• Nenhum resultado encontrado

PARÂMETROS E INDICADORES DE QUALIDADE PARA OS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE CURITIBA: UM PERCURSO EM CONSTRUÇÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PARÂMETROS E INDICADORES DE QUALIDADE PARA OS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE CURITIBA: UM PERCURSO EM CONSTRUÇÃO"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

ISSN 2176-1396

PARÂMETROS E INDICADORES DE QUALIDADE PARA OS

CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE CURITIBA:

UM PERCURSO EM CONSTRUÇÃO

Rita de Cássia Martins1 - SME Gisele Aparecida de Souza2 - SME Joélma de Souza Arbigaus3 - SME Grupo de Trabalho – Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Básica Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente relato de experiência descreve o percurso de autoavaliação institucional desenvolvido nos Centros Municipais de Educação Infantil, da rede de educação do município de Curitiba. O objetivo desse relato é o de fazer um resgate do processo de construção do documento “Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil” (CURITIBA, 2009), bem como da sua utilização no momento de realizar uma autoavaliação institucional. Foram utilizados como principais referências na construção do documento os Parâmetros Nacionais de qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006a, 2006b), os Indicadores da Qualidade na Educação (BRASIL, 2004) e os Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1997). Na análise, os autores utilizados foram Moro e Oliveira (2015), Rosemberg (2013), Savio (2015) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o Parecer CNE/CEB n.º 20 e a Resolução CNE/CEB n.º 5. Pela construção e implementação desse documento, no ano de 2015, a Rede Municipal de Ensino de Curitiba recebeu o prêmio de Inovação em Gestão Educacional. O prêmio é concedido a cada dois anos, pelo Ministério da Educação, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aos municípios com resultados significativos para a qualidade da educação, a partir de mudanças na gestão de suas redes de ensino. Ao final desse relato são tecidas algumas considerações, críticas e sugestões quanto às possibilidades de ampliação das reflexões e da participação de

1

Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela Universidade Federal do Paraná. Pedagoga da Prefeitura Municipal de Curitiba – Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal da Educação. E-mail: cass.martins02@gmail.com.

2

Especialista em Educação Especial e Inclusiva- FACINTER. Pedagoga da Prefeitura Municipal de Curitiba – Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação. E-mail: gisesouza@sme,curitiba.pr.gov.br.

3

Especialista em Docência na Educação Infantil – UFPR. Pedagoga da Prefeitura Municipal de Curitiba – Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação. Pedagoga da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Email: jarbigaus@sme.curitiba.pr.gov.br.

(2)

gestores, professores, crianças, enfim, de toda a comunidade educativa na avaliação da Educação Infantil.

Palavras-chave: Avaliação Institucional, Educação Infantil, Parâmetros de Qualidade. Introdução

O município de Curitiba conta com 397 instituições de Educação Infantil, que estão diretamente ligadas à Secretaria Municipal da Educação, sendo 199 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), 121 escolas com turmas de Educação Infantil e 77 Centros de Educação Infantil conveniados (CEIs)4. Os CMEIs e as escolas municipais estão vinculados a um Núcleo Regional da Educação5 que tem a responsabilidade de orientar e supervisionar o seu funcionamento. As equipes de pedagogos dos Núcleos Regionais da Educação e dos CEIs conveniados são orientados e supervisionados por uma equipe de pedagogos e professores, que atua no Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba.

No ano de 2008 a equipe do Departamento de Educação Infantil iniciou um processo de estudo e discussão dos Parâmetros Nacionais de qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006a, 2006b). Documento que tem a função de “estabelecer uma referência

nacional, que subsidie os sistemas na discussão e na implementação de parâmetros de qualidade locais” (BRASIL, 2006, p. 10). O objetivo dos estudos e discussões era elaborar

um documento que atendesse as especificidades da rede municipal e apoiasse as equipes das instituições e as famílias em uma autoavaliação sobre a qualidade de funcionamento e de atendimento às crianças. O primeiro documento elaborado foi Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil6.

Além dos Parâmetros Nacionais de qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006), foram acrescentados estudos dos Indicadores da Qualidade na Educação (BRASIL,

4

Conveniamento técnico e financeiro.

5

Está prevista uma reorganização que incluirá o Núcleo Regional da Educação Tatuquara, porém até o ano de 2015, a Secretaria Municipal da Educação conta com 9 Núcleos Regionais da Educação: Núcleo Regional da Educação Bairro Novo, Núcleo Regional da Educação Boa Vista, Núcleo Regional da Educação Boqueirão, Núcleo Regional da Educação Cajuru, Núcleo Regional da Educação CIC, Núcleo Núcleo Regional da Educação Pinheirinho, Regional da Educação Portão, Núcleo Regional da Educação Matriz, Núcleo Regional da Educação Santa Felicidade.

6

Na sequência iniciou-se os estudos para elaboração dos Parâmetros e Indicadores de Qualidade para a Educação Infantil nas escolas e em 2011 foi publicado os Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros de Educação Infantil conveniados. Atualmente o documento destinado à educação infantil nas escolas está passando por uma revisão e reformulação, com a participação dos gestores e pedagogos das escolas, prevendo um único documento para educação infantil e ensino fundamental. Essa reformulação pode favorecer e fortalecer os canais de comunicação da educação infantil com o ensino fundamental, como sugere Rosemberg (2013).

(3)

2004)7 e Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1997). Esse último documento já era utilizado como uma das referências nas formações em serviço dos professores da rede municipal de educação e ficou conhecido entre os profissionais como o “livro das carinhas”8

. A primeira parte apresenta doze critérios relativos à organização e ao funcionamento interno das creches, listados como direitos fundamentais das crianças.

Para Moro e Oliveira (2015) ainda que esse documento não tenha sido elaborado com a intenção de constituir-se em um instrumento de avaliação da Educação Infantil, “ele serve

como uma orientação do que se deveria considerar como traduzindo os direitos das crianças a um bom serviço de creche e pré-escola”. (MORO, OLIVEIRA, 2015, p. 2010).

Os Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1997) foi um dos principais documentos consultados e utilizados na escrita dos Parâmetros municipais para CMEIs e escolas com Educação Infantil9, como pode ser observado no quadro 1:

Quadro 1 – Relação entre os parâmetros expressos no documento municipal e os critérios estabelecidos no documento nacional.

Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba (CURITIBA, 2009)

Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1997)

Nossas crianças têm direito a um espaço organizado, aconchegante, seguro e desafiador, durante a sua permanência no CMEI

Nossas crianças têm direito a um ambiente aconchegante, seguro e estimulante

Nossas crianças têm direito à brincadeira Nossas crianças têm direito à brincadeira Nossas crianças têm direito a uma alimentação

saudável

Nossas crianças têm direito a uma alimentação sadia

Nossas crianças têm direito a desenvolver sua identidade

Nossas crianças têm direito a desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa

Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto e à amizade

Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto e à amizade

Nossas crianças têm direito a desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão

Nossas crianças têm direito a desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão Nossas crianças tem direito a serem educadas por

profissionais qualificados

--- Nossas crianças tem direito a um espaço de convivência democrática

--- Fonte: As Autoras.

7

Um documento destinado às escolas de ensino fundamental e médio, mas que também é indicado para consulta e adequações necessárias às escolas com educação infantil.

8

Esta expressão “livro das carinhas” se deve à ilustração da sua capa nas duas primeiras edições (1995, 1997). Em 2009 ele foi publicado com o mesmo texto e um novo projeto gráfico e diagramação.

9

Em 2009, mesmo ano da publicação dos Parâmetros e Indicadores de qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil e dos Parâmetros e Indicadores de qualidade para as escolas com Educação Infantil, o MEC lançou os Indicadores da qualidade na educação infantil. Esse foi o principal documento utilizado para construção dos Parâmetros e Indicadores de qualidade para os CEIs conveniados, publicado em 2011.

(4)

No quadro fica evidente que 6, dos 8 parâmetros estabelecidos no documento Parâmetros e Indicadores de qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil (CURITIBA, 2009) são inspirados nos Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1997). Os dois últimos parâmetros podem ser relacionados à segunda parte do documento: A política de creche respeita criança: critérios para políticas e programas, que trata dos critérios relativos à definição de diretrizes e normas políticas, programas e sistemas de financiamento.

No documento municipal cada um dos parâmetros apresentam um texto de introdução, objetivos e se desdobram em critérios e indicadores. Para a definição de parâmetro e indicador a referência utilizada foram os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil — Volume 1:

Entende-se por parâmetros a norma, o padrão, ou a variável capaz de modificar, regular, ajustar o sistema (Houaiss e Villar, 2001). Parâmetros podem ser definidos como referência, ponto de partida, ponto de chegada ou linha de fronteira. Indicadores, por sua vez, presumem a possibilidade de quantificação, servindo, portanto, como instrumento para aferir o nível de aplicabilidade do parâmetro. Parâmetros são mais amplos e genéricos, indicadores mais específicos e precisos. (BRASIL, 2006a, p. 8).

Qualidade é um termo essencialmente subjetivo e sua análise também. A escrita do texto introdutório e dos objetivos de cada parâmetro, e o estabelecimento de critérios e de indicadores para serem avaliados, sustenta a busca por uma base comum de avaliação, que esclareça do que trata cada um dos parâmetros e indicadores. Ainda assim, o principal elemento que favorece a reflexão e a compreensão sobre do que trata cada item do documento é o diálogo e a formação em serviço aos profissionais, em consonância com o que o documento indica como educação de qualidade.

Os Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba (CURITIBA, 2009) foram publicados no mesmo ano que os Indicadores da qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009). Ambos são instrumentos de autoavaliação da qualidade das instituições e buscam oferecer as equipes de profissionais e familiares um instrumento adicional de reflexão, análise e planejamento de ações:

Por meio do documento, a instituição de educação infantil pode compreender melhor seus pontos fortes e fracos, intervindo para melhorar sua qualidade, de acordo com suas condições, definindo suas prioridades e traçando um caminho a seguir na construção de um trabalho pedagógico e social significativo. (BRASIL, 2009, p. 15).

(5)

A elaboração e o desenvolvimento desses Indicadores resultam de um trabalho colaborativo que envolveu diversos grupos em todo país.

Simultaneamente a esse movimento, os Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil (CURITIBA, 2009) teve sua versão preliminar elaborada por uma equipe do Departamento de Educação Infantil, da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. Essa versão foi discutida, alterada e a versão final foi validada em Seminários Regionais, com representantes dos profissionais da educação infantil de Curitiba que atuam nos CMEIs, nos Núcleos regionais e no Departamento de Educação Infantil.

Durante a elaboração e o desenvolvimento dos Seminários os objetivos do documento foram sendo estabelecidos, compartilhados, discutidos e validados nos Seminários Regionais. São eles:

 Apresentar parâmetros comuns aos CMEIs, a serem considerados na (re)elaboração das propostas pedagógicas e dos planos de ação.

 Estabelecer referências a partir de indicadores para a organização de espaços e tempos voltados a ambientes de qualidade para a educação infantil. Essas referências estão pautadas, prioritariamente, no direito das crianças a terem uma educação infantil de qualidade, que é expressa em ações integradas de cuidado e educação, respondendo às necessidades fundamentais de seu desenvolvimento.

 Potencializar as discussões com as famílias que frequentam os CMEIs sobre a qualidade que se espera na educação e no cuidado das crianças.

 Apoiar o educador/professor/pedagogo no planejamento de espaços e tempos com ações de educação e cuidado voltadas à aprendizagem e ao desenvolvimento infantil. (CURITIBA, 2009, p. 10).

Utilização do documento nas unidades: autoavaliação

A avaliação dos Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil (CURITIBA, 2009) ocorre anualmente, em uma data prevista no calendário da instituição. Nesta data (sábado letivo de integração com as famílias), familiares e profissionais se reúnem e fazem a autoavaliação. Em documento próprio, após refletirem e avaliarem cada indicador, é atribuída uma cor para cada indicador, verde se o indicador for considerado consolidado na unidade, amarelo se acontece eventualmente e vermelho se é inexistente. O resultado dessa avaliação é registrada pelo CMEI em um arquivo virtual que organiza e tabula os dados da unidade. Esses dados são enviados ao Núcleo Regional que os organiza e depois encaminhados para o Departamento de Planejamento e Informações e o Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba.

(6)

Após cinco anos do documento, no primeiro semestre de 2015, a Rede Municipal de Ensino de Curitiba recebeu o prêmio Inovação em Gestão Educacional10, concedido pelo Ministério da Educação por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A premiação foi na sede do Inep, em Brasília, pelo desenvolvimento dos Parâmetros e Indicadores de Qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil.

A avaliação dos parâmetros e indicadores sinaliza quais as necessidades de investimento da instituição, quanto à melhoria, manutenção ou aprimoramento do trabalho, que constarão do seu plano de ação do ano seguinte. A participação das famílias, nesse momento, possibilita que todos olhem para pontos comuns, em prol das crianças.

Resultados e Impacto

Por meio da autoavaliação foi possível mensurar aspectos quantitativos e qualitativos de diferentes aspectos da instituição, tais como: organização dos espaços; o brincar; alimentação saudável; desenvolvimento da identidade; ambiente educativo; desenvolvimento da curiosidade, imaginação e capacidade de expressões infantis e qualificação profissional. Dessa forma, é possível identificar pontos a serem melhorados em cada instituição, em cada Núcleo Regional de Educação e até mesmo na rede municipal, contribuindo com diferentes ações para a superação dessas fragilidades no que se refere as questões de logística e organização dos espaços, bem como, na identificação de práticas de referência, contribuindo para a disseminação destas por meio da socialização em encontros e no desenvolvimento da formação continuada.

Através da avaliação institucional e do plano de ação individual de cada instituição, os gestores e o Conselho de CMEI passaram a usar os recursos financeiros disponibilizados de maneira mais planejada e adequada às suas necessidades, buscando as melhorias em diferentes aspectos ligados à qualidade da infraestrutura, tais como a organização dos espaços, a diversidade de brinquedos, qualidade dos espaços de alimentação e outros. Também foi possível identificar um olhar mais sensível do educador, professor e pedagogo em analisar o planejamento pedagógico. Dessa forma, no plano de formação do pedagogo, houve um investimento no conhecimento do currículo para a Educação Infantil, buscando na diversidade das práticas e objetivos de aprendizagem, o desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social da criança, resultando no desenvolvimento infantil integral.

10

O prêmio é concedido a cada dois anos, aos municípios com resultados significativos para a qualidade da educação, a partir de mudanças na gestão de suas redes de ensino.

(7)

O plano de ação é um documento vivo nas instituições, de acompanhamento contínuo por parte de todos os envolvidos, como mostra a figura 1:

Figura 1 – Plano de Ação do CMEI. .

Fonte: As Autoras

Avaliar todas as ações que ocorrem nas instituições, bem como as aprendizagens das crianças é uma das atribuições mais importantes da Educação Infantil, como sublima Moro e Oliveira (2015):

O objetivo da avaliação no âmbito das unidades educativas é, portanto, duplo: acompanhar o processo formativo das crianças e obter dados para replanejar o cotidiano da unidade, de modo a mediar efetivamente esse processo pelas crianças. Com isso, fica evidenciada uma concepção de avaliação como um processo contextual a serviço da criança e do projeto pedagógico da unidade de Educação Infantil. (pag. 215)

O maior desafio é Investir mais em formação para que os profissionais e comunidade ampliem seu conhecimento sobre avaliação de contexto, com caráter formativo. Que esta avaliação seja fidedigna e expresse a realidade, independente do resultado consolidado ou não.

Embora a equipe de elaboração da publicação aposte no direito de cada comunidade de avaliar quais são suas prioridades e necessidades de transformação, as instituições afirmam que alguns fatores são fundamentais para se definir a qualidade da educação como, por exemplo, o respeito aos direitos humanos, ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), à Legislação Educacional Brasileira; o reconhecimento e valorização das diferenças de gênero, étnico- racial, religiosa, cultural e relativas a pessoa com deficiência; a formação dos professores; as condições do espaço físico, entre outros.

Construção Coletiva Identificação de problemas Definição de metas, objetivos, estratégias, ações Acompanhamento das ações Avaliação

(8)

Algumas questões para reflexão

Em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a Educação Infantil passou a ser a primeira etapa da Educação Básica, integrando-se aos ensinos Fundamental e Médio. Ainda assim, para Rosemberg (2013) o campo de investigação, políticas e práticas de avaliação da educação básica praticamente baniu a educação infantil de suas preocupações, especialmente na faixa etária da creche.

Cabe hoje, aos municípios, oferecer acesso na Educação Infantil às crianças de 0 a 3 anos cujas famílias manifestarem interesse (atendendo no mínimo 50%) e, à partir de 2016, universalizar o atendimento às crianças de 04 a 05 anos (em atendimento à Meta 1 do PNE). Nesse cenário, o desafio é de que a política de acesso e a de qualidade caminhem juntas, garantindo às crianças o direito à educação.

Na rede municipal de Curitiba, a busca pelo atendimento aos direitos das crianças ao acesso e a qualidade vêm caminhando lado a lado. O credenciamento das crianças para a universalização das turmas de 04 a 05 anos teve início no segundo semestre de 2015, enquanto a ampliação de vagas para as turmas menores ainda caminha a passos mais lentos. Enquanto isso, na busca pela qualidade no atendimento às crianças matriculadas, a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação dos Parâmetros e Indicadores de qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil (2009) é um dos instrumentos que busca garantir os direitos das crianças à educação.

Esse documento possibilita a divulgação e o monitoramento da implementação das diretrizes e normatizações da Educação Infantil aos profissionais e familiares das crianças, informando às equipes dos CMEIs, escolas e CEIs conveniados o que se espera quanto ao seu funcionamento e atendimento às crianças. Rosemberg (2013, p. 17) defende a necessidade de esclarecimento às instituições educativas por meio da “divulgação e monitoramento mais

eficiente e pró-ativo da implementação de diretrizes, orientações, resoluções e outros documentos normatizadores relacionados à educação Infantil”.

Na política de avaliação adotada pela rede municipal de Curitiba, os CMEIs participam obrigatoriamente do processo de autoavaliação dos Parâmetros e Indicadores de qualidade para os Centros Municipais de Educação Infantil (CURITIBA, 2009), pois é previsto em calendário e existe uma previsão de data para envio dos resultados da avaliação.

Essa obrigatoriedade integra e envolve todos os profissionais e familiares no conhecimento e na reflexão sobre os indicadores e sobre o que a rede municipal de Curitiba

(9)

estabelece como parâmetro de qualidade no atendimento às crianças. Ainda mais importante é a possibilidade de que nos encontros entre profissionais e familiares se consolide uma das funções da instituição de educação infantil, prevista nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil11, que é a de complementariedade às ações da família, na medida em que estas são conhecidas e respeitadas em suas especificidades e diversidades pelos profissionais dos CMEIs e, por sua vez, também conhecem e respeitam o trabalho da instituição.

No Parecer 20/2009, a parceria com as famílias é indicada como fundamental e necessária:

A participação dos pais junto com os professores e demais profissionais da educação nos conselhos escolares, no acompanhamento de projetos didáticos e nas atividades promovidas pela instituição possibilita agregar experiências e saberes e articular os dois contextos de desenvolvimento da criança. Nesse processo, os pais devem ser ouvidos tanto como usuários diretos do serviço prestado como também como mais uma voz das crianças, em particular daquelas muito pequenas. (BRASIL, 2009a). Porém, a obrigatoriedade de participação de todos os CMEIs no processo de avaliação dos parâmetros gera o risco de gerar um preenchimento burocrático ou um receio dos profissionais de que os dados possam ser utilizados para uma comparação ou avaliação externa.

Para Savio (2015), é possível minimizar esse risco evitando a divulgação de listas de classificação e garantindo o anonimato dos CMEIs. Nesse sentido, na rede municipal de Curitiba, cada CMEI tem acesso apenas à sua avaliação, enquanto os Núcleos Regionais em conjunto com Departamento de Educação Infantil, tem uma visão total dos parâmetros e indicadores de cada unidade e do conjunto de unidades por região. É importante que os dados não sejam utilizados comparativamente, mas que possam fornecer aos Núcleos Regionais e ao Departamento informações para apoiar as equipes nos pontos que precisam avançar.

Outra questão diz respeito ao processo de autoavaliação adotado. A autoavaliação faz com que os participantes olhem novamente para o que vem ocorrendo e para o desenvolvimento do próprio trabalho. Por essa razão, os momentos de avaliação podem se tornar formativos, para profissionais e familiares, à medida que todos se voltam para olhar e conversar sobre cada indicador. Esse movimento tem sido observado nas avaliações dos CMEIs, ao longo dos anos. Muitas instituições foram se tornando mais exigentes e autocríticos com as suas avaliações.

11

(10)

Sobre essa questão, Moro e Oliveira indicam que:

Quando a instituição decide avaliar a realidade educativa que propicia às crianças pequenas e a seus familiares, está possibilitando o aperfeiçoamento de todos, com base na exigência de se auto-observar e de ser observado, julgando acertos e dificuldades para buscar mudanças e conquistar formas mais adequadas de realização do trabalho. Portanto, a avaliação envolve um percurso formador, articulando as demandas específicas da instituição, as condições de trabalho dos profissionais e as concepções que norteiam suas práticas. (MORO, OLIVEIRA, 2015, p. 211).

Ainda assim, existe a preocupação de que alguns grupos não consigam ver além do já realizado ou que não tenham um olhar crítico sobre como poderia ser ou fazer melhor. Sobre essa questão, Savio (2015) indica a possibilidade de uma devolutiva externa às instituições no sentido de confrontar pontos de vista sobre um mesmo foco, a fim de avançar. Assim, se um indicador for avaliado pelo CMEI como consolidado, mas para a equipe do Núcleo Regional, que faz a orientação e supervisão, ainda não o é, ambos os grupos precisam dialogar para ampliar os olhares, pois é “precisamente do embate entre pontos de vista, ideias e interesses

que a instituição educativa pode construir bases mais consistentes para uma gestão democrática”. (MORO, OLIVEIRA, 2015, p. 211).

Seria importante, pensarmos em dimensões em que o direito a cultura e diversidade étnico racial, se façam mais presentes, trazendo indicadores quanto a proposta pedagógica, atitudes e relacionamento e recursos didático pedagógicos sejam detalhados, com vistas a garantir o acesso as contribuições culturais desses povos.

Com relação à dimensão das interações, penso que detalhar indicadores quanto a brincadeiras e interações entre diferentes faixas etárias poderia ganhar periodicidade definida, visando garantir a brincadeira no cotidiano permitindo que a criança aprenda nas interações.

Outra dimensão que poderia ser acrescentada é do tempo da experiência, lembrando que existem alguns indicadores quanto ao planejamento do tempo, mas não dão conta desta dimensão, como orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, aonde há a necessidade de repensar as rotinas na EI, respeitando os tempos de elaboração e desejos, interesses das crianças, e possibilidades de pensarem, investigarem, elaborarem e compartilharem hipóteses, num espaço de troca e interações.

Outro ponto para a reflexão é sobre a participação e a escuta das crianças. Esta é prevista nos Indicadores da qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009). A escuta das crianças implica reconhecê-las como sujeitos históricos e sociais de pleno direito, que “se

(11)

estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere”. (BRASIL, 2009b).

A participação das crianças pode ocorrer durante as práticas cotidianas, quando os profissionais planejam e organizam meios de observação e escuta atenta, e não necessariamente em um momento formal e específico para isso. A sua escuta, a participação e o respeito aos seus desejos, necessidades e opiniões colabora para uma formação humana, social e política. Para avançar nesse sentido, alguns pesquisadores12 podem apoiar na escolha da metodologia e dos instrumentos de escuta, observação e documentação sobre as crianças. Ferreira (2008, p. 147) justifica a escuta das crianças: “trata-se de levar a sério a voz das

crianças, reconhecendo-as como seres dotados de inteligência, capazes de produzir sentido e com direito de se apresentarem como sujeitos de conhecimento ainda que o possam expressar diferentemente de nós adultos”.

REFERÊNCIAS

BRASIL. MEC/SEB. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2006a. v 1 Disponível em: Acesso em: fev. 2015.

______. MEC/SEB. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2006b. v 2 Disponível em: Acesso em: fev. 2015.

______. MEC/SEB. Indicadores de qualidade na Educação. Brasília: MEC, SEB, 2004. Disponível em: Acesso em: fev. 2014.

______. MEC/SEB. Indicadores da qualidade na Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2009. Disponível em: Acesso em: fev. 2014.

______. Conselho Nacional de Educação (2009). Parecer CNE/CEB n.º 20, de 11 de novembro de 2009a. Disponível em: Acesso em: 31 mar. 2010.

______. Conselho Nacional de Educação (2009). Resolução CNE/CEB n.º 5, de 17 de dezembro de 2009b. Disponível em: Acesso em: 31 mar. 2010.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei Federal n.º 9.394, de 26/12/1996.

CRUZ, Silvia Helena Vieira (org.). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo: Cortez, 2008.

12

Dentre eles destacam-se: Cruz (2008), Gobbi (2002, 2009), Müller e Carvalho (2009), Martins (2010), Rinaldi (2012).

(12)

CURITIBA. Parâmetros e Indicadores de qualidade para os Centros Municipais de

Educação Infantil. Curitiba, 2009.

FERREIRA. Maria Manuela Martinho. “Branco demasiado” ou...reflexões epistemológicas, metodológicas e éticas acerca da pesquisa com crianças. In: SARMENTO, M. J.; GOUVEA, M. C. S. (orgs.). Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 143-162.

MARTINS, Rita de Cássia. A organização do espaço na Educação Infantil: o que contam as crianças? 165 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010.

MORO, Catarina; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Avaliação e educação infantil: crianças e serviços em foco. In: FLORES, Maria Luiza Rodrigues; ALBUQUERQUE, Simone Santos de. Implementação do Proinfância no Rio Grande do Sul: perspectivas políticas e pedagógicas. Dados Eletrônicos. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. 322 p.

MÜLLER, CARVALHO (orgs.). Teoria e prática na pesquisa com crianças: diálogos com William Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009.

RINALDI, Carla. Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

ROSEMBERG, Fúlvia. Políticas de educação infantil e avaliação. Cadernos de Pesquisa, v.43 n.148 p.44-75 jan./abr. 2013. Disponível em:

<http://educa.fcc.org.br/pdf/cp/v43n148/v43n148a04.pdf>

SAVIO, Donatella. Avaliação de Contexto na educação infantil: perspectiva formativa e proposições. Seminário Internacional - Avaliação de contexto na Educação Infantil: perspectiva formativa e proposições. Gravação de áudio, agosto de 2015.

Referências

Documentos relacionados

Portanto, é nesse cenário que a presente pesquisa abordará uma avaliação dos indicadores de desempenho dos Institutos Federais, visando fornecer um retrato da qualidade

Estudo exploratório dos indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil e da avaliação psicanalítica aos 3 anos para avaliar qualidade de vida e condição sintomática

Este trabalho, parte de minha tese de doutorado, analisa o processo de construção dos Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana, documento de

A adesão ao documento é voluntária, mas vale ressaltar que o mesmo foi elaborado com base no direito da criança a uma educação de qualidade, com isso o

Cabe à Secretaria de Educação garantir as condições necessárias para a aplica- ção da avaliação proposta pela coleção Indicadores e definir, junto com as escolas,

desenvolvimento psicológico (autonomia, maior concentração; capacidade em resolver desafios; aprendizagem motivadora) e desenvolvimento físico (domínio do equipamento;

Entretanto, a realização desta pesquisa fortaleceu a nossa inquietação sobre a importância da organização das rotinas para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças

A construção de indicadores e índices para mensuração da qualidade de vida urbana tem papel fundamental para elaboração, avaliação e gestão de políticas públicas que impactam