando para um lado e para o outro, porque aquela pessoa que você brigou vai 195
querer fazer algo com você. Naquele tempo, na adolescência não. Você brigava aqui 196
e tal, até jogando bola mesmo colega brigava num outro bairro, no outro dia todo 197
mundo era amigo. Hoje em dia não. Não sei, como eu falei, está evoluindo de uma 198
hora para outra. Isso aí que preocupa, até assim ... o cidadão brasileiro se preocupa 199
muito, até... até suas filhas que vão crescendo hoje em dia dá aquele medo e você 200
tem que ter aquela ... como é que se diz assim você tem que falar logo o que está 201
acontecendo hoje no Brasil. Não generalizando só na Bahia não, no Brasil inteiro. 202
DOC: Pois é, é um perigo mesmo, né? E ... a respeito desse diálogo que você disse que os 203
pais devem ter com os filhos. Você acha que isso tem melhorado? 204
20 Aí, de alguns, alguns aspectos estão melhorados, não, não está piorando, mas estão 205
melhorando, está, está melhorando, certo? Se ... agora tem que vir desde cedo 206
porque se deixar o filho levar ... daqui que você chegue e venha num diálogo vai ser 207
pior. Eu acho que você tem que começar desde cedo, você já ensinando, ensinando, 208
ensinando o que é, aí ele vai começar a respeitar a si próprio. 209
DOC: Mudando ... mudando ... 210
20 Da adolescência? 211
DOC: É falou adolescência, mas vamos voltar agora à infância, mas agora falando mais a 212
nível de escola mesmo. 213
20 Certo. 214
DOC: Você entrou na escola bem criancinha. 215
20 Foi, no maternal. 216
DOC: Desde o maternal. 217
20 Jardim, né? 218
DOC: É, para você... você lembra de alguma coisa daquela época que você ... quando 219
entrou na escola, que idéia você, você teve da escola naquele momento? Você 220
lembra? 221
20 Lembrar?... Idéia é que ... em que sentido, é ...? 222
DOC: Então nesse sentido assim... então pense ... 223
20 Pra frente ... 224
DOC Já que você não lembrou da nada ... Por exemplo, você lembra daquelas professoras, 225
primeiras? Aquelas... 226
20 Lembro. Me lembro de colegas, hoje, principalmente, essa minha noiva é minha 227
cole... colega de escola. 228
DOC: Dessa época do maternal? 229
20 Dessa época do maternal e... e, e tem outras também, outras pro, professoras que 230
ainda falam comigo, colegas que ainda moram no mesmo bairro, e a gente sempre 231
pára, assim, pára para conversar “E naquele tempo da gente, hein? Como está o 232
tempo de hoje...”, o outro: “Ah é verdade”. Que era tudo ... você vê era uma família, 233
era ali todo mundo era uma família, um brincava com o outro, um respeitava o 234
outro. 235
DOC: Na escola? 236
20 Na escola é. Era uma família, porque a gente desde o maternal até a quarta série. 237
DOC: O mesmo grupo? 238
20 O mesmo grupo. 239
DOC: A quarta série primária ou? 240
20 Primária. O mesmo grupo. 241
DOC: E os professores? Como eram os professores naquela época? 242
20 Os professores eram ... eram bons professores. Eles passavam as melhores coisas 243
possíveis para a gente. Você vê que a gente estava falando assim eh... questionando, 244
você vê ... a educação daquele... daquele tempo dos professores que passaram para a 245
gente eu acho que é a mesma idéia que todo mundo que estudou junto, a mesma 246
concepção. Eu acho que tira de dedo as pessoas que ... se debandaram, foram prum 247
lado e outras foram, como tem a direita e a esquerda, uns foram pra direita e outros 248
foram pra esquerda. Eu acho que é a mesma filosofia dessas pessoas que estudou 249
junto acho que tem essa mesma coisa, acho que foi até uma circunstância dos 250
professores que passaram para a gente. 251
DOC: Então eles faziam, além de ensinar, eles davam ... uma certa orientação. 252
20 É. Uma orientação. Lembro quando a diretora, pró L..., que era... que eu era muito 253
perturbado, mas ela me dava um puxão de orelha, sabe para quê? Para me melhorar, 254
para não... para eu não ser daqui no futuro ... como outras pessoas mesmo. Que ele, 255
ela fazia questão de estar todo mundo junto, educar, ensinar o que era isso, o que era 256
certo, “Não pegue, não... não faça isso, que isso é feio ...” Isso me incentivou a 257
gente, pô, o que foi... a gente ... como eu te falei ...eu queria voltar ao tempo que 258
era bem melhor do que... posso até estar enganado do que hoje, se você, até você 259
saindo pra um lugar você fica preocupado de acontecer qualquer coisa, que acontece 260 mesmo. 261 DOC: É a insegurança. 262 20 Insegurança, é. 263
DOC: Nos dias de hoje. 264
20 Com certeza. 265
DOC: Sim, agora, naquela época também as escolas davam ca, castigos, você já foi 266
castigado, você falou do puxão de orelha. 267
20 Foi. 268
DOC: Sim. Mas havia esse ... esse tipo de coisa... 269
20 Ah, não, teve uma vez que ... ficar de joelho, sempre... 270
DOC: Já ficou de joelho? 271
20 Já fiquei de joelho. Era muito pintão. 272
DOC: Que motivos ... havia? 273
20 Ah, por que eu botei, pra você vê ... como são ... naquele tempo como era. Eu 274
coloquei assim eh... : L... C... gosta de M.. Aí a menina não gostou, aí falou pra ela, 275
pra professora, né? Aí falou para diretora “Mais L... C... disse aquilo, ah você vai 276
ficar de castigo hoje ...” 277
DOC Ah meu Deus ... 278
20 Foi (inint) ... ficar de joelhos”. Aí está tudo bem, mas depois normal. Brincadeira 279 tudo. 280 DOC: Castigo. 281 20 Castigo. 282
DOC: Por você gostar da menina... 283
20 Por que eu gostar de uma menina. E aí começou a chorar “Olha para aí professora, 284
olha para aí o que ele fez, que não sei o quê”, “Mas L... C... você não tem jeito 285
mesmo, não é?”. Mas aí botou, mas tudo bem, não ... não era nada de mais não. 286
DOC: Sim, eh ... você foi para a escola pequenininho mesmo, foi ... maternal. 287
20 Maternal. 288
DOC: Mais ou menos ... três anos, dois anos? 289
20 Três anos, três ou dois anos. 290
DOC: Hum. Fale algo sobre ... roupa, como era, eram diferentes as fardas, os livros de 291
agora? 292
20 Ah, era. A farda, minha farda era uma bermudona, uma camisa, um quichute e a 293
meia branca, com uma mochilinha de pano do lado, uma merendeira ... botava tudo, 294
e os livros do lado. 295
DOC: Sim. Eh... eram mais... as roupas eram mais práticas do que agora ou? 296
20 Sim. 297
DOC: Você gostava mais daquelas roupas do que as de, as que estão sendo usadas hoje? 298
20 Não. É tudo uma questão de tempo... o tempo vai, vai mudando, né? Então tudo vai 299
inovando. Mas ... agora, aquele tempo daquela roupa era diferente pro tempo da 300
roupa de hoje, dentro da escola. Agora são mais sofisticadas, mais bonitas, 301
antigamente era um pano, um bocado de botãozinho e um shortinho com uns dois 302
bolsinhos do lado, era um quichute mesmo e a meia, e a meia branca. 303
DOC: Eh, eu acho que a camisa era feita em casa, costurada. 304
20 Era feita em casa, costurada, dava o pano, dava o modelo do pano na ... num papel 305
ofício eu lembro como se fosse hoje, num papel ofício, aí dava para você fazer, e 306
você ia para a escola. 307
DOC: Era. Hoje essas fardas já são compradas prontas é. 308
20 Já são compradas prontas. Hoje em dia ninguém quer usar um quichute, nem usar 309
um pano. Aí nego fala “Quero tênis de marca” mesmo que a mãe não tenha 310
condição ela tem que se virar porque o filho só vai pra, pra escola se tiver o tênis de 311
marca. 312
DOC: É. 313
20 Naquele tempo não. 314
DOC: E as calças de hoje são... jeans. 315
20 São jeans, são jeans. Se não tiver ...o jeans não foi bom não vai para a escola não. 316
Eu tiro como meu irmão, mas ... sabe como é, aí vai crescendo os meninos, né? 317
Porque as meninas tinha nota né? Porque tudo está mal vestido, aí fica... aí fica 318
assim meio, não é? a verdade, a verdade é essa mesmo. 319
DOC: Já começa na adolescência a preocupação. 320
20 Na adolescência, é isso ... a preocupação. 321
DOC: Né? A preocupação em ficar bonito. 322
20 E a discriminação. 323
DOC: É, sim ... Eh... Você tem alguma lembrança ... desta questão de... das fardas de não 324
querer ir para a escola porque aquela farda era feia? Você já passou por essa 325
experiência? 326
20 Não. Nunca passei por essa experiência. 327
DOC: Não. Você também não rejeitou a ... 328
20 (superp) Não rejeitava, não .... 329
DOC: .... a sua, a sua farda. 330
20 Não. 331
DOC: O que é que você acha que ... 332
20 Era até... era até bom que pra a gente que as meninas era de sainha ou saião. (risos) 333
DOC: O que você acha que a escola como um todo melhorou de lá para cá? Melhorou em 334
que aspectos? 335
20 A escola ... 336
DOC: Ou não melhorou? Em nada a escola melhorou ... de lá para cá? 337
20 Olha, em termos de educação ... algumas escolas de porte melhorou, mas outras 338
escolas não. Outras estão dei,... deixando a desejar o próprio aluno. 339
DOC: Então, você acha que pode ter havido uma melhora, mas não em todas as escolas. 340
20 Em todas as escolas não. 341
DOC: Em que escolas você acha que melhorou? 342
20 Atualmente? Hoje? 343
DOC: Sim. 344
20 Tira de dedo, porque, antigamente quando eu estudei tinha umas três melhores 345
escolas que tinha aqui em Salvador, na Bahia, principalmente né, que temos o João 346
Florêncio Gomes, o Costa e Silva, e acho que é o maior colégio da Bahia que é o 347
ICEIA, onde eu estudei. Que ali o ensino era bom mesmo, e hoje em dia as pessoas 348
que estão estudando lá me falam que não é a mesma coisa, que se ... porque faltam 349
professores, entendeu? Estão tendo greve direto, então isso aí já diminui até eles 350
aprenderem alguma coisa, se estão faltando professor, você não vai aprender, você 351
vai pra a escola ... antigamente eram seis aulas, eram seis aulas que você assistia 352
todos os dias 353
DOC: Por turno, né? 354
20 Eh, eram seis aulas, seis aulas e hoje as pessoas que estudaram e falam “pô eu 355
estudei nesse colégio, no ICEIA, e aí como está lá, poxa não está a mesma coisa” 356
você vai para escola, hoje em dia você só assiste três aulas e as três aulas não assiste 357
mais porque falta professor. Então a educação, como você vai aprender? Não 358
aprende. Aí chega no final do ano, aí para passar. Está faltando a matéria (inint), 359
você vai até janeiro, fevereiro para fazer as outras matérias que estão faltando. 360
Então acho que isso aí já vem do professor. 361
DOC: Então, as escolas que você considerava boas naquela época estão com problemas ... 362
20 Estão decaindo. 363
DOC: E aquelas que você já achava mais ... 364
20 Você está falando colégio particular ou em geral? 365
DOC: Não, eu estou falando em geral. Você está falando do colégio público porque é o que 366
você conhece mais. 367
20 Eu conheço mais. 368
DOC: Mas pode falar do que você conhece. 369
20 Não, porque no colégio... eu acho que nos colégios particulares hoje estão ganhando 370
cem por cento direto está entendendo? Porque ali as pessoas se preocupam com os 371
professores, então com a educação, porque já vem já professores de faculdade. 372
DOC: É, mas você também estudou em escola particular. 373
20 Estudei em escola particular, e aprendi um bocado de coisa, ensinei aí, é isso que eu 374
estou falando, porque, naquele tempo, aí eu estudei na... eu estudei no ICEIA, do 375
ICEIA eu saí logo para uma escola particular direto, está entendendo? E aí você vê 376
o que é uma escola do governo e uma escola particular. 377
DOC: Muito diferente? 378
20 Muito diferente, em termos de educação muito diferente. 379
DOC: Em que aspectos? 380
20 Tem o aspecto dos professores mesmo que, são alguns, são formados, já sai do 381
magistério e já vai ser e já vai para lá, né? E o outro, em colégio particular já tem 382
uma formação em Universidade, então já passa as coisas melhores para a gente. Não 383
desmerecendo ao professor que está assumindo... que tem professores excelentes em 384
colégios estaduais que ganham até para professores de universidades, não é? Mas só 385
que a formação de lado deles é bem melhor do que a formação do outro. 386
DOC: Será que a cobrança também a nível de direção, coordenação não é maior entre as 387
escolas particulares? 388
20 Talvez, mas também se ... se eles também cobrassem no colégio estadual, ia se 389
nivelar, porque você vê, passou hoje na televisão que o professor agora vai ter que 390
fazer curso universitário para ser professor mesmo, não vai ser mais magistério 391
direto, por causa do ensino, dizem que os alunos não estão aprendendo. Eu acho que 392
isso é, até isso vai ser até uma falta de desemprego que vai acontecer 393
constantemente, eu penso isso. 394
DOC: Ou as pessoas vão estudar ou vão perder. 395
20 É, vão perder. Porque você faz o curso do magistério e você praticamente já estava 396
formado como professor, e agora você vai passar, fazer um curso universitário para 397
conseguir entrar numa escola do governo. Só, só pode ensinar na escola do governo 398
se você tiver um curso universitário. E aí, e quando não conseguir passar, vai ficar 399
penando, penando, penando, por esses lados... 400
DOC: Você falou aí do estudo das escolas, que as escolas ainda estão com alguns 401
problemas, mas será que as crianças em casa não poderiam estudar também mais, as 402
pessoas em casa não poderiam cobrar mais dessas crianças? 403
20 Concordo plenamente com a senhora. Isso aí já parte dos... dos, dos pais. Se 404
cobrarem mais, eles vão aprender mais, se não cobrarem, também não adianta você 405
cobrar do outro lado de lá do... do professor se você também não for cobrar dentro 406
de casa. Que desde quando o professor passa um... um exercício para você, um 407
dever de casa, aí, aí seus pais perguntam ao, ao filho “Trouxe dever?” aí os filhos 408
“Ah, não tem dever hoje não”. Aí chega lá no colégio “Cadê o dever”? então tem 409
que ter a cobrança também por parte dos pais, mas também tem o incentivo maior 410
da educação pra ele aprender mais, e aí, o pai também pode ensinar o filho. 411
DOC: Claro. 412
20 Está entendendo? Vai ser até melhor para ele, se partir também dos pais, eu acho 413
que ele vai aprender muito mais com o professor e com os pais também. 414
DOC: Com os pais. Você é contra aquela história das crianças terem aquele horário, 415
horário rígido de estudo em casa? O que é que você acha disso? 416
20 O horário rígido eh... determinado assim que chega, chega da escola. 417
DOC:À tarde só estudo. Não se brinca mais. Você concorda com isso? 418
20 Não, não concordo não, discordo. Eu acho que isso uma pressão e pode até 419
prejudicar até o menino né. Eu acho que ele tem, primeiramente, ele, o, o filho 420
também tem que ter responsabilidade desde quando o pai está passando para ele, 421
fazendo assim “olhe, tudo bem você vai ter que estudar, agora...” não tem que 422
determinar o horário dele estudar a tarde toda. Eu acho que isso aí já vem, aí vai ser 423
uma pressão forte, tem muitas pessoas que não gostam, então o filho não vem 424
também, aí chega “pô, meu pai, o que é isso? como é que pode? Vá estudar, vá 425
estudar” aquela pressão. Eu acho que não, tem que saber conversar com o filho. 426
“olhe, vá, vá estudar aí, fazer o seu dever, tal, aí depois você está liberado, isso e 427
aquilo, ou depois, você vá brincar, mas depois você tem que fazer o seu dever, 428
senão amanhã você não... você não vai fazer, então você não vai brincar” se ele não, 429
não fazer o dever, e amanhã também, também não vai brincar, então ele vai começar 430
a criar uma responsabilidade dentro de si, em si próprio ele vai criar uma 431
responsabilidade, vai ser até melhor para ele. 432
DOC: É uma forma de conquistar de outra maneira né? 433
20 É bom, bom senso né? É isso que eu estou falando, ...Inint... falta o diálogo. Se tiver 434
o diálogo, eu acho que tudo vai dar certo. 435
DOC: É, hoje existem outras coisas que tomam espaço dos filhos né, tomam o tempo dos 436
meninos. 437
20 É o namoro... 438
DOC: É, mas mesmo criança ainda, né? 439
20 Eh, Como é o quê, a televisão? Eh... tem os brinquedos que você vê nas ruas, os 440
vídeo – games que eles se puder não vai nem para a escola. Que eles já vê logo 441
assim com o menino aí já fica brincando de vídeo – game. Têm muitas vezes, tem 442
muitos meninos que ainda são assim né? 443
DOC: E o que é que você acha da televisão? 444
20 A televisão de hoje em dia? 445
DOC: O efeito da televisão, você acha positivo, negativo? Fale alguma coisa sobre a 446
televisão nas, para as crianças. 447
20 Olhe, como é que se diz... o efeito pode ser ... pode ser positivo e também pode ser 448
negativo, porque o que estão passando hoje na televisão né, aí cabe cada... cada, 449
cada, cada, cada pais, cada um dos pais falarem se deve assistir ou não, porque tem 450
muitas coisas indecentes hoje que estão passando na televisão. 451
DOC: O sexo. 452
20 O sexo mesmo, então você não pode, de poder você pode, agora depois você vai 453
parar para conversar com seus filhos, porque são cenas, muitas cenas pesadas. E 454
isso invoca até na escola que nego fala “pô, você viu aquilo que aconteceu na 455
televisão? Isso e aquilo” aí fala, aí fala até a professora “mas menino, numa idade 456
dessa você já está sabendo disso e mais aquilo” 457
DOC: Os meninos hoje... 458
20 É. 459
DOC: Sim, e, fale uma coisa... Eu queria perguntar uma coisa, agora não me ocorreu, mas 460
você falou que a televisão realmente tem efeito, pode ser positivo. 461
20 Ou negativo. 462
DOC: ... ou negativo, não é? Será que não está relacionado também a questão do, do que 463
você falou no início, a violência. Pode ter, a televisão pode também incentivar, será? 464
20 Incentiva também. Se vê, como o menino vê, que é, como... como dizem, não é, 465
eh... os meninos não aumentam, o que vê eles não aumentam, então se ele vê ele 466
fica naquilo “pô, você viu minha mãe, o homem ali com o revólver na mão? “Aí 467
você vê em sua casa, seu próprio pai tem um revólver e ele vê também. Se já passou 468
na televisão aí ele vê também. “ah, meu pai, olhe o revólver ali” E o pai também já 469
fica preocupado em não deixar no lugar porque fica aquele negócio, de querer até 470
brincar e isso e quilo para saber como é, então muitas vezes a televisão prejudica até 471
o ... o menino, em algumas partes, porque em outras partes também tem que ter o 472
lazer dele, de assistir o desenho dele, assistir um programa ou um show, isso aí 473
também incentiva o menino para se distrair também, né? Que ele não vai ficar 474
totalmente preso ou bitolado a só um, um regime. 475
DOC: Então tem algumas coisas que você consideraria positivas? 476
20 É, e outras coisas... 477
DOC: Assistir, não é? 478
20 É.
479
DOC: Assistir algumas coisas, então a família poderia selecionar, selecionar talvez? 480
20 É, selecionar é, eu acho que deveria. Não, no meu ponto de vista, deveria. 481
DOC: Que coisas hoje na televisão você considera positivas? 482
20 Hoje coisas na televisão positivas? Questão de idades ou... 483
DOC: Não, no geral, fique a vontade, ou pra adulto ou para criança. 484
20 Eh... tem tanta... tem tantas coisas, deixa eu ver uma, coisa positiva? Globo repórter. 485
Uma coisa positiva que, deixa eu ver, o Fantástico. 486
DOC: É. São coisas que acrescentam, né? 487
20 Que acrescenta, até no desenvolvimento da pessoa, quer ver? O programa de infantil 488
pela manhã, que sendo, sendo, agora aí é que vem o problema, né? Que são várias 489
emissoras, e se, que tem programa infantil pela manhã em um horário e se ele 490
estudar pela manhã não pode assistir... 491
DOC: O quê você consideraria, por exemplo, depende, você falou, depende da emissora. 492
20 É.
493
DOC: Não é? Que emissora você vê traria alguma coisa positivo para a criança pela manhã, 494
por exemplo? 495
20 Isso aí que varia, porque de repente, pela manhã pode ter um programa infantil no 496
onze e aí pela tarde não tiver, e se tiver um programa infantil, está entendendo, aí 497
diversifica, porque pode estudar de manhã e pode estudar pela tarde, não é? 498
DOC: E... e negativos assim? Como você rotula os negativos? Dá alguns exemplos? 499
20 Negativos são, você vê começa a partir das novelas, né? Você vê muitas cenas, eu 500
mesmo, eu na minha idade mesmo, eu fico olhando assim, eu estou assistindo a 501
televisão com minha avó, eu vejo aquelas cenas assim aí eu fico assim, eu fico 502
enver... eu fico envergonhado. “Mas rapaz, como é que pode?” Imagine sua filha 503
assistindo, sua filha ou filho. Tudo bem, tem uns pais que aceitam, né? Bota ali o 504
filho do lado para assistir, já ensinando, não sei, né? cada pai é um pai, cada 505
formação é uma formação, tem gente que fica do lado e bota para assistir. E na 506
minha concepção, eu fico olhando assim, tem muitas cenas assim, porque pela idade 507
deles ainda não tá para aprender o que é aquilo... 508
DOC: Inadequado, não é? 509
20 Não está adequado pra aprender o que é aquilo. 510
DOC: Pois é, seria forçar demais. 511
20 Forçar muito a barra, muito cedo. 512
DOC: É, a .... a .... a televisão é como se fosse uma aprendizagem, uma aula de, muito 513
aberta, né? 514
20 É, muito aberta. 515
DOC: Muitas coisas de vez. 516
20 Muitas coisas boas, mas tem coisas também que a gente, mas eles não podem mudar 517
quem tem que mudar é a gente mesmo. 518
DOC: Você na época de estudo você tinha acesso assim a televisão direto todos os dias? 519
20 Todos os dias só pela parte da noite, pela parte da tarde quando eu chegava eu ia 520
jogar bola. E minha vó se retava. 521
DOC: Ah, sua diversão era mais... 522
20 Era de jogar bola. 523
DOC: Era mais o jogo. Você sempre gostou de? 524
20 Eu sempre jogava bola. 525
DOC: É, hoje, os meninos ficam na televisão esquecem até do jogo. 526
20 Esquecem até do jogo e fica mais na rua. Você vê, muitas pessoas mesmo na rua, 527
não, eu acho que televisão pra ele é o mínimo, não liga mesmo... 528
DOC: O que é que você acha do esporte? Ajuda na educação? 529
20 Ajuda e muito. 530
DOC: O que você acha aí? 531
20 Eu acho que se a maioria dos meninos hoje, vou dizer assim, 80% praticasse esporte 532
ia ser bom para a saúde dele e para a mente. 533
DOC: Mente? 534
20 É. desenvolve mais, aque... como é que se fala? Eh... ele vai se sentir mais livre, 535
mais solto, fora de outros meios. Então o esporte ensina a você até a viver, a 536
desenvolver na sua vida. Os 80% dos jovens que pensassem nisso, acho que ele ia 537
estar sempre bem, mas hoje em dia eles não pensam isso, vai pelo outro jeito. Como 538
eu falei, naquele tempo, a gente brincava todo dia, para mim todo dia era gude, era 539
empinava arraia, era bate – lata, era garrafão e hoje em dia, não, você não vê 540
ninguém fazer mais isso. Você vê pessoas de doze, dez, doze anos, você pessoas de 541
barzinho bebendo, fumando. Você pode parar e você vê fumando assim em 542
barzinho e... eu olho assim, rapaz! naquele tempo, imagine eu botar um copo de 543
cerveja em minha... na boca, era porrada na hora. E hoje em dia está liberal mesmo, 544
está liberal, você vê meninos de doze, doze, dez anos, você para no barzinho você 545
vê eles namorando, com uma carteira de cigarro do lado, com uma cervejinha. É. 546
DOC: As coisas estão bem diferentes hoje mesmo. 547
20 Estão bem diferentes. Mudou muito. 548
DOC: Sim, você, eh... eu queria fazer o seguinte de você, você acha que tem ligação entre 549
praticar esporte, né? E será que de alguma maneira praticar esporte reduz o 550
consumo de drogas? 551
20 Reduz, reduz sim. 552
DOC: Porque você acha que isso acontece? 553
20 Até o próprio professor ensina, educa, como... no meu tempo era assim, se você não 554
tiver uma nota no boletim você não jogava no time. Então há preocupação, eles lá, 555
os professores que, esses de basquete, de futebol, de handebol, de tênis, e outros 556
esportes. Eles vão lá e ensinam a maneira de você ser, e eles passam que você não 557
use drogas, não vai, não faz bem para a saúde. Não compre, que não vai fazer bem 558
para a saúde, se você não praticar, você vai cansar, sua mente não vai aceitar, não 559
vai... não vai ficar controlada. Então eles ensinam e como eu falei pra você, se eles 560
praticassem o esporte ia mudar totalmente o índice até de drogas de alguns, algumas 561
pessoas. Acho que o esporte ajuda muito o cidadão. 562
DOC: Então. 563
20 Não é só crianças não, até pessoas adultas também, se pudesse praticar um esporte, 564
quem já consumiu, quem já consome drogas, eu acho que ele ia diminuir, ou até 565
parar, porque há um incentivo, eles sempre tem uma reunião em grupos, assim 566
para... fazer debates que é que acha da droga, o que é que acha do sexo, que é que 567
acha disso, que é que acha daquilo. Então isso, acho que o esporte incentiva o 568
cidadão a não praticar o que... é pratique esporte, não pratique drogas. 569
DOC: Então se houvesse um estimulo... 570
20 Um estimulo. 571
DOC: ... ao esporte talvez até houvesse uma redução. 572
20 Uma redução. Partindo até de escolas mesmo, de professores que... não tem 573
educação física? É obrigatória, né? Não sei hoje em dia, não sei. 574
DOC: É. É obrigatória. 575
20 É obrigatória. Eles mesmo ensinam. Agora, é tudo é formação de cabeça, tem umas 576
pessoas que ficam assim, e muitas pessoas são teleguiadas, hoje em dia essas 577
pessoas são muito teleguiadas, são muito influenciadas. Ah, vambora aqui fazer 578
aquilo, ah, só para experimentar, isso e aquilo. Acaba já num outro mundo, já num 579
outro, quando vai ver já está viciado. E não deve ser assim. 580
DOC: e me diga uma coisa, como os pais devem se comportar quanto a isso? Desses, dos 581
amigos, as influências dos amigos, como o pai pode... o que é que você acha disso? 582
Pode ajudar? 583
20 O pai pode ajudar não discriminando, porque eu acho que isso é até pior que eu vi 584
até uma repo... uma reportagem, pode até ajudar uma pessoa que é viciado, pode até 585
ajudar, agora você não deve se juntar. Os pais devem conversar com seu próprio 586
filho, e chegar falar assim, “se ele te ofereceu alguma coisa, você sabe que é um 587
viciado, não queira que vai lhe prejudicar, agora se você pegar, você está sabendo 588
que você vai ser prejudicado e vai ser pior, então você tem que olhar qual é o 589
melhor para você. Então se alguém chamar um viciado não faça isso, não pegue 590
qualquer coisa que vai ser pior para você. Então o pai também tem que ajudar. É, e 591
até incentivar “olhe, meu filho, esse lado não é bom não, pratique um esporte ou 592
faça outra coisa ou procure se movimentar porque esse lado é, é negativo como 593
que”. 594
DOC: Pois é J..., nós já podemos parar por aqui, eu acho que a fita já está perto de acabar. 595
Viu? Então eu vou agradecer pela... já relaxou mais ... 596