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O LIMITE ENTRE O DIREITO E A ILEGALIDADE

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Academic year: 2021

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O LIMITE ENTRE O DIREITO E A ILEGALIDADE

André Pulier Ferreira Carolina Faria Lopes Dâmaris Ezra de Medeiros Santana Henrique Esselin Botelho Igor Matheus Gramacho de Souza

Resumo

É complexa a tarefa de definir de forma exata o que é legal do ponto de vista da legislação em um meio como a internet, já que é uma questão subjetiva e muito polêmica. O governo tem o desejo de fiscalizar os compartilhamentos na Internet que considera transpor a legalidade. Porém, essa censura causa controvérsia, pois compartilhar é a maneira do ser humano difundir conhecimento e privá-lo disso é algo sem fundamento.

Palavras-Chave: legislação, polêmica, censura, compartilhamento, conhecimento.

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Introdução

O uso da Internet como meio de comunicação social é algo tão recente para a população que se tem dificuldade de encaixá-lo nos moldes de vida que o precederam. Principalmente em relação ao compartilhamento virtual, as opiniões tanto do público que usufrui dessa ferramenta quanto dos governos que ainda possuem poucos recursos para controla-la se dividem entre o fascínio com as novas possibilidades e as possíveis transgressões que elas podem acarretar se enxergadas de forma tradicionalista. Em vista desse impasse, saber quais medidas podem ser tomadas e quais se tornam abusivas é primordial para garantir a legalidade e o não retrocesso da Internet. As discussões acerca do tema são essenciais para que, além do achismo e da conversa de boteco, saibamos quais realmente são os impasse que atos como SOPA(Stop Online Piracy) e PIPA(Protect IP Act) trazem para a população e como estão tomando forma as futuras resoluções dos governos sobre o tema.

Dos fatos

Em um campo amplo e extenso como a internet, os conceitos de legal e ilegal são bastante subjetivos e imprecisos. Atualmente a legislação brasileira, por exemplo, não contempla de forma significativa o uso da Internet, somente os direitos autorais e o crime contra os direitos autorais (D'Azevedo, 2001). Ela não versa especificadamente sobre a Internet, o que deixa margem para que transgressões dos mais diversos tipos, relacionados ou não ao compartilhamento de informação, aconteçam.

O governo dos EUA(EUA da América), visando preencher a lacuna em relação ao controle do uso da rede global, propôs definir políticas de censura ao compartilhamento de informações. O projeto de lei SOPA propõe ampliar os meios legais pelos quais os detentores de direitos autorais possam combater o tráfego online de propriedade protegida e de artigos falsificados (Kang, 2011). De acordo com o conteúdo do site Wikipédia, a lei “autorizaria o Departamento de Justiça dos EUA e os detentores de direitos autorais a obter ordens judiciais contra sites que

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estejam facilitando ou infringindo os direitos de autor ou cometendo outros delitos e estejam fora da jurisdição estadunidense. O procurador-geral dos EUA poderia também requerer que empresas estadunidenses parem de negociar com estes sites, incluindo pedidos para que mecanismos de busca retirem referências a eles e os domínios destes sites sejam filtrados para que sejam dados como não existentes” (Stop Online Piracy Act, 2012).

O projeto PIPA (PROTECT IP Act, 2012) é também um projeto de lei proposto com o objetivo de garantir ao governo americano e àqueles que detêm direitos autorais ferramentas punitivas a sites julgados transgressores desses direitos. O foco, no entanto, são os sites estrangeiros, o que levaria a um custo de implementação superior a 47 milhões de dólares até 2016 (Sasso, 2011). Além disso, esse ato é uma reescrita do ato COICA (Combating Online Infringement and Counterfeits Act) que não passou pelo congresso americano em 2010.

Dado seus conteúdos essas medidas sugerem abrir precedentes em vários outros lugares fora dos EUA para que o estado americano tome de fato o controle pretendido, o que as torna abusivas em relação ao controle das informações. Ficaria a cargo da justiça americana, por exemplo, decidir o conteúdo de sites que não necessariamente são americanos, mas que de alguma forma estão relacionados ao país, o que é um número muito grande de sites numa rede globalizada, obviamente. Outro exemplo é a medida de Notice and Take Down, ou Notificação e Retirada, em tradução livre. De acordo com esse sistema o detentor de direitos autorais poderia, através de notificação extrajudicial, exigir dos servidores que sites ou partes de sites fossem tirados do ar (Paranaguá, 2011), o que acarretariam numa verdadeira investigação on-line, decidindo-se arbitrariamente quem seriam os “bandidos” virtuais.

A comoção contra essas possibilidades foi grande por parte da população. Insatisfeita com esses aspectos invasivos das medidas proposta, as manifestações na rede foram volumosas. Além do apoio de sites como Facebook e Google, que postaram links descrevendo as razões de sua posição frente às leis, e Wikipédia, que chegou a ficar fora do ar durante todo o dia de 18 de janeiro de 2012 (Wikipedia, Google, Twitter, Facebook, BoingBoing act against SOPA, PIPA, 2012), milhares de outros sites se reuniram no mesmo dia e realizaram ações em protesto contra os

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projetos e, segundo eles, a manifestação foi bem sucedida. Além do protesto na web centenas de pessoas saíram às ruas, também na mesma data, de Nova York e São Francisco. Os manifestantes nova-iorquinos protestaram em frente aos escritórios de senadores que apoiaram os projetos (Protestos contra o Sopa saem da web e ganham as ruas dos EUA, 2012).

O governo americano foi então pressionado para que recuasse com esses projetos, e como Lamar Smith, redator do SOPA, afirma essa paralização é momentânea e se dará "até que haja um amplo acordo sobre uma solução" (Principal defensor de lei antipirataria suspende o projeto nos Estados Unidos, 2011).

Já por outro lado, aqui mesmo no Brasil foi proposto o Marco Civil da Internet, um projeto de lei que define as condições de uso da internet no que se diz respeito aos deveres e direitos dos usuários, prestadores de serviço, provedores de conexão e também do Poder Público (Marco Civil da Internet, 2012). O projeto busca a liberdade de expressão na web, proteção dos dados pessoais e, principalmente, a garantia da preservação e neutralidade da rede. Porém, há uma grande controvérsia acerca do mesmo, que causou, pela terceira vez até a presente data, o adiamento da votação pelo mesmo. O texto do projeto não explicita quem irá deter o controle da regulamentação da lei e através dessa ambiguidade provedores de internet poderiam priorizar o acesso de clientes que pagam mais por pacotes de banda larga e favorecer o conteúdo de determinados sites em detrimento de outros.

De acordo com o atual Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, “a Anatel[Agência Nacional de Telecomunicações] é o órgão que tem competência e legitimidade para fazer isso [regulamentação da lei]” (Amato, 2011). O relator da proposta, Alessandro Molon (PT-RJ) retrucou: “Eu me surpreendi hoje com as declarações do ministro Paulo Bernardo. Vou mudar mais uma vez o texto para que ninguém tenha dúvida de que não cabe à Anatel essa regulamentação, nem o ministro, nem nenhum parlamentar e nem nenhum cidadão”, reforçando que à Anatel caberá apenas fiscalizar a aplicação da lei. Ele também disse que: “Esse é um ponto extremamente sensível porque dele depende o futuro da internet no Brasil, e o uso que nós poderemos continuar fazendo da internet, se nós vamos continuar tendo liberdade de escolha ou se são nossos provedores que vão escolher por nós o

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que a gente vai ler, o que a gente vai acessar, o que chega rápido e o que chega devagar no nosso computador. Nós não queremos que o seu provedor de conexão diga: se você acessar o site A, ele vem rápido, mas se for o site B, ele vem devagar. Dentro da velocidade que você contratou, tudo tem que ser tratado da mesma forma." (O Marco Civil deve deixar claro que Anatel não regulamente neutralidade, 2012)

Conclusão

O ser humano encontrou na criação de um instrumento de interligação global uma grandiosa revolução da sua história. Tornar o compartilhamento de arquivos um crime vai contra os princípios da liberdade que, desde 1789, data da Revolução Francesa, contemplam a liberdade, igualdade e fraternidade como princípios básicos do homem inserido em uma sociedade moderna (Bueno, 2009). Hodierno, Constituições como a ONU pregam esses princípios como fundamentais e inerentes ao ser humano. Os instrumentos de combate às infrações virtuais devem sim existir, mas definir e impor que determinadas ações que já estão incorporadas a prática dos usuários são criminosas é querer obter um controle abusivo sobre as pessoas.

A regulamentação e oficialização desses métodos são então necessárias. A cultura livre é o direito de obter informação e conhecimento, e segue sendo imprescindível para o ser humano. Imaginar o nosso mundo, que se torna cada vez mais ligado à tecnologia e globalizado, como sendo um lugar onde não se possa acessar vídeos, ver fotos, baixar músicas e softwares, pois disponibilizar tal conteúdo seria considerado uma transgressão a lei, é difícil e para muitos, é impraticável.

O empenho de pessoas que entendem a importância da difusão da cultura e a força da rede mundial de computadores conseguiu, nesse primeiro momento, parar os esforços para que esse mundo absurdo se tornasse a nossa realidade. Projetos com diretrizes autoritárias e atitudes ditatórias não serão capazes de definir o limite entre o direito e a ilegalidade no que diz respeito à Internet. Isso irá depender de medidas concretas e democráticas que podem vir pelo futuro.

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Bibliografia

Principal defensor de lei antipirataria suspende o projeto nos EUA. (20 de Janeiro de 2011).

Fonte: Portal R7: http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/principal-defensor-de-lei-antipirataria-desiste-do-projeto-nos-eua-20120120.html

Marco Civil da Internet. (2012). Fonte: Wikipédia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Civil_da_Internet

O Marco Civil deve deixar claro que Anatel não regulamente neutralidade. (08 de Novembro

de 2012). Fonte: IDGNow!: • http://idgnow.uol.com.br/internet/2012/11/08/marco-civil-deve-deixar-claro-que-anatel-nao-regulamente-neutralidade/

PROTECT IP Act. (2012). Fonte: Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/PROTECT_IP_Act Protestos contra o Sopa saem da web e ganham as ruas dos EUA. (18 de Janeiro de 2012).

Fonte: Terra Tecnologia: http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5565458-

EI12884,00-Protestos+contra+o+Sopa+saem+da+web+e+ganham+as+ruas+dos+EUA.html

Stop Online Piracy Act. (2012). Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Wikipedia, Google, Twitter, Facebook, BoingBoing act against SOPA, PIPA. (18 de Janeiro

de 2012). Fonte: Herald Sun: http://www.heraldsun.com.au/technology/wikipedia-

google-twitter-facebook-boingboing-act-against-sopa-pipa/story-fn7celvh-1226247231102

Amato, F. (07 de Novembro de 2011). Ministro Defende que Anatel Regulamente Marco Civil

da Internet. Fonte: Portal G1: •

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/11/ministro-defende-que-anatel-regulamente-marco-civil-da-internet.html

Bueno, L. A. (19 de Outubro de 2009). Os Princípios da Liberdade e da Igualdade dentro do

Sistema Capitalista. Fonte: LGF:

http://www.lfg.com.br/artigo/20091014164440169_direito-constitucional_os- principios-da-liberdade-e-da-igualdade-dentro-do-sistema-capitalista-lucas-antonio-bueno.html

D'Azevedo, R. F. (Outubro de 2001). A legislação autoral brasileira e a Internet. Fonte: Jus Navigandi: http://jus.com.br/revista/texto/2488/a-legislacao-autoral-brasileira-e-a-internet

Kang, C. (26 de Outubro de 2011). House introduces Internet piracy bill. Fonte: The Washington Post.

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Paranaguá, P. (12 de Outubro de 2011). Reforma do Direito Autoral e Internet: “Notice and

takedown” – por que é uma má ideia? Fonte: PedroParanaguá.Net:

http://pedroparanagua.net/2011/12/10/notice-and-takedown-na-reforma-autoral/ Sasso, B. (19 de Agosto de 2011). CBO scores PROTECT IP Act. Fonte: The Hill:

Referências

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