• Nenhum resultado encontrado

Os cantos perdidos da Odisseia

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Os cantos perdidos da Odisseia"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

zachary mason

Os cantos perdidos

da Odisseia

Um romance

Tradução Rubens Figueiredo

(2)

Copyright © 2007, 2010 by Zachary Mason Todos os direitos mundiais reservados ao proprietário

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original

The lost books of the Odyssey: a novel

Capa Victor Burton Preparação Ciça Caropreso Revisão Marise Leal

Adriana Cristina Bairrada

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Mason, Zachary

Os cantos perdidos da Odisseia : um romance / Zachary Mason ; tradução Rubens Figueiredo. — São Paulo : Companhia das Letras, 2011.

Título original: The lost books of the Odyssey: a novel. isbn 978-85-359-1955-4

1. Ficção grega 2. Odisseia (Mitologia grega) i. Título. 11-08993 cdd-889.3 Índice para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura grega 889.3

[2011]

Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz ltda.

Rua Bandeira Paulista 702 cj. 32 04532‑002 — São Paulo — sp Telefone (11) 3707‑3500 Fax (11) 3707‑3501

www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhia.com.br

(3)

Sumário

Prefácio, 7

1. Uma revelação triste, 11 2. O outro assassino, 14 3. O estranho, 17 4. Amigo hóspede, 24 5. Agamêmnon e a palavra, 29 6. Elegia de Penélope, 35 7. Bacantes, 37 8. Aquiles e morte, 43 9. Uma bondade, 48 10. Fugitivo, 52

11. Uma noite na mata, 58 12. Decréscimo, 67 13. Epifania, 68 14. Fragmento, 73

15. O golem dos mirmídones, 74 16. Três ílios, 80

(4)

17. Sereias, 82 18. A Ilíada de Odisseu, 87 19. Matando Cila, 103 20. Morte e o rei, 107 21. A imagem de Helena, 119 22. Terra gloriosa, 124 23. Ilhas no caminho, 128 24. Odisseu no Inferno, 132 25. O canto do inverno, 134 26. Cegueira, 139 27. Esposa de Ninguém, 145 28. Fenícia, 148 29. Intermezzo, 152 30. Lamento da vitória, 154 31. Atena na morte, 159 32. Jardim de pedra, 162 33. Lei de Cassandra, 164 34. Principia Pelagica, 166 35. Epígrafe, 168

36. Um cisco na escuridão do oceano, 171 37. A urdidura de Atena, 173

38. O longo caminho de volta, 176 39. O disco do oceano, 185

40. Sanatório, 186 41. Fogos de artifício, 191 42. Registro de uma partida, 195 43. A Odisseia de Alexandre, 200 44. Últimas ilhas, 206

(5)

11

1.

Uma revelação triste

Odisseu volta para Ítaca num barco pequeno num dia claro. A familiaridade da face leste da ilha parece absurda — descon‑ certado, ele segue por uma contracorrente traiçoeira, na qual fazia quinze anos que não pensava, e chega à terra através da boca de uma enseada onde nadava quando menino. Toda sua im paciência o abandona, senta‑se ao pé de um carvalho de que se lembra e cujos galhos pendem sobre a água, muito bons para mergulhar. Vinte anos se passaram, reflete ele, o que importam mais uns poucos minutos? Uma hora transcorre em silêncio e lhe vem o pensamento de que está cansado e que seria melhor ir para casa, portanto apanha sua espada e caminha em direção à sua casa, seguro de que qualquer obstáculo que o aguarde será pequeno comparado com tudo aquilo que já enfrentou.

A casa parece igual ao que era quando a deixou. Percebe que o portão do aprisco das ovelhas foi consertado. Um fio de fumaça sobe da chaminé. Ele entra sorrateiramente, mão na es‑ pada, pensa em como seria ridículo vir de tão longe e perder tudo num momento de descuido.

(6)

12

Lá dentro, Penélope está em seu quarto e um velho cochila perto da lareira. Odisseu fica parado na porta por algum tempo, antes que Penélope o perceba ali e grite, largando sua lançadeira de tecer, e antes que respire fundo de novo e corra para abra‑ çá‑lo, beijá‑lo e molhar as faces de Odisseu com suas lágrimas. Bem‑vindo ao lar, diz ela com o rosto em seu peito.

O homem junto à lareira se levanta com ar possessivo, pate‑ ticamente preocupado e, num lampejo de intuição, Odisseu en‑ tende que aquele é o marido dela. A ideia é absurda — o homem é molenga, grisalho e pesado, não é um herói nem nunca foi, não teria sobrevivido nem uma hora sob a luz ofuscante à frente das muralhas de Troia. Olha para Penélope a fim de confirmar sua conjectura e nota como ela envelheceu — os quadris estão mais largos, o cabelo grisalho em sua maior parte, a pele em re‑ dor dos olhos riscada por rugas finas. Sem os olhos de satisfação com seu regresso ao lar, resta apenas um eco de sua beleza. Ela recua um passo de Odisseu, observa uma funda cicatriz em seu ombro e o espanto de Penélope e o temor do velho se tornam um espelho — ele se dá conta de que, com sua pele enegrecida, sua barba emaranhada, seu corpo magro e endurecido por anos de guerra, parece um vingador, uma alma penada, um lobo do mar.

Depois de recobrar a serenidade, Penélope coloca a mão no ombro dele e diz que é muito bem‑vindo em sua sala, que é dele. Em seguida, seu rosto se desfaz em lágrimas e Penélope diz que não acreditava que ele fosse voltar, fora informada de que estava morto havia oito anos, tinha desistido havia muito tempo, tinha esperado o quanto fora capaz, mais tempo do que qualquer pessoa julgaria adequado.

Ele passara os dias de exílio imaginando diversas cenas de seu regresso ao lar, mas nunca lhe ocorrera que ela tivesse sim‑ plesmente desistido de esperar. A cidade deserta, sua casa assal‑ tada por pretendentes violentos, Penélope à beira da morte, ou

(7)

13

já morta e enterrada, mas não aquilo. “Uma viagem tão longa”, pensa ele, “e com tantos lugares onde eu poderia ter ficado, no caminho.”

Então, com misericórdia, vem a revelação. Odisseu se dá conta de que aquela não é Penélope. Aquela não é a sala dele. Aquela não é Ítaca — o que ele vê à sua frente é uma ilusão vin‑ gativa, o logro de algum deus malévolo. A Ítaca real está em outra parte, oculta em alguma extremidade dos caminhos do mar. Atordoado, Odisseu dá meia‑volta e foge das sombras tor‑ turantes.

(8)

14

2.

O outro assassino

Na Corte Imperial de Agamêmnom, o sereno, o altivo, o dis‑ simulado e o preferido de toda parte do império, existiam três vizires, dez cônsules, vinte generais, trinta almirantes, cinquenta hierofantes, cem assassinos, oitocentos administradores de segun‑ do grau, dois mil administradores de terceiro grau e inúmeros es‑ crivães, soldados, cortesãos, sábios, pintores, músicos, mendigos, gatunos, incendiários, estranguladores, sicofantas e parasitas de espécies indeterminadas, todos a postos para fazer a vontade do radioso, sereno etc. imperador. Aconteceu que, no vigésimo ano de seu reinado, o cenho real de Agamêmnon ficou toldado ao pensar num certo Odisseu, que ele tinha na conta de alguém de fama excessiva por sua argúcia, quando ele mesmo preferia que fama e argúcia fossem atributos exclusivos do trono. Embora fos‑ se verdade que aquele Odisseu havia feito certas contribuições à recente campanha, relativas à oferta enganosa de um cavalo que facilitara a entrada furtiva na cidadela inimiga, aquilo não justificava a infração das prerrogativas reais e, em todo caso, já fazia muito tempo que a guerra havia chegado a um desfecho

(9)

15

satisfatório, assim Agamêmnon convocou o escrivão dos Suici‑ das, das Oferendas do Templo, das Investiduras, da Falência e da Humana e Justa Liquidação, e assinou o decreto de morte de Odisseu.

O escrivão dos Suicidas etc. fez uma reverência e, com a devida formalidade, passou o documento para o General que Guarda a Morte na Mão Direita, que o anotou, carimbou e entregou ao Vice‑Rei dos Assuntos Domésticos Relativos à Mor‑ talidade, e assim por diante, através dos numerosos desvios e si‑ nuosidades da burocracia, pelas mãos de chefes de espiões, cri‑ minosos de carreira, assassinos cegos, clérigos mendazes e por fim os escalões mais baixos dos conselheiros, que tinham sido promovidos a certas responsabilidades por conta de sua dedica‑ ção e competência (qualidades raras em vista de seus honorários baixos e do desprezo com que eram tratados por seus superiores bem relacionados ou de origem nobre), um dos quais observou que se tratava de uma ordem de morte de alta prioridade e, sem ler, incumbiu de tal tarefa o senhor da guerra, e constante servi‑ dor do trono, Odisseu.

Um mensageiro chegou a Ítaca e entregou a Odisseu suas ordens. Odisseu leu o documento, de cara fechada, agradeceu ao mensageiro e comentou que a vítima em vista teria uma gran‑ de surpresa e que ele estava moralmente seguro de que nenhum problema surgiria em seu fim.

Durante os oito dias seguintes, Odisseu enviou as seguintes mensagens para a corte, conforme requeria o protocolo:

“Estou a um dia de barco da ilha dele.”

“Estou andando entre pessoas que o conhecem e também conhecem seus hábitos.”

“Estou a dezesseis quilômetros da casa dele.” “Oito quilômetros.”

(10)

16

“A lua cheia se reflete no espelho de prata acima da cama dele. O silêncio é completo, salvo por sua respiração.”

“Estou parado diante da cama com um punhal tinto do sangue dele. Antes do corte, ele olhou para meu rosto e jurou trucidar o homem que ordenou sua morte. Creio que como uma sombra sussurrante ele não há de fazer mal nenhum.”

Referências

Documentos relacionados

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

Entrando para a segunda me- tade do encontro com outra di- nâmica, a equipa de Eugénio Bartolomeu mostrou-se mais consistente nas saídas para o contra-ataque, fazendo alguns golos

Após sete anos de trabalho, o Centro de Estudos do Crescimento e do Desenvolvimento do Ser Humano - CDH - muniu-se de coragem para lançar a Revista Brasileira de Crescimento

Para tanto, o artigo faz uma breve abordagem ao Modelo de Fleuriet onde, a partir de uma reestruturação do balanço patrimonial é possível obter-se indicadores financeiros

Em um dado momento da Sessão você explicou para a cliente sobre a terapia, em seguida a cliente relatou perceber que é um momento para falar, chorar, dar risada

Não diga “amém” para tudo e, quando for dizer, saiba que o nosso Deus, que é o nosso Rei e o único que é Fiel, vai fazer com que assim seja feita a vontade d’Ele em nós e

Não pode ser copiado, escaneado, ou duplicado, no todo ou em parte, exceto para uso como permitido em uma licença distribuída com um certo produto ou serviço ou de outra forma em

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos